resumo - o cortiço

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RESUMO – “O CORTIÇO” CAPÍTULO 1 João Romão era um português que dos 13 aos 25 anos trabalhou numa venda, até que seu patrão voltou a Portugal e deixou-lhe o estabelecimento. A partir de então entregou-se ainda mais ao trabalho com o objetivo de enriquecer. Bertoleza era uma escrava que cuidava de uma quitanda, vizinha de João. Para viver “livre” ela pagava vinte mil-réis a seu dono todos os meses. Era “amigada” com um português que fazia fretes na cidade. Este português faleceu após um acidente causado pelo excesso de carga em sua carroça – é interessante notar que, desde já, o autor aponta a ganância como a causa da destruição de um de seus personagens. Com a morte de seu companheiro, Bertoleza abriu-se para João Romão, a quem servia comida todos dias. Com o avanço da intimidade entre os vizinhos, João se tornou responsável pela negra, seu “caixa, procurador e conselheiro”. E então, Bertoleza não só servia comida a ele, mas também era comida por ele, e era contente por se unir a alguém de “raça superior”. João Romão forjou uma falsa carta de alforria que desobrigava o pagamento dos vinte mil-réis mensais ao dono de Bertoleza: mais uma “economia”. O velho que era dono dela logo morreu e o falso documento nunca trouxe problemas para o casal. Unindo as economias, João começou a comprar os terrenos próximos à venda e à quitanda. Bertoleza, que era sua “criada e amante”, juntava-se a ele para furtar materiais de construção da vizinhança durante a noite que seriam utilizados na construção de casinhas em seus terrenos, para serem alugadas. Para acumular dinheiro João ainda “deixava de pagar sempre que podia sem nunca deixar de receber” e enganava seus fregueses nos pesos e medidas. Conseguiu, com esse dinheiro, comprar também uma pedreira que ficava atrás de seus terrenos. Seu sucesso material não parava de crescer, assim como sua ambição. Na mesma época mudou-se para um sobrado vizinho Miranda, um comerciante português com alguns problemas conjugais. Mudou-se com a desculpa de que lá seria um lugar melhor para o crescimento de sua filha, Zulmira, mas na realidade procurava afastar sua esposa, Dona Estela, de seus amantes. Miranda queria comprar alguns terrenos adjacentes ao sobrado para fazer de jardim, mas João Romão, dono dos terrenos, por capricho se recusava. Nasceu então uma intriga entre os dois. Com o desenvolvimento da região, os ganhos da pedreira e de seus negócios, João Romão ergueu seu sonho: uma estalagem que ocupava

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Resumo do Livro O CORTIÇO, de Aluísio Azevedo

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Page 1: Resumo - o Cortiço

RESUMO – “O CORTIÇO”CAPÍTULO 1João Romão era um português que dos 13 aos 25 anos trabalhou numa venda, até que seu patrão voltou a Portugal e deixou-lhe o estabelecimento. A partir de então entregou-se ainda mais ao trabalho com o objetivo de enriquecer.Bertoleza era uma escrava que cuidava de uma quitanda, vizinha de João. Para viver “livre” ela pagava vinte mil-réis a seu dono todos os meses. Era “amigada” com um português que fazia fretes na cidade. Este português faleceu após um acidente causado pelo excesso de carga em sua carroça – é interessante notar que, desde já, o autor aponta a ganância como a causa da destruição de um de seus personagens.Com a morte de seu companheiro, Bertoleza abriu-se para João Romão, a quem servia comida todos dias. Com o avanço da intimidade entre os vizinhos, João se tornou responsável pela negra, seu “caixa, procurador e conselheiro”. E então, Bertoleza não só servia comida a ele, mas também era comida por ele, e era contente por se unir a alguém de “raça superior”.João Romão forjou uma falsa carta de alforria que desobrigava o pagamento dos vinte mil-réis mensais ao dono de Bertoleza: mais uma “economia”. O velho que era dono dela logo morreu e o falso documento nunca trouxe problemas para o casal.Unindo as economias, João começou a comprar os terrenos próximos à venda e à quitanda. Bertoleza, que era sua “criada e amante”, juntava-se a ele para furtar materiais de construção da vizinhança durante a noite que seriam utilizados na construção de casinhas em seus terrenos, para serem alugadas. Para acumular dinheiro João ainda “deixava de pagar sempre que podia sem nunca deixar de receber” e enganava seus fregueses nos pesos e medidas. Conseguiu, com esse dinheiro, comprar também uma pedreira que ficava atrás de seus terrenos. Seu sucesso material não parava de crescer, assim como sua ambição.Na mesma época mudou-se para um sobrado vizinho Miranda, um comerciante português com alguns problemas conjugais. Mudou-se com a desculpa de que lá seria um lugar melhor para o crescimento de sua filha, Zulmira, mas na realidade procurava afastar sua esposa, Dona Estela, de seus amantes. Miranda queria comprar alguns terrenos adjacentes ao sobrado para fazer de jardim, mas João Romão, dono dos terrenos, por capricho se recusava. Nasceu então uma intriga entre os dois.Com o desenvolvimento da região, os ganhos da pedreira e de seus negócios, João Romão ergueu seu sonho: uma estalagem que ocupava todos seus terrenos, 95 casinhas. O local era privilegiado, com a proximidade da pedreira e