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Quaderns de Psicologia | 2017, Vol. 19, No 3, 211-227 ISNN: 0211-3481 https://doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.1357 Representações sociais de imigração e imigrantes em mídia espanhola, italiana e portuguesa Social representations of immigration and immigrants in Spanish, Italian and Portuguese media Roberta Rangel Batista Mariana Bonomo Universidade Federal do Espírito Santo Resumo Referenciando-se na Teoria das Representações Sociais, o estudo objetivou conhecer e ana- lisar as representações sociais de imigração e de imigrantes em jornais de três países euro- peus: em Portugal, Correio da Manhã; na Espanha, El Mundo; e na Itália, La Repubblica. O banco de dados foi criado considerando apenas as 508 notícias que se referiam ao contexto de migração no território europeu. Os dados foram tratados por meio da análise lexical através do software Alceste. Os resultados apontaram que as representações sociais a res- peito da imigração e do imigrante apresentam ambiguidades quando se referem ao sujeito imigrante como necessário à mão de obra dos países, ao mesmo tempo em que julgam os processos migratórios como responsáveis pela desordem social. Esta composição orienta práticas que legitimam a atribuição de elementos negativos, que demarcam a fronteira in- terna e externa do grupo hegemônico europeu em relação ao grupo migrante. Palavras-chave: Europa; Imigrante; Imigração; Representação social Abstract Based on the Theory of Social Representations, this study aimed to identify and analyze the social representations of immigration and immigrants in three European countries’ newspapers: in Portugal, Correio da Manhã; in Spain, El Mundo and in Italy, La Repubblica. The database was created considering only the news that referred to the context of migra- tion in Europe. The data were analyzed through lexical analysis via Alceste software. The results show that social representations of immigration and immigrants are ambiguous when referring to the immigrants as necessary to the labor context at those countries at the same time that judge the immigration processes as guilt for the social disorder. This composition guides practices that legitimize negative elements, which distinguish the Eu- ropean hegemonic group’s internal and external border from the migrant group. Keywords: Immigrants; Immigration; Social Representation

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Quaderns de Psicologia | 2017, Vol. 19, No 3, 211-227 ISNN: 0211-3481

https://doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.1357

Representações sociais de imigração e imigrantes em mídia espanhola, italiana e portuguesa Social representations of immigration and immigrants in Spanish, Italian and Portuguese media

Roberta Rangel Batista Mariana Bonomo Universidade Federal do Espírito Santo Resumo

Referenciando-se na Teoria das Representações Sociais, o estudo objetivou conhecer e ana-lisar as representações sociais de imigração e de imigrantes em jornais de três países euro-peus: em Portugal, Correio da Manhã; na Espanha, El Mundo; e na Itália, La Repubblica. O banco de dados foi criado considerando apenas as 508 notícias que se referiam ao contexto de migração no território europeu. Os dados foram tratados por meio da análise lexical através do software Alceste. Os resultados apontaram que as representações sociais a res-peito da imigração e do imigrante apresentam ambiguidades quando se referem ao sujeito imigrante como necessário à mão de obra dos países, ao mesmo tempo em que julgam os processos migratórios como responsáveis pela desordem social. Esta composição orienta práticas que legitimam a atribuição de elementos negativos, que demarcam a fronteira in-terna e externa do grupo hegemônico europeu em relação ao grupo migrante.

Palavras-chave: Europa; Imigrante; Imigração; Representação social

Abstract Based on the Theory of Social Representations, this study aimed to identify and analyze the social representations of immigration and immigrants in three European countries’ newspapers: in Portugal, Correio da Manhã; in Spain, El Mundo and in Italy, La Repubblica. The database was created considering only the news that referred to the context of migra-tion in Europe. The data were analyzed through lexical analysis via Alceste software. The results show that social representations of immigration and immigrants are ambiguous when referring to the immigrants as necessary to the labor context at those countries at the same time that judge the immigration processes as guilt for the social disorder. This composition guides practices that legitimize negative elements, which distinguish the Eu-ropean hegemonic group’s internal and external border from the migrant group.

Keywords: Immigrants; Immigration; Social Representation

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Introdução

Nos últimos anos, os principais destinos mi-gratórios no continente europeu sofreram re-cessão econômica, que resultou na falta de empregos e de oportunidades para aqueles que residem nesse território (Caldeira, 2011). Neste momento de crise, o imigrante pode tornar-se o indivíduo mais frágil do mercado de trabalho e ser pressionado pela sociedade local a deixar o país, pois esta passa a consi-derá-lo como problema social (Brown & Za-gefka, 2011; Wojtyńska & Zielińska, 2010). A maior disputa por recursos, de acordo com Fernandes e Castro (2013), aumenta os fato-res de preconceito e segregação social, o que faz com que os países receptores programem prioridades (orçamentárias e assistenciais) que podem não incluir o outro migrante.

Dentre os países notadamente reconhecidos por serem receptores de imigrantes, estão os territórios europeus. Espanha, Portugal e Itá-lia, por exemplo, são países europeus consi-derados pelo Ministério das Relações Exterio-res do Brasil (MRE, 2011) como sendo alguns dos que mais concentram brasileiros naquele continente. Na Espanha, tem-se a estimativa de que residam naquele território cerca de 160 mil brasileiros (MRE, 2011). Em Portugal, este número aproxima-se de 136.220 e, na Itália, estima-se que 85.000 compatriotas es-tejam residindo naquele país (MRE, 2011). Por esta razão, consideraram-se estes três terri-tórios como favoráveis ao desenvolvimento deste estudo.

A análise dos significados atribuídos à imigra-ção e aos imigrantes pode ser feita com base na Teoria das Representações Sociais (TRS) (Moscovici, 2003), que possibilita a discussão acerca das imagens vinculadas e compartilha-das sobre os mais diversos objetos sociais.

Teoria das Representações Sociais e mídia escrita

A TRS é uma teoria que se apoia na valoriza-ção do senso comum e das informações que circulam na sociedade em função do sentido atribuído aos objetos sociais pelos grupos e sociedades (Moscovici, 2003). Jean Claude Deschamps e Pascal Moliner (2009) apontam que as representações sociais podem ser um meio para que os grupos afirmem suas parti-cularidades e diferenças, o que demarca sua importância na análise das dinâmicas inter-

grupais. O compartilhamento das representa-ções sociais imprime status aos diferentes grupos perante a sociedade e sustenta os cri-térios que fundamentam as hierarquias e a comparação social (Jodelet, 2008; Moscovici, 2011).

