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RELATO DE UM CASO ATENDIDO EM MULTIDISCIPL~ARID..u>E Autoras: Toya Lorch Lenci Terapeuta Ocupacional formada na Pontifícia Universidade Católica de Campinas. com especializa- ção no Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da Universidade Federal de São Paulo- EPM. End: R. Conde D'Eu 173, Alto da Boa Vista. São Paulo-SP Marina Corrêa Guimarães Médica formada pela Faculdade de Medicina do ABC, cursando o segundo ano de residência em Psiquiatria na Universidade Federal de São Paulo-EPM. Aluna do Centro de Estudos de Terapia Ocupacional End: R. A1catrazes60 apto 83, Saúde. São Paulo-SP Cristiane Seixas Duarte Psicóloga formada pela Universidade de São Paulo, com especialização no Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da Universidade Federal de São Paulo-EPM. End: R. dos Tamanãs 358, Alto de Pinheiros. São Paulo-SP Resumo: Apresentamos aqui a descrição de um paciente e do atendimento que este vem recebendo, desde setembro de 1994, no ambulatório do Departamento de Psiquiatria do Hospital São Paulo, O atendimento caracteriza-se pela integração do trabalho de Terapia Ocupacional e Psiquiatria. Para obter tal percepção optamos pelos relatos em separado de ambos os atendimentos, após a apresenta- ção do caso, e uma conclusão em conjunto, onde participamos a complementariedade de nosso trabalho e a importância dos vínculos estabelecidos com o paciente. Palavras chave: Terapia Ocupacional, Multidisciplinaridade, Atendimento Ambulatorial. RELATODE UM CASO ATENDIDO EM MULTIDISCIPLINARIDADE INTRODUÇÃO Este paciente fez um percurso diferente dentro da instituição. Foi en- caminhado da triagem diretamente para a terapia ocupacional. Foi a terapeuta que sentiu a necessidade de uma segun- da avaliação e solicitou o acompanha- mento psiquiátrico. Iniciamos o relato deste caso apresentando o paciente, sua queixa e sua história. Em seguida rela- tamos a relação terapêutica e o desen- rolar dos atendimentos separadamente: primeiro com a psiquiatra e em seguida com a terapeuta ocupacional pois acha- mos importante analisar nossos papéis complementares. O PACIENTE G. é um rapaz de 20 anos, soltei- ro, nascido em São Paulo, numa famí- lia simples e católica. Mora num baitTo residencial da periferia de São Paulo e parou de estudar no primeiro colegial pelo mesmo motivo que o trouxe ao nosso serviço. Nos conta através de uma carta escrita por ele sobre suas queixas, seus sintomas e sua falta de perspecti- va na vida. Conta que não consegue mais sair de casa pois percebe que to- das as pessoas o observam e dão risad.. do seu corpo "tão magro". i\a es.:c ~ deveria apresentar uma peça de te~~ -: Página 21 '- no final do ano e por não conseguir se expor, abandonou o curso. G. perma- necia dentro de casa cuidando de sua sobrinha de 4 anos e se esquivava mes- mo das visitas. Às vezes colaborava com a mãe nas atividades domésticas mas isso não era frequente. Se precisa- va van-er seu quarto tent~ . a não apare- cer na janela para não c;crjulgado ho- mossexual. Se saía de C3ITC com seus pais não conseg ~ de'-Cer ~~ carro ao chegar num :,,~rque Cv ed~ do de- boche das ~'''-O.L.'' ~ e..;.,.. :l ~~gustia- do COPl e~~ ~ . _~~!., ~ !" ~ eT se ma~ur ' ri~n... '- -'e'gu..' ,.c:..."'"~d-J.::. ft"1 r~ ~. __ :;,;;: E ~e ""i",>_rt:c ~ L..

