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Relatório de Estágio apresentado para cumprimento dos requisitos necessários à
obtenção do grau de Mestre em Tradução, Especialização em Inglês, realizado sob a
orientação científica da Professora Doutora Karen Bennet e da Doutora Susana Valdez.
Agradecimentos
Aos meus pais pelo apoio que me deram ao longo do meu percurso académico.
À Professora Doutora Karen Bennet e à Doutora Susana Valdez por toda a sua
disponibilidade, pelos conselhos e pelo apoio prestado, sem os quais este relatório não
poderia ter sido desenvolvido. Foi um privilégio ser vossa orientanda.
A todos os membros da Found in Translation, Lda., pela oportunidade que me
deram não só de ganhar experiência e adquirir novos conhecimentos mas também de
desenvolver trabalho na área da transcriação de anúncios publicitários.
A todos os professores do Mestrado em Tradução da FCSH pelo seu contributo
para a minha formação académica.
Ao Hugo Lourenço, à Maria João Leal, ao Miguel Matos, à Claúdia Santos e à
Ana Rita Santos pelo apoio, compreensão e amizade que sempre demonstraram.
RESUMO
Manual de boas práticas de transcriação
Marta Pires Sena
Neste relatório do estágio apresenta-se a proposta de um manual de boas
práticas de tradução decorrente do trabalho realizado ao longo de 400 horas de
estágio na empresa Found in Translation, Lda.
No contexto deste relatório, o objetivo da transcriação é a adaptação de
anúncios publicitários para uma língua e cultura de chegada diferentes daquelas da
língua de partida. Dado o número reduzido de informações disponíveis sobre este tipo
de tradução, pretende-se reunir neste manual um conjunto de sugestões e instruções
que possam não só informar o tradutor sobre o processo de transcriação como
também apoiá-lo durante o seu trabalho.
O relatório tem como objetivo, portanto, responder a dúvidas comuns relativas
à transcriação, fornecendo diretrizes para a prática desta, explorando conceitos a ela
associados (como seja o da localização), e desenvolvendo uma base de apoio à prática
da transcriação.
PALAVRAS-CHAVES: transcriação, anúncios publicitários, manual de boas
práticas, publicidade
ABSTRACT
Manual of good practices in transcreation
Marta Pires Sena
As result of a 400-hour internship in the translation company Found in
Translation, Lda., this report presents a proposal for a good practice manual in the area
of transcreation.
In the context of this report, transcreation is defined as the adaptation of an
advertisement to a language and culture different from that of the source language. As
there is little practical information available on this subject, this report aims to put
together a series of suggestions and instructions to inform translators about the
transcreation process and support them during the job.
The report will seek to answer relevant questions in the area of transcreation,
clarifying the difference between this practice and that of translation, providing
guidelines for the practice of transcreation, exploring concepts connected to it (such as
localization), and developing a basis of support for the practice of transcreation.
KEYWORDS: transcreation, commercials, good translation practices,
advertising
Índice
Introdução ..................................................................................................................................... 1
Capítulo 1: O Estágio ..................................................................................................................... 4
1.1. A empresa .......................................................................................................................... 4
1.2. Tradução e revisão ............................................................................................................. 5
Capítulo 2: A Transcriação ............................................................................................................. 7
2.1. Localização ......................................................................................................................... 8
2.2. Transcriação ....................................................................................................................... 8
2.3. Transcriação de anúncios em formato de vídeo .............................................................. 11
2.4. Transcriação de anúncios impressos ................................................................................ 17
Capítulo 3: Criação de um manual de boas práticas de transcriação ......................................... 21
3.1. Questões legais - Código da Publicidade .......................................................................... 23
Conclusão .................................................................................................................................... 25
Referências Bibliográficas ........................................................................................................... 27
Anexos ......................................................................................................................................... 29
Anexo 1 - Manual de boas práticas de tradução ......................................................................... 30
Anexo 2 - Tabela de transcriação para anúncios em formato de vídeo...................................... 41
Anexo 3 - Tabela de transcriação para anúncios em formato físico ........................................... 43
Anexo 4 - Tabela de transcriação do projeto de transcriação para o relógio Cellini Dual Time . 44
Anexo 5 - Ficheiro de partida do projeto de transcriação para o relógio Cellini Dual Time ....... 47
Anexo 6 - Tabela descritiva do número de palavras traduzidas por área ................................... 49
LISTA DE ABREVIATURAS
CC: Cultura de Chegada
CP: Cultura de Partida
FIT: Found in Translation, Lda
LC: Língua de Chegada
LP: Língua de Partida
LTB: Linguistic Toolbox
LSO: Linguistic Sign-off
TC: Texto de Chegada
TP: Texto de Partida
1
Introdução
O presente relatório apresenta o trabalho desenvolvido durante o estágio de
400 horas realizado na empresa de tradução Found in Translation, tendo sido
elaborado no âmbito da componente não letiva do Mestrado de Tradução, na Área de
Especialização em Inglês.
No que diz respeito à sua organização, o relatório encontra-se dividido em três
capítulos. O primeiro capítulo descreve a empresa de acolhimento, assim como as
principais etapas de um projeto de tradução (tradução, revisão e Linguistic Sign-Off) e
o trabalho desenvolvido durante o estágio. O segundo capítulo foca-se na transcriação,
apresentando, em primeiro lugar, o fundamento teórico que serviu de base à
construção do manual e, em seguida, dois tipos possíveis de projetos de transcriação:
anúncios impressos e anúncios em formato de vídeo. Por último, o terceiro capítulo
apresenta a base subjacente à criação do manual de boas práticas de transcriação para
a empresa de tradução. Este último reúne um conjunto de instruções e conselhos que
visa facilitar o trabalho do tradutor, servindo de base ao seu trabalho e permitindo a
consulta em caso de dúvida.
Por uma questão de organização e para facilitar a leitura do presente relatório,
em seguida apresenta-se um conjunto de termos utilizado ao longo do relatório e o
seu significado.
Tradução técnica: os textos sobre os quais a tradução técnica se debruça fazem
parte do conjunto que Reiss (2014) descreve como textos focados no conteúdo. Este
tipo de textos tem como objetivo fornecer informação de forma rápida, precisa e
exaustiva. Desta forma o mais importante na tradução destes documentos é a
transferência do conteúdo do texto para a língua de chegada. Segundo Klaus Schubert
(2010):
Technical translations are covert translation, which means
that the necessities of the target situation override any
equivalence requirements.
2
Assim, este tipo de tradução é essencialmente orientada para a cultura de
chegada já que, pela importância das informações com que lida, se deve expressar da
forma com que todos os possíveis leitores estejam familiarizados. Para os efeitos do
presente relatório, entendemos a tradução jurídica como fazendo parte da tradução
técnica. Da tradução jurídica consta, entre outras, a tradução de documentos legais
como contratos, sendo também esta realizada pela Found in Translation.
Tradução assistida por computador: a tradução assistida por computador
define-se, de acordo com Lynne Bowker e Des Fisher (2010), como o uso de software
informático para assistir um tradutor humano durante o processo de tradução. Ao
utilizar este tipo de software, a tradução é transformada num processo de interação
entre o tradutor e o software de tradução assistida por computador. As vantagens que
este tipo de programa traz à tradução prendem-se não só com a organização do
documento, mas também com a velocidade de processamento, já que um computador
é capaz de pesquisar e comparar um segmento com memórias de tradução e bases
terminológicas extensas numa questão de segundos. Desta forma, o tradutor pode
concentrar-se não só em rever e adaptar as sugestões que lhe são dadas como em
trabalhar nas traduções em falta. É de notar que ainda que o tradutor possa utilizar
vários programas durante o seu trabalho, as ferramentas de tradução assistida por
computador são programas desenvolvidos especificamente para a atividade de
tradução, estando assim excluídos programas como o Microsoft Excel e o Word.
Linguistic Sign-Off: segundo a descrição presente no site da Lionbridge (2015), a
empresa responsável pelo desenvolvimento deste programa, este é
a software application that provides automated pre-processing
and post-processing work for translated or to be translated documents.
It integrates many applications previously used in production as stand-
alone tools into one application allowing you to easily perform QA
tasks on your files, as well as to extract valuable linguistic information
from them.
3
Sendo uma ferramenta de controlo de qualidade, o LTB é fundamental para
manter a coerência ao longo de um ou mais ficheiros, permitindo detetar problemas
como, por exemplo, erros ortográficos ou segmentos cuja tradução não tenha sido
realizada. Após a introdução do documento traduzido e do ficheiro de configuração, o
programa gera um relatório em Excel para consulta. Para implementar as alterações
sugeridas, o tradutor tem de regressar à ferramenta de tradução assistida por
computador.
Memória de tradução: uma memória de tradução é, segundo Lynne Bowker e
Des Fisher (2010), uma ferramenta que permite guardar textos previamente
traduzidos e mais tarde proceder à sua consulta. É possível que dentro de uma
memória de tradução se encontrem inúmeras traduções, a informação aí contida está
dividida por segmentos, normalmente coincidentes com frases. Ao iniciar uma nova
tradução, o programa de tradução assistida por computador acede à memória, ou
memórias, de tradução comparando os vários segmentos do novo documento com
aqueles que se encontram guardados. Ao encontrar frases iguais ou semelhantes, o
programa irá depois carregá-las para a zona de trabalho, onde o tradutor tem a
oportunidade de as aceitar, modificar ou, se for o caso, apagar. Ainda que seja útil para
manter a coerência entre as várias traduções, é importante ter em consideração que
os termos contidos nas memórias de tradução podem não apresentar a tradução mais
correta, sendo mesmo possível que existam várias possibilidades de tradução para o
mesmo termo. Por esta razão, o tradutor deve confirmar o rigor dos termos guardados
antes de os utilizar.
Bases terminológicas: de acordo com Lynne Bowker e Des Fisher (2010), as
bases terminológicas armazenam informação terminológica a que mais tarde o
tradutor pode aceder. As bases terminológicas têm vários campos e podem ser
personalizados pelo tradutor com informações tão distintas como possíveis variações
do mesmo termo, imagens e até frases onde o termo é utilizado.
