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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ – CERES
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
ANA PAULA ARAÚJO DA SILVA
RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO: considerações acerca da
indisciplina em uma escola pública em Jardim de Piranhas
Caicó / RN
2015
ANA PAULA ARAÚJO DA SILVA
RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO: considerações acerca da
indisciplina em uma escola pública em Jardim de Piranhas-RN
Monografia apresentada ao curso de pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como requisito parcial à conclusão de curso.
Orientador: Me. Djanni Martinho dos Santos Sobrinho.
Caicó / RN
2015
Dedico este trabalho ao meu filho, minha mãe e meu esposo, que sempre me apoiaram nos momentos difíceis e souberam o que falar em cada escolha que fiz.
AGRADECIMENTO
Agradeço em primeiro lugar a Deus, sem Ele não poderia ter forças para
continuar; em seguida a minha família, por todo o apoio que me deu durante todos
esses anos; ao meu filho, em especial, pois é por ele que sigo um passo de cada
vez nessa longa caminhada que ainda está por vir.
Ao meu orientador Djanni, que me ajudou em tudo que podia para que
conseguisse finalizar o meu trabalho. Algumas amigas, em especial, Elany, Carla e
Cledineide, por sempre estarem ali do meu lado para o que precisasse.
A Laedja, por deixar os dias na faculdade ainda mais alegres, no período que
passou junto a nós, agora está cursando o que sempre quis, nutrição. As minhas
colegas, que estiveram comigo no início do meu curso e me ajudaram muito, Ilda,
Emanuela, Claudiane e Juliana, que apesar de não termos finalizado juntas, umas
por terem saído, outras por termos nos afastado, sinto um apreço imenso. A todos
os meus colegas, que direto ou indiretamente fizeram parte dessa conquista.
Ao meu esposo, que me apoia em tudo e esteve sempre por perto para o que
precisasse, contribuindo com toda a ajuda possível. Para todos vocês, meu muito
obrigada!
O Educador sabe que o ato de educar
exige que ele seja um artesão da
personalidade, um poeta da inteligência,
um semeador de ideias.
.Augusto Cury
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo discutir sobre um problema que afeta muitos
professores e pessoas envolvidas com a Educação, a indisciplina. Este assunto
surgiu de uma necessidade em conhecer melhor esse problema e compreender o
grande papel que o professor exerce na vida de uma criança. A indisciplina dificulta
a vida de muitos profissionais e todos que estão relacionados com a escola, pois é
um empecilho no ensino do professor e na aprendizagem do aluno. É causada por
diversos fatores, sejam eles dentro da escola ou problemas extraclasse. Tendo em
vista as infinidades de motivos existentes, fica ainda mais difícil tentar solucionar
esse problema tão constante nas instituições de ensino. São problemas entre pais,
famílias, colegas e também professores. Dessa forma, pelo professor fazer parte da
educação do aluno e saber que o mesmo tem a capacidade de mudar seu
comportamento, este trabalho falará especialmente da relação professor-aluno. Uma
relação que poderá fazer com que a criança aja de forma adequada e respeitosa, ou
uma relação que faça com que este aluno se transforme em uma pessoa que só
está presente na escola para atrapalhar a aprendizagem de seus colegas e
desestimular o trabalho do educador. Para isso, foi elaborada uma pesquisa de
estudo de caso – na qual foram observados e registrados fatos nas turmas dos dois
1º anos do Ensino Fundamental 1ª fase, de uma Escola Municipal na cidade de
Jardim de Piranhas-RN – para saber se a relação professor-aluno afeta ou não a
indisciplina, sendo perceptível que sim, e muitas vezes o próprio professor não
percebe isso; contudo, há também outros fatores externos que fazem com que essa
indisciplina seja amplamente desenvolvida e, consequentemente, o educador terá
mais dificuldade em conseguir solucionar esta problemática.
Palavras-Chave: Relação professor-aluno. Indisciplina. Ensino Fundamental.
ABSTRACT
This paper aims to discuss about a problem that affects a lot of teachers and people
involved with Education, the indiscipline. This subject emerged out of the need in
getting to know better this problem and to understand the big role that the teacher
exerts on the life of a child. The indiscipline makes life difficult for a lot of
professionals and all people who are related to school, because it is a obstacle in the
teacher education and the student learning. It is caused by several factors, whether
they are inside of the school or outside class problems, having in mind the infinities of
existent reasons it gets even harder to try to solve this problem that is so constant in
the education institutions. Problems between parents, families, classmates and, also
teachers. This way, because the teachers make part of the student education and to
know that the same has the capability to change their behavior, this work will
specially speak of the teacher-student relationship. A relation that may cause a child
to act appropriately and respectfully, or a relation that makes this student become a
person who is only present in school to disrupt the learning of their classmates and
discourage the work of the educator. To this, a case study research – on which there
was observed and registered facts on the classes of the two first years of Primary
Education first phase, of a municipal school in the city of Jardim de Piranhas-RN – to
find out if the teacher-student relationship affects or not the indiscipline, being
perceptible that it does, and a lot of times the own teacher doesn’t realize this,
however, there are too, other extern factors that make this indiscipline to be broadly
developed and therefore the educator will have more difficulty in getting to solve this
issue.
Keywords: Teacher/student relationship. Indiscipline. Primary Education.
LISTA DE ILUSTRAÇÃO
Figura 1: Sala do Diretor ................................................................................................................... 18
Figura 2: Sala dos professores ........................................................................................................ 18
Figura 3: Sala de aula ........................................................................................................................ 18
Figura 4: Pátio ..................................................................................................................................... 18
Figura 5: Quadra Poliesportiva ......................................................................................................... 18
Figura 6: Antiga sala de aula do 1º ano .......................................................................................... 19
Figura 7: Aula sem Sentido ............................................................................................................... 42
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Funcionários da Escola .................................................................................................. 17
Quadro 2: IDEB da Escola pesquisada .......................................................................................... 19
Quadro 3: Ensino Fundamental ....................................................................................................... 23
Quadro 4: Número de alunos do bolsa família .............................................................................. 32
Quadro 5: Rotina da sala de aula - Matutino ................................................................................. 42
Quadro 6: Rotina da sala de aula – Vespertino ............................................................................. 42
Quadro 7: Conteúdos que poderão ser trabalhados no 1º ano .................................................. 44
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13
1. CENÁRIO ESCOLAR ......................................................................................... 16
1.1 Escola Municipal: Ontem e Hoje .................................................................. 16
1.2 Compreendendo o Ensino Fundamental ...................................................... 22
2. Sujeitos de nossa análise ................................................................................... 28
2.1 Perfil do aluno: Identificando o sujeito .......................................................... 28
2.2 O que constatamos acerca da indisciplina ................................................... 33
3. Práticas Pedagógicas: Sujeitos, saberes e experiências .................................... 38
3.1 Professor: Identificando o sujeito ................................................................. 38
3.2 Práticas Pedagógicas: analisando o docente ............................................... 40
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 51
13
INTRODUÇÃO
A indisciplina é tida como um dos maiores problemas em sala de aula,
dificultando ainda mais quando não há uma boa relação professor/aluno. Isso
prejudica não só o educando que veio para a escola tentar aprender algo, mas
também, e principalmente, o professor que tenta envolver os alunos, porém sem
êxito, tendo em vista a falta de disciplina dos mesmos.
Muitos professores se sentem de mãos atadas sem saber o que fazer perante
um aluno indisciplinado. Isso é preocupante a partir do momento em que implica na
aprendizagem dos seus alunos e na dificuldade que o docente tem em ensinar. Ela
pode surgir de diversos fatores, já que são problemas tanto dentro da sala de aula
como também extraclasse, como sociais, psicológicos e morais que delineiam a
causa da indisciplina. Ela é um dos problemas que mais afeta os professores e
todos que fazem parte da educação.
Dessa forma, o trabalho abordará o tema indisciplina de forma geral, e neste
contexto, a relação professor/aluno de forma específica, isto é, analisar como a
relação professor/aluno influencia a indisciplina por parte dos alunos do 1º ano do
Ensino Fundamental 1ª fase, em uma escola do município de Jardim de Piranhas.
É sabido o quanto essa problemática afeta as escolas e que, por muitas
vezes, não sabemos os reais motivos. Para tanto, é necessário identificar o que está
acontecendo nas instituições para que se busque uma solução ou ao menos que se
amenize o problema. Dessa forma, perguntamo-nos: o que causa essa indisciplina?
Como resolver? O que fazer? As causas são diversas, vão desde a má educação
das crianças em casa, até a relação que o professor mantém com o aluno. Desse
modo, é necessário compreender o que faz o aluno ficar indisciplinado, pois cada
um tem suas especificidades.
O interesse pela pesquisa surgiu a partir de uma inquietação, já que a
indisciplina é um tema bastante discutido entre os professores e, nos estágios
supervisionados foi percebido que há uma agitação por parte dos alunos nas salas
de aula, onde os mesmos não conseguem se concentrar nas explicações dos
conteúdos, dificultando a aprendizagem dos envolvidos no processo de ensino.
14
Desse modo, consideramos, também, as práticas dos professores do 1º ano de uma
escola do Município de Jardim de Piranhas.
Apesar de vários autores tratarem desse tema e de forma específica a relação
professor/aluno, é necessário ainda tentar desvendar esse assunto que não se
soluciona com facilidade, é preciso tempo; portanto, paciência.
Os professores muitas vezes se desdobram para dar conta desses alunos
indisciplinados, muitos conseguem amenizar a situação, outros se estressam,
perdem a paciência e acabam adoecendo. Assim sendo, fica evidente o descontrole
que a falta de disciplina causa aos profissionais da Educação.
Desse modo, o trabalho tem como objetivo geral analisar como a relação
professor/aluno influencia a indisciplina por parte dos alunos do Ensino Fundamental
I, em uma escola do Município de Jardim de Piranhas. Para isso elegemos como
objetivos específicos: Caracterizar a instituição de ensino, ou seja, a base empírica,
e o Ensino fundamental; identificar o perfil dos alunos do 1º ano do Ensino
Fundamental e se esses propiciam a indisciplina na sala de aula e as práticas
didático-pedagógicas dos professores alvo da pesquisa.
