relato de experiÊncia: oficina de arte com jornal no desenvolvimento do trabalho em equipe
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Artigo Científico apresentado à Faculdade Amadeus como Trabalho de Conclusão de Curso e requisito básico para obtenção do título de Especialista em Inovação em Práticas Pedagógicas. Orientadora: Prof.ª M.Sc. Gisélia VarelaTRANSCRIPT
SOCIEDADE DE ENSINO SUPERIOR AMADEUS - SESA
FACULDADE AMADEUS - FAMA
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM INOVAÇÃO EM PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
WECSLEY SANTA BÁRBARA DE OLIVEIRA
RELATO DE EXPERIÊNCIA: oficina de arte com jornal no desenvolvimento do trabalho em equipe
ARACAJU-SE
2014
WECSLEY SANTA BÁRBARA DE OLIVEIRA
RELATO DE EXPERIÊNCIA: oficina de arte com jornal no desenvolvimento do trabalho em equipe
Artigo Científico apresentado à Faculdade Amadeus como Trabalho de Conclusão de Curso e requisito básico para obtenção do título de Especialista em Inovação em Práticas Pedagógicas.
Orientadora: Prof.ª M.Sc. Gisélia Varela
ARACAJU-SE
2014
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RELATO DE EXPERIÊNCIA: oficina de arte com jornal no desenvolvimento do trabalho em equipe
*WECSLEY SANTA BÁRBARA DE OLIVEIRA1
RESUMOEste artigo descreve a experiência constatada no desenvolver de palestra-oficina com grupo de alunos do curso de pedagogia de uma instituição de ensino superior no estado de Sergipe. Ressalta a metodologia empregada no evento, assim como, os materiais empregados para solucionar o problema proposto. Relata também os resultados alcançados pelos alunos e o aprendizado por eles alcançado acerca do trabalho em equipe. Baseou-se no uso prático da Arte enquanto recurso de contextualização e ressignificação de conceitos, explorando processos de criação com a arte em papel jornal que agrega valores culturais e de preservação do meio ambiente.
Palavras-chave: Arte, oficina, trabalho em equipe.
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho pretende mostrar a relevância da aplicação didática e
contextualizada do fazer artístico relacionado com o trabalho em equipe no que diz
respeito à compreensão das fases de desenvolvimento, bem como as funções dos
membros inseridos em determinado grupo. Relata a experiência compartilhada
através de palestra e oficina apresentadas em um seminário ao corpo docente em
Pedagogia pela FISE – Faculdade Integrada de Sergipe em Tobias Barreto.
Questionamentos permeiam o desenrolar desse artigo, tais como: o
ensino de arte compreende apenas o fazer artístico, o desenvolver da habilidade
manual? É possível utilizar os processos artísticos como recurso de
contextualização interdisciplinar? Pode a arte promover o aprimoramento de
habilidades pertinentes ao trabalho em equipe?Antes de adentrarmos nas soluções
para esses questionamentos fez-se necessário a compreensão do ensino da arte em
nosso país.
Segundo os PCN’s, o Ensino de Arte no Brasil passou a fazer parte do
currículo escolar em meados dos anos 70. Um avanço para a época considerando o
1 Bacharel em Design Gráfico pela UNIT – Universidades Integradas Tiradentes. Pós Graduanda no curso Inovações em Práticas Pedagógicas da Faculdade Amadeus (Fama). E-mail: [email protected]://plugadoeducacao.blogspot.com.br
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entendimento entre arte e formação dos indivíduos. Mas os resultados desse
processo não foram totalmente positivos posto o despreparo dos professores em
dominar diversas linguagens artísticas como dança, teatro e artes plásticas.
Nos anos 80 esse fato foi agravado por conta de indefinição na formação
docente para o Ensino Artístico denotando claramente dificuldades entre teoria e
prática. Isso gerou a tendência de redução qualitativa dos saberes nas formas de
arte, aumento da crença de que os alunos conheceriam muito bem música, artes
cênicas, plásticas e dança através de atividades expressivas espontâneas.
O professor era a referência para a transmissão de padrões estéticos,
códigos, conceitos e categorias artísticas através de atividades que enfatizavam a
auto expressão como um momento de invenção, autonomia e descoberta dos
alunos.