4
Capítulo 1: O Estágio
1.1. A empresa
Situada em Almada, a Found in Translation (FIT) é uma empresa que presta
serviços de tradução. Composta a nível interno por três gestores de projetos e quatro
tradutores, a FIT trabalha também com vários tradutores externos, especializados em
diversas áreas e pares de idiomas. Ainda que o mais comum destes seja o par inglês-
português, os pares espanhol-português, francês-português, italiano-português,
alemão-portugês e o neerlandês-português fazem também parte das línguas de
trabalho da FIT. Os projetos enviados para a FIT são entregues aos diferentes
tradutores tendo em conta a sua disponibilidade, especialização, o prazo de entrega e
também o cliente final.
Ao nível de trabalho, os projetos dizem respeito, na sua maioria, a
documentação técnica de produtos e serviços tais como, manuais de equipamentos,
manuais de cursos de formação, questionários para avaliação de conhecimentos, de
áreas tão variadas como a engenharia, a medicina e a mecânica.
A estes serviços acresce ainda aquele que se prende com a transcriação. No
contexto deste relatório, a transcriação diz respeito à adaptação de anúncios
publicitários a uma realidade cultural e linguística diferente. Desta forma, segundo
Teresa Costa Alves, a transcriação caracteriza-se por ser "um tipo de tradução que
excede os limites linguísticos do texto, envolve(ndo) também as dimensões imagéticas,
estéticas, simbólicas e, consequentemente, incide na área da tradução de culturas"
(2014:13). Assim, a prática da transcriação apresenta os seus próprios desafios não só
ao nível de tradução — uma parte essencial deste processo — como também da
escrita criativa, da localização e da adaptação ao público-alvo. Este tema será
desenvolvido em maior pormenor ao longo do segundo capítulo.
Ao longo dos três meses de estágio na FIT foram traduzidas pela estagiária um
total de 19.895 palavras e revistas cerca de metade deste número. No Anexo 6 é
possível consultar com mais detalhe a distribuição deste número por várias áreas de
especialização, entre elas a farmacêutica e a engenharia. No que diz respeito à
transcriação, foram realizados, pela estagiária, um total de 9 projetos. Nestes
5
encontram-se incluídos anúncios publicitários em formato de vídeo, em formato
impresso e também publicidade dirigida a crianças.
1.2. Tradução e revisão
Um dos aspetos mais positivos do estágio na FIT foi a oportunidade de ganhar
experiência e adquirir novos conhecimentos não só a nível de tradução como também
ao nível de diferentes ferramentas de tradução assistida por computador.
A ferramenta a ser utilizada durante a tradução depende das indicações do
cliente. Durante o período de estágio, aquelas mais utilizadas foram o Translation
Workspace (TW) e o SDL Trados. É ainda possível executar a tradução no Microsoft
Excel ou se necessário traduzir frases soltas que, por razões diversas, não vieram
incluídas no projeto original. Independentemente do ambiente de trabalho a que se
destinam, os projetos de tradução vêm normalmente acompanhados por bases
terminológicas e uma memória de tradução (MT). É também possível que o projeto
venha acompanhado pelo guia de estilo da empresa ou material de referência.
Ao finalizar a tradução é necessário gerar um relatório no programa Linguistic
Toolbox (LTB). Ao executar este programa é possível carregar as configurações
enviadas pelo cliente ou, na ausência destas, uma configuração predefinida. O
programa irá procurar erros ortográficos, inconsistências na terminologia utilizada,
incoerências ao nível da utilização de maiúsculas e minúsculas, inconsistências entre os
números presentes no texto de partida (TP) e no texto de chegada (TC) e fragmentos
que não tenham sido traduzidos. No fim deste processo o LTB gera um relatório onde
todas estas entradas são listadas. Como em qualquer programa, as entradas geradas
no relatório do LTB devem ser analisadas com espírito crítico, já que é possível que se
esteja na presença de falsos positivos, por outras palavras, que o programa tenha
apontado como erro uma palavra ou segmento que estão corretos. Como exemplo,
podemos referir que a sequência "ct", em que o "c" foi eliminado em várias palavras
devido às regras do Novo Acordo Ortográfico, é apresentada como erro
independentemente da palavra em causa ter perdido esta consoante ou não. Ao rever
este relatório, o tradutor deve preencher uma coluna intitulada "Ignore". Esta coluna
aceita dois valores: Mark, indicando que a entrada identificada se tratava de um erro e
6
que este foi corrigido e Ignore, que identifica as situações de falso positivo. O relatório
do LTB é sempre entregue juntamente com a tradução realizada, sendo normalmente
pedido pelo cliente.
É possível que, após estas duas fases, o projeto seja novamente devolvido ao
tradutor para que este realize uma outra fase do projeto de tradução: o Linguistic
Sign-Off (LSO). O documento sobre o qual o LSO se aplica encontra-se já na sua versão
final, ou seja, o ficheiro foi convertido e apresenta-se no formato em que será
apresentado ao público-alvo. O objetivo do LSO é o de rever a versão final do ficheiro,
confirmar a qualidade e rigor da tradução e rever as características formais do
documento. Apesar disto, e salvo situações em que de facto se encontrem problemas
na tradução, a intenção do Linguistic Sign-Off (LSO) não é a de alterar ou reescrever o
texto. Os problemas que o tradutor procura durante este processo estão ligados a
erros que podem surgir quando o documento traduzido é convertido para a sua versão
final. Estes erros estão, portanto, relacionados com a possível desformatação do texto
(tamanho, cor e tipo da letra, espaçamento, alinhamento dos parágrafos) e elementos
gráficos (sobreposição de imagens e texto); presença de texto por traduzir, incluindo
em imagens e gráficos; não-localização de elementos como a hora e/ou a data;
translineação; diferenças entre maiúsculas e minúsculas entre o texto de partida e de
chegada ou a incorreta utilização destas; erros em números, não só a nível da presença
de todos os dígitos, mas também da localização e a colocação do separador decimal,
entre outros. Ao encontrar qualquer um destes problemas, o revisor/tradutor deve
identificá-la e indicar a correção a ser aplicada. No entanto, e porque existem vários
formatos possíveis para o documento final, este processo pode exigir diferentes
abordagens. Um dos formatos mais comuns para o ficheiro final é o PDF. Neste caso,
os problemas detetados podem ser sublinhados e a correção colocada em comentário
dentro do próprio ficheiro. Estas alterações não são aplicadas pelo revisor/tradutor,
sendo um trabalho que cabe à equipa de Desktop Publishing do cliente. Por esta razão
é importante ser o mais claro possível com as indicações: é pouco provável que os
elementos desta equipa tenham conhecimentos da língua de chegada. Outra
possibilidade é o texto traduzido fazer parte de um documento informático interativo
como um programa ou site, pelo que é enviado ao tradutor/revisor um caminho de
acesso, ou seja, uma endereço na Internet e as credenciais de acesso ao programa.
7
Nestes casos, além dos vários potenciais erros supracitados, há algo mais a que se
deve ter atenção: erros de programação. Quando ocorrem, estes erros são fáceis de
identificar, tratando-se, por exemplo, de: hiperligações inoperacionais (por outras
palavras, a página para que dado comando devia encaminhar, não abre) ou situações
em que o comando em vez de encaminhar o utilizador para a página indicada o
encaminha para a outra. Ao nível dos programas é ainda importante estar atento a
situações em que a ação pretendida da aplicação e o comportamento desta entram
em conflito. Por exemplo, se ao selecionar a resposta A num teste de escolha múltipla
surgir uma afirmação como "Está correto. A resposta certa é C" esta situação deve
também ser reportada. Por estarmos num ambiente que não nos permite inserir os
comentários diretamente no ficheiro, o LSO exige utilizar a opção Print Screen e a
ferramenta Paint do Windows para identificar a área que deve ser corrigida. Em
seguida, é necessário colocar esta imagem no Microsoft Word ou Excel com as
indicações das correções que devem ser implementadas e a identificação da página em
que o erro se encontra. Este ficheiro é, depois, enviado ao cliente. A entrega do
Linguistic Sign-Off inclui o ficheiro com os comentários e, normalmente, o ficheiro
bilingue com as alterações já executadas. É possível que se receba o ficheiro uma
última vez, já com as alterações indicadas implementadas. Neste caso, o tradutor deve
certificar-se de que os seus comentários foram inseridos corretamente e reenviar o
ficheiro.
Como podemos concluir, o trabalho do tradutor não se encontra restrito à
tradução, exigindo não só competências linguísticas mas também tecnológicas, além
da capacidade de se adaptar a novos programas e ambientes de trabalho.
Capítulo 2: A Transcriação
Neste capítulo é apresentado não só o suporte teórico do manual como
também a descrição de dois tipos possíveis de projetos de transcriação: anúncios
impressos e anúncios em formato de vídeo. Ao longo deste capítulo serão também
apresentados e explicados vários dos conselhos e instruções que constam do manual
de boas práticas de tradução.
8
2.1. Localização
No contexto da tradução, a localização, ou L10N, diz respeito à adaptação
cultural e linguística de conteúdo digital dirigido a um determinado mercado. Segundo
Reinhard Schäler (2010), a localização não se restringe apenas ao processo de
tradução, tendo uma natureza mais abrangente já que se foca na adaptação do texto e
na adaptação dos vários componentes visuais como, por exemplo, imagens e gráficos.
A localização pode mesmo significar o corte de conteúdo. Por outras palavras, o
objetivo final da localização é o de que o material seja apresentado ao consumidor
como se tivesse sido feito especificamente para a sua cultura. Assim, o processo de
localização é, normalmente, usado na tradução de software, jogos e sites, ainda que
textos para dobragem e conteúdo multimédia também possam ser alvo de localização.
