relatório ambiental preliminar das áreas de concessão florestal do

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA INSTITUTO SÓCIO AMBIENTAL E DOS RECURSOS HÍDRICOS - ISARH PROJETO VÁRZEA R A P Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do Conjunto de Glebas Mamurú-Arapiuns RELATÓRIO FINAL Belém - Pará 2010

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Page 1: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA

INSTITUTO SÓCIO AMBIENTAL E DOS RECURSOS HÍDRICOS - ISARH PROJETO VÁRZEA

R A P Relatório Ambiental Preliminar

das áreas de concessão florestal do Conjunto de Glebas

Mamurú-Arapiuns

RELATÓRIO FINAL

Belém - Pará 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA

INSTITUTO SÓCIO AMBIENTAL E DOS RECURSOS HÍDRICOS PROJETO VÁRZEA

R A P RELATÓRIO AMBIENTAL PRELIMINAR DAS ÁREAS DE CONCESSÃO FLORESTAL

DO CONJUNTO DE GLEBAS MAMURÚ-ARAPIUNS

RELATÓRIO FINAL

COORDENAÇÃO GERAL

Prof. Manoel Malheiros Tourinho

EQUIPE DE PESQUISA

Prof. Manoel Malheiros Tourinho – DSc. Prof. João Ricardo Vasconcellos Gama – DSc.

Profª. Ana Silvia Sardinha Ribeiro - MSc Engº Agrônomo Pierre Nader Mattar – Esp.

Engº Florestal Silvio Roberto Miranda dos Santos - MSc Engª Agrônoma Roberta Maria Vita Coutinho Mattar – MSc. Luiz Cláudio Moreira Melo Júnior - Acadêmico de Agronomia

EQUIPE DE APOIO - LABORATÓRIO DE GEOPROCESSAMENTO/ IDEFLOR

Engº Florestal Pedro Bernardo da Silva Neto

Técnico Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto Hugo de Souza Ferreira Engº Florestal Farid Pinheiro Abdul Massih

Belém - Pará 2010

Page 3: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

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SUMÁRIO

Página

1. Apresentação 05 2. Introdução 07 3. Objetivo geral 07 4. Insumos utilizados para a construção do Relatório Ambiental Preliminar (RAP) 08 5. Descrição e localização dos lotes de concessão florestal e divisão política 10

5.1. Rotas de acesso à área de concessão florestal 12 6. Descrição do solo, relevo, tipologia vegetal e classes de cobertura 13

6.1. Características dos solos 13 6.2. Relevo 17 6.3. Tipologia vegetal e classes de cobertura (uso da terra) 20

7. Descrição da fauna e flora locais 25 7.1. Aspectos faunísticos na área dos lotes de concessão florestal 25

7.1.1. Fauna cinegética 27 7.1.2. Os peixes 31 7.1.3. Mastofauna 35 7.1.4. Herpetofauna 40 7.1.5. Avifauna 43 7.1.6. Os aracnídeos 44 7.1.7. Os insetos 46

7.2. Aspectos florísticos na área de concessão florestal e resultados do Inventário Floretsal 49

7.2.1. Descrição da flora 49 7.2.2. Resultados do Inventário Florestal 51

7.2.2.1 Espécies florestais encontradas nas áreas de estudos 53 8. Descrição dos recursos hídricos na área dos lotes de concessão 59 9. Descrição da área de entorno às áreas de concessão florestal 61

9.1. O Entorno Dinâmico (ED) 62 9.1.1. Os traços da vida social: tradição e modernidade na fronteira

Amazônica do Entorno Dinâmico *ED) 64 9.1.2. A geografia e os sistemas de uso da terra 66 9.1.3. A população e seus principais traços demográficos 66 9.1.4. Os serviços básicos de uso público 68 9.1.5. As relações ecológicas, políticas, econômicas e sociais com o

Estado do Pará 72 9.1.6. A síntese exploratória: o Entorno Dinâmico (ED) como território

onde se dá a ocorrência de elementos e processos sociais, políticos, econômicos e culturais que afetam o padrão de uso dos recursos naturais das áreas de concessão florestal 74

9.2. A infra-estrutura atual da região do Entorno Dinâmico e as projeções futuras 80

10. Caracterização e descrição das áreas de uso comunitário, unidades de Conservação, áreas prioritárias para conservação, terras indígenas e áreas Quilombolas adjacentes aos lotes de concessão 83

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11. O Processo de concessão florestal e os potenciais impactos negativos ambientais e sociais e ações para prevenção e mitigação pelo órgão gestor 85 11.1. Contextualização 85 11.2. Os potenciais impactos negativos ambientais e sociais e ações para

Prevenção e mitigação pelo órgão gestor 92 12. Recomendações de restrições para execução de atividades de manejo florestal 98 13. Referências bibliográficas 102 14. Anexo 105

14.1. Tabelas 105 14.1.1. Tabela 1 - Lista das espécies de mamíferos ameaçadas de extinção

No Brasil e respectivas categorias de ameaças. 105 14.2. Mapas 108

14.2.1. Mapa georrefernciado da comunidade Cachoeira do Aruã 108 14.2.2. Mapa georrefernciado da comunidade Camará 109 14.2.3. Mapa georrefernciado da comunidade Curí 110 14.2.4. Mapa georrefernciado da comunidade Forca 111 14.2.5. Mapa georrefernciado da comunidade Guaranatuba 112 14.2.6. Mapa georrefernciado da comunidade Jaratuba 113 14.2.7. Mapa georrefernciado da comunidade Mirizal 114 14.2.8. Mapa georrefernciado da comunidade Mocambo 115 14.2.9. Mapa georrefernciado da comunidade Monte Carmelo 116 14.2.10. Mapa georrefernciado da comunidade Monte Sião 117 14.2.11. Mapa georrefernciado da comunidade Novo Horizonte 118 14.2.12. Mapa georrefernciado da comunidade Novo Paraíso 119 14.2.13. Mapa georrefernciado da comunidade Samaúma 120 14.2.14. Mapa georrefernciado da comunidade São José 121 14.2.15. Mapa georrefernciado da comunidade São Luiz 122 14.2.16. Mapa georrefernciado da comunidade Vila Sabina 123

Belém - Pará 2010

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1. Apresentação

A documenta do Instituto de Desenvolvimento Florestal do Pará (IDEFLOR)

existente desde a sua criação pela Lei Estadual nº 6.963/2007 para exercer a missão de

órgão gestor das florestas publicas do estado do Pará, sinaliza “um novo tempo na

utilização de matérias-primas florestais no Estado”, onde alguns instrumentos de

governança são apresentados como a afirmação do compromisso do governo estadual

com os movimentos de vanguarda populares que defendem “o uso sustentável da

floresta contra o desmatamento desenfreado, a privatização exagerada e concentradora

da terra, a exploração excludente dos recursos minerais, a perda da biodiversidade,

entre outros danos percebidos no avanço de modos de apropriação das riquezas do

estado pelo capital, pouco ou nada compatível com as políticas de inclusão social dos

governos federal e estadual”.

Duas ordens de instrumentos se posicionam frontalmente contra o processo de

uso da riqueza natural acima epigrafado. São elas: a ordem prescrita pelo Plano de

Outorga Florestal do Pará (PAOF) e a ordem determinante (do próprio PAOF) prescrita

pelo Relatório Ambiental Preliminar (RAP).

O PAOF “é uma informação técnica sobre áreas destinadas à oferta para

exploração florestal sustentável, mas principalmente, é uma ferramenta valiosa da nova

política de gestão pública para a disponibilização de florestal, porque desencadeia um

processo concorrencial que culmina com os contratos de concessões, passando por

debates (e especificações) sobre as regras expressas em edital, nas quais a sociedade

pode assegurar condições que favoreçam as economias locais, repartindo os benefícios

nos municípios que sediam as florestas”. Estudos físicos, biológicos, socioambientais,

de mercados para produtos da floresta foram realizados com o propósito de favorecer

os aspectos técnicos encerrados no Plano de Outorga Florestal e de dar os subsídios

indispensáveis a elaboração de Relatório Ambiental Preliminar, orientando o curso dos

debates públicos e do conteúdo dos editais de licitação.

O Relatório Ambiental Preliminar (RAP) pode ser considerado proxi do PAOF

pelos objetivos que o mesmo encerra:

“O RAP, conforme § 4º, do art.18, da Lei nº 11.284, de 2006, é uma

condicionante do processo de licitação, fonte de informação técnica para a elaboração

do edital de licitação e do contrato de concessão florestal”.

Page 6: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

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“O licenciamento ambiental prévio deverá, nesse contexto, cumprir sua função

prioritária no que diz respeito à instrumentalização da Política Nacional de Meio

Ambiente, funcionando como ferramenta de caráter preventivo de tutela ambiental,

permitindo o equilíbrio entre os interesses de proteção ambiental e o desenvolvimento

social e econômico regional buscado pelos princípios que norteiam a gestão de florestas

públicas”.

Pelo exposto, o RAP – Relatório Ambiental Preliminar constitui-se de um

documento exigido por lei, obrigatório e condicionante do processo de licenciamento

ambiental para concessão florestal, conforme fundamentação legal e conceitual a seguir

indicada:

a) Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, que define povos e

comunidades tradicionais;

b) Lei nº 11.284, de 2 de março de 2006, que trata do novo arranjo institucional

para o trato das questões florestais no Brasil;

c) Decreto nº 6.063, de 20 de março de 2007, que regulamenta a Lei nº 11.284,

de 2 de março de 2006;

d) Lei nº 6.963, de 16 de abril de 2007, que estabelece no estado do Pará o

marco legal da gestão das florestas públicas;

e) Instrução Normativa nº 04, de 25 de junho de 2008;

Na Figura 1, abaixo, a importância do RAP no Processo de Concessão Florestal Figura 1 - Fluxograma do processo de concessão florestal

Fonte: SFB 2010

Page 7: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

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2. Introdução

O RAP -, Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

conjunto de glebas Mamurú Arapiuns ora apresentado constitui-se na 3ª e última peça

prevista nos Termos de Referência preparados pela Diretoria de Gestão de Florestas

Públicas (DGFLOP), do Instituto de Desenvolvimento |Florestal do Estado do Pará –

IDEFLOR, instituição responsável pelas diretrizes florestais no âmbito do Governo do

Estado do Pará, após a entrega do Plano de Trabalho, do Relatório Preliminar do RAP e

do Relatório Provisório do RAP..

Este RAP foi preparado por uma equipe multidisciplinar da UFRA - Universidade

Federal Rural da Amazônia e da UFOPA – Universidade Federal do Oeste do Pará, com

interveniência da FUNPEA - Fundação de Apoio à Pesquisa, à Extensão e ao Ensino

em Ciências Agrárias, formada por professores, profissionais das áreas de Agronomia,

Engenharia Florestal e Medicina Veterinária, com formação ao nível de Doutorado,

Mestrado e Especialização, além da participação de alunos de graduação e pós-

graduação da UFRA.

Para a elaboração do presente documento “tornou-se necessária a realização

de diagnósticos socioeconômicos e ambientais das áreas previstas no PAOF 2008-

2009, constituindo um referencial de como se estruturam e interagem os diferentes

fatores e as diferentes esferas (econômicas, sociais e ambientais) encontradas em um

sistema florestal. Esta análise tem como objetivo principal identificar e hierarquizar os

elementos que condicionam a evolução dos sistemas de produção. Busca-se assim,

compreender como estes interferem nas transformações que ocorrem no meio florestal.

Esta situação deve embasar as ações e estratégias a serem adotadas pelos agentes e

atores sociais envolvidos (técnicos, pesquisadores, administradores e produtores) com

o propósito de desenvolver o ordenamento territorial e ambiental”.

3. Objetivo geral

A elaboração do Relatório Ambiental Preliminar – RAP de que trata o art. 18, da

Lei nº 11.284, de 2 de março de 2006, consolidando em documento único, estudos

prévios (publicados ou não) relacionados à caracterização da sócio economia e

questões ambientais na área apresentada, atendendo aos produtos solicitados e

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demandas de revisão por parte do IDEFLOR e da Secretaria de Meio Ambiente

(SEMA/PA).

4. Insumos utilizados para a construção do Relatório Ambiental Preliminar (RAP).

Entre as áreas objetos de licitação para o uso privado de florestas públicas do

estado do Pará, indicadas para outorga florestal 2010, estão aquelas que fazem parte

do conjunto de glebas Mamurú-Arapiuns, as quais encompassam outras glebas como a

Nova Olinda I, II e III e a Curumucurí. Esse conjunto de glebas ocupa uma superfície de

cerca de 600 mil hectares, dos quais 311 mil são destinadas à concessão florestal.

Em 2009, o IDEFLOR conduziu através de pesquisas próprias ou

encomendadas às universidades e institutos de pesquisa, seis (6) estudos cujos

resultados indicativos são fundamentais para subsidiar a elaboração do RAP. Esses

estudos foram:

1) Estudos físicos e tipologia vegetal: Este estudo foi realizado pelo

IDEFLOR através de pesquisas a fontes secundárias e sensoriamento remoto realizado

pelo Laboratório de Sensoriamento Remoto (LSR) do IDEFLOR e aborda, entre outros

temas: as características do solo e do relevo; as classes de cobertura do solo; a

descrição dos recursos hídricos;

2) Pesquisa Socioambiental na Região Mamurú-Arapiuns: Este estudo foi

realizado por uma equipe de pesquisa do “Projeto Várzea” do Instituto Socioambiental e

dos Recursos Hídrícos (ISARH) da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA),

coordenada pelo professor Manoel Malheiros Tourinho, e aborda quatro estudos

relacionados às comunidades tradicionais da região; a produção familiar e o uso da

terra; recursos florestais; e animais domésticos e silvestres;

3) Caracterização do mercado de produtos florestais madeireiros e não-madeireiros da região Mamurú-Arapiuns: Este estudo também foi realizado por uma

equipe de pesquisa da UFRA, também ligada ao ISARH e coordenada pelo professor

Antônio Cordeiro de Santana, e teve por objetivo descrever os arranjos produtivos locais

(APLs) de produtos e serviços florestais, assim como os aspectos da oferta e demanda

de produtos florestais, os preços ofertados e pagos, a infra-estrutura e a logística

regional;

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4) Inventário florestal: Este estudo foi realizado por uma consultoria contratada

pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e tem por objetivo a identificação do estoque de

produtos florestais madeireiros e não madeireiros e a espacialização destes resultados;

5) Estudo de Fauna: Estudo realizado no interflúvio dos rios Mamurú e

Arapiuns, por uma equipe formada por pesquisadores do MPEG e UFPA, coordenada

pelos pesquisadores José Reinaldo Pacheco Peleja e Orlando Tobias Silveira

6) Projeto de Desenvolvimento Comunitário: Conduzido por uma equipe

coordenada pela pesquisadora Regina Oliveira da Silva, do MPEG - Museu Paraense

Emilio Goeldi cujo foco foi o fortalecimento da economia agro florestal e extrativista das

comunidades na Gleba Nova Olinda I, com o propósito de construir, em parceria com as

comunidades locais, projetos de desenvolvimento comunitário, que permitam a essas

comunidades usufruir da biodiversidade local e melhorar a sua qualidade de vida;

Assim, para a elaboração deste RAP foram considerados estes estudos retro

mencionados. O presente RAP toma emprestado dos estudos mencionados as

evidências mais estratégicas sobre como pode ser conduzido um plano de outorga

florestal sem que as iniciativas do estado e do governo coloquem em risco as

comunidades tradicionais ribeirinhas, as etnias indígenas e negras remanescentes,

antigos centenários ocupantes de qualquer natureza; a biodiversidade, a condição dos

corpos d’água, rios e igarapés, a segurança alimentar, ainda que de subsistência e a

integração social, cultural e ambiental das populações, tudo conforme o princípio mais

importante e prioritário da outorga florestal, qual seja: “a destinação não onerosa do

território a povos e comunidades tradicionais que utilizam este território e,

conseqüentemente, fazem uso sustentável dos seus recursos naturais” (PAOF 2010).

Com referência à área de concessão e suas implicações para a Área de

Entorno (AE), pode-se inferir, a partir das evidências constatadas na pesquisa

socioambiental na região do Mamurú-Arapiuns, a importância da geografia do entorno

dinâmico, e pode-se conjecturar sobre as “entradas” e “saídas” passíveis de acontecer

nas áreas de licitação, cujo conjunto de glebas participantes reúne um espaço-natureza

de 311 mil hectares, correspondendo a quase ¼ da superfície florestal da grande mata

dos vales dos rios Mamurú e Arapiuns que perfaz um total de 1,3 milhões de hectares.

Quando se busca encontrar acontecimentos que podem se fazer presentes, um

dos fenômenos que se visualiza mais crucial para a área de entorno, como decorrência

das concessões florestais, diz respeito a concentração urbana. De um modo geral a

pesquisa mostrou a acelerada urbanização da região, com perda da população rural,

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atração de mão de obra migrante e o agravamento das questões sociais e ambientais.

E, na lógica da acumulação, Santarém se credencia como pólo de oferta de serviços. O

PAOF deve prever mecanismos horizontais de descentralização urbana, direcionamento

do fluxo migratório e a contenção da população rural, atenuando a assimetria de

crescimento urbano e da pressão sobre os recursos naturais, tanto da “jusante” do

processo (oferta de alimentos, etc.) como a “montante” do processo (oferta de terra-

espaço físico para habitação, etc.)

No que tange à política de concessão florestal e suas implicações para as

comunidades tradicionais temos que um dos propósitos do PAOF estadual é

proporcionar às comunidades tradicionais os benefícios decorrentes do ordenamento

territorial, assegurando-lhes o uso sustentável dos recursos naturais. Dos estudos

conduzidos pelas equipes de pesquisadores do IDEFLOR, UFRA e MPEG, se pode

concluir que as áreas disponíveis às concessões, embora desabitadas(?), recebem

povos da floresta de localização ribeirinha, que aí chegam para buscar as suas

sobrevivências. Se pode hoje estimar com maior segurança a existência de uma

centena de vilas e povoados com visível história política, social e cultural, donde vivem

ao redor de 20.000 pessoas. As ameaças a essas comunidades e seus habitantes

podem existir decorrentes da falta de governança para com os seguintes fatores, entre

outros: a. A questão da regularização da terra, em bases comunitárias, evitando a titulação

individual.

b. A expansão do uso da terra com as frentes agrícola, pecuária e mineral e a

desarticulação social das comunidades tradicionais.

c. A ameaça à biodiversidade devida o uso da terra

d. A manifestação latente e manifesta do conflito social

e. A ausência do Estado do Pará no provimento e na garantia de perenização dos

fatores de produção & reprodução social comunitária.

5. Descrição e localização dos lotes de concessão florestal e divisão política.

A área de concessão florestal, objeto deste RAP é uma área de 311.953,805

hectares, localizada dentro do conjunto de glebas Mamurú Arapiuns, que tem uma área

total de 1.312.244,006 hectares, e é composta por 8 lotes, sendo 4 pequenos, 3 médios

e 1 grande, conforme se observa no Mapa da Figura 2 a seguir. Os lotes apresentam a

seguinte configuração espacial: Lotes 1, 2, 3 e 4, classificados como pequenos, com

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dimensões de 19.955,655 ha, 19.792,657 ha, 19.693,314 ha e 19.890,284 ha,

respectivamente. Estes 4 lotes pequenos ficam na porção mais oriental da área de

concessão florestal e a leste dos mesmos situa-se a Reserva Extrativista Tapajós

Arapiuns.

Lotes 5, 6 e 7, classificados como médios, com dimensões de 44.796,518 ha,

45.687,087 ha e 42,316,213 ha, respectivamente. O lote 5 situa-se mais ao norte dentro

da área de concessão florestal e os lotes 6 e 7 situam-se na porção centro ocidental,

tendo a oeste o rio Mamurú e seus afluentes.

Lote 8, único classificado como grande, com dimensão de 99.822,077 ha, situa-

se ao sul dentro da área de concessão florestal, fazendo limite com o Parque Nacional

da Amazônia. Figura 2. Mapa da área de concessão florestal Mamurú - Arapiuns

Fonte: LSR/IDEFLOR 2010

Page 12: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

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Os lotes 1, 2 e 3 estão situados inteiramente no município de Santarém, já o

lote 4 situa-se parte em Santarém e parte no município de Aveiro. O lotes 5 e 6 situam-

se parte em Santarém e parte no município de Jurutí. O lote 7 está situado nos três

municípios: Santarém, Jurutí e Aveiro e o lote 8 está situado quase que totalmente no

município de Aveiro, apresentando apenas uma pequena ponta ao norte, situada no

município de Santarém.

5.1. Rotas de acesso à área de concessão florestal

Cabe salientar ainda que, diante da transposição dos mapas das figuras 2 e 3,

os lotes de concessão florestal estão localizados dentro das glebas Nova Olinda II,

Nova Olinda I e Mamurú, ficando de fora das áreas de concessão florestal as glebas:

Curumucuri e Nova Olinda III, no âmbito do conjunto de glebas Mamurú Arapiuns. Figura 3. Mapa do conjunto de glebas Mamurú Arapiuns

e suas rotas de acesso

Fonte: LSR/IDEFLOR 2010

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De acordo com o Plano de Outorga Florestal – PAOF 2010, o conjunto de

glebas Mamurú Arapiuns pode ser acessado através de cinco percursos: o primeiro,

por terra, sai de Itaituba passando pelo Projeto de Desenvolvimento Sustentável – PDS

Anjo da Guarda e seguindo pela estrada “Transjuruti”. O segundo percurso via fluvial e

terrestre, saindo de Santarém, seguindo pelo rio Arapiuns e acessando rotas terrestres

(estradas e ramais), a partir da Gleba Nova Olinda. A terceira rota, vias fluvial e

terrestre, sai de Santarém até a localidade de Patacho, de onde se segue por rota

terrestre através de estradas e ramais. A quarta possibilidade acontece partindo-se de

Juruti, via terrestre, seguindo por estradas e ramais de acesso pela Gleba Nova Olinda

III. Por fim, a quinta possibilidade se dá através de Juruti, via fluvial, com destino ao rio

Mamuru ou ainda saindo de Parintins descendo pelo Rio Mamuru (Figura 02).

6. Descrição do solo, relevo, tipologia vegetal e classes de cobertura. 6.1. Características dos Solos

O estudo dos solos, de suas potencialidades e restrições, são elementos

fundamentais quando se deseja desenvolver qualquer atividade que dependa da terra,

seja ela agrícola, pecuária ou florestal.

Alguns fatores como fertilidade natural, capacidade de retenção de água,

suscetibilidade à erosão, condições de drenagem e impedimentos à mecanização, são

limitantes ao uso do terreno, indicando o seu maior ou menor grau de aptidão ou

mesmo a inviabilidade da exploração que se deseja realizar no mesmo.

Quanto à aptidão dos solos à exploração florestal, por se tratar de um sistema

de menor intensidade de uso da terra, pode-se dizer que há menor exigência e maior

adaptabilidade deste tipo de atividade às restrições do terreno quando comparada à

produção de cultivos anuais e perenes. De acordo com essas limitações, podemos

agrupar os solos em quatro classes de aptidão:

BOA - Solos com fertilidade natural insuficiente para manter a produção

normal das lavouras, podendo apresentar leve salinidade ou alcalinidade. Podem ter

um período (até 3 meses) com umidade insuficiente.

REGULAR - Terrenos de baixa fertilidade natural, a qual decresce rapidamente

quando explorados. Apresentam, de modo geral, uma nítida deficiência de água

Page 14: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

14

disponível num período de três a cinco meses ao ano. Podem ser solos rasos e com

drenagem imperfeita por motivos inerentes ao próprio solo.

RESTRITA - Solos impróprios para cultivos e pastagens por apresentarem

insuficiência de nutrientes ou serem salinos ou alcalinos. Possuem importante

deficiência hídrica durante cinco a sete meses ao ano. A drenagem é imperfeita e há

risco de inundações ocasionais. No caso de inundações frequentes, estas não são

prolongadas.

INAPTA - Terrenos com severas limitações, considerados inaptos à atividade

florestal.

Em uma exploração florestal, o conhecimento do solo e de suas limitações

poderá nos orientar no sentido da escolha de espécies que melhor se adaptem às suas

condições, ou mesmo concorram para o melhoramento de suas restrições, como por

exemplo, o uso de espécies que apresentem um rápido crescimento de copa, de

maneira a proteger a superfície do solo em áreas sujeitas à erosão.

Segundo o levantamento de reconhecimento de solos promovido pelo

Zoneamento Ecológico-Econômico na área de influência da BR 163 (Cuiabá-

Santarém), e que abrange o conjunto de glebas Mamurú-Arapiuns, as principais

classes de solos encontradas em ordem decrescente foram as seguintes:

Latossolos > Argissolos> Gleissolos > Neossolos Flúvicos > Neossolos

Quartzarênicos > Neossolos Litólicos > Nitossolos > Plintossolos > Espodossolos.

Os latossolos (Amarelos, vermelhos e Vermelho-Amarelos) juntamente com os

argissolos (Amarelos, Vermelhos e Vermelho-Amarelos) ocupam uma área de

289.015,49 km2 , em relevo plano a suave-ondulado, representando 86,41% do total

mapeado. Estes solos possuem boa drenagem interna, permeabilidade, porosidade,

capacidade de retenção de água, além de outros aspectos físicos favoráveis a manejos

agropecuários e florestais intensivos.

Os latossolos são solos não hidromórficos, muito encontrados na Amazônia

sob vegetação de floresta e de campo cerrado. No processo de formação desses solos,

a elevada precipitação é responsável pela lixiviação de grande parte de sais solúveis e

de sílica, gerando um perfil ácido, pobre em bases e com acúmulo de sesquióxidos,

característico de solos bastante envelhecidos. A coloração do latossolo varia de acordo

com o grau de hidratação dos óxidos de ferro, com a precipitação e com a natureza da

rocha matriz.

Page 15: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

15

Os Argissolos (classe anteriormente conhecida como dos Podzólicos) são

solos bem desenvolvidos, normalmente ácidos e de baixa fertilidade natural, podendo

apresentar algumas vezes fertilidade de média a alta. Esses solos evidenciam uma fina

camada orgânica (horizonte O), um horizonte organomineral (A1), um horizonte A2 ou

um A3 descansando sobre um horizonte B textural, de coloração vermelha, amarela ou

vermelho-amarelada.

Figura 4. Mapa de solos da área de influência da BR-163 (Santarém - Cuiabá)

Fonte: ZEE da BR - 163

Page 16: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

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De acordo como mapa pedológico do conjunto de glebas Mamurú-Arapiuns,

nota-se a existência de 5 classes de solos nessa região: Latossolo Amarelo, Podzólico

Vermelho-Amarelo (Argissolo na nova classificação), Plintossolo, Areia Quartzosa

(Neossolo Quartzarênico na nova classificação) e gleissolo. As áreas de latossolo

predominam em relação às demais, sendo o Plintossolo o tipo menos freqüente, o qual

aparece como uma mancha que se estende da Gleba Nova Olinda II até uma pequena

porção da gleba Mamurú.

