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ANÁLISE RESUMIDA DAS OBRAS MAIS IMPORTANTES DE CAIO PRADO JÚNIOR Evolução Política do Brasil (1933) Esta é a primeira obra de Caio Prado Júnior, e também a primeira análise marxista e materialista da história nacional. Curto ensaio de síntese da História do Brasil (da Colônia até o fim do Império). Apresenta um nova visão do passado: temas novos são abordados e outros antes esquecidos reaparecem. No livro, Caio Prado, prega e prova a não existência do feudalismo no Brasil (pois considera que desde o início da colonização nossa estrutura econômica é capitalista). O que mais se pode destacar é que ele dá uma nova análise às rebeliões regenciais, colocando-as como movimentos que tentaram romper a ordem colonial. considera- os como movimentos do povo, que procura melhorar as condições de vida e ocupar um espaço na nacionalidade (estruturas produtivas e sociais) Diferentemente da historiografia oficial, Caio Prado Júnior vê tais movimentos como relativamente organizados e nascidos da vontade popular. Considera a Independência não como “emancipação”, mas sim “libertação” surgida de um “arranjo político”. Ou seja, preserva-se as instituições de mando e a ordem colonial; o povo mantém-se à parte da política nacional. E o livro coloca, pela primeira vez, o “povo” na História do Brasil como participante ativo da mesma. História Econômica do Brasil (1945) O livro é um texto interpretativo da formação econômica nacional, desde o período colonial até os anos 30 deste século. Trata-se de um relato simples e didático; afinal, Caio é um historiador que sabe economia, mas não fala “economês” (apresenta menos números e mais história). No que se refere à agricultura e mineração, seu texto é um reaproveitamento de 1/3 de Formação do Brasil Contemporâneo. O que se aponta como falha do autor é o fato de que alguns capítulos não possuem dados econômicos (números, análises, tabelas,…) para comprovar as interpretações ou exemplificá-

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ANÁLISE RESUMIDA DAS OBRAS MAIS IMPORTANTES DE CAIO PRADO JÚNIOR

Evolução Política do Brasil (1933)

Esta é a primeira obra de Caio Prado Júnior, e também a primeira análise marxista e materialista da história nacional. Curto ensaio de síntese da História do Brasil (da Colônia até o fim do Império). Apresenta um nova visão do passado: temas novos são abordados e outros antes esquecidos reaparecem. No livro, Caio Prado, prega e prova a não existência do feudalismo no Brasil (pois considera que desde o início da colonização nossa estrutura econômica é capitalista). O que mais se pode destacar é que ele dá uma nova análise às rebeliões regenciais, colocando-as como movimentos que tentaram romper a ordem colonial. considera-os como movimentos do povo, que procura melhorar as condições de vida e ocupar um espaço na nacionalidade (estruturas produtivas e sociais) Diferentemente da historiografia oficial, Caio Prado Júnior vê tais movimentos como relativamente organizados e nascidos da vontade popular. Considera a Independência não como “emancipação”, mas sim “libertação” surgida de um “arranjo político”. Ou seja, preserva-se as instituições de mando e a ordem colonial; o povo mantém-se à parte da política nacional. E o livro coloca, pela primeira vez, o “povo” na História do Brasil como participante ativo da mesma.

História Econômica do Brasil (1945)

O livro é um texto interpretativo da formação econômica nacional, desde o período colonial até os anos 30 deste século. Trata-se de um relato simples e didático; afinal, Caio é um historiador que sabe economia, mas não fala “economês” (apresenta menos números e mais história).

No que se refere à agricultura e mineração, seu texto é um reaproveitamento de 1/3 de Formação do Brasil Contemporâneo.

O que se aponta como falha do autor é o fato de que alguns capítulos não possuem dados econômicos (números, análises, tabelas,…) para comprovar as interpretações ou exemplificá-las. Isso atrapalha o entendimento de certas partes. Mas, num todo, trata-se de uma boa obra, abordando nossa trajetória econômica de maneira diferente.

A Revolução Brasileira (1966)

O livro critica a atuação das forças de esquerda brasileiras. Ele aponta as falhas das propostas políticas da esquerda e como isso compromete o destino nacional. Critica, entre outros temas, a distância entre as análises do partido comunista brasileiro sobre o Brasil e nossa realidade. Da mesma forma, abre espaço para ressaltar a importância do povo na sociedade e história nacional. Para o autor, somente a ação popular, voltada para a realização de suas necessidades para a sobrevivência, pode revolucionar a sociedade brasileira. Uma sociedade mais voltada para si do que para o exterior (a superação do nosso “sentido” inicial definido no “Sentido da Colonização”).

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SENTIDO DA COLONIZAÇÃO – primeira análise

O sentido histórico de um povo é perceptível nos fatos mais importantes e essenciais de sua formação em determinado período de tempo. Ele sempre segue uma determinada orientação. Todo povo possui um sentido que deve ser percebido, antes de mais nada, pelo estudioso, para iniciar o estudo detalhado da evolução de tal povo.

O sentido histórico pode variar, sob a influência de transformações internas profundas de equilíbrio e estrutura do povo; bem com acontecimentos externos estranhos a ele. Ou os dois juntos. Exemplo: Portugal, que até fins do século XIV se define com o objetivo de formar uma Nação lutando contra a invasão árabe e constituindo uma Monarquia. Porém no século XV, a nação passa por uma mudança de sentido; com suas fronteiras estabelecidas e a centralização do poder nas mãos de um rei, o país se volta para o oceano; com isso, fomenta ao longo do tempo as navegações e, com as conquistas que promove, forma uma empresa colonial.

