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1 Relatório do Grupo de Trabalho para a elaboração de um Programa nacional de deteção precoce e intervenções breves dirigido ao consumo excessivo de álcool e ao consumo de tabaco nos Cuidados de Saúde Primários 2015-2020 Relatório Subgrupo de Trabalho (tabaco) Trabalho realizado no âmbito do Despacho n.º 3802/2015, Diário da República n.º 74/2015, de Sua Excelência o Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde. julho de 2015

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1

Relatório do Grupo de Trabalho para a elaboração de um Programa

nacional de deteção precoce e intervenções breves dirigido ao

consumo excessivo de álcool e ao consumo de tabaco nos Cuidados

de Saúde Primários 2015-2020

Relatório Subgrupo de Trabalho (tabaco)

Trabalho realizado no âmbito do Despacho n.º 3802/2015,

Diário da República n.º 74/2015, de Sua Excelência o

Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde.

julho de 2015

2

Relatório do Subgrupo de Trabalho para a elaboração de um Programa nacional de

identificação precoce e intervenções breves dirigido ao consumo de tabaco nos Cuidados

de Saúde Primários

Coordenação

Prof.ª Doutora Cristina Maria Pires Ribeiro Gomes (Assessora do Gabinete do SEAMS)

Constituição do Subgrupo de Trabalho (Tabaco)

Prof.ª Doutora Emília Nunes (Diretora do Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do

Tabagismo (PNPCT /DGS) - relatora

Dr. Nuno Sousa (ACSS)

Eng.º Rui Gomes (SPMS)

Dra. Manuela Rolim (SPMS)

Dra. Leonor Murjal (Responsável Regional do PNPCT na ARS, I.P., Alentejo)

Prof. Doutor Luís Rebelo (Responsável Regional do PNPCT na ARS,I.P., LVT)

Dra. Maria Clara Garcia (Responsável Regional do PNPCT na ARS I.P., Algarve)

Dra. Maria Manuel Marques Açafrão (Responsável Regional do PNPCT na ARS I.P., Centro)

Dr. Sérgio Vinagre (Responsável Regional do PNPCT na ARS I.P., Norte)

3

Índice Pág.

Siglas e acrónimos 5

Índice de quadros 4

I. Introdução e fundamentação 6

1.1.Introdução 9

1.2.Fundamentação 11

1.3. Enquadramento legal e normativo. 14

1.4.Intervenção nos Cuidados de Saúde Primários: a identificação do consumo

de tabaco e as intervenções breves de apoio à cessação tabágica 21

II. Nota metodológica 33

III. Diagnóstico de situação 37

IV. Objetivos e eixos Estratégicos. 61

V. Medidas a promover e processo de implementação 65

VI. Governação e estrutura executiva para CSP 77

VII. Conclusões e Recomendações 81

VIII. Resumo das propostas do GT e Plano de ação com cronograma 85

IX. Reflexões finais 93

4

Índice de quadros Pág.

Quadro n.º 1. Meta-análise (2000): eficácia e taxas de abstinência estimadas para

vários níveis de intensidade do aconselhamento por sessão 28

Quadro n.º 2. Estimativas das taxas de abstinência avaliadas às 52 semanas,

observadas em Inglaterra, no contexto do Serviço Nacional de saúde (NHS) 29

Quadro n.º 3. Percentagem de fumadores e ex-fumadores na população> 15 anos,

ambos os sexos, em Portugal Continental e por região de residência (INS

2005/2006) 40

Quadro n.º 4. Percentagem de fumadores na população dos 15 -64 anos, ambos

os sexos, em Portugal Continental e por região de residência (2012) 41

Quadro n.º 5. Utentes inscritos e utilização de consultas médicas 44

Quadro n.º 6. Estimativas dos utentes fumadores inscritos ≥15 anos nos CSP, com

idade ≥15 anos – Continente e ARS I.P. 45

Quadro n.º 7. Estimativas da prevalência de fumadores em Portugal Continental e

tentativas de apoio na cessação tabágica 46

Quadro n.º 8. Resultados de indicadores sobre tabaco em monitorização nos CSP

portugueses, referentes ao mês de dezembro de 2014, incluindo a evolução

temporal nos últimos 4 anos 48

Quadro n.º 9. Formações em tabagismo realizadas na ARS Norte por tema,

destinatários, número de formandos e horas de formação 49

Quadro n.º 10. Formações em tabagismo realizadas na ARS,I.P. Norte, 2006/2015 51

Quadro n.º 11. Quadro Formações em Tabagismo realizadas na ARS LVT,

2013/2015 52

Quadro n.º 12. ARS Algarve – Médicos dos Cuidados de Saúde Primários, do

quadro de pessoal, com Formação em Intervenções Breves, e em Apoio Intensivo

à Cessação Tabágica 53

5

Siglas e acrónimos

ACES – Agrupamento de Centros de Saúde

ACSS – Administração Central do Sistema de Saúde

ARS, I.P. – Administração Regional de Saúde, Instituto Público

CAD – Comportamentos Aditivos e Dependências

CSP – Cuidados de Saúde Primários

DGS – Direção-Geral da Saúde

DSPPS – Direção de Serviços de Promoção e Proteção da Saúde

LVT – Lisboa e vale do Tejo

MPOWER – Monitor Tobacco use and prevention policies; Protect people from tobacco smoke; Offer

help to quit tobacco use; Warm about the dangers of tobacco; Enforce bans on tobacco advertising

promotion and sponsorship; Raise taxes on tobacco

MS – Ministério da Saúde

OMS – Organização Mundial da Saúde

PNPCT – Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo

PNS – Plano Nacional de Saúde

SPMS - Serviços Partilhados do Ministério da Saúde

SAM – Sistema de Apoio Médico

SAPE – Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem

SICAD – Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências

SNS – Serviço Nacional de Saúde

UCC – Unidade de Cuidados na Comunidade

UE – União Europeia

ULS – Unidade Local de Saúde

USF – Unidade de Saúde familiar

USP – Unidade de Saúde Pública

6

7

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO

8

9

1.1. Introdução

O presente relatório pretende apresentar o trabalho desenvolvido pelo Grupo de Trabalho

constituído através do Despacho n.º 3802/2015 - Diário da República n.º 74/2015 de Sua

Excelência o Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde, com o objetivo de proceder ao

desenvolvimento de um conjunto de medidas relativas à implementação, nos Cuidados de Saúde

Primários (CSP), de um programa nacional de deteção precoce e intervenções breves dirigido ao

consumo excessivo de álcool e ao consumo de tabaco.

A estrutura do presente relatório está dividida em capítulos. Para além da presente introdução e

fundamentação, pode-se encontrar uma nota metodológica, os objetivos e eixos estratégicos que

estão de acordo com o definido no Despacho, a identificação das medidas a propor, a conclusão e

recomendações assim como um resumo do que de essencial deverá ser previsto no Programa com

um Plano de Ação sumário com cronograma.

Dadas as especificidades de abordagem em CSP do álcool e do tabaco, cada um destes

subtemas será apresentado de modo individualizado, embora seguindo uma estrutura de

apresentação semelhante.

A introdução e fundamentação no capítulo I pretende descrever de forma sucinta a justificação

deste programa à luz da evidência e do enquadramento legal e normativo vigente.

No capítulo II, relativo à nota metodológica, são descritas as principais etapas que deverão ser

desenvolvidas ao longo do trabalho e que permitiram contribuir para o alcance dos objetivos

definidos no Despacho n.º 3802/2015.

Por sua vez, no capítulo III descreve-se sumariamente a situação atual em Portugal, sendo este

composto por duas áreas complementares, nomeadamente no que concerne ao consumo do álcool

e tabaco, já que existem percursos diferentes em termos de atuação e relativamente aos quais

10

pretendemos também fazer rentabilizar recursos e procedimentos em relação a esta matéria da

detecção e intervenções breves, assim como suplantar alguns obstáculos na sua disseminação.

No capítulo IV definem–se os objectivos e eixos estratégicos que vão ao encontro dos principais

objectivos que foram definidos no despacho e das áreas a desenvolver e implementar.

No capítulo V são apresentadas as medidas de promoção de detecção precoce e intervenções

breves no álcool e tabaco e integração de algumas vertentes da prestação de cuidados de saúde

nesta área. Estas encontram-se estruturadas em resposta às necessidades neste âmbito

identificadas pelo Grupo.

Nos capítulos VI, VII e VIII deste trabalho, apresentamos ainda o modo de governação e estrutura

de execução, o resumo das propostas com um plano de ação sumário, com cronograma de

execução temporal até 2020.

Terminamos o relatório com algumas reflexões finais e anexos que correspondem a alguns

documentos chave necessários para a implementação desta proposta de Programa agora

apresentada pelo Grupo de Trabalho.

11

1.2. Fundamentação

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o tabagismo assume contornos pandémicos,

contribuindo para seis das oito principais causas de morte verificadas anualmente em todo o

mundo (WHO, 2008). Fumar é causa ou fator de agravamento das doenças não transmissíveis

mais prevalentes, em particular do cancro, das doenças respiratórias, das doenças cérebro e

cardiovasculares e da diabetes, para além de outros efeitos nocivos, nomeadamente a nível da

saúde sexual e reprodutiva e da mortalidade fetal e peri-natal. Fumar diminui a função imunitária,

agravando o risco de tuberculose e de infeções pulmonares (WHO; 20081; US Department of

Health and Human Services, 20142).

Na União Europeia morrem anualmente cerca de 700 000 pessoas devido ao consumo de tabaco,

das quais cerca de 19 000 devido à exposição ao fumo ambiental.

Em Portugal, o consumo de tabaco assume um lugar cimeiro entre as causas evitáveis de doença,

incapacidade e mortalidade prematura.

De acordo com as estimativas efetuadas no âmbito da iniciativa Global Burden of Disease3, em

2010, o consumo de tabaco em Portugal foi responsável por cerca de 11000 óbitos, dos quais 2348

por doenças respiratórias (19,9% do total de óbitos por esta causa), 4643 por cancro (18,6% do

total de óbitos por esta causa) e 3777 por doenças do aparelho cardiovascular (11,2% do total de

óbitos por esta causa) (DGS, 2014) 1.

1 World Health Organization. Report on the global tobacco epidemic. The MPOWER package. Geneva: World

Health Organization, 2008.

2 US Department of Health and Human Services. The health consequences of smoking: 50 years of Progress.

A Report of the Surgeon General. Atlanta, GA: U.S. Department of Health and Human Services, Centers for

Disease Control and Prevention, National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion,Office

on Smoking and Health, 2014.

3 Institute for Health Metrics and Evaluation. Global Burden of Disease (GBD 2010). IHME, University of

Washington, 2013. Consult. 1 out. 2014. Disponível em: http://vizhub.healthdata.org/gbd-compare/ in: DGS.

Portugal. Prevenção e controlo do tabagismo em números 2014.

12

No sexo masculino, fumar é a segunda causa, a seguir aos riscos alimentares, de perda de anos

de vida saudável, expressos em DALY. No sexo feminino, que tem apresentado consumos de

tabaco inferiores aos do sexo masculino, fumar constitui a 7.ª causa de perda de anos de vida

saudável, a seguir aos riscos alimentares, hipertensão, obesidade, sedentarismo, intolerância à

glicose, e uso de álcool (DGS,2014) 1. De notar, contudo, que o tabaco, ao contrário de outros

fatores de risco, é totalmente evitável.

Devido ao tempo de latência entre o início do consumo e o aparecimento das doenças que dele

decorrem, parar de fumar é a única medida que permitirá reduzir a incidência de doenças crónicas

associadas ao tabagismo nos próximos vinte a trinta anos. Assim, embora a prevenção da

iniciação do consumo nos jovens constitua uma prioridade, há necessidade, em simultâneo, de

reforçar as estratégias de promoção da cessação tabágica, como via para reduzir a prevalência de

fumadores nos próximos trinta anos. Conforme afirmado por Prabhat, Phil e Peto (2014): “cessation

is the only practicable way to avoid a substantial proportion of tobacco-attributable deaths before

2050, because a substantial reduction by 2025 in uptake by adolescents will have its main effect on

mortality only after 2050.”4

Parar de fumar tem sempre benefícios, imediatos e a longo prazo, em ambos os sexos, em todas

as idades, em pessoas com ou sem doenças relacionadas com o consumo de tabaco. Contudo os

ganhos são tanto maiores, quanto mais cedo se verificar a abstinência definitiva. Nesse sentido, o

investimento na cessação tabágica junto das pessoas fumadoras mais jovens, antes de as

doenças crónicas associadas ao tabaco se terem desencadeado é de extrema importância.

4 Prabhat J, Phil D, Peto R. Global effects of smoking, of quitting and of taxing tobacco, N Engl J Med 370

(2014) 60-68.

13

Oferecer ajuda na cessação tabágica é uma das seis medidas efetivas preconizadas pela OMS, no

âmbito da Convenção Quadro para o Controlo do Tabaco e da estratégia MPOWER5, (Monitor

tobacco use and prevention policies; Protect people from tobacco smoke; Offer help to quit tobacco

use; Warm about the dangers of tobacco; Enforce bans on tobacco advertising, promotion and

sponsorship; Raise Taxes on Tobacco), para controlar a “epidemia” do tabagismo nos próximos

anos (WHO, 2008).

De acordo com as linhas diretrizes para implementação do artigo 14.º desta Convenção Quadro6,

relativo à promoção da cessação tabágica, as Partes devem promover o desenvolvimento de uma

infraestrutura nacional sustentada que possibilite, a todas as pessoas fumadoras, um amplo

acesso a serviços de apoio no tratamento desta dependência. Este apoio deve incluir:

­ Abordagens populacionais, entre as quais a intervenção breve, que deve estar presente

em todos os níveis de prestação de cuidados de saúde;

­ Abordagens intensivas, através do tratamento especializado nesta área;

­ Tratamento farmacológico da dependência;

­ Utilização dos novos recursos tecnológicos de comunicação, designadamente linhas de

apoio telefónico ou programas de envio de mensagens escritas de apoio à cessação

tabágica, em aplicações para a Internet ou telemóveis (World Health Organization, 2013).

