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I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015
REFLEXÕES SOBRE CIDADANIA E SOCIALIZAÇÃO DE GÊNERO ENTRE A
JUVENTUDE (2008-2015)
Jussara Reis Prá1
Janifer Fagundes2
Resumo: O artigo apresenta resultados de investigação sobre gênero e juventude na qual são examinadas
percepções e comportamentos sobre a participação de mulheres e homens em espaços públicos e privados. O
texto aborda as construções sociais de gênero entre a juventude em cenários de socialização e exercício da
cidadania. O estudo, de cunho exploratório e natureza qualitativa, focaliza o impacto destas construções entre
jovens de ambos os sexos, com idade de 15 a 29 anos. A pesquisa incluiu dados de grupos de diálogo (2008-
2014) formados por jovens porto-alegrenses de distintos segmentos sociais e níveis de escolaridade. Os
resultados do estudo evidenciam convergências nas opiniões das e dos jovens, mas também percepções e
comportamentos ainda pautados por ideologias e estereótipos de gênero.
Palavras-chave: Gênero; Juventude; Feminismo; Cidadania; Socialização.
Considerações iniciais
Identificar a subalternidade do sujeito juvenil desde nosso discurso
adultocêntrico ou acadêmico é requisito prévio para a análise do juvenil
quando não se é jovem (LÓPEZ, 2015, p. 126).
A relação gênero e juventude é tema de debate político e discussão acadêmica em
período recente. Mesmo assim, de maneira restrita. A indiferença quanto ao tema poderia ser
imputada ao desconhecimento da questão, à falta de interesse sobre o assunto ou por se tratar
de algo de que é melhor não falar. A opção aqui é abordar o tema e, além disso, registrar a voz
da e do sujeito juvenil. Como diz Gayatri Spivak (2010), o subalterno deve falar.
Por esse prisma, o artigo examina as construções sociais de gênero presentes entre a
juventude em cenários de socialização e de exercício da cidadania. O objetivo do estudo é
refletir sobre as percepções e os comportamentos desse grupo em relação à participação de
1 Doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo/USP; Professora no Programa de Pós-Graduação
em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS; Líder do Grupo de Pesquisa CNPq
"Gênero, Feminismo, Cultura Política e Políticas Públicas"; Bolsista de Produtividade do CNPq
[email protected] 2 Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS.
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mulheres e homens em espaços públicos e privados. O conceito de gênero é adotado como
categoria analítica e expressão de relações de poder a fim de captar as orientações das e dos
jovens investigados na definição das competências sociais de cada sexo. Pretende-se, assim,
vislumbrar elementos capazes de traduzir as dificuldades de as mulheres contestarem valores,
práticas, símbolos e normas que legitimam a subalternidade feminina.
A análise empírica expõe parte dos dados de estudos realizados entre 2008 e 2014 com
jovens porto-alegrenses de ambos os sexos. A pesquisa contempla a coorte de 15 a 29 anos
em atenção ao intervalo etário definido para fins de políticas públicas pelo Conselho Nacional
da Juventude (Lei 11.129/05) e no Estatuto da Juventude (Lei 12.852/13) (BRASIL, 2013). A
despeito dessa delimitação, vale notar que a juventude comporta “vários conceitos, que são
fruto de uma representação histórica específica dessa população” (SOUZA; PAIVA, 2012,
p.353). Assim, a juventude pode ser considerada “uma categoria em permanente construção
social e histórica, variando no tempo, de uma cultura para a outra, e até mesmo no interior de
uma mesma sociedade” (AQUINO, 2009, p. 29). Ademais, é uma categoria sujeita “a
modificações e interferências nos entrecruzamentos com a classe social, o gênero e a raça”
(SILVA, 2009, p. 60).
No sentido das reflexões proposta, as noções de público e privado são utilizadas para
explorar as manifestações das e dos jovens a respeito da ideia de masculino e feminino no
contexto de relações familiares, sociais e políticas. Nesse plano, são examinadas questões
conexas à cidadania e à socialização de gênero, incluindo aspectos referentes à divisão de
tarefas domésticas e de cuidado (crianças); e à definição de prioridades entre a família, a
carreira profissional e a vida política. Recorte adotado para referenciar aspectos da presença e
da participação das mulheres no mundo privado/doméstico e público/político. Para o
proposto, parte-se de um marco teórico fundado em estudos feministas para selecionar o
quadro interpretativo do exame empírico. O estudo é situado no âmbito da Ciência Política,
priorizando abordagens específicas da teoria feminista concernentes às relações de poder e ao
sistema de gênero que as direciona.
A exposição do artigo agrega duas seções. A primeira expõe os aportes teóricos do
estudo, tendo em vista o impacto do sistema de gênero na socialização diferenciada por sexos.
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A mesma seção traça um panorama dos estudos sobre juventude e do uso do recorte de
gênero. A segunda seção apresenta os aspectos empíricos do estudo e a síntese dos resultados
de pesquisa mencionada, que envolveu a formação de oito grupos de diálogos e contou com a
participação de jovens porto-alegrenses, de distintos segmentos sociais e níveis de
escolaridade. Nesse âmbito, gênero e juventude são referenciados teórica e empiricamente no
artigo em tela.