Figura 5. Mapa pedológico do conjunto de glebas Mamurú–Arapiuns

Fonte: LSR / IDEFLOR 2010

Em relação à aptidão agrícola dos solos, os dados oriundos do ZEE da BR-163

(Figura 6) nos sinalizam que quase a totalidade da área do complexo Mamurú Arapiuns

possui aptidão boa para cultivos, em pelo menos um dos sistemas de manejo (A, B ou

C), principalmente no que se refere à produção de grãos.

Page 17: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

17

Figura 6. Mapa de Classes de Aptidão Agrícola na área de influência da BR-163 (Santarém-Cuiabá)

Fonte ZEE da BR - 163

6.2. Relevo

O relevo, como um dos agentes de formação do solo, é responsável direta e

indiretamente pela determinação de suas características, pois influencia a

movimentação da água, juntamente com partículas minerais e orgânicas através do

perfil. Sendo assim, a declividade de um terreno é inversamente proporcional à sua

profundidade, uma vez que nos solos declivosos (coluviais) há maior erosão e menor

infiltração de água, retardando a diferenciação dos horizontes e o consequente

amadurecimento do solo.

Page 18: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

18

Uma vez que o relevo interfere diretamente em fatores considerados limitantes

aos diferentes tipos de uso da terra, o conhecimento das condições topográficas de um

terreno (classes de relevo, declividade, extensão e uniformidade do declive), constitui

um importante subsídio para a determinação de sua aptidão agrícola, permitindo uma

melhor apropriação da unidade de produção à atividade que apresente maior

viabilidade ambiental e econômica.

As florestas e demais formas de vegetação natural localizadas no topo de

morros, montanhas e serras, e em encostas com declividade superior a 45(equivalente

a 100% na linha de maior declive) não devem ser consideradas em concessões

florestais, pois, segundo o Código Florestal (lei nº 4771 de 15 de setembro de 1965),

são consideradas áreas de preservação permanente, só podendo ser suprimidas total

ou parcialmente com a prévia autorização do Poder Executivo Federal, em caso de

utilidade pública ou interesse social.

Figura 7. Mapa topográfico do conjunto de glebas Mamurú Arapiuns

Fonte: LSR/IDEFLOR 2010

Page 19: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

19

A estrutura geomorfológica do conjunto de glebas Mamurú-Arapiuns é

representada pelas seguintes unidades: Planície Amazônica, Depressão do Madeira-

Canumã, Depressão do Abacaxis-Tapajós e Patamares do Tapajós. Estas unidades

geomorfológicas pertencem à Região Geomorfológica das Bacias Sedimentares

Mesozóicas Madeira-Xingú.

A Planície Amazônica é constituída por depósitos aluviais (principalmente argila

e areia) que aparecem margeando o curso dos rios, originando as várzeas. Possui as

menores altitudes regionais, geralmente em torno de 20 metros, e encontra-se

periodicamente inundada pelas águas fluviais. A tipologia vegetal que recobre esta

unidade é representada pela Floresta Aberta Aluvial com Palmeiras.

As Depressões (áreas mais baixas) e os Patamares (áreas escalonadas) são

acidentes que aparecem dentro de uma unidade maior constituída pelo Planalto

Rebaixado da Amazônia. Este último representa uma superfície pediplanada (relevo

plano a suave ondulado), com altitude média de 250 metros, que corresponde aos

baixos platôs (terras firmes) que margeiam as várzeas amazônicas. São formados por

densas áreas de floresta entremeadas por campinarana (vegetação oligotrófica de

influência pluvial).

Quanto à distribuição destes tipos de relevo na área em estudo, observando-se

a Figura 8 constata-se que os Patamares do Tapajós predominam na região,ocupando

a totalidade das glebas Curumucurí e Nova Olinda III e grande parte das demais

glebas. As Depressões constituem algumas áreas das glebas Nova Olinda II e

Mamurú, enquanto que as áreas ocupadas pela Planície Amazônica são bastante

restritas .

Page 20: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

20

Figura 8. Mapa da Geomorfologia do conjunto de glebas Mamurú – Arapiuns.

Fonte: LSR / IDEFLOR 2010

6.3. Tipologia vegetal e classes de cobertura (uso da terra)

Quando se pensa em projetos que visam o aproveitamento racional dos

recursos naturais, a caracterização da cobertura vegetal é de fundamental importância,

pois fornecerá subsídios para se implementar técnicas que aliem desenvolvimento e

sustentabilidade. Nesse contexto, em atividades florestais, o conhecimento da

vegetação que compõe a paisagem permite a avaliação dos impactos causados pela

ocupação e exploração da área, direcionando a um manejo que preserve as espécies

de importância para a manutenção da dinâmica e equilíbrio do ecossistema.

A Amazônia possui quatro tipos de cobertura vegetal: i) floresta densa de terra

firme e florestas inundáveis (igapó e várzea), que abrange 49 %, com vegetação

exuberante e com alta diversidade de espécies; ii) floresta aberta (27 %), que

predomina a vegetação com cipós e palmeiras; iii) cerrados (savanas), com vegetação

Page 21: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

21

herbácea-arbustiva e ocupam 17 % e iv) campos naturais áreas de terra firme ou

inundáveis, que abrange cerca de 7 %, predominando espécies de gramíneas (Araújo

et al., 1986).

De acordo com o mapa de cobertura vegetal elaborado pelo Laboratório de

Sensoriamento Remoto do IDEFLOR (Figura 9), na área que será destinada à

concessão florestal ocorrem as seguintes tipologias florestais:

a) Floresta Ombrófila Densa: Este tipo de vegetação, como o próprio nome diz

(ombrófila=amigo das chuvas), ocorre em regiões com elevado índice pluviométrico (>2.300

mm ao ano), onde as espécies florestais de grande porte amontoam suas exuberantes copas,

fazendo com que haja pouquíssima ou nenhuma penetração dos raios solares. Este tipo de

floresta pode ser de Terras Baixas (Terra Firme), de Várzea (periodicamente inundada) e de

Igapó (permanentemente inundada).

b) Floresta Ombrófia Densa Aluvial: É uma variação da Floresta Ombrófila

Densa que aparece margeando os rios e demais cursos d’água. Por se tratar de

comunidades vegetais que recebem influência das cheias periódicas dos rios,

apresentam espécies menos frondosas e adaptadas às condições de elevada umidade

do solo.

c) Floresta Ombrófila Aberta: A Floresta Ombrófila Aberta é um tipo de

transição entre a Floresta Amazônica e as áreas extra-amazônicas e é caracterizada

por um período seco que dura de 2 a 3 meses. Neste tipo de vegetação as espécies

florestais, oriundas da Floresta Densa, não apresentam copas muito próximas umas

das outras, permitindo que os raios solares penetrem no interior da mata.

De acordo com a altitude, pode ser classificada em: de terras baixas (5 - 100 m

de altitude); de locais submontanos (100 até 600 m de altitude) e de áreas montanas

(serranas), que ocupam a faixa altimétrica entre 600 e 2.000 m. A distribuição dos diferentes tipos de cobertura vegetal nas glebas em estudo

está discriminada na Figura 9, onde se verifica uma considerável dominância da

Floresta Ombrófila (80,79%) sobre as demais formações florísticas, enquanto apenas

uma pequena porção do território (4,08 %) é usada para atividades agrícolas.

Page 22: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

22

Figura 9. Mapa de cobertura vegetal e uso da terra do conjunto de glebas Mamurú Arapiuns

Fonte: LSR/IDEFLOR 2010

Além das áreas de floresta, ocorrem também outras áreas onde a mata entra

em contato com a savana, um tipo de vegetação onde plantas rasteiras (herbáceas)

são intercaladas por árvores de pequeno porte, sendo também conhecida como campo

cerrado.

Há também a presença de formações pioneiras de influência fluvial, ocupando

53.522,016 ha, o que corresponde a 4,08% do conjunto de glebas Mamurú Arapiuns.

Este tipo de sistema vegetal ocorre nas planícies fluviais e sofre os efeitos temporários

ou permanentes das cheias dos rios. São comunidades vegetais que encontram-se em

constante sucessão, constituindo as “matas ciliares”, assim denominadas por serem tão

Page 23: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

23

importantes para a proteção dos rios e lagos , como são os cílios para nossos olhos,

pois ajudam a manter a qualidade da água dos mananciais, de duas maneiras: a)

através da filtragem do escoamento superficial, o que dificulta o carreamento de

sedimentos para o ecossistema aquático, reduzindo os riscos de assoreamento; e b)

através da absorção de nutrientes do escoamento subsuperficial, favorecendo o

equilíbrio do ciclo de nutrientes nos cursos d’água.

Quanto aos diferentes tipos de uso da terra, analisando o mapa do ZEE da área

de influência da BR-163 (Figur 10), verifica-se que na região que compreende as

glebas em estudo, a floresta nativa ocupa a maior parte do território, sendo seguida

pelas atividades agrossilvipastoris, que ocorrem às proximidades dos cursos d’água,

havendo também pequenas manchas de floresta impactada.

Figura 10. Mapa de uso da terra na área de influência da BR-163 (Santarém-Cuiabá).

Fonte: ZEE da BR-163

Nos dias atuais, tem-se, enfim, reservado importância para algo que, embora há

muito tempo já venha causando consideráveis prejuízos à qualidade de vida na terra,

passou a ser visto como um dos principais fatores de degradação ambiental : o

desmatamento.

Page 24: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

24

Segundo a FAO cerca de 200.000.000 ha de florestas foram destruídos de 1980

a 1995 (Bol. nº 46,7/97,ONU em foco).

Na Tabela 1 observa-se a área desmatada (km2) em cada Estado que compõe

a Amazônia Legal, no período de 2001 até 2009. Os Estados do Mato Grosso, Pará e

Rondônia apresentaram os maiores valores, em ordem decrescente, até o ano de

2005. Daí em diante, o Pará superou o Mato Grosso em área desmatada, pois, neste

último ocorreu uma queda mais significativa no referido período, queda esta que se

deve à uma importante redução na expansão do cultivo da soja. Entre agosto de 2008

e julho de 2009, o Estado do Pará respondeu por 57% de todo o desmatamento na

Amazônia legal

Tabela 1. Desmatamento (km2) por Estado e na Amazônia Legal (2001-2009) Estado/Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Total

Acre 419 883 1078 728 592 398 184 254 167 4703

Amazonas 634 885 1558 1232 775 788 610 604 405 7491

Amapá 7 0 25 46 33 30 39 100 70 350

Maranhão 958 1014 993 755 922 651 613 1271 828 8005

Mato Grosso 7703 7892 10405 11814 7145 4333 2678 3258 1049 56277

Pará 5237 7324 6996 8521 5731 5505 5425 5607 4281 54627

Rondônia 2673 3099 3597 3858 3244 2049 1611 1136 482 21749

Roraima 345 84 439 311 133 231 309 574 121 2547

Tocantins 189 212 156 158 271 124 63 107 61 1341

Amazônia Legal 18165 21393 25247 27423 18846 14109 11532 12911 7464 157090

Fonte: Dados do INPE

Os menores valores de área desmatada pertencem ao Estado do Amapá, que

vem seguido pelos Estados de Tocantins, Roraima, Acre, Amazonas e Maranhão.

Segundo o INPE, o Estado do Maranhão apresentou, em 2009, valores

correspondentes a 11% do desmatamento total, ligeiramente superiores aos verificados

em 2008, que indicaram 10% de participação.O Estado de Rondônia, por sua vez,

atingiu em 2009 , uma taxa inferior a 1000 km 2/ano, valor alcançado pela primeira vez

desde 1988. Os demais Estados obtiveram, juntos, uma participação de 11% no

desmatamento total da Amazônia legal no ano de 2009.

Page 25: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

25

Os dados do INPE apontam para uma redução, entre agosto de 2008 e julho de

2009, de 42% na taxa anual de desmatamento, em relação ao mesmo período entre

2007 e 2008. De acordo com o instituto,esta foi a menor taxa anual verificada desde o

início dos trabalhos de monitoramento por satélite, no ano de 1988.

As florestas, entre outros benefícios, contribuem para a manutenção do

equilíbrio climático, ajudando a regular a temperatura, a umidade e as chuvas, além de

absorverem o CO2 da atmosfera. Dessa forma, a destruição progressiva da cobertura

florestal vem acarretando sérias conseqüências, tais como: perdas de biodiversidade,

degradação do solo, erosões, aumento da incidência de desertificação, mudanças

climáticas e alterações na hidrografia. 

Até pouco tempo, destruir florestas era sinônimo de promover desenvolvimento.

Hoje, diante de tantas evidências contrárias, a floresta em pé passou a ter mais valor

do que a mata derrubada, e a exploração racional dos recursos florestais (manejo

florestal), reduzindo ao máximo os impactos causados ao meio ambiente, vem sendo

considerada uma prática que além de permitir que se tire proveito das riquezas da

floresta, concorre para a manutenção desse imenso patrimônio natural tão importante

para o equilíbrio ambiental do planeta.

7. Descrição da fauna e flora locais

7.1 Aspectos faunísticos na área dos lotes de concessão florestal

A região amazônica brasileira, que representa cerca de metade do território

nacional, esconde sob a exuberância de sua cobertura vegetal, frágeis e diversificados

ecossistemas, como as florestas de terra firme e de áreas inundáveis, os campos de

várzeas e as savanas mal e bem drenadas. A utilização sustentável desses ecossistemas

para fins de desenvolvimento agropecuário, florestal e agroindustrial, representa um

grande desafio para as instituições de pesquisa e desenvolvimento regionais, uma vez que

o desenvolvimento rural sustentável, a partir da fragilidade dos solos amazônicos, reclama

por sistemas de uso da terra adaptado às condições regionais (BARBOSA, 2005).

Os ecossistemas amazônicos tem sofrido intervenções antrópicas de tal forma que

tem afetado a capacidade de resiliência dos recursos faunísticos e florísticos e levado a

extinção de muitas espécies que ainda não foram estudadas. Essa afirmativa surge a partir

de estudos sobre levantamento da fauna e flora e diagnósticos socioeconômicos

Page 26: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

26

envolvendo as populações locais, as quais relatam que no passado era mais fácil caçar,

devido a abundância dos animais, e que hoje, em algumas regiões, o esforço de caça é

maior para atingir a biomassa desejada, onde uma das justificativas para o sumiço da caça

é o próprio desmatamento.

Na Amazônia existem mais de 1.200 espécies de aves (260 endêmicas), 427 de

mamíferos (173 endêmicas), 378 de répteis (216 endêmicas) e 427 de anfíbios (364

endêmicas) e mais de 3.000 espécies de peixes (Hylands et al. (2002) citado por Peleja e

Silveira, 2010). Abrigando comunidades de plantas e animais heterogêneas, a Amazônia é

um mosaico de distintas regiões de endemismo delimitadas pelos grandes rios da região,

cada um com biotas e histórias evolutivas próprias (SILVA et al. 2005).

Nos estudos sobre diagnóstico de fauna na região do interflúvio Mamuru-Arapiuns,

os autores citam que a Amazônia apresenta oito centros de endemismo - Belém, Xingu,

Tapajós, Rondônia, Inhambari, Nabo, Imeri e Guiana, e destes, três destes centros são

totalmente brasileiros, Xingu, Tapajós e Belém. As regiões de Belém (entre os rios Gurupi

e Tocantins) e do Xingu (entre os rios Tocantins e Xingu) são as menores regiões em

extensão e mais comprometidas, onde 76,48 e 26,75% da área total encontram-se

desmatadas, respectivamente. Um dos centros de endemismo, o “Centro Rondônia”

abrange a região do interflúvio entre os rios Madeira e Tapajós coberta por tipos variados

de vegetação, entre eles a floresta pluvial densa de terras baixas, floresta pluvial densa

submontana, submontana com dossel aberto e savanas, bem como tipos de vegetação

inundada como várzea e igapó, este típico de vários rios da região, como Mamuru e

Andirá. O Centro Rondônia apresenta feições expressivas e únicas de biodiversidade, com

o registro de 183 espécies de mamíferos e 621 de aves. A área foco do levantamento

(interfluvio Mamuru-Arapiuns) situa-se ela mesma dentro dos limites do interflúvio maior

Madeira-Tapajós, carregando portanto as propriedades biogeográficas e os elementos

faunísticos próprios daquele centro de endemismo.

A região entre os rios Mamuru e Arapiuns, no oeste do Pará, encontra-se entre as

muitas áreas amazônicas onde o conhecimento sobre a fauna de mamíferos é baixo (Lima

e Queiroz, 2009). Essa região, de acordo com Peleja e Silveira (2009), é uma área de

grande interesse técnico-científico pela sua biodiversidade e importante papel sócio-

econômico, estando classificada como de extremamente alta importância biológica e

prioridade de ação, no mais recente relatório sobre “áreas prioritárias para conservação,

uso sustentável e repartição dos benefícios da biodiversidade brasileira” (áreas AM 185

Cachoeira do Aruã, e AM 189 Aruã; MMA, 2007).

Page 27: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

27

A partir da análise de documentos sobre estudos realizados na região Mamuru-

Arapiuns e área do entorno, assim como da legislação ambiental vigente, foi elaborada a

lista de espécies da fauna silvestre de ocorrência na região, destacando os táxons

endêmicos que se encontram ameaçados de extinção, presente nas listas oficiais dos

órgãos ambientais competentes, como o IBAMA, União para a Conservação da Natureza-

IUCN e Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna

Selvagens em Perigo de Extinção-CITES, que orientam a formação da lista vermelha de

animais ameaçados no Brasil gerada pelo Ministério do Meio Ambiente e a Lista de

espécies ameaçadas no Estado Pará.

7.1.1. Fauna cinegética

Os trabalhos desenvolvidos na região tropical, referentes à caça e

correlacionando populações tradicionais e ambientes naturais, relatam uma variedade

enorme de espécies da fauna que são caçadas pelo homem não somente para alimento

(Borge e De Faria, 2006). Na região do interfluvio Arapiuns-Mamuru, o uso dos recursos

faunísticos se dá pelas atividades de caça e pesca, tendo como principal finalidade a

subsistência.

Na Tabela 2, a relação das espécies da fauna cinegética que ocorrem nas

comunidades do interflúvio Mamurú-Arapiuns, muitas delas caçadas para diversos fins

(alimentação, uso terapêutico, xerimbabo, comercial, controle de pragas). No estudo os

autores citam que a atividade de caça é muito influenciada pela densidade populacional

da comunidade e pelo uso da terra no entorno da mesma. A exploração florestal, o

desmatamento, bem como áreas de fazenda para a pecuária, influenciam na

disponibilidade, freqüência e distância de caça por parte dos comunitários. Essas

atividades tem provocado a diminuição de animais nas áreas de florestas próximas as

comunidades, que cada vez mais tem necessidade de seguir maiores distâncias na

busca de caça e em direções onde a floresta se encontra mais conservada.

Page 28: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

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Tabela 2. Lista de espécies da fauna cinegética (mamíferos, aves e répteis) de ocorrência nas comunidades localizadas nos lotes de Concessão Florestal.

Nome Comum Ordem Família Espécie USO

MAMÍFEROS Anta Perissodactyla Tapiridae Tapirus terrestris A Boto/ boto preto/ boto vermelho Cetacea Delphinidae Sotalia fluviatilis T

Capivara Rodentia Hydrochaeridae Hydrochaerus hydrochaeris A/C

Catitu Artiodactyla Tayassuidae Pecari tajacu A/C Coatá Primatas Psittacidae Ateles belzebuth Cutia Rodentia Dasyproctidae Dasyprocta aguti A Cuxiu Primates Pitheciidae Chiropotes SP A Gato do Mato Carnivora Felidae Leopardus wiedii P Jaguatirica Carnivora Felidae Leopardus pardalis P Gavião Falconiformes Accipitridae Guariba Primates Cebidae Alouatta sp. A Macaco prego Primates Cebidae Cebus apella A Mico de Cheiro Primates Cebidae Saimiri vanzolinii Mucura Marsupialia Didelphidae Didelphis sp. T Onça Carnivora Felidae Panthera onça *P Paca Rodentia Cuniculidae Cuniculus paca A/C Peixe-boi Sirenia Trichechidae Trichechus sp. T Preguiça Ophidia Viperidae Lachesis sp. Quati Carnivora Procyonidae Nasua nasua A/P Queixada Pilosa Bradypodidae Bradypus sp. A

Tamanduá Xenarthra MyrmecophagidaeTamandua tetradactyla *P

Tatu Edentata Dasipodídeos Euphractus sexcintus A

Veado/veado vermelho/veado foboca Artiodactyla Cervidae A/C AVES Arara Psitaciformes Psittacidae Ara sp.

Bem-Te-Vi Passeriformes Tyrannidae Pitangus sulphuratus

Cujubim/ Cujubinha Craciformes Cracídeos Pipile cujubi Curica Psittaciformes Psitacídeos Gypopsitta caica

Curió Passeriformes Fringílidas Oryzoborus angolensis X

Gavião Falconiformes Accipitridae Inhambu Tinamiformes Tinamidae Tinamus sp. A

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Inhambu-açu Tinamiformes Tinamidae Tinamus major A Jacamim Gruiformes Psophiidae Psophia sp

Jacu Craciformes Cracidae Penelope sp. A Marreca Anatidae Dendrocygnidae Mutum Galliformes Cracidae Crax fasciolata A Papagaio Psittaciformes Psittacidae Amazona sp. X Periquito Psittaciformes Psittacidae Brotogeris tirica X Tucano Piciformes Ramphastidae Ramphastos SP RÉPTEIS

Aperema Cryptodira Geoemydidae Rhinoclemmys punctularia A

Camaleão Squamata Iguanidae Iguana iguana A Cobras Ophidia Viperidae Jabuti Chelonia Testudinidae Geochelone sp. A/C Jacaré/ jacaré-tinga Crocodylia Crocodilidae Caiman sp. A Jararaca Squamata Viperidae Bothrops sp. Jibóia Ophidia Boidae Boa constrictor T Pico-de-jaca Squamata Viperidae Lachesis sp. Sucuri Squamata Boidae Eunectes murinus P Tartaruga-da-Amazônia Testudines Chelidae

Podocnemia expansa A/C

Tracajá Testudines Pelomedusidae Podocnemis unifilis A/C A – alimentação; T – terapêutico; X – xerimbabo; *P – praga; C – comércio * Animais considerados pragas porque atacam os cães e os homens na hora da caçada.

Dentre as espécies de aves registradas, utilizadas pela população local para

alimentação, estão os inhambus (Crypturelus spp.), os jacus e jacutingas (Pipile cujubi e

Penelope superciliaris) e os utuns (Nothocrax urumutum e Pauxi tuberosa), especies que

sofrem intensa pressão de caça em zonas de contato com populacoes humanas

Das 49 espécies de animais silvestres distribuídos nas classes de mamíferos, aves

e répteis, pertencentes a fauna cinegética do interflúvio Mamurú-Arapiuns, 14,3% (n=6)

encontram-se na lista de animais ameaçados, conforme tabela 3 a seguir.

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Tabela 3 – Lista da fauna cinegética do interflúvio Mamurú-Arapiuns que encontram-se na lista de animais ameaçados

Ordem Família Nome científico

Nome popular

Categoria de ameaça

LV LEAP Carnivora Felidae Leopardus pardalis Jaguatirica Vu Vu Felidae Panthera onca Onça-pintada Vu Sirenia Trichechidae Trichechus

inunguis Peixe-boi-da-

Amazônia Vu Em perigo

Pilosa Myrmecophagidae Myrmecophaga tridactyla

Tamanduá-bandeira

Vu Vu

Perissodactyla Tapiridae Tapirus terrestris Anta

Vu Vu

Galliformes Cracidae Crax fasciolata Mutum Vu Vu

LV – Livro Vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção; LEAP – Lista de espécies da fauna ameaçada no Estado do Pará; Vu – Vulnerável.

Nos estudos realizados na Gleba Nova Olinda I, a caça foi considerada a

principal atividade extrativista, seguido pelo extrativismo vegetal não-madeireiro e

pesca, com um consumo médio de cinco quilos de carne de caça e cinco quilos de

peixe por semana, constituindo-se as principais fontes de proteína animal, destacando

que durante o inverno, a disponibilidade de peixes nos rios da região é muito baixa. Em

algumas comunidades há algum comércio de carne de caça em pequena escala, em

geral para moradores locais, quando esse produto excede o consumo familiar.

Os resultados das ações antrópicas sobre as populações animais não são

fáceis de serem quantificados, e os efeitos de redução e desaparecimento de espécies

demoram a aparecer em florestas contínuas, devido aos fluxos freqüentes das espécies

advindas de outras localidades. Mas com o aumento da atividade madeireira e a

fragmentação dos habitats, esses efeitos já estão sendo notados pelas populações

locais. Isso é um dado preocupante, pois os mamíferos tem uma importante função na

dinâmica de florestas tropicais, com estudos sobre a dispersão e uso de habitat de

mamíferos destacando a importância desses para a recuperação das áreas

degradadas.

O manejo da atividade de caça pode se transformar num incentivo à

conservação da floresta, já que, no caso, esta seria a fonte dos animais de caça,

permitindo sua reprodução e mantendo a atividade a níveis sustentáveis. Assim, o

manejo planejado da caça se faz necessário para ordenar a atividade de forma a

garantir a conservação das espécies animais, mantendo a qualidade de vida da

população local (OLIVEIRA et al, 2005).

Page 31: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

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7.1.2. Os peixes

As informações acerca da fauna de peixes de igarapés da região da gleba

Mamuru-Arapiuns, atualmente restringem-se a igarapés do município de Juruti (PA)

referentes ao projeto intitulado Levantamento faunístico do município de Juruti, PA, na

área sob influência da exploração de bauxita, coordenado pelo Museu Paraense Emílio

Goeldi, porém, tais dados ainda não foram publicados. A maioria dos estudos

relacionados à fauna de peixes da região do baixo Amazonas, restringe-se aos grandes

rios (navegáveis), excluindo os pequenos cursos d´água como os igarapés (Goch e

Peleja, 2010)

Nas Tabelas 4 e 5, a relação das espécies de peixes que ocorrem na região do

interflúvio Mamuru-Arapiuns e áreas do entorno, de acordo com documentos

consultados.

Tabela 4 – Espécies de peixes capturadas nos igarapés da bacia do rio Mamuru.