água em abundância, o que o fazia o mais disputado do bairro entre trabalhadores e lavadeiras. A construção desse espaço irritou o vizinho Miranda, que o enxergava como era na realidade: um cortiço. E a vida se multiplicava naquele amontoado de casas “como larva no esterco”.CAPÍTULO 2Por dois anos o cortiço avançou, cresceu e se lotou de gente. Miranda cada vez mais invejava João Romão: sem nunca botar um paletó e vivendo com uma negra conseguira mais riqueza que ele, que se casara por interesse e precisava manter o triste relacionamento para não perder seus bens. Vendo que jamais alcançaria João Romão no quesito financeiro, Miranda resolveu buscar outra forma de sobrepujá-lo: comprar o título de Barão.Na mesma época Henrique, com 15 anos, filho de um fazendeiro cliente de Miranda, veio instalar-se junto a ele. Na casa já moravam, além de Miranda, Dona Estela e Zulmira, então com 12 anos, três criados: Isaura, uma jovem mulata, Leonor, uma negrinha virgem, e Valentim, um moleque filho de escrava que Dona Estela havia alforriado e que muito estimava, causando até ciúmes em sua filha. Havia ainda Botelho, que fora funcionário de Miranda, mas agora já não prestava para nada nem tinha família: era um velho amargurado amante do militarismo.Constantemente, entre as diversas brigas de Miranda e Dona Estela, Botelho servia de amigo e conselheiro de ambos, separadamente, mas nunca contando segredos de um ao outro: precisava agradar aos que lhe davam o teto. Certo dia encontrou Dona Estela no jardim se agarrando ao jovem Henrique. Alertou, então, para que tivessem mais cuidado e jurou que não contaria nada ao dono da casa. No entanto, em seguida, ao falar a sós com Henrique, deu entender que esse silêncio não seria gratuito: acariciava-o constantemente e elogiava sua beleza… era um velho pederasta.CAPÍTULO 3O narrador descreve o avanço gradual dos movimentos no cortiço, desde as primeiras janelas a serem abertas, os barulhos de bocejos e de bules de café, os banhos na bica, os vendedores de pães e peixes, as

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fábricas ao redor, as lavadeiras, as conversas… É interessante a descrição semelhante à de animais que ocorre em alguns momentos, como “machos e fêmeas” ao invés de homens e mulheres.Nesse ponto são apresentados alguns personagens, a partir da fila de mulheres que estava a lavar roupas.Leandra, conhecida por “Machona”, era uma lavadeira portuguesa com três filhos: Maria das Dores, conhecida como “Das Dores”, mulher separada, Nenen, jovem ainda donzela, e Agostinho, um menino levado.Augusta Carne-Mole, também lavadeira, era brasileira e casada com Alexandre, um mulato soldado de polícia. Tinham filhos pequenos, um deles era Juju, garota que vivia na cidade com sua madrinha, Léonie, uma cocote (prostituta de luxo) de origem francesa.Leocádia, mais uma lavadeira portuguesa, com fama de leviana pela vizinhança, era casada com Bruno, um ferreiro.Paula, uma cabocla velha, além de lavadeira, era respeitada como rezadeira, benzedeira e feiticeira, e por isso chamavam-na de “Bruxa”.Marciana era outra lavadeira, com mania de limpeza e uma filha virgem, Florinda.Dona Isabel era a lavadeira mais respeitada, pois não passava de uma “pobre mulher comida de desgostos” que viu seu marido suicidar-se e ainda assim educou muito bem sua filha, Pombinha, que era muito querida por todos do cortiço: ela escrevia e lia cartas e jornais, fazia contas… Pombinha tinha um pretendente, João da Costa, que trabalhando no comércio garantiria um bom futuro para mãe e filha. Mas por ainda não “ser mulher”, Pombinha não era autorizada por Dona Isabel a casar-se. A menarca da garota era, então, tema constante da curiosidade de todos moradores do local.Havia ainda Albino, um sujeito afeminado, fraco e pobre que sempre estava entre as mulheres e também lavava roupas. Só saía do cortiço no carnaval, quando se enfeitava para desfilar pelas ruas e bailes.Ainda foi comentada Rita Baiana, lavadeira que adorava uma festa, e que estava sumida do cortiço desde que se engraçou com um torneiro.Após encerrar essa exaustiva descrição de tantas figuras do cortiço, o narrador se concentra na venda à entrada da estalagem, em que Domingos e Manuel atendiam inúmeros fregueses no balcão, enquanto João Romão, seu patrão, e Bertoleza atendiam no estabelecimento ao lado servindo refeições. Ali chega um estranho que deseja falar com o dono do lugar.CAPÍTULO 4O estranho apresenta-se a João Romão como um indicado para trabalhar em sua pedreira. O salário que deseja, setenta mil-réis, a princípio assusta o dono do lugar, que aceita pagar-lhe somente cinquenta.João apresenta ao homem a pedreira e este tece diversos elogios ao lugar, ao mesmo tempo em que critica o trabalho mal feito pelos contratados. Propõe, então, que caso seja contratado saberá explorar muito melhor a pedreira e a fará dar mais lucro. O argumento é suficiente para convencer o seu novo patrão.Interessante ainda a “esperteza” de João: antes de firmar o acordo ele procura saber se seu novo empregado – Jerônimo – irá morar no cortiço e se fará compras e refeições em seu estabelecimento, pois assim garante que o salário “a mais” que lhe pagará voltará ao seu bolso.CAPÍTULO 5No dia seguinte Jerônimo e Piedade de Jesus, sua mulher, mudavam-se