­ Desenvolvimento de ações de educação para a saúde, de informação sobre os riscos e de

promoção da cessação tabágica junto da população.

5 World Health Organization. Report on the global tobacco epidemic. The MPOWER package. Geneva: World

Health Organization, 2008.

6 World Health Organization. Framework Convention on Tobacco Control: guidelines for implementation Article

14. (Demand reduction measures concerning tobacco dependence and cessation), 2014. Disponível em:

http://www.who.int/fctc/guidelines/adopted/article_14/en/

14

1.3. Enquadramento legal e normativo

1.3.1. Enquadramento legal

A Lei nº. 37/2007, de 14 de agosto, aprova normas para a proteção dos cidadãos da exposição

involuntária ao fumo do tabaco e medidas de redução da procura relacionadas com a dependência

e a cessação do seu consumo. Criada à luz da organização dos CSP existente à época, determina,

no seu artigo 21.º, a existência de consultas especializadas de apoio aos fumadores que

pretendem deixar de fumar, ou o estabelecimento de protocolos de articulação com este tipo de

consultas, sempre que não seja possível ou pertinente a sua criação, em todos os Centros de

Saúde, em serviços hospitalares públicos, em particular nas áreas da cardiologia, pneumologia,

psiquiatria, oncologia, obstetrícia e em centros de atendimento de alcoolismo e outras

dependências.

O Decreto Regulamentar nº 14/2012 de 26 de janeiro, estabelece o modelo organizativo e as

atribuições da Direção-Geral da Saúde. Este Decreto Regulamentar define a missão da DGS,

reforçando as suas atribuições em algumas áreas, nomeadamente, em matéria de planeamento

estratégico, de avaliação e execução das políticas e programas do Ministério da Saúde e de

monitorização e avaliação da qualidade e acessibilidade aos cuidados de saúde prestados. Nesse

sentido, cabe-lhe assegurar a elaboração e a execução do Plano Nacional de Saúde, no âmbito do

qual se integram os Programas Prioritários de Saúde, e promover a procura de ganhos em saúde,

assegurando a melhor articulação entre os diversos serviços e organismos.

O despacho n.º 404/2012, de 3 de janeiro, do Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde,

publicado no Diário da República, 2.a serie, n.º 10, de 13 de janeiro de 2012, cria o Programa

Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo (PNPCT).

A Portaria n.º 45/2015, de 20 de fevereiro, publicada no DR , 1.ª série, n.º 36, de 20 de fevereiro,

atualiza o Programa de formação da área de especialização de Medicina Geral e Familiar,

15

estabelecendo, nos objetivos gerais de conhecimentos relativos ao Estágio de MGF 2, conforme

ponto 4.2.2 , alínea b), o seguinte: “b) Dominar os conhecimentos necessários à promoção de

saúde, negociando a modificação de estilos de vida, fazendo a deteção precoce de hábitos

prejudiciais para a saúde (como tabaco e consumo nocivo de álcool) e saber realizar uma

intervenção breve”. Esta Portaria estabelece ainda, no Estágio de Saúde Mental, como objetivos

gerais de desempenho: “a) Diagnosticar, saber tratar e ou saber referenciar os problemas mentais

e de dependência mais frequentes (incluindo tabaco e consumo de álcool)”.

O despacho n.º 3802/2015, de 25 de março, do Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde,

publicado no Diário da República, 2.a serie, n.º 74, de 16 de abril de 2015, cria um Grupo de

Trabalho para o desenvolvimento de um conjunto de medidas relativas à implementação de um

programa de deteção precoce e intervenções breves dirigido ao consumo excessivo de álcool e ao

consumo de tabaco, nos CSP, a nível nacional.

O Decreto-Lei n.º 22/2012, de 30 de janeiro, reestrutura o modelo de funcionamento das

Administrações Regionais de Saúde (ARS, I.P.), sendo-lhes atribuída a missão de “… garantir à

população da respectiva área geográfica de intervenção o acesso à prestação de cuidados de

saúde, adequando os recursos disponíveis às necessidades e cumprir e fazer cumprir políticas e

programas de saúde na sua área de intervenção.” Para o cumprimento da sua missão as ARS, I.P.,

têm, entre outras, as seguintes atribuições:

“Executar a política nacional de saúde, de acordo com as políticas globais e sectoriais,

visando o seu ordenamento racional e a optimização dos recursos”;

“Colaborar na elaboração do Plano Nacional de Saúde e acompanhar a respectiva

execução a nível regional”;

16

“Assegurar a execução dos programas de intervenção local com vista à redução do

consumo de substâncias psicoactivas, a prevenção dos comportamentos aditivos e a

diminuição das dependências”;

“Assegurar a adequada articulação entre os serviços prestadores de cuidados de saúde de

modo a garantir o cumprimento da rede de referenciação”.

O Decreto-Lei nº. 28/2008, de 22 de fevereiro, alterado e republicado pelo Decreto-lei n.º 253/2012

de 27 de novembro, estabelece o regime de criação, estruturação e funcionamento dos

Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) do Serviço Nacional de Saúde. Este Decreto-Lei

introduziu um novo conceito de funcionamento das estruturas de prestação de cuidados de saúde

primários, tendo por base a junção dos centros de saúde em agrupamentos, sob uma mesma

unidade de gestão, e a criação de diferentes unidades funcionais flexíveis, tendo em vista

privilegiar o acesso dos cidadãos a estes cuidados, o envolvimento dos profissionais, a melhoria da

qualidade dos cuidados e a obtenção de maiores ganhos de custo-efetividade e de saúde.

Os ACES têm por missão garantir a prestação de cuidados de saúde primários à população de

uma determinada área geográfica.

O Decreto-Lei n.º 298/2007, de 22 de Agosto, estabelece o regime jurídico das Unidades de Saúde

Familiar (USF), e a Portaria n.º 1368/2007 de 18 de Outubro, aprova a carteira básica, e os

princípios da carteira adicional de serviços, destas Unidades.

De notar que o acompanhamento dos utentes fumadores, bem como a promoção de

comportamentos saudáveis durante a gravidez e outras fases do ciclo de vida constam da carteira

básica de serviços das Unidades de Saúde Familiar, pelo que o apoio na cessação tabágica dos

utentes fumadores, com base em intervenções breves, integra o campo de atribuições destas

Unidades.

17

As carteiras adicionais de serviços constituem uma opção organizativa a equacionar, no que se

refere ao apoio intensivo à cessação tabágica.

O Decreto-Lei n.º 207/99, de 9 de Junho, criou a primeira Unidade Local de Saúde (ULS). Foram

posteriormente criadas, através do Decreto--Lei n.º 50-B/2007, de 28 de fevereiro, a ULS do Norte

Alentejano, E. P. E.; do Decreto–Lei n.º 183/2008, de 4 de Setembro, posteriormente alterado pelo

Decreto-Lei n.º 12/2009, de 12 de Janeiro, as ULS do Alto Minho, Baixo Alentejo e da Guarda; pelo

Decreto-Lei n.º 318/2009, de 2 de Novembro, a ULS de Castelo Branco, E. P. E.; pelo Decreto-lei

n.º 67/2011 de 2 de Junho, a ULS do Nordeste e pelo Decreto-Lei n.º 238/2012, a ULS do Litoral

Alentejano. Com a criação destas Unidades Locais de Saúde pretendeu-se otimizar a resposta dos

serviços através de uma gestão integrada e de uma melhor articulação entre as diversas

instituições de saúde existentes na mesma área geográfica

1.3.2. Enquadramento normativo

A prevenção e o tratamento do tabagismo encontram-se enquadrados pelos seguintes normativos da

DGS:

­ A Circular Normativa nº 26/DSPPS, (Direção de Serviços de Promoção e Proteção da Saúde)

de 28 de dezembro de 2007, que aprova o “Programa-tipo de atuação em Cessação Tabágica”

da DGS.

­ A Informação DGS n.º 07/2013, de 3 de julho, que define orientações para a implementação de

iniciativas de prevenção e controlo do tabagismo de âmbito populacional.

Dada a necessidade de integrar a prevenção e o tratamento do tabagismo no contexto da

intervenção relativa a outras áreas e problemas de saúde, a DGS integrou esta temática no

Programa Nacional de Saúde Infantil e Juvenil, no Programa de Vigilância para a Gravidez de

Baixo Risco e no Processo Assistencial Integrado do Risco Vascular no Adulto. O tabagismo é

18

também de abordagem obrigatória no tratamento dos doentes com doença respiratória crónica ou

com diabetes.

De acordo com o “Programa-tipo de atuação em Cessação Tabágica” da DGS (Direção-Geral de

Saúde, 2007), o apoio aos utentes fumadores, para que cessem de fumar, deve assentar numa

abordagem motivacional, em função de dois tipos de intervenção:

Intervenção breve, ou muito breve, a realizar de modo oportunista, aproveitando todas as

oportunidades de contacto com os pacientes, tendo por base os modelos, 5As ou 5Rs que

mais adiante se descrevem.

A intervenção breve permite a identificação dos utentes fumadores com situações de

dependência mais complexas, que necessitam de apoio intensivo para cessarem com êxito

este consumo. Estima-se que muitos fumadores são renitentes à decisão de parar de

fumar, sendo dificilmente abordáveis através de uma intervenção breve. Macintosh e

Coleman (2006), num estudo efetuado em médicos de família no Reino Unido, observaram

uma prevalência de 16% de fumadores renitentes à cessação tabágica.7 Não existem

dados nacionais nesta matéria.

Intervenção de apoio intensivo, traduzida por uma abordagem mais aprofundada, a realizar

ao longo de várias sessões, por uma equipa de profissionais habilitados e treinados, numa

consulta especificamente programada para o efeito - consulta de cessação tabágica.

7 Macintosh H, Coleman T: Characteristics and prevalence of hardcore smokers attending UK general

practitioners. BMC Family Practice. 7:24 (2006) 1-5.

19

Todos os fumadores que o desejem podem ser atendidos numa consulta de apoio

intensivo, contudo, a eficiência deste tipo de consulta será maior se forem utilizados

critérios de acesso prioritário.

Deverão ter acesso prioritário a estas consultas todos os fumadores que se encontrem

motivados para mudar o seu comportamento, que não tenham cessado o consumo após

tentativa apoiada por intervenção breve ou que apresentem uma dependência elevada à

nicotina, associada a determinados critérios clínicos.

São critérios de motivação e de dependência os seguintes:

1. Fumador em fase de preparação/ação, ou seja, que encare seriamente deixar de

fumar nos 30 dias seguintes;

2. Fumador que fume o 1.º cigarro nos primeiros 30 minutos após acordar;

3. Fumador que consuma 20 ou mais cigarros por dia;

4. Fumador que em tentativa anterior, mesmo com tratamento farmacológico

adequado, não conseguiu manter-se sem fumar e registou síndrome de privação

intensa;

5. Fumador que, após ter parado de fumar, apresente uma síndrome de privação

intensa.

Devem também ser referenciados para uma consulta deste tipo todos os fumadores que

apresentem determinadas patologias ou critérios clínicos:

6. Fumadores com patologias relacionadas com o tabaco, em particular a Doença

Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) e tumor do pulmão;

7. Fumadores com cardiopatia isquémica, arritmias cardíacas ou hipertensão arterial

não controladas;

8. Fumadores com outros comportamentos aditivos e dependências (álcool,

substâncias psicoativas ilícitas, cafeísmo, jogo compulsivo, etc.);

9. Fumadores com doença psiquiátrica;

10. Fumadoras grávidas ou em período de amamentação e mulheres em planeamento

familiar que não respondam a abordagens do tipo “intervenção breve”.

20

Em complemento das intervenções orientadas para a prestação de cuidados de saúde de apoio à

cessação tabágica, é necessário promover ativamente a procura deste tipo de cuidados, em

particular por parte dos fumadores mais jovens e das mulheres grávidas, através de ações centradas

na comunidade.

Neste sentido, as orientações para a implementação de iniciativas de prevenção e controlo do

tabagismo de âmbito populacional, conforme Informação DGS n.º 07/2013, de 3 de julho, constituem

uma referência para a realização de projetos e iniciativas que visem a prevenção primária do

tabagismo e a sensibilização das pessoas fumadoras para que procurem apoio para deixarem de

fumar, junto dos serviços de saúde.

De acordo com estas orientações, a realização de ações contextualizadas, programadas e

continuadas, deve ser privilegiada, em detrimento de ações pontuais, assentes exclusivamente na

disponibilização de informação. Qualquer intervenção, neste âmbito, deve estar bem fundamentada

em evidência científica e ser culturalmente adaptada, realçando as vantagens que poderão ser

obtidas com a mudança de comportamento face ao consumo de tabaco. A participação das

pessoas e a apropriação dos projetos de intervenção por parte de todos os envolvidos é uma

condição essencial para garantir a sua efetividade. Neste sentido, devem apoiar-se as dinâmicas e

movimentos associativos locais no domínio da prevenção e controlo do tabagismo e o trabalho em

parceria com outros sectores.

As iniciativas de prevenção do tabagismo centradas na comunidade devem prever o aumento na

procura de tratamento, o que impõe uma adequada programação e organização das respostas

necessárias a nível dos serviços de saúde.

