resumo palavras-chave: introduÇÃo · amigos. as mulheres, por sua vez, são as gostosas. atendem...
Embed Size (px)
TRANSCRIPT
Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XVI Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste So Paulo - SP 12 a 14 de maio de 2011
1
Questes de gnero na propaganda de cerveja Schin1
Dhyovaine Nascimento COSTA 2
Cnthia Ferreira de SOUZA3
Faculdade Pitgoras de Guarapari, Esprito Santo, ES
RESUMO
O trabalho pretende a partir da anlise de contedo e de discurso das propagandas
televisivas de cerveja da marca Schin, exibidas em 2010, identificar as caractersticas no
comportamento nos gneros masculino e feminino e o papel de cada um no
relacionamento representadas nas propagandas. O objetivo verificar as novas formas
de representao social de relacionamento e dos gneros nas propagandas.
PALAVRAS-CHAVE: publicidade; televiso; gnero; representao social.
1. INTRODUO
Nas propagandas de cervejas brasileiras, o papel do homem e da mulher sempre foi bem
definido. Segundo ALVES (2006) o homem retratado como o macho. Ele forte,
bonito, musculoso, famoso, possui uma histria, uma trajetria, apresentado e tem
amigos. As mulheres, por sua vez, so as gostosas. Atendem a um padro de beleza
definido: so magras, corpos torneados, belas curvas, seios grandes, glteos arrebitados,
boca entreaberta, olhar lascivo. Esbanjam sensualidade e paralisam pelo olhar. Seu
poder est na seduo: seu corpo traz os atributos necessrios para que elas obtenham
sucesso. O corpo da mulher representa o modelo do corpo ideal e atende s exigncias
do corpo-mdia, funcionando como um produto, uma mercadoria, produzida em srie
para ser consumida. Logo, deve ser exibida, colocada na vitrine. O homem o
personagem principal, ele o condutor da histria, mas as mulheres tm poder, e este se
resume na seduo.
1 Trabalho apresentado no Intercom Junior IJ8 de Estudos Interdisciplinares da Comunicao do XVI Congresso
Brasileiro de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste, realizado de 12 a 14 de maio de 2011 2 Estudante de Graduao do 3 semestre do Curso de Publicidade da Faculdade Pitgoras, Guarapari,
email:[email protected]
3 Orientadora Professora do Curso de Publicidade da Faculdade Pitgoras, Guarapari, ES, email:
Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XVI Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste So Paulo - SP 12 a 14 de maio de 2011
2
Porm, essa representao social dos gneros nas propagandas de cerveja passa
gradativamente por mudanas. Embora sutis, a publicidade brasileira tem buscado novas
formas de representar homens e mulheres, e principalmente, o novo modelo de
relacionamento afetivo entre os gneros, ao destacar como protagonistas casais em
relaes estveis como o casamento.
Ou seja, o contexto de praia ou bar, mulheres de biquni, homens fortes sem camisas,
ambos expondo corpos esculturais, sai de cena, e entra um novo ambiente e
caracterizao dos personagens. O que no significa que o discurso tambm possa ter
mudado por completo.
Essa o objetivo do trabalho presente. A partir da observao de duas propagandas na
cerveja Nova Schin do grupo Schincariol, intituladas Um Cervejo Pocker e Um
Cervejo Carto, exibidas no ano de 2010, analisamos o papel que o homem e a
mulher assumem no relacionamento a partir do olhar da propaganda e como so
representados.
A pesquisa considerou dois aspectos. No primeiro, a importncia da cerveja no contexto
social e cultural, alm da grande e constante presena das propagandas de cerveja na
publicidade brasileira como difusor dos costumes e hbitos da sociedade brasileira. O
segundo aspectos, a partir da emancipao da mulher no mercado de trabalho e ao
assumir um novo papel na sociedade e nos relacionamento afetivos, o estudo pretendeu
analisar como representada a mulher nesse novo contexto scio-cultural num produto
considerado voltado para o pblico masculino.
2. QUESTES DE GNERO: AS TRANSFORMAES SOCIAIS DOS
GNEROS
De acordo com SABAT (2003) a publicidade como um artefato cultural destinado a
ensinar procedimentos, regular condutas, ativar desejos e comportamentos. Segundo a
autora, as imagens publicitrias so carregadas de sentidos, valores, hbitos, modos de
vestir, que representam identidades, atuando como um campo de constituio de
sujeitos.
Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XVI Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste So Paulo - SP 12 a 14 de maio de 2011
3
Na publicidade brasileira a cerveja est sempre associada a situaes de prazer, que se
resumem em cones semelhantes: mulheres, futebol, vero, praia, bar, frias e festas.
Como nos mostra Kellner (2001, p.318), ... a publicidade forma sistemas textuais com
componentes bsicos inter-relacionados de tal maneira que apresentem o produto sob
luzes positivas...
Para ALVES (2006)
ao acionar esses cones, os comerciais fazem uso de uma viso
estereotipada, retomam modelos de relao cristalizados e tematizam
valores sociais sedimentados, proporcionando uma radiografia
importante de alguns traos culturais da sociedade brasileira.
Apresentam o trio cerveja/ mulher/ futebol responsvel por reforar as
marcas de uma sociedade patriarcal, falocrtica, em que o homem o
chefe da famlia (a ele se reservam todas as glrias) e mulher
limitado o papel de esposa, amante ou objeto de desejo do homem.
A propaganda analisada trs como questo o gnero. Segundo SCOTT (1989), gnero
elemento constitutivo das relaes sociais fundado sobre as diferenas construdas
sobre o sexo, e implica em quatro aspectos: 1) smbolos culturalmente disponveis que
evocam representaes simblicas; 2) conceitos normativos que pem em evidncia as
interpretaes do sentido dos smbolos. Esses conceitos esto expressos nas doutrinas
religiosas, educativas, polticas e cientificas; 3) instituies e organizao social; e
4) a identidade subjetiva.
Ainda SCOTT (1989) enfatiza a importncia dos significados nos estudos de gnero,
pois permite perceber as maneiras como as sociedades representam o gnero, o utilizam
para articular regras de relaes sociais ou para construir o sentido das prticas e aes
sociais.
Para discutir a questo do gnero importante ressaltar as mudanas no cenrio scio-
poltico e econmico o qual leva aos novos papis que a mulher passa assumir, refletido
hoje nas propagandas analisadas.
Ao final do sculo XIX o Brasil viveu o fim da monarquia e o perodo de consolidao
do regime republicano, a partir de 1889. No aspecto econmico o Brasil passou por um
Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XVI Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste So Paulo - SP 12 a 14 de maio de 2011
4
processo concomitante de transformao modernizadora que resultou no fim do trabalho
escravo e na acelerao da urbanizao.
O projeto republicano dos militares inspirava-se no positivismo de
Augusto Comte que penetrou no pas nas ltimas dcadas do sculo
XIX e deitou razes no imaginrio social. Assim como projetavam as
modificaes que adquiriram um carter de modernizao
conservadora no plano econmico, mantendo contudo, um padro de
controle poltico e social excludente, pensavam tambm na
organizao da famlia moderna, chamada nova famlia. Neste
particular, evocava-se o padro de organizao burgus, com a famlia
nuclear, moderna (NEDER, 2000, p. 31).
Nessa poca comearam a sofrer modificaes as prescries a serem respeitadas pelas
mulheres de classe mdia, configurando-se novos papis a serem assumidos pelas
mulheres pelo menos pelas mulheres de classe mdia. Alm do preparo para ser boa
me, a mulher tambm deveria ser educada para dar suporte ao marido quando este
estivesse ausente, por exemplo, quando estivesse trabalhando fora de casa.
Modernizam-se, ento as concepes sobre o lugar da mulher nos
alicerces da moral familiar e social. Ao contrrio da famlia
tradicional, a nova mulher, moderna, deveria ser educada para
desempenhar o papel de me (tambm uma educadora dos filhos) e
de suporte do homem para que este pudesse enfrentar a labuta do
trabalho fora de casa. A boa esposa e boa me deveria ser
prendada e deveria ir escola, aprender a ler e escrever para bem
desempenhar sua misso educadora (NEDER, 2000, p. 31).
Porm, mesmo com a modernizao e as mulheres desempenhando o papel de
educadoras, os privilgios ainda eram direcionados aos homens. O marido continuava
sendo o representante principal da famlia, trabalhava fora, e as mulheres tinham acesso
restrito aos empregos.