para o cortiço. Ocuparam a casa 35, que era vista pelos vizinhos como tendo mau agouro desde que uma inquilina lá morrera. Os vizinhos, aliás, acompanharam detalhadamente a mudança, observando a qualidade dos móveis para depois comentar entre si. O veredicto da fofoca foi de que o casal era bem arranjado.Jerônimo realmente era um homem trabalhador, desde que chegara de Portugal aprendera ofícios para sobreviver no Brasil. E esta sua qualidade refletiu prontamente nos resultados da pedreira: com novas orientações, a dispensa de alguns funcionários e a contratação de outros, João Romão viu seus lucros se multiplicarem, tanto que não tardou para aumentar o salário de seu novo empregado. Essa postura de Jerônimo também agradou à vizinhança, que o via com muito respeito.CAPÍTULO 6Agora o narrador descreve um dia atípico do cortiço: um domingo. Os moradores descansavam, tocavam instrumentos, liam, jogavam, bebiam… As lavadeiras não lavavam.Nesse momento chega a tal Rita Baiana, comentada no capítulo 3, que logo se torna o assunto de interesse geral: justamente por ser festeira, comportando-se de forma diferente de todos, era admirada pela vizinhança.

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Então cumprimentava um a um, comentava sobre suas diversões em Jacarepaguá, o Carnaval… Prometeu ainda que naquela noite haveria um pagodinho de violão na estalagem, o que animou a todos.As mulheres preparavam as casas para receber seus homens e Pombinha escrevia cartas para os moradores.CAPÍTULO 7Assim que o amante de Rita, Firmo, chegou à sua casa, junto com Porfiro, seu amigo, o violão e o cavaquinho começaram a se aquecer. Nas casas vizinhas também chegavam os homens das mulheres, grupos se juntavam para o jantar e estava armada a festa.Miranda espiava da janela de seu sobrado a bagunça que cada vez mais avançava. Os festeiros já haviam percebido sua presença e, quando ele decidiu reclamar, todos se voltaram contra, exclamando vaias e risadas.Após diversas conversas, quase sempre sobre a vida alheia, um chorado baiano começou a soar. Até Jerônimo, que fora convidado para a patuscada mas preferiu ficar em frente a sua casa tocando cantigas portuguesas, foi atraído pela música alegre e logo juntou-se ao povo. Mais um pouco e havia diversas pessoas dançando.Quando Rita Baiana dançou Jerônimo ficou enfeitiçado pela beleza da brasileira. Tanto que não viu o tempo passar e quando se deu conta, já era a hora de ir ao trabalho.CAPÍTULO 8Na hora do almoço Jerônimo se recolheu em casa e reclamou à sua mulher, Piedade, que não estava bem e precisava dormir. Como todo acontecimento diferente no cortiço, o mal-estar de Jerônimo logo era de conhecimento de todos.Diversas vizinhas foram visitá-lo e receitavam remédios à Piedade para sua melhora, mas ele com isso só se irritava. Até que Rita Baiana o visitou e o alegrou. Ela preparou-lhe um café com parati (pinga) e fez recomendações a Piedade. Numa das visitas de Rita, Jerônimo não segurou seus desejos e tentou investir nela, que se esgueirou e ameaçou contar tudo à sua mulher. Piedade não era boba e, ao entrar no quarto, percebeu um clima estranho, mas era antes de tudo serva de seu marido e não questionou nada. Jerônimo melhorava.Enquanto isso se armava um confusão no cortiço… Henrique, da casa do Miranda, tinha interesse em Leocádia, que até então se recusava. Mas neste dia, aceitando em troca um coelho branco (!?), Leocádia se entregou ao jovem. No meio do ato Bruno, seu marido, a descobriu e a briga estava armada. Henrique conseguiu fugir sem ser reconhecido.Em seguida Bruno, com seu orgulho ferido, expulsou Leocádia de casa e jogou todos seus pertences para fora. Quando teve oportunidade Leocádia se vingou, destruindo tudo que restava na residência. Os vizinhos tinham reações variadas, ora rindo, ora preocupados, tentando acalmar os ânimos – o fato é que não havia vida privada naquele lugar, tudo era compartilhado. O caso teve seu ápice quando Bruno tentou bater na mulher e todos, inclusive João Romão, o dono da estalagem, se misturaram numa confusão.Ao final Leocádia juntou o pouco seu que restou e decidiu ir embora. Rita Baiana, vendo isso, pediu que lhe esperasse pois sairia junto com ela para ajudar-lhe. O que seria essa ajuda tornou-se objeto de curiosidade de todos no cortiço.CAPÍTULO 9Jerônimo não estava mais de cama, mas seu comportamento mudara. Tomava todas as manhãs café e parati, receitados pela Ritinha “pra cortar a friagem”. No trabalho não era mais o mesmo: passou de exemplo a mau-exemplo. Abriu mão de todas as tradições portuguesas que lhe davam o ar de saudoso emigrante para absorver os costumes brasileiros, as refeições, as músicas, as danças… tudo tendo se iniciado com a paixão pela mulher brasileira.Nesse jogo Piedade, sua mulher, levou a pior: por mais que seguisse sempre os gostos de seu marido, não se sentia à vontade na nova terra. Após algum tempo Jerônimo não lhe dava mais atenção, não à procurava na cama e até a repelia.Jerônimo avançava cada vez mais para Rita Baiana, mantendo sempre contato. Numa de suas conversas descobriu o que ela fizera para ajudar Leocádia, expulsa tempos antes: arranjou-a numa casa de engomadeiras. E até a benevolência da baiana era motivo para Jerônimo aumentar seu apreço por ela.