O movimento Arte-Educação foi criado nos anos 80 com a finalidade de
organizar o Ensino Artístico mobilizando grupos de professores, conscientizando e
organizando esses profissionais no que diz respeito ao isolamento dentro da escola
e a insuficiência de conhecimentos e competências nas diversas linguagens
artísticas.
As ideias desse movimento foram difundidas no país através de
encontros, seminários e eventos similares promovidos pelas universidades,
associações de arte-educadores, instituições públicas e particulares. No final dos
anos 80 a Arte passa a ser obrigatório na educação básica.
2. RUMOS DA ARTE
Independente das questões que fragilizam o ensino da arte no Brasil, há
que se observar, no fazer artístico, um viés que possibilita a contextualização de
diversos assuntos e de acordo com produções de grupo proporcionar o
aprimoramento do trabalho em equipe evidenciando o desenvolvimento dos perfis de
habilidades necessários para esse fim. O fazer artístico deve ir além da mera
contemplação de datas comemorativas ou decoração do cotidiano.
A questão central do ensino de Arte no Brasil diz respeito a um enorme descompasso entre a produção teórica, que tem um trajeto de constantes perguntas e formulações, e o acesso dos professores a essa produção, que é dificultado pela fragilidade de sua formação, pela pequena quantidade de
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livros editados sobre o assunto, sem falar nas inúmeras visões preconcebidas que reduzem a atividade artística na escola a um verniz de superfície, que visa as comemorações de datas cívicas e enfeitar o cotidiano escolar. (BRASIL, 2007, p.26)
É possível agregar valores e conhecimentos, sistematizando o desenrolar
de atividades lúdicas e construtivas que viabilizam a produção artística e a
assimilação de conteúdos como a preservação do meio ambiente, reciclagem e
conceitos culturais.
A arte com papel jornal mostra-se eficiente, pois depende de matéria
prima de custo relativamente baixo, fator que democratiza a sua exploração. A
história da arte com papel está diretamente relacionada a sua invenção na dinastia
Han(206 a.C.-221 d.C.) na China, onde a preciosidade do papel era aferida aos
palácios em obras de corte em sua superfície, com o passar dos tempos foi se
popularizando e atualmente o papel pode ser transformado em arte através de
recortes e colagens, tramas com trançado de tubos ou até mesmo ser transformado
em massa para escultura.
Em todo o mundo, artesões e artistas desenvolvem e aprimoram suas
técnicas de produção artística com o papel, explorando claramente o apelo
ecológico da reciclagem. Em escolas também é comum a reutilização de materiais
em exposições nomeadas, muitas vezes, com trocadilhos entre as palavras ‘lixo’ e
‘luxo’, ficando clara a falta de criatividade de alguns professores que preferem a
repetição disfarçada do que perceber um diferencial/potencial no trabalho dos alunos
e consequentemente inovar na nomenclatura e finalização dos projetos.
O ensino de arte no Brasil faz parte do currículo escolar desde meados
dos anos 70. Na maioria das vezes, esse ensino compreende o observar artístico e
a reprodução. Entretanto, o ensino artístico pode e deve contribuir com a formação
do indivíduo de forma mais significativa através de contextualizações com focos
direcionados em atividades como o trabalho em equipe.
Logo, o fazer artístico explorado como recurso de desenvolvimento de
competências e habilidades pode sim colaborar com a evolução dos alunos em
relação ao aprimoramento dos perfis de habilidades do trabalho em equipe.
2.1. Os Processos Criativos
No PCN, onde relata a história da Arte Educação no Brasil, é claramente
registrado que as instituições de ensino responsáveis pelo preparo do Arte Educador
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sofrem com a falta de estrutura acadêmica no que diz respeito ao uso da
criatividade. Ao contrário do que é convencionado, criatividade não é dom, e sim
processo de composição de ideias. Criatividade é trazer à tona o novo
compreendendo o mundo em volta, relacionando conceitos e significados. Ostrower
diz que:
Criar é, basicamente, formar. É poder dar uma forma a algo novo. Em qualquer que seja o campo de atividade, trata-se, nesse "novo", de novas coerências que se estabelecem para a mente humana, fenômenos relacionados de modo novo e compreendidos em termos novos. O ato criador abrange, portanto, a capacidade de compreender; e esta, por sua vez, a de relacionar, ordenar, configurar, significar. (OSTROWER, 1977, p.15)
Estudiosos da neurociência afirmam que a criatividade está relacionada
ao inconsciente no que diz respeito à intuição e imaginação, os ‘insights’. Ellen
Ximendes afirma que “intuições são o resultado do processamento inconsciente de
informações que se manifesta na forma de um sentimento espontâneo”.