O que se nota, ainda, nessa fase, que apesar da Repblica e das
mudanas que estavam ocorrendo, a vida continuou a girar em torno
da famlia e que a legislao reforou, uma vez mais, o privilgio
masculino. O marido continuava, legalmente, com a designao de
chefe de famlia. O cdigo Civil de 1916 reconheceu e legitimou a
supremacia masculina, limitando o acesso feminino ao emprego e
propriedade. As mulheres casadas ainda eram, legalmente,
incapacitadas e apenas na ausncia do marido podiam assumir a
liderana da famlia (SAMARA, 2002, p. 35).
Samara (2002) destaca que alguns sinais de mudanas comearam realmente a surgir no
incio do sculo XX, principalmente entre as mulheres da elite e das classes mdias
urbanas que, em proporo ainda bastante modesta, passaram a ocupar postos
Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XVI Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste So Paulo - SP 12 a 14 de maio de 2011
5
profissionais, alguns dos quais dependentes de formao escolar em faculdades.
importante registrar que, em verdade, Samara (2003) mostra que j no incio do sculo
XIX os censos populacionais realizados na cidade de So Paulo identificaram uma
realidade na qual existiam muitas mulheres trabalhadoras, inclusive com a revelao de
que um tero dos domiclios eram chefiados por mulheres (evidentemente no eram
mulheres da elite ou das classes mdias).
Essas referncias temporais so marcos histricos cujo registro necessrio no presente
trabalho, mas o que essencial frisar o fato de que elas tiveram papel preparatrio
para as grandes transformaes na vida feminina e no cotidiano das famlias que se
verificaram ao longo do sculo XX e que se acentuaram na segunda metade desse
perodo.
Um dos aspectos em que essa transformao muito ntida, e que j foi mencionado
acima, o fato das mulheres passarem a estar presentes como profissionais responsveis
por inmeras atividades durante o sculo XX, algumas delas nunca exercidas por
mulheres nos sculos anteriores.
Por outro lado, a atuao das mulheres no mercado de trabalho,
durante o sculo XX, caracteriza-se, sobretudo, pela sua insero em
atividades que no apareciam nos sculos anteriores. Nesse rol
encontra-se, ento, a prestao de servios (mdicas, advogadas,
dentistas, empregadas pblicas, entre outras) e vrias ocupaes em
diferentes ramos da indstria (SAMARA, 2002, p. 37).
Ao conjunto de transformaes e adaptaes que as mulheres viveram mais
acentuadamente a partir da dcada de 1960, corresponde um conjunto de transformaes
e adaptaes que os homens tambm viveram, ainda que neste caso no estivesse em
jogo a necessidade de rompimento com condies de submisso e dependncia. Esse
processo tem um de seus resultados concretos nas modificaes das concepes sobre
famlia e das formas como as famlias se constituam e como organizavam suas
atividades cotidianas. (SOUZA & MENANDRO, 2010)
Ou seja, as transformaes pelas quais as mulheres sofreram tambm afetaram aos
homens que passam a assumir uma outra postura perante a mulher. Ainda SOUZA &
MENANDRO (2010) a rigidez da perspectiva tradicional homem provedor e mulher
Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XVI Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste So Paulo - SP 12 a 14 de maio de 2011
6
responsvel pelas atividades do lar e pela criao dos filhos no mais aparecem como
nica possibilidade. So inmeros os casos de casais (sempre com nmero reduzido de
filhos) em que homens e mulheres tm atividades profissionais e aparecem como co-
provedores. Decorrem da transformaes substanciais nas relaes de autoridade no
mbito da famlia (proibies, interdies, exerccio de paternidade e maternidade).
A autoridade compartilhada entre marido e mulher. Ambos tm poder de deciso
perante a criao dos filhos e na seleo de valores morais a serem privilegiados.
Segundo Torres (2000) a atividade profissional aparece valorizada pelas mulheres por
vrias razes como forma de acrscimo de poder na relao conjugal perante o marido.
Mas o trabalho fora de casa tambm suscetvel de ser valorizado como
reconhecimento de competncias especficas, reconhecimento esse habitualmente
ausente do universo das atividades domsticas. E pode igualmente ser desejado como
recusa do fechamento domstico, meio de desenvolver relaes de sociabilidade.