Os profissionais envolvidos no desenvolvimento de atividades de educação para a saúde, de

comunicação e de formação, devem abster-se de fumar, dado constituírem modelos significativos

(role-models) para a população. O uso de tabaco em público, pelos profissionais de saúde, retira

21

credibilidade e efetividade às mensagens preventivas e contribui para reforçar a aceitabilidade

social do consumo.

1.4. Intervenção nos CSP: a identificação do consumo de tabaco e as intervenções breves

de apoio à cessação tabágica

O tabagismo é hoje considerado como uma doença cerebral crónica, sujeita a recidivas, pelo que o

seu tratamento deve ser perspetivado a longo prazo, como acontece com o tratamento de outras

doenças crónicas, como a hipertensão ou a diabetes.

Muitas pessoas não estão devidamente conscientes do risco de fumar. Embora saibam que “fumar

mata” não têm uma perceção do risco que as motive a deixar de fumar. Assim, muitos fumadores

nunca fizeram qualquer tentativa para parar de fumar, nem têm intenção de o fazer num futuro

próximo.

Por outro lado, a generalidade das pessoas fumadoras faz várias tentativas para deixar de fumar

ao longo da vida, até à abstinência duradoura e definitiva8. Segundo Hughes, Kelly e Naud (2003),

apenas 3 a 5% das pessoas fumadoras que param de fumar, sem qualquer apoio, se mantêm

abstinentes decorrido um ano após a cessação9.

De acordo com as recomendações baseadas em evidência, o sucesso do tratamento do tabagismo

depende de vários fatores, alguns decorrentes das características individuais de cada pessoa

fumadora, do grau de dependência, do grau de motivação e do grau de prontidão para a mudança;

outros decorrem da intervenção dos profissionais de saúde, em particular do modelo de

8 Fiore et al. – Treating tobacco use and dependence: 2008 update: clinical practice guideline. Rockville, MD:

Public Health Service. U.S. Department of Health and Human Services, 2008.

http://bphc.hrsa.gov/buckets/treatingtobacco.pdf

9 Hughes, Keely J, Naud S. Shape of the relapse curve and long-term abstinence among untreated smokers.

Addiction,99 (2004) 29–38.

22

abordagem adotado, do estilo de comunicação na aplicação desse modelo, do tempo dedicado a

essa intervenção e do uso ou não de terapêutica farmacológica.

O modelo consensualmente proposto, quer pela OMS, quer por outras entidades de referência,

para o tratamento do tabagismo a nível dos CSP assenta na realização de intervenções breves,

segundo o designado modelo dos 5As para fumadores motivados, ou dos 5Rs, para fumadores

não motivados, tendo por base um estilo de comunicação motivacional (Fiore et al., 2008; World

Health Organization, 2013)10

A intervenção breve, visando ajudar a pessoa fumadora a parar de fumar, baseia-se numa

abordagem que contempla a avaliação do consumo de tabaco e da motivação para parar, bem

como as estratégias que poderão ser adotadas para uma mudança de comportamento.

Este tipo de intervenção prevê o cumprimento de cinco passos, correspondendo ao acrónimo “5As”

(adaptado de Fiore et al., 2008):

1º A – (A)bordar hábitos: abordar e identificar de modo oportunista todos os fumadores;

2º A – (A)conselhar a parar: aconselhar todos os fumadores a parar;

3º A – (A)valiar a motivação: avaliar o interesse em parar no mês seguinte ou nos 6 meses

seguintes.

4º A - (A)judar na tentativa: para aqueles que estão preparados para abandonar o tabaco.

Pode incluir marcação do dia D e prescrição farmacológica.

5º A – (A)companhar: programar o seguimento após o dia D.

10 World Health Organization. Strengthening health systems for treating tobacco dependence in primary care.

Part III: Training for primary care providers: Brief tobacco interventions. Building capacity for tobacco control:

training package 4. Geneva, World Health Organization, 2013.

23

Perante fumadores resistentes ou ambivalentes, o profissional deve recorrer a uma abordagem

motivacional, mostrando empatia, utilizando perguntas abertas e uma atitude de escuta reflexiva,

de modo a evitar situações de oposição e de confronto direto, num processo interativo que crie

condições para que o paciente fumador tome consciência não só das suas ambivalências, mas

também das suas capacidades e necessidades para empreender a mudança.

No caso de o fumador se mostrar pouco motivado ou recetivo à ideia de parar de fumar, o

profissional de saúde pode tentar reforçar a sua motivação mediante uma abordagem motivacional

breve, estruturada em função do acrónimo “5Rs”.

1.º R – (R)elevância dos benefícios;

2.º R – (R)iscos em continuar;

3.º R – (R)ecompensas;

4.º R – (R)esistências;

5.º R – (R)epetição.

Trata-se de uma intervenção que demora, em média, entre 3 a 10 minutos.

Se o profissional não dispuser do tempo necessário para realizar integralmente as tarefas atrás

descritas, poderá realizar uma intervenção muito breve, centrada em apenas 3 tarefas:

1º A – (A)bordar - perguntar se o paciente fuma atualmente ou já fumou e registar essa

informação.

2º A – (A)conselhar a parar - no caso de ser fumador, informar sobre a importância da cessação

tabágica e da existência de apoios disponíveis.

3º A – (A)judar/ referenciar – perguntar ao utente se está interessado em ser apoiado a parar de

fumar. Em caso afirmativo marcar ou encaminhar para uma consulta de cessação tabágica.

24

De notar que, numa abordagem mínima ou muito breve, não é necessário realizar algumas tarefas,

como perguntar sobre a quantidade de cigarros fumados, há quanto tempo fuma, se a pessoa quer

parar de fumar ou qual o estádio de mudança ou o grau de motivação para parar. Estas tarefas são

deixadas para a consulta de apoio intensivo (Aveyard et al.,201211; 2012, World Health

Organization, 2013 10.

A intervenção muito breve pode ser realizada por qualquer profissional de saúde, mesmo por

aqueles sem formação específica em cessação tabágica. É também uma boa opção, sempre que o

tempo de consulta disponível para a abordagem deste assunto é limitado. A ênfase é colocada na

identificação do consumo e na oferta de apoio, com encaminhamento, caso o utente o deseje.

Alguns utentes podem não querer ser referenciados e preferir o apoio do seu médico de família, ou

do seu médico assistente. Nessa circunstância, caso o utente se encontre motivado, deverá ser

marcada uma consulta de seguimento para esse efeito.

Trata-se de uma intervenção que demora, em média, menos de 3 minutos.

Conforme refere a OMS, as intervenções breves para o tratamento do tabagismo não se destinam

a pessoas fumadoras com elevada dependência. O seu objetivo primordial consiste em ajudar os

fumadores a compreender os riscos e os benefícios de parar de fumar e de os motivar para a

realização de uma tentativa de abandono do consumo. A intervenção breve também serve para

motivar os fumadores muito dependentes a procurarem apoio numa consulta especializada de

apoio intensivo à cessação tabágica (World Health Organization, 2013) 10.

Mais de dois terços da população Portuguesa contactam todos os anos com os serviços de saúde,

o que oferece uma ótima oportunidade para a identificação do consumo de tabaco e consequente

intervenção.

11 Aveyard P, Begh R, Parsons A, West, R. (2012), Brief opportunistic smoking cessation interventions: a

systematic review and meta-analysis to compare advice to quit and offer of assistance. Addiction. doi:

10.1111/j.1360-0443.2011.03770.

25

Ainda que não existam diferenças significativas, em matéria de tratamento do tabagismo, nos

cuidados de saúde primários, nos hospitais ou nos serviços especializados em comportamentos

aditivos e dependências (CAD), a especificidade das situações clínicas e das comorbilidades que

os respetivos utentes apresentam implica que a abordagem do tabagismo seja equacionada, de

modo diferenciado, em cada um destes contextos.

Os CSP representam, pelas características da sua atividade, um local privilegiado para a

identificação, caracterização e intervenção na prevenção e tratamento do consumo de tabaco.

A estrutura dos ACES e ULS e respetivas unidades funcionais, possibilita uma intervenção

multidisciplinar, numa área geodemográfica bem definida. A proximidade da população assegura

um melhor conhecimento das pessoas, das famílias e do seu contexto sociocultural e económico.

Por outro lado, o conhecimento da comunidade e dos seus recursos possibilita uma melhor

articulação com diferentes agentes e atores sociais, que podem constituir uma mais-valia para o

desenvolvimento de programas e projetos de âmbito populacional, promotores de um clima social

favorável ao não tabagismo.

A nível da abordagem individual, a intervenção breve ou muito breve deve acompanhar a

identificação e o registo do consumo de tabaco, devendo ser realizada de modo oportunista por

todos os profissionais de saúde, em especial os médicos de família e enfermeiros, tendo por base

as tarefas preconizadas no modelo dos “5As” (para pacientes motivados), ou dos “5Rs” (para

pacientes não motivados). Os profissionais têm igualmente de conhecer os recursos disponíveis

para a intervenção intensiva, no respetivo ACES ou ULS, bem como os procedimentos de

referenciação necessários para encaminhar os utentes que apresentem indicações para tal.

As consultas de intervenção intensiva para a cessação tabágica devem existir em todos os ACES e

ULS, tendo por base uma equipa multidisciplinar, preparada para esta intervenção e com

condições de funcionamento em termos de espaço e equipamento. Estas equipas devem assumir

o tratamento das situações de tabagismo mais complexas, bem como a sensibilização e a

26

formação dos restantes profissionais de saúde, do respetivo ACES, para a intervenção nesta área.

A acessibilidade às consultas de apoio intensivo em termos de proximidade geográfica, de

transportes e de horários, é fundamental para o êxito das Intervenções breves. É de sublinhar a

importância dos horários pós-laborais, indispensáveis para os utentes que só podem comparecer

às consultas previstas no programa de apoio intensivo, se estas ocorrerem fora do horário de

trabalho.

As consultas de apoio intensivo devem constituir um recurso partilhado das unidades que para elas

referenciam e como tal devem ser geridas, a nível de cada ARS I.P., pelo ACES/ULS.

No que concerne aos Centros de Respostas Integradas (CRI), às Unidades de Alcoologia e de

Desabituação, às Comunidades Terapêuticas e a outros serviços especializados em CAD, é de

notar que estes acolhem uma população com prevalências do consumo de tabaco habitualmente

superiores às encontradas na população em geral. Por outro lado, o consumo de tabaco em

simultâneo com o uso de outras substâncias, como por exemplo o álcool ou a canábis, pode

potenciar as consequências nocivas associadas a cada uma destas substâncias.

Os utentes destes serviços, apesar de nem sempre se encontrarem motivados para parar de

fumar, devem receber aconselhamento breve, igualmente com a metodologia dos 5 AS e 5 Rs, e

dispor da possibilidade de serem apoiados a parar de fumar caso o desejem, conforme previsto na

Rede de referenciação /articulação no âmbito dos CAD.

A Rede de Referenciação no âmbito da prestação de cuidados de saúde em cessação tabágica,

integrando as formas de referenciação para as consultas de apoio intensivo, a aprovar a nível de

cada ARS e de cada ACES, deve, assim, ser implementada urgentemente, pois constitui uma

condição de resposta essencial e imprescindível a muitas das situações identificadas através das

Intervenções breves, por parte dos médicos de família e dos enfermeiros dos CSP.

Para permitir a implementação da rede de referenciação em cada ACES/ULS e aproveitar a

27

formação em cessação tabágica já realizada é necessário definir a forma de contratualizar o tempo

de trabalho dos profissionais para realização destas consultas, dentro ou fora do horário normal de

trabalho.

1.4.1. Efetividade e impacte populacional das intervenções breves em CSP

Em termos populacionais existem duas abordagens para aumentar o número de pessoas que

param de fumar definitivamente: aumentar as taxas de sucesso das tentativas e/ou aumentar o

número de pessoas que anualmente fazem uma tentativa para parar.

O impacto populacional de um Programa de intervenções breves depende assim do número de

pessoas abrangidas, do grau de efetividade das intervenções e do custo médio de tratamento de

cada utente (World Health Organization, 2013).

As intervenções breves para tratamento do tabagismo a nível dos cuidados de saúde primários

tomam apenas alguns minutos de consulta, permitem abranger potencialmente cerca de dois

terços das pessoas fumadoras na população e aumentar as taxas de sucesso, medidas aos 12

meses, em 1 a 3% (Stead et al., 201312; World Health Organization, 2013). Apresentam assim uma

excelente relação custo-efetividade. Por este motivo, o tratamento do tabagismo tem sido

reconhecido como um “gold standard” das atividades preventivas (Fiore et al., 2008).

A intensidade do tratamento, em termos do número e do tempo de duração das sessões, está

associada ao sucesso do abandono. Segundo Fiore e outros (2008), tratamentos mais intensivos,

com quatro ou mais episódios de consulta, com uma duração de 10 ou mais minutos, aumentam as

taxas de abstinência, conforme se observa no quadro 1.

12 Stead LF, Buitrago D, Preciado N, Sanchez G, Hartmann-Boyce J, Lancaster T. Physician advice for

smoking cessation. Cochrane Database of Systematic Reviews 2013, Issue 5. Art. No.: CD000165. DOI:

10.1002/14651858.CD000165.pub4. http://www.update-software.com/pdf/CD000165.pdf

28

Quadro 1 . Meta-análise (2000): eficácia e taxas de abstinência estimadas para vários níveis de intensidade

do aconselhamento por sessão (n = 43 estudos)*.

Nível de contacto Número de

braços

Odds ratios

estimados (IC 95% )

Taxa de abstinência

estimada (IC 95% )

Sem contacto 30 1.0 10.9

Aconselhamento muito breve (<3 minutos) 19 1.3 (1.01-1.6) 13.4 (10.9-16.1)

Aconselhamento breve (3-10 minutos) 16 1.6 (1.2-2.0) 16.0 (12.8-19.2)

Aconselhamento intensivo (>10 minutos) 55 2.3 (2.0-2.7) 22.1 (19.4-24.7)

+ Avaliação aos 6 meses . Fonte: Fiore et al., 2008, página 84.