(XIMENDES, 2010, p.91)
Dentre as técnicas mais conhecidas de desenvolvimento de potencial
criativo estão BRAINSTORM e a Biônica. Brainstorm, também conhecida como
tempestade cerebral ou Toró de ideias, pode ser desenvolvida individualmente ou
em grupo e consiste na expressão livre das mais diversas ideias e possibilidades
que posteriormente passam por um afunilamento avaliativo até a definição da
solução do problema.
O propósito de uma sessão de Brainstorming é o trabalho em grupo na identificação de um problema, e encontrar, através de uma intervenção participativa, a melhor decisão para um plano de ação que o solucione tal problema. (Phil Bartle, 2007)
A Biônica é um método que busca solucionar os problemas a partir da
observação dos recursos da natureza seja no aspecto da funcionalidade ou estético.
Para (Broeck, 1989 apud Ramos, 1993), “é o estudo dos sistemas e organizações
naturais visando analisar e recuperar soluções funcionais, estruturais e formais para
aplicá-las na resolução de problemas humanos por meio da geração de tecnologias
e concepção de objetos e sistemas de objetos”.
2.2. Oficina Criativa e o Desenvolvimento do Trabalho em Equipe
A oficina criativa consiste numa dinâmica de grupo e tem como fator
elementar a arte em papel jornal. É primordial definir um problema a ser
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solucionado, e no caso do objeto de estudo apresentado nesse artigo é
desenvolvimento de competências pertinentes ao trabalho em equipe, evidenciando
as funções e perfil de habilidades necessárias.
Para o desenvolvimento da oficina criativa com papel jornal foram
estabelecidos objetivos e etapas visando uma melhor compreensão e vivência das
fases e das funções do trabalho em equipe.
Os objetivos apresentados aos alunos foram: aumentar a percepção e a
consciência, para através da meditação identificar problemas e buscar soluções
coerentes; apresentar técnica artesanal de reciclagem de papel jornal; promover
através da arte a elaboração de questões subjetivas vivenciadas com artesanato em
jornal; percepção das múltiplas inteligências (intrapessoal, interpessoal, espacial,
lógica e artística); conectar os mundos internos e externos; promover a auto
expressão e a auto realização; exploração da estética e elaboração artística em prol
da educação; desenvolvimento do potencial artístico; integração entre linguagem
verbal e não verbal e desenvolvimento de trabalho em equipe.
Cada etapa da oficina tem sua peculiaridade e é nomeada como:
contextualização, preparação do material, planejamento de atividades, elaboração
artística e transposição para a linguagem verbal. Essas nomeações contemplam os
pilares da educação estabelecidos em relatório da UNESCO na Comissão
Internacional sobre Educação para o Século XXI, sob coordenação de Jacques
Delors, que possibilitam ao aluno um aprendizado efetivo e auto avaliativo através
da convivência, buscando o conhecimento de forma prática.
Cada um dos “quatro pilares do conhecimento” deve ser objeto de atenção igual por parte do ensino estruturado, a fim de que a educação apareça como uma experiência global a levar a cabo ao longo de toda a vida, no plano cognitivo como no prático, para o indivíduo enquanto pessoa e membro da sociedade. (DELORS, 2008, p.33)
Durante a contextualização é apresentada ao grupo a proposta de
trabalho com a arte enquanto ferramenta didática e também a proposição de um
problema para ser solucionado pelo grupo. Nessa etapa os alunos são instigados a
explorarem a criatividade na busca de soluções. Ainda nessa fase é possível fazer
uso de recursos multimídia para ilustrar a contextualização e assim, melhorar a
compreensão do assunto abordado.
