relatório - parque estadual turístico do alto do ribeira

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0440101 – SISTEMA TERRA RELATÓRIO DE CAMPO PARQUE ESTADUAL TURÍSTICO DO ALTO RIBEIRA - PETAR Jacqueline de Cássia de Oliveira Mariana de Matheus Marques dos Santos Mariana Maia Leite Ferreira

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Relatório de Atividade de Campo no Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira da disciplina de Sistema Terra do ano de 2013 da Universidade de São Paulo

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Page 1: Relatório - Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira

0440101 – SISTEMA TERRA

RELATÓRIO DE CAMPO PARQUE ESTADUAL TURÍSTICO DO ALTO

RIBEIRA - PETAR

São PauloOutubro de 2013

Jacqueline de Cássia de Oliveira Mariana de Matheus Marques dos Santos

Mariana Maia Leite Ferreira

Page 2: Relatório - Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira

Sumário

1. INTRODUÇÃO 3

2. OBJETIVOS 4

3. CARACTERIZAÇÃO DO PETAR 4

4. GEOLOGIA DA ÁREA 8

5. EVOLUÇÃO GEOLÓGICA DO PETAR 12

6. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS 15

7. ASPECTOS DO ENSINO DE GEOCIÊNCIAS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

17

8. SUGESTÃO DE ATIVIDADE 18

9. CONCLUSÃO 19

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 20

2

Page 3: Relatório - Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira

1. IntroduçãoAs unidades de conservação sob a administração da Fundação Florestal

protegem centenas de cavernas, especialmente as formadas em rochas

calcárias, a exemplo dos Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR),

localizado nas região do Vale do Ribeira ao sul do Estado de São Paulo.

As cavernas – cavidades naturais subterrâneas – são consideradas bens

da União de acordo a Constituição Federal (artigo 225) e áreas de proteção

permanente pela constituição paulista (artigo 197). Elas constituem um

ambiente único, o meio subterrâneo, formadas pelo resultado de processos de

intemperismo químico e físico de centenas de milhares de anos.

A gênese das cavernas calcárias está relacionada à dissolução química

do carbonato de cálcio pelas águas das chuvas, que são pouco ácidas e, ao

passarem pelos solos, ganham mais acidez. Esse processo possibilitou a

abertura de condutos e seu posterior alargamento, originando salões, galerias

e rios subterrâneos, acessíveis ou não ao ser humano.

O clima nas cavernas, na maioria das vezes, é estável, com pouca

variação de temperatura e alta umidade relativa do ar. Próximo às entradas a

influência do meio externo é maior, ao contrário dos trechos mais profundos,

onde ocorre total ausência de luz, impedindo a fotossíntese e limitando o fluxo

de energia e a vida. Os seres vivos encontrados nas cavernas são comumente

classificados como:

Troglóbios: organismos que vivem somente no interior das cavernas, tais

como o bagre-cego (peixe) e as aeglas albinas (crustáceos);

Troglófilos: organismos que podem completar parte do seu ciclo de vida

no interior das cavernas, como os opiliões e grilos;

Trogloxenos: organismos que podem utilizar as cavernas como abrigo,

especialmente os morcegos, ou visitá-las eventualmente, dentre eles o ser

humano.

As ornamentações das cavernas são conhecidas como espeleotemas,

que variam de tamanho, forma e coloração, dependo do padrão de

cristalização e de sua composição química. Dentre os espeleotemas mais

comuns estão as estalactites e as estalagmites, formadas por gotejamentos no

teto e chão das cavernas, respectivamente. As colunas formam-se pela junção

3

Page 4: Relatório - Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira

destas duas formações e as cortinas pela cristalização em tetos inclinados. Já

as represas de travertino constituem diques de tamanhos variados, com a

deposição de mineral nas bordas. Essas represas podem ou não estar cheias

de água saturada de sais, formando novos espeleotemas. As helictites

possuem cristais bastante delicados e de rara beleza, em geral situadas em

ambientes mais confinados.

As cavidades naturais subterrâneas constituem testemunhos de

processos de evolução geológica, dos relevos e da vida em uma determinada

região, com ocorrência de depósitos de fósseis de vertebrados como a

preguiça-gigante (ou megatério) e o toxodonte, o tigre-de-dente-de-sabre,

dentre outros.