A prescrição farmacológica permite duplicar as taxas de sucesso. Segundo West e Owen (2012)13,

o uso de terapêutica farmacológica em utentes fumadores apoiados por uma intervenção breve, ou

que frequentaram consultas intensivas de cessação tabágica, aumenta substancialmente as taxas

de abstinência, medidas às 52 semanas, conforme quadro 2.

13 West R, Owen L (2012) Estimates of 52-week continuous abstinence rates following selected

smoking cessation interventions in England. Version 2.

http://www.smokinginengland.info/ref/Estimated%2052-week%20quit%20rates%202.pdf

29

Quadro 2. Estimativas das taxas de abstinência avaliadas às 52 semanas, observadas em

Inglaterra, no contexto do Serviço Nacional de saúde (NHS).

Contexto da Prescrição Fármaco % de Abstinência

(52 semanas)

Nicotina monoterapia 15%

Programa de Apoio Intensivo Nicotina combinada* 20%

Bupropiom 17%

Vareniclina 24%

Nicotina monoterapia 7%

Intervenções breves Nicotina combinada* 10%

Bupropiom 8%

Vareniclina 12%

Aconselhamento médico breve

numa consulta de rotina Sem fármacos 1%

Tentativa sem apoio, após uma

intervenção breve Sem fármacos 4%

Fonte: Adaptado de West e Owen, 2012. West R, Owen L (2012) Estimates of 52-week continuous

abstinence rates following selected smoking cessation interventions in England. Version 2.

http://www.smokinginengland.info/ref/Estimated%2052-week%20quit%20rates%202.pdf. *TSN

combinada = Adesivo+ nicotina de ação rápida, em forma oral.

Assim, a inquirição, o registo dos hábitos tabágicos e o aconselhamento dos utentes fumadores,

tendo por base intervenções breves a nível dos cuidados de saúde primários, permitirá aumentar o

número de tentativas de cessação tabágica e a taxa de sucesso dessas tentativas. Se utilizada

terapêutica farmacológica o sucesso das intervenções poderá aumentar significativamente.

30

Estudos recentes permitem concluir que o sucesso das intervenções de apoio à cessação tabágica

parece estar relacionado com a realização das tarefas de apoio na tentativa (4.ª A) e com o

processo de acompanhamento (5.ºA). Pelo contrário, abordar, avaliar e aconselhar não parecem

ter repercussão nas taxas de abstinência (Park et al., 2015)14.

Por outro lado, esse apoio pode ser mais eficaz se realizado em determinados momentos chave do

ciclo de vida (MCbride, 200315). No período de gravidez esse aconselhamento é particularmente

importante, dadas as consequências do consumo não só para a mãe, mas também para o feto. Do

mesmo modo, as consultas de vigilância infantil e juvenil e de planeamento familiar constituem

oportunidades ótimas para abordar este assunto.

Um estudo de revisão, realizado por Aveyard e colaboradores, permitiu concluir que o número de

tentativas para parar de fumar aumenta 40 a 60% quando, para além de aconselhar a parar é

oferecida ajuda na cessação, independentemente de a motivação para parar de fumar ter sido ou

não avaliada. Quando utilizada terapêutica farmacológica, o sucesso alcançado é ainda maior

(Aveyard et al, 2012 16, National Centre for Smoking Cessation and Training, 201417

Deste modo, é necessário dotar todos os profissionais com a formação necessária para a

realização integral de uma intervenção breve, com pacientes motivados segundo o modelo dos 5As

e com pacientes não motivados, segundo o modelo dos 5Rs. Dado que dois dos 3 fármacos de

14 Park, ER, Gareen IF, Japuntich S et al. Primary Care Provider-Delivered Smoking Cessation Interventions

and Smoking Cessation Among Participants in the National Lung Screening Trial. JAMA Internal Medicine,

published online June 15, 2015. doi:10.1001/jamainternmed.2015.2391.

15 Mcbride CM, Emmons KM, Lipkus IM. Understanding the potential of teachable moments: the case of

smoking cessation. Health Education and Research 18 (2003)156–70.

16 Aveyard P, Begh R, Parsons A, West R. Brief opportunistic smoking cessation interventions: a systematic

review and meta-analysis to compare advice to quit and offer of assistance. Addiction. 107: 6 (2012) 1066 –

1073.

17 National Centre for Smoking Cessation and Training. Local stop smoking services, Service and delivey

guidance, Public Health England, 2014.

31

primeira linha no tratamento do tabagismo requerem prescrição médica obrigatória, todos os

médicos de família devem possuir formação na prescrição farmacológica de apoio à cessação

tabágica. Dado que esta matéria continua ausente na generalidade dos cursos de medicina, a

formação pós-graduada em MGF dos novos especialistas deve contemplar obrigatoriamente esta

matéria, conforme estipulado na Portaria n.º 45/2015,de 20 de fevereiro. Os médicos em exercício,

devem ser abrangidos por formação nesta área, sempre que se revele necessário.

Complementarmente ao trabalho realizado no âmbito do atendimento dos utentes, são de

desenvolver iniciativas dirigidas à população em geral ou a grupos específicos, como os jovens ou

as mulheres grávidas, no sentido de prevenir o tabagismo e aumentar a motivação das pessoas

fumadoras para parar de fumar.

Este trabalho deve ser promovido pelas unidades funcionais dos ACES/ULS orientadas para a

intervenção na comunidade, designadamente Unidades de Saúde pública (USP) e Unidades de

Cuidados na Comunidade (UCC).

É fundamental que a implementação destas estratégias promova o recurso à participação e ao

envolvimento de vários atores sociais a nível local e da sociedade civil. Esse trabalho contribuirá

para aumentar a literacia e a capacitação dos cidadãos para escolhas saudáveis e,

consequentemente, para a procura de tratamento do tabagismo junto dos serviços de saúde.

32

33

CAPÍTULO II

NOTA METODOLÓGICA

34

35

2. Nota Metodológica do GT

A metodologia de trabalho delineada pelo GT foi a seguinte:

a) Realização de duas reuniões mensais até final do período atribuído para elaboração do

relatório (meses de Maio e Junho).

b) Solicitar às Dra. Graça Vilar e Prof.ª Emília Nunes, que coordenam as Redes de

Referenciação Nacionais, que conduzam as reuniões parcelares com as entidades

regionais responsáveis presentes no GT, nomeadamente do Álcool e Tabaco, no sentido

de verterem no documento/relatório os conteúdos tidos como necessários para responder

aos objectivos do Despacho n.º 3802/2015.

c) Reunião Geral de GT a marcar mensalmente para reavaliação por todos dos conteúdos do

relatório e das propostas a sistematizar.

d) Convite de alguns peritos e/ou entidades para darem contributos para o relatório final neste

âmbito.

e) Auscultação de personalidades de reconhecido mérito na área, sempre que tal for tido

como necessário.

Cronograma de desenvolvimento do trabalho

Foram realizadas 3 reuniões gerais e 2 reuniões parcelares com cada subgrupo.

Na área do tabaco, foram ainda realizadas, na DGS 3 reuniões de coordenação com os

representantes das ARS, iI.P.

36

37

CAPÍTULO III

DIAGNÓSTICO DE SITUAÇÃO

38

39

3. Diagnóstico de Situação

O delineamento com sucesso de um programa de promoção das intervenções breves na área do

consumo de tabaco requer que se tenham presentes as especificidades do tabagismo e do

processo de cessação tabágica e que se identifiquem as necessidades de saúde reais, traduzidas

pelo número de utentes fumadores inscritos no SNS, as necessidades de saúde expressas pelo

número de utentes fumadores que, por sua iniciativa, procuram apoio para parar de fumar, a

capacidade instalada, em termos do número de profissionais com formação para a intervenção

nesta área, bem como as barreiras e os potencias incentivos a este tipo de intervenção, na

perspetciva dos utentes e na perspectiva dos próprios profissionais.

Importa também ter presente a capacidade instalada em ermos das respostas de segunda linha,

consubstanciadas pelas consultas de apoio intensivo, para encaminhamento das situações de

tabagismo mais complexas e que não poderão ser adequadamente tratadas por intervenções

breves.

3.1. Estimativa da população fumadora

Dados recolhidos pelo último Inquérito Nacional de Saúde (INS, 2005/2006) referentes à população

residente em Portugal, com 15 ou mais anos, revelaram uma prevalência de fumadores, diários e

ocasionais (dados ponderados para a população portuguesa), de 20,9%; 30,9% no sexo masculino

e 11,8% no sexo feminino.

As prevalências de consumo diferem entre sexos, grupos etários e regiões do País.

Segundo dados recolhidos pelo INS 2005/2006, o consumo mais elevado observou-se no grupo

etário dos 35 aos 44 anos: 44,5% nos homens e 20,9% nas mulheres.

40

Quadro 3. Percentagem de fumadores e ex-fumadores na população > 15 anos, ambos os sexos,

em Portugal Continental e por região de residência (INS 2005/2006)

Região Fumadores Ex-fumadores

Portugal 20,9 16,0

Norte 19,6 16,1

Centro 17,0 13,9

LVT 23,1 17,3

Alentejo 23,1 17,1

Algarve 24,4 18,5

Fonte: Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, IP; Instituto Nacional de Estatística –

Inquérito Nacional de saúde 2005/2006. Dados gerais. Lisboa: INSA. IPNE, 2008.

Segundo dados mais recentes, recolhidos pelo III Inquérito ao Consumo de Substâncias, em 2012,

na população dos 15 aos 64 anos, nos homens, o consumo atual mais elevado, observou-se

igualmente no grupo etário dos 25-34 anos (45,4%), e nas mulheres, no grupo dos 35-44 anos,

(24,5%), (Balsa, Vital,Urbano,2014).18

As regiões de Lisboa e Vale do Tejo, do Alentejo e do Algarve apresentaram as prevalências de

consumo nos últimos 30 dias mais elevadas. A região norte apresentou a prevalência de consumo

mais baixa, conforme se observa no quadro 4.

18 Fonte: Balsa, Vital, Urbano. III Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoativas na

População Geral/ Portugal 2012. CESNOVA – Centro de Estudos em Sociologia da Universidade

Nova de Lisboa/SICAD, Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas

Dependências,2014.

41

Quadro 4. Percentagem de fumadores, na população dos 15-64 anos, ambos os sexos, em

Portugal Continental e por região de residência (2012)

Região % Fumadores (15-64 anos)

Portugal 26,3

Norte 20,0

Centro 27,0

LVT 32,9

Alentejo 30,0

Algarve 29,6

Fonte: Balsa, Vital, Urbano. III Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias Psicoativas na População

Geral/ Portugal 2012. CESNOVA – Centro de Estudos em Sociologia da Universidade Nova de Lisboa/SICAD,

Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências,2014.

No âmbito de um estudo Eurobarómetro19, promovido pela Comissão Europeia em dezembro de

2014 (TSN Opinion and Social, 2015), a prevalência estimada do consumo de tabaco em Portugal

foi de 25%. Registou-se assim um aumento de 2 pontos percentuais relativamente ao valor

encontrado pelo estudo Eurobarómetro realizado em 2012. Este aumento ficou a dever-se

aparentemente a um decréscimo de 3% na percentagem de fumadores que tentou parar de fumar

neste período e ao aumento de 1% dos respondentes que disseram nunca ter fumado.

19 TSN Opinion and Social for European Commission, Directorate-General for Health and Food

Safety, co-ordinated by the Directorate-General for Communication. “Attitudes of Europeans

towards Tobacco and Electronic Cigarettes”, Special Eurobarometer 429, 2015.

42

3.2. Tabaco, álcool e comorbilidade psiquiátrica

Relativamente ao consumo de tabaco e outras substancias há na população diversos grupos:

consumidores de tabaco, de álcool e de outras drogas, consumidores de tabaco e de álcool,

consumidores apenas de tabaco, ex-consumidores e pessoas que nunca fumaram.

A prevalência do tabagismo em pessoas com outras dependências e /ou problemas de saúde

mental é 2 a 4 vezes superior à observada na restante população, contribuindo para agravar as

situações de pobreza e estigma social (Callaghan et al, 2014).20

A associação entre alcoolismo e tabagismo potencia os riscos para a saúde inerentes a cada uma

destas dependências, potenciando o risco de cancro da boca, da laringe e do esófago.

Diversos mitos têm dificuldade a abordagem do tabagismo nestes doentes, um dos quais que o

tabaco melhora os sintomas destas doenças e que estes doentes não conseguem parar de fumar.

Porém, muitos destes doentes querem parar de fumar e precisam de ser apoiados nesse sentido.

As abordagens para a cessação tabágica não diferem das que são habitualmente usadas com os

restantes fumadores, embora haja necessidade de intervenções intensivas e de um uso ajustado

da medicação. As intervenções breves podem contribuir para identificar precocemente estes

doentes, mas não são suficientes para o tratamento do tabagismo. São no entanto muito

importantes, pois constituem uma oportunidade para motivar e ajudar estes doentes a procurar

apoio numa consulta de apoio intensivo à cessação tabágica.

Apesar destes factos, não foi possível obter dados publicados quanto à prevalência, em Portugal,

do consumo de tabaco em doentes do foro psiquiátrico ou em associação com o consumo de

álcool ou outras substâncias.

3.3. Cessação tabágica - dados populacionais

Os resultados de diversos estudos de investigação confirmam que a generalidade dos fumadores

portugueses não tem interesse em parar de fumar, nem fez qualquer tentativa nesse sentido.