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Piedade decidiu procurar ajuda: foi até Paula, a Bruxa, tirar sorte nas cartas e buscar receitas para reconquistar seu homem, mas foi tudo em vão. Firmo, amante de Rita, também percebeu o estranho relacionamento dela com Jerônimo e parecia que logo uma intriga estaria armada.Nessa altura, porém, outra confusão chama a atenção do narrador. Agora era Florinda, filha até então virgem de Marciana, que aprontara e aparecera grávida. Sua mãe descontrolou-se e a atacou violentamente até descobrir o homem responsável pelo ato: Domingos, o caixeiro da venda.A balbúrdia que já estava formada dirigiu-se, então, para a venda, onde João Romão acabou fazendo papel de juiz, interrogando seu empregado e decretando a punição: Domingos teria de casar-se ou era demitido. João prometeu ainda que, caso Domingos preferisse fugir, ele arcaria com o dote de Florinda, o que acalmou os ânimos de Marciana.À noite Augusta e Alexandre receberam a visita da comadre Léonie, a cocote que cuidava da filha do casal, Juju. Esta visita também interessava a todos na estalagem já que Leónie vivia de forma diferente de todos ali, na cidade, desfrutando de festas e roupas luxuosas. O fato de ter que vender seu corpo para manter este status não gerava discriminação entre os demais, sendo que as mulheres do cortiço até a invejavam, pois não estava presa a nenhum marido e ainda assim tinha boa vida.Juju também vestia-se de maneira diferenciada, sendo admirada por todos. Pombinha, garota mais educada do lugar, também se interessava por essa vida e era amiga de Léonie, que chamou-lhe, ela e sua mãe, para jantar um dia em sua casa.CAPÍTULO 10No outro dia, Marciana foi procurar por João Romão para acertar a promessa de dote que havia feito, já que Domingos havia sumido, mas aquele fez-se desentendido e não garantiu nada à Florinda.Marciana chegou a sua casa e descontou a desgraça em sua maior mania, a limpeza doméstica. Em meio a esta situação Florinda chorava, irritando ainda mais sua mãe, que tentou bater-lhe novamente. Porém a filha reagiu de forma inesperada e fugiu de casa.Marciana entrou em choque com a atitude de Florinda e iniciou a armar confusão com João Romão, quem considerava culpado pelos últimos acontecimentos. Ele foi enérgico, mandando-a embora da estalagem.João Romão tomou esta atitude extrema pois já estava suficientemente transtornado com outro fato que ocorria naquele domingo: Miranda, seu vizinho, ganhara o título de barão e fazia uma festa para comemorar seu triunfo. O vendeiro, que até então só se preocupara em acumular riquezas em detrimento de seu bem estar, agora se perguntava se realmente estava satisfeito com aquilo, se o caminho que tomou Miranda não era mais atraente. O Barão conseguiu, portanto, o que queria, saiu do papel de invejoso para o de invejado.Para tentar compensar a “derrota” sofrida para seu vizinho, João Romão saiu pelo cortiço a impor seu poder, mostrar sua força, reclamando de tudo e de todos. Tudo era uma bagunça, tudo devia ficar em ordem, afinal, ele era o “soberano” do lugar! O ápice de sua demonstração de autoridade foi quando viu que Marciana não o obedeceu em sair do cortiço, então chamou a polícia para levá-la presa. Só Paula, a Bruxa, se impressionou com tudo aquilo.Quando chegou a noite, o domingo tornou-se animado na estalagem, pegando carona na festança que já ocorria no vizinho Miranda. Porém, entre uma dança e outra, Jerônimo e Rita Baiana se insinuavam cada vez mais um ao outro e Firmo não aguentou a situação, partindo para cima de seu concorrente.A luta armou-se, entre o capoeira brasileiro e o forte português. Todos tentaram impedi-los, mas ninguém conseguiu. Rita não disfarçava certo contentamento em ver dois homens brigando por ela; Piedade estava apreensiva pela vida do marido, e com razão. Após muitos golpes de ambos os lados, Firmo enfiou uma navalha em Jerônimo, que caiu.A esta altura o cortiço já estava um caos, lotado de moradores e curiosos que acompanhavam a briga entre gritos e lamentações. Vendo isso a polícia chegou ao local e outro conflito se armou: ninguém queria que os soldados entrassem pois sabiam que quando isso acontecia todas casas eram invadidas e destruídas. Dessa forma Jerônimo foi recolhido para sua casa e todos demais dirigiram o foco para a proteção da estalagem, montando uma barricada de tralhas junto ao portão.A resistência se rompeu quando surgiu a notícia de que a casa 12, de Marciana, estava em chamas. Em instantes o amontoado de casas também seria incendiado, então todos se atropelavam tentando salvar sua parte. Os praças invadiram o lugar, prendendo uns, destruindo as casas de outros. Em seguida caiu uma tempestade.CAPÍTULO 11