Por ser uma análise de um problema em uma determinada escola,
trabalhamos com o estudo de caso. Para isso, definiu-se como base empírica uma
escola do Município de Jardim de Piranhas nos 1º anos A e B. Esta escola foi
escolhida por ter feito parte dos meus estágios e também por ser a instituição em
que minha mãe leciona, pois estava presente lá diariamente e ciente de todos os
problemas, dificuldades, desafios e superação; tendo todo esse conhecimento, foi
preferível esta escola.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa para tentar compreender esse processo,
no qual o professor consiga envolver esse aluno e que o educador e o educando
aprendam com a interação estabelecida entre eles.
Para discutir o tema, realizamos uma observação in lócus, leituras
bibliográficas de autores como Aquino (1996), Oliveira (2004), Perrenoud (2000),
Garcia (2008), o PCN do Ensino Fundamental, entre outros; além desses, foi
realizada entrevista com as duas professoras alvo da pesquisa e também aplicação
de questionário. A pesquisa documental consistiu na análise dos dois últimos planos
de curso da escola – 2010 a 2012 e 2013 a 2015 –.
15
O trabalho está organizado em três capítulos. O 1º capítulo tem como título:
Cenário Escolar, delineado em dois tópicos- Escola Municipal: Ontem e hoje, o qual
vem retratar um pouco sobre a base empírica, sua estrutura, o perfil dos
supervisores, a ação do diretor perante a escola e o trabalho em equipe de forma
geral; e Compreendendo o Ensino Fundamental- Este tópico consiste em retratar o
antigo Ensino Fundamental com regimento de 8 anos e o atual com regimento de 9
anos; enfatiza, também, as características do Ensino Fundamental da escola
pesquisada;
O capítulo 2 determinado: Sujeitos de nossa análise é distribuído em dois
tópicos: Perfil do aluno- identificando o sujeito, onde mostra como são os alunos alvo
da pesquisa, seu comportamento em sala de aula, interesse e envolvimento dos
mesmos com a aula; e O que constatamos acerca da indisciplina- Este tópico
apresenta a causa da indisciplina nas salas de aula investigadas, vem expor
especificamente crianças bastante indisciplinadas e a relação do professor com o
aluno.
O 3º capítulo é distribuído em dois tópicos: O professor: identificando o
sujeito, no qual retrata um pouco sobre o perfil dos profissionais alvo da pesquisa e
Práticas Pedagógicas: analisando o docente- Esse tópico refere-se às práticas que
os professores utilizam em sala de aula e como estas estão organizadas, dando
ênfase, principalmente, à forma como as professoras transmitem o conteúdo; por
fim, as considerações finais.
16
1. CENÁRIO ESCOLAR
O primeiro capítulo será dividido em dois tópicos, sendo que no primeiro
serão abordadas diretamente as questões relacionadas à escola, como o contexto
em que foi criada, as mudanças que ocorreram e a instituição educativa nos dias
atuais, incluindo também o nível de ensino oferecido neste estabelecimento
educacional. Já o segundo estará voltado para o Ensino Fundamental, visando
esclarecer seu significado, mudanças, objetivos e como este nível de ensino está
inserido na escola pesquisada.
1.1 Escola Municipal: aspectos gerais
A Escola Municipal tem sua origem datada dos idos de 1999, sendo que esta
desmembrou-se da antiga Escola Estadual de ensino de 1º e 2º grau. A mesma
surge a partir das necessidades educacionais de um bairro que crescia a cada ano.
Inicialmente a instituição atendia a um total de 343 alunos. Atualmente possui alunos
com a faixa etária de 4 a 14 anos de idade, 273 matriculados no Ensino
Fundamental e 98 na Educação Infantil, dando um total de 371. Dessa forma, como
percebido, o aumento no número de alunos desde sua criação não se alterou muito,
tendo em vista o limite de ampliação da escola, uma vez que uma creche foi criada
em seu território.
Desde a sua criação até os dias atuais a escola busca a cada ano oferecer
um ensino de qualidade. Os alunos estão distribuídos nos turnos matutino e
vespertino; para atender a este número considerável de crianças, a escola conta
com 40 funcionários, assim distribuídos (Quadro 1):
17
Quadro 1: Funcionários da Escola
Fonte: Elaborada pela autora (2015)
Para que uma instituição possa desempenhar um bom funcionamento é
necessário um trabalho em conjunto, bem como um serviço prazeroso onde cada
funcionário possa fazer sua função de forma livre e organizada. Por isso é
importante sabermos lidar com cada parte que compõe a escola, de forma a
respeitar cada função para que assim a instituição de ensino possa crescer
gradativamente, juntamente com a sua equipe.
A escola não é tão pequena, porém não tem como construir mais salas de
aula devido à creche que ergueram em seu território. A sala do diretor (figura 1) e
dos professores (figura 2) é minúscula, esta última não consegue nem comportar
todos os professores e funcionários, além de ser muito quente. Com relação às
salas de aula (figura 3), estas são bem amplas e arejadas, no entanto o pátio (figura
4) por não ser coberto dificulta muito qualquer atividade, tendo em vista a presença
constante do sol. Desse modo, a hora do recreio se torna um problema; além disso,
não há nada direcionado, as crianças ficam no pátio brincando com alguns
brinquedos que são disponibilizados e quando termina o intervalo alguns guardam,e
outros deixam-nos espalhados.
Quanto à quadra (figura 5,), que foi construída com essa nova gestão, esta é
bastante grande, sendo desenvolvidos em seu interior alguns festejos, reuniões e
noite cultural. No entanto, também não é coberta, podendo ocorrer dificuldades
quanto à realização de algo, principalmente quando há chuvas à noite, tendo em
vista que usam a quadra mais para eventos noturnos.
Funcionários Quantidade
Educadores 21
Diretor 01
Vice-diretor 01
Supervisores pedagógicos 02
Auxiliares e Serviços Gerais 07
Fiscais de Disciplina 02
Vigia 01
Secretária 02
Auxiliar de secretária 01
Digitador 01
Professor sala multifuncional 01
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Figura 4: Sala do Diretor Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015)
Figura 5: Sala dos professores Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015)
Figura 3: Sala de aula Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015)
Figura 2: Pátio Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015)
Figura 1: Quadra Poliesportiva Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015)
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As salas de aula são um caso a parte, pois como foi citado, são amplas e
arejadas, e permitem ao professor trabalhar tranquilo nas mesmas, com cantinhos
de leitura, de brinquedos e desenvolver diversas atividades, basta o educador se
interessar e ter a ajuda necessária para que isso possa ser concretizado. Na foto
exposta, anteriormente (figura3), esta é a sala de aula observada, sendo que não foi
nessa que os alunos iniciaram o ano, mas, sim, em outra Classe (figura 6), que é
bastante pequena e muito quente; a mudança parcial para a sala da (figura 3) foi no
dia 22 de março.
A mudança ainda está ocorrendo devido estarem todos os computadores e
livros da sala de leitura na sala que é do 1º ano; sendo assim, as aulas de
informática e a sala de leitura estão paralisadas por tempo indeterminado.
Apesar de a Escola não ter um espaço apropriado para a execução de certas
atividades, a mesma é bastante procurada. Por ser a escola municipal com melhor
IDEB do município e por ter professores bem empenhados com a Educação, as
vagas são limitadas devido à procura, como mostrado no quadro 2 a seguir:
Quadro 2: IDEB da Escola pesquisada
IDEB observado Metas projetadas
2007
3.6
2009
4.0
2011
3.8
2013
4.2
2007
1.9
2009
2.4
2011
2.8
2013
3.1
Fonte: Elaborada pela autora (2015)
Figura 6: Antiga sala de aula do 1º ano Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015)
20
Como observado, em todos os anos desde 2007 até 2013 as metas não só
foram atingidas como também superadas, o que deixa muitos professores bastante
orgulhosos. Mesmo com uma queda de 2009 para 2011 não houve uma baixa
quanto à meta projetada. A meta para o ano de 2015 é de 3.3, e espera-se que
continue assim, sendo superados todos os propósitos.
Mesmo a gestão sendo escolhida por indicação política, ou seja, não há
eleição para essa escolha, a atual gestão mostra-se aberta e dinâmica, buscando
sempre inovar para que a escola cresça como também todos que nela atuam. O
gestor não administra a escola em regime fechado, procura a equipe para melhor
solucionar os problemas que surgem diariamente de forma democrática. É bastante
acessível, criando assim um vínculo muito forte com os professores e demais
segmentos da instituição. Com isso, (LÜCK, 2000, p.2) vem tratar que,
Os dirigentes de escolas eficaz são líderes, estimulam os professores e funcionários da escola, pais, alunos e comunidade a utilizarem o seu potencial na promoção de um ambiente escolar educacional positivo e no desenvolvimento de seu próprio potencial, orientado para a aprendizagem e construção do conhecimento, a serem criativos e proativos na resolução de problemas e enfrentamento de dificuldades.
No entanto, sempre haverá dificuldades em conseguir agradar a todos, pois
existem aqueles que não aceitam tal assunto e/ou tema. Desse modo, acabam não
gostando muito da decisão tomada pela maioria. Com isso, fica claro que o dever do
diretor é organizar a parte administrativa da escola e junto com ele vêm os
supervisores e coordenadores que fazem o papel junto aos professores, isto é, a
parte pedagógica, mesmo assim na referida escola o diretor participa um pouco da
dinâmica dos educadores para, também, estar por dentro dos assuntos
pedagógicos.