Por essas e outras características, as cavernas constituem um vasto

campo de pesquisas científicas, com grande importância ecológica, turística,

educativa e econômica.

2. ObjetivosO objetivo desta atividade de campo é desenvolver o raciocínio

geológico de observação e de interpretação das formações do terreno e da

geologia local.

3. Caracterização do PETARO Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira está situado no Vale do

Ribeira ao sul do estado de São Paulo entre as cidades de Iporanga e Apiaí,

contendo 35 mil hectares de área preservada de Mata Atlântica como mostra a

figura 1 indicada. Detentor de importantes formações geológicas por abrigar

uma das mais

importantes regiões

cársticas do país e

paisagens exuberantes

como cachoeiras, trilhas,

rios e muitas cavernas

tornam o parque um

ponto muito importante

para o ecoturismo.

4

Figura 1: Localização do PETAR no Estado de São Paulo. FONTE: Dísponivel em: http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,desafio-com-agua-ate-o-pescoco,453371,0.htm. Acessado em 17 de outubro de 2013

Page 5: Relatório - Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira

.

A ocupação no Vale do Ribeira teve início no século XVI com a chegada

de portugueses e espanhóis. As cidades funcionavam como núcleo de apoio

aos colonizadores com seus portos, facilitando a entrada de intercâmbio e de

mercadorias que entravam através do rio Ribeira de Iguape e seus afluentes.

A economia da região dá um salto por conta da descoberta de ouro na

Serra de Paranapiacaba, atraindo garimpeiros para a região.

A mineração do ouro foi responsável pelo surgimento de várias cidades

no Vale do Ribeira, como Apiaí que surgiu pela migração de garimpeiros em

busca de ouro.

Devido a descoberta de outro em Minas Gerais, os garimpeiros

abandonaram a região. Com a escassez do ouro, a agricultura passou a ter

valor, tendo escravos com principal mão de obra.

Porém, com as oscilações do mercado combinados com a expansão de

lavouras de café e a abolição de tráfico de escravos, a economia da região

entrou em decadência.

Ocorre que, no início do século XX, a então abundância da espécie de

palmito Juçara na Mata Atlântica, a grande demanda, a simplicidade do

processamento e os bons preços do produto, incentivaram os produtores rurais

e moradores a explorar estoques naturais da espécie. Fomentada por um

mercado clandestino bastante lucrativo, a população passa a extrair

ilegalmente o palmito, tornando-o a sua principal fonte de renda.

Devido à importância ecológica a Bacia do Rio Ribeira de Iguape passou

a ser reconhecida e foram criadas diversas áreas de reserva e de proteção

ambiental, fundamentais na preservação da biodiversidade local.

Essas áreas de proteção acabaram afetando a população, que ficou

privada do uso da terra e daquilo que garantia seu trabalho e sua renda.

E é nesse contexto que a criação do PETAR se insere: uma região

economicamente pobre tendo a agricultura de subsistência e extração ilegal de

palmito como suas principais fontes de renda.

Com a criação do PETAR em 1958, a economia entra em crise

novamente, a população então começa a explorar o parque com o ecoturismo,

passando a viver (até hoje) basicamente do turismo, da prestação de serviços

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Page 6: Relatório - Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira

e mão de obra a prefeitura e aos meios de hospedagens (pousadas e

campings).

A implantação do parque somente ocorreu entre os anos de 1987e 1988,

quando através do Instituto Florestal de São Paulo seus limites foram

demarcados em campo, juntamente com o início da fiscalização pela Polícia

Florestal do Estado (KARMANN & FERRARI, 2000). Em 1999, a Reserva de

Mata Atlântica do Sudeste, constituída por 17 municípios do Vale do Ribeira,

tornou-se uma das seis áreas que passaram a ser consideradas pela UNESCO

como Patrimônio Natural da Humanidade.

O parque conta hoje com quatro núcleos de visitação, todos com a

finalidade de facilitar o controle dos visitantes e de proteger de forma mais

organizada esse patrimônio.

