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Relato de Experiência UMA VIVÊNCIA NO CONTEXTO ESCOLAR: ENSINANDO O CÍRCULO E SEUS ELEMENTOS ATRAVÉS DO SOFTWARE RÉGUA E COMPASSO GT 06 – Formação de professores de matemática: práticas, saberes e desenvolvimento profissional Arlete Kelm – UNIJUÍ – [email protected] Isabel Koltermann Battisti – UNIJUÍ- [email protected] RESUMO: Este artigo focaliza o uso de tecnologias informáticas em aulas de matemática considerando o software Régua e Compasso em atividades de cunho investigativo. Relata a experiência vivida em sala de aula com a 7ª série do Ensino Fundamental de uma escola estadual de Santa Rosa/RS a partir de uma interação proporcionada pelo projeto Ação na Escola, promovido pela disciplina de Prática de Ensino IV: Matemática no Ensino Fundamental, no segundo semestre de 2010. O desenvolvimento do referido projeto foi de fundamental importância para o meu processo de formação para ser professora de Matemática, consegui perceber o quanto é importante planejar as aulas levando em conta a realidade em que os alunos estão inseridos, e quanto isso possibilita ao professor tornar-se parte integrante desta realidade, promovendo, desta forma, o processo de ensino e aprendizagem. Palavras-Chaves: Ação na escola; tecnologias informáticas; experiência; aluno; professor. Introdução Uma das principais expectativas dos alunos do curso de Licenciatura em Matemática é ir para a sala de aula e ser regente desta, no entanto para chegarmos nesse nosso objetivo as disciplinas de Prática de Ensino preparam o acadêmico para este momento, estudos são realizados, os Documentos Oficiais são analisados e planos de aula elaborados. Segundo Dario Fiorentini e Franciana Carneiro de Castro: A prática de ensino e o estágio supervisionado podem ser caracterizados como um momento especial do processo de formação do professor em que ocorre de maneira efetiva a transição ou a passagem de aluno a professor. Essa inversão de papéis não é tranqüila, pois tensões e conflitos entre o que se sabe ou idealiza e aquilo que efetivamente pode ser realizado na prática (FIORENTINI e CASTRO, 2003, p.122). Com o intuito de fomentar o processo de formação do licenciando e sanar angústias, medos e dúvidas salientadas por Fiorentini e Castro, e também prepará-lo para o

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Page 1: Relato de Experiência - projetos.unijui.edu.brprojetos.unijui.edu.br/matematica/cnem/cnem/... · experiência vivida em sala de aula com a 7ª série do Ensino Fundamental de uma

Relato de Experiência

UMA VIVÊNCIA NO CONTEXTO ESCOLAR: ENSINANDO O CÍRCU LO E

SEUS ELEMENTOS ATRAVÉS DO SOFTWARE RÉGUA E COMPASSO

GT 06 – Formação de professores de matemática: práticas, saberes e desenvolvimento profissional

Arlete Kelm – UNIJUÍ – [email protected]

Isabel Koltermann Battisti – UNIJUÍ- [email protected]

RESUMO: Este artigo focaliza o uso de tecnologias informáticas em aulas de matemática considerando o software Régua e Compasso em atividades de cunho investigativo. Relata a experiência vivida em sala de aula com a 7ª série do Ensino Fundamental de uma escola estadual de Santa Rosa/RS a partir de uma interação proporcionada pelo projeto Ação na Escola, promovido pela disciplina de Prática de Ensino IV: Matemática no Ensino Fundamental, no segundo semestre de 2010. O desenvolvimento do referido projeto foi de fundamental importância para o meu processo de formação para ser professora de Matemática, consegui perceber o quanto é importante planejar as aulas levando em conta a realidade em que os alunos estão inseridos, e quanto isso possibilita ao professor tornar-se parte integrante desta realidade, promovendo, desta forma, o processo de ensino e aprendizagem.