Como uma das formas de compartilhamento e modulação do pensamento social no contexto contemporâneo (Melo, 2006), a informação midiática possui grande força na produção e transmissão de significados (Luz et al., 2013; Simoneau & Oliveira, 2014), o que torna rele-vante a tarefa de conhecer as representações sociais veiculadas por estes meios sobre o ob-jeto imigração/imigrantes, posto que as mí-dias possuem o papel de valorar os objetos sociais, acentuando, subtraindo ou incorpo-rando significados aquecidos na interface com as conversações cotidianas (Espíndula & Trin-dade, 2013). Enfatizando a dimensão prática que essa função imprime sobre a vida social, Denise Jodelet (1993) argumenta que a comu-nicação concorre para a elaboração de repre-sentações, que, apoiadas numa energética so-cial, orientam a vida dos indivíduos e grupos sociais, produzindo fenômenos de ordem prá-tica nas relações sociais cotidianas.

Ainda sobre o papel da mídia na dinâmica das representações sociais, como demonstrado na obra inaugural de Serge Moscovici (1961), as representações sociais são reelaboradas quando expressas em diferentes meios de co-municação, sendo a mídia uma grande media-dora no processo de produção do universo consensual. Em outras palavras, a partir dessa fonte de produção de significados, novos ele-mentos podem ser produzidos sobre os obje-tos sociais, favorecendo a construção de no-vas representações ou consolidando e fortale-cendo aquelas já em curso no pensamento so-cial (Clémence, Green & Courvoisier, 2011). Para Yazmín Cuevas Cajiga (2011, p. 10), “los medios de comunicación masiva, como el pe-riódico, exponen representaciones sociales de la realidad; éstas tienen huellas de su contex-to de producción y, al ser presentadas al pú-blico, adquieren nuevos sentidos para el pú-blico”.

Associados a essa perspectiva, Juliana Mez-zomo Allain e Brígido Vizeu Camargo (2007) discutem que a mídia constitui-se como pode-roso mecanismo de influência sobre o com-portamento social. Ou seja, as informações divulgadas pela rede mediática intervêm no

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processo de elaboração das representações sociais, de modo que, por vezes, proporcio-nam a manipulação social (Jodelet, 1993). Desse modo, pode-se considerar a influência da mídia como uma grande fábrica ideológica na modelação de informações a respeito dos mais diversos objetos sociais em nossa socie-dade (Barbosa & Silva, 2016).

Na comunicação midiática, as representações sociais possuem imagens e conceitos hegemô-nicos (Conti, Bertolin & Peres, 2010). Segundo Willem Doise (2011), Serge Moscovici (2003) e Olga Ordaz e Jorge Vala (1997), esta pode possuir três diferentes modalidades, que são praticadas por organismos de imprensa. São elas: a difusão, que se caracteriza pela dife-rença existente entre os transmissores de in-formação e seus receptores, sendo mensagens destinadas a diversos públicos; a propagação, que se refere ao estabelecimento de informa-ções de um universo já organizado, direciona-das a um público específico em que se contro-lam seus conhecimentos; e a propaganda, que se estabelece em relações sociais de conflito, quando existem divergências de opinião sobre determinado objeto, alimentando as relações sociais conflituosas a partir da persuasão.

É possível que as representações sociais sobre migrantes nos jornais europeus sejam ancora-das no sistema de propagação, onde se salien-tam elementos nos valores de um grupo soci-al, intervindo em suas atitudes e controlando a ameaça de novos sistemas de crenças, bem como no sistema de propaganda, no qual po-de se alimentar uma relação de conflito gru-pal (Allain, Nascimento-Schulze & Camargo, 2009; Braga & Tuzzo, 2010; Ordaz & Vala, 1997).

A propagação relaciona-se à dimensão atitu-dinal, tendo a característica de ser uma di-mensão da comunicação que informa os indi-víduos a respeito de determinado objeto soci-al a fim de que se transformem ou se impri-mam determinados comportamentos (Castro, 2009). Entretanto, a propagação possui um compromisso com a manutenção do sistema vigente, sendo a informação manipulada e or-ganizada a fim de que se controle novos co-nhecimentos sobre os grupos (Allain et al., 2009). Na propagação, a informação é torna-da compatível com os valores dos grupos soci-ais implicados (Cabecinhas, 2009).

A propaganda, por sua vez, relaciona-se à di-mensão estereotípica, possuindo influência na edificação do pensamento social (Moscovici, 2003). Esta modalidade é reconhecida quando há conflitos e ameaças à identidade de grupos e visa direcionar a comunicação de forma di-cotomizada na qual se valoriza os interesses de grupos específicos em detrimentos de ou-tros (Allain et al., 2009; Cabecinhas, 2009). Nesta modalidade de comunicação, a infor-mação noticiada possui a função de determi-nar quais grupos estão certos e quais os gru-pos estão errados, salientando uma dimensão conflituosa e parcial que privilegia a manu-tenção do sistema social vigente (Cabecinhas, 2009; Castro, 2009).

A sociedade europeia, hegemônica, é o sujei-to da representação que se analisa quando se estuda as mídias de grande circulação neste estudo (Pagnottaro, 2006). Carvalho (2007), discutindo a respeito das mídias portuguesas e sua relação com a migração e a etnicidade, argumenta que os jornais portugueses investi-gados apresentam, principalmente, elementos ligados à criminalidade. Estas notícias emer-gem como fator de discriminação das comuni-dades minoritárias pelo restante da sociedade portuguesa (Carvalho, 2007). Raquel Santos (2011), por sua vez, afirma que a discrimina-ção aos imigrantes em Portugal legitima o uso deste grupo como “bodes expiatórios”, a quem o grupo dominante incube a culpa da desorganização e ameaças sociais.

Beneduzi (2009), analisando o fenômeno de migração de mulheres brasileiras e argentinas na Itália, explica que há sensação de invasão neste país que se deve não somente ao au-mento da imigração, mas, também pelas nar-rativas jornalísticas que difundem constante-mente histórias de imigrantes que chegam à península itálica por meio de embarcações ilegais. Já Helion Póvoa Neto (2006) argumen-ta que ao analisar as mídias brasileiras no começo dos anos 2000, verifica-se que, em nenhum outro país, a imagem do brasileiro parece se associar tanto à prostituição como na Espanha. Migrantes brasileiros são desta-que também no país espanhol quando associ-ados à ilegalidade e ao temor à deportação (Póvoa Neto, 2006).

Considerando as proposições apresentadas, o presente estudo teve como objetivo analisar as representações sociais de migração e de migrantes difundidas por jornais de referência

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em três países europeus, que estão dentre os que possuem mais brasileiros, a saber: Portu-gal, Itália e Espanha (MRE, 2011).