ORDEM FAMÍLIA GÊNERO E ESPÉCIE CHARACIFORMES

Characidade Crenuchidae

Bryconops inpai (Knöppel, Junk & Géry, 1968) Gnathocharax steindachneri (Fowler, 1913) Hemigrammus belotii (Steindachner, 1882) 10 60 Hemigrammus levis (Durbin, 1908) Hemigrammus unilineatus (Gill, 1858) Hyphessobrycon heterorhabdus (Ulrey,1894) Hyphessobrycon sp.1 Hyphessobrycon sp.2 Hyphessobrycon sp.3 Iguanodectes spirulus (Günther, 1864) Moenkhausia oligolepis (Günther, 1864) Characidium pteroides (Eigenmann, 1909) Characidium sp 1 Characidium sp 2

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CYPRINODONTIFORMES GYMNOTIFORMES PERCIFORMES

Erytrhinidae Gasteropelecidae Lebiasinidae Rivulidae Gymnotidae Hypopomidae Cichlidae

Characidium sp 3 Crenuchus spilurus (Gunther, 1863) Elachocharax pulcher (Myers, 1927) Hoplerythrinus unitaeniatus (Agassiz, 1829) Hoplias malabaricus (Bloch, 1764) Carnegiella strigata (Günther, 1964) Copella nigrofasciata (Meinken, 1936) Copella nattereri (Steindachner, 1876) Nannostomus bifasciatus (Hoedeman, 1954) Nannostomus unifasciatus (Steindachner, 1876) Nannostomus marginatus (Eigenmann, 1909) Pyrrhulina sp.1 Pyrrhulina sp.2 Pyrrhulina brevis (Steindachner, 1876) Rivulus sp. Gymnotus sp.1 Gymnotus sp.2 Steatogenys duidae (La Monte, 1929) Aequidens epae (Kullander, 1989) Aequidens tetramerus (Heckel, 1840) Apistogramma eunotus (Kullander, 1980) Apistogramma sp.1 Apistogramma sp.2 Bujurquina sp. Cichla kelberi (Kullander & Ferreira, 2006) Crenicichla inpa (Ploeg, 1991)

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SILURIFORMES SYNBRANCHIFORMES

Polycentridae Cetopsidae Loricariidae Synbranchidae

Dicrossus maculatus (Steindachner, 1875) Mesonauta festivus Monocirrhus polyacanthus (Heckel, 1840) Helogenes marmoratus (Gunther, 1863) Rineloricaria sp. Rineloricaria lanceolata (Gunther, 1868) Otocinclus hoppei (Miranda Ribeiro, 1939) Synbranchus sp.

Total de espécies = 48

Nos igarapés da bacia do rio Mamuru foram identificados 48 espécies de peixes,

distribuídos em 6 Ordens e 13 Famílias.

Tabela 5 – Lista de espécies de peixes capturadas no rio Mamuru (foz dos igarapés).

ORDEM FAMÍLIA GÊNERO E ESPÉCIE Nome vulgar CLUPEIFORMES CHARACIFORMES

Clupeidae Engraulidae Anostomidae Characidae

Pellona castelnaeana (Valenciennes, 1847) Pellona flavipinnis (Valenciennes, 1847) Lycengraulis batesii (Günther, 1868) Leporinus fasciatus (Bloch, 1794) Laemolyta varia (Garman, 1890) Serrasalminae Metynnis hypsauchen (Müller & Troschel, 1844) Myleus schomburgkii (Jardine & Schomburgk,

apapá amarelo apapá branco apapazinho aracu flamengo aracu caneta pacu marreca pacu jumento

Page 34: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

34

SILURIFORMES

Curimatidae Cynodontidae Erythrinidae Hemiodontidae Ctenoluciidae Ageneiosidae Auchenipteridae Loricariidae Pimelodidae Doradidae

1841) Pygocentrus nattereri (Kner, 1860) Serrasalmus rhombeus (Linnaeus, 1766) Curimata inornata Vari, 1989 Cyphocharax abramoides Kner, 1859 Hydrolycus scomberoides (Cuvier, 1819) Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) Hemiodus immaculatus (Kner, 1859) charuto Hemiodus sp1 Hemiodus sp2. Boulengerella sp Ageneiosus brevifilis (Valenciennes, 1840) Auchenipterichthys sp. Loricariinae Rineloricaria sp. acari Pimelodus blochii Valenciennes, 1840 Pinirampus pirinampu (Spix & Agassiz) Platynematichthys notatus (Schomburgk, 1841) Scorpiodoras sp. Megalodoras uranoscopus (Eigenmann & Eigenmann, 1888) Hypophthalmus marginatus Valenciennes, 1840 Cichla sp Cichla temensis Humboldt,

piranha caju piranha preta branquinha branquinha peixe cachorro traíra charuto charuto rabo de fogo catrapola urumará ou bicuda mandubé corró cachimbo mandi piranambu cara de gato rebeca bacu ou rebecão

Page 35: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

35

PERCIFORMES

Hypophthalmidae Cichlidae Scianidae

1833 Geophagus proximus Castelnau, 1855 Satanoperca acuticeps (Heckel, 1840) Plagioscion squamosissimus (Heckel, 1840)

mapará tucunaré comum tucunaré paca caratinga ou acará-róirói acará bicudo pescada branca

Total de espécies = 31

No rio Mamuru foram identificadas 31 espécies distribuídas em 04 Ordens e 17

famílias. Contudo, conforme indicam os estudos, a distribuição das espécies de especial

interesse para a conservação abrange todas as espécies, em função da pouca

informação acerca da fauna íctica dos igarapés amazônicos, em especial os localizados

na região do baixo e médio Amazonas. Considerando o alto grau de endemismo das

espécies de peixes da Bacia Amazônica torna-se essencial que sejam definidas

estratégias para a manutenção das espécies presentes nesta área, visto que apesar da

diversidade de espécies, algumas apresentaram baixo número de indivíduos.

No diagnóstico, foi citado o gênero Hyphessobrycon (Characidae) com

indicação de prioridade para monitoramento. Este gênero está inserido na normativa

Nº5 do Ministério do Meio Ambiente (2004), com três espécies consideradas

criticamente em perigo nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. Sendo que

as espécies listadas na normativa ainda não foram registradas em igarapés amazônicos

(Goch e Peleja, 2010).

7.1.3. Mastofauna

Os estudos sobre a fauna de mamíferos registram que há pouco conhecimento

científico sobre as espécies da região, havendo escassez de pesquisas sobre

densidade populacional, com os poucos estudos publicados avaliando a ocorrência a

Page 36: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

36

partir de estudos da fauna cinegética e de inventários recentes, executados para

atender a demanda deste RAP.

No Brasil há 652 espécies nativas de mamíferos e destas 69 espécies

encontram-se oficialmente ameaçadas (Anexo Tabela 1), o que representa 10,6% (REIS

et al., 2006). A grande maioria das espécies ameaçadas (40 espécies) está incluída na

categoria Vulnerável (VU), quase um terço (18 espécies) está na categoria Criticamente

em Perigo (CR) e as 11 espécies restantes situam-se na categoria Em Perigo (EN)

(segundo critérios de avaliação adotados para a elaboração da lista em 2002 (União

Mundial para a Natureza – IUCN, 2001a). Nenhuma espécie foi considerada Extinta ou

Regionalmente Extinta e as espécies ameaçadas estão distribuídas em 10 das 12

ordens com representantes no Brasil (CHIARELLO et al., 2007). Segundo os autores, as

Ordens Primates e Carnivora encontram-se proporcionalmente mais ameaçadas, em

relação a outras Ordens com maior número de espécies, os primeiros por possuírem

hábito exclusivamente florestal (portanto, baixa tolerância à destruição das florestas) e

os últimos por serem predominantemente predadores, apresentando baixas densidades

populacionais e grande necessidade de espaço, além de sofrerem grande pressão de

caça para o uso alimentar e controle de população, respectivamente.

Na Amazônia, há o registro de 427 de mamíferos com 173 espécies endêmicas

e nos estudos não há citação de espécies endêmicas à região e sim da Amazônia

brasileira como um todo. Na tabela 6 a lista de espécies da fauna inventariadas na área

de concessão florestal e entorno.

Tabela 6 - Diversidade de mamíferos terrestres de pequeno, médio e grande porte do interflúvio Mamuru-Arapiuns, Pará. Estado de conservação: E: Estável; DD: Deficiente de Dados; LC: Menor Preocupação; NT: Quase Ameaçada; VU: Vulnerável; EN: Em Perigo. (Adaptado de LIMA, 2010). Táxon

Nome Comum Estado de Conservação SEMA (2007) IUCN(2009)

PILOSA MYRMECOPHAGIDAE Ciclopes didactylus Tamandua tetradactyla Myrmecophaga tridactyla BRADYPODIDAE Bradypus variegatus

Tamanduaí

Tamanduá-decolete

Tamanduá-

bandeira

Preguiça bentinha

E

E

VU

E

LC

LC

NT

LC

Page 37: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

37

MEGALONYCHIDAE Choloepus didactylus DASYPODIDAE Cabassous unicinctus Dasypus kappleri Dasypus novemcinctus Dasypus septemcinctus Priodontes maximus

Preguiça-real

Tatu-rabo-de-couro

Tatu-quinze-

quilos

Tatu-galinha

Tatu-sete-cintas

Tatu-canastra

E

E

E

E

E

VU

LC

LC

LC

LC

LC

VU PRIMATES CALLITRICHIDAE Mico humeralifer Saguinus labiatus CEBIDAE Cebus apella Cebus albifrons Saimiri ustus Callicebus hoffmannsi PITHECIIDAE Chiropotes albinasus Pithecia irrorata ATELIDAE Alouatta nigerrima Ateles chamek

Sauim-branco

Sauim-de-bigode

Macaco-prego

Caiarara Macaco-de-cheiro

Zoque-zogue

Cuxiú-da-cara-branca

Parauacu

Guariba-preta

Coatá-da-cara-preta

E E

E E E E E

E

E E

DD

LC

LC

LC

LC

LC

EN

LC

LC

EN

CARNIVORA CANIDAE Atelocynus microtis Cerdocyon thous Speothos venaticus

Cachorro-do-mato

Raposa

Cachorro-do-mato-vinagre

E

E

E

NT

LC

NT

Page 38: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

38

PROCYONIDAE Nasua nasua Potos flavus Procyon cancrivorus MUSTELIDAE Eira barbara Galictis vittata FELIDAE Leopardus pardalis Leopardus wiedii Leopardus tigrinus Panthera onça Puma concolor Puma yagouaroundi

Quati

Jupará

Guaxinim

Irara

Furão

Jaguatirica

Gato-maracajá

Gato-do-mato-pintado

Onça-pintada

Onça-vermelha

Gato-mourisco

E

E

E

E

E

E

E

VU

VU

E

LC

LC

LC

LC

LC

LC

NT

VU

NT

LC

LC

PERISSODACTYLA TAPIRIDAE Tapirus terrestris

Anta

E

VU

ARTIODACTYLA TAYASSUIDAE Pecari tajacu Tayassu pecari CERVIDAE Mazama americana Mazama nemorivaga

Caititu Queixada

Veado-vermelho

Veado-branco

E

E

E

E

LC

NT

DD

LC RODENTIA ERETHIZONTIDAE Coendou prehensilis CUNICULIDAE Cuniculus paca DASYPROCTIDAE Dasyprocta leporina MURIDAE ECHYMIDAE

Coendu Paca Cotia-vermelha

Rato

E

E

E

LC

LC

LC

Page 39: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

39

Lonchothrix emilie LC

DIDELPHIMORPHIA DIDELPHIDAE Didelphis marsupialis Marmosa murina

Gambá-comum

LC

LC

A diversidade de mamíferos de médio e grande porte encontrada nos estudos

realizados nas glebas Mamuru e Arapiuns foi considerável, correspondendo em 95 % à

riqueza esperada para a região. O conjunto de espécies de mamíferos de médio e

grande porte apresentou-se constituído por seis ordens, 18 famílias, 24 gêneros e 39

espécies. Das 18 famílias, quatro pertencem à ordem Pilosa, quatro a Primates, quatro

a Carnivora, uma a Perissodactyla, duas a Artiodactyla e três a Rodentia. Os estudos

citam que não existem registros de espécies endêmicas e migratórias de mamíferos de

médio e grande porte nas glebas Mamuru e Arapiuns. Contudo, foram registradas

quatro espécies exóticas de mamíferos, Sus scrofa (porco doméstico), Bos sp. (boi

doméstico), Canis familiaris (cachorro-doméstico), Equs asinus (burro-doméstico) e

Felis catus (gato-doméstico). A presença desses animais domésticos em áreas nativas

acarreta implicações de ordem epidemiológica, visto as zoonoses que podem ser

veiculadas entre os animais da fauna nativa, os domésticos e os habitantes locais

causando impactos desastrosos para todos os envolvidos; de ordem ecológica, as

espécies exóticas podem predar as nativas e/ou se adaptarem mais rapidamente à área

impactada afetando a cadeia trófica, através da competição por recursos alimentares,

principalmente entre os ungulados nativos, artiodátilos (veados e porcos) e

perissodátilos (anta).

Em relação à importância para a conservação da natureza, a região onde se

encontram as glebas Mamuru e Arapiuns faz parte da área de distribuição geográfica de

quatro espécies de mamíferos considerados como ameaçados de extinção, segundo

listagem oficial paraense (SEMA 2007), e de cinco espécies citadas em listagem oficial

internacional (IUCN 2009). Todas as quatro espécies citadas na listagem paraense, na

categoria “vulnerável”, foram confirmadas nas glebas, a saber, Myrmecophaga tridactyla

(tamanduá-bandeira), Priodontes maximus (tatu-canastra), Panthera onca (onça-

pintada) e Puma concolor (onça-vermelha). Entre as cinco espécies citadas em listagem

internacional, quatro espécies foram encontradas nas glebas, sendo que duas espécies

são consideradas vulneráveis: P. maximus (tatu-canastra) e Tapirus terrestris (anta); e

uma espécie em perigo de extinção, Chiropotes albinasus (cuxiú-da-cara-branca). Além

Page 40: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

40

destas, seis espécies merecem também atenção devido encontrar-se na categoria

“quase ameaçada”: M. tridactyla (tamanduá-bandeira), Atelocynus microtis (cachorro-

do-mato), Speothos venaticus (cachorro-do-mato-vinagre), Leopardus wiedii (gato-

maracajá), P. onça (onça-pintada) e Tayassu pecari (queixada).

7.1.4. Herpetofauna

Quanto a herpetofauna, no bioma Amazônico ainda é pouco conhecida,

principalmente no que se refere aos anfíbios, lagartos e serpentes, e no Estado do Pará,

pouco se sabe sobre áreas de maior riqueza e abundância de espécies ou dos padrões

de distribuição. Os estudos registram que entre os répteis, são conhecidas para a

Amazônia brasileira aproximadamente 150 espécies de serpentes, 10 de anfisbenas, 94

de lagartos, 18 de quelônios e quatro de crocodilianos, o que corresponde a cerca de

75% da fauna de répteis de toda Amazônia. De acordo com os registros da coleção

herpetológica do Museu Paraense Emílio Goeldi, para a região do entorno da Gleba

Mamuru, a que correspondem os municípios de Juruti, Santarém e Aveiro, são

conhecidas 9 espécies de quelônios, 3 espécies de crocodilianos, 3 espécies de

Anfisbenas (conhecidos como cobras cegas), 38 espécies de lagartos, 85 espécies de

serpentes e 43 espécies de anfíbios (SARMENTO; CHALKIDIS, 2010).

Para a herpetofauna, a exploração madeireira, principalmente aquela realizada

de forma predatória, sem um plano de manejo adequado, pode ocasionar na perda de

sítios de reprodução utilizados pelas espécies de anfíbios, como poças d’água, riachos

e córregos. Além da perda do habitat, a dificuldade de locomoção para alguns répteis,

lagartos de pequenos e médios porte, tartarugas e outros, durante a supressão vegetal

pode resultar em óbitos destes animais. Na natureza, a herpetofauna tem papel

fundamental nas diversas cadeias ecológicas, representando eficientes controladores

das populações de insetos e outros invertebrados e servem de presas de variados

predadores naturais (ZUG et al., 2001). Os anfíbios também tm sido reconhecidos como

bioindicadores de qualidade ambiental devido a algumas características ecológicas,

morfológicas e fisiológicas do grupo (e.g. pele permeável, um ciclo de vida complexo

com uma fase larval aquática e uma fase adulta terrestre, susceptibilidade a variações

de temperatura, predadores em posição apical nas variadas cadeias alimentares)

(STRUSSMANN et al., 2000; AZEVEDO-RAMOS, 1998; DUELLMAN; TRUEB, 1994).

Page 41: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

41

Na região do rio Mamuru, Juruti, Pará, foram registradas 18 espécies de

anfíbios pertencentes a sete famílias e 12 gêneros, sendo que destas 16 foram

coletadas e as demais apenas visualizadas ou registrada pela vocalização (Tabela 7).

Tabela 7 - Lista das espécies de anfíbios amostrados na região do rio Mamuru, Juruti, Pará. Táxon Amphibia: Anura Leptodactylidae Leptodactylus andreae Müller, 1923 Leptodactylus macrosternum Miranda-Ribeiro,1926 Leptodactylus pentadactylus (Laurenti, 1768)

Centrolenidae Cochranella oyampiensis (Lescure, 1975)

Aromobatidae Alobates marchesianus (Melin, 1941) Allobates femoralis (Boulenger, 1884)

Bufonidae Dendrophryniscus minutus (Melin, 1941) Rhinella marina (Linnaeus, 1758)

Strabomantidae Pristimantis fenestratus (Steindachner, 1864) Dendrobatidae Ameerega trivittata (Spix, 1824)

Hylidae Hypsiboas boans (Linnaeus, 1758) Hypsiboas geographicus Hypsiboas multifasciatus (Günther, 1859) Osteocephalus taurinus Steindachner, 1862 Phyllomedusa vaillantii Boulenger, 1882 Scinax ruber (Laurenti, 1768) Scinax rostratus ( Peters, 1863) Trachycephalus resinifictrix (Goeldi, 1907)

No estudo analisado as três espécies mais abundantes de anfíbios foram

Leptodactylus andreae, Dendrophryniscus minutus e Allobates marchesianus,

respectivamente, sendo que as duas primeiras estão entre as espécies mais

abundantes em várias localidades da Amazônia brasileira. Numa das áreas de estudo

(região do rio mamuru), foi relatado intensa atividade madeireira no passado,

Page 42: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

42

apresentando inclusive uma pista de pouso desativada. Nessa área desmatada, foram

encontradas Pristimantis fenestratus, Hypsiboas multifasciatus, Ameerega sp.,

Leptodactylus andreae, Hypsiboas boans, Rhinella marina, Cochranella oyanpiensis,

Dendrophryniscus minutus e Leptodactylus macrosternum. Sendo que Leptodactylus

macrosternum é uma espécie típica de áreas abertas. A espécie Cochranella

oyanpiensis foi registrada apenas nesta área, sendo que é uma espécie conhecida por

habitar ambientes de floresta primária íntegros, sempre próximo a corpos d’água

permanentes.

Na tabela 8, encontra-se a lista de répteis identificadas nos estudos da área a

ser destinada à concessão florestal e entorno, onde foram registradas 24 espécies

pertencentes a 14 famílias e 24 gêneros.

Tabela 8 – Lista das espécies de répteis identificadas na área destinada à concessão florestal e entorno.

Táxon Chelonia Testudines Podocnemidae Podocnemis unifilis Troschel, 1848 Testudinidae Chelonoidis denticulata (Linnaeus, 1766) Geochelone sp. Geoemydidae Rhinoclemmmys punctularia Chelidae Podocnemia expansa Squamata Gekkonidae Gonatodes humeralis (Guichenot, 1855) Coleodactylus amazonicus (Anderson, 1918) Thecadactylus rapicauda (Houttuyn, 1782) Gymnophthalmidae Arthrosaura reticulata (O'Shaughnessy, 1881) Polychrotidae Anolis fuscoauratus. D'Orbigny, 1837 Teiidae

Page 43: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

43

Ameiva ameiva Linnaeus, 1758 Kentropyx calcarata Spix, 1825 Cnemidophorus lemniscatus (Linnaeus, 1758) Scincidae Mabuya nigropunctata (Spix, 1825) Iguanidae Iguana iguana Ophidia Viperidae Bothrops sp. Lachesis sp. Boidae Corallus hortulanus (Linnaeus, 1758) Eunectes murinus Colubridae Mastigodryas boddaerti (Sentzen, 1796) Oxybelis fulgidus (Daudin, 1803) Oxyrhopus melanogenys (Tschudi, 1845) Pseudoboa neuwiedii (Duméril, Bibron & Duméril, 1854) Siphlophis worontzowi (Prado, 1940) Crocodylia Crocodylidae Caiman crocodilus (Linnaeus, 1758)

7.1.5. Avifauna

Nos estudos de avifauna analisados, realizados no interfluvio Mamuru-Arapiuns,

através do levantamento de dados secundários e entrevistas realizadas através de

DRP, estimou-se em 632 o número esperado de espécies de aves para a região,

havendo o registro de 69 famílias e 168 espécies.

A família mais numerosa foi a Thamnophilidae, seguida pela Tyrannidae, com

16 e 22 espécies, respectivamente. A maioria das espécies registradas é exclusiva de

florestas de terra firme (81), e as demais ocupam outros ambientes. A maior parte das

espécies registradas (72) é insetivora, como as espécies da família Thamnophilidae e

Formicaridae. Grande parte desses insetivoros é participante regular de bandos mistos

de copa e sub-bosque, ou acompanha formigas-de-correição.

Page 44: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

44

As espécies Capito brunneipectus (capitão-de-peito-marrom) e Rhegmatorhina

berlepschi (mãe-de-taoca-arlequim) são consideradas endêmicas. A primeira é

conhecida de uma pequena área entre a margem esquerda do baixo Tapajós e o baixo

Madeira. Foi registrada e coletado na área de Jaratuba e trata-se de uma espécie

endêmica do interfluvio, que merece especial atenção. A Rhegmatorhina berlepschi

(mãe-de-taoca-arlequim) também tem distribuição restrita ao interfluvio Madeira-

Tapajós.

Quanto às espécies da avifauna que encontram-se ameçadas de extinção,

listamos a Anodorhynchus hyacintinus (arara-azul-grande), uma ave da família

Psittacidae, que ocorre nos biomas da Floresta Amazônica e, principalmente, no do

Cerrado, estando presente nos estados do Amazonas, Mato Grosso do Sul, Mato

Grosso, Pará e Tocantins, cujo as principais causas da sua extinção estão relacionadas

a caça, o comércio clandestino e a degradação em seu habitat natural através da

destruição antrópica; e a Aratinga guarouba (ararajuba) que tambem é da familia

Psittacidae, ocorrendo em florestas secas e altas na Amazonia brasileira, encontrada

exclusivamente no Brasil, do Maranhão ao oeste do Pará (onde esta ameaçada de

extinção) e, localmente, em Rondônia, sempre ao sul do rio Amazonas. Encontra-se

ameaçada devido a perda de habitat, devastação e inundação de parte de sua área de

ocorrência para a construção de hidrelétricas e também pelo tráfico de animais. É uma

espécie protegida citada na CITES e na lista da fauna brasileira ameaçada de extinção

(IBAMA, 2005).

Os estudos analisados sobre a avifauna do interfluvio Mamuru-Arapiuns,

concluíram que apesar do pouco tempo de amostragem, pode-se notar que existe um

gradiente de perda de especies e empobrecimento (aumento da dominância) das

comunidades de avifauna de sub-bosque conforme os pontos se aproximam das áreas

mais habitadas, evidenciando que os efeitos da antropizaçãoo podem reduzir e alterar

drasticamente os sub-bosques, refletindo diretamente na composição dessas

comunidades.

7.1.6. Os aracnídeos

Os aracnídeos constituem um grupo animal altamente diverso, seus

representantes mais conhecidos, em virtude de seu interesse médico (toxina do

Page 45: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

45

veneno ou hábito parasita) são as aranhas, os escorpiões, os ácaros e os

carrapatos. A classe Arachnida apresenta mais de 93.000 espécies descritas, distribuídas

em 11 ordens recentes: Acari (ácaros e carrapatos), Amblypygi (amblipígeos) Araneae

(aranhas), Opiliones (opiliões), Palpigradi (palpígrados), Pseudoscorpiones

(pseudoescorpiões), Ricinulei (ricinúleos), Schizomida (esquizomídeos), Scorpiones

(escorpiões), Solifugae (solífugos) e Uropygi ou Thelyphonida (escorpião-vinagre). A

grande diversidade e importância ecológica dos aracnídeos proporcionam dados

fundamentais para avaliação e quantificação da diversidade biológica, fornecendo

subsídios para o monitoramento de qualquer alteração em ambientes florestados,

entretanto, informações sobre a fauna de aracnídeos na Amazônia são escassos

(HUNG, 2010).

Seis ordens de Arachnida foram coletadas na região da gleba Mamuru, são

elas: Amblypygi, Araneae, Opiliones, Pseudoscorpiones, Ricinulei e Scorpiones. O

número de morfoespécies (194) e de famílias de aracnídeos (39) registrado para a

gleba Mamuru, não diferem muito dos trabalhos apresentados em outros biomas da

Amazônia e do Brasil, havendo apenas um registro bem maior de morfoespécies e

espécies para a Reserva Ducke na Amazônia Central e na Floresta Nacional de

Caxiuanã, PA, resultado esse de anos de levantamentos com as mais variadas

técnicas, o que demonstra a importância do tempo e da diversidade de técnicas nos

estudos de inventário e densidade populacional. No estudo realizado na região do

Mamuru, 08 famílias (Tabela 9) apresentaram mais de 05 indivíduos coletados.

Tabela 9 - Riqueza de espécies por família de aracnídeos coletadas na gleba Mamuru, municípios de Aveiro e Juruti, PA. Família Nº de espécies Araneidae Salticidae Theridiidae Uloboridae Oxyopidae Linyphiidae Pholcidae Sparassidae Menos de 05

48 27 23 08 07 07 06 06 62

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46

A maioria das aranhas coletadas na gleba Mamuru foram indivíduos da família

Araneidae, que são aranhas tecedoras de teias orbiculares. É possível que a maior

parte das espécies amostradas desta família seja típica de áreas abertas, o que sugere

mais uma indicação da fragilidade e grau de impacto das áreas. O levantamento da

fauna de escorpiões produziu dados de abundância e diversidade, mas devido aos

poucos estudos ecológicos sobre esta fauna não é possível correlacionar esses dados

de maneira ecológica satisfatória. Nos trabalhos analisados, o fator tempo foi

considerado limitante na determinação da riqueza de espécies em algumas áreas.

Nos estudos analisados recomenda-se a continuação do monitoramento e a

inferência dos dados de outros grupos aracnológicos, pois serão essenciais para

permitir o melhor entendimento das respostas das comunidades de aracnídeos às

mudanças de larga escala nos ecossistemas florestais na gleba Mamuru.

7.1.7. Os insetos

Na Amazônia brasileira, 20 gêneros e mais de 200 espécies de insetos têm sido

registrados, representando aproximadamente 2/3 da fauna brasileira.

Várias características das vespas sociais neotropicais obrigam ao

reconhecimento de sua importância nas faunas de insetos nas Américas. Entre elas, o

hábito predador e a relativa conspicuidade nos ambientes terrestres, aliados à

organização social das colônias, justificam a expectativa de que exerçam um impacto

considerável sobre as populações de insetos, especialmente de lepidópteros. O veneno

produzido pelas glândulas associadas ao ferrão das fêmeas também constitui uma fonte

importante de compostos químicos cujo potencial de uso é certamente promissor

(SILVA e SILVEIRA, 2009, p.60).

O levantamento de espécies de vespas realizado na área de concessão, mais

especificamente, na região do Rio Mamuru, i dentificou 61 espécies (Tabela 10)

distribuídas em 14 gêneros, sendo que dez espécies precisarão de estudos de

identificação mais detalhados, provavelmente tratando-se de novos táxons. O resultado

foi considerado superior pelos pesquisadores, considerando o curto período da

expedição e, consequentemente o tempo reduzido de permanência em cada área.