Para Torres (2000), apesar da acumulao de funes e da sobrecarga de trabalho, o que
resulta claro que a atividade profissional feminina contribui para o acrscimo de poder
de deciso das mulheres no contexto familiar e conjugal. Segundo Berqu (1998),
maiores transformaes vm ocorrendo no interior do ncleo familiar estaria
havendo uma tendncia passagem de uma famlia hierrquica para uma famlia mais
igualitria, tendncia inicialmente mais visvel nas camadas urbanas e, com o tempo,
passando a permear tambm as camadas populares. Devido nova posio que as
mulheres vm assumindo e pelos novos padres de relacionamento.
Diante desse novo cenrio, a publicidade prope uma outra maneira de retratar os
gneros na tentativa de provocar uma identificao com o pblico consumidor.
4. METODOLOGIA
Neste artigo analisamos duas propagandas da cerveja Nova Schin do grupo Schincariol,
Um Cervejo Pocker e Um Cervejo Carto, cujo destaque o comportamento
de jovens casais num contexto em que a cerveja est presente. Os filmes foram
produzidos e gravados na segunda quinzena de novembro de 2009 no Rio de Janeiro
Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XVI Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste So Paulo - SP 12 a 14 de maio de 2011
7
pela Fulano Filmes com a direo de Ren Sampaio e sua data de estria em rede
nacional aconteceu no dia 12 de janeiro de 2010
Foram analisados os discurso e contedo das duas propagandas. Em cada propaganda
foi analisada as seguintes categorias: discurso, comportamento, ambiente e
caracterizao de ambos os gneros.
5. DISCUSSES DE GNERO NA PROPAGANDA DE CERVEJA
O enredo do primeiro comercial Um Cervejo Pocker mostra uma roda de amigos
jogando pquer e inclui o conceito de "cervejo" em uma situao bem humorada, na
qual um dos amigos se passa pelo outro ao atender o celular e conversar com a sua
esposa.
Ao analisar o ambiente, destaca-se elementos do universo masculino como mesa de
poker, latas de cervejas acompanhadas de aperitivos. So quatro jovens casados,
brancos e de classe mdia.
No contexto da propaganda, a conversa do grupo de amigos sempre destacam o O,
em que cada um menciona: Sabado... pokerso... cervejo... perfeio... Em seguida
o celular toca e um dos companheiros atende. nesse momento que destacamos o
discurso masculino: Al! Escuta aqui voc! Eu t na casa de um amigo, eu to
jogando um pokerso, eu to bebendo um cervejo e no vou agora no. Aps a
conversa o outro amigo indaga: E assim que voc fala com sua mulher? E ele
responde Claro que no! O celular aqui e teu, .
O amigo rapidamente pega o celular questionando o fato: Que isso? e todos o
chamam de Vacilo. Neste momento, o vdeo finalizado em off com o slogan
Pokerso. Se cuida vacilo. Nova Schin. Um Cervejo. Beba com moderao.
Ou seja, o discurso masculino ainda machista por parte do amigo, embora no
signifique que ele trate a sua esposa dessa maneira, uma vez que a o dilogo se
estabelece com a esposa do amigo. Quanto ao comportamento, nota-se um tom de
deboche dos demais amigos da mesa, inclusive o Amigo 1. Todos se divertem com a
situao. Quando o Amigo 2 informa que no conversava com sua esposa, mas do
Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XVI Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste So Paulo - SP 12 a 14 de maio de 2011
8
Amigo1, causa mais uma reao de deboche entre todos e a aflio do Amigo1 que
imediatamente retorna a ligao para a esposa.
identificado inicialmente a existncia de um discurso machista, mostrando a figura da
mulher submissa ao homem. Por outro lado, ao obsevar a reao do companheiro,
percebe-se que a mulher passa ter autonomia na relao ao cobrar uma resposta do
marido e o mesmo pede desculpas estabelecendo nesse momento uma relao de
respeito.
Segundo SCOTT (1989, p.14) gnero um elemento constitutivo de relaes sociais
fundadas sobre as diferenas percebidas entre os sexos, e o gnero o primeiro
modo de dar significado s relaes de poder. Costa (1998) afirma que as relaes
de poder se mantm porque os vrios atores, dominadores e dominados, aceitam as
verses da realidade social que negam a existncia de desigualdades. Ou seja, ser
mulher e ser homem, nos insere em um contexto relacional de poder, que historicamente
tem sido diferenciado e desigual para homens e mulheres. Desse modo, as
representaes sociais so tambm relaes de poder produzidas ou realizadas em
circunstncias scio-histricas particulares, por indivduos possuidores de diferentes
graus de poder, servindo em situaes especificas, para manter ou romper estas
relaes, estando sujeitas a mltiplas, e talvez divergentes e conflitantes interpretaes,
pelos agentes sociais que os recebem e os percebem no curso da sua vida cotidiana.