20 Callagan et al. Patterns of tobacco-related mortality among individuals diagnosed with

schizophrenia, bipolar disorder, or depression. Journal of Psychiatric Research 48 (2014) 102e110.

http://www.journalofpsychiatricresearch.com/article/S0022-3956(13)00306-3/pdf

43

Assim, dados do III Inquérito ao Consumo de Substancias revelaram que mais de metade dos

fumadores não tem interesse em parar de fumar, ou tem um interesse ligeiro, embora cerca de

75% dos respondentes gostasse de abandonar o tabaco, se o pudesse fazer com facilidade (Balsa,

Vital, Urbano,2014).

Quando questionados se iriam tentar deixar de fumar nas próximas duas semanas, mais de

metade (55%) respondeu “não de certeza” e 30% achou que “talvez não”. Cerca de 13%

responderam que talvez sim e apenas 2,5% afirmaram que “de certeza iriam parar”. Quando a

pergunta se reportou aos próximos seis meses, a percentagem dos que disseram “não de certeza”

diminuiu para os 35%, os hesitantes aumentaram para os 61% e os que estavam certos de que

iriam deixar de fumar aumentaram para os 4% (Balsa, Vital, Urbano,2014).

Tendo por base o teste de avaliação da motivação de Richmond, a grande maioria dos fumadores

(85,5%) apresentou uma motivação baixa para parar de fumar e apenas cerca de 14% uma

motivação moderada ou elevada (Balsa, Vital, Urbano,2014).

A perceção do risco associado ao consumo de tabaco é também baixa, com apenas 66% dos

respondentes a considerarem que fumar um ou mais maços de cigarros por dia apresenta um

elevado risco para a saúde (Balsa, Vital, Urbano,2014).

No âmbito de um estudo Eurobarómetro21, promovido pela Comissão Europeia em dezembro de

2014 (TSN Opinion and Social, 2015), apenas 32% dos inquiridos em Portugal responderam já ter

tentado parar de fumar alguma vez na vida. Este foi o pior resultado a nível europeu, contrastando

com as respostas obtidas nos países do norte da Europa, onde mais de 70% dos fumadores

responderam já ter feito uma tentativa para deixarem de fumar.

Relativamente às tentativas realizadas nos últimos 12 meses, apenas 9% dos fumadores inquiridos

em Portugal responderam afirmativamente, resultado inferior ao observado em 2012 (14%). Este

foi também o valor mais baixo observado na União Europeia. Os valores mais elevados foram

observados na Dinamarca (38%) Suécia (37%), Holanda (35%), Irlanda (34%) e Reino Unido

(32%).

21 TSN Opinion and Social for European Commission, Directorate-General for Health and Food

Safety, co-ordinated by the Directorate-General for Communication. “Attitudes of Europeans

towards Tobacco and Electronic Cigarettes”, Special Eurobarometer 429, 2015.

44

Dos respondentes que tentaram parar de fumar, 72% disseram não ter recebido qualquer tipo de

ajuda; 11% tomou medicamentos e apenas 7% disseram ter recebido ajuda de um profissional de

saúde. Cerca de 4% responderam ter recorrido ao uso de cigarros eletrónicos (TSN Opinion and

Social for European Commission, 2015).

Em face desta realidade, é imperativo promover abordagens populacionais com o objetivo de

aumentar a perceção do risco associado ao consumo de tabaco e, desse modo, induzir a procura

de apoio por parte dos atuais fumadores. Em paralelo é necessário incentivar o trabalho dos

profissionais de saúde na realização de intervenções breves para a cessação tabágica.

3.4. Utentes fumadores inscritos nos CSP e indicadores de contratualização

Em Maio de 2015, segundo dados da ACSS, estavam inscritos nos CSP 10 170 554 utentes. A

taxa de utilização média das consultas médicas no último ano foi de 65,8% em utentes com médico

de família e de 42,8% em utentes sem médico de família, conforme se observa no quadro 5.

Quadro 5. Utentes inscritos e taxa de utilização de consultas médicas

ARS, I.P. Utentes Inscritos

CSP- (N)

Taxa de utilização

consultas médicas 1

ano (todos os utentes)

Taxa de utilização

consultas médicas

1 ano

(utentes sem MdF)

Norte 3 801 051 71,6% 47,3%

Centro 1 775 318 69,8% 49,1%

LVT 3 648 746 57,7% 39,5%

Alentejo 500 517 72,2% 59,5%

Algarve 444 922 59,1% 46,0%

Total Geral 10 170 554 65,8% 42,8%

Fonte: Publicação periódica sobre o número de utentes inscritos nos Cuidados de Saúde

Primários, 16 de fevereiro de 2015, ACSS, 2015.

45

Tendo por base o número de inscritos e as prevalências estimadas de fumadores em cada região

administrativa é possível estimar o número de fumadores na população conforme se observa no

quadro 6.

Quadro 6. Estimativas dos utentes fumadores* inscritos ≥15 anos nos CSP, com idade ≥15 anos,

Continente e ARS I.P.

ARS,I.P./ ACES Norte Centro LVT Alentejo Algarve Total

Utentes inscritos 3 801051 1 775 318 3 648 746 500 517 444 922 10 170 554

Utentes inscritos

com ≥15 anos

(estimativa)

3 230 893 1 509 020 3101434 425439 378183 8 644 970

Utentes inscritos

≥ 15 anos

fumadores*

633 255 256 533 716 431 98 276 92 277 1 796 772

*Usando como referência as % de fumadores, por Região do INS 2005/2006.

Fonte: Publicação Periódica sobre o Número de Utentes Inscritos nos Cuidados de Saúde Primários, 16 de

fevereiro de 2015. ACSS, 2015.

Se considerarmos uma taxa de utilização média das consultas médicas de 60%, conclui-se que

poderão ser potencialmente abrangidos por uma intervenção breve, a nível dos CSP, cerca de

1 078 000 utentes fumadores.

Apresentam-se no Quadro 7 estimativas do número de fumadores no Continente, bem como

alguns dados estimados quanto ao número de tentativas de cessação tabágica realizadas nos 12

meses anteriores à inquirição, bem como o tipo de apoio utilizado.

46

Quadro 7 Estimativas da prevalência de fumadores em Portugal Continental e tentativas de apoio

na cessação tabágica

População do continente (dados INE, 2014)22

Continente ≥ 15 anos

Total de população

9 869 783

Estimativas do N.º total de fumadores ≥ 15 anos:

Nº de fumadores diários com ≥ 15 ano: 25% (Eurobarómetro 2015)

N.º total de fumadores, diários e ocasionai: 20,9% (INS 2005/2006)

2 467 445

2 072 654

% de fumadores que tentaram parar de fumar pelo menos 1 vez no

último ano: 9% (Eurobarómetro, 2015)

222 070

% de fumadores que tentaram parar de fumar e procuraram ajuda de

um profissional de saúde: 7% (Eurobarómetro, 2015)

172 721

%º de fumadores que utilizaram medicação, na última tentativa para

parar de fumar: 11% (Eurobarómetro, 2015)

271 418

N.º total de fumadores que procuraram ajuda numa consulta de apoio

intensivo no SNS, em 2011 (Dados das ARS)

≈ 7 000

N. total inscritos no SNS com 15 ou mais anos (estimativa) 8 644 970

Inscritos SNS/CPS com 15 ou mais anos fumadores (estimativa

baseada em 20,9% de prevalência)

1 796 772

Total de utentes com 14 ou mais anos com registo de consumo de

tabaco (dados ACSS)

840 000

22 Instituto Nacional de Estatística. População residente (N.º) por Local de residência (NUTS - 2013), Sexo e

Grupo etário; Anual - INE, Estimativas Anuais da População Residente (1) Série Estimativas Provisórias

Anuais da População Residente, segundo a divisão administrativa correspondente à Carta Administrativa

Oficial de Portugal 2013 (CAOP2013) e a nova versão das NUTS (NUTS 2013) em vigor a partir de 1 de

janeiro de 2015. Última atualização destes dados: 16 de junho de 2015 Quadro extraído em 24 de Junho de

2015 (16:38:47)

47

3.4. 1. Utilização de indicadores relacionados com tabaco nos processos de contratualização em

CSP

O processo de contratualização nos CSP conta com 1 indicador de tabaco no eixo nacional (usado

por todos os ACES e todas as unidades funcionais) e 3 indicadores usados nos eixos regional e

local:

ID Indicador Tipo

47 Proporção utentes >= 14 A, c/ reg. hábito. tabágico Nacional

277 Proporção fumadores, c/ consulta relac. tabaco 1A Regional / Local

Proporção utentes >= 14 A, c/ reg. hábit. tabágic. (ID 047)

Em 2014, este indicador foi usado na contratualização da totalidade dos 55 ACES portugueses e

em 688 das 867 unidades funcionais (UF) existentes.

Proporção fumadores, c/ consulta relacionada com tabaco 1A (ID 277)

Em 2014, este indicador foi usado na contratualização de 11 dos 55 ACES e em 114 das 867 USF

existentes.

3.4.2. Resultados de indicadores sobre tabaco

Apresentam-se no quadro resultados de indicadores relacionados com o consumo de tabaco já

em monitorização nos CSP portugueses, referentes ao mês de dezembro de 2014, incluindo a

evolução temporal nos últimos 4 anos.

48

Quadro 8. Resultados de indicadores sobre tabaco em monitorização nos CSP portugueses,

referentes ao mês de dezembro de 2014, incluindo a evolução temporal nos últimos 4 anos.

ID Códi

go Indicador Result. P5 Res. Nacion., ARS e ACES P95 Evolução Temp. BI

47 5.25

FL

Proporção

utentes >=

14 A, c/

reg. hábit.

tabágic.

43,2 %

21,3 NAC

44,2

ARS

N=5

ACES

N=5

5

67,0 DEZ-2014

43,2

DEZ-2013

32,1

DEZ-2012

0,0

DEZ-2011

0,0

BI

277 6.28.0

2 FL

Proporção

fumadores,

c/ consulta

relac.

tabaco 1A

18,9 %

5,5 NAC

17,2

ARS

N=5

ACES

N=5

5

28,9 DEZ-2014

18,9

DEZ-2013

0,0

DEZ-2012

0,0

DEZ-2011

0,0

BI

Fonte: SIARS;

Legenda e informação técnica:

Result. | Resultado nacional (por agregação de resultados de todos os ACES).

P5 | Percentil 5 dos resultados de todos os ACES, em DEZ-2014.

Res. Nacion., ARS e ACES | Posicionalmento relativo do resultado médio nacional (calculado a partir dos resultados de

todos os ACES), dos resultados das 5 ARS e dos resultados de todos os ACES nacionais, em DEZ-2014. O resultado

médio nacional encontra-se na barra superior. Os resultados das 5 ARS na barra intermédia. Os resultados dos ACES na

barra inferior.

P95 | Percentil 95 de resultados no cluster nacional (a partir dos resultados dos 55 ACES), em DEZ-2014.

Evolução Temp. | Representação gráfica da variação temporal dos resultados nacionais. Apresentam-se os resultados

atuais, e do final dos 3 anos anteriores.

BI | Bilhete de identidade dos indicadores.

3.5. Ações de formação em intervenções breves realizadas

A DGS e as ARS I.P. têm vindo a realizar ações de formação na área da prevenção e tratamento

do tabagismo ao longo dos últimos anos.

49

Em 2014/2015 a DGS promoveu a realização de 9 ações de formação, co-financiadas pelo

programa POPH, em articulação com as Equipas regionais do PNPCT, que abrangeram um total

de cerca de 170 profissionais. Destas ações, 5 centraram-se na abordagem da pessoa fumadora

com problemas de saúde mental e multidependência e 4 nas intervenções breves.

A formação desenvolvida pela ARS Norte na área do tabagismo nos últimos 10 anos (2006 /2015)

foi composta por um conjunto de 94 cursos em que participaram 1729 profissionais. Destas ações

formativas 71 abordaram a metodologia da Intervenção Breve em tabagismo, abrangendo um total

de 1299 profissionais. Foram realizadas 44 ações dirigidas à capacitação para realizar consultas

de apoio intensivo à cessação tabágica e à gestão do Programa a nível das unidades prestadoras

de cuidados personalizados USF e UCSP em que participaram 795 profissionais, conforme se

verifica no quadro 9.

Quadro 9. Formações em tabagismo realizadas na ARS Norte por tema, destinatários, número de

formandos e horas de formação

Nº Ações Nome Horas Destinatários Total Horas Formandos

8 Prevenção e Controlo

do Tabagismo

30 h Médicos e enfermeiros de

saúde pública

240 h 140

44

Tratamento e

Prevenção do

Tabagismo

24 h Médicos de MGF. enfermeiros

psicólogos e nutricionistas

1056 h 795

3 Atualização em

Tabagismo

6h Médicos e enfermeiros

responsáveis de consultas CT

18 h 58

2

Avaliação Qualidade

Consultas de CT nos

CSP

24 h Médicos e enfermeiros

responsáveis de consultas CT

48 h 31

10 Intervenção Breve em

Tabagismo

6h Médicos MGF e enf. 60 h 184

50

7

Entrevista Motivacional

no Tratamento do

Tabagismo

6h Médicos MGF e enf. 42 h 137

1 Mulher e Tabagismo 6h Médicos MGF e enf. 6 h 14

1 Tabagismo, a Mulher e

a Criança

6h Médicos de família e

enfermeiros

6 h 22

3 Tabagismo e Saúde

Ambiental

12h Técnicos de Saúde Ambiental 36 h 55

1 Prevenção e Controlo

do Tabagismo

6h Médicos de Saúde Pública e

TSA

6 h 22

1

Prev. e Trat. do

Tabagismo na Mulher e

Criança

18h Enfermeiros 18 h 17

12 Programa Escolas

Livres de Tabaco

6h Equipas de Saúde Escolar 72h 235

1

Formação para

Formadores dos ACES

em intervenção breve

12h Médicos e enfermeiros com

formação e experiência no

tratamento do tabagismo

12 h 19

94 Total 1620 h 1 729

Fonte: ARS,I.P. Norte.