O relacionamento da equipe pedagógica com os professores é muito
favorável, sempre havendo troca de experiências, o que permite que todos cresçam
juntos. As professoras das salas pesquisadas relataram que se reúnem com os
supervisores toda semana, estes direcionam os assuntos e dão ideias para serem
trabalhadas em sala de aula; o supervisor falou que estão tendo um foco maior nos
alunos com dificuldades na leitura e na escrita. Quanto ao planejamento, os
professores fazem juntos, dividido por anos, por exemplo: as professoras do 1º ano
21
se reúnem e fazem os planejamentos juntas, mas cada uma tem um jeito peculiar de
mediar esses planos.
Dessa forma, o trabalho em equipe é essencial, pois só tende a crescer e a
desenvolver todos que fazem parte da escola, inclusive os alunos. Segundo
Perrenoud (2000, p. 81), “trabalhar em equipe é, portanto, uma questão de
competências e pressupõe igualmente a convicção de que a cooperação é um valor
profissional”.
Sendo assim, os supervisores sempre tentam ajudar os docentes da melhor
forma possível, desenvolvendo competências e habilidades nos mesmos e,
consequentemente, nos alunos.
Os problemas diários que emergem nas salas de aula, os professores tentam
solucionar na própria sala; quando os mesmos não conseguem resolver, buscam
ajuda junto à direção e, dependendo do caso, procura-se a família. Quando não
solucionados é que se procuram autoridades competentes, como, por exemplo, o
Conselho Tutelar. Segundo o artigo 131 do Estatuto da Criança e do Adolescente, “o
Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não-jurisdicional, encarregado
pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente,
definidos nesta Lei".
Sendo assim, para tentar resolver melhor os problemas existentes na sala de
aula é essencial que o professor busque sempre inserir a família na escola, pois
qualquer dificuldade que os alunos apresentarem a família terá que resolver, tendo
em vista que o educador não tem condições suficientes para sozinho cuidar de
todos os seus alunos e educá-los sem o apoio da mesma; portanto, é necessária
sua presença na instituição. No entanto, muitos professores sentem dificuldades em
compartilhar as angústias da sala de aula com as famílias, e muitos que tentaram às
vezes receberam respostas negativas.
Como diz Perrenoud (2000, p.113),
Pode-se, então, compreender que o diálogo com os pais não seja vivenciado com satisfação por todos os professores. Alguns temem ou não acreditam mais nele, magoados por palavras infelizes ou por atitudes dissimuladas.
Pode-se compreender a importância do professor sempre estar relacionando
os pais com a escola, nunca perder a esperança, mesmo que um dia isso tenha sido
22
feito e o educador tenha se magoado por alguma palavra ou atitude dos pais, pois é
preciso sempre manter o diálogo.
De acordo com as exigências da Instituição Escolar, a comunidade é
consciente e sabe que é preciso a sua participação para colaborar com a educação
das crianças, porém, muitas vezes ainda falham em alguns aspectos, como: a falta
de relação com a escola para melhor desenvolvimento dos indivíduos que estão
inseridos na mesma, e no caso da escola deixa muito a desejar quanto à inserção
da comunidade em projetos. Mas, é muito boa a participação nos eventos
promovidos na Escola e nos encontros de Pais e Mestres. Sobre comunidade, Menin
e Silva (2012 ) vêm dizer que:
A comunidade em torno da escola não se limita às pessoas que lá estudam e seus familiares, mas estendem-se a todos aqueles que moram no bairro ou nos bairros vizinhos próximos a escola. Temos consciência que, com a globalização, a força da mídia, a proveniência de alunos de diversos locais, entre outros, a escola e todos os seus membros podem ser afetados por influências provindas dos mais diversos espaços (2012, p.4).
Portanto, é preciso ver o quanto uma escola carrega diversos desafios, sendo
necessário sempre um trabalho em equipe: família, escola e comunidade. Para que
todos saiam ganhando é essencial a ajuda dos envolvidos, já que não se pode obter
um bom resultado se existe uma escola parcelada, pois o importante é trabalhar em
conjunto, resultando em uma instituição de qualidade.
1.2 Compreendendo o Ensino Fundamental
Foi a partir da Constituição Federal de 1988 que foram reconhecidos vários
direitos sociais e, consequentemente, a Educação teve grandes conquistas.
Segundo Arelaro (2005, p.1040), ao tratar da Constituição, diz que;
A CF/88 estabelece a educação como direito de todos e dever do Estado, e declara como princípios do ensino não só a igualdade de condições de acesso e permanência, mas a correspondente obrigação de oferta de uma escola com um padrão de qualidade, que possibilite a todos os brasileiros e brasileiras – pobres ou ricos, do sul ou do norte, negro ou branco, homem ou mulher – cursar uma escola com boas condições de funcionamento e de competência educacional, em termos de pessoal, material, recursos financeiros e projeto pedagógico, que lhes permita identificar e reivindicar a ‘escola de qualidade comum’ de direito de todos os cidadãos.
23
A escola é direito de todos e tem que garantir condições de acesso e
permanência. No entanto é percebido o pouco investimento na Educação e, ainda,
alunos sem permanecer na instituição, a maioria das vezes eles precisam desistir,
pois têm que trabalhar, ou mesmo não se sentem estimulados para continuar os
estudos.
A educação sofreu diversas transformações, teve grandes conquistas e o
Ensino Fundamental passou por várias mudanças. Antigamente o Ensino
Fundamental era de 8 anos dividido em dois ciclos: Ensino Fundamental inicial – 1ª
à 4ª série; e Ensino Fundamental final – 5ª à 8ª série e a idade era dos 07 aos 14
anos. Atualmente, são nove anos, isto é, 1º a 5º ano é o Ensino Fundamental anos
iniciais e do 6º ao 9º ano o Ensino Fundamental anos finais. Segundo o MEC, (2007
p.7):
A implantação de uma política de ampliação do ensino fundamental de oito para nove anos de duração exige tratamento político, administrativo e pedagógico, uma vez que o objetivo de um maior número de anos no ensino obrigatório é assegurar a todas as crianças um tempo mais longo de convívio escolar com maiores oportunidades de aprendizagem.
Quadro 3: Ensino Fundamental
SÉRIE – regimento de 8 anos ANO – regimento de 9 anos
Pré – Educação Infantil 1° ano
1ª Série 2° ano
2ª Série 3° ano
3ª Série 4° ano
4ª Série 5° ano
5ª Série 6° ano
6ª Série 7° ano
7ª Série 8° ano
8ª Série 9° ano
Fonte: elaborada pela autora (2015)
24
Podemos perceber que a mudança ocorrida foi a entrada da criança mais
cedo no Ensino Fundamental, o que é necessário que os pais estejam preparados
para essa transformação, tendo em vista que muitos deixam para colocar suas
crianças apenas no 1º ano, sendo preciso que a família tenha consciência de que é
essencial que sua criança esteja na escola a partir dos 04 anos de idade, onde a
mesma desenvolverá grandes conhecimentos motores, cognitivos e físicos.
Ao chegarem ao Ensino Fundamental vivenciarão outros tipos de atividades
que não eram vistos na Educação Infantil, uma vez que esta não tem como objetivo
alfabetizar suas crianças, apenas no Ensino Fundamental inicia-se esse processo.
Dessa forma, o objetivo do Ensino Fundamental segundo o MEC é,
A formação básica do cidadão, mediante: o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo (inciso I), a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade (inciso II), o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores (inciso III), e o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social (inciso IV).
Para que esses objetivos sejam alcançados é necessário um leque de
atitudes do governo e dos professores, seja formação continuada dos educadores,
investimentos em livros, projetos, salas de informática, salas multifuncionais, entre
outros. Desse modo, um dos investimentos do governo é o PNAIC (Pacto Nacional
pela Alfabetização na Idade Certa), onde os professores têm que trabalhar de forma
que alfabetizem as crianças durante 3 anos do Ensino Fundamental 1º ao 3º ano,
em ler, escrever e contar. Portanto, de acordo com o Caderno de apresentação do
PNAIC (2012, p.5):
O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa é um acordo formal assumido pelo Governo Federal, estados, municípios e entidades para firmar o compromisso de alfabetizar crianças até, no máximo, 8 anos de idade, ao final do ciclo de alfabetização.
25
Dessa forma, para que a criança desenvolva essas habilidades como ler,
escrever e contar é preciso trabalhar conjuntamente entre escola, família,
professores e alunos e cobrar do Governo uma Educação de qualidade e com boas
condições para melhor desenvolvê-los. Dessa forma, quanto à inclusão das crianças
de seis anos no Ensino Fundamental, “A Lei nº. 11.274, de 6 de fevereiro de 2006,
assegura o direito das crianças de seis anos à educação formal, obrigando as
famílias a matriculá-las e o Estado a oferecer o atendimento” (Brasil, 2007, p. 27).
Os sistemas de ensino têm autonomia para desdobrar o Ensino Fundamental
em ciclos, desde que respeitem a carga horária mínima anual de 800 horas,
distribuídas em, no mínimo, 200 dias letivos efetivos. No que diz respeito ao
Currículo, Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96,
O currículo para o Ensino Fundamental Brasileiro tem uma base nacional comum, que deve ser complementada por cada sistema de ensino, de acordo com as características regionais e sociais, desde que obedeçam as seguintes diretrizes:
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática;
II - consideração das condições de escolaridade dos alunos em cada estabelecimento;
III - orientação para o trabalho;
IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas desportivas não-formais (ART. 27º, LDB 9394/96).
Na escola pesquisada, o Ensino Fundamental foi criado na mesma época que
a instituição, inicialmente com turmas de 1ª à 4ª série. Atualmente funciona do 1º ao
5º ano. A escola tem duas turmas de cada ano escolar e todas as salas de aula têm
no máximo 30 alunos.
Os professores reclamam bastante, principalmente do comportamento dos
alunos em sala de aula, ainda assim tentam fazer seu trabalho da melhor forma
possível, segundo (Celia Maria Benedicto Giglio apud Antonio Nóvoa) (2012, p.10),
Os professores não são anjos nem demônios. São apenas pessoas (e que já não é pouco!). Mas pessoas que trabalham para o crescimento e a formação de outras pessoas. O que é muito. São profissionais que não devem renunciar à palavra, porque só ela pode libertá-los de cumplicidades e aprisionamentos. É duro e difícil, mas só assim cada um pode reconciliar-se com sua profissão e dormir em paz consigo mesmo.