Page 47: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

47

Tabela 10 – Lista das espécies de vespas sociais (Polistinae) coletadas durante a excursão no interflúvio Mamuru-Arapiuns (Gleba Nova Olinda II, Municípios de Aveiro e Juruti, Pará). Nome científico 1 Agelaia angulata (F.) 2 Agelaia angulicolis (Spinola) 3 Agelaia cajennensis (F.) 4 Agelaia centrallis (Cameron) 5 Agelaia fulvofasciata (F.) 6 Agelaia myrmecophyla (Ducke) 7 Agelaia pallipes (Olivier) 8 Agelaia testacea (F.) 9 Agelaia sp. 10 Agelaia sp. 11 Angiopolybia pallens (Lepeletier) 12 Angiopolybia paraensis (Spinola) 13 Apoica arborea de Saussure 14 Apoica flavissima Van der Vecht 15 Apoica pallens (F.) 16 Apoica pallida (Olivier) 17 Apoica thoracica du Buysson 18 Brachygastra scutellaris (F.) 19 Charterginus fulvus Fox 20 Chartergus globiventris de Saussure 21 Leipomeles dorsata (F.) 22 Leipomeles nana (de Saussure) 23 Metapolybia sp. 24 Mischocyttarus (Megachanthopus) sp. 25 Mischocyttarus (Megachantopus) sp. 26 M. (Monoginoecus) foveatus 27 M. (Clypeopolybia) gr. heliconius sp. 28 M. (Clypeopolybia) gr. heliconius sp. 29 M. (Omega) gr. prominulus sp. 30 M. (Omega) gr. prominulus sp. 31 M. (Omega) filiformis (de Saussure) 32 M. (Haplometrobius)gr. artifex sp. 33 M. (Mischocyttarus) labiatus (F.) 34 M. (Haplometrobius) oechotrix Richards 35 M. (Mischocyttarus) tomentosus Zikán 36 M. (Clypeopolybia) flavicans (F.) 37 M. (Kappa) injucundus (de Saussure) 38 M. (Haplometrobius) surinamensis (de Saussure) 39 M. (Haplometrobius) synoecus Richards 40 Parachartergus fraternus (Gribodo) 41 Parachartergus lenkoi Richards 42 Parachartergus richardsi Willink 43 Polybia sp. 44 Polybia belemensis Richards 45 Polybia bifasciata de Saussure 46 Polybia bycitarella Richards

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48

47 Polybia chrysothorax (Lichtenstein) 48 Polybia dimorpha Richards 49 Polybia gorytoides Fox 50 Polybia jurinei de Saussure 51 Polybia liliacea (F.) 52 Polybia micans Ducke 53 Polybia procelosa dubitata Ducke 54 Polybia rejecta (F.) 55 Polybia rufitarsis Ducke 56 Polybia scrobalis surinama Richards 57 Polybia signata Ducke 58 Polistes pacificus F. 59 Polistes testaceicolor Bequaert 60 Pseudopolybia vespiceps (de Saussure) 61 Synoeca surinama (L.)

Os estudos identificaram que os gêneros dominantes em número de espécies

de vespas na região do Rio Mamuru foram Mischocyttarus, Polybia e Agelaia. A soma

das espécies destes três gêneros corresponde a 67% do total de espécies coletadas.

Mischocyttarus é o maior gênero de vespas sociais, com 240 espécies, das quais 117

são encontradas no Brasil, sendo também o gênero com maior número de espécies

endêmicas (n=78).

Em respeito às categorias de especial interesse, não há informação suficiente

para atribuição das condições “endêmicas” ou “ameaçadas” às espécies de vespas da

região do Rio Mamuru. Entretanto, no caso de espécies novas, encontradas pela

primeira vez naquela localidade, deve-se considerá-las como insuficientemente

conhecidas em respeito à distribuição geográfica, ou à condição de raridade e, por isso,

merecedoras de atenção especial.

Historicamente as florestas nativas têm sido exploradas como se fossem

constituídas tão somente por um conjunto de árvores, onde a viabilidade técnica do

manejo florestal tem sido examinada pela dimensão quantitativa e, especialmente

econômica, com o sucesso desse manejo associado, principalmente, ao volume e valor

da madeira. Contudo, para o manejo ser sustentável, deve-se considerar todas as

partes componentes do sistema, incluindo a fauna silvestre. A Instrução Normativa n. 146

de 11 de janeiro de 2007, regulamenta o manejo de fauna silvestre (levantamento,

monitoramento, salvamento, resgate e destinação) em áreas de influencia de

empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de

impactos à fauna sujeitas ao licenciamento ambiental.

Page 49: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

49

Os estudos apontam para a necessidade de mais pesquisas na região

amazônica, pois a imensidão desse bioma não permite muitas extrapolações em

relação a sua biodiversidade, principalmente em termos quantitativos, pela presença de

muitas áreas utilizadas para a exploração madeireira e mineração que tem afetado a

dinâmica ecológica de organismos animais e vegetais.

A percepção sobre a diminuição dos recursos faunísticos e pesqueiros, ora

detectada pelos pesquisadores, ora relatado pelos entrevistados nos estudos realizados

na área a ser destinada à concessão florestal, justificaria a intervenção nessas

atividades, através de planos de manejo de fauna e acordos de pesca.

7.2. Aspectos florísticos na área de concessão florestal e resultados do inventário florestal.

7.2.1. Descrição da flora

O conjunto de glebas estaduais Mamuru-Arapiuns abrange uma área de

600.000 ha, localizada entre os municípios de Santarém, Juruti e Aveiro no Estado do

Pará. A região apresenta três ecossistemas, a saber:

Floresta Ombrófila Densa: A denominação Floresta Ombrófila surgiu em

substituição a Floresta Pluvial Tropical. Ambas, porém, têm o mesmo significado "amigo

das chuvas". Então, trata-se de uma mata perenifólia, ou seja: sempre verde com

dossel de até 50 m, com árvores emergentes de até 40 m de altura. Possui densa

vegetação arbustiva, composta por samambaias, arborescentes, bromélias e palmeiras.

Nas áreas úmidas, as vezes temporariamente encharcadas, ocorrem frequentemente

palmeiras (Euterpe olerecea Mart.) (IBGE, 1992).

Floresta Ombrófia Densa Aluvial: Trata-se de uma formação ribeirinha ou

mata ciliar que ocorre ao longo dos cursos de água, ocupando os terraços antigos das

planícies quaternárias; é constituída por espécies vegetais com alturas variando de 5 a

50 m, de rápido crescimento, em geral de casca lisa, tronco cônico e raízes tabulares,

apresenta, ainda, muitas palmeiras no estrato dominado e na submata, havendo

espécies que não ultrapassam os 5 m de altura. Observam-se também algumas plantas

Page 50: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

50

não lenhosas na superfície do solo e muitos cipós lenhosos e herbáceos, além de um

grande número de epífitas e parasitas (IBGE, 1992).

Floresta Ombrófila Aberta: É considerada uma área de transição entre a

floresta Amazônica e as áreas extra-amazônicas. Seu nome advém por conseqüência

da fitomassa e o fitovolume de recobrimento, que vão diminuindo gradativamente de

densidade. Esta floresta apresenta quatro faciações florísticas que alteram a fisionomia

ecológica da floresta ombrófila densa: i) com palmeira - cocal; ii); com bambu -

bambuzal; iii) com cipó - cipozal e iv) com sororoca - sororocal. Tem como característica

ambientes com climas mais secos, que chegam de 2 a 4 meses por ano, com

temperaturas de 24 à 25°C (IBGE, 1992).

Para o inventário florestal amostral estes ecossistmas foram estratificados em

quatro fitocenoses, sendo:

- Estrato I: Floresta Ombrófila Densa de terras baixas com dossel emergente

(Dbe), com 246.321,394 ha;

- Estrato II: Floresta Ombrófila Densa de terras baixas com dossel emergente +

Aberta com palmeiras (Dbe + Abp), com 304.918,307 ha;

- Estrato III: Floresta Ombrófila Aberta com palmeiras (Abp), com 4.444,451 ha;

- Estrato IV: Floresta Ombrófila Densa Aluvial com dossel uniforme (Dau), com

9.057,537 ha.

No inventário florestal realizado foram encontradas 230 espécies, pertencentes

a 53 famílias botânicas.

As famílias Sapotaceae, Fabaceae (e suas variações Fabaceae-caes,

Fabaceae-mim e Fabaceae-pap), Burseraceae, Lecythidaceae e Lauraceae, juntas

abrangem 53% de todos os indivíduos amostrados na área e 35,5% das espécies.

Sendo que a família Fabaceae somada as suas variações é a mais numerosa

apresentando 19,7% do total de espécies e 18% do total de indivíduos. As espécies

arbóreas ecologicamente mais importantes na floresta, ou seja, as que apresentam

maior distribuição e número de árvores foram: maçaranduba e abiurana que

pertencente ao grupo de espécies de madeiras vermelhas, muruci da mata que faz

parte do grupo de madeiras mistas e acariquarana do grupo das espécies potenciais

para comercialização.

Page 51: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

51

Analisando a estrutura horizontal de cada estrato, verificou-se que o estrato I

apresentou 208 espécies e 56 famílias. As espécies de maior valor de importância

foram: maçaranduba, muruci-da-mata, acariquarana, abiurana, matamatá-preto, breu

vermelho e louro preto. No estrato II ocorreram 218 espécies distribuídas em 56

famílias. As espécies ecologicamente mais importantes foram: abiurana, maçaranduba,

matamatá-preto, breu branco, breu vermelho, muruci-da-mata e caraipé. O estrato III

apresentou 140 espécies e 44 famílias. As espécies que se destacaram nesta

fitofisionomia foram: breu vermelho, açaí, tachi-preto, breu branco, pororoca,

muirapixuna e papo de mutum. No estrato IV ocorreram 139 espécies distribuídas em

42 famílias. As espécies de maior valor de importância foram: caraipé, abiurana,

matamatá-preto, breu branco, louro preto, barrote e jarana.

Com referência a diversidade de espécies, expressa por meio do índice de

Shannon-Weaver (H´), pode-se observar que o maior número de espécies nos estratos I

e II ocasionou os maiores valores de diversidade (3,5≤ H´ ≤ 4,0). Os estratos III e IV

obtiveram os menores valores de diversidade (2,3 ≤ H´ ≤ 3,1).

7.2.2. Resultados do Inventário Florestal

O conjunto de glebas estaduais Mamurú-Arapiuns apresenta uma floresta

que tem estoque médio de biomassa, considerando o DAP ≥ 10 cm, ocorrem 490

árv. ha-1, área basal de 25,0 m² ha-1 e volume de 295,0 m³ ha-1. O dossel é uniforme e

as copas pouco entrelaçadas com algumas árvores emergentes, o que permite passar

grande quantidade de luz, possibilitando a existência de pequenas palmeiras no sub-

bosque. A estrutura vertical é pouco estratificada, apresenta altura média de 13,1

metros.

Considerando todas as árvores com DAP ≥ 50 cm (estoque de exploração)

foram encontradas em média 22,7 árv ha-1 e volume de 124,8 m3 ha-1. O grupo de valor

que mais se destacou foi o de madeiras brancas com 48 espécies e aproximadamente

25,4% do volume total nestas classes de DAP. O grupo menos representativo foi o de

madeiras nobres com apenas duas espécies: cumaru e Freijó que juntas compõem

1,4% do volume total.

Page 52: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

52

Os grupos que se destacaram foram 5 e 6, representando valores de

151,34 árv. ha-1 e 255,55 árv. ha-1, com área basal de 7,3 e 9,74 m2 ha-1 e volumes de

86,89 e 113,08 m3 ha-1, respectivamente. Estes dois grupos representaram

aproximadamente 83% da densidade absoluta, 70% da área basal e 68% do volume

total da população. Em termos de volume o grupo que menos se destacou foi o de

Madeiras Nobres (Grupo2) com 2,00 m³.ha-1 (Tabela 11).

Tabela 11 - Número de árvores, área basal e volume por grupo de valor da madeira, para todas as árvores inventariadas nas Glebas Estaduais Mamuru-Arapiuns

Grupos N (n.ha-1) G (m².ha-1) V (m³.ha-1)Madeiras especiais 3,25 0,30 4,02 Madeiras nobres 0,61 0,15 2,00

Madeiras vermelhas 30,04 3,15 40,50 Madeiras mistas 49,16 3,83 48,77 Madeiras brancas 151,34 7,30 86,89

Madeiras potenciais 255,55 9,74 113,08 Total 489,95 24,47 295,26

Por grupo de comercialização da madeira, o que mais se destacou para a

classe de qualidade de fuste 1 foi o grupo 3 (Madeiras Vermelhas) com 30,2% do total

de registros. O Grupo de Madeiras Nobres foi o mais representativo para a classe de

fuste 2 (Grupo 2 = 85,3%), seguido pelo Grupo 5 (Madeiras Brancas) com 68,8%. Para

a classe de fuste 3, os maiores valores percentuais foram para os Grupos 4 (Madeiras

Mistas) e 6 (Madeiras Potenciais), com 17,6% e 14,5%, respectivamente.

Em termos de produção madeireira, destacam-se maçaranduba, cupiúba,

quaruba e muiracatiara que, juntas, representam 14,8% do volume comercial por

hectare. Estas espécies estão bem distribuidas na área e presentes em praticamente

todas as classes de diâmetro, favorecendo o manejo. A maioria dos indivíduos destas

espécies, apresentaram-se ainda na classe 2 de qualidade do fuste (68% dos registros),

onde a presença de leve tortuosidade ou pequenos defeitos não impede o seu

aproveitamento comercial.

Outro fato importante é que a baixa freqüência de vestígios de exploração

clandestina e de afloramentos rochosos (98% da área livre de afloramentos), além de

74% do terreno plano apresentado, são bons indicativos para a introdução de práticas

de manejo florestal com exploração madeireira na área.

Page 53: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

53

7.2.2.1. Espécies florestais encontradas nas áreas de estudos

Do grupo de espécies inventariadas, sete estão relacionadas como vulneráveis

ou ameaçadas em extinção. As espécies listadas são: araracanga, castanha-do-pará,

cedro, cipó-titica, matamatá-preto, pau-amarelo e pau-rosa (Tabela 12). Estas espécies

são de grande interesse comunitário devem ser preservadas tendo sua utilização

condicionada ao manejo comunitário. Considerando a recomendação de uso, 10,8 %

das espécies são para uso comunitário, 87,8 % são para uso empresarial e 1,4 % são

proibidas para o corte. Avaliando a demanda de comercialização das espécies, 59 %

possuem baixa demanda, 29,3 % demanda média e apenas 11,7 % ficam entre

demanda alta (9,6 %) e muito alta (2,1%).

Tabela 12. Espécies arbóreas (DAP ≥ 50cm), lianas e palmeiras encontradas nos estudos realizados no conjunto das Glebas Mamuru-Arapiuns, Estado do Pará: E1 = Estudo Sócio-ambiental (Ufra); E2 = Estudo de Ofertas e Demandas (Ufra) e E3 = Inventário Florestal (SFB). Situação das espécies (Ameaçada de Extinção = AE; Espécies Vulneráveis = EV e Deficiência de Dados = DD), segundo: S1 = Listagem Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção (Instrução Normativa Nº 06, de 23 de setembro de 2008, do IBAMA) e S2 = Listagem de Espécies Ameaçadas de Extinção no Estado do Pará (Projeto Biota Pará, junho/2006). Produto Florestal Madeireiro (PFM), Produto Florestal Não Madeireiro (PFNM) e Demanda de Comercialização Regional (DCR)

Nome regional Estudos Situação

PFM PFNM DCR Recomendação E1 E2 E3 S1 S2

Abiu cutite x x x média Manejo empresarial Abiurana x x média Manejo empresarial Abiurana amarela x DD DD x média Manejo empresarial Abiurana camuri x DD DD x média Manejo empresarial Abiurana pitomba x DD DD x média Manejo empresarial Abiurana vermelha x x média Manejo empresarial Abuta X x média Manejo empresarial

Açaí x x x x alta Manejo comunitário Acapu x x média Manejo empresarial Acariquara x x x baixa Manejo empresarial Acariquarana x x baixa Manejo empresarial Achuá x x baixa Manejo empresarial

Amapá x x x x x baixa Manejo comunitário Amapaí x x média Manejo empresarial Amarelão/garapa x x média Manejo empresarial Anani x x x baixa Manejo empresarial

Andiroba x x x x x média Manejo comunitário Angelim-pedra x x x x x média Manejo empresarial Angelim-rajado x x x média Manejo empresarial Angelim-vermelho x x x x média Manejo empresarial Aquiqui x x baixa Manejo empresarial Araracanga x EV x média Proibida de corte Aroeira x x média Manejo empresarial

Page 54: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

54

Arurá x x baixa Manejo empresarial

Bacaba x x x baixa Manejo comunitário

Bacuri x x x baixa Manejo comunitário Bacuri-da-mata x x baixa Manejo empresarial

Barbatimão x x x baixa Manejo comunitário Barrote x x baixa Manejo empresarial Breu-amescla x x baixa Manejo empresarial Breu-branco x x baixa Manejo empresarial Breu-folha-grande x x baixa Manejo empresarial Breu-manga x x baixa Manejo empresarial Breu-sucuruba x x x baixa Manejo empresarial Breu-vermelho x x alta Manejo empresarial

Buriti x x x x média Manejo comunitário Caferana x x baixa Manejo empresarial Caju-açu x x x baixa Manejo empresarial Cajurana x x baixa Manejo empresarial Caraipé x x baixa Manejo empresarial Casca-doce x x baixa Manejo empresarial Castanha-de-arara x x baixa Manejo empresarial

Castanha-do-pará x x x AE EV x x alta Manejo comunitário Castanhola x x baixa Manejo empresarial Caxinguba x x baixa Manejo empresarial Cedro x x EV x x alta Proibida de corte Cedro rosa x x DD x média Manejo empresarial Cedrorana x x x x média Manejo empresarial

Cipó-açu x x alta Manejo comunitário

Cipó-ambé x x x alta Manejo comunitário

Cipó-titica x x DD EV x alta Manejo comunitário

Copaíba x x x x x alta Manejo comunitário Copaibarana x x média Manejo empresarial

Cumarú x x x x x alta Manejo comunitário Cumaruí x DD x média Manejo empresarial Cupiúba x x x x média Manejo empresarial Cupurana x x baixa Manejo empresarial Currupixá x x baixa Manejo empresarial Curtiçeiro x x baixa Manejo empresarial Dente-de-leão x x baixa Manejo empresarial Envira ata x x x baixa Manejo empresarial Envira cana x x baixa Manejo empresarial Envira preta x x baixa Manejo empresarial Envira-taia x x x x baixa Manejo empresarial Faieira x x média Manejo empresarial Fava x x baixa Manejo empresarial Fava barbatimão x x baixa Manejo empresarial Fava benguê x x baixa Manejo empresarial

Page 55: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

55

Fava bolota x x baixa Manejo empresarial Fava doce x x baixa Manejo empresarial Fava paricá x x baixa Manejo empresarial Fava rabo-de-arara x x baixa Manejo empresarial Fava rosca x x baixa Manejo empresarial Fava tapete x x baixa Manejo empresarial Fava timbaúba x x baixa Manejo empresarial Fava timborana x x baixa Manejo empresarial Freijó x x x x alta Manejo empresarial Freijó-branco x x alta Manejo empresarial Freijó-cinza x x alta Manejo empresarial Gaivota x x baixa Manejo empresarial Garapa x x x média Manejo empresarial Gergilim x x baixa Manejo empresarial Glícia x x baixa Manejo empresarial Gogó-de-guariba x x baixa Manejo empresarial Goiabão x x x média Manejo empresarial Goiabarana x x baixa Manejo empresarial Goiabinha x x baixa Manejo empresarial Gombeira x x alta Manejo empresarial Guajará bolacha x x baixa Manejo empresarial Guaruba/Guariuba x x x média Manejo empresarial

Inajá x x x baixa Manejo comunitário Ingá amarelo x x baixa Manejo empresarial Ingá vermelho x x baixa Manejo empresarial Ingá xixica x x baixa Manejo empresarial Ipê-amarelo x x muito alta Manejo empresarial Ipê-roxo x x EV x x muito alta Manejo empresarial

Itaúba abacate x x muito alta Manejo comunitário

Itaúba preta x x muito alta Manejo comunitário Itaubão x x alta Manejo empresarial Jacarandá x x muito alta Manejo empresarial Jacareúba x x x baixa Manejo empresarial Jarana x x x x média Manejo empresarial Jataúba x x baixa Manejo empresarial Jatobá x x x x alta Manejo empresarial Jenipapo x x baixa Manejo empresarial João-mole x x baixa Manejo empresarial Jutaí x x média Manejo empresarial Jutaí bolacha x x média Manejo empresarial Jutaí-mirim x x média Manejo empresarial Lacre amarelo x x baixa Manejo empresarial Lacre branco x x baixa Manejo empresarial Lagrima x x baixa Manejo empresarial Laranjinha x x baixa Manejo empresarial Louro x x x baixa Manejo empresarial Louro-açu x DD DD x baixa Manejo empresarial Louro-aguano x x baixa Manejo empresarial Louro-cheiroso x x média Manejo empresarial Louro-chumbo x DD x média Manejo empresarial Louro-faia x DD x média Manejo empresarial Louro-itaúba x x x média Manejo empresarial

Page 56: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

56

Louro-mamurim x DD x média Manejo empresarial Louro-preto x DD x média Manejo empresarial Louro-rosa x x x baixa Manejo empresarial Louro-tamaquaré x x x baixa Manejo empresarial Louro-vermelho x x média Manejo empresarial Maçaranduba x x x EV x alta Manejo empresarial Mamorana x x x x baixa Manejo empresarial Mandioqueira x x x média Manejo empresarial Mandioqueira rosa x x média Manejo empresarial Maparajuba x x x média Manejo empresarial Maria preta x x baixa Manejo empresarial Marupá x x x x média Manejo empresarial Mata menino x x baixa Manejo empresarial Matamatá branco x x baixa Manejo empresarial Matamatá preto x DD EV x baixa Proibida de corte Matamatá vermelho x x baixa Manejo empresarial Melancieira x x baixa Manejo empresarial Mirindiba x DD x média Manejo empresarial Morototó x x baixa Manejo empresarial Mucajá x x baixa Manejo empresarial Mucunã x x x baixa Manejo empresarial Muiracatiara x x x x x alta Manejo empresarial Muiracatiara preta x x alta Manejo empresarial Muirajuçara x x baixa Manejo empresarial Muirapixuna x x média Manejo empresarial Muiraúba x x baixa Manejo empresarial Munguba x x baixa Manejo empresarial Muruci-da-mata x DD x baixa Manejo empresarial Mururé x x x baixa Manejo empresarial Mututi x x baixa Manejo empresarial Muúba x x x baixa Manejo empresarial Nó-de-cachorro x x baixa Manejo empresarial Óleo-grosso x x baixa Manejo empresarial Pajurá x x baixa Manejo empresarial Papo de mutum x DD x baixa Manejo empresarial Parapará x x baixa Manejo empresarial

Patauá x x x baixa Manejo comunitário Pau amarelo x AE EV x alta Proibida de corte Pau de remo x x baixa Manejo empresarial Pau jacaré x x baixa Manejo empresarial Pau preto x x baixa Manejo empresarial Pau-rosa x x AE AE x x alta Proibida de corte

Paxiuba x x x x baixa Manejo comunitário Pente de macaco x x baixa Manejo empresarial Peruana x x média Manejo empresarial

Piquiá x x x x média Manejo comunitário Piquiarana x x média Manejo empresarial Piranheira x DD DD x baixa Manejo empresarial Pitaíca x x baixa Manejo empresarial Pitomba x x baixa Manejo empresarial Pororoca x x baixa Manejo empresarial Pracaxi x x baixa Manejo empresarial

Page 57: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

57

Preciosa x x x x baixa Manejo empresarial Pririma x x baixa Manejo empresarial Quaruba x x x média Manejo empresarial Quaruba-cedro x x x média Manejo empresarial Quina x x x baixa Manejo empresarial Quinarana x x x baixa Manejo empresarial Roxinho x x alta Manejo empresarial

Sacaca x x média Manejo comunitário Sapateiro x x alta Manejo empresarial Sapucaia x x x média Manejo empresarial Saracura-mirá x x baixa Manejo empresarial Seringarana x x baixa Manejo empresarial Seringueira x x baixa Proibida de corte Sorva x x x baixa Manejo empresarial

Sucuba x x x x x baixa Manejo comunitário Sucupira x x x média Manejo empresarial Sucupira amarela x x x baixa Manejo empresarial Sucupira preta x x média Manejo empresarial Sucupira-de-morcego x x baixa Manejo empresarial Sucupira-do-brejo x x baixa Manejo empresarial Sumaúma x x baixa Manejo empresarial Tachi x x x baixa Manejo empresarial Tachi branco x x baixa Manejo empresarial Tachi pitomba x x baixa Manejo empresarial Tachi preto x x baixa Manejo empresarial Tamanqueira x x baixa Manejo empresarial Tatajuba x x x x média Manejo empresarial Tatapiririca x x baixa Manejo empresarial Tauarí x x x média Manejo empresarial Tauarí cachimbo x x média Manejo empresarial Tauari vermelho x x média Manejo empresarial Tento x x x x média Manejo empresarial Tento amarelo da mata x x média Manejo empresarial Tento amarelo do igapó x x média Manejo empresarial Tento mulato x x média Manejo empresarial Tento preto x x média Manejo empresarial Tento vermelho x x média Manejo empresarial

Tucumã x x x x baixa Manejo comunitário Ucuúbarana x x baixa Manejo empresarial Urtigão x x baixa Manejo empresarial Uruá x x baixa Manejo empresarial Urucurana x x baixa Manejo empresarial

Uxi x x baixa Manejo comunitário Uxi amarelo x x baixa Manejo empresarial Uxi curuba x x baixa Manejo empresarial Uxi-liso x x x baixa Manejo empresarial Uxirana x x baixa Manejo empresarial

Verônica x x x x média Manejo comunitário Virola x x média Manejo empresarial Xixuá / Chichuá x x baixa Manejo empresarial

Page 58: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

58

A análise do levantamento efetuada nesse estudo demonstra uma forte ação

antrópica sob a forma de exploração madeireira, principalmente nas áreas do rio

Arapiuns, cuja demanda naturalmente existente por madeira - já que são áreas em

expansão populacional.

A área de concessão deverá abranger apenas os Estratos I e II, os quais

representam 97,6% da área do conjunto de glebas e a espécie de maior valor de

importância ecológico e econômico é a maçaranduba, entre outras espécies mais

valorizadas, pode-se citar: ipê, itaúba e jatobá.

Page 59: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

59

8. Descrição dos recursos hídricos na área dos lotes de concessão Figura 11. Mapa de recursos hídricos no conjunto de glebas Mamurú Arapiuns, onde situam-se os lotes de concessão.