Método

Fonte de dados e procedimentos de coleta dos dados

A partir de jornais de grande circulação em Portugal, na Itália e na Espanha, realizou-se uma pesquisa de natureza documental. Em consonância com Daniel Espíndula, Larissa Al-ves, Lauriston Carvalho, Marianna Almeida e Suzyelaine Cruz (2015), a escolha dessa fonte de produção de significados pode apoiar-se nos seguintes argumentos: (i) a imprensa re-presenta e compreende os fenômenos, de modo que as representações sociais veicula-das por ela contribuem para a significação da realidade; (ii) por serem jornais de grande circulação, os veículos elencados podem re-fletir a maneira pela qual conhecimentos de ordem hegemônica, ou que partem de classes sociais com maior poder e prestígio social, são disseminados na sociedade como forma de controle dos diferentes grupos sociais (Farrar, 1988).

Sobre os critérios de seleção dos jornais, es-tes foram escolhidos com base em sua popula-ridade no país, em sua disponibilidade de conteúdo e na gratuidade no acesso online. Uma vez que a pesquisa foi realizada no Bra-sil, era necessário que se tivesse acesso a to-dos os conteúdos dos jornais pesquisados, de modo a não serem imperativas assinaturas anuais.

Observou-se, ainda, a possibilidade de se ter acesso, na íntegra, das reportagens publica-das, para que se tivesse uma perspectiva mais completa das informações veiculadas por aqueles jornais. Inicialmente, elencaram-se os 05 maiores jornais de cada um dos países para que se fossem analisados todos os crité-rios colocados (popularidade, acesso ao con-teúdo e gratuidade). Assim, a partir dos crité-rios de seleção, ficaram estabelecidos: na Es-panha, El Mundo; em Portugal, Correio da Manhã, e na Itália, La Repubblica. Estes jor-nais são considerados jornais de referência (Depexe & Amaral, 2010), uma vez que são avaliados como jornais consagrados ao longo do tempo, dispondo de prestígio entre as classes A e B, vocabulário aprimorado e con-

siderado de credibilidade entre um grande número de pessoas.

Durante a coleta dos dados, em cada jornal, foi utilizada a ferramenta de busca online pa-ra encontrar as reportagens que contivessem as palavras chave, selecionadas como favorá-veis à apreensão do objeto de representação social abordado no estudo (imigrantes e imi-gração no território europeu), de acordo com sua respectiva tradução para a língua de cada país. São elas: imigração, imigrações, imi-grante, imigrantes, imigrado, imigrada, imi-grados, imigradas, imigrar, extracomunitá-rios, extracomunitário, extracomunitária, ex-tracomunitárias, estrangeiro, estrangeira, es-trangeiros e estrangeiras.

Sobre os critérios para seleção das reporta-gens, é importante informar que o banco de dados foi criado com base na busca das repor-tagens nos dias pares (compreendendo o perí-odo de 02 de julho de 2012 a 30 de novembro de 2012) e que foram consideradas apenas as notícias que se referiam ao contexto de mi-gração em território europeu. No total, foram analisadas 508 matérias, sendo 290 do jornal italiano La Repubblica, 145 do jornal espanhol El Mundo e 73 do jornal português Correio da Manhã.

Tratamento dos dados

Os dados foram tratados por meio da utiliza-ção do software Alceste (Analyse Lexicale par Contexte d’un Ensemble de Segments de Tex-te) (IMAGE, 2010), que consiste em um pro-grama para análise de dados a partir de seg-mentos textuais (Angelim, Pereira, Freire, Brandão & Abrão, 2017). Tendo em vista que os corpora de dados foram mantidos em sua língua original (português, italiano e espa-nhol), cada um dos bancos de dados, referen-tes aos jornais selecionados, foi analisado se-paradamente.

As análises processadas pelo programa Alceste têm por objetivo evidenciar as informações essenciais contidas em um texto, através da classificação estatística de enunciados do corpus estudado (Oliveira, Vianna & Cárde-nas, 2010). No caso do presente estudo, o corpus consiste no conjunto de dados formado pelas reportagens dos jornais, que foram tra-tadas tendo como base uma análise lexicográ-fica, na qual classes foram formadas e carac-

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terizadas a partir de seu vocabulário (Gutz & Camargo, 2013).

Segundo Brígido Vizeo Camargo (2005), o pro-cedimento de análise realizado pelo Alceste, para que se processe a organização do mate-rial em classes de palavras, se organiza ope-racionalmente nas seguintes etapas:

1). Inicialmente, o pesquisador deve preparar o material coletado de modo a organizar e limpar ortograficamente o texto, estruturan-do o corpus a partir das unidades de contexto inicial (U.C.I.s). Neste estudo, por exemplo, cada reportagem de jornal que compõe o cor-pus seria uma U.C.I. (Pombo-de-Barros, 2011). Após a organização do material pelo pesquisador em U.C.I.s, o texto é segmentado pelo programa em unidades de contexto ele-mentar (U.C.E.s), que se constituem pela ocorrência das palavras e cálculos de fre-quência;

2). Posteriormente, em uma segunda etapa, o Alceste classifica as U.C.E.s a partir da distri-buição de formas reduzidas dos segmentos textuais (palavras ou radicais), produzindo a Classificação Hierárquica Descendente (C.H.D.).

Camargo (2005) informa que, na realização da C.H.D., o Alceste processa os dados de manei-ra que as U.C.E.s sejam divididas, conforme seu qui-quadrado, ou seja, segundo a maior força de associação entre as palavras (Camar-go, 2005; Martins, Camargo & Biasus, 2008), até que se chegue à composição de classes estáveis (IMAGE, 2010; Oliveira et al., 2010). Em seguida, mediante sucessivas divisões do texto, o programa indica as melhores posições entre as palavras, para que sejam formadas classes representativas do conteúdo analisa-do, considerando também a relação das pala-vras com a estrutura do material textual (Me-lo, Sá, Christovam, Carvalho & Teixeira, 2016).

Uma vez organizada a C.H.D., o Alceste for-nece as U.C.E.s de cada uma das classes suge-ridas, permitindo que estas sejam contextua-lizadas a partir de suas palavras mais caracte-rísticas (Panhoca, Accioly Junior, Nakagawa & Silva, 2004). O reconhecimento e análise des-sas classes podem servir como instrumentos importantes à discussão da construção e di-nâmica das representações sociais associadas à imigração e aos imigrantes no contexto mi-diático europeu.

Resultados

Os resultados da análise dos bancos de dados são apresentados conforme seus dendrogra-mas de classes estáveis fornecidos pela CHD. Os elementos que compõem as classes foram definidos com base em suas forças de ligação com a mesma, ou seu número qui-quadrado (Camargo, 2005; IMAGE, 2010), tendo sido se-lecionadas as 20 formas reduzidas com maior valor de qui-quadrado.