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A preparação do material declara no início da mobilização dos grupos no
que diz respeito a organização das ferramentas e demais materiais de apoio tais
como tesouras, estiletes, colas e tintas. Nessa etapa o jornal será beneficiado
manualmente seja através de rasgos, recortes ou confecção de tubos. É importante
salientar que nessa etapa todos os membros do grupo devem contribuir
efetivamente ou significativamente na manufatura do papel, afim de ficar registrada a
participação de todos os membros na proposta final do projeto.
Durante o planejamento de atividades acontecem o gerenciamento de
ideias e a definição dos procedimentos para a solução do problema proposto. O
gerenciamento de ideias é caracterizado pela exploração dos métodos de
criatividade de maneira ordenada e supervisionada pelos membros do grupo que se
destacarem com o perfil de liderança. Já os procedimentos de solução do problema
são definidos após avaliação das ideias, nessa fase os alunos farão uso dos
processos criativos tais como a Biônica, partindo da observação da natureza, ou do
‘Brainstomr’, profusão de ideias.
A elaboração da expressão artística compreende a execução dos
caminhos encontrados pelo grupo para solucionar o problema proposto. É o fazer
artístico emergindo como resultado de um trabalho em equipe. É evidente que os
membros do grupo que apresentarem um melhor perfil de desenvolvedor terão
destaque nessa fase da oficina. Entretanto, a participação mínima no fazer artístico
deve ser garantida na fase de manufatura da matéria prima, seja rasgando, cortando
ou mesmo preparando canudinho de papel jornal.
A transposição para a linguagem verbal é o momento de ponderação
tanto dos alunos participantes quanto do professor ministrante. É o momento onde
todos podem verbalizar a experiência vivida bem como o aprendizado assimilado. É
o momento para ponderar os caminhos escolhidos pelos alunos e os resultados por
eles alcançados. Nessa fase, cabe ao professor apresentar o perfis de habilidade
necessários ao trabalho em equipe pontuando momentos da oficina de acordo com
o comportamento dos alunos.
Os métodos aplicados no desenvolvimento da oficina foram:
contextualização com leitura para sensibilização com o texto “Esquecendo o
Caminho de Volta”; orientações sobre a manipulação do jornal; divisão da turma em
grupos; preparação de canudos e caracóis com papel jornal; pintura com tintas spray
e conversa sobre o desenvolvimento do trabalho.
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Trabalhar em equipe é pré-requisito constante na seleção de profissionais
nas mais diversas áreas do mercado. A escola pode oferecer a vivência do trabalho
em equipe através do fazer artístico contribuindo positivamente na formação do
aluno enquanto ser inserido em sociedade. Para Rodrigues:
Torna-se necessário o ato de trabalhar em equipes, ou grupos, pois "Colocar os alunos para trabalhar em grupo faz com que eles troquem informações e procedimentos para resolver problemas facilitando o ensino e a socialização". (RODRIGUES, 2007).
As características pertinentes ao trabalho em equipe foram contemplados
no decorrer das etapas da oficina criativa, onde foi possível observar líderes,
criativos, analistas e desenvolvedores deixando emergir seus perfis de forma lúdica
e prazerosa.
Durante esse processo é possível observar o aprendizado e a
transformação pessoal e social. Lownfeld afirma:
A arte pode desempenhar papel significativo no desenvolvimento das crianças. O foco de aprendizagem é a criança dinâmica, em desenvolvimento, em transformação, a qual se torna cada vez mais cônscia de si própria e de seu meio. (LOWENFELD, 1970, p.33)
A transmissão de conhecimento é uma habilidade importante no
desenvolvimento do trabalho em equipe, e a vivência promovida pela oficina, tendo
como mola mestra a arte, propicia esse aprendizado aos alunos. Nalevaia afirma:
Os estudos mais recentes indicam que as relações do aluno com seus companheiros são decisivos para a aquisição de diversas habilidades, entre elas a mais importante, a transmissão do conhecimento. Assim, o trabalho em grupo em si propicia a interação e faz com que as pessoas aprendam uma com as outras. (NALEVAIA, 2010, p.04)
A Oficina Criativa de artes com Jorna promove a Arte como recurso de
desenvolvimento do trabalho em equipe. Freitas pontua:
A arte seria uma forma de resgatar a totalidade. Totalidade esta, que envolve as várias dimensões do ser humano: afetiva, cognitiva e social, numa relação integradora de emoção e razão, afetividade e cognição, subjetividade e objetividade, conheci mento e sentimento. (FREITAS, 2005, p.12)
2.3. A Técnica e o Material Empregados nas Oficinas
Na oficina-palestra a técnica abordada foi a arte com papel jornal, que
consiste no beneficiamento artesanal do papel transformando-o em matéria-prima
principal para o desenrolar dos trabalhos dos alunos. Durante o processo, o papel
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pode ser rasgado, recortado ou enrolado em formato de tubinhos e a partir daí, de
acordo com o labor artístico e a solução criativa para resolver o problema proposto é
possível compor peças com os mais variados resultados estéticos.