- Núcleo Caboclos, situado na parte central do PETAR com uma altitude

média de 600 metros;

- Núcleo Ouro Grosso, localizado no bairro da Serra em Iporanga, tem

como principal atrativo a caverna do Ouro Grosso e a caverna Alambari de

Baixo;

- Núcleo Santana é o principal núcleo de visitação do PETAR com as

principais cavernas: caverna Santana, Morro Preto, caverna Água Suja e

caverna Couto;

- Núcleo Casa de Pedra, neste núcleo está localizada a caverna Casa de

Pedra com o maior pórtico do mundo, cerca de 215 metros de altura.

Desde janeiro de 2009, a Fundação Florestal está elaborando os Planos

de Manejo Espeleológico de 32 cavernas em quatro Parques Estaduais do Vale

do Ribeira, incluindo o PETAR. Os Planos de Manejo vão organizar o uso das

cavernas para o turismo e criar orientações para as intervenções futuras de

modo a reduzir ao mínimo os impactos do homem nas visitações às cavernas.

O parque apresenta grande biodiversidade, sendo possível observar

bromélias, orquídeas, samambaias e palmeiras. Ainda na região, podem ser

encontrados alguns animais como o macaco muriqui, jaguatirica, morcegos,

etc. Dentre os animais já encontrados, o de maior destaque é o bagre-cego,

espécie de peixe que sofreu modificações genéticas, como a regressão dos

olhos e ausência de pigmentos em sua coloração, tais modificações deve-se ao

ambiente sem luz das cavernas.

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Page 7: Relatório - Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira

Conflitos socioambientaisOs moradores da região organizaram-se em núcleos frouxos de

povoamento fortemente ligados por laços de parentesco, chamados

posteriormente de bairros.

O modo de vida dos moradores pode ser definido como agroextrativista,

extremamente dependente da floresta. Era praticada a agricultura itinerante ou

roça de capuava (Petrone, 1961; Adams, 2000), que depende da abertura de

pequenas clareiras na mata para o plantio de uma rotação de culturas que

inclui principalmente o arroz, o feijão e o milho. Criavam-se de forma extensiva

porcos, galinhas e outros animais domésticos, alimentados pela roça e pela

floresta.

Outras formas de relação material com a floresta circundante eram a

retirada de madeira para uso doméstico (lenha, construções), caça, coleta de

frutos (muitas vezes plantados pelos antigos moradores) e de plantas úteis,

como as de uso medicinal. A paisagem da região constituía-se, portanto, em

um mosaico de áreas em uso, áreas de floresta em regeneração e áreas de

floresta pouco alterada.

Este cenário apontava para o desalojamento definitivo da floresta e

também para uma gradual expropriação das terras historicamente ocupadas

pelos habitantes locais, sujeitando-os à condição de mão de obra assalariada

ou à migração. Entretanto entram aí novos atores sociais para modificar a

história do local.

A região do Alto Ribeira onde se configuram os conflitos apresentados

aqui é a que contém a maior concentração de cavernas calcárias do estado e

que faz parte da maior área contínua de mata atlântica remanescente. Além de

alguns empreendimentos minerários, existia na região, na década de 1950,

uma sede do Instituto Geológico e Geográfico, órgão do Governo do Estado

encarregado de pesquisas sobre minerais. Tínhamos então em 1958 uma

arena de conflitos constituída pelos seguintes atores sociais:

a) Grandes empreendedores com interesses capitalistas que tentavam

com pouco sucesso explorar a região;

b) Pesquisadores da área geológica que militavam pela proteção das

inúmeras cavernas da região, com o apoio de atores da imprensa;

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Page 8: Relatório - Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira

c) Atores do governo estadual, ligados ao então governador Jânio

Quadros com projetos de desenvolvimento turístico em um paraíso ecológico

e/ou com interesse de resguardar recursos florestais no modelo americano de

Parques Nacionais.