Ilegal, africano e criminoso: a representação social de imigração e de imigrantes no jornal El Mundo

A análise do corpus constituído por reporta-gens do jornal espanhol “El Mundo” aprovei-tou 77% do material coletado e gerou 6 clas-ses (Ver anexo 1).

O primeiro eixo desta classificação é formado pelas classes 1 (“A imigração fora da Espa-nha”), 2 (“As histórias de migração”), 4 (“A imigração dentro da Espanha”), 3 (“Drogas e criminalidade”) e 5 (“Imigração ilegal pelo mar”). A classe 1 relaciona-se à classe 2 com um índice de 0.72, o que indica forte ligação (Camargo, 2005). A classe 4 relaciona-se a es-tas duas primeiras classes com um índice de 0.55, formando novo subconjunto associado à classe 3 por um R = 0.40 e, na sequência, à classe 5 por um índice de 0.12. O segundo ei-xo da análise compreende apenas a classe 6 (“Assistência à saúde aos ilegais”).

Os problemas trazidos pela migração

A análise do jornal espanhol apresenta um primeiro eixo, denominado “os problemas trazidos pela migração”, que faz referência a acontecimentos tanto dentro da própria Espa-nha como fora do país. A classe 1 “a imigra-ção fora da Espanha” é a única classe que não faz referência ao país espanhol, mas que compreende a imigração em suas histórias mais comuns, quando apresenta elementos como habitantes, registro civil, legal e fron-teira. Esta classe representa 13.88% do banco analisado.

“Diante da falta de renovação de pessoal no re-gistro civil de Castellon, parte dos tramites admi-nistrativos apresentaram demora.” (Nadal, 2012, Jornal El Mundo parágrafo 1, Tradução própria)

A classe 2 retrata histórias dos imigrantes por suas próprias falas. É uma classe constituída de histórias reais, carregadas de cunho emo-

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cional. Elementos como pai, família, mãe e casa destacam as vivências dos imigrantes provenientes de diversas partes do mundo com saudosismo, porém, ao mesmo tempo, com a esperança de uma perspectiva melhor no país europeu.

“Eu quero estudar, só isso, respondeu o rapaz a uma monitora que lhe perguntou o que queria fa-zer no país.” (El ordenador que hizo feliz a Bere-te, 2012, Jornal “El Mundo”, parágrafo 3, Tradu-ção própria)

A classe 4 “imigração dentro da Espanha” faz menção aos acontecimentos que ocorrem em função da proximidade da Espanha com o mar que divide o continente europeu do africano. A ilegalidade dos africanos ao ultrapassarem a fronteira espanhola é a principal preocupação dos espanhóis e é apresentada nesta classe toda dedicada a este tema. Alguns elementos são: Melila (cidade costeira), fronteira, cer-ca, subsaarianos.

“Dezenas de imigrantes protagonizaram nesta sexta-feira em Melila um novo ataque à cerca fronteiriça com Marrocos, em plena luz do dia, depois que se haviam registrado incidentes entre alguns deles e a polícia.” (Sánchez, 2012, Jornal El Mundo, Tradução própria)

As classes 3 e 5 também refletem situações dentro do país espanhol. A classe 3 ou classe “drogas e criminalidade” refere-se ao envol-vimento dos imigrantes em redes de prostitui-ção, tráfico de drogas e de documentações falsas. Esta classe assemelha-se às classes 1, 5 e 3 do banco de Portugal (Ver anexo 3) e apresenta palavras como redes, prostituição, detidos, documentação e drogas, fazendo alu-são aos contextos da própria Espanha.

“A polícia nacional desarticulou uma rede dedi-cada à exploração sexual, com membros arma-dos, que captava mulheres da Nigéria para Espa-nha.” (Oms, 2012, Jornal El Mundo, Tradução própria)

A quinta classe “imigração ilegal pelo mar”, também pertencente ao primeiro eixo, asse-melha-se à classe 3 e 4 pelo fato de o assunto ilegalidade ter maior ênfase. A tentativa dos imigrantes de entrarem no país por meio de embarcações marítimas é ressaltada nesta classe, bem como os problemas desencadea-dos por ela, como os naufrágios e mortes. Al-guns elementos da classe 6 são: embarcação, salvamento marítimo, interceptada e naufrá-gio.

Assistência à saúde aos ilegais

O segundo eixo, formado apenas pela classe 6 (“Assistência à saúde aos ilegais”), ressalta a discussão latente, no momento da coleta de dados, que se refere à proibição da assistên-cia em saúde para os imigrantes que não pos-suem documentação legalizada. Esta classe destaca opiniões contra e a favor desta proi-bição e envolve elementos como: assistência sanitária, irregular, saúde, direitos, urgência e sistema nacional de saúde. A discussão se estendeu no jornal espanhol por alguns meses e representa a maior parte do banco de dados (26.04%).

“A organização médica qualificou como inadmis-sível a aplicação da nova normativa estatal que anula os cartões sanitários dos ilegais. Os médi-cos, tanto profissionais como cidadãos, não po-dem legalmente negar auxílio a uma pessoa em situação de risco sem cometer o delito de omis-são de socorro, advertiu.” (Médicos avisan de que denegar la atención a inmigrantes puede tener consecuencias penales, 2012, Jornal El Mundo, parágrafo 3, Tradução própria)

Com base na análise feita pelo Alceste, ob-serva-se que o jornal espanhol, “El Mundo”, identifica o imigrante em seu território como proveniente do continente africano, de forma ilegal, através das embarcações marítimas e envolvido em crimes, como tráfico de drogas e prostituição. Apesar de haver uma discussão mais positiva, que evidencia a proibição ou não de assistência médica/sanitária aos imi-grantes, permanece, contudo, uma imagem depreciativa dos imigrantes, associados a fun-ções e características marcadamente negati-vas.

Criminoso vs. vítima, legal vs. ilegal: a representação social de imigração e de imigrantes no jornal La Repubblica

O corpus construído a partir da coleta de da-dos no jornal italiano “La Repubblica” foi analisado em 86.36% de seu conteúdo total. Dois eixos de análise são apresentados (anexo 2): o primeiro deles constitui-se pelas classes 1 (“Violência contra o imigrante”), 2 (“Crimi-nalidade”), 3 (“O problema da crise”) e 5 (“O problema em ser legalizado”). As classes 1 e 2 possuem um índice de relação em 0.55. As classes 3 e 5 se relacionam por um índice de 0.48. Estas 4 classes ligam-se por um R = 0.64. O segundo eixo é composto pela classe 4 (“Imigração ilegal pelo mar”).