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Page 1: RELATO DE UM CASO ATENDIDO EM MULTIDISCIPL~ARID..u>E · al do filho. Estão construindo um novo cômodo no andar superior da casa para ... seqüente desesperança e evitação do

RELATO DE UM CASO ATENDIDOEM MULTIDISCIPL~ARID..u>E

Autoras:Toya Lorch LenciTerapeuta Ocupacional formada na Pontifícia Universidade Católica de Campinas. com especializa-ção no Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da Universidade Federal de São Paulo-EPM.End: R. Conde D'Eu 173, Alto da Boa Vista. São Paulo-SP

Marina Corrêa Guimarães

Médica formada pela Faculdade de Medicina do ABC, cursando o segundo ano de residência emPsiquiatria na Universidade Federal de São Paulo-EPM.Aluna do Centro de Estudos de Terapia OcupacionalEnd: R. A1catrazes60 apto 83, Saúde. São Paulo-SP

Cristiane Seixas Duarte

Psicóloga formada pela Universidade de São Paulo, com especialização no Departamento dePsiquiatria e Psicologia Médica da Universidade Federal de São Paulo-EPM.End: R. dos Tamanãs 358, Alto de Pinheiros. São Paulo-SP

Resumo: Apresentamos aqui a descrição de um paciente e do atendimento que este vem recebendo,desde setembro de 1994, no ambulatório do Departamento de Psiquiatria do Hospital São Paulo, Oatendimento caracteriza-se pela integração do trabalho de Terapia Ocupacional e Psiquiatria. Paraobter tal percepção optamos pelos relatos em separado de ambos os atendimentos, após a apresenta-ção do caso, e uma conclusão em conjunto, onde participamos a complementariedade de nossotrabalho e a importância dos vínculos estabelecidos com o paciente.

Palavras chave: Terapia Ocupacional, Multidisciplinaridade, Atendimento Ambulatorial.

RELATODE UM CASOATENDIDO EM

MULTIDISCIPLINARIDADE

INTRODUÇÃO

Este paciente fez um percursodiferente dentro da instituição. Foi en-caminhado da triagem diretamente paraa terapia ocupacional. Foi a terapeutaque sentiu a necessidade de uma segun-da avaliação e solicitou o acompanha-mento psiquiátrico. Iniciamos o relatodeste caso apresentando o paciente, suaqueixa e sua história. Em seguida rela-tamos a relação terapêutica e o desen-rolar dos atendimentos separadamente:primeiro com a psiquiatra e em seguida

com a terapeuta ocupacional pois acha-mos importante analisar nossos papéiscomplementares.

O PACIENTE

G. é um rapaz de 20 anos, soltei-ro, nascido em São Paulo, numa famí-lia simples e católica. Mora num baitToresidencial da periferia de São Paulo eparou de estudar no primeiro colegialpelo mesmo motivo que o trouxe aonosso serviço. Nos conta através de umacarta escrita por ele sobre suas queixas,seus sintomas e sua falta de perspecti-va na vida. Conta que não conseguemais sair de casa pois percebe que to-das as pessoas o observam e dão risad..do seu corpo "tão magro". i\a es.:c ~deveria apresentar uma peça de te~~

-: Página 21 '-

no final do ano e por não conseguir seexpor, abandonou o curso. G. perma-necia dentro de casa cuidando de suasobrinha de 4 anos e se esquivava mes-mo das visitas. Às vezes colaboravacom a mãe nas atividades domésticasmas isso não era frequente. Se precisa-va van-er seu quarto tent~ . a não apare-cer na janela para não c;crjulgado ho-mossexual. Se saía de C3ITC com seus

pais não conseg ~ de'-Cer ~~ carro aochegar num :,,~rque Cv ed~ do de-boche das ~'''-O.L.'' ~ e..;.,.. :l ~~gustia-do COPle~~ ~ ._~~!., ~ !" ~ eT se

ma~ur ' ri~n...'- -'e'gu..' ,.c:..."'"~d-J.::.