(COSTA apud CRUZ, 2010)
Figura 1: Amigos reunidos jogando pker acompanhado de garrafas de cervej
Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XVI Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste So Paulo - SP 12 a 14 de maio de 2011
9
Figura 2: Amigo 2 atende o telefone
Ambiente: sala de estar, mesa de poker, garrafas e latas de cervejas sobre a
mesa, petisco, celular, iluminao branda que remete noite, casa do amigo.
Comportamento: chegada descontrada com a lata de cerveja
Figura 3: Amigo 2 (a direita) ao telefone com a esposa do Amigo 1(a esquerda)
Caracterizao: brancos, jovens e de classe mdia.
Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XVI Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste So Paulo - SP 12 a 14 de maio de 2011
10
Comportamento: tratamento grosseiro com a mulher, deboche parte dos
amigos durante a fala grosseira com a esposa,
D
i
s
c
u
r
s
o
:
F
F
Figura 4: Amigo 2 descobre que a sua esposa
Comportamento: pedido de desculpa companheira.
J a propaganda 2, Um Cervejo Carto, traz o mesmo grupo de amigos reunidos em
casa prontos para assistir a um jogo de futebol, quando um deles conta como comunicou
a esposa que iria assistir ao jogo na casa dos amigos: Cara, fui logo mandando: A J,
domingo, dia de jogo, vai rolar um cervejo. Um dos amigos pergunta: E ela?.
Ele responde: Sei l. Os outros brincam com ele: Marco! Homo! Macho!.
Neste momento, aparecem quatro mulheres sentadas (as esposas dos amigos citados
acima) na praa de alimentao de um shopping bebendo a cerveja Nova Schin,
cercadas de sacolas e mostrando as compras umas para as outras. Uma delas fala:
Liquidao e a outra amiga completa: Promoo. J a terceira complementa:
Carto. Uma das amigas no entende e pergunta: Que carto?. Ela responde: Do
Marco e todas brincam: oooooo...oooooo! Para finalizar, entra a locuo em off:
Domingo tem jogo. Cuidado com o carto. Nova Schin. Um Cervejo. Aprecie com
moderao.
Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XVI Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste So Paulo - SP 12 a 14 de maio de 2011
11
Propaganda 2: DOMINGO - Gnero Masculino
Figura 1: Amigos reunidos para assistir ao jogo de futebol no domingo
Discurso: Fala machista vou logo mandando...vai rolar um cervejo...
o Reconhecimento e auto-afirmao - fala dos amigos "Marco,
homo, macho.
Ambiente: casa, sala de estar, cozinha americana, exibio do jogo de
futebol na TV, sof.
Comportamento: Exibi as latas de cerveja, reunio com os amigos
Caracterizao: domingo de futebol
Figura 2: Momento do discurso masculino
Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XVI Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste So Paulo - SP 12 a 14 de maio de 2011
12
Ambiente: exibio do jogo de futebol na TV, sof.
Caracterizao: domingo de futebol
Propaganda 2: Carto - Gnero Feminino
Figura 1: Mulheres reunidas na praa de alimentao no shopping acompanhadas de cerveja
Discurso: fala das mulheres: liquidao, promoo
Ambiente: shopping, praa de alimentao, sacolas de compras
Comportamento: exibe o carto de crdito
Caracterizao: jovens brancas de classe mdia
Figura 2: Momento do discurso feminino com um brinde
Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XVI Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste So Paulo - SP 12 a 14 de maio de 2011
13
Discurso: fala das mulheres: Carto? Do Marco. Remete a dependncia ou
vingana feminina.