Fonte: LSR/IDEFLOR 2010

Page 60: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

60

A hidrografia da área pode ser considerada com quatro bacias, sendo

destacadas a seguir:

a) Bacia do rio Amazonas: constitui-se na principal bacia da região. Tem, no

território do município de Juruti, a maior extensão, estimada em 250 km. O rio

Amazonas tem grande importância para a região do Entorno, pois favorece o acesso à

região (entrada/saída), em razão de sua alta navegabilidade. Suas águas abrigam uma

variedade de pescado e uma quantidade de sedimentos de suspensão ricos em

nutrientes, que, depositados nas suas margens, terras de várzeas, lhe conferem

elevada fertilidade natural.

b) Bacia do rio Tapajós: O rio Tapajós drena águas fluviais das superfícies dos

municípios de Santarém e Aveiro, no sentido Sul-Norte, numa extensão de 132 km, até

chegar ao Amazonas, defronte à cidade de Santarém. O rio Tapajós, principal formador

da Bacia, tem o seu encalce defronte da “Área de Influência” do estudo. Em grande

parte da bacia do Tapajós predomina uma vegetação exuberante, com presença de

árvores de grande porte, às vezes, com altura de 25 m a 35 m, caracterizando uma

Floresta Densa de terra firme, na qual está inserida a Floresta Nacional do Tapajós, na

margem direita. Na bacia do Tapajós, além da beleza cênica (praias, lagos), propícia ao

turismo de lazer e ao turismo contemplativo (áreas com botos, pássaros), merecem

destaque as comunidades que se dedicam ao artesanato (palha/cipós/fibras, madeira,

cerâmica), tais como as comunidades de Alter do Chão, Vila Franca, Arumã e Solimões.

c) Bacia do rio Arapiuns: localizada na porção Oeste do município, entre as

bacias do Tapajós e do Amazonas, a Bacia Hidrográfica do Arapiuns ocupa uma

superfície aproximada de 7.064 km2, correspondendo a cerca de 28% de todo o espaço

municipal. Último grande afluente do rio Tapajós, o rio Arapiuns é um rio de águas

límpidas, muito pobre em fitoplâncton e, em consequência, em vida aquática. Ao longo

da bacia do Arapiuns e do rio Aruã, existem inúmeras comunidades que se destacam na

fabricação de artesanatos, utilizando como matéria-prima palhas e cipós diversos, além

de cerâmica, madeira, tais como Cachoeira do Aruã, Camará, Curi, Monte Sião, Novo

Horizonte, Novo Paraíso, São José II e São Luiz.

d) Bacia do rio Mamuru: com localização estratégica, tem parte de sua área no

estado do Amazonas e parte no estado do Pará. A cabeceira do rio Mamuru situa-se em

território paraense às proximidades dos municípios de Itaituba e Aveiro, e segue em

direção à ilha de Tupinambarana (habitada no passado por índios Tupinambás), onde

Page 61: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

61

está localizado o município amazonense de Parintins. Existe muito pouca informação

sobre a bacia do rio Mamuru, apesar de sua importância incontestável para a região,

haja vista a vasta área ainda nativa, com recursos naturais ainda intocados e

eminentemente explorados pelas comunidades tradicionais, e apesar das pressões que

já se avizinham, em especial do setor extrativo de madeiráveis. O rio Mamuru é um dos

principais rios da região, juntamente com os rios Paraná de Ramos, Paraná do Espírito

Santo, Paraná do Limão e Uaicurapá, além dos lagos Aninga, Paranema, Macurani e

Lagoa da Francesa, que fazem parte de uma grande rede hidrográfica de vital

importância para o município de Parintins quanto à sua preservação, uma vez que

banham a sede municipal e estão mais suscetíveis à depredação e poluição.

As principais bacias internas na área do conjunto de Glebas Mamuru-Arapiuns

são do rio Arapiuns, com dois afluentes (Aruã e Maró) percorrendo o limite norte da

gleba Nova Olinda I e o limite sul da gleba Cumurucuri; e do rio Mamuru, que percorre

do sul para o oeste da gleba Nova Olinda II (Figura 13). A bacia do Arapiuns tem suas

nascentes na Gleba Nova Olinda.

9. Descrição da área de entorno às áreas de concessão florestal

O Entorno Dinâmico (ED), que se configura a partir de terras dos municípios de

Santarém (mesorregião baixo Amazonas e microrregião de Santarém), Jurutí

(mesorregião baixo Amazonas e microrregião de Óbidos) e, Aveiro e Itaituba

(mesorregião sudoeste paraense e microrregião de Itaituba). Está situado entre os rios

Amazonas, ao oeste, e o rio Tapajós, a leste, e ocupa uma área de aproximadamente

13 mil km2 e uma população estimada de 404.004 habitantes, cujos limites geográficos

são os seguintes:

Ao norte: municípios de Óbidos, Alenquer, Monte Alegre e Prainha;

Ao sul: municípios de Jacareacanga e Novo Progresso;

A leste: municípios de Altamira, Trairão, Rurópolis, Placas e Uruará;

A oeste: o estado do Amazonas com o Município de Parintins.

De um ponto referencial a distância estimada desse entorno para Belém, capital

do Estado é de: Santarém (698km), Aveiro (795km), Jurutí (846km) e Itaituba (887km).

Page 62: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

62

Os principais fatores que caracterizam a geografia do Entorno são dados pelo

clima, superfície, limites, geografia, relevo, hidrografia e vegetação. clima é quente e

úmido com temperatura anual variando de 25o a 28o C, média pluviométrica de 1.920

mm. O relevo dominante é de Planícies e Planaltos. A Planície ocupa a porção Norte e

Leste do Entorno (ED) e constituí basicamente as áreas de várzeas formadas pelo rio

Amazonas e o delta dos igarapés e rios tributários nessa porção, como o rio Mamurú.

Essa planície é submetida às inundações sazonais do rio Amazonas. Representa uma

planície fluvial levemente alçada em relação à lâmina d’água, possuindo as menores

altitudes regionais, geralmente em torno de 20 metros. Compreende depósitos aluviais.

O planalto representa uma superfície entre a planície supramencionada e os planaltos

Tapajós – Xingu e Tapajós – Madeira.

9.1. O Entorno Dinâmico (ED).

Decorrente dessa abordagem geográfica da área de estudo, é posto que as

cidades-sedes dos municípios mencionados são importantes e estratégicos “centros”

de pressão sobre as comunidades tradicionais ribeirinhas ou continentais. Se

convencionou chamar esses “centros” (ou cidades-sedes dos quatro municípios), de

Entorno Dinâmico (ED). dinâmico porque é exatamente deles que partem decisões de

natureza política, econômica e social, que afetam as estruturas sociais comunitárias,

sendo nesse Entorno Dinâmico que as populações tradicionais procuram encontrar

seus referenciais sociológicos, culturais e econômicos, favorecendo trocas comerciais,

aquisição de equipamentos de bem-estar, etc.

Dentre os municípios do entorno dinâmico das áreas em estudo, Santarém é,

sem dúvida, o município que exerce maior influência, quer seja em virtude do tamanho

e desenvolvimento da cidade, quer seja pelo grau de relação de consumo com estas

áreas.

Mais especificamente, este ED se manifesta visivelmente nos acontecimentos

que dominam as suas cidades sede, face à importância político institucional destes

quatro municípios se optou estudar esse Entorno Dinâmico à luz de dados

secundários, quanto a seis aspectos descritivos:

Page 63: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

63

• Os traços da vida social: tradição e modernidade na fronteira amazônica

do Entorno Dinâmico;

• A geografia física e os sistemas de uso da terra;

• A população e seus principais traços demográficos;

• Os serviços básicos de uso público.

• As relações ecológicas, políticas e econômicas com o Estado do Pará;

• A síntese exploratória: O Entorno Dinâmico como território onde se dá a

ocorrência de elementos e processos sociais, políticos, econômicos e

culturais que afetam o padrão de uso dos recursos naturais na região do

Mamurú- Arapiuns.

Figura 12. Mapa com os limites dos municípios do entorno dinâmico (ED) das áreas de concessão florestal

Fonte: LSR/IDEFLOR 2010

Page 64: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

64

Segundo a Teoria dos Sistemas Sociais, o território é importante para se

estabelecer as características físicas e ambientais determinantes dos processos de

relações sociais entre a comunidade, o homem e a natureza, inclusive os processos e

padrões dominantes nas relações. O território determina ainda o tipo de relações entre a

comunidade, e o ambiente externo. O território aqui considerado pode ser dividido em

duas regiões: uma de natureza macro, que se confunde com as superfícies dos

municípios de Aveiro, Itaituba, Juruti e Santarém, que se convencionou chamar de

Entorno Dinâmico (ED); e outra de natureza micro, que se confunde com a superfície

das áreas de concessão florestal.

A geografia, os sistemas de uso da terra, a história de ocupação do território, a

estrutura geo-social e econômica, entre outros, são fatores que determinam o atual

estágio socioeconômico e ambiental, exercendo um papel importante no funcionamento

das comunidades tradicionais, inclusive predispondo a maior ou menor influência do

Entorno Dinâmico sobre as mesmas, seus recursos e população.

9.1.1. Os traços da vida social: tradição e modernidade na fronteira amazônica do

Entorno Dinâmico (ED).

Nos primórdios da ocupação européia, brancos e índios se cruzaram para dar

os traços de tradição e modernidade nos municípios que constituem o ED. Ao que

parece a viagem de Pedro Teixeira em 1626, é o marco histórico da presença do ED na

vida colonial; muito embora a criação do município de Santarém tardou cerca de 222

anos, desde a descoberta do rio Tapajós por Pedro Teixeira. Trinta e cinco anos depois

(1661) daquela descoberta, ter chegado à região da confluência dos rios Amazonas –

Tapajós, o Padre. Berttendorf, Jesuíta, estabelecendo a presença da Igreja na área.

Em 1755, foi fundada Santarém, ou seja, 84 anos após a chegada da Igreja. A

criação do município se deu 93 anos depois da fundação da cidade. Por isso é

interessante anotar que a partir das descobertas de Pedro Teixeira em 1626 no Século

XVII, os eventos sucessivos, marcos temporais na história do lugar, aconteceram em

interregnos mais demorados: assim foram 35 anos da descoberta à chegada do Padre

Berttendorf; 84 anos durou o tempo entre a chegada da Igreja e a fundação da cidade

de Santarém, e 93 anos daí, até a criação do município, ou seja, na medida em que os

tempos avançavam em direção à “modernidade”, mais ausência do Estado se notava.

Daí que movimentos como a Cabanagem (1835), do passado longínquo, e os

Page 65: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

65

emancipatórios, do presente, podem ter suas raízes nesses fatos, ou seja: expectativas

avançam, enquanto o estado recua.

Se a Igreja e a Religião estiveram na base das tradições do ED, a

“modernidade” se apoiou em outros fatos como: a presença da Cia. Ford Industrial do

Brasil que a partir de 1928 deu início às atividades agronômicas de cultivo da

seringueira (Hevea brasiliensis) visando produção para atender às crescentes

necessidades mundiais de borracha em razão, sobretudo da industrialização e mais

tarde da II Guerra Mundial (1938-1946). A presença da Cia. Ford na Amazônia em geral

pode ser tratada como marco da presença do capitalismo no campo. O Estado brasileiro

marcou o seu papel nessa história com a criação em 1942 – esforço de guerra - do

Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), mais tarde transformada em Fundação

SESP, cuja razão foi, sobretudo, o saneamento básico e o controle da malária que

criavam fortes empecilhos ao trabalho dos seringueiros na extração do látex. Dessa

“modernidade” faz o período dos governos militares (1964-1988), com a inclusão do ED

como Área de Segurança Nacional e a conseqüente exclusão dos movimentos

democráticos e reivindicadores de grupos sociais aí existentes. A rodovia Santarém –

Cuiabá (BR-163) pode ser considerada como fato relevante do período moderno no ED,

e tem como marco, a chegada em 1970 do 8º Batalhão de Engenharia de Construções

(8º BEC) do Exército. E um outro marco do período foi a construção do UHE Curuá-

Una, em 1977, comemorada como a primeira hidrelétrica construída na Amazônia.

Nos tempos da democracia plena (após 1988) podem ser registradas as

presenças dos campi da UFPA (Universidade Federal do Pará) e da UFRA

(Universidade Federal Rural da Amazônia, 2002), com impactos sociais, econômicos,

cultural e ambiental em todo o Entorno.

A Síntese desse período de transição do colonial-tradicional ao republicano-

moderno pode ser resumida em três fatos que, em ordem, vão contribuindo para

posicionar o ED frente aos novos tempos: em primeiro, as atividades econômicas

ligadas ao esforço de guerra representado pelo volume das operações da Cia. Ford em

Belterra e Fordlândia; em segundo os mecanismos político-institucionais do regime

militar, representados pela criação da Área de Segurança Nacional e em terceiro a

presença das universidades, desde a instalação do campus da UFPA, a criação de

unidades de ensino superior particulares (FIT, ULBRA) a instalação do campus da

UFRA e mais recente a criação da UFOP.

Page 66: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

66

9.1.2. A geografia e os sistemas de uso da terra

Quanto ao uso da terra (Tabela 13), o ED tem nas florestas o maior uso, são

494.880 hectares, o que corresponde a 47,1% do uso do selo na região do ED, sendo

que Santarém detém a maior porção do uso da terra com floresta, cerca de 166.000

hectares e Jurutí a menor fração de uso com apenas 20.000 hectares. O uso do solo

para pastagens é a segunda expressão. São cerca de 371.448 hectares utilizados com

a pecuária ou seja 35,4% do uso da terra. Em terceiro lugar aparece a área agrícola

com 183.924 hectares, correspondendo a 17,5% do total de uso do solo regional.

Tabela 13. Uso da terra: municípios do Entorno Dinâmico (ED), 2006.

Unidade Geográfica Área Agrícola (ha)

Área Florestal (ha)

Área Pecuária (ha)

Aveiro 5.568 122.835 12.574 Itaituba 109.492 185.582 103.113 Jurutí 2.121 19.630 14.260

Santarém 66.743 166.833 55.777 Pará 3.214.318 10.465.433 13.167.856

Razão ED/Pará 5,72% 4,73% 2,82% Total do ED 183.924 494.880 371.448

Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 2007.

Nesse contexto e, considerando as potencialidades apresentadas com o

ordenamento do uso das florestas da região, se acena com uma grande potencialidade

de desenvolvimento regional com a produção florestal. A infra-estrutura de

comunicações, transportes e energia demandadas pela instalação de pequenas, médias

e grandes empresas com contratos de longo prazos e empregos duradouros deverão

impulsionar a economia, diversificando outras atividades encadeadas, principalmente o

desenvolvimento de pequenas e médias indústrias associadas, assim como a

dinamização do comércio regional.

9.1.3. A população e seus principais traços demográficos

A análise demográfica ainda que exploratória dos recursos é importante pelos

efeitos que a população exerce sobre o uso dos recursos naturais. Em uma área sujeita

a intenso fluxo migratório a análise tem relevância e pertinência. Ambos “extremos”

migratórios, ou seja, o rico e o pobre formam um papel importante no conteúdo das

formulações públicas que visam encaminhar a questão população e recursos naturais.

Page 67: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

67

Reduzir a “pegada ecológica” do planeta significa reduzir o nível de consumo na

sociedade e isto alterando os hábitos da população seja como consumidores ou como

produtores.

Inicialmente a Tabela 14, traz algumas indicações do perfil demográfico do ED.

Trata-se de um conjunto humano que totalizado em 404.004 habitantes, que

representavam (em 2000) 32,4% da população paraense, percentual expressivo,

considerando que 2 municípios Santarém e Itaituba respondem por 65% e 23,4% do

efetivo populacional do ED ou seja, 90% da população se concentra nesses

municípios, sinalizando para onde devem ser dirigidas as políticas demográficas do

Entorno, seja para distribuir de modo mais equilibrado esse contingente, seja para

considerar maior alocação de mecanismos compensatórios que visem atenuar a

pressão demográfica sobre os recursos naturais.

Tabela 14. Demografia do Entorno Dinâmico (ED) - Habitantes. Descrição Santarém Aveiro Itaituba Juruti

População Total (nº hab): 262.538 15.518 94.750 31.198 - Urbana 186.297 2.980 64.486 10.780 - Rural 76.241 12.538 30.264 20.418

Área (km2) 22.887,08 7.074,29 62.040,95 8.303,97 Densidade demográfica (hab/km2) 11,47 0,91 1,53 3,76 Participação relativa/PA (%) 1.83 1.37 4.97 0.67 Crescimento Demográfico: 1970-2000 (%) 94 76 633 67 Taxa anual - 30 anos: 1970-2000 (%) 6,46 5,80 21,5 2,23

Fonte: Censo Demográfico, IBGE 2000.

A mais expressiva variação demográfica ocorreu nas áreas rurais que reduziram

suas atividades enquanto aumenta a urbanização, acompanhando uma tendência que

se verifica em toda região Norte e no Estado do Pará. O mais expressivo crescimento

urbano ficou com Itaituba que nos últimos 30 anos cresceu 1.608% enquanto a menor

taxa ficou com Aveiro, 168,9% - mesmo assim, acima dos cem pontos percentuais.

Tabela 15. Índices demográficos do Entono Dinâmico (ED) no período de 30 anos (1970 - 2000). Crescimento no período 1970 -2000 (CP) e Taxa Anual de Crescimento no período 1970 - 2000 (TA).

Municípios do ED

População Urbana (%) População Rural (%) População Total (%) (CP) (TA) (CP) (TA) (CP) (TA)

Santarém 203,79 6,79 3,18 0,11 94,16 3,14 Aveiro 168,95 5,63 62,60 2,09 75,96 2,53 Itaituba 1.607,79 53,59 239,51 7,98 646,65 21,56 Juruti 250,91 8,36 30,78 1,03 66,98 2,23

Fonte: Censo Demográfico, IBGE 2000.

Page 68: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

68

Contudo mesmo com este efeito supressivo no crescimento da população rural,

no espaço físico do ED a população não deixou de crescer a taxas superiores à do

Estado. Enquanto a taxa para o crescimento médio anual da população girou ao redor

de 2,4%, iguais taxas para o ED, ficaram entre 2,23% em Jurutí e 21,5% em Itaituba.

Isto demonstrou que o ED surge como “lugar selecionado” beneficiado por expressivos

fluxos migratórios puxados por atividades nas áreas florestal, mineral e agrícola.

9.1.4. Os serviços básicos de uso público  

Os municípios apresentam grande déficit de serviços públicos essenciais, tais

como água, energia, estradas vicinais, portos, escolas e postos de saúde.i Uma das

justificativas históricas da baixa estrutura de logística é a base econômica extrativa e

sazonal de recursos não renováveis (minerais, a região é influenciada pela Bacia

aurífera do Tapajós) e pela lógica mineradora da produção de recursos renováveis

(florestal e agropecuária) que predominou até o presente. Esse modelo de uso dos

recursos tem seus efeitos endógenos passageiros, exportam benefícios de médio e

longo prazos e não sedimentam bases duradouras na economia local e regional.

Por Serviços Básicos à população se entende nesse estudo, aqueles serviços

essenciais à população conquistar níveis de bem estar e tranqüilidade social para

enfrentar sem temor ou sobressaltos as adversidades temporais e manter uma

performance física-psicológica que permita adquirir atitudes positivas em relação a

vida.

A presença desses serviços no local, com caráter universal e republicano, torna-

se um fator importante e estratégico na contraposição e centralização e a dependência.

Repercutem de vários modos, na sustentabilidade social e política local, ou seja, no

“emponderamento” da comunidade.

Santarém dispõe de um aeroporto internacional e Itaituba também dispõe de um

aeroporto estruturado e que funciona com vôos regionais regularmente. Juruti possui

um aeroporto, que na verdade é um aeródromo utilizado pela empresa ALCOA, em

condições precárias e provisórias, não havendo linhas regulares, assim como Aveiro.

Em todos os municípios o transporte fluvial é determinante na logística de transportes

de passageiros e de cargas. Pistas clandestinas são comuns, como logística de

Page 69: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

69

exploração mineral (garimpos) e madeira, sendo a mais extensa, uma pista de pouso na

gleba Nova Olinda II, que mede cerca de 1.500 metros.

Os portos em geral são precários. Com exceção de Santarém, onde as obras

estão em curso para separar o transporte regional de cargas e passageiros e onde o

transporte de cargas pesadas utiliza-se do Porto da Companhia Docas do Pará. Juruti e

Aveiro não têm portos estruturados. A cidade de Itaituba, apesar de ser o centro mais

dinâmico no transporte de cargas e passageiros ao sul das glebas e estar situada

praticamente na confluência das duas rodovias federais (A BR-230 cruza com a BR-163

a 30 km da cidade), também não dispõe de estrutura portuária organizada.

O sistema de transporte está constituído pelo subsistema de transporte fluvial,

concentrado na Calha do Rio Amazonas e do subsistema de transporte rodoviário,

estruturado pelas rodovias federais BR-230, no sentido leste-oeste, e BR-163, no

sentido sul-norte. Existem inúmeras vias informais que continuam a se expandir. Essas

rodovias são estimadas atualmente em mais de 30 mil quilômetros e coexistem e se

articulam com as rodovias estaduais e as vicinais.

O total das estradas abertas no interior das glebas soma 1.157.041 km, dos

quais apenas 120 km constam nos dados do IBGE como planejadas. O Laboratório de

Sensoriamento Remoto do IDEFLOR mapeou 1.036.181 km, dos quais, numa leitura

mais detida, se identifica 839.220 km de estradas abertas como acesso à exploração

madeireira. Destes, 70 km foram abertos por cooperativas na Gleba Mamurú, com

quotizações entre os membros da organização (cerca de R$ 50 mil por cooperante

segundo depoimentos colhidos no local).

Na análise se consideraram alguns indicadores em saúde e saneamento,

verificando a cobertura que esses serviços apresentam em relação a população do

Entorno Dinâmico e do Estado do Pará, conforme se pode ver nas Tabelas 16 e 17 a

seguir, onde se percebe que em alguns municípios do ED, alguns serviços básicos à

população urbana, se igualam ou superam as marcas de cobertura do Estado, como

são os casos do abastecimento de água para os municípios de Aveiro, Juruti e

Santarém; e a cobertura da rede elétrica para Itaituba e Santarém.

Já quanto ao avanço desses serviços a Tabela 17 nos conduz as seguintes

observações: com relação ao acesso à água encanada, à energia elétrica e coleta de

lixo, percebe-se um desempenho muito aquém do município de Aveiro, que teve

redução de acesso à água em 17,2% em 10 anos e incríveis 52% de redução no

Page 70: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

70

acesso à coleta de lixo no mesmo período e praticamente não houve incremento no

acesso à energia elétrica em 10 anos, com aumento de apenas 1,8%.. O destaque

positivo fica por conta do município de Jurutí, onde a coleta de lixo aumentou

2.371,4%, ou seja, mais de 23 vezes, e onde também o acesso à energia elétrica teve

incremento de 44,9%, com destaques ainda para o incremento da coleta de lixo em

Santarém (117,2%) e Itaituba (94,3%), no mesmo período.

Tabela 16. Serviços básicos urbanos dos municípios do Entorno Dinâmico (ED).

(%) Aveiro Juruti Itaituba Santarém Pará

Cobertura de Rede de abastecimento de Água 55,13 82,81 3,83 78,48 56,15 Cobertura de Sistema de esgotamento Sanitário 15,80 2,70 1,90 37,90 48,83 Cobertura de Sistema de Coleta de Lixo 4,13 31,90 69,23 69,00 73,20 Cobertura da Rede de Energia Elétrica 40,10 50,00 51,50 79,30 76,7 Posto de Saúde 1 5 0 34 564 Centro de Saúde 2 0 15 34 667 Policlínicas 0 0 0 2 22 Número de Hospitais 0 0 6 7 176 Leitos de Hospitais 0 84 478 426 12.217 Leitos por Habitantes 0,0 2,44 4,99 1,57 1,82 Media de consultas, média habitantes/ano 0,06 0,64 1,95 - 1,33

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - PNUD.

É lógico pensar que o saneamento básico tem impacto direto nas condições de

saúde. Nota-se que os sistemas de esgotamento sanitário e o serviço de coleta de lixo

são insatisfatórios em todo o ED, onde os percentuais de cobertura situam-se abaixo

dos percentuais para o Estado, conforme os números da Tabela 16. Por outro lado, a

organização do sistema de saúde para o enfrentamento de problemas daí decorrentes,

assim como de outras origens é visualizado também na Tabela 10. Dos seis

indicadores considerados (posto de saúde, centro de saúde, policlínicas, hospitais,

leitos hospitalares e leitos por habitantes) apenas Santarém atendeu todos, seguido de

Itaituba..

Tabela 17. Acesso a água encanada, energia elétrica e coleta de lixo nos 4 municípios do ED e no Estado do Pará, no período de 1991 a 2000 (%) * área urbana.

Municípios/Estado Água Encanada

(%) TX (%)

Energia Elétrica (%) TX

(%)

Coleta de Lixo (%) TX

(%) 1991 2000 1991 2000 1991 2000 Aveiro 16,3 13,5 -17,2 39,4 40,1 +1,8 9,8 4,7 -52,0 Santarém 48,9 49,4 +1,0 71,6 79,3 +10,8 32,0 69,5 +117,2 Itaituba 29,2 36,0 +23,3 74,9 81,5 +8,8 35,3 68,6 +94,3 Juruti 7,8 9,0 +15,4 34,5 50,0 +44,9 1,4 34,6 +2.371,4 Pará 37,7 44,9 +19,1 64,1 76,7 +19,7 47,4 73,8 +55,7

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - PNUD.

Page 71: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

71

O abastecimento de energia elétrica, especialmente nas áreas rurais, ainda é

muito precário. Mas há recentes avanços do Programa Luz para Todos do Governo

Federal e da recente instalação de seis pequenas centrais hidroelétricas na região

Oeste do Pará.

É importante notar a enorme contradição entre a falta de energia elétrica e o

alto consumo de diesel e a existência de um enorme desperdício de biomassa residual

das serrarias, planos de manejo e desmatamentos. Considerando apenas a produção

das serrarias da região, pelo menos 750 mil m3 de resíduos são gerados anualmente.

Com essa biomassa, seria possível produzir 75 MW/h de energia durante um ano, ou

seja, abastecer 750 mil habitantes. Cada mil hectares desmatados e queimados

desperdiçam 200 mil m3 de biomassa.

Outro serviço básico estratégico à população e seus enfrentamentos sociais,

econômicos, culturais e políticos, é a educação, ou melhor, o acesso aos bens e

serviços educacionais. A Tabela 18 nos mostra o perfil educacional da população no

ED. Há evidências de um melhoramento sensível em todos os indicadores

(analfabetismos e freqüência escolar) lembrando, entretanto que são as cidades-sedes

dos municípios e não as vilas, as mais contempladas com os avanços nas marcas

educacionais.

Tabela 18. Analfabetismo e freqüência escolar nos 4 municípios do ED e no Estado do Pará, no período de 1991 a 2000.