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cardíaco, uma persistência do canalinteratrial. Quando estava nervoso, fi-cava azulado e sem fôlego. Portanto foiprotegido de alguns castigos na infân-cia e recebeu especial atenção de suadedicada mãe, que corria com ele paravários médicos. Seu pai se aposentoupor uma dificuldade de deambulaçãoquando G. era ainda pequeno e partici-pou mais da infância dele que de seusirmãos. A mãe conta que o pai às vezesse irritava e batia no menino e foi então

acusado por ela de causar problemas nacriança. Aos 13 anos houve a remissãoespontânea da alteração cardíaca e omédico então autorizou: agora ele podeapanhar. G. não foi uma criança retraí-da e tinha vários amigos, mas ao seaproximar da adolescência começa aqueixar-se de suas orelhas de abano. Aos12 anos consegue uma cirurgia correti-va que as colocam em perfeita posição.Nessa época frequenta por pouco tem-po uma psicóloga que lhe faz uma pro-fecia. Ela diz que G. vai resolver esteproblema mas logo vai arranjar outrono lugar. Dito e feito: pouco tempo de-pois G. começa a se envergonhar de seucorpo, vai se tornando gradativamenteretraído até que hoje, 8 anos depois nãoconsegue mais sair de casa sem sentir-se subjulgado. É nesta época tambémque sua irmã, que hoje tem 31 anos,casa-se e traz o marido para morar numaparte desta mesma casa. Até então exis-tia um forte laço entre eles que semprese divertiam juntos. A irmã diz que otratava como um filho, estando semprea presenteá-Io, mas que após seu casa-mento houve um afastamento entre eles

e G. nunca se aproximou de seu cunha-do que queixava-se dessa distância.Oterceiro filho morreu acidentado quandoG. tinha 16 anos. Seu irmão mais velho

tem hoje 36 anos e foi alcoólatra durantealgum tempo. Hoje não bebe, mora emoutro bairro com sua esposa, mas G. nun-ca foi visitá-Ios, apesar do convite do ir-mão. Conta sobre uma empregada comquem se envolveu e chegou a ter um re-lacionamento sexual no banheiro de casa.

Sua mãe, que já havia passado com o fi-lho em mais de um psiquiatra antes, vemmuito ansiosa à consulta. Diz que todos

os seus filhos sempre foram saudáveise só este veio a lhe dar problemas.Acha-o infantil para a idade e expressapreocupação quanto à identidade sexu-al do filho. Estão construindo um novo

cômodo no andar superior da casa paraque no futuro este filho possa alugá-Ioe ter então um sustento caso não consi-

ga trabalhar.

RELATO DOATENDIMENTOPSIQUIÁTRICO

Começo a atender G. no início deoutubro de 94. Nos meus primeiros en-contros com G. tenho dificuldade de

saber qualquer fato de sua vida que nãoesteja relacionado ao sintoma. Ele con-ta sobre sua dificuldade de vir ao hos-

pital pela hostilidade das pessoas na ruaque dão risada de seu corpo. Não acusaespecialmente uma ou outra parte docorpo. Não consegue olhar-se no espe-lho pois sente-se mal quando o faz. Falaem morrer pois sente-se incapaz e infe-rior. Logo na primeira consulta, e, atépor sugestão dele, encaminho-o ao am-bulatório de neuroendocrinologia parauma análise objetiva de desenvolvimen-to pôndero-estatural. Em algumas sema-nas recebo uma carta do

endocrinologista dizendo que G. apre-senta desenvolvimento adequado e do-sagens das taxas hormonais e examesde rotina normais, recebendo alta doambulatório. G. recebe estes dados ra-

cionais com grande indiferença. Pareceque sua vida toda se limita à críticaextemalizada de seu corpo com sua con-seqüente desesperança e evitação domundo ao redor. Tanto eu como as pes-soas com quem dividi a supervisão destecaso e os familiares que entrevistei, sen-tem uma ambigüidade no ar. G. tem tra-ços delicados na face, é uma pessoameiga e fala em tom baixo e um poucoinfantilizado. Mas se por um lado falta-lhe um traço masculinizante, por outrotambém não se mostra feminilizado.