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Foi a Bruxa quem tentou incendiar o cortiço, influenciada pela loucura recente que vira em Marciana, mas ninguém descobriu.Joao Romão logo começou a planejar a recuperação dos prejuízos que a invasão policial causou: sua brilhante ideia foi de cobrar algo a mais dos seus inquilinos para cobrir os custos. Antes disso precisou ir à cidade prestar depoimento na secretaria de polícia, aonde foi acompanhado por vários moradores curiosos que responderam junto a ele a todas as perguntas, em um desajustado coro. O fato é que ninguém acusaria qualquer culpado para o início da confusão, afinal, o cortiço tinha suas próprias regras.Enquanto isso Jerônimo era tratado por Rita e Piedade, numa situação um tanto desconcertante para esta última, que, no entanto, não exteriorizava seu incômodo.Passada uma noite após a da confusão, todos já voltavam à rotina com mais ânimo. Exceto Pombinha, que no domingo havia atendido ao convite de Leónie e a visitara junto de sua mãe, Dona Isabel. O motivo desse desânimo em Pombinha é que durante a visita ela havia sido abusada sexualmente por Leónie enquanto sua mãe dormia devido um vinho que tomara. A situação constrangedora deixou a garota confusa.Neste dia é narrado o momento poético em que Pombinha resolve isolar-se e caminhar pelos arredores do cortiço, até que, entre pensamentos e sonhos, “torna-se mulher”.CAPÍTULO 12Pombinha foi direto para sua casa contar à sua mãe a tão esperada novidade. Dona Isabel agradecia à primeira menstruação da garota como uma dádiva divina. Logo todos no cortiço sabiam da novidade e parabenizavam mãe e filha. Na noite do mesmo dia João da Costa compareceu à casa daquela que, agora sim, seria sua noiva.Jerônimo precisou ser encaminhado para um hospital e a partir de então Rita sentiu-se mal: ela ficou sozinha, uma vez que tinha pouco contato com Firmo, que fora proibido de entrar na estalagem.Outro que estava mal era Bruno, já arrependido de ter expulsado Leocádia de casa. A Bruxa tirara-lhe cartas que diziam que a mulher ainda o amava, o que o animou para tentar um contato. Procurou, então, por Pombinha para ela lhe escrever uma carta. Mesmo ocupada com a costura de seu enxoval, a menina atendeu ao pedido de Bruno, que entre lágrimas confessou que aceitaria Leocádia de volta e esqueceria sua traição.Pombinha já passara por situações como aquela diversas vezes, mas agora com suas recentes experiências e a proximidade de seu casamento, via com outros olhos a interessante relação que se travava entre homens e mulheres. Enquanto um tentava demonstrar sempre sua superioridade, a outra era a verdadeira dominadora.Chegou o dia de seu casamento. Saiu abençoada por todos do cortiço.CAPÍTULO 13A casa de Dona Isabel e Pombinha mal fora desocupada e já tinha novos inquilinos. O mesmo acontecia com o restante do cortiço, que tinha suas casas divididas e subdivididas a todo momento para acomodar mais gente que chegava, mais gente que nascia. Não só o cortiço, mas o bairro crescia. Tanto que surgiu um cortiço concorrente, o “Cabeça-de-Gato”, levantado por outro português.João Romão, percebendo a concorrência, incentivou um sentimento de intriga entre os moradores de sua estalagem e os daquela, ainda que sem motivos muito claros. Até os moradores de cada cortiço tinham sua denominação: os carapicus eram do São Romão (estabelecimento de João Romão) e os cabeças-de-gato do concorrente. Firmo, que havia sido expulso do São Romão, era um dos mais respeitados dos cabeças-de-gato, considerado um líder por suas habilidades.No entanto, após três meses, João Romão notou que o cortiço vizinho não era uma grande ameaça e que, por fim, ajudava no movimento dos seus negócios, com o crescimento do bairro. Então ele dirigiu suas atenções para outra intriga que mais lhe interessava: Miranda.João mudou seus costumes, suas roupas, sua agenda… Usava casacos, chapéus, fazia a barba, lia jornais, reformou seu quarto. Não trabalhava mais servindo pratos, contratou quem o fizesse. Finalmente encontrou um meio para empenhar tanto dinheiro acumulado. E a mudança deu resultado: Miranda o cumprimentava e às vezes até conversava com João. O mesmo acontecia com o velho Botelho, desocupado que vivia à custa de Miranda.Certo dia, numa das muitas conversas entre João Romão e Botelho, o velho lhe lançou uma ideia: que conquistasse Zulmira, a filha de Miranda, que já estava moça – com isso levaria a herança! Botelho tinha