Antes de qualquer produto ser localizado existe um outro passo que deve ser
referido para melhor compreender este processo. Este passo prende-se com a
internacionalização. A internacionalização é, nas palavras de Reinhard Schäler (2010), a
preparação do conteúdo digital de forma a que possa ser utilizado em vários idiomas e
facilmente localizado. A intenção deste processo prende-se com a eliminação de
processos demorados e de elevado custo que poderiam exigir, por exemplo, a
reconstrução total do material em causa. Assim, ao conceber uma aplicação com o
mercado global em mente procura-se garantir que esta consegue responder às
exigências de diversos mercados, culturas e sistemas de escrita sendo flexível o
suficiente para os poder acomodar. Reinhard Schäler (2010) identifica situações como
a codificação inapropriada de carateres ou a dependência de cadeias (de carateres)
específicas dentro de um programa como sendo a causa de problemas comuns em
projetos que não foram alvo de internacionalização. A internacionalização é da
responsabilidade do cliente e realizada durante a criação do material que mais tarde
será alvo de localização.
2.2. Transcriação
Ainda que normalmente associada à tradução de textos publicitários, a
transcriação não se encontra restrita a esta área, sendo possível encontrá-la, por
exemplo, em textos humorísticos. Neste relatório, contudo, o foco centra-se,
9
exclusivamente na transcriação de anúncios publicitários, pelo que o objetivo desta,
pode ser descrito, segundo Aída Ramos (2016) na sua formação “Transcreación y
copywriting EN-ES”, como a recriação, no texto de chegada, o conceito de marketing
subjacente à campanha publicitária do texto de partida. Assim, a transcriação partilha,
segundo Cristina Valdés (2011), o objetivo da própria escrita para publicidade:
persuadir e influenciar o público-alvo para que este adquira o produto ou serviço que
está a ser publicitado. Devido a isto, exige a localização de elementos da cultura de
partida por símbolos, imagens ou expressões. O intuito de todas as mudanças
operadas durante a transcriação de anúncios publicitários é o de que o público se
identifique com a realidade apresentada pela publicidade, vendo-a como tendo sido
construída com o mercado em que se insere em mente.
Independentemente do meio para que se destinam (televisão, jornais, Internet,
revistas), a maioria dos anúncios partilha uma estrutura semelhante. Segundo Aída
Ramos (2016), esta estrutura é formada por uma frase introdutória, pelo corpo do
anúncio, por uma frase final e por uma ou várias imagem. Esta estrutura não é fixa,
podendo variar em função do anúncio. O objetivo da frase introdutória é o de captar a
atenção do público-alvo apresentando a ideia principal do anúncio. O corpo do
anúncio pretende desenvolver as ideias sugeridas na introdução, gerando interesse no
público-alvo. Já a frase final procura ter um impacto memorável, não permitindo que o
público-alvo esqueça a marca e o produto ou o serviço publicitado. No seu conjunto
estes elementos procuram captar a atenção, o interesse e o desejo do público-alvo.
Tal como quando se trabalha num projeto de tradução, existem vários
documentos que acompanham o envio do material para transcriação. Estes
documentos encontram-se organizados dentro de várias pastas e incluem: o ficheiro
de partida, o ficheiro para transcriação e, por vezes, glossários, material de referência
e documentos onde o cliente se apresenta e ao seu produto, marca e até história. Em
primeiro lugar, comecemos por descrever cada um destes documentos.
O ficheiro de partida é o documento para tradução no seu formato "original".
Este ficheiro encontra-se no formato PDF ou MP4 e na língua de partida, sendo
essencial para o tradutor se ambientar ao ritmo, ao tom e ao tempo ou espaço que
cada uma dos segmentos ocupa. O Anexo 5 ilustra o ficheiro de partida de um dos
projetos de transcriação realizados pela estagiária.
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O ficheiro para transcriação encontra-se no formato Microsoft Excel,
apresentando uma tabela com várias linhas e colunas onde o tradutor deve
desenvolver o seu trabalho. Esta tabela apresenta, pela própria natureza da
transcriação, várias diferenças relativamente às tabelas usadas em projetos de
tradução e que serão exploradas mais à frente. É comum que este ficheiro comporte
também um conjunto de instruções enviadas pelo cliente e que têm como objetivo
ajudar e orientar o tradutor durante o seu trabalho. Nos Anexos 2 e 3 encontram-se
exemplos de tabelas de transcriação.
No que diz respeito ao material de referência este é constituído por antigos
anúncios televisivos ou panfletos da mesma marca ou produto. Estes tanto podem
estar na sua versão final como serem entregues num ficheiro Excel, caso em que
estaremos a lidar com uma tabela de transcriação já preenchida e aprovada. O
material de referência não só é importante como é de enorme utilidade já que permite
que o tradutor se ambiente à linguagem própria da marca. É, contudo, possível que
não seja enviado material de referência, caso em que é importante procurar outros
projetos da marca/produto na base de dados interna da empresa de tradução ou na
Internet (nomeadamente no site português da marca). Desta forma é possível manter
a coerência ao longo dos diferentes projetos e evitar situações em que se traduz
segmentos — e mesmo slogans — de forma díspar da que já foi traduzida
anteriormente.
Tal como em qualquer projeto de tradução é possível que o projeto de
transcriação venha acompanhado de um glossário. O glossário contém a tradução
aprovada pelo cliente para vários termos utilizados nos seus documentos.
Por fim, é possível que um dos documentos enviados seja um guia de estilo.
Neste o cliente não só se apresenta e ao seu produto, mas também dá informações
importantes sobre o tom da marca, a sua voz e o que é ou não aceitável enquanto
transcriação. É possível que estas indicações e instruções venham incorporadas no
ficheiro para transcriação e não num documento externo. Se o guia de estilo do cliente
não for enviado ou surgirem dúvidas que não estejam abrangidas por este, o tradutor
deve utilizar o guia de estilo da FIT elaborado por Filipe Gonçalves no âmbito da
componente não letiva do Mestrado de Tradução da Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas da Universidade Nova.
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2.3. Transcriação de anúncios em formato de vídeo
A transcriação de anúncios em formato de vídeo refere-se a material
publicitário que será exibido em meios como a televisão e Internet. Ocupando
normalmente entre trinta segundos e um minuto, estes anúncios são, por vezes,
acompanhados por uma versão abreviada que também será alvo de transcriação e terá
uma tabela de transcriação própria.
Abaixo encontra-se reproduzida a linha de cabeçalho de um possível
documento para transcriação de um anúncio televisivo.
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Figura 1 - Linha de cabeçalho de uma das configurações possíveis da tabela de
transcriação para anúncios em formato de vídeo
Apesar de todos os projetos virem acompanhados destas tabelas, o formato da
tabela varia, já que nem todos os clientes exigem todas as fases de um processo de
transcriação tradicional. A configuração ilustrada na Figura 1 não é, portanto, a única
configuração possível para a tabela de transcriação como pode ser concluído ao
consultar o Anexo 2. Alguns campos, como, por exemplo, o dedicado ao tempo que
cada segmento em português demora a ser lido, podem também ser incluídos na
tabela. De igual forma, é possível que outros, nomeadamente os referentes à
Backtranslation, não constem de alguns projetos.
Antes de começar a preencher qualquer tabela de transcriação é necessário
compreender o que é pretendido em cada um dos campos. Em primeiro lugar, há que
ter em atenção que nem todas as colunas se destinam a ser preenchidas pelo tradutor.
Tal, contudo, não significa que o tradutor deva ignorar ou descartar as informações
contidas em qualquer das colunas Time In/Out, Storyboard e Original English. Mesmo
se, devido à natureza do ambiente de trabalho em Excel e ao tamanho das tabelas de
12
transcriação, o ecrã ficar de tal forma sobrecarregado com informação que é
necessário sacrificar algumas destas colunas e deixá-las fora da zona de visionamento,
a sua existência não deve ser esquecida. Nenhuma das informações facultadas pelo
cliente é irrelevante. Além daquelas referentes a Time In/Out, Storyboard e Original
English, que veem já com as respetivas anotações, podem existir outras cuja intenção
seja serem devolvidas em branco. Uma das possíveis hipóteses é a existência de uma
coluna de comentários dirigida ao cliente. O objetivo desta é o de permitir ao cliente
inserir os comentários, perguntas e sugestões a que posteriormente o tradutor terá de
responder.
As duas primeiras colunas, Time Code In/Out, dizem respeito ao momento em
que dado segmento do diálogo ou legendas começa e termina no anúncio. A sua
utilidade prende-se, essencialmente, com a poupança do tempo do tradutor, podendo
este ter logo à partida conhecimento de uma estimativa do tempo que a sua
transcriação pode ocupar. Tal evitará situações em que partes da frase têm de ser
cortadas, palavras substituídas ou segmentos reescritos na sua totalidade, deixando
qualquer alteração final substancialmente menos trabalhosa do que se se tivesse
ignorado esta informação. Ainda assim, e porque diferentes idiomas têm diferentes
necessidades relativamente ao tempo, pode tornar-se impossível não ultrapassar o
período descrito nestas colunas. Caso isto aconteça e não seja possível reduzir ainda
mais o tempo, esta situação deve ser registada e o cliente informado da necessidade
de alocar mais tempo. Esta informação deve ser inserida na coluna dos comentários
ou, se existir, na coluna referente ao tempo.
A quarta coluna, Storyboard, contém imagens que ilustram o período de tempo
identificado nas primeiras duas colunas. As imagens desta coluna encontram-se
numeradas, sendo este número indicado na coluna Image #. Ainda que, à primeira
vista, estas sejam as colunas que têm menos utilidade, é possível que nas imagens
disponibilizadas se encontrem informações como o nome localizado do produto ou
mesmo o slogan. Tal não descarta a necessidade de confirmação da informação mas
facilita o trabalho do tradutor.
A coluna Original English apresenta o texto na língua de partida. Ainda que
normalmente esta seja a única coluna num idioma diferente, não originando por isso
qualquer dúvida sobre que texto a transcriação incide, existem situações em que são
13
enviadas colunas referentes a transcriações noutros idiomas. Quando tal acontece
existem duas situações possíveis, a primeira é que a transcriação incida sobre a
backtranslation de um dos idiomas enviados, a segunda é que os diferentes textos
tenham sido fornecidos para consulta. Ainda que, no segundo caso, esta informação a
mais possa sobrecarregar a tabela e tornar a sua leitura mais difícil, o acesso a
diferentes aproximações e formas de resolver problemas tradutórios pode e deve
ajudar o tradutor no seu trabalho.