A questão em jogo era transformar o local em área protegida voltada ao

turismo de habitantes da cidade, a princípio com uma base estatal de infra-

estrutura. O turismo incluiria caça e pesca, ou seja, uso direto da floresta

(Figueiredo, 2000; Silveira, 2001). Os moradores da região e o poder municipal

parecem ter tido pouco poder de participação nesta arena. A criação do

PETAR, na realidade, trouxe poucas modificações ao cotidiano dos moradores,

pois o parque permaneceu sem implantação por mais de 20 anos. No início dos

anos de 1980, uma nova arena de conflitos se configurou no Alto Ribeira. Ela

incluía novos atores sociais que se relacionavam com a região:

a) Espeleólogos (exploradores de cavernas), organizados em torno de

grupos espeleológicos e da Sociedade Brasileira de Espeleologia, SBE. Partiu

destes atores sociais a reivindicação de que o PETAR fosse de fato

implantado, e que as matas e as cavernas fossem resguardadas;

b) Funcionários da Superintendência de Desenvolvimento do Litoral

Paulista (SUDELPA), ligados ao então governador Franco Montoro, que tinham

como objetivo a implantação das diversas unidades de conservação ambiental

do Vale do Ribeira criadas ao longo do tempo, sendo o PETAR uma área-

piloto;

c) Novos empreendedores (madeireiras, mineradoras e outros)

instalados ou com objetivos de se instalarem na região;

d) O poder municipal, alinhado com os empreendedores e com atores

envolvidos com o corte de palmito;

e) Moradores, sentindo-se ameaçados ao mesmo tempo pelos

empreendimentos e pelo parque, mas de forma geral alinhando-se contra a

implantação do Parque.

O desfecho destes conflitos foi a implantação do PETAR, a paralisação

de todos os grandes empreendimentos e o estabelecimento do ecoturismo

como projeto de desenvolvimento para a região.

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Page 9: Relatório - Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira

Com a implantação do PETAR, os moradores da região não foram

retirados, mas tiveram que readaptar seus projetos e organização social à nova

realidade que se apresentava.

4. Geologia da ÁreaA região do PETAR está sob domínio do Grupo Açungui, localizado

especificamente no bloco tectônico do Lajeado, na Faixa Dobrada do Apiaí e

com característica de blocos tectônicos dispostos da direção Nordeste –

Sudoeste (Campanha, 1991 e IG, 1999). Este grupo é composto por unidades

carbonáticas, psamíticas e pelíticas com uma unidade de gabro em sua

superfície. As rochas carbonáticas (que darão origem às cavernas) tem sua

origem em formações Bairro da Serra, Mina de Furnas e Passa Vinte.

(KARMAN e FERRARI, 2000) Conforme a figura 1, é possível observar a

diferença geológica da área do PETAR.

Figura 2: Jurássico – Cretáceo. Modificado de Instituto Geológico (1999).

Geologia das Cavernas

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Page 10: Relatório - Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira

A região em que se encontra o PETAR tem uma importância ambiental

que está associada à mata tropical, que se encontra relativamente protegida,

dando aos sistemas de cavernas paisagens única, apresentando uma grande

variedade morfológica de espeleotemas e de sítios paleontológicos do

Quaternário. A região abriga cerca de 200 cavernas, sendo que a mais

destacada e extensa é a de Santana, localizada no núcleo dos Cablocos, com

6,5km de comprimento.

Quanto à geologia, pode-se dizer que os terrenos cársticos estão

localizados entre o Planalto Atlântico e a Baixada Costeira, com característica

pela variedade hidráulica, e entalhamentos subterrâneos, com canyons de até

60m, onde pode se encontrar a presença de cavernas verticais (abismos) e

salões de abatimento (caverna de morro preto).

Formação das CavernasConforme dito anteriormente, as cavernas da região do PETAR foram

formadas através das rochas calcárias. Estas, tem sua formação através da

calcita (carbonato de cálcio, CaCO3), que é dissolvida quando entra em contato

com a água – que é ligeiramente ácida. Esta acidez se dá por conta da chuva

ácida ou pela presença do dióxido de carbono - CO2 - presente na atmosfera e

na decomposição da matéria orgânica, que em contato com a água formam o

ácido carbônico, H2CO3.

Esta água ácida que percola as fendas do calcário agindo sobre a rocha,

produzindo o bicarbonato de cálcio (Ca(HCO3)2), que tem por característica ser

solúvel e ter facilidade no transporte pela água. Com a dissolução do

bicarbonato de cálcio, as fendas vão-se alargando lentamente e formando as

cavernas.