Municípios/Estado % Analfabetismo (10 - 24 anos) TX

(%)

% Analfabetismo (25 anos ou mais) TX

(%)

% Freq. Escolar (7 a 14 anos) TX

(%) 1991 2000 1991 2000 1991 2000 Aveiro 16,8 10,4 -38,1 35,4 29,3 -17,2 60,5 80,8 +33,55 Santarém 7,4 4,0 -46,0 22,0 14,8 -32,7 83,0 94,7 +14,10 Itaituba 18,8 8,4 -55,3 37,5 27,5 -26,7 66,7 91,8 +37,63 Juruti 7,9 5,7 -27,9 28,9 21,1 -27,0 75,3 95,2 +26,43 Pará 15,3 8,2 -46,4 28,5 20,6 -27,7 72,3 90,1 +24,62

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - PNUD.

Pode-se perceber que no período de 10 anos, de 1991 a 2000, o analfabetismo

reduziu significativamente em todos os 4 municípios do ED, assim como no Estado do

Pará como um todo, tanto na faixa se 10 a 24 anos, quanto na faixa de 25 anos ou

mais, com destaque para o município de Itaituba que reduziu em 55,3% as taxas de

analfabetismo na faixa de 10 a 24 anos.

Page 72: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

72

No que tange à freqüência escolar, ainda na Tabela 18, os dados do mesmo

período mostram que houve incremento da atividade escolar na faixa dos 7 aos 14 anos

para todos os 4 municípios do ED, salientando que apenas Santarém teve um

crescimento menor, com 14,10% de acréscimo, o que não chega a surpreender porque

as taxas de freqüência escolar de Santarém (83%) já eram maiores que todos os outros

municípios do ED e que o Estado do Pará, portanto com pouca margem para

crescimentos significativos. Não obstante os resultados é preciso não perder de vista a

relação entre a oferta desses serviços básicos e o grau de urbanização: Santarém e

Itaituba, ambos superam a marca estadual; Juruti avança mais agora como pólo

minerário. Apenas Aveiro se mostra ainda tímido quanto à urbanização de seus

moradores.

9.1.5. As relações ecológicas, políticas, econômicas e sociais com o Estado do Pará.

O Entorno Dinâmico ocupa uma superfície de 110.306 km2, que corresponde a

quase 10% da superfície total do Estado do Pará. O município de Juruti mostrou uma

razão de apenas 0,67% da superfície estadual enquanto Itaituba detém 4.97% do

território paraense. Santarém, 1.83% do Estado e Aveiro, 1.37% não alcançaram a

razão de 2%. São frações territoriais pouco expressivas, entretanto, elas definem o

modo de relacionamento espacial tanto para dentro das suas fronteiras como para fora.

O atual sistema de uso da terra potencializa o perfil ecológico do ED e

estabelece as relações ambientais do ED com o Estado e consigo mesmo. Isso porque

a agricultura, a pecuária, a exploração florestal e a mineração desenvolvem aspectos

específicos quanto aos impactos ecológicos, podendo aumentar a fração de áreas

antropizadas e degradadas, caso não sejam atendidos os requerimentos do manejo e

uso sustentável dos recursos envolvidos.

Nesse particular merece destaque o avanço da pecuária sobre a floresta

conforme reconhece o próprio governo estadual. O maior crescimento da área de

pastagem e de rebanho no País ocorreu no Norte. No Pará, desde 2001, portanto

recente, foram incorporados 1,3 milhões de hectares. De 2006 para 2007, o aumento da

área com pastagens foi da ordem de 4,39%, o menor registro entre os estados da

região Norte – Amazônica. Entretanto esse avanço na floresta acontece impulsionado

pelo binômio madeira-pecuária, ainda que aconteça em índices baixos: Apenas 1,41%

Page 73: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

73

da superfície total com pastagens no estado do Pará (13.167.856 ha), ou seja, são

185.724 ha cobertos com pastagem no ED.

A área com matas e florestas no ED, em relação ao total do estado é de 4,73

justificando assim a preocupação do IDEFLOR com atividades que possam

comprometer a cobertura ecológica e causar danos ambientais e sociais as populações

tradicionais. As lavouras temporárias surgem com as taxas mais altas da razão

ED/Estado do Pará: Cerca de 14,6%, ou seja, a superfície plantada com lavouras

temporárias, possivelmente grãos, chega a 163.460 ha. Ao contrário dos cultivos

permanentes, cujas feições ecológicas são mais agradáveis ao meio ambiente

representam menos de 1% (0,98%) da área total cultivada com “permanentes” no

Estado.

No ED concentra-se importante área de atividade mineraria. São projetos de

grande envergadura e alta tecnologia como a extração de bauxita no município de

Jurutí, até a garimpagem manual como ocorre em Itaituba nos garimpos famosos da

região com o garimpo do Porto Rico, Boa Fé e Cuiú-Cuiú. Interessante apontar que a

região do Tapajós, segundo a CPRM, engloba uma reserva garimpeira de 28.752 km2, a

qual desde o ano de 1958 representa grande área produtora de ouro. Itaituba, como a

maior superfície municipal do Entorno - 62.041km2, 4,97% da área do estado –

concentra reservas de calcário, com utilização na fabricação de cimento.

As relações políticas do Entorno (ED) com o Estado se efetivaram através de

representação que os seus municípios possuem junto ao legislativo e executivo, tanto

federal quanto estadual. Na Assembléia Legislativa do Estado (ALEPA), 7 deputados

são oriundos de colégios eleitorais do oeste do Pará e com atuação política no Entorno

Dinâmico. Dos 7 deputados, 2 são filiados ao PT; 2 ao PMDB, 2 ao PSB e 1 ao PTB;

portanto a atual base política que da sustentação ao governo tanto federal quanto

estadual possui 5 representantes, número que por certo ajuda nas definições e

aplicações de medidas públicas no interesse dos objetivos do IDEFLOR. Essa bancada

do Entorno representa um percentual de 16,2% dos deputados Estaduais.

Page 74: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

74

9.1.6. A síntese exploratória: o Entorno Dinâmico (ED) como território onde se dá a ocorrência de elementos e processos sociais, políticos, econômicos e culturais que afetam o padrão de uso dos recursos naturais das áreas de concessão florestal.

No estudo conduzido, ao se conceber que uma área seria tratada como Entorno

Dinâmico (ED) e outra como área de influência desse entorno, a idéia por detrás foi

admitir uma possível relação de dependência e de subordinação da segunda, ou seja,

da área de influência para com a primeira, ou seja, o Entorno Dinâmico (ED), de tal

modo que seria possível estabelecer a relação paramétrica seguinte:

AI = f (ED) E graficamente representá-la assim:

Figura 13. Curva de pressão sobre RRNN, onde AI é a área de influência (concessão florestal) e ED é o Entorno Dinâmico da área.

A Teoria da Dependência pode contribuir para a interpretação das relações que

se processam entre o Entorno Dinâmico (ED) e a (sua) área de influência. O Entorno

seria tratado como “centro capitalista” enquanto a área de influência como “periferia

deprimida”. Embora a Teoria da Dependência tenha surgido no histórico latino-

americano dos anos 1960, como concepção de análise macro regional, das relações de

subordinação continental entre a América Latina e os Estados Unidos da América ou a

Europa, aqui se propõe o seu emprego para exemplar as relações “centro-periferia” que

fecundam relações microrregionais, dentro de um mesmo país ou estado. Entender

melhor, os fatores responsáveis pela reprodução do sistema capitalista de produção na

periferia tradicional, tratando de desconsiderar o tácito do subdesenvolvimento como

Page 75: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

75

produto da mundialização do capital. Passar a considerar a perda do controle pelos

habitantes da periferia dependente sobre seus recursos como fator responsável pelos

impactos sobre a transferência de renda da periferia tradicional para o centro dinâmico,

gerando desse modo, uma relação desigual em sua essência, à custa da subordinação,

da expropriação da renda e do trabalho, e da desintegração das classes e grupos.

Nesse sentido, o contraponto à dependência seria resultado de um processo social e

político, enquanto possibilidades que dependem tanto das ações de governo e da

governança, quanto do surgimento de organizações coletivas que representem os

legítimos interesses da periferia dependente. Isso porque não apenas as condições

históricas particulares são primordiais nos fundamentos da luta das organizações

coletivas, mas também o fato de que são os conflitos sociais de varias origens, entre

grupos e classes, que constituem o motor que põe em marcha o desenvolvimento social

sustentável, amplo e legitimo.

Dessa forma o crescimento capitalista do Entorno manifesto nas suas

dimensões histórica, demográfica, econômica, social, ambiental, política; nas formas

concentradas da riqueza, sobremodo no espaço urbano, configuram as variáveis de

pressão do Entorno sobre a sua área de influência, como periferia deprimida.

A história regional de ocupação do Entorno, de vários modos se liga a

exploração da riqueza natural e a expropriação do trabalhador. Inicialmente, nos tempos

coloniais, gentios e drogas do sertão foram reunidos sob a égide do Estado e da Igreja,

com ampla expropriação do conhecimento e do trabalho dos gentios; tudo para

satisfação do mercado europeu, intermediado por Portugal. Mais tarde o Estado, com o

ciclo da borracha, acentua essa dependência. Na fase contemporânea agrava-se o

quadro de uso dos recursos naturais alheio às comunidades tradicionais com o avanço

da exploração madeireira, da grilagem de terras, da pecuária extensiva e da soja.

A expansão populacional de vários modos exerce pressão sobre o uso dos

recursos naturais. A Amazônia se coloca como a última fronteira continental (e mundial)

de expansão do capitalismo a custos compensadores (bastante) para os donos do

capital. No Entorno o crescimento populacional nos últimos 30 anos de verifica a níveis

superiores as taxas estadual e nacional. O crescimento urbano como proxi do consumo

de bens demandantes de recursos naturais, se dá taxas surpreendentes: Itaituba um

dos municípios do Entorno teve a sua população urbana aumentada em 1.608% e que

lhe confere um índice de 54% de crescimento anual. (Ver Tabela 9). Isso sem dúvida

teve na exploração madeireira e na mineral seus grandes incentivadores. Outro

Page 76: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

76

agravante do quadro de pressão reside no fato de que a taxas de crescimento rural são

bastante aquém da urbana. Mesmo Itaituba, apesar do monumental aumento urbano, o

correspondente rural apresenta um índice de apenas 8% em igual período, ou seja,

entre 1970 e 2000. O vazio rural oferece um quadro favorável ao emprego de

tecnologias substituidoras de mão de obra e geralmente inadequada ao ambiente frágil

do ecossistema amazônico.

A ecologia do Entorno é contemplada em função da razão relativa do uso atual

do espaço físico vis a vis o Estado do Pará. A ocupação do solo com lavouras e com

pecuária; a área ainda com mata e floresta; as atividades de mineração, e as

externalidades dessa ocupação manifesta nas áreas degradadas formam um conjunto

de dimensões que indica o “estado da arte ecológica” da região em estudo. Se deve

levar em conta o fato de que o total da superfície do Entorno - 110.306 km² - representa

ao redor de 10% da superfície estadual, razão considerável às políticas públicas, uma

vez que apenas quatro municípios contribuem com esse percentual.

O socioeconômico do Entorno se revela nessa síntese exploratória através do

IDH, índice considerado pelas Nações Unidas (ONU). IDH tem como objetivo oferecer

um contraponto a outro indicador - o PIB, como parte do pressuposto que para avaliar a

riqueza e o bem estar social, não se deve considerar apenas a dimensão econômica,

mas também outras características que influenciam a qualidade de vida humana. O IDH

é um índice composto pelas transformações ocorridas na longevidade, na educação e

na renda. Portanto trata-se de um indicador síntese, cujos valores variam de zero (0) a

hum (1); quanto mais próximo de 1 o valor deste indicador, maior será o nível de

desenvolvimento humano do país ou região, conforme se pode ver na Tabela 19.

Tabela 19. Indice de Desenvolvimento Humano - IDH - Um reflexo do bem estar social: comparativo do Entorno Dinâmico (ED) com o Pará e o Brasil (1991-2000).

Descrição Pará Brasil Santarém Aveiro Itaituba Jurutí

IDH – 2000 0,72 0,77 0,75 0,64 0,70 0,68 IDH - evolução (%) 11,23 10,06 12,86 7,9 13,18 7,14 Renda “per capita” (R$) 168,59 297,23 139,90 56,22 162,60 103,42 Renda crescimento (%) 19,13 29,06 32,01 -2,88 13,96 -17,27 Pobreza relativa (%) 51,89 32,74 54,05 80,8 50,51 77,70 Crescimento relativo (%) -7,12 -18,29 -12,65 2,78 0,80 8,85

Fonte: Censo Demográfico, IBGE 2000.

Índices (marcas) estadual e/ou nacional – 2000 Índices que estão abaixo dos índices estadual e/ou nacional Índices que estão acima das médias estadual e/ou nacional

Page 77: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

77

Assim sendo, o ED apresentou no ano 2000 um IDH médio da ordem de 0.68,

digamos, satisfatório, porém abaixo dos índices do estado (0.72) e do nacional (0.77).

Apenas Santarém (0.75) superava a marca estadual, assim mesmo, ligeiramente abaixo

do índice nacional.

Considerando que a renda média do Entorno no período foi da ordem de

R$103,00, abaixo das medias paraense (R$ 168,00) e brasileira (R$ 297,00), significa

que há um espaço de crescimento, pois segundo a ONU a linha da pobreza é delimitada

pela possibilidade de aquisição de 2 cestas básicas com a renda per capita. Sendo a

linha da indigência quando a renda per capita permite adquirir no máximo uma cesta

básica. Assim, considerando a cesta básica de dezembro de 2001 ao valor de R$

158,20, temos que tanto o Entorno, quanto o Estado, na média, estão abaixo do limite

da pobreza que influenciará na curva de consumos de bens e serviços. Da mesma a

forma a pobreza relativa tem índices percentuais acima dos índices estadual e nacional

lembrando que alguns apontam essa situação social também responsável por severos

prejuízos ambientais. De um modo geral se pode dizer que a pobreza na região do

Entorno Dinâmico apresenta índice médio preocupante: com cerca de 78% dos

moradores podendo ser incluídos na categoria “pobreza relativa”.

Entretanto pode-se constatar que com relação à renda per capita no ED, em

Santarém a renda foi crescente, com aumento de 32,01% de 1991 a 2000,, maior que

as taxas paraense e brasileira, de 19,13% e 29,06%, respectivamente, o que não

aconteceu com o município de Aveiro, onde houve retração do crescimento econômico,

com diminuição da renda per capita em 2,88%. Com relação a Itaituba a renda per

capita cresceu na ordem de 13,96% de 1991 a 2000, mas mesmo assim se mostrou

tímida em relação às taxas do Pará e Brasil, mas a queda de renda mais expressiva se

mostrou em Jurutí, com redução da renda per capita da ordem de 17,27% no período, o

que foi confirmado pelo aumento da pobreza no município.

Tabela 20. Renda per capita (R$) dos municípios do ED, do Pará e do Brasil, 1991-2000.

1991 2000 Crescimento (%)

Brasil 230,30 297,23 29,06 Pará 141,52 168,59 19,13 Santarém 105,98 139,90 32,01 Itaituba 142,68 162,60 13,96 Aveiro 57,89 56,22 -2,88 Juruti 66,70 55,18 -17,27

Fonte: Censo Demográfico, IBGE 2000.

Page 78: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

78

No que tange ao Produto Interno Bruto – PIB 2006, têm-se que PIB do Estado

em 2006 foi da ordem de R$ 44,376 bilhões, crescendo 7,1%, e obtendo a terceira

maior variação real entre os estados do Brasil e mantendo-se na 13ª posição no ranking

dos Estados. Já o PIB per capita do Estado do Pará ficou em R$ 6.241, representando

49,2% do valor per capita nacional, mantendo a 22ª posição no ranking dos estados

brasileiros.

A estrutura produtiva dos grandes setores do PIB paraense para o ano de 2006

ficou da seguinte forma: Serviços contribuíram com 57,5%, e um Valor Adicionado de

R$ 22,885 bilhões; a Indústria teve participação de 33,4%, agregando R$ 13,285

bilhões; e a Agropecuária, com participação de 9,2%, gerando R$ 3,664 bilhões.

Os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) dos 143 Municípios, referente ao

ano de 2006 demonstram que, de acordo com Valor Adicionado (VA) dos setores

econômicos, a atividade predominante é o Setor de Serviços, correspondendo a 121 ou

84,6% do total dos municípios paraenses. O Setor Agropecuário é a atividade principal

desenvolvida em 12 ou 8,4% dos Municípios. E em, apenas 10 Municípios do Estado,

representando 7,0%, têm sua base econômica determinante o Setor da Indústria.

Na Tabela 21 pode-se perceber a colocação de 2 municípios do ED do estudo

em questão, com destaque para Santarém em todos os setores econômicos

(Agropecuária, 2º ; Indústria , 10º ; Serviços, 4º; e PIB, 7º), além de Itaituba, que

aparece 10º lugar no Estado no setor de serviços, o que denota a importância do ED e a

pressão que o mesmo pode exercer na AI do estudo.

Tabela 21. Municípios paraenses líderes no ranking do Valor Adicionado (VA) dos setores econômicos e pelo Produto Interno Bruto (PIB), 2006.

Ranking Atividades/Municípios

Agropecuária Indústria Serviços PIB

1º São Félix do Xingu Barcarena Belém Belém 2º Santarém Parauapebas Ananindeua Barcarena 3º Paragominas Belém Marabá Parauapebas 4º Marabá Tucuruí Santarém Marabá 5º Acará Marabá Barcarena Ananindeua 6º Novo Repartimento Ananindeua Parauapebas Tucuruí 7º Água Azul do Norte Canaã Carajás Castanhal Santarém 8º S.M.das Barreiras Oriximiná Paragominas Castanhal 9º Cumaru do Norte Almeirim Tucuruí Canaã Carajás 10º Conceição Araguaia Santarém Itaituba Oriximiná

Fonte: SEPOF/IBGE, 2008

Segundo dados da SEPOF, Santarém representou, em 2006, 3,2% da

Agropecuária do Estado, sendo sua principal sub-atividade o cultivo de arroz, milho,

Page 79: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

79

soja e mandioca (na produção de arroz e soja destaca-se como maior produtor do

Estado). A pesca contribuiu com 29,0% no VA municipal e destacou-se com maior

participação (5,7%) no Estado. Ainda segundo o mesmo estudo, Santarém participou

com 4,2% dos Serviços do Estado. As principais atividades foram administração pública,

comércio e aluguel. Santarém é o terceiro maior centro urbano do Estado. A Tabela 22

a seguir mostra o ranking dos menores PIB per capita a Preço de Mercado Corrente dos

Municípios do Estado do Pará em 2006. Nestes municípios o Setor principal é o de

Serviços, sendo a administração pública, a atividade de maior destaque. Os demais

setores não são expressivos, sendo constituídos pela agricultura de subsistência e na

Indústria, apenas a atividade da construção civil com modesta participação.

O município de Aveiro é o 7º pior PIB municipal do Estado, o que denota uma

elevada participação do setor de serviços no município. Na Tabela 17 logo a seguir

novamente aparece Aveiro entre os cinco municípios paraenses com maior participação

da administração pública no valor adicionado total, o que confirma que o município é

altamente dependente das transferências governamentais e muito sensível a estímulos

governamentais em sua economia, o que por um lado pode ser muito interessante para

o Estado implementar políticas e neutralizar possíveis influências negativas do ED na

área de concessões..

As maiores participações da administração pública na composição do PIB, são

municípios com atividades econômicas pouco expressivas e com alto grau de

dependência de transferências governamentais, as quais na dimensão da sua

aplicabilidade orçamentária, praticamente constituem a principal fonte de fomento ao

funcionamento das economias locais. A utilização das transferências nesses municípios

representa a força-motriz que impulsiona as atividades econômicas no contexto das

suas respectivas bases produtivas. Ressalta-se que são municípios que apresentam

baixo PIB Per Capita.

Page 80: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

80

Tabela 22. Municípios paraenses com os menores PIB per capita (R$), 2006. Ranking Município PIB per capita (R$)

143º Jacareacanga 1.401 142º Curralinho 1.582 141º Nova Esperança do Piriá 1.597 140º Melgaço 1.696 139º Faro 1.697 138º Cachoeira do Piriá 1.706 137º Aveiro 1.730 136º Terra Alta 1.759 135º Primavera 1.794 134º Muaná 1.808

Fonte: SEPOF/IBGE, 2008.

Tabela 23. Municípios paraenses com maior participação da administração pública no Valor Adicionado Total 2002-2006 (%).

Municípios 2002 2003 2004 2005 2006

Jacareacanga 59.69 59,24 58,64 60,28 59,19 Curralinho 56,43 59,77 60,48 60,22 57,43 Melgaço 55,13 57,52 57,56 57,89 56,10 Faro 54,21 54,23 54,85 53,75 55,85 Aveiro 56,37 57,11 58,22 58,26 54,92

Fonte: SEPOF/IBGE, 2008.

9.2. A Infra-estrutura atual da região do ED e as projeções futuras.

No Pará e em toda a região amazônica, as hidrovias constituem-se de

importantes vias de transporte de cargas e passageiros entre os municípios. Para

incrementar esse potencial, a Companhia de Portos e Hidrovias (CPH) do Pará foi

reativada e um diagnóstico das condições infra-estruturais de pequenos e médios

portos públicos em cerca de 80 municípios do Pará foi realizado pela Secretaria de

Integração Regional, e as ações já estão adiantadas no sentido de formalização de

convênios entre o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT) e o

Governo do Estado. Algumas obras já estão em fase de construção. A idéia é

aproveitar o enorme potencial do Estado (cerca de 10 mil quilômetros navegáveis), que

englobam todas as regiões de integração, e construir portos com previsão para

conclusão ainda em 2010. Para o baixo Amazonas, mais precisamente nos municípios

de Óbidos e Juruti estão previstos investimentos da ordem de R$ 15 milhões para cada

Page 81: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

81

município. Mais R$ 2,8 milhões para o terminal hidroviário – flutuante e rampa de

Oriximiná.

Na região do baixo Amazonas, o porto de Santarém vem sendo responsável

pelo escoamento da produção de soja, que injeta recursos na economia da região.

Figuras 14 e 15 – Detalhes do porto de escoamento de grãos de Santarém e o contraponto do porto convencional, com a chegada e saída de produtos comercializados e transportados em pequenas embarcações.

Outro ponto forte da infra-estrutura do baixo Amazonas, mais especificamente

na região de Santarém é a conclusão da BR-163, a Santarém-Cuiabá, que irá estimular

o transporte hidroviário para o escoamento da produção de grãos oriundos,

principalmente, do Mato Grosso e provocar a construção de um novo porto previsto

para Santarém.

No Brasil poucas regiões apresentam atrativos em termos de infra-estrutura de

transportes para escoamento da produção em moldes intermodais como a região em

estudo, mas ao mesmo tempo preocupante quanto aos impactos ambientais. A hidrovia

Tapajós-Teles Pires dá essa perspectiva, como saída da fronteira agrícola das regiões

norte e nordeste do Mato Grosso e centro-sul do Pará. A hidrovia do Tapajós-Teles

Pires pode ser considerada uma importante opção de implementação do comércio

exterior, com sensíveis reflexos para geração de empregos e surgimento de novos

empreendimentos. O rio Tapajós, afluente da margem direita do rio Amazonas, tem 851

km de extensão até a confluência dos rios Teles Pires e Juruena. Sua foz, junto a

cidade de Santarém, está a cerca de 950 km de Belém e 750 km de Manaus.

A hidrovia pode proporcionar inúmeros benefícios regionais e ser peça

fundamental na consolidação do Estado de Mato Grosso e parte do centro-oeste como

celeiros mundiais da produção de grãos, mas não se pode evitar as perdas ambientais

decorrentes desta consolidação.

Page 82: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

82

Por isso, a hidrovia Tapajós-Teles Pires é hoje objeto de reflexão e de estudos

por parte de Organismos Governamentais e Não Governamentais e de meios

empresariais, por conjugar uma perspectiva de desenvolvimento regional e do

comércio exterior, com baixo custo, segurança e eficiência, mas em harmonia com a

natureza.

São inegáveis as vantagens ambientais do transporte hidroviário, quando

comparado ao rodoviário ou ferroviário. Os estudos realizados demonstraram que o

custo médio de transporte pela hidrovia Tapajós-Teles Pires, entre a região de

cachoeira Rasteira, MT e Santarém, PA, é de cerca de R$ 10,20 / t, permitindo projetar

uma economia acumulada no custo de transporte equivalente a R$ 158.755.000 nos

primeiros 6 anos de operação da via. Considerando-se que a estimativa global de

custos para tornar os rios Tapajós e Teles Pires navegáveis, da sua foz até a região de

cachoeira Rasteira (1.043 km), é da ordem R$ 148.541.755,00 (set./97), desta forma, a

economia de fretes gerada, será suficiente para pagar integralmente o custo de

implantação da hidrovia neste período, o que atesta a viabilidade econômica do

empreendimento.

A análise dos custos de transporte a ser criado pela hidrovia e outras

alternativas de saída para os grãos produzidos na área de influência, mostrou que as

economias são relevantes, variando da ordem de R$ 5,00/t até R$ 37,00/t conforme o

município e as distâncias de transporte até os portos de embarque.

A área de influência para grãos é da ordem de 800.000 Km², abrangendo 38

municípios do estado do Mato Grosso, além dos municípios paraenses de : Rurópolis,

Uruará, Medicilândia, Altamira e os 4 municípios componentes do ED: Itaituba,

Santarém, Juruti, Aveiro.

Atualmente, a única rodovia que atinge o rio Tapajós é a BR-230

(Transamazônica) que cruza o curso d'água em Itaituba. De importância para a região,

além da Transamazônica, há a rodovia BR-163 (Cuiabá - Santarém) em estado

precário de tráfego no Estado do Pará e as rodovias de Mato Grosso, que cruzam a

parte superior da bacia contribuinte do rio Tapajós a montante da confluência dos seus

formadores. Estas vias têm particular interesse porque direcionam à hidrovia as cargas

provenientes da rica zona agrícola do norte do Mato Grosso e Centro - Oeste do País.

A recuperação e o acabamento das rodovias BR-163 (Santarém-Cuiabá) e BR-

230 (Transamazônica) estão incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento

(PAC) do governo federal.

Page 83: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

83

O que se pensa para a região é um eixo de desenvolvimento do oeste paraense

integrado pela Santarém/Cuiabá e pela Hidrovia do Tapajós, com utilização racional e

integrada dos recursos hídricos, visando o desenvolvimento sustentável, de baixo

impacto ambiental, com o aproveitamento da inter e intra modalidade entre as BR- 163

e BR-230 e a hidrovia, de modo a externalizar a produção agrícola para fronteiras

nacionais e internacionais e internalizar os efeitos positivos gerados pela exploração

dos recursos minerais e hídricos do Estado, possibilitando a geração de oportunidades

de investimento.

Figura 16 – Aspecto atual da BR-163 (Santarém-Cuiabá)

10. Caracterização e descrição das áreas de uso comunitário, unidades de

conservação, áreas prioritárias para conservação, terras indígenas e áreas quilombolas adjacentes aos lotes de concessão

No conjunto de glebas Mamurú Arapiuns foram visitadas pela equipe da UFRA 20

comunidades, das quais 16 situam-se nos eixos dos rios Mamurú e Arapiuns, em áreas

adjacentes aos lotes de concessão florestal, portanto sofrendo e exercendo influência

direta destas áreas, objeto do RAP.