À coluna Original English segue-se a coluna Adaptation 1. Todas as tabelas de
transcriação têm, no mínimo, espaço para duas adaptações, sendo a coluna
Adaptation 1, o local onde a primeira das duas deve ser inserida. Esta primeira
adaptação deve ser mantida próxima do texto de partida. É possível que devido à
presença de jogos de palavras, ou mesmo expressões culturais típicas da língua de
partida, tal seja impossível.
O exemplo apresentado na Figura 2 diz respeito à transcriação do anúncio do
dentrífico Colgate Express White, exibindo a primeira e a última frase deste.
Original English Adaptation 1 Adaptation 2
She's got it Ela já tem Veja este sorriso
And now she has it too E agora ela também E agora este
Have you got it? E você já tem? Como está o seu sorriso?
Figura 2 - Adaptação 1 e 2 das primeiras e última frase de um anúncio em formato de vídeo
O dentrífico deste anúncio tem um efeito branqueador sendo essa a
propriedade que está a ser publicitada. "Got it" no contexto deste anúncio pode, por
isso, ser interpretado como as personagens apresentadas já possuindo o resultado
final da utilização deste produto ou tendo já comprado o dentrífico. A relação entre o
início do anúncio e o seu fim é clara, acrescendo dificuldade à transcriação. Como se
deseja manter esta relação, o leque de escolhas fica desde logo reduzido. No primeiro
caso, optou-se pela tradução "Ela já tem" porque ao fazê-lo é possível manter a
relação entre as duas frases. Já para a segunda adaptação foram consideradas várias
14
possibilidades além daquela apresentada na Figura 2, entre elas: "Veja este sorriso e
agora este. (...) Como está o seu sorriso?" e "Faz parte deste sorriso e agora também
deste. (...) Já faz parte do seu?". A escolha do cliente incidiu sobre a primeira
adaptação.
A coluna referente aos comentários, Comments 1 ou Rationale 1, tem como
objetivo permitir ao tradutor defender e justificar as escolhas que fez na primeira
adaptação. Nas situações em que o que foi escrito é uma tradução direta do texto de
partida deve ser colocado a indicação "Direct translation" como comentário. Existem
várias formas de defender as escolhas tomadas: no que toca à tradução de termos
oficiais — como, por exemplo, o nome de eventos —, estes podem ser encontrados no
site da imprensa portuguesa e o caminho (url) fornecido juntamente com os
comentários. As opções que tenham como base o material de referência do cliente
devem também de ser referidas. É possível, contudo, que as alterações feitas tenham
sido realizadas por motivos mais pragmáticos como, por exemplo, nos casos em que a
inversão frásica realizada tenha como objetivo gerar uma maior empatia com o
público-alvo. Num anúncio dirigido a pais de bebés e crianças pequenas é discutível
que a primeira referência feita deva ser ao produto que está a ser vendido ou à marca
que o publicita. Num caso destes é possível utilizar a segunda adaptação para aplicar
esta mudança e explicar as razões para a mesma. Neste caso em particular, focar a
atenção da marca naquele que também é o centro da atenção dos pais mostra que a
marca, tal como a família, tem o bem-estar da criança, não a venda de produtos, como
prioridade.
A última das colunas referentes à primeira adaptação diz respeito à
Backtranslation. O objetivo desta é o de traduzir a adaptação feita pelo tradutor para a
língua de partida. É importante ter em consideração que o cliente está dependente
dos comentários e da retroversão para perceber a forma como as adaptações refletem
ou se distanciam do texto de partida. Como tal, a escolha de palavras deve ser
bastante próxima da usada na língua de chegada. A mensagem de partida não deve ser
copiada para este campo a menos que não haja outra hipótese. Na Figura 3 é possível
consultar a backtranslation realizada para a primeira adaptação do anúncio do
dentrífico Colgate Express White.
15
Original English Adaptation 1 Backtranslation 1
She's got it Ela já tem She already has it
And now she has it too E agora ela também And now she too
Have you got it? E você já tem? And you, have you got it?
Figura 3 - Adaptação 1 e Backtranslation 1 de parte de um anúncio em
formato de vídeo
No que diz respeito à segunda adaptação, as colunas Adaptation 2, Comments
2 e Backtranslation 2 servem o mesmo propósito daquelas destinadas à primeira
adaptação. A diferença prende-se com o facto de esta dever ser uma aproximação
mais criativa ao texto de partida. Nesta segunda adaptação, o tradutor tem liberdade
para modificar o texto, incluindo não só as frases como mesmo a ordem pela qual
surgem. Independentemente das alterações efetuadas, a transcriação tem de respeitar
o objetivo do texto de partida e reproduzir a sua intenção.
Existem algumas questões a serem tidas em conta no caso específico da
transcriação de anúncios em formato de vídeo, questões essas que vão muito além de
preocupações com o tempo ocupado por determinada frase. Em primeiro lugar e
enquanto trabalha, o tradutor deve ter sempre em mente o meio para o qual a sua
tradução se destina. Traduzir para um meio de expressão oral é bastante diferente de
o fazer para um meio escrito e requer atenção a alguns detalhes que nem sempre são
tão claros como parecem. Em segundo lugar há que ter em atenção as imagens. O
texto tem de se adaptar ao que o público vê e é importante não existirem
discrepâncias entre o que é visto, o que é ouvido e o que é lido. Como exemplo
pensemos numa situação em que na versão em vídeo do anúncio somos confrontados
com duas personagens, um homem e uma mulher a falar, situação que contrasta com
aquela presente na tabela de transcriação em que temos dois homens a falar. Nesta
situação, o tradutor deve refletir a situação existente no vídeo, não deixando o diálogo
na língua de chegada como se continuasse a se passar entre dois homens. Outra nota
importante sobre diálogos prende-se com a sincronização de lábios durante a
dobragem. Dentro do possível deve procurar-se que as palavras se encaixem nos
16
movimentos e, mais importante, ter em atenção que o som deve cessar quando os
lábios terminam o seu movimento, não antes ou depois.
Também a forma como se fala deve ser tida em conta durante a transcriação. O
texto irá ser gravado por um artista voice-over após o trabalho do tradutor e a
facilidade de leitura do texto deve ser tida em conta. Trava-línguas devem ser evitados
e deve estar-se bastante atento a contrações comuns do registo oral que podem
resultar no público ouvir uma palavra muito diferente daquela usada. A contração que
ocorre com "Que agora" é um desses casos. Também o registo em que as diferentes
personagens se referem umas às outras deve ser levado em consideração. O inglês
"You" engloba três ou mais formas de tratamento em português e é necessário decidir
qual destas se irá usar e qual faz mais sentido na situação descrita. Por fim, há que
estar atento a duplos significados, ou seja, situações em que a frase pode ser
interpretada de várias formas. Uma boa utilização de um duplo significado pode
contribuir para enriquecer e tornar um anúncio memorável mas o anúncio não deve
ser memorável pelas razões erradas e introduzir algo que não é desejado ou
apropriado para o produto ou marca em questão faz parte desta categoria. A menos
que seja essa a intenção do cliente, não deve ser dada razão ao público para gerar
piadas e humor a partir do material publicitário.
Como já foi referido anteriormente, num anúncio em formato de vídeo há que
ter em atenção a necessidade de tempo. Existem várias formas de diminuir o tempo
que determinada frase ocupa em caso de necessidade. A forma mais óbvia prende-se
com a omissão de todas as palavras que não sejam necessárias mas também é possível
substituir dada palavra por um sinónimo com menos sílabas ou usar uma expressão
mais curta com o mesmo significado. Além do tempo, contudo, existem situações em
que o tradutor tem também de estar atento ao espaço. Na grande maioria dos
anúncios em formato de vídeo existe mensagens escritas que têm de ser traduzidas.
Estas mensagens são identificadas com o título "Super" e têm um espaço próprio
dentro do anúncio. Este espaço é fixo, sendo por isso aconselhável que o tradutor
tenha em atenção o número de carateres do texto de partida e se certifique que sua
tradução não o ultrapassa excessivamente.
17
Storyboard Original English
Super: PROFESSIONAL WHITENING
INGREDIENT
Figura 4 - Imagem de um anúncio em formato de vídeo e coluna Original
English exibindo o campo para transcriação da mensagem escrita
2.4. Transcriação de anúncios impressos
As tabelas de transcriação para anúncios impressos, como, por exemplo, as de
brochuras e folhetos, mostram algumas diferenças em relação às usadas para os
vídeos como pode ser observado na Figura 5.
Ori
gin
al E
ngl
ish
Ad
apta
tio
n 1
Co
mm
ents
1
Bac
ktra
nsl
atio
n 1
Ad
apta
tio
n 2
Co
mm
ents
2
Bac
ktra
nsl
atio
n 2
Figura 5 - Linha de cabeçalho de uma das configurações possíveis da tabela de
transcriação para anúncios em formato de vídeo
Em primeiro lugar, há que notar a ausência das colunas especificamente
dirigidas à transcriação de anúncios em formato de vídeo. É possível, contudo, que a
imagem ou imagens do panfleto ou brochura em causa sejam colocadas no mesmo
documento da tabela da transcriação. Outra diferença prende-se com o menor
número de linhas presentes na tabela.
18
Como é possível ver na Figura 5, os campos principais da tabela de transcriação
permanecem iguais. A sua função é também exatamente a mesma da descrita para a
transcriação de anúncios em formato de vídeo. Contudo, existem alguns pontos,
válidos para qualquer projeto de transcriação, que ao estarem neste caso apenas
apoiados na escrita ganham uma importância e relevância ainda maiores. Estes pontos
dizem respeito ao tom, registo e ritmo. Ainda que estes pontos também sejam
importantes na transcriação de anúncios em formato de vídeo, o facto de o anúncio
ser narrado por um artista voice-over implica que as palavras escolhidas terão a
vantagem de lhes serem conferidas emoção. Presas ao papel, as palavras valem por si
só e cabe ao tradutor imprimir-lhes a voz, pelo que a importância de cada uma delas é
ainda maior.