Em relação a tal problemática, Caio Prado Júnior afirma que para se compreender a história brasileira é preciso localizar o seu sentido, que se define na nossa formação colonial. Para promover a análise com vias de achar nosso sentido histórico, o autor parte do início do século XIX. Considera tal período a “síntese” de nossa época como colônia, ou seja, um tempo no qual a obra colonizadora encerra-se e a sociedade começava a buscar outros rumos. O que possibilita tal corte é, para o autor, a continuidade estrutural e de organização que o Brasil teve durante seus três séculos de história colonial. Sua proposta é, então voltar ao passado para entender nosso sentido, da mesma forma que encaixar nossa colonização e ocupação num processo maior: as navegações e descobertas dos séculos XV e XVI. O sentido histórico do Brasil relaciona-se a tal expansão.

A colonização lusa na América não é um fato isolado, mas “a parte de um todo”. É um acontecimento não facilmente analisável, pois envolve a compreensão dos anseios econômicos metropolitanos e as circunstâncias de momento histórico. A colonização não ocorre espontaneamente ou naturalmente, mas é um capítulo relacionado aos Grandes Descobrimentos Marítimos, que se encaixa por sua vez na história do comércio europeu (que representa um contexto de análise maior). Todas as políticas conquistadoras e colonizadoras dessa época têm em comum o caráter comercial: é sempre desejando o tráfico de mercadorias que os europeus produzem tal obra. Não é possível entender isso tudo sem uma análise do movimento maior da expansão marítima e comercial da Europa.

Em virtude do caráter mercantil inicial, não há preocupação com o povoamento. O objetivo é somente as atividades mercantis imediatas (comércio de produtos já existentes e de fácil obtenção, inicialmente), o que a América portuguesa não poderia proporcionar naquele momento (pois implicava em gastos em montagem de um sistema produtivo, já que o continente nada oferecia) para comércio imediato. Além disso, a Europa não possuía excesso populacional que viabilizasse a colonização. O que se tem são, inicialmente, simples

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feitorias que praticam escambo com indígenas e defendem a terra. O grande processo colonizador virá com a queda do comércio com as Índias e a necessidade de gerar novas fontes de riqueza. A idéia de povoar surge então da tentativa de promover atividades econômicas que gerassem lucros à Metrópole, sendo também capaz de abastecer e manter as feitorias encarregadas desse processo e defender a área. Em relação às outras nações européias, Portugal foi pioneiro nisso. Mas perdeu sua posição de maior potência colonial para ingleses e franceses, com o desenvolvimento destes nos séculos seguintes.

O novo sistema colonizador é moldado de acordo com o que o território oferece. O autor propõe a divisão da América em duas áreas de colonização:

Temperada – colonizada por camponeses e perseguidos religiosos europeus – seu caráter é constituir “um novo mundo”, pois seus habitantes não são traficantes e aventureiros, mas pessoas expulsas de sua terra. Além disso, dirigem-se a uma área de características semelhantes às da Europa, e que portanto não ofereciam bens de interesse comercial. Forma-se uma colonização não voltada para o fornecimento de produtos para o comércio.

Tropical – repele o colono do tipo temperado, ou seja, “regular” – (pois o meio era diferente e desconhecido, oferecendo dificuldades de adaptação). Os poucos que vem para cá vão se adaptando com as gerações seguintes. Assim, um novo caráter colonizador é construído.

A colonização dos trópicos será realizada em função dos produtos exóticos e diferentes não existentes na Europa que podem fornecer (açúcar, tabaco, pimenta, etc.). este será o estímulo do colono para vir a uma região desconhecida e prover a obra colonizadora. Deseja a riqueza imediata e que custa pouco esforço. Assim, virá para ser dirigente da empresa comercial produtora de bens agrícolas, e não o seu trabalhador. Não gastará a energia de seu trabalho físico neste meio inóspito.

A força de trabalho nos trópicos, assim, será o escravo negro. Influi para isso mais uma vez, a escassa população da Península Ibérica, que impedia a vinda de grande número de colonos. Mas o fato de que já se usava (principalmente em Portugal) escravos negros vindos da África nos trabalhos agrícolas e urbanos. Assim, o negro virá das colônias africanas para abastecer as lavouras coloniais americanas, que por sua vez estão organizadas no regime de grande propriedade e monocultura tudo isso voltado exclusivamente para o abastecimento europeu.

A sociedade que se origina nos trópicos será original, ou seja, especializada na produção de bens agrícolas de grande valor para o comércio europeu. Nunca se tentara isso; será a “empresa do colono branco”, que comandará a produção e subjugará o trabalho de “raças inferiores” (negros e índios). Tudo nessa sociedade se dá em função disso: exploração de recursos naturais por uma vasta empresa comercial produzidos em latifúndios monocultores que usam mão-de-obra escrava. É este o sentido da colonização tropical, do qual o Brasil

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é uma das resultantes; ele explicará nossa formação histórica e evolutiva tanto no campo econômico quanto no social.

O autor afirma que, se vamos à essência da nossa formação, perceber-se-á que o país se constituiu para fornecer açúcar, tabaco e outros gêneros; ouro e diamantes; algodão e depois café para os mercados externos. Isso caracterizou a colônia ao longo de três séculos, dispondo de todas as estruturas e atividades sociais e econômicas para seu desenvolvimento.

O resultado final é que nossa sociedade e economia são moldadas em função desse sentido, o qual se prolonga e se faz notar na nossa evolução até o momento em que o livro foi escrito (1942). Para Caio Prado Júnior, compreender nosso sentido é entender a realidade brasileira, sua formação e problemáticas e é isso que ele se propõe a demonstrar no decorrer da obra.