Outros materiais são necessários para o desenvolvimento da oficina, tais
como: tesouras, estiletes, pincéis, colas e tintas. Os alunos tinham discernimento
suficiente para usar esses materiais sem oferecer risco a si mesmo nem aos demais
participantes, do contrário, é pertinente ao ministrante fazer a mediação
principalmente das ferramentas cortantes.
A reutilização do papel mostra-se democrática pelo baixo custo da
matéria-prima principal, do trabalho e pela facilidade de assimilação do fazer
artístico por diversas faixas etárias. Não somente o jornal, mas todo e qualquer tipo
de papel descartado, desde que esteja em condições higiênicas de reuso, pode ser
aplicado em projetos educacionais.
A democratização por conta da faixa etária caracteriza-se pela
simplicidade de manipulação da matéria-prima, fazeres como recortes, rasgos, e
beneficiamento do papel através da composição de canudos são facilmente
assimiladas por pessoas das mais diversas faixas etárias com ou sem habilidades
específicas na manipulação artística.
A oficina-palestra aconteceu durante um seminário na FISE – Faculdades
Integradas de Sergipe, na cidade de Tobias Barreto, com o tema: Ressignificando
conceitos através da arte com Jornal. O evento teve duração de 2h com intervalo de
15min e contou com a participação dos alunos do curso de Pedagogia. Também foi
abordada a ressignificação de conceitos de evolução e aprendizagem individual
traçando uma relação com os procedimentos artísticos no desenvolvimento de uma
mandala com canudos de papel jornal.
A mandala tem o simbolismo da representação harmônica da energia
humana com a do cosmos, e está presente em várias culturas como símbolo de
meditação e centralização de energia. Dahlke afirma:
O corpo humano é constituído de células e estas, por sua vez, de átomos. Desse modo, nosso corpo é composto, em última análise, de inúmeras mandalas. Mas podemos compreendê-lo também, em sua totalidade, como uma mandala. Com os braços e as pernas esticados, ele forma uma mandala estrelar, cada homem possui, claramente reconhecível, um centro, e todos estamos constantemente à sua procura. (DAHLKE, 2007, p.34)
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A ressignificação de conceitos partiu do princípio da desconstrução do
antigo para a acomodação do novo aprendizado. Através da metáfora da construção
civil onde para obter-se um prédio novo e sólido é necessário implodir a construção
antiga. Assim devemos fazer com nossa personalidade ao longo da vida, sempre
que for necessário recomeçar, reaprender ou reedificar será necessário implodir
antigos conceitos, comportamentos e atitudes. É preciso desconstruir o antigo para
que o novo surja forte e consistente. Com a arte em papel jornal é possível vivenciar
esse processo de forma prazerosa, lúdica e construtiva. Isso ajuda a compreender
as fases necessárias para a construção da evolução individual.
A ressignificação de conceitos foi apresentada aos alunos através dos
seguintes tópicos: a desconstrução – rasgando; preparando o papel jornal
desconstruindo antigos conceitos; libertação do desnecessário; a organização e
planejamento para o novo – o que fazer com os canudos de jornal? Planejamento,
projeção futura, metas; a edificação do novo – composição de objetos com canudos
de jornal: execução de ações planejadas, ações individuais e soluções em grupo;
Avaliação: transposição para a linguagem verbal: conclusão dos trabalhos.