Para compreender este fenómeno consideremos a situação da escrita de
diálogos para cinema e para livros. Como é óbvio estes meios exigem aproximações
diferentes, uma das razões para isto é a naturalidade. Ainda que existam muitos livros
cujos diálogos poderiam ser transferidos para um suporte oral sem que tal causasse
estranheza, é mais comum que ao fazê-lo se descubra que o diálogo escrito para uma
obra literária soa forçado num registo oral. Esta situação é também válida para a
transcriação já que como na escrita, esta não pode permanecer igual de meio para
meio. Existem, por isso, quatro pontos a ter em conta durante a transcriação, estes
dizem respeito ao registo, tom, ritmo e espaço. Em primeiro lugar, o registo.
O registo é, segundo o Dicionário Terminológico (2015), a:
dimensão da variação da língua, determinada pela situação de
interlocução (...) as escolhas linguísticas efectuadas são determinadas
pelo tipo de relação social e institucional existente entre interlocutores
(matizadas por diferentes factores: grau de instrução, idade, sexo, entre
outros). É o “a quem se vai dizer” que condiciona o “o quê/como se vai
dizer"
Por conseguinte, o registo afeta não só a forma como uma frase é construída
mas também as palavras escolhidas, permitindo que a mesma mensagem seja
19
apresentada de formas substancialmente diferentes. Existem vários graus de
formalidade e informalidade e, no caso particular da publicidade, estes podem ser
usados para diferenciar públicos-alvo. Como exemplo, no Anexo 4 é possível consultar
a primeira e segunda adaptações realizadas para um projeto de transcriação de um
anúncio em formato físico da Rolex. Neste caso, a estrutura da segunda adaptação é
muito próxima da primeira, sendo que as diferenças prendem-se, essencialmente, com
a utilização de diferentes registos. Esta proximidade entre as duas adaptações deve-se
ao facto de o cliente em causa preferir que, sempre que possível, o resultado da
transcriação seja próximo do texto de partida. Por esta razão uma das formas de
diferenciar as duas adaptações é através do registo. Esta diferença pode ser
observada, por exemplo, na utilização das palavras "ubiquidade" e "omnipresença" ou
em expressões como "simultâneo" e "ao mesmo tempo". Ainda que o significado da
palavra ubiquidade não seja do conhecimento geral — algo que normalmente
desaconselharia a sua utilização — neste caso, tendo em conta a antiguidade e
prestígio da marca em questão, a sua utilização faz sentido.
O tom diz respeito à voz da marca. O desafio que se coloca ao tradutor para
reproduzir o tom de um anúncio, é semelhante àquele do autor literário que usa a voz
e personalidade das suas personagens para contar a sua história, deixando de parte a
sua. Tal como acontece com as personagens literárias também as marcas têm uma voz
e identidade próprias. Tal reflete-se na forma como se dirigem e relacionam com o
público e mesmo no conteúdo dos seus anúncios. O tom é a voz da marca, a sua
identidade para lá do logótipo e do produto e independentemente da forma que toma
— bem-humorado, sério, sofisticado, jovem — deve ser reproduzido. Um dos desafios
da transcriação é exatamente trazer a marca para a cultura de chegada sem perder a
sua individualidade no processo. A consistência entre os vários anúncios da mesma
marca ou produto é também importante.
Como exemplo de tom podemos comparar o texto do anúncio reproduzido no
Anexo 4 com aquele presente num anúncio de relógios Swatch em que se lê: "Have
you noticed that lately our ideas have become incredibly flat?". A diferença entre o
tom sério, romântico e o registo elevado das palavras usadas contrasta claramente
com o tom jovial e bem-humorado usado pela Swatch que neste caso cria uma piada
com a espessura dos seus relógios. É importante ter em consideração que o tom pode
20
ser não uma característica da marca mas do produto que está a ser publicitado.
Existem empresas que comercializam vários produtos em que cada um tem uma voz
própria. Nestes casos, deve ser reproduzido e mantida a coerência entre o tom que
liga os vários produtos da mesma linha.
O ritmo, por seu lado, diz respeito à cadência das palavras. Num anúncio em
vídeo, o ritmo está associado à música que acompanha as imagens ou ao próprio fluir
destas últimas. Enquanto num anúncio em vídeo é essencial ter a certeza que, após a
transcriação, as palavras não tropecem umas nas outras, ou ainda que ao traduzir uma
música a nova letra se encaixe no instrumental, nos formatos físicos o ritmo prende-se
essencialmente com o encadeamento de palavras.
Por fim, há sempre que ter em consideração a questão do espaço. Existem no
panfleto ou brochura campos reservados para o texto. Estes campos têm dimensões
fixas pelo que, mesmo havendo diferentes necessidades de espaço entre idiomas, o
tradutor deve esforçar-se por não ultrapassar o número de carateres estabelecidos
pelo texto de partida.
2.5. Um processo de transcriação
Figura 6 - Diagrama do fluxo de trabalho dos projetos de transcriação
Receção do projeto de
transcriação
Familiarização com o material de referência
Preparação do projeto de
transcriação Transcriação
Backtranslation Comentários Revisão Envio
Alterações do Cliente
Envio final
21
Como foi demonstrado ao longo deste capítulo, o processo de transcriação é
constituído por uma série de passos distintos cuja intenção é a de adaptar a
mensagem a uma cultura de chegada distinta da de partida. Além dos passos já
descritos existem ainda dois que ainda não foram referidos: a revisão e as alterações
do cliente.
Tal como acontece num projeto de tradução, a transcriação deve ser alvo de
revisão antes de ser entregue. Tendo em conta que se está a trabalhar fora de uma
ferramenta de tradução assistida por computador e que as ferramentas de revisão já
referidas se encontram por essa razão indisponíveis, deve ter-se uma atenção
redobrada durante este processo sendo aconselhável utilizar ferramentas de revisão
como o revisor ortográfico online Flip. À exceção de erros pontuais que facilmente são
detetados e corrigidos, o tradutor deve estar ciente da funcionalidade de correção
automática do Excel. Não é raro que, consoante o dicionário que esteja ativado, o
programa corrija automaticamente palavras que, na realidade, foram inseridas
corretamente. Este é o caso das palavras "the" e "de" normalmente substituídas uma
pela outra enquanto o tradutor escreve e sem que este disso tenha noção. Devido a
situações como esta é aconselhável desligar o corretor automático durante o trabalho.
Após o projeto ser enviado ao cliente é sempre possível que este último deseje
que o tradutor realize algumas alterações ou tenha questões sobre as opções feitas.
Nesta fase do trabalho, o tradutor deve avaliar as alterações sugeridas e implementá-
las se forem válidas. Se a alteração não for válida, as razões devem ser explicadas ao
cliente, se necessário com sugestões que permitam aproximar o anúncio àquilo que é
por ele pretendido. Pode ser necessário repetir este processo algumas vezes até o
cliente obter aquilo que procura.
Capítulo 3: Criação de um manual de boas práticas de transcriação
O manual de boas práticas de transcriação apresentado no Anexo 2 foi
desenvolvido através da análise comparativa dos guias de estilo para projetos de
transcriação existentes na base de dados interna da FIT, levantamento de instruções
encontradas nos vários projetos de transcriação realizados pela estagiária e ainda nos
conselhos dados pelos membros da FIT. Procurou-se ao longo desta pesquisa reunir
22
um conjunto de instruções de carácter geral que pudesse ser aplicado à maioria dos
projetos e também recolher aquelas que, apesar da utilidade, raramente são referidas.
Existem alguns fatores que devem ser considerados para a construção do
manual como, por exemplo, o público-alvo e a organização do conteúdo. O manual em
questão é um documento destinado à consulta frequente, razão que levou à opção por
uma estrutura dividida por secções. As secções selecionadas para o manual
correspondem aos vários passos de um projeto de transcriação sendo estas: receção
do projeto, especificações do cliente, tabela de transcriação, transcriação, questões
legais, backtranslation, rationale ou comentário, revisão e alterações do cliente. No
que diz respeito ao público-alvo este são os tradutores da FIT, com ou sem experiência,
a que irão ser confiados projetos de transcriação. Por esta razão, pretende-se que o
manual seja prático e responda de forma eficaz a dúvidas e questões que surjam
durante a transcriação. Para garantir que o manual é tão abrangente quanto possível,
não são incluídas quaisquer instruções dirigidas a clientes específicos. A consulta deste
manual não invalida, por isso, a leitura do material de referência enviado pelo cliente.
Ao longo do capítulo 2 foram referidos e explicados vários pontos a ter em atenção
durante a prática da transcriação. São estes pontos, apresentados de uma forma mais
sucinta e simplificada, que irão constar do relatório. Além destes, o tradutor irá
também encontrar momentos em que são sugeridos programas como ferramentas de
revisão online ou informações mais técnicas como, por exemplo, como criar diferentes
parágrafos dentro da mesma célula do Excel.
Por fim, o manual incide também sobre um assunto que não foi ainda focado
neste relatório e que diz respeito ao aspeto legal da publicidade e àquilo que é
definido no Código da Publicidade. A inclusão deste capítulo deve-se ao facto de que,
apesar da sua importância para a transcriação de alguns anúncios — nomeadamente
aqueles dirigidos a crianças —, não existir nenhum documento que descrevesse os
conteúdos desta legislação, segundo o nosso conhecimento.
23
3.1. Questões legais - Código da Publicidade
Ainda que a grande maioria do Código da Publicidade seja dirigida aos canais
televisivos, empresas e equipas criativas, alguns dos pontos devem também ser do
conhecimento do tradutor já que afetam o seu trabalho.
O conteúdo do Código da Publicidade aplica-se a toda a publicidade, o que
significa que as mesmas regras são aplicadas aos diferentes meios. Devido às
diferenças existentes entre as leis de vários países no que diz respeito à publicidade é
possível que o tradutor se depare com situações que não são permitidas na lei
portuguesa. Por esta razão é importante ter conhecimento das leis em vigor, de forma
a não reproduzir na transcriação algo que não seja permitido por lei. De acordo com os
artigos que compõem o Código da Publicidade, a publicidade rege-se por quatro
princípios, sendo estes o da licitude, o da identificabilidade, veracidade e respeito
pelos direitos do consumidor. Destes quatro princípios apenas dois lidam com
situações que têm impacto no trabalho do tradutor: o princípio da licitude e o da
veracidade.