Esta solução de bicarbonato emerge no teto de uma caverna que já

existe, e vai acumulando até que atinja volume suficiente para cair, conforme

figura 3 abaixo tirada na

caverna da água suja, na

visita de campo.

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Page 11: Relatório - Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira

Figura 3: Formação de uma Estalactite. FONTE: Arquivo pessoal da viagem de campo do LiGEA 2013.

Formam-se assim os primeiros cristais de carbonato de cálcio (CaCO3),

que vão dar origem à estalactite. A gota, ao cair, ainda carrega consigo

bicarbonato de cálcio (Ca(HCO3)2) em solução, o qual vai sendo depositado no

piso logo abaixo, formando uma estalagmite. O crescimento oposto da

estalactite e da estalagmite faz com que essas peças muitas vezes se unam,

dando origem à colunas. É possível observar através da figura tirada abaixo,

também na visita de campo, na caverna de morro preto.

Figura 4: Estalactite e Estalagmite. FONTE: Arquivo pessoal da viagem de campo do

LiGEA 2013.

EspeleotemasOs espeleotemas são todas as formações rochosas existentes no

interior de uma caverna, sendo resultado da sedimentação e cristalização dos

minerais que foram dissolvidos pela água. No PETAR, a sua ocorrência é

devida às rochas carbonáticas (compostas de calcário, mármore e rochas

dolomíticas) destacando-se pela grande diversidade morfológica dos mesmos.

Em ordem decrescente de ocorrência foram identificados espeleotemas de

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Page 12: Relatório - Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira

calcita, aragonita, hidromagnesita, gipsita, hidroxiapatita e leucofosfita (Barbieri

1993).

Figura 5: Formação das cavernas. Disponível em: http://portalsaofrancisco.com.br/alfa/cavernas - Acesso em 17/10/2013

5. Evolução Geológica do PETARHá 1 bilhão de anos, na Era Pré Cambriana, a área estudada era um

ambiente marinho, segundo o Professor Boggiani, durante sua explicação,

poderia ter sido um grande oceano, habitado basicamente por cianobactérias.

Em razão das mesmas, houve o surgimento de estromatólitos, que são rochas

fósseis formadas pela atividade de micro-organismos em ambientes aquáticos,

resultando em formações de recifes (ANELLI, 2010).

Além disso, houve deposição de carbonato de cálcio, argila, areia e

conglomerados, originando rochas calcárias e argilitos. Os grandes pacotes horizontais de sedimentos foram se tornando rochas. O material sedimentar sofreu uma deformação transformando o calcário em metacalcário e os argilitos em filitos.

600 milhões de anos atrás, houve o choque de placas associado à

formação do supercontinente Gondwana. Tal formação aglutinou vários

continentes e oceanos que estavam no meio, constituindo cadeias de

montanhas. Estas cadeias montanhosas com cerca de 15-20km de altura que

foram erodidas ao longo do tempo, tiveram deformações, o material estava

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Page 13: Relatório - Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira

plástico, levando à formação de dobras: Deformações em que se verifica o

encurvamento de superfícies originalmente planas. Resultantes de rochas com

comportamento dúctil (TEIXEIRA, 2000).

Mais próximo da superfície, a rocha estava rígida, e com o esforço,

surgiram as rupturas e as falhas, que são descontinuidades formadas pela

fratura das rochas superficiais da Terra (até cerca de 200 km de profundidade)

quando as forças tectônicas superam a resistência das rochas. Geralmente, a

zona de ruptura tem uma superfície bem definida, denominada “plano de falha” e sua formação é acompanhada de um deslizamento de rochas

tangencial a este plano. (LEINZ, 1963).

Onde tinham fraturas, houve infiltração da água, sobretudo nas fendas

do calcário, atacando a rocha, produzindo o bicarbonato de cálcio

(Ca(HCO3)2), que é solúvel e facilmente transportado pela água. Com a

dissolução do bicarbonato de cálcio, houve alargamento das fendas e

consequentemente, a formação das cavernas.