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influência com o Barão e ajudaria João na conquista, contanto que ele o retribuísse pecuniariamente. O comerciante tentou pechinchar no ajuste, mas acabou cedendo no valor que Botelho desejava.Dias depois João Romão já era convidado de Miranda para jantar. Apesar da falta de costume de participar de eventos como esse, o dono do cortiço arranjou-se bem e ficou satisfeito: o primeiro passo havia sido dado.Ao chegar em casa deparou-se com sua companheira, Bertoleza, já deitada, imunda, cada vez mais maltratada pelo trabalho que se acumulava sobre ela. João percebeu que ela atrapalharia, sem dúvida, seus planos para com Zulmira. Pensou “E se ela morresse?”…CAPÍTULO 14Rita e Firmo deram um jeito de manterem seus encontros: alugavam um quarto de uma velha na Rua de São João Batista, já que um não poderia entrar no cortiço do outro, devido às rivalidades entre carapicus e cabeças-de-gato. No entanto o homem percebeu que cada vez menos a morena se interessava por ele, sempre se atrasando e saindo cedo, até o dia em que nem apareceu. Firmo já desconfiava de alguma traição, que foi confirmada quando soube que na mesma época Jerônimo havia saído do hospital. Prometeu um novo ataque.E realmente Rita estava entregue aos cuidados de Jerônimo, que continuava bem fraco depois de meses de cama. Piedade, sua mulher, ainda remoía em silêncio suas tristezas.Antes que Firmo pudesse pôr em prática uma nova ação, Jerônimo já armava contra ele. Com mais dois amigos, Zé Carlos e Pataca, montou uma emboscada em que pegaria seu rival em desvantagem numérica e bêbado.CAPÍTULO 15Na mesma noite chuvosa foram os três em direção ao Garnisé, bar frequentado por Firmo. Lá entrou somente Pataca, que se fez de amigo do capoeira oferecendo-lhe mais bebidas, o que o deixava ainda mais ébrio do que estava. Firmo confessou seu interesse em atacar Jerônimo ainda naquela noite. Pataca aproveitou-se da situação para saber quais armas ele levava e atraiu-o para a emboscada: alegando ter visto Rita na praia convenceu Firmo de segui-lo.Na praia, após caminharem bastante, encontraram com Zé Carlos e Jerônimo, que atacaram de surpresa. Com a vítima completamente bêbada não foi tarefa difícil desarmá-lo e enchê-lo de pancadas até a morte. Jogaram o corpo ao mar.Após pagar o que devia aos seus ajudantes, Jerônimo voltou ao cortiço. À porta de sua casa percebeu a luz ainda acesa e lembrou-se de sua mulher. Não a desejava mais. Mudou de rumo e foi ter com Rita que, ao vê-lo cheio de sangue pelo corpo e com a navalha que fora de Firmo, entregou-se completamente a ele. Fizeram planos de saírem da estalagem e viverem juntos.CAPÍTULO 16Piedade passara a noite em claro, entre pensamentos trágicos e alucinações em relação ao seu marido. Ela amaldiçoava o dia em que decidiu vir ao Brasil e deixar sua terra, onde com certeza Jerônimo ainda seria o mesmo, sem ser atraído pela luxúria da América.Quando amanheceu foi à rua procurar notícias. Não demorou muito para que o sumiço de Jerônimo se tornasse a notícia do dia na estalagem. Rita também saíra, pois preocupava-se com a repercussão que a morte de Firmo causaria, o que era justificado pois o povo do Cabeça-de-Gato já jurava vingança contra os carapicus pelo assassinato de seu líder.Quando voltou ao cortiço, Piedade já sabia que seu marido estava bem, mas havia fugido de casa. Ao descobrir que Firmo havia sido morto ela ainda tentou duvidar que tudo aconteceu por causa da baiana, mas não havia outra conclusão possível.Em seguida chegou a Rita, feliz, após um encontro com Jerônimo. Piedade não aguentou ver tal cena e partiu para cima da rival, primeiro com ofensas, depois fisicamente. Como sempre, o cortiço todo parou para ver a briga: os portugueses apoiavam Piedade e os brasileiros a Rita. O calor da briga não demorou para se espalhar entre todos que logo começaram também a se enfrentar.João Romão, vendo que não controlaria a bagunça, tratou de proteger sua venda. Miranda iniciou a apitar, chamando a polícia, que pouco depois chegou e pediu reforços, tamanha era a confusão. Ao mesmo tempo era possível ouvir o grito de guerra dos cabeças-de-gato que vinham em bando, prontos para vingar Firmo.CAPÍTULO 17

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Ainda que a batalha entre portugueses e brasileiros do cortiço São Romão estivesse em seu ápice, a chegada dos cabeças-de-gato reuniu rapidamente os carapicus. Os invasores vinham à moda de seu líder assassinado, com navalhas preparadas. A batalha teve início.Porém em alguns instantes via-se uma casa, a 88, a incendiar. E dessa vez a bruxa fez o trabalho perfeito, pois o fogo não dava sinais de baixar. Surpreendentemente, os cabeças-de-gato, diferente dos policias no último incêndio, não se aproveitaram da situação, mas recuaram por considerar uma briga injusta. Foram capazes até mesmo de ajudar a salvar os bens de seus inimigos.A confusão no cortiço crescia, com diversos móveis sendo atirados para a rua, enquanto outros traziam água para apagar o fogo. Era possível ver a Bruxa à janela de sua