Nessas oficinas é comum os participantes se sentirem incapazes de tal
feito, diante do desafio de composição de uma peça artística. Mas, esse sentimento
é extinguido, dando lugar à satisfação ao constatar sua capacidade ao término do
trabalho.
Para explorar uma técnica artística em sala de aula é imprescindível que
o professor esteja preparado, mas a falta de incentivos e estruturação na formação
desses professores acabam condicionando-os à repetição de atividades de
observação e reprodução artística que evidenciam datas comemorativas ou apenas
enfeitam o cotidiano nas escolas.
Assim, ao professor cabe a busca desse conhecimento específico em
oficinas ou em contato direto com artistas e artesãos, em seguida deve agregar
aplicabilidade de forma contextualizada para alcançar seus objetivos relacionados
aos projetos educacionais, tal como, o desenvolvimento do trabalho em equipe,
objeto de estudo desse artigo.
Atualmente, muitos artistas e artesãos desenvolvem suas obras tendo o
papel como matéria prima principal, agregando claramente valores da cultura
regional e ecológicos. A produção de peças decorativas e utilitárias que retratam o
comportamento cotidiano das pessoas da região são explorados na composição de
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peças comerciais encontradas em feiras e exposições que contemplam o artesanato
local. Os valores ecológicos de preservação ao meio ambiente estão implícitos na
reutilização do resíduo papel que tem como base de produção a celulose extraída de
árvores.
Em Aracaju, a EMSURB mantém desde 1997 oficinas onde estende à
população e turistas o contato com a arte com papel, assim como, uma alternativa
de renda a famílias de baixa renda não deixando de conscientizar para a
preservação do meio ambiente, conforme afirma matéria publicada em site na
internet: “A atual proposta da Oficina de Papel pretende estender o atendimento à
população em geral e aos turistas, assim como transmitir uma atividade
profissionalizante a adolescentes – principalmente de famílias com baixa renda.
Sem, contudo, deixar de lado a finalidade de conscientizar os participantes da
importância de preservação do meio ambiente.”(Infonet, 2013)
O Ateliê Curupira Ecodesign tem sede em Aracaju e também desenvolve
um trabalho contemporâneo onde explora principalmente a produção de mandalas e
luminárias decorativas, esse ateliê também promove oficinas onde ensina as
técnicas de beneficiamento artesanal do papel descartado, atentando para uma
proposta com mais sofisticação e design.
2.4. Trabalho em Equipe
O isolamento não faz parte da vida social do ser humano. Nascemos no
grupo familiar e ao longo da nossa história vamos nos inserindo em outros grupos
seja por afinidade, objetivos específicos ou mesmo necessidade social. Isso
acontece com o grupo de amigos, de colegas na escola, do futebol, da religião e
outros.
Atividades desenvolvidas em grupo tendem a ser finalizadas em menor
tempo e com os melhores resultados, dependendo do processo criativo empregado
na solução de problemas e das características específicas dos membros do grupo,
tais como liderança, colaboração e dinamismo.
O bom resultado do trabalho em equipe está diretamente ligado ao
envolvimento dos seus membros com o desenvolvimento do trabalho. A figura de um
líder é importante na representatividade do trabalho do grupo. Entretanto,
emergencialmente, a liderança pode se manifestar nas diversas etapas do
desenvolvimento.
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Machado (1998), define o trabalho em grupo como:
Um sistema de relações dinâmicas e complexas entre um conjunto de pessoas, que se identificam a si próprias e são identificadas por outras pessoas dentro da organização como membros de um grupo relativamente estável, que interagem e compartilham técnicas, regras, procedimentos e responsabilidades, utilizadas para desempenhar tarefas e atividades com a finalidade de atingir objetivos mútuos. (MACHADO, p.07)
Em estudo sobre o trabalho de grupos e equipes nas organizações
Albuquerque (2003) e Palacios (2003) defendem estágios de desenvolvimento do
trabalho nomeados como formação, conflito, normatização, desempenho e
desintegração.