Seria como um adolescente, mas já tem20 anos. Traz um sintoma persecutórioque mais parece uma distorção da rea-lidade mas G. já abandonou a escola e

o' Página 22 '0

quase não sai mais de casa. Ser'_início de uma psicose e '''izofreniforme? Paira o desânimo r-:sante das doenças de mal progr.~.-Mas faltam-lhe outros ,,-'

psicopatológicos que direcionen; :"tal diagnóstico, e, seus sentiment~.tristeza e desesperança parecem ge~nos pois sua afetividade está muitc ~_

sente no contato. Dirigimos entàl, _so raciocínio no sentido de uma de;-rsào delirante, ficando agora no ar ~ :'"

ocupação impactada pejo risco de .cídio. Na tentativa de sair da amb~dade solicito a realização de um :.:de Rorschach (descrito no final de :;;;

to), e em seguida começo a medk__paciente com um antipsicé'(tioridazina), do qual fez uso pcr _

mês.

G. retoma após as festas do fi~...ano queixando-se de excessiva seJa.. ~efeito colateral do remédio, e apro: _ r

a depressão do humor. Chora muit~ -rante a consulta e expressa sua fa:wperspectiva e a decisão de aband,,~ _-tratamento. Tento então refazer n

vínculo e mudo a medicação par... _antidepressivo tricíclico (cl -pramina). G. começa aos poucos '"ter uma melhora no humor e disp' _

ção para sair de casa. Sua auto e5;"começa a ganhar espaço e podemos ..versar sobre outros assuntos que -~

apenas a doença. Ainda não enc~_espelho mas já começamos com Ir..cuidado a falar de seu mundo inter-

Aparece um amor platônico por y

menina que mora perto de sua CiL'_ele tenta aproximar-se dela. Teme ..recaída mas começa novamente a ~,'_alizar-se e expressa forte gratidão pc'tratamento. Hoje posso elaborar ..

melhor classificação diagnóstica pa:-.caso, mas neste momento importa '-entar o quanto foi importante acc..-sua identidade ameaçada, seus se'"mentos de desvalia e criar um cal'"_onde foi possível falar sobre a falta "!

sente da irmã, da distância ecompetitividade do pai, do carinho esuperproteção da mãe, do medo devar um fora da menina, etc.

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RELATO DOATENDIMENTO EM

TERAPIA OCUPACIONAL

No primeiro atendimento G. pe-diu para passar com umendocrinologista pois acreditavaque sóum médico poderia ajudá-Io, uma vezquejá teria tentado tratamentocom umapsicóloga sem sucesso. Para tentar es-tabelecer algum tipo de vínculo, nomomento em que ele disse "quero quealguém que trabalha em hospital diga averdade sobre meu corpo",pedi para elese levantar e andar pela sala e percebique nesse momento G. se sentiu aco-lhido e à vontade. Após analisá-Io, dis-se que não percebia nada de estranhoem seu corpo, mas que empatizava como seu sofrimento, uma vez que sua vidaestava comprometida pela sua dificul-dade de sair de casa.

Nos atendimentos seguintesG. trou-xe repol1agensde revistas com trechosgrifados sobre depressão e insegurançae a partir disso descrevia como se sen-tia. A impotência que ele vivia frente àssuas dificuldades passaram a contagiara relação paciente-terapeuta pois paraambos os problemas pareciam insolú-veis. Além disso fiquei em dúvida deuma gravidade maior, pois percebiacomponentes delirantes nas suas quei-xas, solicitando assim um acompanha-mento psiquiátrico.