casa, sorrindo, e sendo consumida pelas chamas.O incidente acabou com a chegada dos bombeiros que atuavam como heróis, para o delírio dos animados espectadores da desgraça e, em especial, das senhoras assanhadas.CAPÍTULO 18Durante o incêndio o velho Libório, morador do cortiço que vivia à custa de esmolas, correu desesperado para dentro de sua casa em chamas. Vendo isso, João Romão o seguiu e pegou de surpresa o velho arrastando um enorme embrulho. Libório se enfureceu, ficou agressivo com a presença de João, que logo percebeu do que se tratava: havia no embrulho diversas garrafas de dinheiro que eram guardadas dentro do colchão do pedinte. Em meio às chamas os dois pareciam iniciar uma briga, mas uma parte do teto caiu sobre o velho, então o dono da estalagem pegou o embrulho e garantiu sua fuga.No dia seguinte havia cadáveres queimados no meio do pátio, entre eles o da Bruxa e de Libório. Vários outros se feriram, e a filhinha de Augusta Carne-Mole morrera.Miranda consolava João pelo desastre, mas esse relevava: após o primeiro incêndio havia feito um seguro e este segundo o deixava, portanto, no lucro. O português já planejava reconstruir sua estalagem, com ainda mais casas, aproveitando o pátio que era grande demais. Miranda admirava a atitude de seu vizinho.Mais tarde, quando Bertoleza já dormia, João Romão pôs-se a contar quanto dinheiro havia nas garrafas do velho Libório. A quantia era suficiente para começar a por em prática seus planos de ampliação do cortiço, apesar de algumas notas mofadas e outras que não mais valiam. Para estas últimas João tinha destino certo: embutiria aos poucos nos trocos da venda.

CAPÍTULO 19Passados alguns dias o cortiço já estava em obras. Havia grande movimento, mas a rotina pouco mudara. Além de reconstruir casas, João Romão também decidiu reformar seu armazém, erguendo um sobrado mais alto que o de Miranda. E para isso já não economizava, ele estava mudado, valorizava o luxo. Tanto que pouco permanecia na estalagem: agora aplicava em ações da bolsa, tinha amigos barões, frequentava cafés chiques.Miranda e o velho Botelho acompanhavam os avanços do São Romão diariamente, admirados. E se perguntavam como podia um homem de tanta atitude e status manter o relacionamento com uma preta como Bertoleza. Mas a verdade era que o relacionamento nem existia.Bertoleza percebia dia a dia o distanciamento de seu amigo. Ele mal a procurava, e quando o fazia era com repugnância. Ela percebia o perfume de cocotes em suas roupas, a mudança do comportamento, mas ainda o admirava. Bertoleza já não esperava amor, mas ao menos um apoio para viver sua velhice que logo chegaria, afinal, desgastava-se muito, trabalhando todos os dias, o dia todo.Botelho procurou João Romão para dar-lhe uma boa nova: poderia pedir a mão de Zulmira com certeza de sucesso, Miranda já havia aprovado a união. Restava resolver-se com Bertoleza, que ouviu a conversa e não pôde segurar suas lágrimas.Enquanto isso Jerônimo estava empregado em outra pedreira e vivia com Rita Baiana em outra estalagem. Lá se entregara definitivamente à cultura brasileira, aos costumes, aos modos: viciou-se nas bebidas, nas danças, já não sabia mais economizar. Viviam felizes, de amor, o casal.Piedade, por outro lado, só piorara. Enfraquecia-se física e mentalmente. Emagreceu muito e descobriu nas bebidas a fuga de sua tristeza. Seu único contentamento era sua filha, que aos domingos saía da escola e

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ficava com a mãe. Os vizinhos a elegeram a nova Pombinha, agora sobre o nome de Senhorinha, tal era a admiração que tinham por ela.Um dia Senhorinha chegou para sua mãe com uma carta do colégio informando que há seis meses não era feito o pagamento. Indignada, Piedade foi até a casa de Jerônimo e lá se encontraram as duas figuras, desgastadas, e um sopro de esperança passou pelo coração da portuguesa quando ele a olhou com certo remorso e tocou-lhe o corpo. Mas Jerônimo sabia o que queria: apenas lamentou não poder mais pagar o colégio da filha e voltou aos braços de Rita.CAPÍTULO 20O cortiço estava, enfim, mudado. As cem casinhas já somavam mais de quatrocentas. O pátio virara uma rua. A estalagem era o maior sobrado da região. Na entrada agora havia um jardim e uma placa “Avenida São Romão”. Até mesmo os moradores eram diferentes: havia funcionários públicos, artistas, estudantes, não só lavadeiras e operários. O Cabeça-de-Gato já não era mais comparável à obra de João Romão.Após chegar em casa, Piedade pôs a filha para dormir e foi à vizinhança procurar o que fazer. Juntou-se à uma roda na casa da das Dores. Lá se embebedou e virou o sarro de todos: ela dançava, cantava, caía e levantava. Quando João Romão chegou à estalagem e viu a bagunça mandou