Destas 16 comunidades, 8 são do eixo do rio Arapiuns e outras 8 do eixo do rio

Mamurú, são elas:

Eixo do rio Mamurú: Vila Sabina, Vila Mocambo, Jaratuba, Sumaúma, Guaranatuba,

Nossa Senhora de Lourdes, Monte Carmelo e Mirizal.

Eixo do rio Arapiuns: Cachoeira do Aruã, Camará, Curí, Monte Sião, Novo

Horizonte, Novo Paraíso, São José II e São Luiz.

Page 84: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

84

Todas elas foram georreferenciadas com GPS e a partir de questionários aplicados,

foram coletadas informações de toda ordem com os moradores, que permitiram a

confecção no LSR/ Ideflor de mapas com informações sobre as áreas utilizadas pelas

respectivas comunidades, tais como: direções, distâncias, seguidas e percorridas, para

coleta dos produtos da terra e da floresta, caça e pesca, estabelecendo-se uma superfície

aproximada das mesmas. (Ver Anexo - Lista de Mapas)

Com relação às condições de acesso a estas comunidades estudadas, 75% delas

declararam acesso fluvial, assim se considerarmos os rios como corredores como

corredores naturais de conexão social, isso significa uma função que liga os sistemas

sociais comunitários com outros sistemas fora da comunidade.

São cerca de 3.070 pessoas que vivem nas comunidades estudadas. Em relação

aos habitantes do Entorno Dinâmico, representam 0,75% da população total; 0,84% dos

moradores urbanos e 2,2% da população recenseada como rural.

Um outro aspecto interessante do trabalho nas comunidades diz respeito à opinião

dos entrevistados sobre a mudança do ambiente, onde 95% dos entrevistados

responderam que o ambiente em que vivem está mudando, 70% acham que estas

mudanças etão afetando a vida e o trabalho na comunidade

Com relação à água, não parece existir uma percepção dos entrevistados quanto a

agentes químicos poluindo as águas e apenas uma comunidade do eixo do rio Mamurú

reportou este fato. No entanto, os igarapés e rios como fonte de suprimento são vistos

como “sujos” por 55% do total de entrevistados, com uma variação relativa que indica a

existência desse problema e dessa relação com o meio ambiente.

Com relação à noção das comunidades sobre o que acontece nos arredores para

mais de 90% dos entrevistados existe a ocorrência de áreas já desmatadas, Já com

relação à questão do desmatamento ocorrendo em matas ciliares, para a maioria (>75%),

não há desmatamento nesse importante tipo de vegetação circundante das nascentes, rios

e igarapé.

Quanto ao uso da terra com atividades que podem comprometer a qualidade

ambiental, procurou-se saber da existência de atividades minerais e uso de poluentes

químicos no solo. Para 95% das comunidades estudadas, não existe presença de

mineradoras e para 100% das comunidades estudadas, não existe presença de extratores

de areia, barro e seixos..

Para todas as comunidades, não existe ocupação das terras indígenas existentes

nessa Área de Influência do estudo.

Page 85: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

85

Com relação à preocupação dos entrevistados com o processo de efetivação das

concessões florestais, cerca de 63,7% dos entrevistados não veem a Concessão Florestal

como a melhor alternativa de desenvolvimento sustentável para a região.

Nas adjacências dos lotes de concessão florestal existem 3 áreas de florestas

públicas destinadas para comunidades locais, são elas: Aruã, Vista Alegre e Repartimento.

As demais áreas, do bloco territorial de glebas Mamurú Arapiuns, constituem-se de floresta

estadual não destinada, que são aquelas florestas em que as terras estão arrecadadas e

matriculadas pelo Estado, mas ainda sem destinação definida.

Há ainda nas adjacências dos lotes de concessão do conjunto de glebas Mamurú

Arapiuns a Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns, que fica no limite oriental dos lotes de

concessão e o Parque Nacional da Amazônia, situado ao sul do lote 8 da área de

concessão florestal.

No que tange às terras indígenas nas adjacências dos lotes de concessão cabe

salientar que à sudoeste dos lotes de concessão existe a terra indígena Andirá Maraú e

que os povos indígenas tem o direito originário às suas terras, garantido pelo instituto do

indigenato, além disso, possuem o usufruto exclusivo dos recursos ambientais. Para a Lei

de Gestão, as terras indígenas são classificadas como de proteção integral, portanto

excluídas da concessão.

Com relação às áreas quilombolas, não foram identificadas nas adjacências das

áreas dos lotes de concessão, nem tampouco relatadas sua ocorrência pelos

entrevistados nas comunidades visitadas, neste caso, as comunidades remanescentes de

quilombos possuem título definitivo que lhes garante o acesso ao território e aos recursos

ambientais. Por serem consideradas áreas privadas, a Lei de Gestão também as exclui da

concessão florestal.

11. O Processo de concessão florestal e os potenciais impactos negativos

ambientais e sociais e ações para prevenção e mitigação pelo órgão gestor.

11.1. Contextualização

Existem atividades econômicas desenvolvidas tanto por povos e comunidades

tradicionais e agricultores familiares, quanto por grupos econômicos que ocupam em

geral as áreas do conjunto de glebas Mamuru-Arapiuns.

Page 86: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

86

As principais atividades desenvolvidas pelas comunidades são: extrativismo

(borracha, madeira para construção de canoas, extração de cipós, óleos de andiroba,

cumaru e copaíba e castanha-do-brasil), pesca, extração da borracha e agricultura de

subsistência (mandioca, macaxeira, milho, feijão, palha, ervas medicinais, frutos, etc.),

criação de pequenos animais e caça.

A extração de óleo de pau-rosa é apresentada como potencial devido essa área

ter sido uma fornecedora desta espécie há muitos anos. A renda rural nessa área é

incipiente, registrando-se poucos excedentes.

As comunidades tradicionais abordadas pelos estudos desenvolvem padrões de

uso dos recursos naturais que repercutem nos processos sociais comunitário, fato que

impõe às políticas públicas, como o PAOF, atenção especifica com as diferentes

modalidades de recursos que ocorrem ou surgem no espaço da concessão.

Os solos, como já foram mencionados anteriormente, são elementos

fundamentais para que se possam conhecer os impactos decorrentes das concessões

e/ou do uso mais intensivo por parte das comunidades. Assim, no conjunto de glebas

Mamurú - Arapiuns, a classe de solo predominante é a dos latossolos, dominância

estimada em 290 km2, ou seja, quase 90% do total mapeado. São solos favoráveis ao

uso intensivo, tanto com atividades agropecuária, quanto florestal. Essa aptidão

manifesta passa a exigir atenção com a exploração agropecuária, pelas implicações da

atividade com o desmatamento e a degradação do solo. Já a exploração florestal, em

bases sustentáveis, reúne maiores condições de adaptabilidade a essa classe de solos.

Outro fator de grande importância quanto ao uso da terra e as relações sociais

derivadas diz respeito à cobertura vegetal. Gleba e comunidades do entorno geográfico

a cobertura vegetal tem predominância da floresta ombrófila, cuja exploração, mesmo

de caráter sustentável, requer cuidados quanto às relações sistêmicas que as mesmas

desencadeiam e também se a sua ocorrência perfila em topografias acidentadas que

podem estar ao abrigo do Código Florestal como áreas destinadas a preservação

permanente, portanto excluída da concessão. Pode-se indicar que os tipos de uso da

terra existentes nas comunidades do entorno geográfico das Glebas Mamurú -

Arapiuns, seguem a tendência do uso da terra dos municípios que lhes servem de

abrigo

A floresta nativa ocupa a maior fração das superfícies municipais.

Aproximadamente 2,5 vezes maior que as frações com os usos agrícola e pecuário,

embora o uso com a pecuária já supere, embora ligeiramente o uso com a agricultura,

Page 87: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

87

fato que merece consideração devido ao impacto que causa na floresta e no solo o

avanço da pecuária.

Uma população que gravita em torno de umas 5.000 pessoas vive, reside nessa

geografia e retira parte do seu sustento dos recursos que a natureza lhes oferta. A

maioria são adultos jovens, de ambos os gêneros, o que traduz uma PEA disponível

para o trabalho que deve ser oferecido pelas empresas concessionárias. São nativos da

região e das comunidades, em maioria, embora essa predominância seja mais

percebida nos eixo fluvial do rio Arapiuns e seus afluentes Maró e Aruã, em razão, do

processo de ocupação ser mais antigo. Esse nativismo é francamente percebido no

trato com a floresta, nas atividades de caça e pesca, no extrativismo vegetal e nos

materiais empregados nas habitações. Existe assim uma dependência muito forte da

biodiversidade do meio, fator que deve ser considerado nos planos de outorga florestal.

Essa dependência confere a população apresentar uma composição da renda auferida

do tipo “multiflex”, ou seja, inúmeras “entradas” (em geral mais de 10 itens) dão origem

a composição da renda, inclusive transferências governamentais, entretanto as “saídas”

possibilitadas pela “renda multiflex” não vão além, para a grande maioria dos comunas

(60%), de uma renda menor que 1 SM (2009). Assim as concessões podem de vários

modos melhorar a capacidade financeira das comunidades e seus moradores, não

apenas pela oferta de empregos diretos e indiretos, para ambos os gêneros, mas

também pelas possibilidades de agregação de algum valor aos produtos oriundos das

concessões. Nessa direção torna-se crucial o fortalecimento (emponderamento?) das

atuais organizações sociais presentes nas comunidades como igrejas, sindicatos e

associações comunitárias, as quais devem exercer a missão e o papel fulgurante na

resolução dos conflitos que se manifestarão ao longo do processo de ocupação da terra

com as atividades de caráter capitalista das empresas concessionárias.

A concessão florestal pode constituir-se numa nova alternativa de

desenvolvimento para a região das Glebas Mamurú-Arapiuns, com grande potencial

para a geração de empregos e renda.

O desenvolvimento econômico de uma região não pode, no entanto, sacrificar

suas outras riquezas existentes no momento de implantação dessas áreas de

concessão. O patrimônio histórico e ambiental das comunidades tradicionais, precisa

ser preservado e conservado, como forma de verdadeiro modelo de desenvolvimento

humano, em moldes sustentáveis de utilização dos recursos encontrados.

Page 88: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

88

No que se refere à flora, a área que abrange há necessita de um plano diretor

como ferramenta principal de gestão do uso florestal local. A análise do levantamento

efetuada nesse estudo demonstra a forte ação antrópica sob a forma de exploração

madeireira, principalmente nas áreas do rio Arapiuns, cuja demanda naturalmente

existente por madeira - já que são áreas em expansão populacional os efeitos aos

estoques florestais passam a ser potencialmente trágicos caso não ocorra medidas

preventivas e que garantam a manutenção da diversidade local.

O aparecimento de espécies heliófilas como embaúba e outras espécies do

gênero Cecropia e, ainda, outras espécies de comportamento heliófilo, contribuem para

a conclusão de medidas mitigadoras dos danos causados pela extração de madeira. A

andiroba, cuja abundancia foi considerada baixa em comparação com outras regiões é

uma espécie que é bastante influenciada pela ação antrópica. Espécies comerciais de

ocorrência local considerada rara como a cedro, mogno, cumaru e espécies contidas na

lista de espécies ameaçadas de extinção (IN-Ibama N° 6), precisam ser mantidas como

matrizes e assim recuperar os estoques reduzidos pela atividade madeireira.

Para esses estudos vindouros é imprescindível que haja a manutenção da

paisagem florestal, a priori, nas áreas das comunidades próximas as áreas de

concessão. Uma das alternativas para maximizar essas ações seriam o treinamento e

sensibilização de agentes comunitários voluntários que moram próximo à área em

questão, coibindo a exploração madeireira fora das áreas de concessão mitigando o

vandalismo.

A preservação de matrizes de espécies florestais é outra recomendação

prescrita. Essências florestais como a cedro e mogno, por exemplo, cujos indivíduos

são poucos na área de estudo, deverão ser protegidos como garantia de dispersão de

sementes e reintrodução de novos indivíduos da espécie na floresta. Além disso, o

controle sobre a exploração madeireira pode aumentar os estoques florestais para

essências regionalmente pressionadas como a virola, a andiroba, o cedro e o angelim

rajado (espécie na lista ameaçadas de extinção, segundo o Ibama).

A proteção de mananciais deverá ocorrer, uma vez que muitos nascentes

poderão ser afetados pela implantação das áreas de concessão, que a curto e médio

prazo pode acarretar o desaparecimento de córregos e igarapés, desequilibrando o

ecossistema local, sobretudo na dispersão de sementes e regeneração natural de

diversas espécies nativas cujo regime de hidratação seja rigoroso.

Page 89: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

89

Estudos sistemáticos sobre a influência futura da área de concessão na floresta

são recomendados nesse estudo pela verificação da ação antrópica que deverá ocorrer

a partir da efetivação da concessão a floresta local estará sujeita a um nível maior de

agressão, justificando assim a necessidade imediata de um planejamento da gestão

ambiental e territorial para as áreas das Glebas Mamuru-Arapiuns.

É impossível fazer uma análise puramente social ou ambiental do processo de

concessão de áreas para exploração florestal na região do Mamurú-Arapiuns sem

considerarmos importantes aspectos mercadológicos envolvidos, e que assumem uma

importância vital para as comunidades tradicionais do micro entorno assim como para

as populações residentes do macro entorno (ED), mas especificamente das

comunidades espalhadas pela gleba Mamurú-Arapiuns e circunvizinhanças no primeiro

caso e pelas populações dos municípios de Santarém, Jurutí, Aveiro e Itaituba no

segundo caso.

As considerações aqui traçadas tomam por base os estudos realizados na

região do Mamurú-Arapiuns previsto no PAOF, mais precisamente os estudos de oferta

e demanda de produtos madeireiros e não madeireiros, coordenados pelo professor

Antônio Cordeiro de Santana e a Pesquisa Sócio Ambiental na Região do Mamurú-

Arapiuns, em seus aspectos mais ligados ao mercado, coordenada pelo professor

Manoel Malheiros Tourinho, ambos da UFRA.

Sem proceder a uma revisão de qualquer metodologia aplicada pelos

pesquisadores, iremos aqui tentar sintetizar as principais conclusões a que chegaram

estes estudos de sorte a conhecer os impactos no processo de concessão aliados a

outros fatores também abordados neste RAR-RPro.

Segundo SANTANA (2008) a madeira é um dos produtos mais importantes no

que tange à gleba Mamurú-Arapiuns, quer seja na importância de sua exploração para a

economia da área, quer seja através das pressões de exploração que sofre em caráter

desenfreado e que o PAOF de certa forma tende a minorar, procedendo a

regulamentação e a fiscalização mais eficientes da exploração, que já está em

andamento atualmente com controle deficiente. Esta importância é percebida quando se

verifica que a madeira no Estado do Pará tem alto peso para o desenvolvimento,

gerando em 2007 (SANTANA, 2008) um consumo de US$ 4.48 bilhões e criando 12.590

empregos diretos e exportando US$ 991.76 milhões, o que representou 11,28% do total

exportado. Em relação apenas às exportações de madeira, o Estado do Pará participou

com 29,70% do total do Brasil, assumindo a segunda posição no ranking. Além disso,

Page 90: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

90

respondeu por 75% da madeira extraída de floresta nativa do país (DECEX, 2008 em

SANTANA, 2008). Por seu turno, a indústria moveleira do Estado do Pará, apesar da

disponibilidade de matéria-prima é bastante incipiente e sua participação nas

exportações de produtos madeireiros foi de apenas 0,27%. Ao considerar apenas as

exportações brasileiras de móveis, a participação do Pará foi de apenas 0,8%, em 2007

(DECEX, 2008 em SANTANA, 2008), o que denota uma baixíssima verticalização da

produção, ao passo em que sinaliza paradoxalmente, um potencial extraordinário para

agregação de valor neste segmento, desde que iniciativas do poder público sejam

levadas a efeito para o estímulo deste importante segmento.

Segundo a pesquisa de oferta e demanda de SANTANA (2008), além dos

produtos madeireiros, os produtos não-madeireiros que constam nas estatísticas de

exportação são o palmito de açaí, a castanha-do-pará, os óleos essenciais, as

sementes, as gomas, as cascas, as folhas e os peixes ornamentais, porém em

magnitudes pequenas, onde, para se ter uma idéia, em 2007, o valor exportado destes

produtos somou apenas US$ 27.35 milhões. Os demais produtos não madeireiros não

constam nas estatísticas oficiais.

Os municípios da região Mamurú Arapiuns: Itaituba, Aveiro, Santarém e Juruti,

destinam parte da produção madeireira para o mercado internacional (SANTANA,

2008), sendo a intermediação feita por empresas-matriz instaladas em Belém ou por

meio de outras empresas também da Região Metropolitana de Belém. Em função disso,

não foram encontradas as estatísticas de exportação destes municípios. Quanto aos

produtos não madeireiros, a oferta se destina principalmente ao mercado local. Apenas

uma parte irrisória é destinada ao mercado internacional. Como a transação também é

feita por intermediários, não se dispõem das informações.

A análise do mercado de produtos madeireiros e não-madeireiros, geralmente

apresenta uma abordagem parcial, com ênfase nos segmentos que utilizam a madeira e

produtos não-madeireiros como insumo principal. São os casos dos segmentos de

celulose e papel, das empresas madeireiras de produtos serrados, laminados e

artefatos; do segmento de móveis; das indústrias de higiene e limpeza que utilizam

óleos e produtos da floresta; da indústria de cosméticos e de fármacos que utilizam

essências e princípios ativos das plantas para fabricarem produtos de alto valor

agregado. No entanto, o setor florestal madeireiro e não-madeireiro e os demais

produtos que configuram a economia da natureza, possuem dinâmica própria,

determinada pela oferta de madeira em tora e de produtos não-madeireiros e pela

Page 91: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

91

produtividade total do ecossistema das áreas de floresta. Mesmo que cada produto

defina uma cadeia produtiva específica e os diversos níveis de mercado entre sua

extração e o consumidor final, as condições que definem a sua dinâmica de

desenvolvimento estão centradas no marco regulatório legal para a gestão das áreas de

florestas públicas, em regime de concessão.

Neste contexto, o mercado dos produtos madeireiros e não-madeireiros da área

de estudo está fortemente dependente da eficiência operacional das ações a serem

desenvolvidas pelo arranjo institucional que responde pela regulação dos planos de

manejo sustentáveis. Invariavelmente surgem os questionamento de ordem prática para

estas questões:

1. O arranjo institucional local terá condições estruturais para coordenar as

atividades de exploração, processamento e distribuição dos produtos madeireiros e não

madeireiros da área Mamurú Arapiuns?

2. Quais os impactos sobre o mercado de produtos madeireiros resultantes da

implantação do marco regulatório em relação à competitividade sistêmica das cadeias

produtivas?

3. Qual o tipo de organização empresarial deve ser implantado para alavancar a

trajetória de desenvolvimento local e sustentável, a partir dos planos de manejo e das

áreas de florestas públicas?

Estes são apenas alguns pontos levantados por SANTANA et al no estudo

realizado na área em 2008 e para responder a estas perguntas, a hipótese é que o

marco regulatório define a competitividade sistêmica, mas sua implantação gerou

grande choque de eficiência na cadeia produtiva, em função da exigência da exploração

sustentável dos recursos naturais.

Diante disso, os mercados estão operando com alto grau de incerteza e custo

de transação, dada a assimetria no fluxo de informação e o oportunismo dos agentes.

Nesta perspectiva, o estudo de mercado da região do Mamurú-Arapiuns adotou uma

metodologia, fundamentada na cadeia produtiva e nos mercados que se definem nas

transações de oferta e demanda entre os extratores e as indústrias processadoras, e

entre estas e as empresas que distribuem os produtos, que resultam do desdobramento

da madeira ou do beneficiamento e fabricação de artesanatos para as empresas que

fazem a sua distribuição para os diversos mercados: local, regional, nacional e

internacional. Em cada mercado, existe um custo de transação gerado por informação

assimétrica e comportamento oportunista dos agentes. Estas atitudes se desenvolvem

Page 92: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

92

em função do comportamento das ações do arranjo institucional que regula as cadeias

produtivas, daí a necessidade de compreender a dinâmica do mercado como uma

organização regulada por diversas forças além da simples operacionalidade das leis de

oferta e demanda.

O objetivo geral da pesquisa do professor Antônio Cordeiro de Santana foi

analisar o mercado (oferta e demanda) de produtos florestais da região Mamurú-

Arapiuns, localizada entre os municípios de Itaituba, Aveiro, Santarém e Juruti, Estado

do Pará. Vale ressaltar que a pesquisa foi um pouco além e contemplou outros produtos

não-madeireiros encontrados na região da pesquisa.

11.2. Os potenciais impactos negativos ambientais e sociais e ações para prevenção e mitigação pelo órgão gestor.

A base para a identificação dos impactos negativos nos âmbitos ambiental e

social está na visão do PAOF como instrumento de controle social sobre o uso de

florestas públicas e na prioridade que representa a Outorga Florestal como destinação

não onerosa dos territórios outorgados a povos e comunidades tradicionais que utilizam

estes territórios, fazendo uso dos recursos naturais não apenas para suas

sobrevivências, mas para a própria reprodução social.

A quantificação dos impactos associados à implantação da infraestrutura e a

operação de colheita florestal, são de grande importância para a sustentabilidade

ambiental do manejo florestal. Os danos ambientais causados pelo manejo florestal

sobre o meio físico são, em geral, resultantes da extração de madeira em alta

intensidade (volume de tora acima de 30m3ha-1), com operações mal planejadas,

reduzindo ou comprometendo a capacidade de resiliência da floresta. As operações de

construção de estradas, ramais de arraste, pátios de estocagem e próprio arraste de

toras são operações que provocam grande impacto sobre o meio físico da floresta, e

principalmente sobre o solo. Portanto todas as atividades florestais necessárias à

condução do manejo devem ser planejadas e executadas de forma a causar o menor

impacto possível na vegetação natural, solo, fauna e recursos hídricos.

Um aspecto de fundamental importância refere-se à influência que a abertura do

dossel exerce sobre o estoque florestal em crescimento. Sabe-se que a floresta

responde de forma diferente a diferentes intensidades de abertura do dossel. Clareiras

Page 93: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

93

abertas naturalmente na floresta exercem efeitos positivos sobre a dinamização do

processo de crescimento e regeneração natural. Entretanto, grandes aberturas

provocadas por explorações mal planejadas e intensivas poderão provocar

desequilíbrios no ecossistema, e proliferação de espécies indesejáveis.

Outro aspecto importante é a perda de nutrientes resultantes da exploração

madeireira. Sabe-se que a maior quantidade de nutrientes na floresta tropical

amazônica encontra-se na fitomassa aérea. Em função disso, é essencial que o manejo

florestal considere a exportação de nutrientes representados pela colheita de madeira,

definindo intensidades de colheita condizentes com o estoque da floresta, no caso do

Conjunto de Glebas Mamurú-Arapiuns a produtividade está entre 15 e 30 m3ha-1. O

resíduo florestal, principalmente a galhada, deve ser aproveitada, isso provoca um

rebaixamento da galhada, e consequentemente não fica na floresta aquele amontoado

de biomassa que inviabiliza o crecimento da regeneração natural na área de queda da

árvore

No âmbito ambiental a consideração inicial a ser feita é a necessidade de se

manejar a floresta à luz da teoria de sistemas, ou seja, a percepção de que o manejo

florestal a ser implementado pelo PAOF deve verificar no território as relações

sistêmicas presentes nas diversas interações: floresta-floresta; floresta-solo; floresta-

fauna, floresta-água e floresta- comunidade humana. Isso significa que mesmo o mínino

de perturbação decorrente da exploração florestal compromete as relações sistêmicas

movidas a partir da mata. Daí a necessidade de se definir um tamanho de área florestal

explorada que, sem comprometer a sustentabilidade do meio, permita ganhos para o

empreendimento. Assim o próprio conceito de sustentabilidade opera como um conceito

de mão ou via dupla, com ganhos ambientais e ganhos financeiros; isso significa os

concessionários das florestas públicas, trabalharem com lucros civilizados, podendo

inclusive o poder público criar políticas compensatórias à limitação do lucro das

empresas, uma vez que, como se sabe, o lucro está na contramão ao processo de

exploração sustentável.

Ao elencar impactos negativos ambientais, os mais severos dizem respeito a

três componentes naturais: O primeiro é concernente à perda da biodiversidade. Por

não se conhecer amplamente a biodiversidade dos recursos naturais existentes nas

glebas, tornam-se necessários e indispensáveis que o planos de manejos das

explorações florestais procurem preservar aquelas espécies ameaçadas de extinção ou

Page 94: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

94

ainda que apresentem uma ocorrência baixa na área, cuja eliminação pode

comprometer a reprodução local da espécie pela destruição dos bancos de sementes

ou outros meios de propagação. A biodiversidade não se restringe apenas a mata a ser

trabalhada, mas considerando que os estudos realizados como suporte ao PAOF

evidenciaram um larga utilização da caça e da pesca pelas povos tradicionais, é

necessário que os Editais de direcionamento das outorgas leve essa larga utilização em

consideração. Espécies que são tidas pelas comunidades como favorecedoras de alta

interação biótica com a fauna terrestre e a fauna aquática devem ser excluídas dos

processos de corte, embora integrantes dos planos de manejo sustentável. O mesmo

comportamento deve ser editado com respeito àquelas espécies não madeiráveis, com

largos e diversos usos pelos povos tradicionais, sejam para a confecção de utensílios,

remédios e construções variadas, conforme ficou demonstrado nos estudos de apoio

ao PAOF. A biodiversidade é assim um fator importante a ser considerado nos Editais

de Outorgas

Na sobrevivência do sistema fluvial e lacustre da região está potencializado

o segundo impacto perverso ambiental. A proteção dos rios, igarapés e lagos devem ser

tratados como participantes do Plano de Manejo Florestal. De um modo geral os povos

tradicionais das glebas podem ser vistos como “povos das àguas”. Nào apenas porque

moram à margem dos rios, mas, sobretudo porque é o rio que define o seu plano de

vida e a sua reprodução social. O rio coloca-se, além de supridor de alimentos, como

meio de acesso às vizinhanças, escolas, igrejas, postos de serviços, etc.. O rio cumpre

também funções de lazer e sincrético-religioso. Para os povos tradicionais,

parafraseando Leandro Tocantins: “o rio comanda a vida”. Os rios quando ausentes dos

planos de exploração da mata, deixam de considerar os estratégicos papeis que os

mesmo jogam no transporte e na penetração do interior da mata, em busca dos “centros

de cortes” É do amplo conhecimento de todos que, o criminoso desmatamento que vem

ocorrendo na região tem imposto aos rios e às suas águas pesados impactos tanto de

natureza quantitativa como a redução dos volumes de águas; como aqueles impactos

de natureza qualitativa pela presença de sedimentos minerais, inclusive metais pesados

como o mercúrio.

