resenha do chamado de cthulhu

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Chegamos à metade do financiamento coletivo do RPG Chamado de Cthulhu. Para esclarecer algumas duvidas e jogar uma luz sobre o tema eu escreverei esta pequena resenha e farei um paralelo comparativo entre o Rastro de Cthulhu e o Chamado de Cthulhu. Primeiramente o que é Chamado de Cthulhu (abreviando CdC)? Ele é um RPG criado nos inicio dos anos 80 que tem por cenário a obra do celebre escritor de terror Howard Philips Lovecraft, ou simplesmente HP Lovecraft, ele leva o nome homônimo de um dos contos mais famosos do autor. Um dos primeiros se não o primeiro RPG de horror já criado. Ele usa um sistema de porcentagem ou d% chamado BRP(Basic Role Playing), que é um sistema genérico tradicional e relativamente simples, a mecânica central consiste em rolar dois dados de 10 faces (d10), onde um deles expressa uma dezena e outro uma unidade, e tentar obter um resultado abaixo do numero de graduação da sua perícia. Ele remonta ao popular sistema Daemon, ou seja, quem já jogou Daemon tem uma boa noção. A construção de personagem é fácil, mas trabalhosa (eu pessoalmente opto por usar um gerador de personagens). Rolam-se os atributos aleatoriamente usando dados de 6 faces, a quantidade de dados varia de acordo com o atributo (Força, Constituição, Destreza, Tamanho, Inteligência, Aparência, Educação, Poder e o atributo especial Sanidade). Determinam-se as características derivadas, como pontos de vida e pontos de sanidade. Define-se uma ocupação e distribuem-se os pontos de pericia, que são derivados de Educação (para as pericias listadas de acordo com a ocupação) e Inteligência (para as pericias de hobby, ou interesses pessoais do personagem). Depois vem o equipamento e afins, o histórico do personagem e voilá. O sistema de progresso é um pouco diferente. Não existem níveis ou XP. Quando você tem um uso relevante ou criticamente importante de uma pericia, você “marca” a mesma e ao final da aventura rola um teste no qual tem que falhar (para expressar que quanto maior for a sua pericia mais difícil é aprender algo novo), falhando no teste a perícia aumenta em 1d10. Há possibilidade também de se aumentar perícias através de estudos e pesquisas. Atributos geralmente só podem ser aumentados

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Page 1: Resenha Do Chamado de Cthulhu

Chegamos à metade do financiamento coletivo do RPG Chamado de Cthulhu. Para esclarecer algumas duvidas e jogar uma luz sobre o tema eu escreverei esta pequena resenha e farei um paralelo comparativo entre o Rastro de Cthulhu e o Chamado de Cthulhu.

Primeiramente o que é Chamado de Cthulhu (abreviando CdC)? Ele é um RPG criado nos inicio dos anos 80 que tem por cenário a obra do celebre escritor de terror Howard Philips Lovecraft, ou simplesmente HP Lovecraft, ele leva o nome homônimo de um dos contos mais famosos do autor. Um dos primeiros se não o primeiro RPG de horror já criado.Ele usa um sistema de porcentagem ou d% chamado BRP(Basic Role Playing), que é um sistema genérico tradicional e relativamente simples, a mecânica central consiste em rolar dois dados de 10 faces (d10), onde um deles expressa uma dezena e outro uma unidade, e tentar obter um resultado abaixo do numero de graduação da sua perícia. Ele remonta ao popular sistema Daemon, ou seja, quem já jogou Daemon tem uma boa noção.

A construção de personagem é fácil, mas trabalhosa (eu pessoalmente opto por usar um gerador de personagens). Rolam-se os atributos aleatoriamente usando dados de 6 faces, a quantidade de dados varia de acordo com o atributo (Força, Constituição, Destreza, Tamanho, Inteligência, Aparência, Educação, Poder e o atributo especial Sanidade). Determinam-se as características derivadas, como pontos de vida e pontos de sanidade. Define-se uma ocupação e distribuem-se os pontos de pericia, que são derivados de Educação (para as pericias listadas de acordo com a ocupação) e Inteligência (para as pericias de hobby, ou interesses pessoais do personagem). Depois vem o equipamento e afins, o histórico do personagem e voilá.

O sistema de progresso é um pouco diferente. Não existem níveis ou XP. Quando você tem um uso relevante ou criticamente importante de uma pericia, você “marca” a mesma e ao final da aventura rola um teste no qual tem que falhar (para expressar que quanto maior for a sua pericia mais difícil é aprender algo novo), falhando no teste a perícia aumenta em 1d10. Há possibilidade também de se aumentar perícias através de estudos e pesquisas. Atributos geralmente só podem ser aumentados através de magias ou rituais e demandam algum tipo de sacrifício.

Por último temos o sistema de sanidade, que basicamente é uma medida da saúde mental do personagem. Normalmente o jogo lida com temas pesados como a perda da sanidade, os encontros com as entidades do Mythos são traumáticos e parte do charme do jogo está ai.

Desde a sua primeira edição até a sexta (que está em financiamento no Brasil) o jogo em si mudou muito pouco,textualmente inclusive, as novas edições são mais uma expansão com pequenas revisões do que de fato mudanças drásticas nas regras. Isso possibilita o uso de suplementos lançados nos mais de 30 anos, desde o lançamento do jogo e sim, são muitos, com destaque para as campanhas. Mudanças só foram feitas na ainda não lançada sétima edição, mas isso já é outra historia.

O Livro básico contempla três épocas de jogo, 1890, 1920 e atualidade, mas estas são expandidas com suplementos Dark Ages (na idade das trevas), Invictus (na Roma antiga) e Atomic Age( nos anos 50).