O número de cursos e de formandos abrangidos diminuiu acentuadamente a partir de 2012,

conforme se observa no quadro 10.

51

Quadro 10. Formações em tabagismo realizadas na ARS,I.P. Norte, 2006/2015

Ano Número de Cursos Número de Formandos

2006 25 430

2007 25 453

2008 22 398

2009 0 0

2010 6 135

2011 7 130

2012 2 35

2013 2 44

2014 4 82

2015 1º semestre 1 22

Total realizados 94 1729

Fonte: ARS,I.P. Norte.

A ARS Centro tem investido na realização de formação sobre cessação tabágica e

intervenções breves, desde há vários anos. Em 2014 foram organizados dois cursos em

articulação com a DGS, um sobre intervenções breves, outro sobre intervenção intensiva

na cessação tabágica com pessoas com doença mental e/ou multidependências.

A ARS LVT tem investido também neste tipo de formação, desde há vários anos. No

período de 2013/2015 foram abrangidos 189 profissionais com formação em intervenções

52

breves, conforme se observa no quadro 11, Para além destas ações é promovido um

Curso em cessação tabágica, de realização anual, e que, em 2015, teve a sua 11ª edição.

Quadro 11. Formações em Tabagismo realizadas na ARS LVT, 2013/2015

DESIGNAÇÃO CURSO ACES DATA Nº

FORMANDOS

Intervenção Breve Motivacional de Cessação

Tabágica Lezíria 13-mai-13 46

Intervenção Breve Motivacional de Cessação

Tabágica Arrábida 03-jun-13 22

Intervenção Breve Motivacional de Cessação

Tabágica Médio Tejo 03-fev-14 27

Intervenção Breve Motivacional de Cessação

Tabágica Lx Central 31-mar-14 21

Intervenção Breve Motivacional de Cessação

Tabágica Cascais 12-mai-14 27

Intervenção Breve Motivacional de Cessação

Tabágica Sintra 02-jun-14 18

Intervenção Breve Motivacional de Cessação

Tabágica Sintra 18-mai-15 28

Fonte: ARS LVT

Na ARS, I.P. Alentejo, em 2014 foi efetuada uma ação de formação de um dia, sobre intervenção

breve, promovida e realizada em colaboração com a DGS. Estiveram presentes 19 formandos.

Na ARS, I.P. Algarve, durante o ano de 2014 foi feito o levantamento da capacidade instalada em

termos de localização das consultas de cessação tabágica e movimento assistencial. NA ARS

53

Algarve apenas cerca de 16% dos médicos dos CSP realizaram formação em intervenção breve,

nos últimos anos, conforme se observa no quadro 12.

Quadro 12. ARS Algarve – Médicos dos CSP, do quadro de pessoal, com formação em

intervenções breves e em apoio intensivo à cessação tabágica

Formação Intervenções Breves Apoio Intensivo

N.º formandos % N.º %

43 15,87 30 11,07

Nota: Formação em Intervenções Breves – foi efectuada formação a outros 33 médicos, internos, 31 deles

de MGF e 2 de Saúde Pública; Formação em Apoio Intensivo - 4 outros médicos do quadro de pessoal em

vias de efectuar formação prática; Outros 112 profissionais de saúde dos Cuidados de Saúde Primários

obtiveram formação em Intervenções Breves: enfermeiros, psicólogos, higienistas orais, dietistas, terapeutas

ocupacionais e fisioterapeutas.

Fonte: ARS,I.P. Algarve.

3.6. Análise de obstáculos e incentivos à intervenção dos CSP no apoio à cessação

tabágica

A realização por todos os profissionais de saúde de intervenções breves de apoio à cessação

tabágica, de modo oportunista, implica que estes saibam como aplicar este modelo de abordagem

e reconheçam a sua utilidade.

O baixo investimento dos profissionais de saúde na abordagem do tabagismo tem sido

reconhecido em diversos estudos.

Segundo dados recolhidos no âmbito do Projeto PESCE (General Practitioners and the Economics

of Smoking Cessation in Europe), em que Portugal participou, podem ser identificados vários

fatores que contribuem para esta realidade, decorrentes das características dos utentes, dos

profissionais e da organização dos serviços de saúde. Destes factores, o tempo na consulta, os

54

conhecimentos e competências e a forma de remuneração assumem um papel determinante.

Muitos médicos de família assumem não possuir os conhecimentos e o treino necessários para

realizar este tipo de abordagem ou desconhecem a existência de consultas de apoio à cessação

tabágica para um eventual encaminhamento dos seus utentes fumadores, optando assim por não

abordar esta questão de modo consistente (Stead et al., 2009)23,

Segundo este estudo, diversos aspetos podem condicionar negativamente o comportamento dos

médicos de família quanto a esta intervenção, designadamente:

­ Ser fumador;

­ Considerar que esta intervenção consome muito tempo;

­ Não ter conhecimentos ou formação nesta área, o que dificulta a referenciação para serviços

especializados ou a utilização de técnicas de aconselhamento e de fármacos.

­ Recear que a abordagem deste assunto possa prejudicar a relação médico-paciente;

­ Considerar que a cessação tabágica não faz parte das suas funções;

­ Considerar que apoiar a cessação tabágica é uma intervenção ineficaz;

Destacam-se ainda outros fatores, designadamente a falta de valorização deste assunto pelos

órgãos responsáveis pela organização dos serviços de saúde e a falta de interesse dos próprios

utentes relativamente a este assunto.

Apesar de ser difícil conhecer com rigor o trabalho realizado em termos de intervenções breves, os

dados recolhidos pela ACSS revelam grande heterogeneidade na identificação dos utentes

fumadores a nível dos ACES.

23 Stead M et al. Factors influencing European GPs’ engagement in smoking cessation: a multi-

country literature review. British Journal of General Practice, September 2009. 682-690.

http://bjgp.org/content/bjgp/59/566/682.full.pdf

55

3.6.1.Formação dos profissionais em Intervenções Breves de apoio à cessação tabágica

A formação pré-graduada dos médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde na área do

tratamento do tabagismo revela-se insuficiente ou quase inexistente, o que contribui para uma

cultura generalizada de desvalorização deste assunto no contexto das respetivas práticas. A

generalidade dos profissionais de saúde conclui as respetivas licenciaturas sem possuir uma

adequada formação para a realização de intervenções breves.

No sentido de melhorar esta situação o PNPCT deu início a um processo de sensibilização dos

professores responsáveis pela formação destes alunos, que conseguiu mobilizar o envolvimento de

várias escolas de enfermagem e institutos politécnicos. Contudo, as escolas médicas têm

mostrado, até agora, muito pouca adesão a esta iniciativa.

Para colmatar a insuficiência de formação pré-graduada nesta área, têm vindo a ser realizadas na

maioria das ARS ações de formação e sensibilização no domínio das intervenções breves.

3.6.2. Gestão e organização dos serviços

De acordo com o artigo 21.º da Lei nº. 37/2007, de 14 de agosto devem ser criadas consultas

especializadas de apoio aos fumadores que pretendem deixar de fumar em todos os centros de

saúde, ou o estabelecimento de protocolos de articulação com este tipo de consultas, sempre que

não seja possível ou pertinente a sua criação.

Porém, existem ainda diversos ACES sem qualquer tipo de resposta na área do apoio intensivo à

cessação tabágica. Este facto compromete a possibilidade de investir no tratamento do tabagismo

com base em intervenções breves, dado que não existirá a possibilidade de responder às

situações mais complexas que venham a ser identificadas.

A insuficiente valorização do tabagismo, como um problema de saúde prioritário, pelos órgãos de

gestão dos ACES e das ULS, constitui um obstáculo ao investimento em formação dos

56

profissionais de saúde na área das intervenções breves e à criação das consultas de apoio

intensivo à cessação tabágica necessárias.

Assim, dotar os profissionais de saúde com competências na área das intervenções breves é um

imperativo a que os órgãos de gestão dos serviços de saúde, aos diferentes níveis, devem dar

resposta.

Por outro lado, dado que a abordagem intensiva do tabagismo é complementar das intervenções

breves, é fundamental que cada ARS/ ACES/ ULS organize a rede de referenciação para

encaminhamento dos utentes abordados por uma intervenção breve que necessitem de apoio

intensivo, de acordo com os critérios estabelecidos no Programa-tipo de cessação tabágica da

DGS.

Considerando que muitas consultas de apoio intensivo carecem de profissionais de saúde para a

sua criação ou manutenção, será também necessário decidir quais as formas de remuneração ou

de incentivos para ultrapassar esta dificuldade, nomeadamente através do incentivo à

apresentação de propostas de “carteiras adicionais” previstas na legislação das USF.

3.6.3. Registos das intervenções de apoio à cessação tabágica no SNS

A possibilidade de dispor de um sistema de registo eletrónico do consumo de tabaco, em particular

quando este sistema possibilita a emissão de alertas que relembram a necessidade de aconselhar

e facilitam o aconselhamento para a cessação tabágica, pode aumentar a realização de

intervenções breves por parte dos médicos de MGF. Alguns autores chamam a atenção, no

entanto, para o facto de o registo eletrónico não ter necessariamente uma repercussão direta na

melhoria dos cuidados prestados aos utentes (Boyle, Solberg, Fiore, 2014)24

24 Boyle R, Solberg L, Fiore M. Use of electronic health records to support smoking cessation. Cochrane

Database of Systematic Reviews 2014, Issue 12. Art. No.: CD008743. DOI:

57

Atualmente, e pesem embora, quer o contexto de informatização geral da prestação de cuidados

de saúde aos utentes, quer os esforços já desenvolvidos pela DGS, não existe forma de proceder

ao registo das intervenções breves efetuadas no sistema de apoio médico e de enfermagem

Sclínico. Os sistemas “Medicine One” e “Vitacare” possibilitam este tipo de registo, mas não são

compatíveis entre si, pelo que não é possível dispor de dados nacionais relativos a esta atividade.

3.6.4. Contratualização

A contratualização de indicadores é uma estratégia utilizada para incentivar a realização de

determinados atos médicos. Requer todavia que os incentivos sejam periodicamente revistos, sob

pena de a medida perder eficácia com o decorrer do tempo. Por outro lado, esta medida pode

contribuir para aumentar os registos relativos ao consumo de tabaco, sem um verdadeiro aumento

das intervenções, conforme alguns estudos realizados no Reino Unido confirmaram (Coleman et

al., 2007 25, Coleman, 201026).

Em 2015 a ACSS definiu três indicadores de contratualização na área do tabaco:

­ “Proporção de utentes com idade igual ou superior a 14 anos com quantificação de hábitos

tabágicos nos últimos 3 anos.” Código 5.25. Código SIARS: 2013.047.01.

10.1002/14651858.CD008743.pub3.http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD008743.pub3/pdf/a

bstract24

25 Coleman T, Lewis S, Hubbard R, Smith C. Impact of contractual financial incentives on the ascertainment

and management of smoking in primary care. Addiction 2007; 102 (5): 803–808.

26 Coleman T. Do financial incentives for delivering health promotion counselling work? Analysis of smoking

cessation activities stimulated by the quality and outcomes Framework. BMC Public Health, 2010.

http://www.biomedcentral.com/content/pdf/1471-2458-10-167.pdf

58

­ “Proporção de utentes com idade igual ou superior a 14 anos e com hábitos tabágicos, a

quem foi realizada consulta relacionada com tabagismo no último ano.” Código 6.28.

Código SIARS: 2013.048.01.

­ “Proporção de utentes com o diagnóstico de "abuso de tabaco". Código 200. Código

2.12.03. SIARS: MORB.200.01.

De notar que os últimos dois indicadores são pouco claros, o que limita a sua utilidade prática,

dado que não é usual utilizar os conceitos de “consulta relacionada com tabagismo” ou de “abuso

de tabaco”.

Assim há que rever os indicadores de avaliação /contratualização, no sentido de aumentar a sua

utilidade, à luz dos objetivos de execução que o Programa pretende medir e promover.

Concomitantemente, o sistema de registo deve disponibilizar a informação necessária para o seu

cálculo. Assim, propõem-se os seguintes indicadores:

59

INDICADORES

1. Percentagem de profissionais (médicos e enfermeiros) com formação em intervenção

breve por ACES / ULS / Hospital / ARS,I.P. /no ano x.

2. Percentagem de utentes com idade igual ou superior a 15 anos, com registo dos

hábitos tabágicos nos últimos 3 anos / ACES / ARS, I.P.

3. Percentagem de utentes, com idade igual ou superior a 15 anos e com registo de

hábitos tabágicos, a quem foi realizada uma intervenção de aconselhamento, tendo

por base a abordagem 2 A + A/R (muito breve) ou 5As (breve). (Nota: 2As +R =

abordar, aconselhar, apoiar/referenciar); 5As: Abordar, aconselhar, avaliar, apoiar,

acompanhar).

4. Percentagem de utentes grávidas, com registo de hábitos tabágicos, aconselhadas

com recurso a uma intervenção breve na primeira consulta de vigilância da gravidez,

por ACES / ULS / Hospital / ARS,I.P., no ano x.

5. Percentagem de utentes com registo de hábitos tabágicos e aconselhamento por

intervenção breve que fizeram pelo menos uma tentativa para parar de fumar, por

ACES / ULS /hospital / ARS,I.P. / ano.