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Medo dos imigrantes

A classe 1 (“Violência contra o imigrante”) apresenta a realidade em que o imigrante é vítima de agressões violentas e racistas. Ter-mos como mortos, agredido e vítima indicam esta realidade.

Relacionada à classe 2 (“Criminalidade”), a classe 1 faz referência à vivência de uma rea-lidade violenta destes imigrantes na Itália. A classe 2 também indica um contexto de vio-lência; entretanto, nesta classe, observa-se que, diferentemente da classe 1 em que o imigrante era colocado como vítima, há uma prevalência de elementos que indicam que o imigrante é o criminoso. Expressões como presos, drogas, acusados, maconha, tráfico, cocaína, haxixe, entre outros, expressam que o imigrante é um sujeito problemático no pa-ís, que causa perturbações às autoridades e se envolve em problemas com a lei. Além dis-so, a análise do corpus indica uma possível re-lação desta classe com o tema de ilegalidade, que também se configura como situação-problema com a ordem social.

“Eles tentaram fugir rapidamente para a praça da paz, mas foram descobertos pela polícia. Um ni-geriano, acusado anteriormente por violação das leis de imigração, foi encontrado em posse de maconha.” (P.le della Pace, arresto per spaccio, 2012, Jornal La Repubblica, parágrafo 2, Tra-dução própria).

A classe 3 (“O problema da crise”) correspon-de à realidade de imigrantes que vão à Itália por conta do trabalho e suprem um possível déficit previdenciário. Elementos como es-trangeiros, chineses, aumento, residentes, ucranianos e percentual compõem uma classe que apresenta uma realidade nacional cres-cente de trabalhadores imigrantes, que são vistos como integrados à sociedade. Em asso-ciação à classe 5, a classe 3 remete à condi-ção de legalidade e adaptação no país.

“Continuam a aumentar e hoje constituem 17,7% da população local. Em 2010, eram 16,4%. Diante da crise, os imigrantes demonstraram ser os mais flexíveis e capazes de se adaptar, mantendo um percentual de ocupação estável em 16%.” (Immi-grati, Lombardia da record, 2012, Jornal La Re-pubblica, parágrafo 1, Tradução própria)

A classe 5 (“O problema de ser legalizado”) indica certa preocupação do país com a polí-tica de acolhimento destes migrantes e tam-bém com os refugiados. Sua relação com a classe 3, possivelmente, deve-se ao fato de se fazer uma analogia ao aumento populacional.

Esta classe, que possui termos como refugia-dos, problemática, imigração, cidadania, pri-são e integração, demonstra uma conotação mais crítica, referindo-se às leis de migração e à cidadania.

O eixo corresponde a certa contradição entre suas classes, pois da mesma forma que o país italiano recebe os imigrantes e refugiados, preocupando-se com seus recursos adminis-trativos, este os assume como os responsáveis pela criminalidade e desordem ocorrida.

Imigração ilegal pelo mar

Por fim, o segundo eixo de análise, constituí-do pela classe 4 (“Imigração ilegal pelo mar”) refere-se, majoritariamente, às embarcações que chegam de forma ilegal ao território ita-liano. Assim como na Espanha e em Portugal, a ilegalidade pelo mar é um problema recor-rente no país e é noticiada constantemente a grande quantidade de imigrantes mortos, en-contrados à deriva no mar.

“Naufraga barco entre a Líbia e Lampedusa. Dez pessoas mortas e continuam as buscas para recu-perar os cadáveres e os setenta sobreviventes, entre eles uma mulher grávida. Os homens que foram resgatados chegaram a Lampedusa acolhi-dos pelo governador de Crocetta.” (Naufraga bar-cone tra Libia e Lampedusa, 2012, Jornal La Re-pubblica, parágrafo 1, Tradução própria)

A dimensão simbólica do imigrante trazida pe-lo jornal italiano apresenta uma imagem em que o imigrante é pensado de maneira ambí-gua, sendo ora um problema para a sociedade e ora visto como necessário à mão de obra e previdência do país. Embora, sejam evidenci-adas algumas situações em que o imigrante é tido como criminoso, ilegal e vítima de vio-lência, o que demonstra uma rejeição da so-ciedade a este grupo, observa-se, nas repor-tagens, um contexto em que o mesmo é acei-to e acolhido como população necessária à sociedade local.

Africano, brasileiro e criminoso: a representação social de imigração e de imigrantes no jornal Correio da Manhã

O tratamento dos dados do jornal português “Correio da Manhã” obteve um aproveita-mento de 81.25% do material em sua análise, sugerindo a formação de 6 classes estáveis que foram divididas em dois eixos principais. O primeiro eixo é formado pelas classes 1 (“Criminalidade”), 5 (“Drogas e criminalida-

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de”) e 3 (“Condenação”) e o segundo eixo pe-las classes 2 (“Proveniência”), 6 (“Violência contra o imigrante”) e 4 (“Doenças dos imi-grantes”). As classes 1 e 5 relacionam-se por um índice de 0.60, e, relacionada a estas duas classes, esta a classe 3, por um índice de 0.44. No segundo eixo, as classes 2 e 6 se re-lacionam por um índice de 0.64 e as duas se ligam à classe 4 por 0.55. O dendrograma a seguir (Ver anexo 3) demonstra a referida configuração.

Criminalidade

O tratamento dos dados do jornal português apresentou em suas classes características predominantemente negativas. A classe 1 “criminalidade” é composta por palavras que vinculam o indivíduo migrante ao crime como, por exemplo, detido, crime, interrogatório, prisão.

“O detido, um estrangeiros de 31 anos, foi sujeito a primeiro interrogatório para que fossem aplica-das medidas de coacção.” (Porto: PJ detém ho-mem por crime de seqüestro agravado, 2012, Jornal Correio da Manhã, parágrafo 3)

A classe 5 “drogas e criminalidade” traz ele-mentos como cocaína, haxixe, assalto. Estas duas classes (1 e 5) assemelham-se e mostram um imigrante perigoso, usuário de drogas e que possui problemas com o judiciário.

“O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, deteve esta terça-feira, para expulsão de território naci-onal, um cidadão estrangeiro indiciado na prática de crimes de roubo por esticão e trafico de estu-pefacientes.” (Estrangeiro detido por roubo e trá-fico, 2012, Jornal Correio da Manhã, parágrafo 1)

A classe 3 “condenação”, por sua vez, forma o primeiro eixo desta análise. Esta classe apresenta palavras como: acusado, falsifica-ção, julgar e sentença, que, após os aconte-cimentos criminosos, indicam já a situação problemática com a justiça. Este eixo, intitu-lado “criminalidade”, configura um retrato do imigrante mal visto e indesejado por trazer problemas com as drogas e com o crime.