Frente a dificuldade de continuar

enfatizando questões referentes à doen-ça, tentei abordar outros temas e desco-brimos um que agradava a ambos: mú-sicas dos anos 70. Durante os três aten-

dimentos seguintes escutávamos músi-cas antigas, ora trazidas por ele, ora pormim. G. justificava seu gosto musicaldizendo que as músicas o faziam lem-brar de uma época em que era feliz. Autilização das músicas propiciou umespaço para que G. falasse mais sobreseu passado. como por exemplo, a nos-talgia do tempo em que saía para pas-sear de carro com sua irmã.

Houve uma meU'or... ne humor e as

queixas relacionadas com as questõesfísicas tomaram-se menos frequentes.Nesse momento G. recebeu resultado

dos exames endocrinológicos, porémpara minha surpresa, não demonstrouempolgação, decepção ou curiosidadeperante os mesmos, dizendo apenas:"omédico disse que eu estou dentro doslimites inferiores".

Concomitantemente ao recebimen-

to dos exames, eu assinalei para G. amelhora que eu havia percebido. Nessemesmo atendimento ele referiu que ti-nha um outro problema: não conseguiareconhecer as cores. Não sabia expli-car se a sua dificuldade era perceber(sensorial) ou nomear (cognitiva) oumesmo quando surgira a tal dificulda-de. Diantedo esvaziamentoda suaquei-xa e pelos sorrisos discretos que davaenquanto tentava reconhecer as cores,pensei que estivesse fazendo uma subs-tituição de sintomas. Realizamos umapintura mas G. logo perdeu a paciên-cia, pois não tolerou o fato de ter erra-do o traçado. Apenas após minha insis-tência concordou em tentar solucionar

o problema, mas ao final da atividadenão ficou satisfeito com o resultado. G.após este atendimento nunca mais trou-xe sua dificuldade para reconhecer co-res. Em outro atendimentoG. desenhou

doiscarros usando régua e lápis. Segun-do ele, um seria o carro dos seus so-nhos e o outro após perguntar detalhessobre o meu carro, seria o meu. Percebiuma atitude mais sedutora de sua partee pela primeira vez percebi um espaçopara abordar de uma forma maisdescontraída suas paqueras. G. falousobre uma garota pela qual tinha inte-resse mas não tinha coragem.dese apro-xImar.

Após três semanas de férias ematendimento apenas verbal, G. disse quese sentia melhor, mas que em algunsmomentos ainda ficava muito insegu-ro, como por exemplo no natal,quandonão saiu de casa para festejar com a fa-mília. Abordou o tema da paquera masainda não se sentia seguro para procurá-Ia, atribuindo suas dificuldades às inse-guranças com seu corpo. Procurei dis-

" Página 23 '.

criminar O proble-"'ü u.2~--'i..': é co-mumas pessoastere~ u " ~.. .w..le para

se declarar, mesmo qu~~.~ ~:' b-~~ltase seguras.Pelaprimeir.. .CL:'...,.. "-obre

a possibilidade de fazer um~ ficha paraprocurar emprego.

Após faltar em um atendimento re-tomei essa questão, agora enfocando sesua falta era conseqüência da sua difi-culdade em sair de casa ou de outra coi-

sa comum a todas as pessoas: pregui-ça. Sugeri que tentasse reconhecer aorigem das suas dificuldades, pois eleestava num momento de transição en-tre o isolamento e o contato com difi-

culdades que há muito tempo ele nãoenfrentava.

Iniciamos um projeto para fazer ummóbile-vitral e apesar da elaboração deum projeto inicial, a cada atendimentosurgia uma dificuldade: o traçado teveque ser refeito várias vezes cortávamosno lugar errado. Surpreendeu-me comoele gradualmente foi conseguindo so-lucionar as dificuldades, e, a partir doserros surgiu um novo tipo de clima en-tre nós, pois começamos a rir das nos-sas "trapalhadas". Um dia G. disse queera esse tipo de dificuldade que ele en-contrava nos trabalhos da escola e pornão conseguir solucionar, perdia a pa-ciência e os deixava de lado.