Finalmente um terceiro potencial impacto negativo de caráter ambiental diz

respeito ao uso da terra e mais especificamente às possibilidades de exaustão e

degradação do solo em razão da quebra do equilíbrio dinâmico existente na relação não

perturbada solo-planta. O equilíbrio solo-planta na Amazônia é descrito como um

Page 95: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

95

equilíbrio proveniente de uma relação frágil em que a simples eliminação da cobertura

vegetal traz conseqüências desastrosas ao solo. Embora pobres, os solos das glebas

mostram intensa atividade biológica, igual aos demais solos florestais amazônicos.

Quanto à gênese e à morfologia, os solos da região do Mamurú-Arapiuns são solos que

estruturalmente fazem parte da Bacia Sedimentar Amazônica. Os solos florestais aí

existentes são solos descritos como do tipo Latossolo Amarelo, de textura média a

argilosa, ácidos e geralmente com V% abaixo de 50%, o que indica uma fertilidade

mediana a baixa. O uso desses solos requer manejo adequado e a súbita exposição

dos mesmos a intemperização conduz rapidamente à perda da fertilidade devido as

elevadas temperaturas e a lixiviação. Quebrada as argilas coloidais tornam-se

facilmente disponíveis à erosão. Dependendo da situação em que se encontram quanto

ao relevo, o revolvimento da cobertura vegetal primária, mesmo sob o manejo mais

apropriado, pode ser critico.

É evidente que os impactos negativos decorrentes do mau uso dos três

recursos naturais acima considerados, são impactos que não se esgotam em si

mesmos, mas se desdobram em outros impactos secundários com mudanças

climáticas, perda de recursos genéticos, destruição de ecossistemas importantes para a

perpetuação da vida silvestre, enfim, para a própria organização social das populações

tradicionais cuja reprodução e a vida coletiva esta sincronizada com o uso equilibrado e

integrado dos recursos naturais.

Ações podem ser pensadas e implementadas pelo órgão gestor com a

finalidade de prevenir danos (maiores) e mitigar os efeitos do manejo florestal a ser

aprovado para as áreas concessionadas pelo PAOF dentro das glebas. Comentam-se

aqui as mais importantes relacionadas com os impactos previstos na biodiversidade,

nas águas e no solo. A perda da biodiversidade que fatalmente ocorrerá pode ser

brevemente mitigada pela oferta de um conjunto de atividades que conduzam os

empresários concessionados pelo PAOF a perceberem o valor da biodiversidade para

os povos da floresta, preocupação maior do PAOF, e para o próprio empreendimento

em termos da sustentabilidade ampliada do recurso florestal. Um programa de “indução

conscientizadora” sobre a floresta com ser vivo, com vida; inclusive a noção do humano

como parte da floresta. O valor cultural da floresta para os povos tradicionais e como a

mesma deve ser manejada para que os objetivos sejam colimantes e não

profundamente dissonantes. Programas assim organizado devem ter como

“professores” os próprios moradores das comunidades tradicionais e exploradores

Page 96: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

96

naturais das matas. Concepção de um Plano de Manejo que chamaríamos de Plano

para o Manejo Cultural da Floresta, onde aquelas espécies de valor cultural para as

populações tradicionais estariam consideradas, inclusive as espécies madeiráveis

ameaçadas de extinção e espécies não madeiráveis de valor cultural e valor biológico

como por exemplo espécies que favoreçam o artesanato, a construção de utensílios,

casas, ao sincretismos religioso local, a vida silvestre como alimento, abrigo, nicho de

acasalamento e maternidade (as chamadas àrvores-maternidades) de espécies da

fauna silvestre. O emprego de mateiros das comunidades pode ser um ótimo recurso

humano para o ajuste dos planos de manejo à realidade ambiental e sócio-cultural das

comunidades tradicionais. O melhor manejo florestal para garantir vida ao sistema fluvial regional deve ser viabilizado considerando as relações sistêmicas com o uso da

terra, a caça e a pesca. Nesse sentido a preservação das matas ciliares ou de galerias

é importante, devendo as mesmas ser consideradas como “reserva”, mantidas em

faixas, ao longo dos rios e cursos d’água e no entorno das matas dos igarapés e

pequenos cursos ribeirinhos. Dever haver uma exigência de que tais “reservas” ciliares

sejam faixas de no mínimo 100 metros de largura com a finalidade de atuar como

recanto de pasto da fauna e preservação da biodiversidade. O manejo florestal para a

exploração da madeira deve ser conduzido de tal modo seletivo que ao favorecer a

manutenção da biodiversidade, favoreça também a retenção ( barreira de vegetação)

dos sedimentos, evitando o arraste aos rios, lagos e igarapés pelas águas de “run-off”.

Quanto às ações que podem ser adotas pelo órgão gestor para uma melhor uso da terra nas glebas de exploração florestal concessionadas, comenta-se que as primeiras

derrubas seletivas devem ser naqueles solos mais aptos a absorver os impactos

negativos da eliminação da cobertura.ou seja os solos com textura mais argilosa e

menos arenosos; evitar cortes nas encostas ou pendentes, sendo então o manejo

inicialmente orientado para as áreas planas e argilosas, preferencialmente mais

afastados dos cursos dos rios e outros corpos aquáticos. A ideia seria estabelecer ciclos

de corte alternados entre aquela mata perfilada em solo com textura mais argiloso e

aquelas perfiladas em solos com textura menos argilosa.

Quanto aos potenciais impactos negativos sociais, eles são de duas ordens: os

impactos sociais de ordem macro e os impactos sociais de ordem micro. Os

impactos sociais macros são aqueles impactos que causam a completa desarticulação no interior das comunidades tradicionais, afetando os valores, a conduta ética e a moral

da comunidade. Em várias comunidades tradicionais da Amazônia se percebe o quanto

Page 97: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

97

projetos de infraestrutura, atividades minerais e instalação de serviços comerciais são

desarticuladores da vida e da solidariedade coletiva. No caso em tela um dos potenciais

impactos negativos de cunho social é derivado do fato de que o PAOF introduzirá nas

glebas processos de uso dos recursos florestais, talvez ainda não percebidas as suas

finalidades pelo povo comuna. A outra causa de desarticulação social das comunidades

e dos povos tradicionais está no fato das pressões pela “toma” do patrimônio natural

existente. Pelo menos três vetores de desarticulação comunitária estão presentes na

região: o vetor mineral que se apresenta como o mais forte e tem na extração da

bauxita pela ALCOA, o principal vetor de desarticulação. Ao lado da atividade mineral, o

avanço da frente produtora de grãos no eixo da BR-163 e a grilagem de terras,

principalmente no vértice das aproximações dos rios Mamurú e Arapiuns, são os outros

vetores de possíveis causas de desarticulação societária e comunitária. As

potencialidades à desarticulação são inúmeras e entre elas cita-se principalmente a falta

de um processo rápido e massivo de regularização fundiária enfocado para a terra

coletiva em vez da titulação individual. Quanto aos impactos sociais de ordem micro, são aqueles decorrentes de uma ação pontual da atividade econômica introduzida (no caso o PAOF e o Manejo Florestal) sobre um determinado sub-sistema social comunitário, com por exemplo, o subsistema familiar devido aos efeitos negativos

sobre a agricultura familiar e os padrões dominantes de uso da terra e da mata, em

favor da atividade econômica introduzida ou os efeitos sobre o sub-sistema político pela

negação da solidariedade, da ética e da boa conduta moral; todas qualidades cessantes

em favor do individualismo e dos interesses corporativos como propósitos do ideário

capitalista de desenvolvimento.

As ações que podem ser implementadas pelo órgão gestor, com vistas a

prevenção e/ou mitigação dos impactos sociais, são de duas ordens: aquelas que visam

o fortalecimento dos sistemas sociais comunitários na via de uma maior presença

do estado nas comunidades, ampliando e melhorando a oferta de serviços básicos a

população: saúde individual e coletiva, educação fundamental e funcional-

conscientizadora, abastecimento de água e saneamento básico, sistema de transporte

fluvial e rodoviário (restrito), comunicações eletrônicas, inclusive internet e suprimento

de energia elétrica. Este fortalecimento tem com beneficio direto o aumento da auto-

estima coletiva. O sentimento hoje dominante entre os povos tradicionais da região, é o

de serem percebidos pelo governo como “cidadão de segunda classe” Na região do rio

Mamurú, sobretudo na zona da embocadura com o rio Amazonas, um fato anotado

Page 98: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

98

pelas equipes de campo foi uma maior identidade da população com o estado

amazonense, ao invés do estado do Pará. O emponderamento das comunidades,

inclusive dos grêmios sociais, profissionais e religiosos, é importante para os

encaminhamentos do poder local comunitário, como por exemplo, nas decisões que

estabelecem as relações com as empresas madeireiras na busca da co-gestão dos

recursos naturais. A outra ordem de ações dize respeito a que, sob a custódia do

estado, surjam programas e projetos que busquem a sustentabilidade institucional do PAOF e de suas recomendações, na via de ações como a organização de Comitê

Gestor Permanente para monitorar as práticas conduzidas pelas empresas licenciadas

e pelas comunidades, reduzindo a potencialidade de conflitos latentes e manifestos

devido ao uso dos recursos naturais; a criação de “Milícias Comunitárias” para a

fiscalização dos desmatamentos irregulares e ocupações ilícitas, em formas de co-

gestão com os órgãos federais e estaduais ambientais, e a criação de “parques

industriais comunitários” para verticalização da produção local, tanto madeireira quanto

não madeireira.

12. Recomendações de restrições para a execução de atividades de manejo florestal.

Conforme já indicado no corpo deste RAP, alguns aspectos referentes ao uso

das áreas de concessão florestal do conjunto de glebas Mamurú Arapiuns, não podem

em hipótese alguma, ser desconsiderados, sob pena de causarem impactos sócio

ambientais de tal ordem que se tornem irreversíveis, com o agravante do efeito cascata

para toda a área de entorno. Por isso, é necessário um planejamento de gestão

ambiental e territorial da região.

Algumas recomendações são vitais e precisam ser fortemente consideradas

para aquela área, permitindo um uso racional e sustentável dos recursos ali existentes,

garantindo a preservação dos ecossistemas locais e a conseqüente permanência das

populações tradicionais na área e ao mesmo tempo, permitindo o desenvolvimento e o

acesso daquelas populações aos bens e serviços, pois não se pode admitir que sejam

colocadas em risco comunidades tradicionais ribeirinhas, etnias indígenas e negras

remanescentes, que já ocupam estas áreas há muito, bem como a biodiversidade, os

rios e cursos d´água diversos, tudo em conformidade com o princípio mais importante e

prioritário da outorga florestal, qual seja: “a destinação não onerosa do território a povos

Page 99: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

99

e comunidades tradicionais que utilizam este território e, conseqüentemente, fazem uso

sustentável dos seus recursos naturais” (PAOF 2010).

Quanto às recomendações de restrições para a execução de atividades de manejo florestal, visando diretrizes dos processos licitatórios, este RAP consideraria as

seguintes recomendações:

1. Total respeito às terras comunitárias legalizadas e/ou reconhecidas pelo

estado, sendo a inflação causa de suspensão imediata do contrato de concessão;

2. A mão de obra contratada não deve ser recrutada fora das comunidades, ou

seja, toda a mão de obra utilizada nas atividades florestais, tanto de caráter técnico

quanto para-técnico deve ser recrutado nas comunidades, evitando assim o

recrutamento externo. É preciso considerar a existência de uma disponibilidade da

ordem de 50% de homens e mulheres adultas nas comunidades. Criação de

oportunidades especiais para as mulheres e idosos;

3. Os PMF devem ser rigorosos na preservação maior da biodiversidade interna

das áreas; agir de acordo com as recomendações sobre espécies endêmicas, em

extinção, etc;

4. Monitoramento de grupos de espécies da fauna (vertebrados e

invertebrados), principalmente aquelas que sofrem maior pressão de caça e/ou

encontram-se ameaçados de extinção, como por exemplo, o mutum, a paca, o tatu, o

veado, a anta e os felinos, estes últimos ameaçados pela caça predatória. Essa

atividade deve estar prevista nos Planos de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) e

deve ser monitorada através de relatórios anuais e verificação in loco;

5. Implantação de Plano de Manejo de Uso Múltiplo dos Recursos Naturais,

através da elaboração de planos de manejo de caça pelas comunidades da área e do

entorno, onde deve ser estabelecido o calendário de caça, a restrição de captura de

filhotes e fêmeas, principalmente no período reprodutivo, e a restrição da caça de

espécies ameaçadas de extinção como o tamanduá-bandeira, o peixe-boi-da-Amazônia,

a anta e o mutum, entre outras regras e acordos a serem definidos a partir da

participação comunitária, pesquisadores, extensionistas e dos representantes dos órgão

ambientais;

6. Apoio e participação em projetos de pesquisa que visem o monitoramento da

biodiversidade faunística, incluindo os recursos pesqueiros, atividade essa que pode ser

Page 100: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

100

monitorada através das publicações científicas, relatórios de pesquisa, convênios com

as instituições e entrevista com os pesquisadores;

7. Apoiar a elaboração e execução dos acordos de pesca e incentivar o manejo

participativo das principais espécies consumidas pelas comunidades;

8. Contribuir para a capacitação das comunidades impactadas pelo

empreendimento e fortalecimento de instituições, ações e programas voltados à

conservação da biodiversidade e à redução do comércio ilegal da fauna silvestre

amazônica;

9. Não eliminar uma só arvore das matas ciliares, matas de galerias, matas de

proteção de nascentes;

10. Não permitir o uso de quaisquer produtos de natureza química, como

desfolhantes, etc., considerados prejudiciais à natureza e a vida humana;

11. Não usar o expediente de comprar ou beneficiar madeira de outras áreas

e/ou protegidas, correndo o risco de suspensão das atividades concedidas e logo

cassação do licenciamento, tudo visando assegurar ações fortes do estado contra o

ilícito;

12. Evitar o corte raso em áreas de ocorrência de solos frágeis, permitindo a

permanência de espécies de grande porte, favorecidas por profundo e extenso sistema

radicular e volume de derrama;

13. Recuperação e ampliação da malha viária de acesso aos lotes de

concessão florestal, garantindo o escoamento de produtos madeireiros e não

madeireiros e o acesso a produtos, bens e serviços;

14. Atenção especial com o município de Aveiro, com políticas públicas de

resposta rápida, devido ao alto grau de dependência a recursos públicos e,

considerando que o lote 8, o maior deles, com quase 100.000 hectares, situa-se quase

inteiramente no município;

15. Os solos predominantes dos lotes de concessão possuem características

intrínsecas favoráveis, que lhe conferem uma boa aptidão para a agricultura,

especialmente produção de grãos, manejo florestal e pecuária, desde que observados

os sistemas de manejo adequados às peculiaridades locais;

16. Preservação de matrizes de espécies florestais sob risco, para garantir a

dispersão de sementes e a reintrodução das espécies;

Page 101: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

101

17. Fortalecimento da agricultura familiar nas comunidades próximas às áreas

de concessão, através de financiamentos públicos;

18. Instalação de postos de saúde, escolas e saneamento básico nas

comunidades próximas das áreas de concessão florestal;

19. Apoio ao associativismo para agregar valor à produção das comunidades;

20. Assistência técnica da SAGRI na área, com vistas a melhoria da

produtividade e à agregação de valor aos produtos, inclusive oriundos da extração;

21. Desenvolver um Programa de Educação Florestal nas comunidades de

entorno da área de concessão, para desmistificar o manejo florestal e mostrar as

vantagens da adoção de procedimentos tecnicamente corretos, economicamente

viáveis, socialmente justos e ambientalmente comprometidos com o mínimo impacto

para aproveitar os produtos florestais;

22. Considerando o uso tradicional pelas comunidades, recomenda-se restrição

de exploração de algumas espécies pelas concessionárias, a saber: Cipós - cipó-açú,

cipó-ambé e cipó-titica; Cascas – carapanaúba e preciosa; Óleos: andiroba, copaíba,

cvumarú, piquiá e sucuúba; Frutos: açaí, bacaba, buriti, castanha-do-Pará, patauá,

piquiá, tucumã e uxi;

23. Programas integrados que proporcionem às comunidades alternativas de

produção de renda irão contribuir para que não haja conflito nos lotes de concessão

florestal.

Page 102: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

102

13. Referências bibliográficas

• AB SABER, Aziz. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas, São Paulo, Ateliê Editorial, 2003.

• ARAÚJO, A. P., JORDY FILHO, S. & FONSECA, W. N da. A vegetação da Amazônia brasileira. In: I Simpósio do Trópico Úmido. 1984, Belém. Anais... Belém: EMBRAPA-CPATU, 1986. 493p. p.135-152.(EMBRAPA-CPATU. Documentos, 36).

• As Concessões de Florestas Públicas na Amazônia Brasileira: Um manual para pequenos e médios produtores florestais / Mariana Ribeiro Balieiro, Ana Luiza Violato Espada, Octávio Nogueira, Roberto Palmieri e Marco Lentini – Piracicaba: Imaflora, SP; Belém: IFT, PA, 2010. 204p. ISBN: 978-85-98081-36-6

• BORGES, M. L. O. & De FARIA, D. M. Impacto da atividade da caça na biodiversidade. VII Congresso Internacional sobre Manejo de Fauna Silvestre na Amazônia e América Latina. Anais do VII Congresso Internacional sobre Manejo de Fauna Silvestre na Amazônia e América Latina. Ilhéus, 2006. v. único.

• CORRÊA, M. S. O alerta da história. Revista Veja, São Paulo, 24 de dezembro de 1997. nº1527.

• DEAN, W. A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das letras, 1997. Tradução: Cid Knipel Moreira.

• EMBRAPA. Zoneamento Ecológico-Econômico da área de influência da rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém). Belém: EMBRAPA, 2007. 101 p.

• FERRARI, A. T. Fundamentos de Sociologia. São Paulo, McGraw – Hill do Brasil Ltda, 1983.

• GOCH, Y. G. F.; PICANÇO, J. R. P. Diversidade de peixes do rio Mamuru e afluentes. In: Diagnóstico de fauna na região do interflúvio Mamuru-Arapiuns, Pará, Brasil. Relatório Final, 2009. p.92-107.

• GOODE, William J.. The Sociology of the Family in Sociology Today, Vol.I, Merton, Robert K. et al. New York. Harper & Row. P.178-196. 1959.

• IBGE. Manuais Técnicos em Geociências nº 1. Manual Técnico da Vegetação Brasileira. IBGE, Rio de Janeiro, 1992. 94p

Page 103: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

103

• INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 06, de 23 de setembro de 2008. Ministério do Meio Ambiente / Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA.

• Inventário Florestal Diagnóstico do Conjunto de Glebas Estaduais Mamurú Arapiuns - Pará, Relatório Final,, Santarém, Pará, 2010, SEAT Terraplenagem Ltda

• MARX, K. Manuscritos Econômico-Filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2004.

• MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE, SECRETARIA DE BIODIVERSIDADE E FLORESTAS. 2007. Áreas prioritárias para conservação, uso sustentável e repartição dos benefícios da biodiversidade brasileira, versão 2.2.

• OLIVEIRA, A. C. M.; CARVALHO JUNIOR, O.; CHAVES, R. Gestão participativa e a atividade de caça na reserva extrativista do Tapajós – Arapiuns, Santarém, PA. Raízes, Campina Grande, vol. 23, nº 01 e 02, p. 42–51, jan./dez. 2004.

• PELEJA, J. R. P.; SILVEIRA, O. T. Diagnóstico de fauna na região do interflúvio Mamuru-Arapiuns, Pará, Brasil. Relatório Final, 2009.

• Plano Anual de Outorga Florestal, 2010, Ideflor, Ago 2009

• Projeto BIOTA PARÁ. Listagem Final das espécies da flora paraense ameaçadas de extinção. Belém-Pará, junho/2006.

• Projeto de Desenvolvimento Comunitário, Museu Paraense Emilio Goeldi, 2009.

• SARMENTO, J. F. M.; CHALKIDIS, H. A herpetofauna da região do interflúvio Mamurú-Arapiuns. In: IDEFLOR, DIAGNÓSTICO DE FAUNA NA REGIÃO DO INTERFLÚVIO MAMURU-ARAPIUNS, PARÁ, BRASIL. 2010. 249p.

• STACEY, M. The Myth of Community Studies. In: The Sociology of Community. Editores: Colin Bell & Howard Newby. Frank Cass and Company Limited, 1974.

• UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA – UFRA. Pesquisa Socioambiental na região Mamuru-Arapiuns. Relatório Final. 2009

• UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA - UFRA. Caracterização do Mercado de Produtos Florestais Madeireiros e Não-Madeireiros da Região mamurú Arapiuns. Relatório Final, 2008

• WANDERLEY, M. de N. B. Raízes Históricas do Campesinato Brasileiro. Anais do II Encontro de Pesquisa sobre a Questão Agrária nos Tabuleiros Costeiros de Sergipe

Page 104: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

104

– Agricultura Familiar em Debate. Editado por Edson Diogo, Dalva Maria da Mota e Walane Maria Pereira de Mello Ivo. Aracaju: Embrapa – CPATC, 1997.

• ZUG, G. R., VITT, L. J., & CALDWELL, J. P. 2001. Herpetology. An introductory biology of amphibians and reptiles. Academic press. 630p.

Page 105: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

105

14. Anexo 14.1. Tabelas 14.1.1. Tabela 1. Lista das espécies de mamíferos ameaçadas de extinção no Brasil e respectivas

categorias de ameaça - Ministério do Meio Ambiente, Instrução Normativa nº 3, de 27 de maio de 2003) - CR: (Criticamente em Perigo); EN (Em Perigo); VU (Vulnerável).

Ordem Família Espécie Vernáculo Categoria de Ameaça

Didelphimorphia Didelphidae Caluromysiops irrupta

Cuíca-de-colete CR

Pilosa

Bradypodidae Myrmecophagidae

Bradypus torquatus Myrmecophaga tridactyla

Preguiça-de-coleira Tamanduá-bandeira

VU

VU

Cingulata Dasypodidae Priodontes maximus

Tatu-canastra VU

Tolypeutes tricinctus

Tatu-bola VU

Chiroptera Phyllostomidae

Vespertilionidae

Lonchophylla dekeyseri Platyrrhinus recifinus Lonchophylla bokermanni Myotis ruber Lasiurus ebenus

Morcego Morcego Morcego Morcego Morcego

VU

VU

VU

VU

VU Primates

Atelidae Cebidae

Alouatta guariba guariba Alouatta ululata Ateles belzebuth Ateles marginatus Brachyteles arachnoides Brachyteles hypoxanthus Cebus kaapori Cebus robustus Cebus xanthosternos Saimiri vanzolinii Callithrix aurita Callithrix flaviceps Leontopithecus caissara

Guariba

Guariba-de-mãos-ruivas Macaco-aranha Coatá Muriqui Muriqui Macaco-caiarara Macaco-prego Macaco-prego-de-peito-amarelo Macaco-de-cheiro Sagüi-da-serra-escuro Sagüi-da-serra Mico-leão-de-cara-preta

CR

CR

VU

EM

EN

CR

CR

VU

CR

VU

VU

EM

CR

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106

Pitheciidae

Leontopithecus chrysomelas Leontopithecus chrysopygus Leontopithecus rosalia Saguinus bicolor Cacajao calvus calvus Cacajao calvus novaesi Cacajao calvus rubicundus Callicebus barbarabrownae Callicebus coimbrai Callicebus melanochir Callicebus personatus Chiropotes satanas Chiropotes utahicki4

Mico-leão-de-cara-dourada Mico-leão-preto Mico-leão-dourado Sagüi-de-duas-cores Uacari-branco Uacari-de-novaes Uacari-vermelho Guigó Guigó-de-coimbra-filho Guigó Guigó Cuxiú-preto Cuxiú

EM

CR

EM

CR

VU

VU

VU

CR

CR

VU

VU

EM

VU

Carnivora Canidae Mustelidae Felidae

Speothos venaticus Chrysocyon brachyurus Pteronura brasiliensis Leopardus pardalis mitis Leopardus tigrinus Leopardus wiedii Oncifelis colocolo Puma concolor capricornensis Puma concolor greeni Panthera onca

Cachorro-vinagre Lobo-guará Ariranha Jaguatirica Gato-do-mato Gato-maracajá Gato-palheiro Onça-parda Onça-parda Onça-pintada

VU

VU

VU

VU

VU

VU

VU

VU

VU

VU

Cetacea Balaenidae

Eubalaena australis

Baleia-franca-do-sul

EM

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107

Balenopteridae Physeteridae Iniidae

Balaenoptera musculus Balaenoptera physalus Balaenoptera borealis Megaptera novaeangliae Physeter macrocephalus Pontoporia blainvillei

Baleia-azul Baleia-fin Baleia-sei Jubarte Cachalote Toninha ça

CR

EN

VU

VU

VU

ENa

Sirenia Trichechidae Trichechus inunguis Trichechus manatus

Peixe-boi-da-amazônia Peixe-boi-marinho

VU

CR

Artiodactyla

Cervidae

Blastocerus dichotomus Mazama nana

Cervo-do-pantanal Veado-bororó-do-sul

VU

VU

Rodentia

Echimyidae Erethizontidae Cricetidae Ctenomyidae

Callistomys pictus Carterodon sulcidens Phyllomys unicolor Phyllomys brasiliensis Phyllomys thomasi Chaetomys subspinosus Juscelinomys candango Kunsia fronto Phaenomys ferrugineus Rhagomys rufescens Wilfredomys oenax Ctenomys flamarioni

Rato-do-cacau Rato-de-espinho Rato-da-árvore Rato-da-árvore Rato-da-árvore Ouriço-preto Rato-candango Rato-do-mato Rato-do-mato-ferrugíneo Rato-do-mato-vermelho Rato-do-mato Tuco-tuco

VU

CR

CR

EM

EM

VU

CR

CR

VU

VU

CR

VU

Page 108: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

108

14.2. Mapas

14.2.1. Mapa georreferenciado da comunidade cachoeira do Aruã

Page 109: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

109

14.2.2. Mapa georreferenciado da comunidade Camará

Page 110: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

110

14.2.3. Mapa georreferenciado da comunidade Curí

Page 111: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

111

14.2.4. Mapa georreferenciado da comunidade Forca

Page 112: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

112

14.2.5. Mapa georreferenciado da comunidade Guaranatuba

Page 113: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

113

14.2.6. Mapa georreferenciado da comunidade Jaratuba

Page 114: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

114

14.2.7. Mapa georreferenciado da comunidade Mirizal

Page 115: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

115

14.2.8. Mapa georreferenciado da comunidade Mocambo

Page 116: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

116

14.2.9. Mapa georreferenciado da comunidade Monte Carmelo

Page 117: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

117

14.2.10. Mapa georreferenciado da comunidade Monte Sião

Page 118: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

118

14.2.11. Mapa georreferenciado da comunidade Novo Horizonte

Page 119: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

119

14.2.12. Mapa georreferenciado da comunidade Novo Paraiso

Page 120: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

120

14.2.13. Mapa georreferenciado da comunidade Samaúma

Page 121: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

121

14.2.14. Mapa georreferenciado da comunidade São José

Page 122: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

122

14.2.15. Mapa georreferenciado da comunidade São Luiz

Page 123: Relatório Ambiental Preliminar das áreas de concessão florestal do

123

14.2.16. Mapa georreferenciado da comunidade Vila Sabina