26
Em se tratando da avaliação, o Ensino Fundamental da escola pesquisada
trabalha da seguinte forma: de 1º a 3º ano a avaliação se dá em forma de
diagnóstico e registro, por semestre, dos alunos. O 4º e o 5º ano já é através de
nota, os professores fazem trabalhos e provas avaliativas no final de cada bimestre.
Sobre o tipo de avaliação presente na escola investigada, prevalece a somativa e a
formativa. Quanto à modalidade de avaliação somativa, Azzi (200, p.19) declara:
A avaliação que acontece ao final nos dá uma dimensão do significado e da relevância do trabalho realizado. Difundida nos meios educacionais com a denominação de somativa, é sempre associada à ideia de classificação, aprovação e reprovação. Tal associação tem sentido e não é errada em uma proposta que tenha esses objetivos. Numa proposta que vise à inclusão do aluno, a avaliação final necessita ser redimensionada, sem perder seu caráter de seriedade e rigor.
Quanto à avaliação formativa, Sant’anna, (2001. p. 34), relata que,
Tem como função informar o aluno e o professor sobre os resultados que estão sendo alcançados durante o desenvolvimento das atividades; melhorar o ensino e a aprendizagem; localizar, apontar, discriminar deficiências, insuficiências, no desenvolvimento do ensino-aprendizagem para eliminá-las; proporcionar feedback de ação (leitura, explicações, exercícios).
Com isso, é preciso buscar sempre desenvolver avaliações significativas para
que o aluno possa obter êxito e, consequentemente, um aprendizado mais
elaborado e não fragmentado; portanto, é essencial o professor sempre se auto
avaliar para não acabar prejudicando o aluno e assim estabelecer mudanças em
suas práticas pedagógicas caso seja necessário.
Fica evidente o quanto o Ensino Fundamental precisa ser trabalhado de forma
sistemática para que não ocorram falhas. Os alunos precisam que os pais os
acompanhem e os professores que os alunos desenvolvam seus potenciais
necessários estabelecidos para cada ano. Desse modo é essencial o planejamento,
a rotina, o trabalho em equipe, o envolvimento da família, entre outros aspectos para
27
que as crianças saiam do Ensino fundamental I sabendo, no mínimo, ler, escrever,
contar e interpretar o mundo que os rodeia, pois como diz Paulo freire (1989, p. 9):
A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto.
Desse modo, é essencial fazer do Ensino Fundamental o meio para alcançar
essa leitura do mundo, para que então os nossos alunos possam desenvolver
competências e habilidades necessárias para suas transformações futuras.
28
2. Sujeitos de nossa análise
Este capítulo será dividido em dois tópicos: no primeiro apresentaremos uma
caracterização geral dos discentes no que diz respeito aos aspectos
socioeconômicos e ao ambiente escolar. No segundo discutiremos alguns elementos
que geram a indisciplina, dentre estes: a relação professor/aluno e a estrutura
familiar. Dessa forma, para preservar a identidade dos envolvidos na pesquisa, as
professoras serão identificadas por nomes fictícios e os alunos por letras.
2.1 Perfil do aluno: Identificando o sujeito
Os alunos das turmas investigadas em sua maioria são de baixa renda. No
que concerne à situação de moradia, 59,62% residem em bairros diferentes e
40,38% moram no mesmo bairro onde a escola está inserida. São 27 alunos
matriculados no turno matutino, frequentando em média 26; no turno vespertino são
matriculados 25 alunos, com frequência em média de 20.
Essas crianças integram a mesma faixa etária (6 a 7 anos de idade), mesmo
assim apresentam características bem diversificadas, pois há crianças ativas,
quietas, entusiasmadas, atentas, agitadas, tímidas, agressivas, dentre outros
aspectos. No entanto, há outras diferenças entre elas, pois existem muitos alunos
com distintas formas de desenvolvimento e aprendizagem.
Para Rapoport, Ferrari e Silva (2009, p.10),
Em um país do tamanho do nosso, a diversidade das crianças que chegam às escolas é muito grande. Não são apenas características físicas, sociais ou de personalidade. Trata-se também de diversidade cognitiva. O ensino fundamental de nove anos não foi concebido com o intento de levá-las a terem contato mais cedo com os conteúdos escolares, mas de fazer com que elas se apropriem mais cedo das oportunidades de conhecimento que a escola propicia. Tampouco se que adiantar os processos de ensino da escrita e da matemática. (2009, p.10)
Com essa diversidade, o professor precisa ter uma boa relação com cada um
dos alunos e saber envolvê-los em todas as aulas, o que não é nada fácil, tendo em
vista os discentes mais agitados, que necessitam de todo o cuidado do educador e
29
aqueles que o professor precisa chamar bastante atenção, pois, caso contrário, o
aluno não compreenderá o assunto exposto em sala.
No turno matutino, os alunos são menos agitados, isto é, acontecem
conversas paralelas, alguns se deslocam de suas cadeiras para as dos colegas,
mas não se dá de forma frequente, tendo em vista que a professora não os deixa à
vontade na sala de aula; eles ficam o tempo todo sentados. Sabemos que é preciso
manter a ordem em uma sala de aula, mas um pouco de diversão é muito saudável
para as crianças que ficam 4 horas entre as paredes da sala de aula, tendo somente
a hora do recreio para o lanche e descanso.
Durante as observações, constatamos que, de acordo com o comportamento
dos alunos, a professora colocava o nome dos maus comportados no quadro, estes
tinham como punição ficar sem recreio, podendo ir pegar a merenda e retornar para
a sala.
Essa é uma forma que a professora acredita ser eficaz para conter um pouco
os alunos, pois caso ela não o faça, eles podem pensar que têm o direito de fazer o
que querem. Segundo relatos da professora da manhã, “os alunos são bastante
agitados, eu sei que sou muito dura com eles, mas percebo que se não for assim
eles tomam conta da sala e fazem muita bagunça; portanto, tenho que ser assim”.
Com esse depoimento a professora se autoavalia e percebe que às vezes é
muito dura com os alunos, porém ela sabe que se não for assim eles ficam ainda
mais agitados e, como consequência, ela não conseguirá dar aula. Segundo Barbato
(2008, p.24).
As crianças de seis anos falam alto sozinhas, muitas vezes, enquanto a professora fala, podendo ser interpretado como bagunça. Entretanto, caracteriza-se como a fala egocêntrica, que está funcionando como planejadora de sua ação e de seu pensamento. Ele descreve as crianças de seis/sete anos de interessante, como se as tivéssemos vendo na sala: ‘elas se movimentam muito pela sala, usam os dedos para contar, apontam, se espreguiçam, quase se deitam nas mesas quando tentam resolver a atividade, trocam de lápis, deixa cair objetos’.
Os alunos do período matutino são mais organizados, quietos e atendem
melhor a professora; alguns por medo, tendo em vista que a docente é bem rígida.
Os tipos de comportamentos observados são variáveis, porém sem muitos
problemas, tendo em vista que os alunos apenas conversam entre si, cantam
30
baixinho, alguns passeiam pela sala e brigam com o colega. Mas, quando isso
ocorre, a professora chama logo a atenção dos alunos e fica apenas por isso
mesmo, as crianças obedecem, e o que é mais incrível é o silêncio que paira na
sala, com isso a indisciplina existente é controlada. Portanto, foi identificado que
existe alguma forma de indisciplina na sala de aula da turma da manhã, porém dá
para conter; a própria professora é satisfeita quanto a isso, ela só fica revoltada
quando está dando aula e alguns alunos olham para outros lugares e não para o
quadro.
Alguns alunos tiram a paciência da docente. Quanto a essa questão do olhar
para o quadro, tendo em vista que com base em observações realizadas, no dia
06/04/2015, foi constatada a falta de atenção de uma criança na hora do reforço. A
professora passou o horário inteiro chamando sua atenção, o aluno só olhava na
hora que a professora mandava, depois voltava a brincar com seus dedos. Para ele
era mais interessante a sua brincadeira de faz de conta do que o assunto que a
educadora estava tratando no quadro.
No que diz respeito a brigas violentas, a turma da manhã é bem tranquila,
pois não há esse tipo de comportamento. Há outra criança que chora muito na sala;
a professora falou que ela é muito tímida, porém não vimos aproximação da docente
com a criança, o que poderia diminuir esse problema. Portanto, os alunos se sentem
bem inquietos; contudo, tentam se comportar, pois a professora não admite nenhum
tipo de mau comportamento.
Dessa forma, é perceptível que na sala de aula do turno matutino as crianças
na turma da professora Adriana1 sentem apenas necessidade de brincar, por isso
ficam um pouco inquietas em seus lugares, porém a educadora não as deixa sair
das cadeiras. Os alunos não conseguem ficar sentados em seus lugares como
estátuas, principalmente nessa idade, em que tudo que o aluno quer é brincar, se
divertir, conversar, interagir com os colegas.
No período da tarde os alunos são mais agitados, o comportamento é
indisciplinado, a relação com a professora Marcela2 não é muito boa, tendo em vista
que ela grita, discute e reclama com os alunos. Na 1ª observação, dia 13/03/2015,
foi percebido o quanto os alunos conversam e brincam. A professora não parece
ligar muito, apenas quando começa a atingir completamente a aula é que ela pede
1 Nome fictício da professora da manhã.
2 Nome fictício da professora da tarde.
31
silêncio. Mesmo na contação da história os alunos não prestam atenção à
educadora. Quando a mesma termina e vai explanar toda a contação oral, são
poucos os alunos que lhe respondem. As crianças sempre estão fazendo outras
coisas, enquanto a professora tenta dar seu conteúdo. São alunos brincando entre
as cadeiras, se arrastando no chão, são 2 alunos que tiram toda a concentração da
turma, o que prejudica muito a aprendizagem dos que estão na escola para
aprender.