6. Percentagem de utentes com registo de hábitos tabágicos e aconselhamento por

intervenção breve, com idade igual ou superior a 18 anos, a quem foi prescrita

terapêutica de apoio à cessação tabágica (substitutos de nicotina, bupropiom ou

vareniclina) por ACES / ULS /hospital / ARS,I.P. / ano.

7. Percentagem de utentes com registo de hábitos tabágicos e de aconselhamento por

intervenção breve abstinentes às 4 semanas e aos 3, aos 6 e aos 12 meses após o

dia D, por sexo, grupo etário, anos de escolaridade, grau de dependência, por ACES /

ULS / Serviços especializados em CAD/ hospital / ARS,I.P. / ano.

8. Percentagem de utentes, com idade igual ou superior a 15 anos e com registo de

hábitos tabágicos, referenciados para consulta de apoio intensivo à cessação

tabágica, por ACES / ULS /hospital / ARS,I.P. / ano.

Nota: Para além destes indicadores os sistemas de registo devem permitir a recolha de indicadores

relativos à consulta intensiva de cessação tabágica (ver rede de referenciação)

60

3.6. 5. Perceção do risco associado ao tabagismo e motivação para a procura de apoio na

cessação tabágica

Perante a baixa consciência do risco associado ao tabagismo por parte da população, há que

incentivar o desenvolvimento de projetos de âmbito populacional de prevenção primária do

tabagismo e de incentivo à cessação tabágica, em particular junto dos jovens e das mulheres

grávidas.

Neste contexto, é de valorizar o papel das unidades funcionais dos ACES/ULS, em particular das

Unidades de Saúde Pública (USP) e das Unidades de Cuidados na Comunidade (UCC), na

abordagem comunitária e na articulação com parceiros institucionais e da sociedade civil, conforme

preconizado pela Informação DGS n.º 07/2013, de 3 de julho, que define orientações para a

implementação de iniciativas de prevenção e controlo do tabagismo de âmbito populacional.

Seria também importante facilitar o aceso às terapêuticas farmacológicas para tratamento do

tabagismo, diminuindo os custos para o utilizador associados à sua aquisição.

61

CAPÍTULO IV

OBJECTIVOS E EIXOS ESTRATÉGICOS

62

63

4. Objetivo geral até 2020

Diminuir a prevalência do tabagismo na população utente dos CSP do SNS.

4.2. Objetivos específicos

1. Aumentar o número de utentes fumadores apoiados por uma intervenção breve para a

cessação tabágica

2. Aumentar o número de tentativas para deixar de fumar apoiadas por uma Intervenção

breve

3. Aumentar a taxa de sucesso das tentativas para deixar de fumar apoiadas por uma

Intervenção breve.

4.3. Eixos estratégicos

1. Promoção de práticas de prevenção primária do tabagismo e de intervenções breves nos

Cuidados de Saúde Primários, particularmente no que diz respeito a grupos de risco, como

por exemplo, nos jovens e nas grávidas.

2. Divulgação da importância da identificação do consumo de tabaco e das intervenções

breves;

3. Formação dos profissionais no que respeita às intervenções breves de apoio à cessação

tabágica;

4. Investigação que vise a melhoria da implementação destas práticas;

5. Definição do modelo de monitorização e de suporte à implementação das intervenções

breves de apoio à cessação tabágica nos CSP.

64

65

CAPÍTULO V

MEDIDAS A PROMOVER e PROCESSO DE

IMPLEMENTAÇÃO

66

67

5.Medidas e processo de implementação

São apresentadas em seguida as medidas consideradas como promotoras da resposta de

cuidados de saúde nesta área pelo Grupo de trabalho. Estas medidas são as consideradas

prioritárias e o processo de implementação obedece a percursos complementares para o álcool e o

tabaco.

5.1. Promoção de práticas de prevenção primária do tabagismo e de intervenções breves

nos CSP, particularmente no que diz respeito a grupos de risco, como por exemplo, nos

jovens e nas grávidas.

Tarefas a realizar pela DGS/PNPCT

1. Promover a educação para a saúde e a literacia da população relativamente ao tabagismo,

com lançamento de campanhas nacionais, produção de materiais informativos e de

sensibilização, nomeadamente para jovens e grávidas, no âmbito do Programa Nacional

para a Prevenção e Controlo do Tabagismo (PNPCT).

2. Elaborar proposta e divulgar (uma vez aprovada) a Rede de referenciação no âmbito da

prestação de cuidados de saúde em cessação tabágica.

3. Articular com os SPMS e a ACSS na definição do sistema de registo e de

avaliação/contratualização em cessação tabágica.

4. Atualizar e difundir o Programa-tipo de apoio à cessação tabágica.

Tarefas a realizar pelas ARS I.P.

1. Promover a educação para a saúde e a literacia da população, com implementação de

projetos e iniciativas de prevenção do tabagismo de âmbito regional.

2. Colaborar nas atividades de prevenção do tabagismo no âmbito de iniciativas

estruturadas e de outras ações dinamizadas pelos ACES.Colaborar na definição e

68

assegurar a implementação da Rede de referenciação no âmbito da prestação de

cuidados de saúde em cessação tabágica.

3. Dotar todos os ACES/ULS com as consultas de apoio intensivo necessárias, de acordo

com a Rede de referenciação aprovada.

4. Dotar as consultas de saúde materna e planeamento familiar com medidores de

monóxido de carbono.

5. Dotar as Unidades funcionais dos ACES, designadamente USP e UCC com medidores

de monóxido de carbono, sempre que necessário, no âmbito de projetos estruturados

de intervenção na comunidade.

6. Atualizar e divulgar semestralmente a rede de referenciação de consultas intensivas

por ARS – consultas em ACES, ULS e Hospitais.

7. Sensibilizar os profissionais de saúde para o adequado registo da informação

respeitante a consumos de tabaco.

8. Sensibilizar os profissionais para o registo do consumo de tabaco na gravidez e para a

realização de intervenções de apoio à cessação tabágica no planeamento familiar, na

gravidez e no pós-parto.

9. Divulgar informação, junto da população, sobre as consequências do consumo de

tabaco e sobre a disponibilidade de apoio à cessação tabágica nos CSP.

69

5.2.Formação dos profissionais no que respeita às intervenções breves de apoio à

cessação tabágica

Tarefas a realizar pela DGS/PNPCT

1. Definir princípios e critérios para a formação em intervenções breves para a cessação

tabágica.

2. Promover e apoiar a organização de ações de formação dos profissionais de saúde dos

CSP em intervenções breves.

3. Difundir o Programa-tipo de atuação em cessação tabágica junto das ARS e dos

profissionais de saúde.

4. Elaborar orientações e materiais didáticos de apoio à formação dos profissionais de saúde,

em diferentes suportes.

5. Promover o envolvimento das estruturas de formação pré e pós graduada, em particular

dos cursos prégraduados na área da saúde e dos Internatos médicos, em particular o de

MGF, na formação em cessação tabágica e intervenções breves.

6. Incentivar a participação em reuniões e encontros científicos de divulgação de experiências

e de melhores práticas.

Tarefas a realizar pelos SPMS

1. Disponibilizar uma plataforma de e-learning de acesso a ações de formação para

profissionais de saúde dos CSP.

Tarefas a realizar pelas ARS I.P.

1. Identificar as necessidades de formação para a realização de intervenções breves de

apoio à cessação tabágica a nível regional e de cada ACES.

70

2. Elaborar e executar um plano de formação sobre intervenções breves, a implementar a

nível regional ou dos ACES.

3. Apoiar a realização de ações de formação promovidas pela DGS/PNPCT.

4. Difundir o Programa-tipo de atuação em cessação tabágica junto dos ACES e dos

profissionais de saúde.

5. Difundir junto dos ACES as orientações e materiais didáticos de apoio à formação, em

diferentes suportes, produzidos pela DGS/PNPCT.

71

5.3. Divulgação da importância da identificação do consumo de tabaco e das intervenções

breves

Tarefas a realizar pela DGS/PNPCT

1. Promover e acompanhar o Programa Nacional de Intervenções Breves.

2. Elaborar materiais de informação e divulgação sobre intervenções breves.

3. Proceder à recolha, análise e divulgação estatística de resultados dos indicadores no

âmbito das intervenções breves.

Tarefas a realizar pelas ARS I.P.

1. Promover reuniões nos ACES/ULS, com os Diretores Executivos e Conselhos Clínicos e

de Saúde.

2. Designar em cada ACES um interlocutor do tabagismo, em representação do Conselho

Clínico e de Saúde, para assegurar a adequada gestão do Programa (ARS Centro, ARS

Alentejo, ARS Norte, ARS Algarve).

3. Difundir materiais de sensibilização e informação sobre intervenções breves nos ACES.

4. Divulgar dados estatísticos de resultados dos indicadores sobre tabagismo entre os ACES.

72

5.4.Investigação que vise a melhoria da implementação destas práticas

Tarefas a realizar pela DGS

1. Recolher dados estatísticos sobre a implementação do Programa Nacional de Intervenções

breves.

2. Fomentar a realização de estudos de investigação de âmbito nacional sobre a

implementação do programa e a sua efetividades.

3. Promover formas de articulação com Escolas e Universidades na área da Saúde para

fomento da investigação na área do tabagismo.

4. Fomentar a participação em estudos científicos, nacionais e internacionais na área das

intervenções breves e tratamento do tabagismo.

Tarefas a realizar pelas ARS, I.P.

1. Apoiar estudos nacionais no âmbito das intervenções breves.

2. Apoiar e promover estudos regionais e a nível dos ACES no âmbito das intervenções

breves.

3. Promover, em articulação com a Coordenação Regional do Internato de Medicina Geral e

Familiar, a implementação da agenda de investigação clínica.

4. Realização de relatório quadrimestral dos indicadores contratualizados pela ACSS.

73

5.5. Definição do modelo de monitorização e de suporte à implementação das

intervenções breves nos CSP

Tarefas a realizar pela DGS/PNPCT

1. Colaborar com os SPMS e a ACSS, com a celebração de um contrato de prestação de

serviços para atualização dos Sistemas de Informação na área do tabaco.

2. Colaborar na criação de especificações técnicas transversais aos softwares dos CSP para

normalização dos registos relacionados com o tabaco (Consumos e intervenções breves),

designadamente:

­ Registo de consumo de tabaco (CSP)

­ Registos de intervenção muito breve ("3Rs")

­ Registos de intervenção breve ("5As" e "5Rs")

3. Apoio na construção de um grupo de indicadores sobre "consumo de tabaco e cessação

tabágica" que permita disponibilizar no SIM@SNS, SIARS e MIM@UF, aos respetivos

utilizadores, os indicadores relacionados com este tema, em separado dos restantes, até

Julho de 2015.

4. Colaboração com as ARS na definição de indicadores de avaliação e contratualização e fases

de pré-teste e de rollout do sistema de informação.

Tarefas a realizar pela ACSS

1. Criação de especificações técnicas transversais aos softwares dos CSP e hospitalares para

normalização dos registos relacionados com o tabaco (hábitos e intervenções).

a) Registo de consumos de tabaco (CSP).

b) Registos de intervenção muito breve (CSP): "3Rs".

c) Registos de intervenção breve (CSP): "5As" e "5Rs".

74

2. Construção de um grupo de indicadores sobre "comportamentos aditivos/ tabaco" que permita

disponibilizar no SIM@SNS, SIARS e MIM@UF, aos respetivos utilizadores, os indicadores

relacionados com estes temas, em separado dos restantes. A concluir até julho 2015

3. Revisão dos indicadores já implementados na plataforma SIM@SNS, relacionados com

"tabaco". A concluir até setembro de 2015

4. Construção de bilhetes de identidade para os novos indicadores relacionados com "consumos

de tabaco" e intervenções breves.

5. Apoio ao desenvolvimento e construção desses indicadores, junto dos SPMS, em articulação

com a equipa responsável pela plataforma SIM@SNS. O início desta tarefa ocorrerá após

conclusão da tarefa descrita no ID 2. A existência de resultados de indicadores só será possível

depois de a SPMS ter feito o rollout nacional dos serviços e desenvolvimentos descritos na

proposta dos SPMS "Cessação tabágica - desenvolvimento do SClinico"

Tarefas a realizar pelos SPMS

1. Adaptação dos sistemas de informação às novas necessidades de registos, nomeadamente na

componente de cessação tabágica:

­ Criação de um formulário para a consulta de cessação tabágica com separadores

por área de informação: i) intervenção breve; ii) consulta de apoio intensivo à

cessação tabágica; iii) escalas;

­ Inclusão deste formulário no SOAP, na área dos programas de saúde (versão

cuidados de saúde primários);

­ Apresentação de alertas aos profissionais de saúde nos diferentes contextos de

prestação de cuidados.

75

­ Possibilidade de o médico de família, de o enfermeiro ou outro profissional de saúde

dos CSP poder referenciar para a consulta intensiva de cessação tabágica

(referenciação interna ou a nível do ACES);

­ Apresentação de um alerta à equipa, relativo ao dia "D" (dia em que o utente deixará

de fumar), indicando que a equipa deverá efetuar um telefonema ao utente;

­ Agendamento da consulta de cessação tabágica na agenda médica/enfermagem,

­ Disponibilização de indicadores de monitorização na plataforma SIM@SNS e

relatórios de suporte a esses mesmos indicadores.

2. Implementação das alterações em todos os sistemas de informação existentes nas instituições

de cuidados de saúde primários.

Tarefas a realizar pelas ARS I.P.