Dentro do princípio da licitude encontram-se várias proibições que são, na sua
maioria, dirigidas aos criativos e empresas responsáveis pelo anúncio, bem como aos
meios de difusão. As várias alíneas chamam a atenção para situações como apelos à
violência, discriminação ou utilização de linguagem obscena, todas elas proibidas na
legislação portuguesa. No final encontram-se, contudo, duas alíneas que afetam
diretamente o trabalho do tradutor. Ambas dizem respeito à utilização de outra língua
que não o português num anúncio. Assim, é importante notar que apenas é permitido
utilizar o idioma de outro país em conjunto com o português quando a publicidade é
dirigida a destinatários estrangeiros. Contudo, é permitido utilizar palavras ou
expressões noutra língua quando estas são necessárias para obter o efeito desejado
pelo anunciante. Este é um ponto importante já que, por vezes, se pode conseguir um
impacto maior ao deixar, por exemplo, um slogan noutra língua.
O princípio da veracidade está ligado a situações de publicidade enganosa. Esta
publicidade é aquela que, de acordo com a Diretiva 2006/114/CE do Parlamento
Europeu e do Conselho,
24
"(...) por qualquer forma, incluindo a sua apresentação,
induz em erro ou é susceptível de induzir em erro as pessoas a
quem se dirige ou que atinge e cujo comportamento económico
pode afectar, em virtude do seu carácter enganador, ou que, por
estas razões, prejudica ou pode prejudicar um concorrente (...)"
Muitas vezes em projetos de transcriação, o tradutor depara-se com situações
em que o texto de partida é altamente modalizado com palavras e expressões como
‘can’ ou ‘might’. Estas palavras estão a ser usadas intencionalmente e devem ser
transferidas para o texto de chegada, já que são estas que impedem situações que
poderiam ser consideradas publicidade enganosa.
Apesar de extremamente rara em Portugal, a publicidade comparativa é
permitida. No que diz respeito ao tradutor é importante notar que, para um anúncio
deste tipo ser aceite, a comparação dos produtos deve ser objetiva e não desacreditar
ou depreciar outras marcas ou concorrentes. Um anúncio cuja mensagem de partida
contenha este tipo de mensagem, terá, portanto, de ser alterado.
Em termos de restrições, é importante referir a publicidade dirigida a menores
já que uma fatia substancial dos projetos de transcriação incide sobre este tipo de
material. É de notar que países como os Estados Unidos da América são bastante
permissivos no que diz respeito a este tipo de publicidade pelo que é importante estar
atento ao que consta do texto de partida e não recriar situações que não são aceites
em Portugal. Assim e segundo o Código da Publicidade:
— é proibido incitar diretamente os menores a adquirirem determinado bem
ou serviço. Frases como "Compra já" não podem constar da transcriação;
— é também proibido incitar os menores a persuadirem terceiros a comprar os
produtos em questão. Tal significa que frases como "Pede aos teus pais" também não
podem ser reproduzidas.
Também no que diz respeito à publicidade de bebidas alcoólicas é preciso ter
alguns pontos em consideração:
— o anúncio não pode encorajar consumo excessivo;
25
— o anúncio não pode sugerir que o consumo gere sucesso, êxito social ou
aptidões especiais;
— o anúncio não pode usar o teor de álcool como uma qualidade positiva da
bebida.
Apesar de, nesta secção, terem sido resumidos os pontos que afetam o
trabalho do tradutor, aconselha-se que qualquer profissional que receba um projeto
na área da transcriação, leia o Código da Publicidade na íntegra.
Conclusão
O estágio realizado na Found in Translation teve como objetivo não só a
aplicação e cimentação dos conhecimentos adquiridos durante o Mestrado de
Tradução, como também a criação de um Manual de boas práticas de tradução.
No contexto deste relatório, a transcriação diz respeito à adaptação de
anúncios publicitários a uma cultura e língua diferentes daquela de partida. Os
projetos de transcriação podem incidir tanto sobre anúncios publicitários em formato
físico como em formato vídeo das mais variadas áreas. O processo de transcriação
engloba vários passos que o tornam claramente diferente do processo de tradução e
têm como objetivo permitir que o cliente possa avaliar se a intenção da campanha
publicitária continua presente no anúncio após as alterações efetuadas durante a
transcriação.
Apesar do grande número de anúncios publicitários que é alvo de transcriação,
esta é uma área relativamente desconhecida, o que resulta na existência de pouco
material disponível para consulta. Sendo um dos objetivos da transcriação de anúncios
publicitários que o público os veja como tendo sido criados especificamente para si, o
desconhecimento desta área pode ser visto, em parte, como o resultado do sucesso
desta prática. Contudo, esta situação é desvantajosa já que os tradutores que
poderiam ter interesse em desenvolver trabalho nesta área podem nunca ter a
oportunidade de se cruzar com ela e contribuírem para o seu desenvolvimento. Em
termos dos projetos, esta é uma área bastante variada, não só a nível do trabalho
dentro do mesmo projeto, como também a nível dos potenciais projetos que podem
26
ser recebidos e mesmo do trabalho desenvolvido para eles. A transcriação tem pontos
de contacto com várias áreas — localização, dobragem, escrita criativa —, o que
significa que o tradutor pode ser confrontado com desafios substancialmente
diferentes de projeto para projeto, sejam eles adaptar uma canção, adaptar um slogan
ou mesmo identificar situações que não fazem sentido com a cultura de chegada.
O manual aqui proposto tem como objetivo uma base de apoio à prática da
transcriação, fornecendo uma série de diretrizes e conselhos que visam apoiar e ajudar
o tradutor durante esta atividade. Além de útil para os tradutores da FIT, espera-se
também que este relatório desperte o interesse daqueles que o leiam em relação a
esta área. A nível prático, um possível trabalho seria comparar o resultado da
transcriação do mesmo anúncio publicitário em línguas e culturas diferentes. Esta
comparação seria particularmente interessante se se focasse em culturas bastante
diferentes, já que ao fazê-lo seria possível não só comparar a forma como os desafios
do texto foram resolvidos como também as diferenças que resultam da adaptação do
anúncio às exigências de diferentes mercados.
A nível pessoal, o trabalho realizado durante o período do estágio revelou-se de
grande importância para a minha formação tendo permitido o contacto e
familiarização com diferentes ferramentas de trabalho e com a realidade do trabalho
na área da tradução. Além disso, este estágio permitiu também o contacto com uma
área previamente desconhecida, aquela da transcriação, e aprendizagem da mesma.
27
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tradução do texto publicitário. Diss. Repositório Universidade Nova. Faculdade de
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28
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Yves Gambier e Luc van Doorslaer. Amsterdam: John Benjamins, 2010. 1-5.
29
Anexos
Anexo 1 - Manual de boas práticas de tradução
Anexo 2 - Tabela de transcriação para anúncios em formato de vídeo
Anexo 3 - Tabela de transcriação para anúncios em formato físico
Anexo 4 - Tabela de transcriação do projeto de transcriação para o relógio
Cellini Dual Time
Anexo 5 - Ficheiro de partida do projeto de transcriação para o relógio Cellini
Dual Time
Anexo 6 - Tabela descritiva do número de palavras traduzidas por área
30
Anexo 1 - Manual de boas práticas de tradução
Informação geral
Este Manual de boas práticas tem como objetivo auxiliar e apoiar o tradutor da
FIT enquanto este realiza um processo de transcriação. É a intenção da transcriação de
anúncios publicitários que o resultado final desta seja natural e se adeque à cultura de
chegada, respeitando ao mesmo tempo a intenção da campanha publicitária onde se
insere. Uma transcriação bem sucedida deve parecer ter sido produzida pela e para a
cultura de chegada, não causando estranheza no público-alvo.
Todos os conselhos presentes neste manual têm como objetivo permitir que o
tradutor possa de forma rápida informar-se sobre o que é esperado durante a
transcriação e chamar a atenção para algumas situações que normalmente não são
referidas no briefing do cliente.
A consulta deste manual não invalida a leitura de todo o material enviado pelo
cliente.
Receção do projeto e material de referência
O projeto de transcriação entregue ao tradutor encontra-se dividido em várias
pastas. Normalmente, estas pastas dizem respeito ao material de referência, tabela de
transcriação ou guia de estilo, mas não é obrigatório que todas estejam presentes.
Material de referência: tabelas de transcriação previamente aprovadas pelo cliente,
versões finais de anúncios em vídeo ou impressos e outro material útil para manter a
coerência entre os vários projetos.
Guia de estilo: documento com instruções que visam uniformizar o estilo de escrita
dos seus anúncios.
Tabela de transcriação: documento onde a transcriação irá ser desenvolvida. É
aconselhável não trabalhar diretamente neste ficheiro já que podem ocorrer enganos
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que apaguem informações importantes, desformatações, erros de gravação ou outras
situações semelhantes que comprometam a integridade do ficheiro.
Antes de iniciar o seu trabalho, o tradutor deve certificar-se de que o material
enviado se aplica ao projeto que lhe foi entregue e preparar os documentos em que irá
desenvolver o seu trabalho. O passo seguinte é o da familiarização com este material.
É aconselhável que o tradutor leia ou assista em primeiro lugar, e sem desenvolver
ainda qualquer trabalho, ao anúncio sobre o qual se vai desenvolver a transcriação.
Isto permite desde logo:
— reconhecer situações que irão necessitar de localização, por exemplo,
imagens que não fazem sentido para a cultura de chegada e questões em relação às
quais o cliente deva ser informado;
— identificar no material de referência slogans e frases já aprovados pelo
cliente que possam ser reutilizados.
É aconselhável que, à falta de material de referência, se procurem transcriações
feitas anteriormente para esta empresa e se possível produto. Tal ajuda a
compreender o tom da mensagem e a manter a consistência entre os vários anúncios.
Aconselha-se o site da empresa em questão e o Youtube durante este processo.