Esses dois alunos (X e Y)3 que tiram toda a concentração da sala, afetam
bastante o desenvolvimento da aula. Mas, com as observações foi constatado que
não é somente a relação do professor com o aluno que causa a indisciplina desses
alunos, mas o problema está, também, na família. Em conversa com a professora da
tarde ela relatou tudo sobre esses dois alunos que tiram toda a concentração dos
colegas.
O aluno X foi abandonado pela mãe, e está morando com o pai e a madrasta, na qual deixam-no a vontade, ele passa o dia inteiro nas ruas, simplesmente não tem limites em casa, e seus responsáveis não dão carinho a ele, com isso, quando vem para a sala de aula quer ficar solto, porém este eu consigo controlar mais, converso com ele, consigo amenizar um pouco a falta de disciplina. Já o outro aluno Y, ele mora com os pais em uma casa com dois vãos, e a criança passa o dia inteiro jogando videogames, sendo jogos violentos, e assistindo todo o tipo de programação, a mãe não o deixa sair de casa, então quando ele vem para a escola, que é o único local onde o mesmo tem mais liberdade, ele não fica parado nenhum momento, chama palavrões na sala, é bastante violento e este eu não consigo agradar de nenhuma forma, para ele nada está bom.
Dessa forma, como percebido, esses alunos têm problemas específicos, mas
todos voltados para a família. Sabe-se que a estrutura familiar afeta drasticamente a
vida escolar dos alunos, mas a professora tenta fazer o máximo que pode, e ela
sabe que é muito difícil. No entanto, não só esses dois alunos, mas a maior parte da
turma tem problemas bem parecidos, e por esse motivo é essencial inserir a família
no contexto escolar.
É perceptível a diferença entre as turmas, enquanto as crianças da manhã
são mais esforçadas, organizadas, interagem-se melhor com os assuntos abordados
pela professora, no período da tarde as crianças já são mais agitadas,
3 Nome fictício dos alunos da tarde.
32
desorganizadas, indisciplinadas e muito bagunceiras, tendo em vista que a
professora as deixa mais soltas.
Nas duas turmas há alguns alunos cuja família não os acompanha em
nenhum aspecto; contudo, no período da tarde existem mais alunos cujos pais não
desenvolvem nenhum interesse quanto à aprendizagem do seu filho, o que acarreta
diversos problemas nessas crianças, principalmente o fracasso escolar. Dessa
forma, é preciso que os professores sempre estejam trabalhando essa questão da
família e tentem transformar esses alunos em pessoas melhores, principalmente
para o próprio crescimento pessoal deles.
Em relação à renda familiar dos alunos, a maioria dos pais não possui renda
fixa, apenas alguns trabalham com carteira assinada. Quanto ao número de alunos
que recebem bolsa família, é de um total de 52 alunos, nos dois turnos do 1º ano, 33
recebem o bolsa família, ficando de fora os outros 19. Como exemplificado no
(quadro 4) a seguir:
Quadro 4: Número de alunos do bolsa família
Fonte: Elaborada pela autora (2015)
Portanto, o bolsa família é uma ajuda necessária, contudo, acaba que muitos
pais mandam seus filhos para a escola apenas para não perder esse dinheiro, pois
muitas famílias não estão interessadas se seu filho está desenvolvendo ou não o
aprendizado.
É preciso compreender o quanto a família é essencial para o desenvolvimento
do aluno, seja pessoal, profissional, social, político, entre outros aspectos, pois o que
mais afeta a vida de uma criança é o distanciamento que a própria família causa,
desestimulando o aluno em todos os aspectos citados acima e ainda os deixam mais
propícios a desenvolverem sentimentos de raiva, inquietação e violência. Dessa
forma, a estrutura familiar em que a criança está inserida faz com que esse aluno
possa desenvolver suas habilidades ou mesmo regredir.
Alunos com bolsa família no período manhã 18
Alunos com bolsa família no período da tarde 15
Total 33
33
Sendo assim, a indisciplina também está associada à família, tornando-se
necessária a ajuda simultânea entre pais e professores para tentar amenizar esse
problema tão frequente na escola contemporânea.
2.2 O que constatamos acerca da indisciplina
A indisciplina é algo que dificulta bastante o desenvolvimento de qualquer
aula. É um assunto bastante problemático e que muitos docentes se sentem de
mãos atadas sem saber o que fazer. No entanto, para combater a indisciplina é
necessário um processo contínuo para pelo menos amenizar esse problema.
Segundo Aquino (1996, p.84):
O próprio conceito de indisciplina, como toda criação cultural, não é estático, uniforme, nem tampouco universal. Ele se relaciona com o conjunto de valores e expectativas que variam ao longo da história, entre as diferentes culturas e numa mesma sociedade: nas diversas classes sociais, nas diferentes instituições e até mesmo dentro de uma mesma camada social ou organismo. Também no plano individual a palavra indisciplina pode ter diferentes sentidos que dependerão das vivências de cada sujeito e do contexto em que forem aplicadas.
Dessa forma, existem muitos motivos para que essa indisciplina esteja
ocorrendo em uma determinada sala de aula ou escola; no entanto, são diversos os
fatores que contribuem para que isso possa ocorrer: falta de limites em casa,
famílias desestruturadas, relação professor-aluno, crianças com problemas em casa,
entre outros aspectos. Para saber quais as características de uma determinada
turma é preciso investigar, ser um professor pesquisador e aprender a lidar com
esses problemas, pois em uma sala de aula há diversas dificuldades e o educador
precisa estar ciente de todas e saber construir soluções para amenizá-las e
conseguir desenvolver sua aula.
No entanto, isso não é tarefa fácil, já que muitos professores se sentem
desmotivados quando estão em uma sala de aula e não conseguem fazer
absolutamente nada, pois os alunos não deixam, trazendo a desordem e a
indisciplina.
Isso afeta o professor de tal forma que o mesmo não se sente estimulado em
combater esse problema, principalmente quando não há ajuda por parte da equipe
34
da escola; já outros e, poucos, tentam solucionar e se sentem satisfeitos com os
resultados obtidos.
Foi percebido que nas salas de aula investigadas há indisciplina, no entanto,
de formas bem variadas, sendo que no período da manhã é menor e no período da
tarde a situação chega a ficar descontrolável, muitas vezes acarretando em
violência. Pela manhã a professora é bastante tradicional quanto à questão do
comportamento, pois os alunos têm que ficar sentados nas cadeiras enquanto a
mesma dá sua aula, o que quanto à questão da disciplina funciona, porém, as
crianças se sentem muito cansadas, pois não há o lúdico de forma frequente na sala
de aula. Segundo O dicionário Aurélio (1986, p.595):
O termo disciplina pode ser definido como: regime de ordem imposta ou livremente consentida. Ordem que convém ao funcionamento regular de uma organização (militar, escolar, etc.). Relações de subordinação do aluno ao mestre ou ao instrutor. Observância de preceitos ou normas. Submissão a um regulamento. E, disciplinar, o ato de sujeitar ou submeter à disciplina: disciplinar uma tropa. Fazer obedecer ou ceder; acomodar, sujeitar; corrigir: procurou disciplinar os instintos selvagens da criança. E ainda, disciplinável como: aquele que pode ser disciplinado. Já o termo indisciplina refere-se ao procedimento, ato ou dito contrário à disciplina; desobediência; desordem, rebelião. Sendo assim, indisciplina é aquele que se insurge contra a disciplina (FERREIRA, 1986,P. 595).
A indisciplina seria, dessa forma, o mau comportamento do aluno em sala de
aula ocorrida pelo desinteresse pela aula exposta, a falta de regras e limites seria
outro ponto importante, tido como desobediência, desordem e bagunça, dificultando
o desenvolver da aula do professor.
O educador tem um papel fundamental e importante para reverter ou
amenizar essa situação, pois, como é sabido, a indisciplina é um processo que
nunca acaba; então, é necessário sempre estar desenvolvendo soluções para
diminuir essa problemática.
Na turma da tarde foi constatado que a indisciplina é mais acentuada, os
alunos correm, pulam, gritam, brigam, bagunçam e, acima de tudo, desobedecem à
própria professora, que tenta expor sua aula, mas eles não a deixam trabalhar, pois
não param um minuto. A educadora fala bastante para que os alunos que estão
35
interessados possam ouvi-la e tentar aprender algo. Dessa forma, segundo Oliveira
(2005, p.21),
Além de a indisciplina causar danos ao professor e ao processo ensino-aprendizagem, o aluno também é prejudicado pelo seu próprio comportamento: ele não aproveitará quase nada dos conteúdos ministrados durante as aulas, pois o barulho e a movimentação impedem qualquer trabalho reprodutivo.
Assim, a indisciplina gerada em sala de aula prejudica não só o professor
como também quem está participando do processo de ensino e aprendizagem.
Desse modo, o próprio aluno se torna prejudicado pelas suas próprias ações; logo, é
necessário não só o professor saber desenvolver uma interação boa com os alunos,
como também conversar com a família e saber como trabalhar essa criança que ao
mesmo tempo em que se faz mal, também transtorna os seus colegas.
Em observação realizada no dia 13/03/2015, alguns alunos conversavam,
outros pintavam, se arrastavam no chão e houve ainda outra cena em que dois
alunos estavam brigando, os alunos X e Y. O X queria jogar o caderno do Y, porém
o Y conseguiu pegar a garrafinha do X e jogou. Então, para se vingar, o garoto X
pegou sua garrafinha e molhou toda a mesa do colega Y. Vendo isso, a professora
mudou o aluno Y de lugar.