Aos eventos que ocorreram na Era Cenozóica, destaca-se o processo

de entalhamento da drenagem dos rios. Como pudemos perceber na visitação

das cavernas, haviam vários níveis de conglomerados, isso deve-se ao fato de

que o rio se situava num nível mais alto, no entanto, ocorreu o entalhamento da

drenagem até que se formasse tal paisagem.

Ressaltando que Conglomerado é uma rocha sedimentar com diferentes

tamanhos de cascalhos, predominantemente maiores do que a areia que

também compõe a rocha. A sua matriz tem os grãos muito menores, de areia

ou até mesmo de argila. O cimento pode ser óxido de ferro, sílica ou calcita.

(HAMBLIN, 1992)

Observamos que nas entradas das cavernas, há muito menos

estalactites e estalagmites, mas ao subirmos nas galerias superiores, haviam

muito mais espeleotemas. Segundo relatos do grupo que foi acompanhado

pela professora Veridiana na Caverna Santana, haviam lugares onde estavam

tudo fechados pelas precipitações de estalagmites e estalactites.

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Page 14: Relatório - Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira

Observação do afloramento do Basalto e Intrusão do Dique de Diabásio

Observamos o afloramento de um Basalto intemperizado, o que refutou

nossa primeira ideia, antes da observação, de que o Basalto era extremamente

resistente ao intemperismo. O processo que levou à degradação do Basalto é a

esfoliação esferoidal, popularmente conhecida como ''Acebolamento'', já que a

estética da rocha é semelhante à uma cebola.

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Figura 6: Formação de estalactite. FONTE: Arquivo pessoal da viagem de campo do LiGEA 2013.

Page 15: Relatório - Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira

O professor Boggiani nos explicou que a região que visitamos está

associada à abertura do Oceano Atlântico e à separação da Gondwana e que o

Rio Bethary está depositado sobre um dique de Diabásio. O diabásio se forma

quando um magma de composição basáltica é injetado em fraturas e diacláses

nas rochas encaixantes. Ocorre geralmente em corpos rochosos consolidados

ao longo do caminho do magma que, vindo de grandes profundidades, busca

alcançar a superfície da Terra. Formam-se assim principalmente os Diques,

que são corpos tabulares verticalizados ao longo das fraturas. Tendo em vista

que um dique atravessa camadas ou corpos rochosos pré-existentes, pode-se

afirmar que ele é sempre mais recente que a rocha em que está contido.

(LEINZ, 1963).

6. Atividades DesenvolvidasAs atividades se desenvolveram

ao decorrer de 3 dias. Com início em

13 de setembro de 2013 e término em

15 de setembro de 2013 com o

acompanhamento e supervisionamento

do Professor Paulo César Boggiani e

da Professora Doutora Veridiana

Teixeira de Souza Martins.

15

Figura 7: Processo de esfoliação esferoidal no Basalto. FONTE: Arquivo pessoal da viagem de campo do LiGEA 2013

Figura 8: Rio Bethary. FONTE: Arquivo pessoal da viagem de campo do LiGEA 2013.

Page 16: Relatório - Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira

13 de setembro de 2013No dia 13 de setembro às 14 horas saímos do Instituto de Geociências

da USP-SP em direção à rodovia Raposo Tavares percorrendo 16,8 km até a

rodovia Régis Bittencourt. Seguimos em direção a Iporanga, mais precisamente

à Pousada da Diva, percorrendo 301,9 km.

De São Paulo à Pousada da Diva foram 322 km.

Com saída às 14 horas do dia 13, chegamos por volta das 20h30 do

mesmo dia.

14 de setembro de 2013No dia 14 as atividades se iniciaram com um café da manhã às 7 horas.

Às 8 horas partimos em um micro ônibus fornecido pela empresa

contratada (Parque Aventuras) de monitores em direção ao parque.

No parque fomos divididos em dois grupos de aproximadamente 15

pessoas, um grupo se dirigiu à caverna Santana com a Profa. Veridiana

Martins e alguns monitores e o outro grupo em direção à caverna Água Suja

com o Prof. Paulo Boggiani e os monitores Kissuco e Ditinho.