Especificações do cliente
Seja incorporado no ficheiro para transcriação ou num documento separado,
um trabalho de transcriação é normalmente acompanhado por um conjunto de
diretrizes enviadas pelo cliente. Entre estas encontram-se também informação sobre o
projeto, tendo como objetivo ajudar e orientar o tradutor durante o seu trabalho. As
secções mais comuns são:
— objetivo da campanha: descrição do objetivo da campanha;
— objetivo da mensagem: descrição do objetivo da mensagem;
— público-alvo: descrição do grupo de consumidores a que é dirigido.
Influencia a formulação frásica e o tom da mensagem;
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— tom: o tom é influenciado não só pela formação das frases como também
pelas palavras usadas. É o tom que define a voz da marca e a sua personalidade e deve
permanecer igual de adaptação para adaptação;
— instruções: é possível que existam diretrizes relativamente a uma ou várias
partes do texto ou ainda ao que é ou não aceitável na transcriação;
— nomes oficiais de produtos/prémios/eventos;
— história da empresa: importante para a familiarização com a marca, com os
seus objetivos e apresentação no mercado.
Tabela de transcriação
O formato e os campos das tabelas de transcriação dependem do cliente que a
envia, não sendo sempre exigidas as mesmas informações.
Campos comuns a anúncios em formato de vídeo e anúncios impressos
Original (#####) — Texto para tradução na língua de partida. No campo (####)
encontra-se identificada a língua em que o anúncio se encontra.
Adaptation 1 — Coluna destinada à primeira transcriação. Esta deve, se possível, ser
próxima da mensagem de partida, refletindo as palavras usadas e a estrutura
escolhida pela equipa criativa. Esta coluna é preenchida na língua de chegada e em
maiúsculas.
Backtranslation 1 — Retroversão da tradução feita na coluna Adaptation 1.
Comments/ Rationale 1 — Comentários à tradução feita na Adaptation 1. Esta coluna
é escrita na língua de partida.
Adaptation 2 — Coluna destinada à segunda transcriação. A transcriação realizada
deve ser mais criativa, sendo possível fazer alterações ao anúncio desde que se reflita
a intenção da mensagem e as alterações sejam justificadas. Esta coluna é preenchida
na língua de chegada.
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Backtranslation 2 — Retroversão da tradução feita na coluna Adaptation 2.
Comments/ Rationale 2 — Devido à maior liberdade que a segunda adaptação
oferece ao tradutor, os comentários devem concentrar-se em justificar a razão para
estas diferenças. Não é necessária uma explicação da parte criativa do processo. Esta
coluna é preenchida na língua de partida.
Campos exclusivos a anúncios em formato de vídeo
Time Code (In/Out) — Informações relativas ao período de tempo que o diálogo ou
texto escrito, ocupa durante o anúncio. A consulta desta coluna pode ser
extremamente útil para controlar o tempo usado em cada segmento da transcriação,
evitando que o tradutor tenha mais tarde de fazer modificações amplas ao seu
trabalho por este não se encaixar no intervalo dado.
Image # — Número da imagem
Storyboard/Description — Cada uma das linhas é acompanhada por uma imagem que
ilustra o momento do vídeo contido no intervalo de tempo dado pelas colunas Time
Code (In/Out).
É ainda possível que existam colunas especificas para os comentários do cliente
ou que tenham como objetivo a inserção do tempo que dado segmento em português
demora a ser lido.
Transcriação
Ao começar o processo de transcriação propriamente dito, é importante ter em
atenção alguns pontos:
— No que diz respeito a slogans, e desde que a marca já esteja no mercado
português, são estes que devem ser usados. Por esta razão, é importante estar atento
ao material de referência já que é possível que a tradução esteja nele incluída ou
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conste do anúncio ou imagens enviadas. Em situações em que o slogan não se
encontra localizado, este deve ser transcrito ou com uma expressão equivalente ou,
quando tal não é possível, usando uma expressão que reproduza a intenção do
anúncio e corresponda à imagem do cliente ou produto.
— Frases que tenham previamente sido traduzidas e se repitam no projeto
devem também ser reutilizadas. Desta forma é possível manter a coerência entre o
novo anúncio e aqueles que o precederam.
— Os nomes existentes no anúncio têm de ser localizados, incluindo o nome
das personagens (desde que não sejam celebridades, profissionais médicos ou outra
situação em que o participante esteja a falar na sua capacidade profissional), nomes de
eventos, prémios, entre outros.
— Atenção às imagens. O texto tem de se adaptar ao que o público vê. Assim,
não podem existir discrepâncias entre o que o público vê, ouve e/ou lê. Há que
adaptar o que se está a escrever à realidade do anúncio.
— Atenção às formas de tratamento. Quando duas ou mais personagens falam,
a forma como se referem umas às outras tem de fazer sentido com a relação existente
entre elas. Esta é uma situação com potencial humorístico que não passa despercebida
ao público.
— Se existirem diálogos é necessário sincronizar os lábios com as palavras e ter
especial atenção às pausas. O som deve cessar quando os lábios terminam o seu
movimento, não antes ou depois. Como tal é importante ler o texto em voz alta e com
o vídeo a correr, realizando depois os ajustamentos necessários para uma boa
dobragem.
— O tempo disponibilizado para cada segmento é outro detalhe que não deve
ser esquecido. Se, após utilizar as várias estratégias para encaixar a transcriação no
período dado, continuar a ser necessário alocar mais tempo, o cliente deve ser
informado não só desta situação como também de quantos segundos a mais são
necessários. Algumas estratégias para diminuir o tempo ocupado são: a utilização de
sinónimos, a utilização de expressões mais curtas com o mesmo significado ou a
omissão de palavras desnecessárias.
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— Fazer bom uso de duplos significados e estar particularmente atento a eles.
Um duplo significado pode contribuir para enriquecer um texto mas quando mal
escolhido pode dar azo a interpretações que não são nem as desejadas nem as
apropriadas para a marca/produto em questão.
— Ao transcriar a letra de uma música, o tradutor deve estar atento ao
instrumental. A nova letra não tem apenas de ter musicalidade, deve adequar-se ao
ritmo desta.
— Seguir os desafios criativos. É possível que o cliente envie instruções
específicas relativamente ao que deseja da transcriação. Se tal acontecer estas
instruções devem ser seguidas.
Após a conclusão da transcriação e enquanto a relê o tradutor deve questionar-se
relativamente à:
Facilidade de compreensão
Facilidade de leitura Fluência das frases
Existência de trava-línguas
Existência de espaço suficiente para o texto
escrito
Existência de tempo suficiente para a
narração
Existência de junções de palavras cujo som
possa ser interpretado de outra forma
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Questões Legais
O conteúdo do Código da Publicidade aplica-se a toda a publicidade, o que
significa que as mesmas regras são aplicadas aos diferentes meios.
No que diz respeito à utilização de outra língua que não o português num
anúncio publicitário, o tradutor deve saber que apenas é permitido utilizar o idioma de
outro país em conjunto com o português quando a publicidade é dirigida a
destinatários estrangeiros. Contudo, é permitido utilizar palavras ou expressões noutra
língua quando estas são necessárias para obter o efeito desejado pelo anunciante.
Muitas vezes em projetos de transcriação, o tradutor depara-se com situações
em que o texto de partida apresenta palavras e expressões como "can" ou "might".
Estas palavras estão a ser usadas intencionalmente e devem ser transferidas para o
texto de chegada, já que são estas que impedem situações que poderiam ser
consideradas publicidade enganosa.
Apesar de extremamente rara em Portugal, a publicidade comparativa é
permitida. Para um anúncio deste tipo ser aceite a comparação dos produtos deve ser
objetiva e não desacreditar ou depreciar outras marcas ou concorrentes.
Em termos de restrições, é importante referir a publicidade dirigida a menores
já que uma fatia substancial dos projetos de transcriação incide sobre este tipo de
material. Assim e segundo o Código da Publicidade:
— é proibido incitar diretamente os menores a adquirirem determinado bem
ou serviço. Frases como "Compra já" não podem constar da transcriação;
— é também proibido incitar os menores a persuadirem terceiros a comprar os
produtos em questão. Tal significa que frases como "Pede aos teus pais" também não
podem ser reproduzidas.
Também no que diz respeito à publicidade de bebidas alcoólicas é preciso ter
alguns pontos em consideração:
— o anúncio não pode encorajar consumo excessivo;
— o anúncio não pode sugerir que o consumo gere sucesso, êxito social ou
aptidões especiais;
37
— o anúncio não pode usar o teor de álcool como uma qualidade positiva da
bebida.
Atenção!
Devido aos acréscimos que são feitos com alguma frequência ao Código da
Publicidade é aconselhável que o tradutor consulte o documento após a leitura deste
capítulo. A versão a que esta secção diz respeito é a de 2014.
Backtranslation
A backtranslation é uma tradução para a língua em que o texto estava
originalmente. Essencialmente este passo serve de controlo de qualidade e tem como
objetivo permitir ao cliente ver como o significado e mensagem do seu anúncio foi
reproduzido na língua de chegada. O mais importante a ter em conta no que diz
respeito a este processo é que tem de se ser preciso, as palavras usadas têm de refletir
as portuguesas (o equivalente mais próximo possível). Se houve mudanças estas
devem ser refletidas. Não se deve repetir a mensagem “original” a menos que tal seja
incontornável.
Rationale ou Comentários
Tendo em conta que se está a realizar um processo que, por vezes, altera
substancialmente o texto é importante justificar as escolhas tomadas e as razões pelas
quais estas foram tomadas. Devem justificar-se escolhas lexicais, estrutura de frases e
variantes:
— a razão pela qual determinada palavra ou expressão ter sido usada em
detrimento de outra (como, por exemplo, ritmo, aliteração, evitar repetições, evitar
trava-línguas, já existia no mercado);
— se a palavra ou expressão escolhida transmite melhor a imagem, sentimento
ou valor da marca ou produto que está a ser publicitada;
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— se a palavra/expressão recupera um conceito já usado que desperte
memórias no público;
— como foram reconstruídos jogos de palavras e, se não, porquê;
— a razão pela qual se optou por omissões (como, por exemplo, fluência,
problemas de tempo, maior facilidade de leitura, redundância);
No caso de terem sido utilizadas fontes terminológicas para a tradução de
termos específicos, como, por exemplo, termos da área do cliente ou mesmo o nome
eventos e prémios, estas devem constar dos comentários. Algumas fontes possíveis
são: sites fidedignos de jornais ou órgãos oficiais e, se for o caso, o site ou material de
referência da própria marca.