1. Apoio na definição de indicadores.

2. Apoio na fase de pré-testes e de rollout do sistema.

3. Apoio na fase de implementação do sistema.

4. Coordenação regional na recolha e análise estatística de dados.

76

77

CAPÍTULO VI

GOVERNAÇÃO E ESTRUTURA EXECUTIVA PARA CSP

78

79

6. Governação e Estrutura Executiva para CSP

A DGS acompanhará o processo de implementação do Programa, na área do tabaco, no âmbito do

PNPCT.

A implementação do Programa, na área do tabaco, será da responsabilidade das ARS I.P. e

coordenada pelas equipas Regionais do PNPCT, constituídas de acordo com a Orientação da DGS

n.º 19, de 09/11/ 2012.

Cada Equipa de Coordenação Regional deverá ser dimensionada em função das necessidades e

dos recursos disponíveis e ter a seguinte constituição:

­ Responsável Regional do Programa;

­ Representante dos Departamentos de Planeamento e Contratualização e Saúde Pública;

­ Outros profissionais de saúde com conhecimento e/ou experiência em prevenção do

tabagismo e consulta de apoio intensivo à cessação tabágica.

Os profissionais que constituem a Equipa de Coordenação Regional são designados pelo

Presidente do Conselho Diretivo de cada Administração Regional de Saúde (ARS, IP).

A Equipa de Coordenação Regional encontra-se sedeada em instalações da ARS, IP, que

assegura o apoio administrativo e os meios necessários ao desempenho das suas funções..

A equipa de coordenação regional deve dispor de tempo atribuído para as tarefas de gestão e

dinamização do Programa, num mínimo de 4 horas semanais.

Esta Equipa tem as seguintes atribuições:

a) Colaborar na identificação das necessidades de formação em cessação tabágica dos

profissionais de saúde (intervenção breve e apoio intensivo);

b) Promover a organização de ações de sensibilização e de formação profissional;

c) Colaborar na realização do mapeamento das consultas de apoio intensivo, e

caracterização de necessidades e recursos;

80

d) Colaborar na definição de uma rede de referenciação das consultas de apoio intensivo;

e) Colaborar em estudos de investigação, designadamente na avaliação da efetividade das

consultas de apoio intensivo;

f) Promover e colaborar em processos de recolha de informação no âmbito da monitorização

e avaliação do Programa na respetiva Região;

g) Promover a realização de reuniões periódicas com os Diretores Executivos e/ou Conselhos

Clínicos e de Saúde dos ACES;

h) Promover o envolvimento das Unidades de Saúde Pública na implementação do Programa,

em especial através dos respetivos Observatórios Locais de Saúde;

i) Promover o estabelecimento de parcerias a nível regional, com entidades governamentais

e não-governamentais, no âmbito do Programa.

A nível dos ACES, a responsabilidade pela implementação do Programa cabe às Direções

Executivas.

A governação do Programa cabe aos Conselhos Clínicos e de Saúde.

Os Conselhos Clínicos e de Saúde podem designar um representante para o acompanhamento do

Programa, no respetivo ACES.

Os responsáveis pelas consultas de apoio intensivo à cessação tabágica existentes em cada

ACES devem ser envolvidos neste processo, em particular no que se refere à formação e

investigação.

81

CAPÍTULO VII

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES GERAIS

82

83

7. Conclusões e Recomendações Gerais

Valorização do tabaco como prioridade pelos órgãos de gestão aos diferentes níveis.

Integração das atividades do presente Programa no âmbito do PNPCT.

Envolvimento dos Diretores Executivos e dos Conselhos Clínicos e de Saúde dos ACES.

Melhoria dos sistemas de registo clínico e de enfermagem.

Aprovação de novos indicadores na área do tabaco cobrindo de uma forma mais compreensiva as

diferentes intervenções dos profissionais.

Definição de formas de contratualização harmonizando a nível nacional o registo de novos utentes

fumadores e do consumo do tabaco.

Divulgar e promover as “carteiras adicionais” de serviços para implementação de consultas

intensivas de cessação tabágica, de acordo com o Programa-tipo da DGS, de apoio à cessação

tabágica.

Definição das formas de pagamento dos profissionais envolvidos em consultas intensivas, quando

extra horário.

Recomendação para que o acesso da população aos medicamentos em uso na cessação tabágica

com evidência cientifica sejam disponibilizados ou comparticipados, nomeadamente os substitutos

de nicotina nas diferentes apresentações e a vareniclina.

Os elementos dos Grupos Regionais devem ter pelo menos 4 horas semanais de tempo alocado

para cumprimento dos objetivos do Programa.

84

85

CAPÍTULO VIII

Resumo das propostas e Plano de Ação

Sumário com cronograma

86

87

VIII. Resumo das propostas DGS/ACSS/SPMS/ARS e plano de Ação sumário com cronograma

OBJETIVOS MEDIDAS PROPOSTAS ATIVIDADES/PROCEDIMENTOS

ENTIDADE

RESPONSÀVEL

CALENDARIZAÇÃO

1.Aumentar o

número de utentes

fumadores apoiados

por uma intervenção

breve para a

cessação tabágica

2.Aumentar o

número de

tentativas para parar

de fumar apoiadas

por uma Intervenção

breve

1.Promoção de práticas

de prevenção primária do

tabagismo e de

intervenções breves nos

CSP, particularmente no

que diz respeito a grupos

de risco, como por

exemplo, os jovens e as

grávidas

Promover a educação para a saúde e a literacia da população, relativamente ao

tabagismo, com lançamento de campanhas nacionais, produção de materiais

informativos e de sensibilização, (nomeadamente para jovens e grávidas), no

âmbito do PNPCT.

DGS 2015/2020

Elaborar proposta e divulgar a rede de referenciação superiormente aprovada no

âmbito da prestação de cuidados de saúde em cessação tabágica.

DGS 2015-2017

Articular com os SPMS e a ACSS na definição do sistema de registo e de

avaliação/contratualização em cessação tabágica.

DGS/SPMS/ACSS 2015/2016

Atualizar e difundir o Programa-tipo de apoio à cessação tabágica. DGS 2015/2020

Promover a educação para a saúde e a literacia da população, com

implementação de projetos e iniciativas de âmbito regional

ARS 2015-2020

Colaborar nas atividades de informação/prevenção do tabagismo no âmbito de

iniciativas estruturadas e de outras ações dinamizadas pelos ACES.

ARS 2015-2020

88

3.Aumentar a taxa

de sucesso das

tentativas para parar

de fumar apoiadas

por uma Intervenção

breve

Dotar as consultas de saúde materna e planeamento familiar com medidores de

monóxido de carbono.

ARS 2015-2020

Dotar as Unidades funcionais dos ACES, designadamente USP e UCC com

medidores de monóxido de carbono, sempre que necessário, no âmbito de

projetos estruturados de intervenção na comunidade.

ARS 2015-2020

Colaborar na definição e assegurar a implementação da Rede de referenciação

aprovada.

ARS 2015-2020

Atualizar e divulgar semestralmente a rede de referenciação de consultas

intensivas por ARS – consultas em ACES, ULS e Hospitais.

ARS 2015-2020

Sensibilizar os profissionais de saúde para o adequado registo da informação

respeitante a consumos de tabaco.

ARS 2015-2020

Sensibilizar os profissionais para o registo do consumo de tabaco na gravidez e

para a realização de intervenções de apoio à cessação tabágica.

ARS 2015-2020

Divulgação de informação sobre consequências do consumo de tabaco e sobre a

existência de apoio à cessação tabágica disponível nos CSP.

ARS 2015-2020

89

2. Formação dos

profissionais no que respeita

à identificação do consumo

de tabaco e intervenções

breves

Promover e apoiar a organização de ações de formação dos profissionais de

saúde dos CSP em intervenções breves.

DGS/ARS

2015-2020

Promover e apoiar a organização de ações de formação dos profissionais de

saúde dos CSP em intervenções breves.

DGS 2015-2020

Difundir o Programa-tipo de atuação em cessação tabágica junto das ARS e dos

profissionais de saúde.

DGS 2015-2020

Elaborar materiais didáticos de apoio à formação dos profissionais de saúde, em

diferentes suportes.

DGS 2015-2020

Promover o envolvimento das estruturas de formação pré e pós graduada, em

particular dos cursos prégraduados na área da saúde e dos Internatos médicos,

em particular o de MGF.

DGS 2015-2020

Incentivar a participação em reuniões e encontros científicos de divulgação de

experiências e de melhores práticas.

DGS 2015-2020

Disponibilizar uma plataforma de e-learning de acesso a ações de formação para

profissionais de saúde dos CSP

SPMS 2016

Identificar as necessidades de formação a nível regional e de cada ACES. ARS,I.P. 2015-2020

90

Elaborar um plano de formação em Intervenção Breve, a implementar a nível

regional ou dos ACES.

ARS,I.P. 2015-2020

Apoiar a realização de ações de formação promovidas pela DGS/PNPCT. ARS,I.P. 2015-2020

Difundir o Programa-tipo de atuação em cessação tabágica junto dos ACES e

dos profissionais de saúde ARS,I.P.

2015-2020

Difundir junto dos ACES as orientações e materiais didáticos de apoio à

formação, em diferentes suportes, produzidos pela DGS/PNPCT.

ARS,I.P. 2015-2020

3. Divulgação da importância

da identificação do consumo

de tabaco e das

intervenções breves

Promover e acompanhar o Programa Nacional de Intervenções Breves DGS/PNPCT 2015-2020

Elaborar materiais de informação e divulgação sobre intervenções breves. DGS/PNPCT 2015-2020

Proceder à recolha, análise e divulgação estatística de resultados no âmbito

das intervenções breves. DGS/PNPCT

2015-2020

Promover reuniões nos ACES/ULS, com os Diretores Executivos e Conselhos

Clínicos e da Saúde. ARS,I.P.

2015-2020

Designar em cada ACES um interlocutor do tabagismo, em representação do

Conselho Clínico e de Saúde, para assegurar a adequada gestão do Programa

ARS I.P.

Norte, Centro,

Alentejo, Algarve

2015-2020

91

Difundir materiais de sensibilização e informação nos ACES. ARS,I.P. 2015-2020

Divulgar dados estatísticos de resultados entre os ACES. ARS,I.P. 2015-2020

4.Investigação que vise a

melhoria da

implementação das

práticas

Recolher e analisar dados estatísticos sobre a implementação do Programa. DGS/ ARS,I.P. 2016-2020

Fomentar a realização de estudos de investigação de âmbito nacional sobre a

implementação do programa e a sua efetividades DGS/ ARS,I.P.

2016-2020

Promover formas de articulação com Escolas e Universidades na área da Saúde

para fomento da investigação na área do tabagismo. DGS

2016-2020

Fomentar a realização de estudos de investigação de âmbito nacional DGS 2016-2020

Apoiar estudos nacionais no âmbito das intervenções breves ARS,I.P. 2016-2020

Apoiar e promover estudos regionais e a nível dos ACES no âmbito das

intervenções breves. ARS,I.P.

2015-2020

Promover, em articulação com a Coordenação Regional do Internato de Medicina

Geral e Familiar, a implementação da agenda de investigação clínica. ARS,I.P.

2015-2020

Realização de relatório quadrimestral dos indicadores contratualizados pela

ACSS. ARS,I.P.

2015-2020

92

5. Definição do modelo de

monitorização e de suporte

à implementação das

intervenções breves nos

CSP.

Produzir indicadores e respetivos Bilhetes de identidade ACSS/DGS/

ARS,I.P.

2015

Criar Sistema nacional de registo clínico no âmbito da cessação

tabágica/intervenções breves ACSS/DGS

2016

Recolha e análise de dados

ACES/

ARS,I.P./ACSS/

DGS

2016-2020

Definição dos requisitos a garantir nos Sistemas de informação DGS/SPMS/ARS 2015

Adaptação dos Sistemas de informação de suporte

SPMS/

Fornecedores de

Software /

DGS/ARS

2016

Implementação das alterações nas Instituições dos CSP

SPMS/

Fornecedores de

Software /

DGS/ARS

2016

93

CAPÍTULO IX

REFLEXÕES FINAIS

94

O presente relatório apresenta o trabalho desenvolvido pelo Grupo de Trabalho constituído através

do Despacho n.º 3802/2015 - Diário da República n.º 74/2015 de Sua Excelência o Secretário de

Estado Adjunto do Ministro da Saúde, com o objetivo de proceder ao desenvolvimento de um

conjunto de medidas relativas à implementação, nos Cuidados de Saúde Primários (CSP), de um

programa de deteção precoce e intervenções breves dirigido ao consumo excessivo de álcool e ao

consumo de tabaco, a nível nacional.

Os Cuidados de Saúde Primários surgem naturalmente como o local ideal para a prevenção do

consumo destas substâncias dada a sua elevada prevalência na população, aliada ao elevado

número de contactos com este serviço de saúde. Estes pressupostos fazem deste nível de

cuidados a pedra basilar na redução da morbimortalidade associada a estas substâncias. A

implementação deste programa ao nível da prestação de cuidados de saúde e em particular dos

Cuidados de Saúde Primários é geradora de ganhos em saúde. O sucesso desta abordagem em

Cuidados de Saúde Primários será essencial para o desenvolvimento de uma Rede de

referenciação robusta e eficaz.

Com efeito a importância desta matéria pode vir a reforçar a necessidade da aplicação da deteção

precoce e intervenções breves noutros contextos como ao nível da Saúde Ocupacional, do Serviço

Social, das Forças Militares e de Segurança, do Sistema Judicial e do Sistema Educativo. A

mudança de comportamentos para estilos de vida saudáveis e a prevenção constituem uma

necessidade imperiosa em todos os Planos ligados à Saúde focado nos Determinantes de Saúde

Pública e onde a deteção precoce e intervenções breves poderão ter um papel primordial no bem-

estar e qualidade de vida das populações.

95