Toda essa bagunça apenas atrapalha a concentração dos alunos
interessados e também da professora que está ali tentando ministrar sua aula. Há
um aluno Z que é toda a aula correndo, pulando, fazendo outras coisas,
conversando, brigando com os colegas, sem falar que a professora fala, mas ele não
ouve, pois o mesmo não lhe obedece. Em observação realizada no dia 18/03/2015,
a professora chamou o aluno Z para fazer a atividade de sala, então ele respondeu
que não ia fazer. Quando a educadora o chamou ela estava na cadeira do aluno e
este andando pela sala; como ele não quis vir quando ela o chamou, ela também
não insistiu mais, e o deixou à vontade.
Essas crianças são as mesmas que acabam gerando fracasso escolar e são
conhecidas como “aluno-problema” que, segundo Aquino (1998 p.2),
O aluno-problema é tomado, em geral, com aquele que padece de certos supostos ‘distúrbios psico/pedagógicos’; distúrbios estes que podem ser de natureza cognitiva (os tais ‘distúrbios de aprendizagem’) ou de natureza
36
comportamental, e nessa última categoria enquadra-se um grande conjunto de ações que chamamos usualmente de ‘indisciplinados’. Dessa forma, a indisciplina e o baixo aproveitamento dos alunos seriam como duas faces de uma mesma moeda, representando os dois grandes males da escola contemporânea, geradores do fracasso escolar, e os dois principais obstáculos para o trabalho docente. (p.2)
De acordo com as observações, constatamos que no que concerne à relação
das professoras com os seus alunos, a educadora Adriana não apresenta uma
aproximação afetiva com os mesmos, mas tem uma grande autoridade com sua
turma. Com conversas bem tranquilas, propõe acordos e combinados e os alunos
interagem com a professora quando são chamados, estabelecendo uma abertura
para os mesmos. Já a professora Marcela tem uma relação com seus alunos bem
discutível, pois reclama muito com os mesmos não havendo uma conversa pacífica,
já que ela tenta trabalhar e falar dos combinados e das boas maneiras, mas os
alunos não a ouvem, sendo preciso alterar a voz. É necessário o professor tentar
exercer uma relação de confiança junto com o aluno, para que suas relações
pedagógicas sejam baseadas na compreensão. Para isso, segundo Giddens (1991,
p.123),
A confiança em pessoas não é enfocada por conexões personalizadas no interior da comunidade local e das redes de parentesco. A confiança pessoal torna-se um projeto, a ser ‘trabalhado’ pelas partes envolvidas, e requer abertura do indivíduo para o outro. Onde ela não pode ser controlada por códigos normativos fixos, a confiança tem que ser ganha, e o meio de fazê-lo consiste em abertura e cordialidade demonstráveis.
Em todas as observações realizadas no período vespertino constatamos o
desinteresse por parte de alguns alunos na aula, não por ela não ter sido planejada,
mas simplesmente porque algumas crianças não conseguem prestar atenção à
professora e querem fazer outras coisas, como por exemplo: correr na sala de aula e
perturbar os colegas. Assim, o que é percebido é que a educadora oferece abertura
aos alunos, eles falam, interagem, mas a professora passa boa parte dando aula
aos gritos e a poucos alunos que conseguem ouvir o que ela está falando, uma vez
que algumas crianças fazem bastante bagunça.
A indisciplina prejudica muito esses alunos, e os professores ficam, muitas
vezes, sem saber por onde começar para tentar amenizar esse tipo de
37
comportamento, mas é importante destacar a importância que o educador tem para
tentar melhorar ou mesmo piorar essa situação. Como diz Aquino (1996, p.50),
A saída possível está no coração mesmo da relação professor-aluno, isto é, nos nossos vínculos cotidianos e, principalmente, na maneira com que nos posicionamos perante nosso outro complementar. Afinal de contas, o lugar de professor é imediatamente relativo ao de aluno, e vice-versa. Vale lembrar que, guardadas as especificidades das atribuições de agente e clientela, ambos são parceiros de um mesmo jogo. E o nosso rival é a ignorância, a pouca perplexidade e o conformismo diante do mundo.
Consequentemente, se o professor não tiver paciência, compreensão,
estímulo e interesse em seus alunos, isso contribuirá para a indisciplina, pois é
preciso que a relação professor/aluno seja mais que meros personagens em uma
sala de aula, na qual o professor apenas transmite o conteúdo e o restante da turma
aprende. Uma vez que não haja troca de saberes e de interação entre alunos e
educadores ou vice-versa não estará ocorrendo uma boa relação entre esses
sujeitos que fazem parte da sala de aula.
Os alunos precisam de todo o apoio familiar, e, também, do professor, pois
este pode mudar completamente as atitudes dos mesmos, mas para isso o docente
precisa ser um profissional bem qualificado e saber lidar com cada aluno
individualmente. Eles precisam ser compreendidos pelos pais, professores, colegas
e demais indivíduos que compõem a escola; no entanto, muitos vão logo os julgando
sem ao menos saber o que é que está acontecendo na vida particular desses alunos
indisciplinados; portanto, antes de qualquer ação devemos ter o conhecimento.
38
3. Práticas Pedagógicas: Sujeitos, saberes e experiências
Neste capítulo apresentaremos o perfil dos sujeitos de nossa pesquisa e
discutiremos sobre suas práticas pedagógicas, sendo relevante para compreender
melhor os professores investigados.
3.1 Professor: Identificando o sujeito
Conhecer o perfil dos profissionais investigados é de suma importância, pois
devemos avaliar esse profissional para podermos entender o contexto em que foram
qualificados e a forma como a sociedade os concebe. Nesse sentido, Garcia (2008,
p. 33) nos apresenta uma definição para o ser professor: “é uma pessoa, persona
que tem uma história, alguém que fez seu mundo em relação aos outros, aos fatos e
acontecimentos, mas essencialmente em relação a si mesmo”.
O professor é aquele que tem toda uma formação para chegar aonde estar
atualmente, são aprendizados, experiências, vivências e sacrifícios, tendo como
ponto de partida a vontade, a coragem, o querer mudar, o agir e o refletir sobre os
seus atos.
No contexto de nossa pesquisa, identificamos que as professoras
investigadas vivenciaram diversas experiências. A docente Adriana iniciou suas
atividades profissionais em escolas particulares. Tem 10 anos de atuação em sala
de aula, sempre buscando se qualificar. Atualmente está concluindo uma pós-
graduação em Psicopedagogia Institucional e Clínica. Ela complementa que: “O
curso de especialização é muito bom, o problema é que requer muito de nós e
devemos nos esforçar mais, e quanto a isso não acho que dei tanta prioridade, acho
que deveria ter me dedicado mais”.
Para Garcia (2008, p.43),
A formação de professores, portanto, deve ser pautada na perspectiva de um processo de desenvolvimento profissional permanente. Aqui, a formação continuada é condição que deve ser perseguida e buscada pelo profissional da educação. [...], pois é dele e a partir dele que se avalia a qualidade da educação no Brasil.
39
É nesse caminho que se busca mostrar a importância que a formação
continuada exerce no professor e este em seus alunos, pois é a partir do processo
de desenvolvimento profissional que se busca qualificar os professores em diversas
instâncias.
Ainda com relação à professora Adriana, na maioria das vezes, age com
autoridade e controla bem a sala de aula; além disso, ela é bastante rigorosa quanto
à ordem na sua turma, pois, caso contrário, não conseguiria prosseguir sua aula.
A professora Marcela tem mais anos de experiência, são 13 anos de
vivências, desafios e muito aprendizado. A mesma é empenhada em seus objetivos,
dinâmica, e já trabalhou como supervisora, mas percebeu que na verdade se
identifica com a sala de aula. Este ano está lecionando no 1º ano em uma turma
bastante problemática.
Apesar de parecer ser um pouco solta quanto à questão de ordem em sala de
aula, tenta trabalhar da melhor forma possível e busca desenvolver diversas
metodologias para que seus alunos avancem quanto à psicogênese da língua
escrita4. No que diz respeito ao comportamento, a mesma tenta conter os alunos,
mas a maioria das vezes é quase impossível.
É importante destacar que as duas professoras têm autonomia para
trabalharem da melhor forma em suas salas de aula, aprimorando seus
conhecimentos, pois é necessário aperfeiçoar-se, qualificar-se e ter um bom
planejamento para então desenvolver as aprendizagens necessárias aos alunos,
estabelecendo identidade a si própria. Segundo Garcia (2008, p. 36):
“Ao percorrer o caminho da formação, ao decidir sobre o destino da aprendizagem dos alunos, ao definir seu planejamento diário, ao adentrar a sua sala de aula, o professor age autônoma e pessoalmente identificado”.
São professoras com experiências e vivências diferentes, acumuladas em
mais de uma década. Elas conhecem seus alunos, sabem ou tentam lidar com eles,
4 A Psicogênese da Língua Escrita é uma abordagem psicológica de como a criança se apropria da língua escrita e não um
método de ensino. De acordo com a Psicogênese da Língua Escrita, o aprendizado do sistema de escrita não se reduziria ao domínio de correspondências grafo-fonêmicas (a decodificação e a codificação), mas se caracterizaria como um processo ativo no qual a criança, desde seus primeiros contatos com a escrita, constrói e reconstrói hipóteses sobre a sua natureza e o seu funcionamento.
40
e reconhecem que cada ano é um novo desafio, pois as turmas são diferentes e os
alunos apresentam comportamentos e aprendizados distintos.
3.2 Práticas Pedagógicas: analisando o docente
Os educadores atualmente têm uma missão muito importante para com seus
alunos, pois as crianças estão cada vez mais indisciplinadas e desinteressadas em
aprender; indisciplinadas, porque algo não está de acordo com o que eles acham
que deve ser, resultando em insatisfação e revolta; desinteressadas, porque não
conseguem mais se envolver pelos conteúdos e metodologias que os professores
trabalham em sala de aula. Isso tudo acarreta diversos problemas, principalmente o
fracasso escolar, mas o professor precisa estabelecer objetivos para reverter este
quadro imediatamente. Para Aquino (1998, p.5),
Essa é a grande tarefa dos educadores brasileiros na atualidade: fazer com que os alunos permaneçam na escola e que progridam tanto quantitativa quanto qualitativamente nos estudos. Mesmo porque escolaridade mínima e obrigatória é um direito adquirido de todo aquele nascido neste país. E desse princípio ético-político, e também legal, não podemos abrir mão sob hipótese nenhuma.
