resenha do livro cultural inteligence
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PETERSON, B. Cultural Intelligence. Yamouth : Intercultural press, 2004.
Resenha feita por Lucas Rezende Almeida1
Peterson, em seu livro Cultural Inteligence, pretende além de conceituar a
cultura, instrumentalizar profissionais que trabalham em um ambiente globalizado a
lidar com os conflitos culturais.
Segundo o autor, definir cultura pela localização ou baseado nas definições
retiradas de dicionário é limitá-la a um conjunto macro ou micro de generalizações que,
portanto, não poderiam ser estudadas. Com esse pensamento, Peterson faz um exercício
analógico entre cultura e uma árvore ou um iceberg. Ambos os elementos comparados
possuem uma parte visível e uma outra invisível, maior e que mantém as estruturas da
parte visível. A árvore forma-se durante anos e sempre está em um processo de
mudança contínua, mas não drástica. Se o navegante levar em conta apenas a parte vista
do iceberg, ele pode bater o navio na parte profunda, não observada. Assim somos nós,
diante de uma cultura diferente: conseguimos identificar os comportamentos, que são
visíveis no contato, mas caso desconhecemos as opiniões, os pontos de vista, os valores
e as convicções daquele povo não entenderemos os motivos que os levaram aquelas
atitudes diversas. Por meio dessa comparação, Peterson consegue conceituar tanto o que
é cultura quanto o que são valores:
“Cultura é um conjunto relativamente estável de valores e crenças gerais coexistentes em um grupo de pessoas que traz impactos aos valores e crenças de outros grupos.
“ Valores são princípios ou qualidades que um grupo de pessoas tenderão a ver como bom ou correto em seus contextos culturais.”2
Com base nessas definições, o autor propõe uma escala cultural básica que seria
um ponto de partida para entender as orientações culturais pessoais e sociais. Essa
escala é orientada por cinco 5 temas cruciais:
a) Igualdade X Hierarquia
Algumas culturas são mais igualitárias, ou seja, seus membros possuem o
mesmo direito de se manifestarem; outras, são mais hierárquicas, são
limitadas a ordens de superiores e normalmente mais burocráticas.
b) Diretas X Indiretas
1 Esta resenha foi baseada prioritariamente nos capítulos 1, 3 e 4, abordando aspectos gerais do capítulo 5 e 6. 2 Tradução feita por mim.
Para as culturas mais diretas, conflitos de opiniões demonstram que o
ouvinte está atento ao que o falante está dizendo. Para as culturas mais
indiretas, conflitos de opiniões podem ser visto como atitudes desarmônicas
e pouco polidas.
c) Invidual X Grupal
Algumas culturas valorizam mais os indivíduos, eles tem uma maior
autonomia em mudarem de grupo ou de trabalho. Outras são mais grupais, os
laços de amizade são mais demorados e as decisões são tomadas
coletivamente.
d) Trabalho X Relacionamento
Para algumas culturas, o trabalho vem primeiro e as relações profissionais
são estritamente interessadas em aspectos comerciais. As pessoas são
definidas pelo que elas FAZEM. Para outras, conhecer o parceiro de
negócio é uma forma de ganhar segura nas decisões tomadas subsequentes.
As pessoas são definidas pelo que elas SÃO.
e) Risco X Cautela
Algumas culturas são mais lentas e agem cautelosamente, pensando nos
riscos e benefícios de uma decisão. Outras, arriscam-se mais, são mais
independente e são focadas no presente.
Segundo o autor, essa escala não deve ser considerada separadamente. Muito
pelo contrário, cada par ali estabelecido dialoga com os outros pares formando um
panorama cultural que pode ser rompido e nem sempre previsível. Peterson demonstra o
seu desconforto com o caráter dicotômico que sua escala adquire. Ele propõe que seja
considerado uma área cinza entre esses polos em que qualquer cultura possa transitar de
acordo com as situações as quais são apresentadas.
A seguir, o autor explica o título do seu livro “Cultural Intelligence”.
Inicialmente, ele apresenta a teoria da Inteligência múltipla. Inteligência aqui não é
mensurável apenas pela sua capacidade lógico- racional e linguística, mas também pela
sua capacidade espacial, musical, corporal, interpessoal e intrapessoal. Falar um pouco a
língua estrangeira, saber o quão próximo estar do outro, conhecer os estilos culturais de
um povo e entender o quanto seu estilo cultural interfere na nova cultura são habilidades
que ajudam na interação com pessoas de outras nacionalidades e que, portanto,
caracterizam o que seria a inteligência cultural.
Entretanto, como aplicar essa inteligência cultural no dia a dia? Para Peterson,
listar comportamentos adequados e não adequados para cada cultural além de tornar-se
demasiadamente extenso seria impossível de ser memorizado. Dessa forma, ele propõe
uma expansão da sua escala em 19 dimensões culturais abrigadas em 6 categorias:
questões de gestão, questões estratégicas, questões pessoais e comunicativas, estilo de
planejamento, estilo racional, estilo comunicativo. Nessa sessão, ele esmiúça sua escala
em mais características, propondo um auto conhecimento cultural e uma avaliação da
cultura do seu grupo de trabalho.
A proposta do livro de Peterson é interessante quando destinada ao público
empresarial que trabalha em uma esfera mundial. Ele tenta tornar claro a complexidade
do universo cultural através de uma linguagem simples e sistêmica, por meio das suas
escalas que ao todo somam 24. Além dessas escalas, ele apresenta um tanto quanto
outras sugestões como no tópico “Caminho do sucesso” (pag. 161 a 167) e Habilidades
Comunicativas (pag. 189 a 202) . O principal intuito não é levar o leitor a decorar as
listas propostas, mas sim que ele conscientize sobre a influência da cultura nas relações
internacionais, podendo usar esse conhecimento a seu favor.
A importância da cultura não é apenas retratada e defendida por Peterson.
Brown (1987), em seu livro “Principles of Language Learning and teaching” apresenta
ideias parecidas de uma forma muito mais suscita e voltada mais para o ensino de L2
nos capítulos “Sociocultural Factors” e “Cross-Linguistic Influence and Learner
Language”. Bosi (1996) faz um retorno etimológico a palavra e propõe uma discussão
político-social sobre o termo em “Dialética da colonização”. A recorrência e
complexidade do tema discutida em diversos campos (seja no educacional, seja no
empresarial, seja no político) serve como exemplo da importância do tema para aqueles
que atuam ou vivem em um cenário multicultural.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das
Letras, 1996
- BROWN, H. D. Principles of language learning and teaching. New
Jersey: Prentice Hall, 1987
- PETERSON, B. Cultural Intelligence. Yamouth : Intercultural press,
2004.