Seguimos por uma trilha de 8 km próxima às margens do rio Betari

observando a vegetação, a fauna, a flora, afloramento de alguns tipos de

rocha, e a sucessão de eventos que formaram aquela região.

Em alguns trechos tornou-se necessário prosseguirmos pelo rio Betari.

Na chegada a caverna Água Suja recebemos instruções. Durante o

percurso dentro da caverna observamos as feições do terreno e das rochas,

espeleotemas, salões e origem das estruturas geológicas ali encontradas.

Retornamos a recepção do parque por volta das 11h30 para comer e

partir para a próxima atividade.

Alguns imprevistos ocorreram na atividade seguinte: estava programado

para visitarmos a caverna Santana (Grupo do Prof. Boggiani) no período da

tarde e o grupo da Profa. Veridiana visitar a caverna Água Suja, porém devido

aos Planos de Manejo do parque não podemos visitar a Santana e o outro

grupo não pode ir para a caverna Água Suja. Devido a este imprevisto, os

planos foram mudados e seguimos para a caverna do Morro Preto e o outro

grupo para a caverna Couto.

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Page 17: Relatório - Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira

Caminhamos em uma trilha íngreme por 70 metros até a entrada da

caverna do Morro Preto observando as estruturas geológicas presentes no

trajeto.

Dentro da caverna podemos observar as marcas e as evidências

geológicas que o rio deixou, as formações geológicas, os rastros deixados por

possíveis habitantes primitivos, espeleotemas, grandes desmoronamentos e

salões.

No caminho de volta nos encontramos com o outro grupo e retornamos à

recepção do parque para retornamos a pousada. No trajeto paramos no

mirante para observar a orientação das cavernas e do vale, o relevo, a

vegetação e a evolução geológica do parque.

15 de setembro de 2013Tomamos um café e às 8 horas saímos em caminhada por uma estrada

de terra em direção à caverna Alambari de Baixo, que fica localizada no Núcleo

Ouro Grosso do PETAR. Caminhamos por volta de uns 20 minutos até a trilha

que dá acesso a caverna.

Por 1,5 km percorremos a trilha até chegarmos a caverna Alambari de

Baixo onde pudemos encontrar vestígios claros da passagem do riacho

Alambari, espeleotemas e estruturas geológicas. Retornamos para a pousada,

almoçamos ao meio dia e às 14 horas voltamos para São Paulo.

Cavernas Visitadas Caverna Água Suja: está localizada no Núcleo Santana do

PETAR.

É composta essencialmente de um rio subterrâneo. É uma caverna

gigantesca com 1800 metros de desenvolvimento, mas apenas 800 metros são

turísticos. Possui uma cachoeira interna. Alguns trechos se faz necessário

prosseguir pela água.

Caverna do Morro Preto: também localizada no Núcleo Santana

do PETAR. Com uma belíssima entrada de 25 metros possui amplas galerias e

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Page 18: Relatório - Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira

salões. Em dois locais apresenta desníveis superados por escadas de madeira.

Foram encontrados vestígios de que essa caverna servia de abrigo para

habitantes primitivos.

Caverna Alambari de Baixo: localizada no Núcleo Ouro Grosso,

tem esse nome por conta do rio que entra no seu interior, o rio Alambari. De

Baixo porque existem duas cavernas nesta região, a outra tem o nome de

Alambari de Cima.Na entrada da caverna existem evidências geológicas que

indicam a passagem das águas do rio Alambari em um passado muito distante.

Hoje o nível do rio baixou e a água entra por uma outra fenda à direita da

entrada da caverna.

7. Aspectos de Ensino de Geociências e Educação AmbientalO conhecimento geológico tem sido utilizado fundamentalmente pela

sociedade ao longo da história de maneira a prover as necessidades básicas

em termos de recursos minerais, exploração de materiais energéticos, na

construção de obras civis e na descoberta de novos bens minerais. O papel

das Geociências visa atender às demandas por soluções aos problemas

ambientais, voltado às áreas de risco, desertificação e mudanças globais.