todos às suas casas. Ela até tentou enfrentá-lo, mas foi impedida por Pataca, que já a assediava há algum tempo.Foram Pataca e Piedade para a casa dela. Conversaram, beberam mais, comeram… e ele a atacou. Senhorinha acordou com o barulho e encontrou os dois juntos, no chão da cozinha. Piedade desfaleceu e vomitou sobre si. Pataca a levou para o quarto e foi embora. Senhorinha chorou.CAPÍTULO 21Ao mesmo tempo estava João Romão em seu quarto, todo reformado, com papel de parede, móveis novos, pronto para um casal. Bertoleza dormia nos fundos do armazém, no chão. Aí estava o grande impasse do português: Miranda já havia concedido a mão de sua filha Zulmira e Dona Estela já procurava uma data para o casamento, mas Bertoleza permanecia em sua casa. Seu pensamento “E se ela morresse?” logo passou para “E se eu a matasse?”. Mas essa alternativa parecia muito arriscada, já que agora, prestes a se casar, todos desconfiariam do feito. João se arrependeu de não ter dado um fim na negra antes. O dono da estalagem caminhou até onde sua antiga amiga dormia e a olhou por um tempo pensando no que faria dela, até que ela acordou, assustando o homem, que pensou “Será que ela desconfia de algo?”.A noite passou sem que João dormisse. Assim que saiu para o cortiço soube de um desastre: Agostinho, filho de Machona, acidentou-se quando brincava na pedreira e morreu violentamente. Sabendo disso, o português estranhamente lamentou o ocorrido: porque morrer assim uma criança que não faz mal a ninguém, e não Bertoleza, que tanto o atrapalha!Em instantes chegou o velho Botelho ao sobrado de João e contou que se preocupava com a influência da negra sobre sua imagem perante Miranda e Dona Estela. Discutiram então, durante o almoço, o que se deveria fazer. Surpreendentemente Bertoleza entrou no recinto e professou injúrias a João Romão, afirmando que não se deixaria ser descartada daquela forma, que “quem lhe comeu a carne haveria de roer seus ossos”.Após essa discussão Botelho e João saíram. Bastou algum tempo para que tivessem uma ideia: poderiam denunciar Bertoleza ao seu dono, afinal, como foi dito no início dessa história, João falsificou a alforria da negra, portanto, ela ainda era escrava! João providenciaria o endereço e o nome de quem fosse de direito e Botelho faria o contato.CAPÍTULO 22Daquele dia em diante Bertoleza ficou em alerta, despertava com qualquer barulho durante a noite, sabia do risco que corria.Enquanto isso o São Romão prosperava: o armazém se tornou um centro de distribuição de mercadorias para vários comércios menores, a estalagem abrigava cada vez mais pessoas instruídas, quase não havia lavadeiras.Leónie ainda visitava o lugar levando Juju para visitar Alexandre e sua mulher. Essas visitas continuavam causando alvoroço e admiração entre os moradores, principalmente a partir de quando, junto a Leónie, estava Pombinha! A moça, após dois anos de casamento, se cansou do noivo, se aventurou com outros até perder o marido, então foi morar com Leónie, para viver a mesma vida de prostituta. Sua mãe, Dona Isabel, de início rejeitou a mudança, tentou reatar o casamento, mas com o tempo, conforme ia ficando dependente financeiramente da filha, aceitou a condição e foi morar com ela, até a morte. Eram, então, Leónie e

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Pombinha as duas grandes damas da cidade, a endinheirar-se sobre os desejos dos homens. Pombinha tinha no cortiço uma “aprendiz”, a filha de Jerônimo e da pobre Piedade, e dava-lhe todos os mimos, da mesma forma que anos antes Leónie fazia com ela.Piedade estava completamente entregue à bebida. Era abusada todos dias por homens que se aproveitavam de sua embriaguez. Já não trabalhava – ninguém confiaria suas roupas a ela. Mantinha-se no São Romão à custa de Leónie, mas com o tempo sua figura não era mais bem vista por lá, já que o lugar era cada vez mais bem frequentado. Até que foram expulsas, ela e sua filha. Partiram para o Cabeça-de-Gato, que de forma oposta ao São Romão, tornava-se mais miserável, absorvendo toda podridão da qual a outra estalagem se desfazia.CAPÍTULO 23João Romão convivia com Miranda rotineiramente, era quase membro da família, só faltava oficializar.Passados alguns dias, o velho Botelho avisa o português que o dono de Bertoleza já estava a par de sua situação e que logo estaria no armazém para capturá-la. O tal homem chegou acompanhado de policiais e João Romão fez como se não soubesse da procedência da negra. Ao ser surpreendida pelo grupo na cozinha, a escrava percebe a emboscada e rasga seu próprio corpo com a faca.Enquanto isso chegava à estalagem uma comissão de abolicionistas para trazer um diploma de sócio benemérito a João Romão. Ele pede para encaminhá-los à sala de visitas.

FIM