Dessa forma, estabelecer metas, objetivos e prioridades torna o educador
capaz de fazer com que os alunos permaneçam na sala de aula. No entanto, a
trajetória para que isso ocorra é desgastante, pois muitos educadores se sentem
desmotivados quando estão atuando e não conseguem pôr em prática o que
planejaram, pois sempre há uma criança ou um grupo de crianças que atrapalham,
tornando difícil o processo de ensino e aprendizagem. Porém, a relação que o
professor deve manter com seu aluno deve ser sempre positiva, caso contrário, só
tende a piorar o comportamento do mesmo. Dessa forma é preciso, (PINHEIRO
apud TARDIF, 2010, p.87).
[...] saber reger uma sala de aula, estabelecer uma relação com os alunos é mais importante do que as relações com os especialistas e com a Secretaria de Educação. No discurso docente as relações com os alunos constituem o espaço onde são validados suas competências e seus saberes
41
O professor tem toda uma trajetória escolar para construir seu saber-fazer,
pode ser através das experiências vivenciadas ou mesmo tendo como subsídios
professores antigos. Dessa forma, o docente necessita inserir diversas
metodologias, estabelecer uma rotina, ter clareza nos assuntos expostos e,
principalmente, ter uma boa relação com seus alunos, ou seja, estabelecer uma boa
gestão na sala de aula e no trabalho pedagógico.
A prática pedagógica dos professores é um fato muito importante para que os
alunos se empenhem nas aulas, e para isso os educadores precisam ter uma base
teórica e segurança na hora de falar com seus alunos. Desse modo, para obter uma
boa prática é necessário que o educador queira, se responsabilize e tente alcançar
os objetivos que deseja. Segundo Sacristán e Gómez (1998, p. 9):
Sem compreender o que faz, a prática pedagógica é mera reprodução de hábitos existentes, ou respostas que os docentes devem fornecer à demanda e ordens externas. Se algumas ideias, valores e projetos se tornam realidade na educação é porque os docentes os fazem seus de alguma maneira: em primeiro lugar, interpretando-os, para depois adaptá-los... Apenas na medida em que cada um tenha claro esses projetos e essas ideias, pode ser um profissional consciente e responsável.
Desse modo, o professor precisa buscar projetos e ter a coragem de enfrentar
os problemas existentes em sua sala de aula, para tentar amenizar ou solucioná-los;
no entanto, é essencial querer transformar, envolver seus alunos junto aos projetos
e trabalhar em equipe.
No que concerne aos professores que não levam em consideração o
sentimento do aluno, ou o sentido para aquela aula, de nada adianta determinar que
o mesmo desempenhe um bom trabalho em sala de aula se a didática é
inadequada. A figura a seguir vem explicitar tudo que foi abordado neste parágrafo.
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Dessa forma, se a didática que o professor pretende utilizar com os alunos
não diz nada de interessante para eles, logo os mesmos não aprenderão nada de
significativo. É preciso que os professores sempre busquem elaborar aulas mais
significativas, sendo desenvolvidas a partir de boas práticas pedagógicas.
De acordo com as observações realizadas e a entrevista, percebemos o
quanto as práticas didático-pedagógicas são diferentes entre as professoras. Apesar
de planejarem juntas os assuntos a serem trabalhados durante aquela semana, as
mesmas têm especificidades quanto ao modo de ensinar, e sua rotina se estabelece
da seguinte forma:
Quadro 5: Rotina da sala de aula - Matutino
Acolhida e oração
Aula de reforço
Recreio
Contação de história
Alguma outra disciplina (geralmente relacionada a história contada)
Tarefa para casa
Fonte: Elaborado pela autora (2015)
Quadro 6: Rotina da sala de aula – Vespertino
Fonte: Elaborado pela autora (2015)
Acolhida e oração
Contação de história
Reforço com música ou texto
Recreio
Atividade relacionado com algum conteúdo/ disciplina
Tarefa para casa
Figura 7: Aula sem Sentido Fonte: Nova Escola
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Como percebido nos quadros, a rotina é um pouco diferente, pois enquanto
uma faz a contação de história no primeiro horário, a outra faz depois do recreio e
toda essa organização também contribui para o comportamento da turma.
Recife (2002, p.1) diz que,
É importante pensar numa rotina de trabalho que atenda as necessidades das crianças e sua família, pressupõe planejar o tempo e o espaço de modo que assegure a criança viver sua infância plenamente, como cidadã, respeitando seus ritmos, sua identidade pessoal, social e cultural, suas características físicas e de desenvolvimento, entre outras.
Quanto à aula de reforço, as professoras trabalham apenas com quadro e
lápis. Nos dias de observação não houve nenhuma vez em que as mesmas
reforçassem o alfabeto de outra forma; contudo, a educadora Adriana explora todas
as palavras e seus significados, deixando o reforço menos cansativo para os alunos.
A contação de história é outra metodologia que está na rotina e que os alunos
participam bastante, principalmente os da manhã, pois algumas crianças do período
vespertino não prestam atenção à mesma. A professora Marcela tenta despertar o
interesse dos alunos, mas dificilmente ela consegue. Sendo assim, a rotina está
ligada ao tempo e à organização do espaço escolar. Segundo (Pinheiro apud
Rodrigues, 2010 p.103):
A relação entre o tempo e o espaço indica movimento, transformação e é indissolúvel, não podendo ser, portanto, desmembrada, separada, anulada. Pode-se conceber, assim, a sala de aula como uma unidade de tempo e espaço, em que o movimento e a transformação são constantes, em que professores e alunos aprendem e se desenvolvem e em que as práticas escolares educativas e o trabalho do professor são construídos.
Toda essa prática pedagógica está alicerçada no interesse do professor em
expor os conteúdos que se encontram no plano de curso da escola, que serve como
base para o educador saber o que ensinar. Considerando os planos disponibilizados
na escola, percebemos que os mesmos não têm nada de diferente, eles têm os
mesmos conteúdos e não há acréscimo de um para o outro em assuntos.
Nesse contexto, existem conteúdos que o professor pode trabalhar com a
criança no 1º ano, e que não estão disponibilizados para este ano de ensino,
conforme o quadro a seguir:
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Quadro 7: Conteúdos que poderão ser trabalhados no 1º ano
Linguagem oral História e Geografia
Ciências Religião
Diário5 O tempo de ser
criança Água para beber Respeito às diferenças
individuais de cada pessoa
Produção e interpretação escrita e oral
Tempo de brincar Poluição ambiental
Construindo a cidadania
O Corpo Humano
O Brasil cultural A alimentação
Município A alimentação e os dentes
Fonte: elaboração da autora (2015)
Sendo assim, de acordo com o quadro, podemos compreender o quanto
existem conteúdos que devem ser explorados na sala de aula. O diário, por
exemplo, faz com que o professor perceba o desenvolvimento da aprendizagem do
aluno no decorrer do ano; a alimentação e os dentes é um assunto essencial, pois
as crianças atualmente estão cada vez mais com uma má alimentação, prejudicando
o seu próprio corpo e também os dentes. O município é outro conteúdo onde os
alunos poderão conhecer melhor sua própria cidade e tentar compreender tudo que
acontece em sua volta. As professoras sempre buscam subsídios no Plano de Curso
quando vão elaborar seus planejamentos e vão de acordo com o mesmo, mas não é
perceptível o interesse das mesmas por uma mudança no Plano da escola. Segundo
(VASCONCELLOS, 1995, p.117 in Padilha, 2003, p.41)
O plano de curso é a sistematização da proposta geral de trabalho do professor naquela determinada disciplina ou área de estudo, numa dada realidade. Pode ser anual ou semestral, dependendo da modalidade em que a disciplina é oferecida.
Foi perceptível em observações realizadas que as professoras fazem toda
uma gestão da sala de aula. A professora Adriana tem mais autoridade para com
seus alunos, também é bastante segura em todas as suas falas e consegue fazer as
crianças prestarem atenção na aula exposta, de forma que todos ficam em silêncio.
5 Diário está como conteúdo no Plano de Curso da escola pesquisada.
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Tudo que faz é de forma sistemática e organizada, e os alunos são avisados sobre o
que irão trabalhar naquele dia de aula e todos conseguem compreender o que a
professora está propondo, já que ela faz questão de deixar bem claro. Entretanto, as
crianças passam muito tempo sentadas nas cadeiras, e caso um aluno esteja fora
do lugar ou não esteja atento à aula, a docente chama logo sua atenção, pois ela
quer que todos olhem para o quadro para aprender.
Quanto às práticas pedagógicas utilizadas em sala de aula, a professora
Adriana trabalha com textos e busca sempre trabalhar com música, pois ela
percebeu que os alunos gostam, prestam mais atenção e interagem melhor. Introduz
jogos do CEEL6 e do projeto Trilhas7, mas acha muito difícil trabalhar com os
mesmos, pois quando ela está jogando com um número de alunos, os outros
querem ficar bagunçando. Dante (1998, p. 49) destaca que,
As atividades lúdicas podem contribuir significativamente para o processo de construção do conhecimento da criança. Vários estudos a esse respeito vêm provar que o jogo é uma fonte de prazer e descoberta para a criança [...].
Quanto ao livro didático, a professora diz que trabalha quase todos os dias,
porém não utiliza o livro todo, pois só as partes que têm a ver com o cotidiano dos
alunos, que são os de português e matemática; deste último são feitas cópias, pois
estão faltando alguns exemplares, mas a professora falou que é tranquilo e que traz
outras atividades impressas.
A maior parte dos alunos sente-se entusiasmados em fazer as atividades de
sala, outros não têm muito estímulo, o que eles gostam mesmo é de conversar, mas
quando a professora quer silêncio, a sala toda obedece.