Esses aspectos relacionam-se à Educação Ambiental a medida em que se faz

necessária a compreensão do papel do indivíduo perante as mudanças que

estão ocorrendo hoje no planeta e da responsabilidade diante dessas

transformações. A compreensão geológica da natureza, ainda pouco divulgada

e mantida no espaço dos especialistas, cede lugar, na sociedade, às leituras

fragmentárias e não-históricas da natureza.

No caminho para o parque, pode-se perceber mudança no relevo e nas

paisagens ocasionadas por ações antrópicas (escorregamentos e erosões

continentais), em virtude de diversas ações, como o desmatamento e a

monocultura de eucalipto e bananas.

Ainda que certas práticas possam causar impactos ambientais à região,

a proibição de tais ações é algo que deve ser tratado com cautela, pois não se

deve considerar somente o fator ambiental, mas também, levar em conta a

situação dos habitantes. Por esta razão, é importante efetuar um levantamento

sociocultural que inclua as necessidades (infraestrutura) da população da

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cidade, bem como sua posição em relação ao PETAR. Com isso, o parque

obtêm maiores informações e consequentemente pode desenvolver, junto à

comunidade local, programas voltados à Educação Ambiental.

Deve-se, portanto, educar a comunidade, apresentando a importância de

práticas sustentáveis, bem como, os benefícios que a conservação desta área

pode trazer aos habitantes, pois estes, em boa parte, acreditam que o parque

tem como finalidade, apenas, tirar suas terras e impedir seus meios de

sobrevivência, quando, na realidade, é possível integrar sua cultura e seus

hábitos ao parque, de maneira sustentável.

8. Sugestão de AtividadeCom o advento da tecnologia e a proliferação do consumo, muitas

vezes, as noções de ética e cidadania são deixadas para trás. Tendo em vista

que as crianças são os principais agentes transformadores do que está por vir,

cabe a nós, futuros educadores, incentivá-las e dá-las artifícios para que o

comportamento e a mentalidade sejam modificadas.

O Ecoturismo é uma forma de abrir os olhos da sociedade para o

patrimônio natural, e desencadear novas reflexões acerca da preservação,

tendo em vista que as paisagens causam um enorme encantamento por forma

de seus visitantes, e isso não ocorre somente no Petar, mas em diversos

outros pontos de preservação visitados por pessoas diariamente.

Tendo em vista que muitos locais explorados pelo ecoturismo não são

de fácil acesso à estudantes do Ensino Fundamental, seja por questões

financeiras ou por qualquer outra impossibilidade, nosso grupo projetou uma

atividade de pesquisa para estudantes do Ensino Fundamental 2,

precisamente, alunos de quinto ao nono ano.

O projeto consiste na pesquisa dos alunos (por meio de vídeos, sites e

livros) de lugares explorados pelo ecoturismo, como é o caso do PETAR. Para

representar tais descobertas, os alunos poderão montar cartazes e

apresentações no Power Point, que poderão ser exibidas em sala de aula e até

mesmo em feiras culturais, com ilustrações e informações sobre os locais

descobertos, atentando-se principalmente à sua preservação ambiental.

Tal projeto objetiva incentivar os alunos à pesquisarem mais sobre os

patrimônios da natureza, divulgando-os em casa e com os conhecidos. Assim,

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é gerada uma maior comoção e conscientização, e até mesmo um interesse

por parte dos que participam do projeto.

9. ConclusãoConsideramos que se faz muito importante a complementação da

formação com aulas de campo, pois essa metodologia proporciona uma

experiência relacionada à observação, indagação, reflexão e investigação do

contexto histórico, geológico e dinâmico. Com a visita ao PETAR podemos

desenvolver a visão sistêmica, integrando os conteúdos de forma

interdisciplinar.

Essa saída de campo nos leva a uma observação do meio físico, como

tipos de rocha, escorregamentos, relevos cársticos, espeleologia, dentre outros

abordados, junto com os aspectos biológicos, relacionado à Mata Atlântica,

área de mananciais, fauna e os aspectos históricos, como a ocupação do Vale

do Ribeira.

Essa atividade nos leva a pensar em muitos aspectos: ambientais,

geológicos, históricos, sociais, políticos e econômicos, os quais podem ser e

são abordados nas diversas disciplinas durante a graduação em Geociências e

Educação Ambiental.

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