A cada atendimento,contavaalgodenovo que estava fazendo como porexemplo: o curso de computação,a pro-cura de emprego, passeios ao shopping,e um dia, a caminho do atendimentoparou num sebo e comprou 2 discos.Embora sua melhora ainda seja frágil eo seu medo de piorar presente, procuroa cada atendimento conversar sobre es-sas novas experiências com o objetivode valOlizar seus avanços e principal-mente deixá-Io com um registro dessebem estar.

TESTE DE RORSCHACH

o exame pelo método de Rorschachrevela alguns elementos interessantes'G. tem uma preocupação restrita pe:cmeio ambiente, bastante influepci=:~

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por fantasias infantis (%A=56). A ma-neira como percebe este ambiente é bas-tante rígida, principalmente nas situa-ções que envolvem mais diretamente aafetividade (%F coloridas = 92,3).Nota-se também uma grande suscepti-bilidade aos estímulos afctivos menos

socializados (Imp= 1,17). Uma grandesusceptibilidade de um lado e rigidez erestrição por outro, sugere a existênciade mecanismos defcnsi vos atuando.

Um aspecto marcantc do protocolode G. que merece ser comentado é apareialização das figuras humanas, quetambém poderia ser formulada comouma incapacidade de consideração dooutro na sua totalidade e complexidade(1-1=0;p (-)=5). Fica também evidente adesvita1ização do humano (prancha IV:"pode parecer um corpo e uma escultu-ra. Agora só vejo a escultura."). E~tetipode dauo nos faz pensar, com base na teo-ria das relações objetais , que G. tenhatido dificuluades com uma figura que pu-desse ter sido usada como modelo, o queacaba por gerar problemas na percepçãodo outro, no aproveitamento dos rclacio-

namentos bem como no estabelecimento

de umà identidade segura (M=O; m= I).Os vários elementos agressivos presen-tes no protocolo provavelmente contribu-em para dar aos relacionamentos uma to-nalidade ameaçadora.

Vários dados levam-nos a supor umadificuldade no contato contigurando umdilema em termos de proximidade, não-proximidade (na prancha IX vê váriosbichos que depois diz monstroscmpilh."ivs, justapostos, mas sem ne-nhuma relação).

De modo geral, vários elementosdescritos parecem estar a serviço daevitação da intregração c, conseqÜen-temente, da relação.

CONCLUSÃO

No início do atendimento ficamos

ambas impactadas pelo sofrimento dopaciente que vinha se arrastando há tan-to tempo. A sensação de impotência e aparalisia vivida por nós frente a difícilcompreensão do quadro fez com que

1

nossa primeira atitude fosse de a~10junto com sua angústia e a an'>~do sintoma paranóide. Tal mo\ ir ~

permitiu o gradual alívio da ten,,~terna e o aparecimento de um sem.to de contiança em nós, resultap.~formaçãode uma fortealiança. NL".

dimento de terapia oeupacional fli' ...

~ívcl envolvê-Io em um projetl"\pôde exercer sua criatividade e ~ .

rância à frustração, melhorandauto-estima e desenvolvendo tk\ ~

dade frente às novas situações. Ncdimenro clínico psiqui~ltrico foi r .veluma intervenção no ambiente._liar trazendo às consultas seus far'"

res, permitindo uma importante tftApercepções entre eles, al~m do ü'"

mcdicamentoso. Após oito mese". ~

ecoemos que uma etapa cio atend-to se completou quando ouvimcontar que esteve numa loja de re apesar da insegurança quc senti"te ao espelho, conseguiu compra!calça jeans. Notamos que ele pa"estabelecer um contato mais prcom seus ~entink~ntos e outras qlkdo seu dia a dia.

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