Uma das atividades de que eles gostam da aula e participam muito é quando
a professora conta historinha. Essa atividade é desenvolvida sempre depois do
recreio já para acalmar as crianças que passam o intervalo todo correndo e
brincando. 6 Centro de Estudos em Educação e Linguagem é uma ação voltada para a formação de professores na área de
alfabetização e língua portuguesa e tem se dedicado a produzir recursos didáticos que possam auxiliar o professor a melhor conduzir o ensino e facilitar a aprendizagem dos alunos. 7 É um conjunto de materiais elaborados para instrumentalizar e apoiar o trabalho docente no campo da leitura,
escrita e oralidade, com o objetivo de inserir as crianças do primeiro ano do Ensino Fundamental em um universo letrado. São cadernos de orientação do professor, jogos educativos, cartelas para atividades, além de títulos literários.
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Segundo relatos da professora, ela gosta de trabalhar o lúdico em sala de
aula, acha muito interessante e busca sempre envolver outros conteúdos. Quanto
aos cantinhos de leitura, a professora enfatiza que apenas conta história para eles,
pois, apesar de ter o cantinho de português e o de matemática, já confeccionados,
ainda não pôde colocá-los em sala de aula, devido estar atuando na sala que era de
informática e, tanto os computadores como os livros da sala de leitura ainda se
encontram por lá.
Como recursos e metodologias para o desenvolvimento da aula a professora
Adriana utiliza diversos materiais, dentre eles: Datashow, vídeos, cartazes, jogos e
trabalha de forma interdisciplinar. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacional do
Ensino Fundamental.
A interdisciplinaridade questiona a segmentação entre os diferentes campos de conhecimento produzida por uma abordagem que não leva em conta a inter-relação e a influência entre eles — questiona a visão compartimentada (disciplinar) da realidade sobre a qual a escola, tal como é conhecida, historicamente se constituiu. Refere-se, portanto, a uma relação entre disciplinas.
A educadora Marcela sabe tudo que vai trabalhar, tem todos os seus
planejamentos elaborados, porém quando tenta fazer alguma atividade,
determinados alunos não estão interessados e ficam dispersos, tumultuando, porque
a mesma não tem tanta autoridade para controlá-los.
Para se ter uma boa relação com o aluno o professor precisa saber que tipo
de respeito quer causar nele – o da compreensão ou do medo – e é sabido que este
último só tende a afastá-lo da vida escolar. De acordo com Aquino (1998, p.4):
É obvio que uma relação de respeito é condição necessária (embora não suficiente) para o trabalho pedagógico. No entanto, podemos respeitar alguém por temê-lo ou podemos respeitar alguém por admirá-lo. Mas, convenhamos, há uma grande diferença entre esses dois tipos de ‘respeitos’. O primeiro funda-se nas noções de hierarquia e superioridade, o segundo, nas de assimetria e diferença. E há uma incongruência estrutural entre elas!
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Dessa forma, torna-se evidente a preocupação da professora com seus
alunos indisciplinados, já que ela sabe o quanto é desgastante. Percebe que a cada
dia é mais difícil lidar com os alunos, mas tenta ao máximo que os mesmos
aprendam. Em seu questionário a professora Marcela fala um pouco sobre o que
seria essa indisciplina, os motivos, a diferença de antes e de agora.
Antes, os alunos eram mais disciplinados, respeitavam pais e professores, estudavam mais e aprendiam com mais facilidade, o compromisso com o estudo era seu principal objetivo, a comunicação e o contato físico aconteciam de forma saudável e prazerosa, a interação entre os alunos eram espontânea, alegre, sendo assim, os professores ensinavam tranquilos e menos estressados, bem diferente de hoje, onde a variedade e o avanço da tecnologia estão tomando conta dos cérebros dos nossos alunos, fazendo uma verdadeira confusão, tornando o real e irreal componentes do cotidiano dos mesmos, gerando agressividade, desrespeito, indisciplina, agitação e falta de atenção na sala de aula, como também em casa, tornando a missão de educar árdua, cansativa, desgastante e menos prazerosa, pois lidar com alunos cada vez mais problemáticos está tornando-se praticamente quase impossível o professor obter êxito sozinho.
Quanto às práticas pedagógicas, a mesma procura relacionar as disciplinas,
utilizando os livros do PNAIC, os jogos do Projeto Trilhas, entre outros. Mas, a
professora ainda trabalha de forma tradicional no reforço. Ela diz que “se não for
trabalhando com o” b a bá”, o aluno não aprende, tem que ter o reforço desta forma”.
Ainda desenvolve diferentes tipos de atividades para os alunos de acordo com o
nível de aprendizagem de cada um.
O livro didático é utilizado quase todos os dias, porém somente o conteúdo
que ela acha necessário fazer relação com o cotidiano dos alunos. A mesma fez
uma lista e começou a emprestar alguns livros de história a seus alunos, seleciona 5
crianças, elas levam os livros para casa e depois devolvem.
No que diz respeito ao uso dos jogos, a professora sente bastante dificuldade
em utilizá-los, ela diz que “os jogos não dá para todos os alunos e quando trabalho
com todos, os que ficam parados esperando a vez dos outros começam a conversar
e a atrapalhar a aula”.
As educadoras têm alunos diferenciados e buscam sempre inseri-los no
contexto escolar, mas percebem o quanto é difícil instigá-los a participar de assuntos
quando não há o interesse dos mesmos.
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Sentem dificuldades como qualquer ser humano em sua profissão. Muitas
vezes desanimam-se diante de tantos problemas, e o pior deles são os alunos
indisciplinados, mas é preciso que as educadoras possam ter uma relação mais
afetiva com seus alunos, oferecer uma atenção maior. Nesses quesitos as docentes
deixam a desejar, principalmente a professora Marcela. Uma boa relação
professor/aluno desenvolve aprendizados, comportamentos e atitudes necessárias
para conseguir amenizar a indisciplina em sala de aula.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa foi de grande relevância para aprimorar os conhecimentos já
existentes e compreender um problema presente nas escolas e na vida dos
professores, que é a indisciplina.
A escola tenta ao máximo desenvolver um trabalho em equipe, já que
promove encontros toda semana para falar sobre o desenvolvimento dos alunos, os
problemas e dificuldades dos professores em sala de aula, e os educadores se
sentem bem à vontade no seu âmbito de trabalho. O ensino Fundamental é onde os
supervisores e a direção trabalham de forma mais acentuada, pois as crianças
precisam ser alfabetizadas até os 8 anos de idade, e o que é percebido são crianças
no 4º ano sem conhecer as vogais. Dessa forma, o trabalho é difícil e requer toda a
ajuda necessária.
Quanto à questão da indisciplina da turma do período da tarde foi perceptível
que não é só a relação que o professor tem com seu aluno que causa a “bagunça”
existente na sala, pois o que também ocorre é a falta de limites que o aluno tem por
parte dos pais. além disso, ainda existe a desestrutura familiar que abala de maneira
drástica a criança e afeta consideravelmente o decorrer da aula do educador.
Esta problemática dificulta o desenvolvimento das aulas e,
consequentemente, o aprendizado do aluno, pois a professora Marcela faz de tudo
para conter o desinteresse e a maioria das vezes é quase impossível; no entanto,
para que essa problemática possa ser amenizada é essencial uma organização por
parte das professoras em sua sala de aula, como também uma boa relação destas
com sua turma.
Para que essa organização seja concretizada, o educador precisa de toda a
ajuda possível de uma equipe empenhada junto ao mesmo, bem como a vontade
em querer transformar esses alunos indisciplinados em crianças mais interessadas
em participar da aula e obter uma atenção maior pelos assuntos expostos. Para
isso, o professor deve organizar uma boa rotina em sua sala de aula para que as
crianças se sintam mais à vontade e saibam o que irão estudar naquele dia. Além da
rotina é essencial a organização dos cantinhos na sala e dos jogos didático-
pedagógicos, tendo em vista a importância destas metodologias no processo de
desenvolvimento da leitura e da escrita dos alunos, como também o divertimento
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que será proporcionado às crianças. Mas, além de tudo isso, o mais importante está
na relação que o professor deve ter com seus alunos e buscar inserir a família na
escola.
É necessária a inserção da família no contexto escolar, de forma que a
mesma possa participar ativamente do processo de ensino e aprendizagem do seu
filho, bem como saber pôr limites, tendo em vista que a família é muito importante no
ensino, na aprendizagem, no desenvolvimento e no potencial dos filhos; eles
precisam acompanhá-los e mostrar interesse em seu desempenho cognitivo, afetivo,
dentre outros, isto é, trabalhar junto com os professores para obter êxito com suas
crianças. Entretanto, o que é percebido é a falta de acompanhamento de alguns
pais, pois estes acham que se os filhos estão na escola, a responsabilidade inteira é
dos professores, a obrigação é apenas do educador, e isso é trágico!
A falta de limites em casa é um problema que afeta drasticamente o trabalho
do professor, pois os alunos chegam à sala de aula achando que também podem
fazer o que querem, da mesma forma que fazem em casa, e o professor precisa ter
firmeza para tentar diminuir essa falta de limites.
A desestrutura familiar também afeta bastante a criança, e sabemos que isso
o professor não tem como mudar, o jeito é tentar amenizar um pouco para que o
aluno não se ache no direito de fazer o que bem entender na sala de aula, como se
fosse o dono de tudo e de todos. Tentar diminuir essa indisciplina é difícil, mas é
preciso, pois caso isso não seja feito, o professor terá cada vez mais dificuldade em
continuar seu desenvolvimento com a turma.
É importante enfatizar que o trabalho é árduo e cansativo, mas ao mesmo
tempo gratificante quando conseguimos o resultado esperado, ou quase isso. Mas,
para que isso ocorra é essencial o interesse do professor, tendo em vista o papel
fundamental que o mesmo exerce em relação a seus alunos.
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