“Uma portuguesa e um estrangeiro foram conde-nados a seis anos e meio e a quatro anos de pri-são, respectivamente, por auxílio à imigração ile-gal e falsificação de documentos.” (Dupla conde-nada por auxílio à imigração ilegal, 2012, Jornal Correio da Manhã, parágrafo 1)

De onde vem o problema?

A classe 2 “proveniência” começa a dar um rosto para este imigrante. Esta classe traz

nomes de países de onde viriam os imigran-tes, em sua maioria. A menção ao Brasil, Ca-bo Verde e à palavra fronteira (com o mar que os separa do continente africano), indica esta conexão e está ligada à classe 6. A classe 6 “violência contra o imigrante” relata situa-ções nas quais o imigrante é um problema por ser considerado criminoso, mas também situ-ações em que este é discriminado. Palavras como ataque, mortos e homicídio evidenciam estas duas situações.

“Ataque xenófobo na rua - Um jovem iraquiano foi morto a facada, no sábado a noite por um grupo que perseguia estrangeiros, anunciou a po-licia.” (Grécia: Jovem iraquiano morto em ataque xenófobo na rua, 2012, Jornal Correio da Manhã, parágrafo 1)

Associada à classe 6, a classe 4 aparece como a mais distante de todas as outras. Esta clas-se, nomeada como “doenças dos imigrantes”, mais uma vez, apresenta um contexto em que o imigrante é um problema para a sociedade local. Elementos como doente, contágio e tu-berculose compõem uma classe que afirma que este indivíduo, estranho à sociedade, causa mais problemas por ser potencialmente portador de doenças, além da criminalidade.

“Os médicos devem ter em consideração o risco de importação de sarampo durante o verão, devi-do à maior circulação, em nosso país, de viajan-tes, turistas e migrantes, provenientes da Europa, África ou Ásia.” (Risco de sarampo para profissio-nais da saúde, 2012, Jornal Correio da Manhã, parágrafo 1)

“Imigrante ilegal ucraniano recusa tratamento de tuberculose multirresistente e assusta vizinhança de Pombal.” (Tuberculose multirresistente assus-ta freguesia de Pombal, 2012, Jornal Correio da Manhã, parágrafo 6)

As classes 2, 4 e 6 compõem um segundo eixo de análise que foi denominado “De onde vem o problema?” por ressaltar não apenas a pro-veniência deste outro, mas também proble-mas que compõem uma imagem do migrante como estranho e indesejado.

O jornal português descreve o imigrante como um ser criminoso, drogado, transmissor de doenças contagiosas e como proveniente de países de língua portuguesa (como Cabo Verde e Brasil). A imagem representada nestas re-portagens é a de que, sem o imigrante, Por-tugal estaria livre de qualquer tormento que perturba a ordem social.

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Representações sociais de imigração e imigrantes em mídia espanhola, italiana e portuguesa

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Discussão

A partir dos dados apresentados, é possível fazer uma análise das representações sociais a respeito do imigrante e da imigração nas reportagens de jornais dos países europeus analisados.

Os dados observados na CHD possibilitam compreender que as representações sociais dos jornais europeus desempenham uma fun-ção de preservar as hierarquias sociais (Jode-let, 2008). A atribuição de uma lógica que en-fatiza a criminalidade como característica inerente ao imigrante conduz à reflexão de que as imagens a respeito do grupo possuem um significado que questiona suas capacida-des e o desrespeitam. A classe 2 do jornal ita-liano, as classes 1, 3 e 5 do jornal português e a classe 3 do jornal espanhol associam ao imi-grante uma representação de caráter negati-vo, que atribui ao grupo a causa da desordem social e pode configurar-se como tentativa de o colocar em posição desfavorável na dinâmi-ca da comparação social. Neste contexto, constata-se que a relação com o grupo mi-grante é demarcada por uma fronteira do di-ferente, sendo simbolizado como grupo de oposição à sociedade de destino (Moscovici, 2003).

Referenciando-se em Duval Fernandes e Maria Consolação de Casto (2013) e Rupert Brown e Hanna Zagefka (2011), pode-se interpretar que a existência de um eixo que evidencia a violência contra o imigrante indica o aumento dos fatores de preconceito. O indivíduo morto e agredido é pauta dos jornais que expõe um território na qual a população segrega o imi-grante fundamentando-se em representações sociais que o objetivam como criminoso e transgressor (Carvalho, 2007).

Em associação à imagem de infrator, a ilega-lidade é um eixo que objetiva o imigrante como problema social. A imagem da imigra-ção ilegal pelo mar relaciona-se às ações de discriminação que são legitimadas pelas ações da população (Moreira & Monteiro, 2012). A discriminação manifesta-se como forma de retaliação e orienta a discussão a respeito dos recursos administrativos e assistenciais dos territórios receptores. O eixo o problema da assistência ao imigrante sustenta esta afirma-ção, uma vez que a discussão do acolhimento ao imigrante, no que concerne à saúde, edu-cação e economia, demonstra que este é o

indivíduo mais frágil em tempos de recessão (Wojtyńska & Zielińska, 2010). Santos (2011), em estudo sobre os estereótipos vinculados aos imigrantes em Portugal, argumenta que a discriminação ao grupo minoritário ratifica a legitimação da culpa, atribuída a eles pela desestabilidade social, o que causa no indiví-duo da sociedade local uma sensação de inva-são e de medo (Beneduzi, 2009; Carvalho, 2007).

Estes dados apontam que a representação so-cial dos jornais europeus sobre o imigrante e a imigração está ancorada nos sistemas co-municativos de propagação e propaganda, uma vez que: 1) são destinadas a um mundo já organizado socialmente no qual o discurso controla os conhecimentos de um público es-pecífico, e 2) alimenta relações sociais de conflito para que se fortaleça a supremacia do grupo dominante europeu (Allain et al., 2009; Braga & Tuzzo, 2010; Doise, 2011; Mos-covici, 2003; Ordaz & Vala, 1997).

O conflito entre os grupos é alimentado em função de interesses específicos do grupo eu-ropeu que têm a sua identidade ameaçada pelo grupo imigrante (Allain et al., 2009), apesar de necessitar deste grupo de forma ativa no mercado de trabalho. Dessa forma, os sistemas comunicativos de propagação e propaganda são acionados em função de uma lógica dicotômica na qual, ao mesmo tempo em que o grupo europeu enfatiza a negativi-dade do grupo migrante, mantendo o sistema hierárquico vigente, necessita de sua contri-buição previdenciária e de sua mão de obra (Cabecinhas, 2009; Castro, 2009).