Page 2: Resenha Do Chamado de Cthulhu

Quem foi e do que se trata a obra do HP Lovecraft?HP Lovecraft foi um escritor de “pulp fictions” do inicio do século XX, ele escrevia estórias de horror e terror, basicamente horror cósmico. Ele criou uma mitologia e um panteão de entidades conhecido por Cthulhu Mythos, deuses alienígenas com poder além da compreensão humana, eles se encontram adormecidos, e segundo consta, quando as estrelas se alinharem eles acordarão e serão livres para dominar o universo como um dia já fizeram.Destaque para algumas dessas entidades, Dagon, Nyarlatothep, Shub-Niagurath, Yog Sototh, Azatoth e, é claro, Cthulhu, o mais emblemático de todos a ponto de dar nome à mitologia.A estórias dele consistem normalmente de pessoas comuns entrando em contanto com esses mythos e tendo que lidar com isso à custa da sua própria sanidade.Lovecraft foi um autor a frente de seu tempo, os conceitos usados em sua obra são perturbadores e apelam para um dos sentimentos mais básicos do ser humano, o medo, e mais que isso o medo do desconhecido. No que se refere a incutir o medo nos leitores ele foi um mestre. Infelizmente nem tudo são flores e ele não obteve sucesso ou muito reconhecimento em vida, sua obra foi mantida graças à boa vontade de amigos que reconheceram o valor literário da mesma. Ela influencia boa parte dos escritores de terror do século XX e mais que isso a mitologia por ele criada foi ampliada e explorada por diversos outros autores. Cabe aqui um adendo, o RPG também tem um importante papel na manutenção do legado de Lovecraft.

Se vocês nunca leram Lovecraft recomendo a leitura de ao menos 3 contos dele, entre os quais, Chamado de Ctulhu, Nas Montanhas da Loucura, Horror em Durnwich, O Caso de Charles Dexter Ward, A sombra sobre Innsmouth, Sonhos na casa da bruxa, A cor vinda do espaço, A sombra fora do tempo, O sussurro na escuridão, Ratos nas paredes e A musica de Eric Zahn.Existem vários outros, mas estes são alguns dos mais icônicos.

O jogo cumpre o que ele promete, ou seja, ele emula o clima e o ambiente dos contos do Lovecraft?Definitivamente sim! O sistema facilita à narrativa e consegue emular o senso de fragilidade dos personagens ante a grandeza dos Mythos.Não é um jogo heróico, é acima de tudo um jogo sobre escolhas, seus personagens não ficarão mais poderosos ou subirão de nível. O senso de satisfação e a diversão do jogo residem na idéia de sobrepujar o mal supostamente invencível apenas com a sua astucia... ou ficar louco no processo (na melhor das hipóteses). Um adendo interessante é que parte do charme do jogo está nos props, ou objetos cênicos que ajudam na narrativa, cartas, diários, passagens de avião, moedas entre outros. É imensamente gratificante notar a reação dos jogadores ao manuseá-los.

Page 3: Resenha Do Chamado de Cthulhu

Vamos comparar Chamado de Cthulhu com Rastro de Cthulhu, qual é melhor?

O rastro de Cthulhu é outro RPG com a ambientação semelhante (muda-se a década de 20 para a década de 30) ao chamado, mas com um sistema alternativo chamado Gumshoe.Ele já está mais difundido no Brasil por ter sido lançado há alguns anos, com isso muita gente tem se perguntado se vale à pena ter os dois? E qual deles é melhor? Em minha opinião SIM, vale à pena ter os dois e não há um melhor nem um pior, são duas propostas, ou mesmo perspectivas diferentes sobre a mesma ambientação.

O Rastro é um jogo essencialmente investigativo e com um sistema moderno, que se baseia no uso de poucos testes e no gerenciamento de recursos. Já o Chamado é um jogo mais tradicional e mais abrangente.

Ambos são excelentes jogos, muito bem escritos e irretocáveis no quesito suporte para a ambientação.

Quanto à edição Brasileira, vale à pena financiar? Quem já tem a edição original, vale à pena?Bom isso é uma questão absolutamente individual, eu vou expor alguns fatos dizer o que eu fiz e cada um que tire a sua conclusão.

A edição brasileira de o Chamado de Cthulhu vem por meio de financiamento coletivo pela editora Terra Incógnita, uma editora nova no mercado e que tem o seu primeiro trabalho na publicação do mesmo.

Fisicamente a promessa é de um livro em capa dura com cerca de 300 paginas, com a arte original e simulando um livro antigo. Considerando que o livro original tem capa mole, isso já é um aprimoramento considerável. O conceito é o de um livro totalmente novo e no nosso idioma nativo, o que nos leva a outro ponto, o acesso ao jogo.

Muito do fato de o CdC ser um jogo pouco difundido no Brasil se deve a questão do acesso. Considerando que o livro básico é em inglês, idioma que nem todos dominam, e o fato do livro tem que ser importado e nem todos tem condição de fazê-lo, o acesso é razoavelmente restrito. Uma edição em português e mais barata que a original vai viabilizar uma popularização do jogo.

Eu pessoalmente financiei, mesmo já tendo a edição original. Os motivos são simples, primeiro, livro em português facilita para os jogadores que não dominam o idioma, segundo, o prospecto do lançamento de suplementos e material original, terceiro, incentivo ai RPG nacional e a publicação de mais títulos no Brasil.

CdC é um dos títulos mais clássicos do RPG, nunca publicados em terras brasileiras, essa é uma oportunidade de remediar isso e cabe ao publico decidir se agora é à hora.