Palavras-Chaves: Ação na escola; tecnologias informáticas; experiência; aluno; professor. Introdução

Uma das principais expectativas dos alunos do curso de Licenciatura em

Matemática é ir para a sala de aula e ser regente desta, no entanto para chegarmos nesse

nosso objetivo as disciplinas de Prática de Ensino preparam o acadêmico para este

momento, estudos são realizados, os Documentos Oficiais são analisados e planos de aula

elaborados. Segundo Dario Fiorentini e Franciana Carneiro de Castro:

A prática de ensino e o estágio supervisionado podem ser caracterizados como um momento especial do processo de formação do professor em que ocorre de maneira efetiva a transição ou a passagem de aluno a professor. Essa inversão de papéis não é tranqüila, pois tensões e conflitos entre o que se sabe ou idealiza e aquilo que efetivamente pode ser realizado na prática (FIORENTINI e CASTRO, 2003, p.122).

Com o intuito de fomentar o processo de formação do licenciando e sanar

angústias, medos e dúvidas salientadas por Fiorentini e Castro, e também prepará-lo para o

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Relato de Experiência estágio para que conheça os desafios, as dificuldades, a realidade, as alegrias e a interação

que pode e deve ser estabelecida entre professor e alunos, foi desenvolvido o projeto Ação

na Escola, relativo ao componente curricular do curso de graduação em Matemática –

Licenciatura, designado de Prática de Ensino IV: Matemática no Ensino Fundamental. A

minha interação foi desenvolvida com outra colega da disciplina, mas o relato é individual.

O relato aborda a intervenção realizada em uma escola estadual de Santa Rosa/RS

com a turma da 7ª série do Ensino Fundamental, sendo esta realizada em dois encontros no

total de 4 horas/aula. As aulas foram desenvolvidas no laboratório de informática, pois em

conversa com a professora da turma ela caracterizou os alunos apáticos e para chamar

esses adolescentes para a Matemática utilizamos como método de ensino o computador

visto que a tecnologia os fascina.

A turma estava estudando a circunferência e o plano de aula foi elaborado com o

propósito de ensinar circunferência utilizando o software Régua e Compasso. Foi proposto

aos alunos que no software Régua e Compasso construíssem uma circunferência e seus

elementos como também um ângulo inscrito numa circunferência e um ângulo inscrito

numa semicircunferência, após cada atividade fazíamos o processo de investigação, os

alunos chegavam a definição ao serem questionados das etapas da construção.

As tecnologias informáticas como ferramenta para o ensino e aprendizagem dos

conteúdos de Matemática

O PCN aponta “as tecnologias, em suas diferentes formas e usos, como sendo um

dos principais agentes de transformação da sociedade pelas modificações que exercem nos

meios de produção e por suas conseqüências no cotidiano das pessoas” (1998, p.43).

Estudiosos mostram que a aprendizagem é influenciada, cada vez mais, pelos

recursos da informática sob esse cenário, a tecnologia é um desafio para a escola, pois o

seu trabalho foi tradicionalmente apoiado na oralidade e na escrita, e agora surge a

necessidade de incorporar novas formas de comunicar e conhecer.

O recurso tecnológico é um dos métodos com maior potencialidade de envolver os

alunos, pois os adolescentes estão inseridos nesse mundo tecnológico e o domina, ele

mesmo constrói as figuras, o aluno percebe as características, os elementos envolvidos,

professor e aluno, aluno e aluno interagem, o professor questiona formaliza. Ao explorar os

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Relato de Experiência potenciais o método estabelecesse a relação professor- aluno que é colocada no PCN

(1998) o aluno sendo protagonista da construção de sua aprendizagem, o papel do

professor tem a dimensão de organizador e facilitador da aprendizagem, mediador,

incentivador e avaliador.