É ainda importante organizar a informação fornecida nos comentários, tendo
em conta que os ficheiros vêm em Excel, um dos atalhos mais úteis é:
- ALT+Enter para mudar de linha dentro da célula de Excel
Outros atalhos podem ser consultados em:
https://support.office.com/pt-br/article/Teclas-de-atalho-e-de-
fun%C3%A7%C3%B5es-do-Excel-1798d9d5-842a-42b8-9c99-9b7213f0040f?omkt=pt-
BR&ui=pt-BR&rs=pt-BR&ad=BR
Revisão
Como em todos os trabalhos sejam eles de transcriação ou tradução é sempre
importante rever o ficheiro antes da entrega. Podemos dividir este processo em duas
partes. A primeira diz respeito à comparação da transcriação com as necessidades e
indicações do cliente, como tal devemos ter em atenção ao seguinte:
— Consistência com o material de referência.
— Adequação do tom, registo e estilo à marca e público-alvo.
39
— Reprodução da mensagem de acordo com o objetivo da marca e de forma
relevante para o mercado/cultura local.
— Facilidade de leitura.
— Existência de semelhanças entre o texto transcrito e anúncios publicitários
de outras marcas.
— Adequação da terminologia.
A segunda parte deste processo diz respeito à correção do texto e
funcionamento do ficheiro. Assim, o tradutor deve estar atento ao seguinte:
— Se não existem erros, nomeadamente: ortográficos, gramaticais, de
acentuação, de espaçamento, de pontuação, de datas ou números.
— O ficheiro não está corrompido nem apresenta erros de formatação como,
por exemplo, erros de gravação, erros de abertura ou sobreposições.
É aconselhável, durante esta segunda fase, fazer uso de corretores ortográficos
durante a fase da revisão. Dois possíveis sites com ferramentas de revisão são:
— Corretor ortográfico de português: http://www.flip.pt/FLiP-On-
line/Corrector-ortografico-e-sintactico.aspx
— Corretor ortográfico de inglês: http://spellcheckplus.com/
Alterações do Cliente
— Responder a todas as perguntas colocadas pelo cliente.
— Se a alteração sugerida for válida deve ser implementada. Contudo, se, por
exemplo, o tradutor tiver omitido dada palavra por determinada razão, esta deve ser
apresentadas na resposta.
40
— Se a alteração não for válida as razões devem ser explicadas ao cliente, se
necessário com sugestões e alternativas que permitam aproximar o anúncio àquilo que
é pretendido.
41
Anexo 2 - Tabela de transcriação para anúncios em formato de vídeo
TIME CODE STORYBOARD/DESCRIPTION/ SCREEN GRAB
ENGLISH ORIGINAL
CREATIVE INTENT
ADAPTATION 1
BACK-TRANSLATION
COMMENTS/RATIONALE IN OUT
ADAPTATION
2 ADAPTATION 2 COMMENTS/RATIONALE
ADAPTATION 1
BACK-TRANSLATION
COMMENTS/RATIONALE
ADAPTATION
2 BACK-
TRANSLATION COMMENTS/RATIONALE
ADAPTATION 1
BACK-TRANSLATION
COMMENTS/RATIONALE
ADAPTATION
2 BACK-
TRANSLATION COMMENTS/RATIONALE
ADAPTATION
1 BACK-
TRANSLATION COMMENTS/RATIONALE
42
ADAPTATION 2
BACK-TRANSLATION
COMMENTS/RATIONALE
ADAPTATION 1
BACK-TRANSLATION
COMMENTS/RATIONALE
ADAPTATION 2
BACK-TRANSLATION
COMMENTS/RATIONALE
ADAPTATION 1
BACK-TRANSLATION
COMMENTS/RATIONALE
43
Anexo 3 - Tabela de transcriação para anúncios em formato físico
ORIGINAL ENGLISH
HEADLINE ADAPTATION 1 BACK-TRANSLATION RATIONALE COMMENTS
ORIGINAL ENGLISH
BODYCOPY ADAPTATION 1 BACK-TRANSLATION RATIONALE COMMENTS
ADAPTATION 2 BACK-TRANSLATION RATIONALE COMMENTS
44
Anexo 4 - Tabela de transcriação do projeto de transcriação para o relógio Cellini Dual Time
ORIGINAL ENGLISH HEADLINE
ADAPTATION 1 BACK-TRANSLATION RATIONALE COMMENTS
Cellini THE CLASSICAL
WATCH BY ROLEX
Cellini O RELÓGIO CLÁSSICO DA ROLEX
Cellini THE CLASSICAL WATCH BY ROLEX
Consistent with previous approved copies.
ORIGINAL ENGLISH BODYCOPY - key
brand terms underlined
ADAPTATION 1 BACK-TRANSLATION RATIONALE COMMENTS
THE CELLINI COLLECTION
CELEBRATES THE ETERNAL ELEGANCE
OF TRADITIONAL TIMEPIECES WITH A
CONTEMPORARY TWIST. THE CELLINI
DUAL TIME WITH A 39 MM CASE IN 18 CT
EVEROSE GOLD GRANTS ITS WEARERS
THE GIFT OF TEMPORAL UBIQUITY,
MAKING THEM SIMULTANEOUSLY
A COLEÇÃO CELLINI CELEBRA A ELEGÂNCIA ETERNA DOS RELÓGIOS TRADICIONAIS COM UM TOQUE CONTEMPORÂNEO. O CELLINI DUAL TIME POSSUI UMA CAIXA DE 39 MM EM OURO EVEROSE DE 18 QUILATES E CONCEDE AOS SEUS PROPRIETÁRIOS O DOM DA UBIQUIDADE, PERMITINDO-LHES SABER EM
THE CELLINI COLLECTION CELEBRATES THE ETERNAL ELEGANCE OF TRADITIONAL CLOCKS WITH A CONTEMPORARY TWIST. THE CELLINI DUAL TIME HAS A 39 MM CASE IN 18 CT EVEROSE GOLD AND GRANTS ITS OWNERS THE GIFT OF UBIQUITY, ALLOWING THEM TO KNOW SIMULTANEOUSLY
This is mainly a direct adaptation. The first sentence is consistent with the previously approved Cellini Date copy and it was used in both adaptations. > "THE TIME HERE AND IN A FARAWAY LAND": the direct adaptation would be "as horas aqui e aquelas num local distante" [backtranslation: "the time here and that of a faraway land ], which could possibly be used but we feel it
> 'TEMPORAL UBIQUITY': this term is a bit tricky. In the website [which is in Brazilian though] it is translated as 'nipresença temporal'. Would this maybe be used for ptPT as well? It can be used (the word in pt-pt is "omnipresença"). I also see that 'temporal' is omitted; Not sure if that works. Of course it can't grant them the gift of being everywhere, but is there any chance there is a misunderstanding in the adaptation?
45
AWARE OF THE TIME HERE AND IN A
FARAWAY LAND.
SIMULTÂNEO AS HORAS NO LOCAL ONDE ESTÃO E EM LUGARES DISTANTES.
THE TIME IN THE PLACE WHERE THEY ARE AND IN DISTANT PLACES.
would add a rather brusque ending to the copy and contrast sharply with the atmosphere built by the words. For that reason we opt to make a slightly longer sentence that keeps the elegance of the original. > "WEARER": a possible and closer adaptation would be "portador" [backtranslation: "bearer"], which is however linked to the movie/books 'Lord of the Rings', where the "Ring-bearer" was called in Portuguese "Portador do Anel". Having in mind the popularity of the story and the possibility of jokes being born out of this connection, we thought it would be better not to use it here.
According to Priberam, "ubiquidade" is defined as "being present everywhere at the same time" (http://www.priberam.pt/DLPO/ubiquidade). It was ommitted because we felt it would be redundant, since time is already considered in the word meaning. Is there any way to add the notion of time as in 'temporal'?
Yes. We could say "ubiquidade temporal" (direct translation for "temporal ubiquity"), it sounds elegant and if the idea is to give weight to the temporal side of the word it works well (ubiquity is also a high register word)
46
ADAPTATION 2 BACK-TRANSLATION RATIONALE COMMENTS
A COLEÇÃO CELLINI CELEBRA A ELEGÂNCIA ETERNA DOS RELÓGIOS TRADICIONAIS COM UM TOQUE CONTEMPORÂNEO. O CELLINI DUAL TIME COM UMA CAIXA DE 39 MM EM OURO EVEROSE DE 18 QUILATES DÁ AOS SEUS PROPRIETÁRIOS O DOM DA UBIQUIDADE, JÁ QUE PERMITE SABER AS HORAS AQUI E EM LOCAIS LONGÍNQUOS AO MESMO TEMPO.
THE CELLINI COLLECTION CELEBRATES THE ETERNAL ELEGANCE OF TRADITIONAL TIMEPIECES WITH A CONTEMPORARY TWIST. THE CELLINI DUAL TIME WITH A 39 MM CASE IN 18 CT EVEROSE GOLD GIVES ITS OWNERS THE GIFT OF UBIQUITY, SINCE IT ALLOWS THEM TO KNOW THE TIME HERE AND IN FARAWAY PLACES AT THE SAME TIME.
The structure of this adaptation is very close to Adaptation 1, but using different expressions and terms. It is worth mentioning that the word "time" in "at the same time" and "know the time" have different adaptations in Portuguese: "hora" and "tempo".
> 'TEMPORAL UBIQUITY': The adaptation is the same as in Adaptation 1. Could you suggest an alternative? It is possible, the word would be "omnipresença" as was used in the Brazillian translation of the website.
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Anexo 5 - Ficheiro de partida do projeto de transcriação para o relógio Cellini Dual
Time
48
49
Anexo 6 - Tabela descritiva do número de palavras traduzidas por área
Área Número de palavras
traduzidas Número de projetos
Engenharia 3204 5
Farmacêutica 1748 2
Localização de sites 6686 21
Localização de software 4213 6
Outros 3301 13
Total 19152 47