Formação: Quando os membros da equipe iniciam os contatos com vistas à realização do trabalho, começa um processo de descobrimento do outro, mesmo que esse “outro” seja um colega de trabalho já conhecido. Nesta fase, os indivíduos procuram identificar quem é o outro e em que ele pode contribuir para atingir o objetivo estabelecido para a equipe. É neste momento que inclusive o objetivo da equipe, usualmente definido de maneira prévia pela organização, será mais bem delimitado. As regras do jogo também serão definidas, tanto em termos de desempenho quanto de comportamentos sociais, como por exemplo concordar em se reunir duas vezes por semana para checar os avanços e/ou dificuldades encontradas por cada membro em relação à tarefa e não chegar atrasado mais do que cinco minutos do horário combinado. Freqüentemente esta fase se caracteriza pela incerteza, tanto sobre regras, normas, procedimentos como sobre comportamentos, responsabilidades e papéis de cada membro, pois nada ainda está bem definido. Tende a ser mais conturbada quanto mais diferenças existirem entre os membros (por exemplo grupos multi-culturais) e finaliza quando os indivíduos passam a se reconhecer como membros da equipe.
Durante a fase do conflito acontece o gerenciamento de informações,
definição e execução do processo criativo para a solução do problema proposto.
Brainstorming ou Biônica serão selecionados de acordo com a avaliação do grupo
perante as soluções sugeridas.
Conflito: Uma vez identificados os membros da equipe, dá-se inicio a um processo de ajuste ou negociação. Ajuste no sentido de estabelecer o que será realizado, por quem e de qual maneira. Negociação, porque os membros da equipe podem não concordar com as decisões que os atingem e, neste momento, tentarão redefinir as regras. Se lideranças formais não foram estabelecidas pela organização é nesta fase que elas começam a se perfilar e pode ocorrer que dois membros entrem em pugna pelo controle do grupo. O poder do grupo começa a ser dividido e disputado entre os membros, com base nas vantagens que cada um considera ser a sua arma. Contudo, ainda que havendo conflito, nem sempre esta fase é vivida da forma aqui retratada: como uma guerra. As negociações podem ocorrer de maneira menos acalorada embora certa discordância entre os membros seja esperada. O estilo de negociação vai depender do estilo pessoal dos membros que compõem a equipe assim como das regras gerais da empresa às quais estão submetidos. Nesta fase é importante saber lidar com o conflito antes do que tentar eliminá-lo, pois ele faz parte do processo
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de formação e estruturação da equipe. (ALBUQUERQUE, PALACIOS, 2003, p.31)
Já na normatização são estabelecidas as regras internas do grupo
sempre como intuito de encontrar a melhor forma de solucionar o problema. Nessa
fase também acontecem as definições criativas que resultaram na composição da
mandala.
Normatização: Se o conflito é a característica da fase anterior, a coesão e identificação dos membros da equipe, são características desta. Relações mais próximas entre os membros, sentimentos e percepções compartilhadas freqüentemente surgem nesta fase. A troca de informações tende a ser mais aberta e espontânea havendo maior tolerância face às divergências. Pode também ser identificada nesta fase uma concordância explícita com as metas e objetivos da equipe. As lideranças, tendo sido aceitas pelos membros, definem, junto com eles, os papéis, tarefas e responsabilidades de cada um, assim como as normas de desempenho que favorecem a consecução dos objetivos da equipe. Esta fase conclui quando há aceitação das normas de comportamento assim como dos procedimentos que irão pautar as tarefas a ser cumpridas. (ALBUQUERQUE, PALACIOS, 2003, p.32)
O desempenho constitui o desenrolar das atividades. É onde os alunos
puseram a mão na massa, ou melhor, no jornal, preparando-o para a produção da
mandala.
Desempenho: O quarto estágio no desenvolvimento da equipe constitui a execução das atividades. É o trem andando a todo vapor. Uma vez tendo sido aceitadas as normas de comportamento e desempenho, as metas a serem atingidas e o comando das lideranças, toda a energia do grupo está voltada para a realização das tarefas. Pode se dizer que é a fase da produtividade embora nem sempre se espere que ela ocorra em níveis constantes. Dependendo da tarefa, algumas equipes irão se aprimorar no seu desempenho pelo que poderá haver um incremento dos níveis de produtividade. (ALBUQUERQUE, PALACIOS, 2003, p.32)
Por último ocorre a desintegração com a consolidação dos trabalhos dos
grupos.