Nos dados apresentados, a notícia tem a fun-ção de deter o controle das informações a respeito do grupo migrante, garantindo a ma-nutenção de comportamentos associados a eles, conforme a dimensão da propagação (Cabecinhas, 2009). Do mesmo modo, a este-reotipia e a lógica que imprime funções de “certo” e “errado” aos grupos, europeu e imigrante, fundamentam interesses específi-cos de ordem hegemônica, conforme a dimen-são comunicativa da propaganda (Allain et al., 2009, Cabecinhas, 2009; Castro, 2009; Moscovici, 2003).

Considerações finais

Este estudo teve como objetivo analisar as representações sociais de imigração e de imi-

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grantes difundidas por jornais de referência em três países europeus que possuem um alto número de brasileiros (MRE, 2011), tendo co-mo aporte teórico-conceitual a Teoria das Representações Sociais (TRS) de Moscovici (2003).

É importante ressaltar que uma das limitações relacionadas ao desenvolvimento deste estudo refere-se ao fato de a pesquisadora não ser nativa nas línguas estrangeiras em questão. Esta circunstância pode ser associada a possí-veis falhas na interpretação e tradução das reportagens dos jornais, salvo o jornal portu-guês.

Observa-se que nem sempre o migrante confi-gura-se como um grupo excluído ou depositá-rio, mas, há a necessidade de se manipular as representações sobre este grupo a fim de se manterem as hierarquias sociais da sociedade europeia. Analisa-se que as representações sociais depreendidas dos jornais em análise podem ser específicas de um contexto social e econômico e, por esta razão, é pertinente que outros estudos contemplem períodos temporais distintos, com outras conjunturas econômicas e, até mesmo, outros países e continentes a fim de se ter uma visão mais transcultural do fenômeno.

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Representações sociais de imigração e imigrantes em mídia espanhola, italiana e portuguesa

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Anexo 1. Classificação Descendente Hierárquica do corpus Jornal Espanhol “El Mundo” Dendrograma das classes estáveis

CLASSE 1 CLASSE 2 CLASSE 4 CLASSE 3 CLASSE 5 CLASSE 6

A imigração fora da Espanha As histórias de

migração

A imigração dentro da

Espanha

Drogas e Criminalidade

Imigração Ilegal pelo mar Assistência à Saúde aos Ilegais

170 UCE – 13,88% 161 UCE – 13,14% 206 UCE – 16,82% 195 UCE – 15,92%

174 UCE – 14,20% 316 UCE – 26,04%

Formas 2 Formas 2 Formas 2 Formas 2 Formas 2 Formas 2

Mexicanos 42,68 Pai 65,46 Melila 229,45 Redes 115,24 Embarcação 370,20 Irregular 131,80

Artigos 36,88 Família 51,43 Fronteira 141,74 Prostituição 101,94 Barco 268,98 Saúde 90,33

Estados Unidos 31,16 Meu 46,53 Cerca 137,73 Contratos 85,63 Salvamento Marítimo 228,99 Medida 83,32

Habitantes 31,16 Parque 45,57 Perímetro 126,24 Málaga 85,63 Bordo 203,37 Acesso 78,22

Registro Civil 31,16 Mãe 42,15 Deleg. Governo 113,33 Investigação 83,47 Resgatados 195,96 Sanitária 76,68

Afetados 31,16 Eu 39,85 Assaltos 105,69 Nacionalidade 78,93 Viajavam 189,60 Direitos 75,26

Ilegal 30,11 Gabriel 39,85 Isla de Tierra 93,94 Detidos 75,74 Milha marítima 152,67 Urgência 73,71

Alarmes 25,17 Queria 39,85 Pular 77,46 Euro 70,38 Tarifa (cidade) 126,74 Atenção 68,09

Concentrado 24,90 Falar 39,00 Marrocos 76,08 Nigeriano 69,40 Subsaarianos 114,05 Serviços 61,56

Cidadãos 24,45 Bairro 36,24 Guarda Civil 72,50 Documentação 69,40 Interceptada 110,35 Governo 59,78

Corrupção 24,34 Companheiro 34,52 Marroquinos 61,01 Vítima 58,90 Cadiz (cidade) 83,62 Normas 45,16

Nave 24,34 Proprietário 33,18 Arame 59,95 Empresa 58,63 Localizada 77,53 Coletivo 44,38

Patrulha Fronteiriça 24,34 Pegar 33,18 Rio de Ouro 54,91 Trabalho 54,50 Homem 75,55 Assistência Sanitária 38,95

Pobreza 24,34 Sair 32,48 Pressão 54,63 Falsa 51,95 Lancha 73,20 Casos 38,58

Grande 22,01 Casa 28,55 Reforçado 49,87 Quadrilha 51,70 Granada (cidade) 73,20 Médicos 36,87

Dezena 21,14 Lembrar 28,55 Soberania 49,87 Droga 50,40 Deriva 71,89 Dever 35,71

Migrantes 19,51 Cartaz 26,56 Entrada 49,58 Domicílio 46,33 Cruz Vermelha 71,47 Enfermidade 35,70

Fronteira 19,41 Estragado 26,52 Vigilância 48,12 Desarticulado 42,53 Idade 71,29 Sist. Nacional Saúde 34,42

Diminuição 18,66 Irmão 26,52 Subsaarianos 48,07 Clubes 42,53 Foram 66,97 Paciente 34,42

Líbia 18,37 Ter 26,52 Avalancha 44,85 Província 42,28 Naufrágio 65,77 Gratuita 34,42

Os problemas trazidos pela migração

Assistência à Saúde aos Ilegais

R = 0.72

R = 0.55

R = 0.40

R = 0.12

R = 0.00

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Anexo 2. Classificação Descendente Hierárquica do corpus Jornal Italiano “La Repubblica” Dendrograma das classes estáveis

CLASSE 1 CLASSE 2 CLASSE 3 CLASSE 5 CLASSE 4

Violência contra o

imigrante

Criminalidade

O problema da crise

O problema em ser legalizado

Imigração ilegal pelo mar

483 UCE – 26,86 % 293 UCE – 16,30% 239 UCE – 13,29% 663 UCE – 36,87% 120 UCE – 6,67 %

Formas 2 Formas 2 Formas 2 Formas 2 Formas 2

Homem 110,06 Presos 96,25 Estrangeiros 147,80 Governo 45,28 Lampedusa 539,53

Rapazes 76,05 Espaço 85,20 Chineses 91,58 Nosso 41,59 Barco de Patrulha 484,60

Casas 69,48 Agentes 74,15 Província 78,85 Acolhimento 39,03 Guarda Costeira 482,64