Comportamento: bebem cerveja e comemoram
Na segunda propaganda mais uma vez reconhecido um discurso machista e de desdm
do companheiro e o ambiente ainda contextualizado pelo futebol. Mas a segunda
parte da propaganda sugere uma forma de resposta do pblico feminino. Enquanto ele
est assistindo ao jogo na casa dos amigos, e ele acredita que ela est em casa, a mulher
est no shopping na companhia das amigas. Porm, a propaganda possibilita uma
segunda interpretao: sugere uma falsa independncia da mulher em relao ao homem
quando a mesma utiliza-se do carto do seu marido para fazer as compras. O ambiente
shopping center, leva a crer que esse espao faz parte do universo feminino,
classificando a mulher como ftil e consumista.
6. CONSIDERAOES FINAIS
Ao analisar as propagandas propostas no artigo Um cervejo - poker e Um
cervejo - carto nos que se refere ao gnero masculino possvel notar na primeira
que ainda existe um discurso machista e autoritrio do homem, e mais uma vez se
apropriando de contextos como futebol, cerveja e amigos.
J no aspecto do gnero feminino, na segunda propaganda, nos remete a uma forma de
resposta do pblico feminino na utilizao do dinheiro do marido para sua diverso,
dando assim uma idia de vingana. Por outro lado, ainda possvel perceber uma falsa
independncia em relao ao homem quando a mesma utiliza-se do carto do seu
marido para dar essa reposta e a idia da mulher ser ftil, consumista inserida no
contexto de shopping center.
Ou seja, a pesquisa constatou a tentativa das duas propagandas em no representar a
mulher de maneira pejorativa e apelativa no que se refere imagem de objeto sensual
e/ou sexual e quanto ao relacionamento afetivo igualdade entre os gneros. A
estratgia utilizada para conquistar o pblico feminino a nova maneira de representar a
mulher. Se apresentam vestidas como a maioria das mulheres brasileiras. O contexto em
que elas aparecem no de praia. So mulheres jovens que possuem um relacionamento
Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XVI Congresso de Cincias da Comunicao na Regio Sudeste So Paulo - SP 12 a 14 de maio de 2011
14
estvel: namoradas, noivas ou casadas. Ou seja, o esteretipo apresentado anteriormente
gradativamente passa por alteraes.
Ao oferecer modelos de identidade a publicidade desempenha importante papel
socializador, responsvel por indicar aos indivduos valores, modelos e comportamentos
sociais aceitveis e at mesmo desejveis. (WILLIAMSON, 1978 e KELLNER 2001
apud ALVES, 2006)
7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ALVES,L.L. Representaes e dilogos nas propagandas brasileiras de cerveja: uma abordagem
comunicacional. UNIrevista - Vol. 1, n 3 : julho 2006 ISSN 1809-4651
CRUZ, S.U. Corpos em evidncia: imagens de mulheres nas propagandas de cerveja.
Disponvel em < http://www.disisex.org/documentos-disidencia-sexual/iv-encuentro/sabrina-
uzeda-da-cruz.pdf> Acesso em abril 2010
KELLNER, D. A cultura da mdia. Trad. Ivone Castilho Benedetti. Bauru: Edusc, 2001.
NEDER, G. Ajustando o foco das lentes: um novo olhar sobre a organizao das famlias no
Brasil. In: S.M. Kaloustian (Org.). Famlia Brasileira a base de tudo (26-46). So Paulo:
Cortez; Braslia: UNICEF, 2000
SCOTT, J. Gnero: uma categoria til de anlise histrica. In: Revista Educao e
Realidade. Porto Alegre: v.2, 20, jul/dez, 1995.
SABAT, R. Gnero e sexualidade para consumo. In: LOURO, G. L.; NECKEL, J.
F.GOELLNER, S. V. Corpo, gnero e sexualidade: um debate contemporneo na educao.
Petrpolis: Vozes, p. 149-159, 2003
SAMARA, E.M. O que mudou na famlia brasileira? (Da Colnia atualidade). Psicologia
USP, 13 (2), 27-48, 2002
SAMARA,E.M. (Famlia, mulheres e povoamento. Bauru: Edusc, 2003.
SOUZA.C.F; MENANDRO, P.R.M. Relaes familiares retratadas em telenovelas brasileiras
de grande audincia: aspectos relevantes e polmicos em transformao.Vitria, PPGP-UFES,
2010
TORRES, A. A. individualizao no feminino, o casamento e o amor. Em: C.E. Peixoto, F.
Singly e V. Cicchelli (Orgs.). Famlia e Individualizao (135-156). Rio de Janeiro: FGV, 2000.