A utilização dos recursos da informática no âmbito educativo possibilitam segundo

Valente (1999 apud KAMPFF, 2006) a atuação do educador como mediador,

possibilitando ao educando a construção do conhecimento, através da análise,

experimentação e depuração de idéias:

(...) se o educador dispuser dos recursos da informática, terá muito mais chance de entender os processos mentais, os conceitos e as estratégias utilizadas pelo aluno e, com essa informação, poderá intervir e colaborar de modo mais efetivo nesse processo de construção do conhecimento. (...) O uso do computador permite a realização do ciclo descrição – execução – reflexão – depuração – descrição, no qual novos conhecimentos podem ser adquiridos na fase da depuração. Quando uma determinada idéia não produz os resultados esperados, ela deve ser burilada, depurada ou incrementada com novos conceitos ou novas estratégias. Esse incremento constitui novos conhecimentos, que são construídos pelo aluno (VALENTE, 1999 apud KAMPFF, 2006).

Descrição da aplicação do projeto Ação na Escola

A professora titular da turma em conversa caracterizou os alunos apáticos, e como

seriam apenas dois encontros de dois períodos, queríamos plantar uma semente no

processo de ensino e aprendizagem de Matemática nessa escola utilizando como

metodologia de ensino as tecnologias da comunicação através do Software Régua e

Compasso para ensinar a circunferência, pois o computador potencializa a construção dos

conhecimentos.

A situação de ensino foi desenvolvida em sala de aula o que foi importante pois a

professora do componente curricular sugeriu como desenvolver a situação de ensino com

os alunos utilizando o computador, baseadas em atividades já realizadas pelo pesquisador

Vinicius Pazuch, depois que professora da disciplina de Prática de Ensino IV: Matemática

no Ensino Fundamental revisou o plano de aula, ele foi desenvolvido com 18 alunos no

laboratório de informática da escola.

Inicialmente fizemos um questionamento oral aos alunos se a professora de

Matemática já havia trabalhado algum conteúdo através do computador e eles responderam

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Relato de Experiência que não, o que considero lamentável pois a escola possui um laboratório de informática

equipado com computadores novos e eficientes.

A professora já havia iniciado o estudo da circunferência com os alunos por isso

questionamos o que já aprenderam sobre a circunferência, pois é importante levar em conta

o conhecimento prévio dos alunos na construção da aprendizagem com significados. Eles

se lembraram da fórmula que calcula as medidas e não da definição da circunferência. O

PCN (1998) aponta que a abordagem de conceitos, idéias e métodos sob a perspectiva de

resolução de problemas como sendo ainda bastante desconhecida da grande maioria dos

professores e que a aprendizagem ocorre a partir de listagens de problemas cuja resolução

depende basicamente da escolha de técnicas de resolução memorizadas pelos alunos.

Percebemos que ainda continua ocorrendo a memorização dos conteúdos e não uma

aprendizagem do conceito.

Entregamos aos alunos material impresso com a descrição e a orientação das

atividades veja como desenvolvemos a atividade onde os alunos construíram uma

circunferência e seu raio:

Usando a ferramenta círculo com raio fixo construir uma circunferência e seu raio.

a) Clicar na ferramenta “círculo com raio fixo” ,e desenhe uma circunferência;

b) Sobre o centro da circunferência, clicar com o botão direito do mouse, vai

abrir uma janela, nesta clique em “Exibir nome dos objetos” e na primeira linha digite o nome (letra) do seu ponto (Lembre que deve ser uma letra maiúscula) e em seguida clique em OK.

c) Marque um ponto em cima da circunferência com a ferramenta “ponto” e identifique o ponto, repetindo o processo do item b;

d) Una os pontos através da ferramenta “segmento” .

No final de cada atividade fazíamos questionamentos (problematização) aos alunos

para construirmos as definições e os conceitos a partir de suas respostas. Foi possível

perceber o que coloca o PCN “em Matemática existem recursos que funcionam como

ferramentas de visualização, ou seja, imagens que por si mesmas permitem compreensão

ou demonstração de uma relação, regularidade ou propriedade [...]” (p.45, 1998).

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Relato de Experiência

Estes foram os questionamentos feitos aos alunos no final da atividade na qual eles

construíram uma circunferência e seu raio:

- O que você observou?

- O que você determinou ao unir o ponto do centro com o ponto da circunferência

através de um segmento?

- Então o que é o raio?