Marroquino 53,90 Drogas 71,09 Aumento 72,19 Direitos 36,99 Barco 469,04

Parque 47,46 Controles 69,99 Aumenta 62,31 Itália 35,22 À Bordo 332,60

Filhos 44,58 Acusados 67,09 Crianças 59,74 Proteção 34,83 Migrantes 326,22

Hospital 41,04 Policial 62,84 Ucranianos 59,00 Asilo 33,84 Militares 257,30

Noite 40,56 Maconha 56,85 Crescimento 58,40 Políticas 31,09 Náufragos 211,36

Feridos 39,51 Comandos 55,88 Estudantes 57,85 Permissão 29,52 Barcaça 224,88

Mortos 39,02 Polícias 53,03 Nascidos 56,43 Projetos sociais 24,52 Navio 198,93

Agredido 38,42 Cocaína 54,91 Residentes 53,75 Nômades 24,16 Capitania 198,93

Faca 35,65 Municipal 46,46 Dossiê 52,42 Necessidades 20,94 Embarcações 182,38

Pai 35,60 Cumplicidade 45,17 Asiáticos 51,34 Recursos 20,68 Mar 169,93

Ela 34,79 Algemas 45,00 Maior 47,99 Administração 17,29 Socorro 168,86

Matou 34,02 Investigação 40,12 Escola 47,24 Refugiados 16,11 Buscas 164,86

Recuperados 32,89 Haxixe 40,05 China 45,84 Problemáticas 13,76 Sobreviventes 154,76

Aconteceu 31,28 Procurador 36,10 Origem 45,04 Imigração 13,64 Operações 154,17

Vítima 30,25 Descoberto 36,08 País 43,57 Cidadania 12,91 Canal 86,80

Esposa 30,21 Tráfico 35,29 Milhões 42,48 Prisão 12,19 Dispersos 86,28

Testemunhas 28,55 Ferimentos 35,29 Percentual 38,82 Integração 9,38 Satélite 86,28

Medo de imigrantes

Imigração Ilegal pelo mar

R = 0,55 R = 0,64

R = 0,48

R = 0,02

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Representações sociais de imigração e imigrantes em mídia espanhola, italiana e portuguesa

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Anexo 3. Classificação Descendente Hierárquica do corpus Jornal Português “Correio da Manhã” Dendrograma das classes estáveiss

CLASSE 1 CLASSE 5 CLASSE 3 CLASSE 2 CLASSE 6 CLASSE 4

Criminalidade

Drogas e Criminalidade

Condenação

Proveniência

Violência contra o imigrante

Doenças dos imigrantes

33 UCE – 10,15% 99 UCE –30,46% 49 UCE – 15,08% 42 UCE – 12,92% 76 UCE – 23,38% 26 UCE – 8,00%

Formas 2 Formas 2 Formas 2 Formas 2 Formas 2 Formas 2

Presente 119,27 Operação 67,12 Argüido 94,29 Portugal 65,52 Ataque 35,91 Doente 143,29

Judiciário 91,29 Detido 40,39 Condenado 57,09 População 54,47 Mortos 33,80 Contágio 70,30

Coação 90,75 Homens 31,78 Acusado 57,01 Cento 48,20 Local 24,99 Tuberculose 70,30

Interrogatório 72,57 Nacional 18,75 Pena 51,77 Aumentou 40,54 Oficial 16,64 Saúde 58,71

Tribunal 58,52 Quilos 16,33 Falsificação 51,13 País 40,02 Naufrágio 16,64 Risco 58,71

Medida 55,05 Amadora 15,99 Juiz 46,20 Brasil 36,76 Grécia 16,64 Internamento 58,40

Detido 50,41 Território 15,76 Crime 42,52 Oriundos 34,22 Noite 16,64 José Ruivo 58,40

Preventiva 46,40 Cocaína 14,92 Auxílio 40,45 Comunidade 33,69 Fugiram 15,51 Tratamento 47,13

Prisão 39,91 Estabelecimento 14,18 Documentos 36,28 Cabo Verde 27,29 Atenas 13,27 Sarampo 47,13

Aplicação 37,81 Haxixe 13,95 Forma 34,94 Européia 27,29 Procuram 13,27 Recusa 47,13

Álcool 35,83 Conjunto 13,95 Imigração 33,59 Representa 27,29 Bombeiros 13,27 Multiresistente 46,57

Comparecer 35,83 Detenção 13,80 Suspensa 27,88 Relatório 27,29 Homicídio 13,27 Pombal 46,57

Efeito 35,83 Serv. Estrangeiros 13,65 Menina 27,88 Por cento 27,29 Metrô 13,27 Pode 37,91

Mandado 35,83 Suspeitos 13,65 Julgar 22,81 Quase 27,29 Vítima 12,79 Alerta 35,77

Cumprimento 26,79 Fonte 13,64 Janete 22,81 Serviço 26,93 Chegaram 12,26 Importação 28,59

Sumário 18,67 Bar 11,59 Atualmente 22,81 Imigrante 25,56 Hotel 12,26 África 28,59

Decisão 18,67 Identificado 11,59 Associação 20,97 Fronteira 21,76 Comores 9,92 Indivíduo 28,59

Condução 17,96 Cidade 11,58 Sentença 16,72 Maior 21,28 Cozinha 9,92 Lugar 18,66

Notificado 14,27 Concelho 10,31 Antecedente 16,72 Residentes 20,54 Pedir 9,92 Ucraniano 16,70

Capturado 13,83 Assalto 10,31 Prisão 16,43 Diminuição 20,40 Embarcação 9,22 Circulação 14,65

Criminalidade

De onde vem o problema?

R = 0,60

R = 0,44

R = 0,00

R = 0,64

R = 0,55

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ROBERTA RANGEL BATISTA

Graduada e Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). É Doutoranda em Psicologia (PPGP/UFES) e pesquisadora da Rede de Estudos e Pesquisas em Psicologia Social. Dedica-se à pesquisa em migração internacional e processos psicossociais pela perspectiva da Teoria da Identi-dade Social e da Teoria das Representações Sociais.

MARIANA BONOMO

Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). É Professora do Departa-mento de Psicologia Social e do Desenvolvimento e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Atua, principalmente, em grupos étnicos e comunidades tradicionais, a partir da análise dos processos identitários e representacionais.

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FORMATO DE CITACIÓN

Rangel Batista, Roberta & Bonomo, Mariana (2017).Representações sociais de imigração e imigrantes em mídia espanhola, italiana e portuguesa. Quaderns de Psicologia, 19(3), 211-227. http://dx.doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.1357

HISTORIA EDITORIAL

Recibido: 24-06-2016 1ª Revisión: 05-06-2017 2ª Revisión: 30-06-2017 3ª Revisión: 14-07-2017 Aceptado: 01-12-2017