Desintegração: A última fase no processo de desenvolvimento dos grupos, portanto das equipes de trabalho, é a desintegração. Esta fase ocorre quando os objetivos que levaram à criação da equipe são atingidos e não há mais razão para ela continuar a existir. Contudo, conforme fora mencionado, parte da efetividade das equipes de trabalho é a sua capacidade de sobrevivência pois a desintegração poderia ser um indicador de fracasso ou pelo menos de ineficácia. Assim, esta fase está presente apenas na vida de um tipo específico de equipes de trabalho: as temporárias. Já as permanentes procurarão sempre sobreviver e se fortalecer a partir de processos de renovação seja de metas, tecnologia ou se preciso da troca de alguns membros. O gráfico a seguir representa as etapas de evolução na formação de equipes de trabalho. (ALBUQUERQUE, PALACIOS, 2003, p.32)
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As etapas do trabalho em grupo são vivenciadas durante a oficina criativa
onde os participantes se organizam e definem a formação através de afinidades e
estratégias de acordo com as habilidades específicas dos membros.
O aprendizado ocorre no transcorrer das atividades, onde os indivíduos
além dos procedimentos pertinentes ao trabalho em equipe precisam gerenciar suas
próprias emoções, como também, os conflitos que surgem. A eficiência da equipe
fica implícita nos vários aspectos que fundamentam a conclusão efetiva com solução
satisfatória para o problema proposto.
A efetividade das equipes está diretamente ligada aos processos sociais
que envolvem execução de trabalho. O aprendizado vivenciado na oficina deve ser
mantido e sobreviver na execução de trabalhos posteriores, posto que, a dinâmica
da oficina propiciou aos participantes uma melhor compreensão sobre o
comportamento e envolvimento pessoal e coletivo.
A satisfação individual está diretamente ligada às necessidades pessoais
dos membros do grupo, essas por sua vez são evidenciadas no final da oficina ao
constatar a superação no que diz respeito à produção artesanal, fato que eleva
consideravelmente a autoestima.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No âmbito escolar o ensino da arte pode ser explorado de forma
contextualizada, não ficando restrito apenas ao estudo das escolas e movimentos
artísticos que surgiram ao longo da história. Os processos utilizados no labor
artístico podem ser explorados em sala de aula no aprendizado prático acerca das
competências e habilidades necessárias para a formação de indivíduos capazes de
desenvolverem trabalhos em equipe, fator preponderante para inserção no mercado
de trabalho.
Recursos e elaborações artísticas já são exploradas na educação,
principalmente nas séries iniciais, entretanto, na maioria das vezes, não há uma
preocupação com a exploração prática da vivência do desenvolvimento de
competências e habilidades. Há sim, o uso de recursos apenas como diferenciais de
cor e textura. A arte não tem a função de promover o conhecimento prático, e sim
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técnico de “qual cor escolher para responder à questão que a professora pede”, ou
“qual figura recortar para representar o que foi visto na aula”.
A proposta é promover a exploração mais abrangente dos recursos
artísticos e romper a barreira da exploração dos materiais apenas para reproduzir o
que foi aprendido. É trazer à tona a vivência do trabalho em grupo, a identificação
dos problemas e os diálogos necessários para uma solução coerente e criativa.
Outro ponto relevante é a elevação da autoestima através do
reconhecimento da participação no material produzido pelo grupo. Posto que, a
matéria-prima inicial é apenas o papel, que com método e criatividade é manipulado,
passa por um processo de planejamento e por fim é transformado para a conclusão
do objetivo do grupo. Ao constatarem o resultado estético alcançado, a estima eleva-
se certos de serem capazes de produzir algo belo em comunhão com o grupo.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Francisco, PALACIOS, Katia. Grupos e equipes de trabalho nas organizações. Acessado em: 06 de março. Disponível em: http://tupi.fisica.ufmg.br/~michel/docs/Artigos_e_textos/Trabalho_em_equipe/003%20-%20Grupos%20e%20equipes%20de%20trabalho%20nas%20organiza%E7%F5es.pdf
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