Durante as aulas ao realizar as atividades os alunos conheceram o funcionamento do software e construíram:

1) uma circunferência e seu raio;

2) uma circunferência, cordas e o diâmetro;

3) uma circunferência com o raio e o diâmetro;

4) um ângulo inscrito numa circunferência;

5) um ângulo inscrito numa semicircunferência;

Ao desenvolver a atividade 1 (construção de uma circunferência com o raio) no

software nosso objetivo foi alcançado. Através da nossa intervenção e ao realizar uma

investigação dos passos da construção e as discussões que os alunos fizeram com os

colegas chegaram a definição do que é o raio.

Na atividade 2 (construção de uma circunferência com corda e diâmetro) no Régua

e Compasso os alunos conseguiram definir o que é uma corda e que o diâmetro é a corda

maior e passa pelo centro da circunferência. Nessa atividade a nossa intervenção foi muito

importante alguns tinham dúvidas no desenvolvimento da atividade então chamavam a

professora ou pediam auxílio dos colegas. Isto foi muito importante pois conseguimos nos

aproximar, conversar, interagir com os alunos.Na atividade 3 os alunos construíram uma

circunferência com raio e diâmetro e mostraram seus valores e através de uma investigação

conseguiram definir que o raio é a metade do diâmetro, que o diâmetro é o dobro do raio e

através da coleta de alguns valores desenvolvemos no quadro a fórmula que calcula o raio

e o diâmetro. A Figura 1 mostra o desenvolvimento das atividades 1, 2 e 3 realizada por

um aluno.

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Relato de Experiência

Ao fazer a atividade 4 os alunos foram instigados a encontrar através dos passos de

construção a definição de ângulo central e com os valores dos ângulos encontrados na

construção a descobrirem que o ângulo que o ângulo inscrito é a metade do ângulo central.

Com essa investigação achamos a fórmula.

Na atividade 5 relembramos o que é o diâmetro e através da construçao definimos

que o ângulo inscrito numa semicircunferência é de 90°.

Considerações Finais

Conforme a minha expectativa inicial esta intervenção possibilitou sair da teoria e ir

para a prática e a proposta metodológica utilizada trouxe os resultados esperados, pois

Figura 1 - Representação da figura proposta pelas atividades 1, 2 e 3.

Fonte: Relatório do Projeto Ação na Escola (2010)

Figura 2 - Representação da figura proposta pelas atividades 4 e 5

Fonte: Relatório do Projeto Ação na Escola (2010).

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Relato de Experiência conseguimos problematizar, envolver os alunos, interagir com eles e desenvolver neles o

pensamento criativo, pois além de realizarem todas as atividades alguns deles desenharam

figuras de bicicleta e carro.

O projeto Ação na Escola foi de fundamental importância para o meu processo de

formação para ser professora de Matemática porque consegui perceber o quanto é

importante planejar as aulas levando em conta a realidade em que os alunos estão

inseridos, pois deste modo o professor torna-se parte integrante desta realidade, facilitando

o processo de ensino e aprendizagem.

Referências BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática 5ª a 8ª série. Brasília: SEF, 1998. FIORENTINI, Dario; CASTRO, Franciana Carneiro. Tornando-se professores de matemática: O caso de Allan em Prática de Ensino e Estágio Supervisionado. IN: FIORENTINI, Dario (Org). Formação de professores de Matemática: explorando novos caminhos com outros olhares. Campinas, SP; Mercado das letras, 2003, p. 121-156. KAMPFF, Adriana Justin Cerveira e DIAS, Márcia Gladis Cantelli. Reflexões sobre a Construção do Conhecimento em Ambientes de Pesquisa e de Autoria Multimídia: Uma Tarefa Compartilhada por Alunos e Professores. 2003. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/renote/article/view/14424/8339>. Acesso em 5 mai. 2011. VALENTE, José Armando. Informática na educação: uma questão técnica ou pedagógica? Revista Pátio, ano 3, n. 9, p. 21-23, mai/jul 1999. VALENTE, José Armando. (Org.). O Computador na Sociedade do Conhecimento, Campinas: NIED/ UNICAMP, 1999.