Conexões de gênero e juventude como objeto de estudo
A centralidade dos temas da cidadania e da socialização na teoria política não suscitou
suficientes debates tendo gênero e juventude como objeto ou problemática de estudo.
Trabalhos desenvolvidos na América Latina destacam esse fato e defendem a pertinência de
combinar a análise política aos enfoques feministas para apreender as necessidades e as
experiências das e dos jovens (DEL VALLE, 1991; CHICUY, 2001, SILVEIRA, 2002).
Nesse patamar é ressaltada a importância de considerar os pontos de vista desses segmentos
para planejar a vida social e política. Os mesmo trabalhos questionam a tendência de a
juventude ser avaliada em um contínuo que vai da rebeldia à alienação. Ademais, questionam
a identificação dos jovens a situações de risco (drogas e violência) e das jovens à procriação
(gravidez, maternidade), sendo ignorado o seu potencial de participação social e intervenção
na realidade (CHICUY, 2001; SILVEIRA, 2002). No mesmo sentido, são criticadas visões
que vinculam a juventude a problemas sociais e desqualificam sua capacidade de atuar como
sujeito político (ABRAMO, 2007).
A cidadania, entre o leque de possibilidades para defini-la desde a noção de
pertencimento à comunidade política, pode ser entendida em referência ao lugar de mulheres
e homens na hierarquia social. Assim, o exercício da cidadania deve contemplar deveres e
direitos sem restringi-los a alguma esfera da vida social. Essa restrição integra as reflexões
feministas interessadas em estratégias para ampliar o exercício da cidadania feminina e dos
direitos das mulheres. Ao lado disso, é estimulado o debate sobre os processos de
socialização, tendo em vista o seu potencial de transmitir normas e valores que pautam os
óbices da interação entre os sexos.
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O impacto da socialização de gênero na formação da identidade das pessoas é
enfatizado nas abordagens feministas a partir de um processo de identificação e atribuição de
padrões de comportamento masculino e feminino ocorrido ainda na infância. As diferenças aí
constituídas são apontadas como elementos para definir projetos e estilos de vida: daí o
trabalho produtivo apresentar aos jovens a possibilidade de ingresso na vida adulta; em
sentido inverso, esse ingresso se dá para as jovens mediante a realização de tarefas de
reprodução e cuidado. Tais projetos têm implicações distintas do ponto de vista de gênero.
Enquanto o primeiro leva à autonomia econômica e ao reconhecimento cidadão, o segundo
pode criar situações de dependência e gerar cidadanias delegadas (SILVEIRA, 2002),
cidadanias estas também situadas como de segunda categoria. Não obstante, cumpre notar que
esse mesmo status não raro é conferido à juventude, bem como a outros subalternos
(SPIVAK, 2010),
No debate sobre socialização de gênero, a noção de divisão sexual do trabalho é
utilizada pelo feminismo para identificar a dicotomia entre público e privado. Esta vista como
resultado de um processo histórico e secular no qual a definição das esferas de competência
para os dois sexos restringe, sobremaneira, o âmbito de influência das mulheres à família, ao
lar e ao doméstico. A esfera pública, a da razão, passa a ser de competência masculina e a
esfera privada, a da natureza, identificada como feminina. Tal distinção, construída ainda na
antiguidade, é reforçada no século XIX quando o novo conceito de "social" demarca os
limites de ação das mulheres, com a separação absoluta entre o público e o privado (RILEY,
1988).
Pelo enfoque dos estudos de gênero, a designação social da esfera pública de
produção, ao homem, e a da esfera privada de reprodução e cuidado dos outros, à mulher,
resulta na valorização diferenciada das responsabilidades, escolhas, hábitos e comportamentos
de cada sexo. Com isso, a naturalização dos trabalhos doméstico e reprodutivo (tarefas
familiares e de cuidado de crianças, idosos e doentes) aumenta a vulnerabilidade das mulheres
ante a violência familiar e sexual; debilita a sua autoestima; interfere no seu desempenho
socioeconômico e representa um dos principais obstáculos para acessar e ter o controle de
bens e recursos (SILVEIRA, 2002; PRÁ, 2004).
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Sem detalhar essa discussão, interessa reter do exposto o impacto do sistema de gênero
na segmentação de competências (público e privado), que delimita, pelo sexo, os processos de
inclusão ou de exclusão da cidadania. Como argumenta Judith Astelarra, o sistema de gênero,
enquanto “organização social cuja base é a divisão sexual do trabalho, determina espaços
sociais femininos e masculinos e formas de relação entre mulheres e homens”
(ASTELARRA, 1987, p.151). Em vista disso, a autora considera adequado empregar como
marco teórico “a divisão sexual do trabalho e a organização social que a regula, o sistema de
gênero” (idem, p.159), quando se utiliza o sexo como variável comparativa. E isso se justifica,
diz ela, pois independente das nuances desta divisão nas sociedades contemporâneas em todas
elas desempenham-se atividades ainda tidas como femininas e masculinas.
Não por acaso, por lógica semelhante operam outros sistemas como os de raça/etnia,
idade ou situação socioeconômica para demarcar os lugares sociais a serem ocupados por
cada pessoa. Decorrem daí, como assevera Boaventura de Souza Santos, diversas condições
ou situações que provocam indignação ou desconforto e geram inconformismo, dentre elas, a
do silêncio impingido a povos ou grupos sociais, que tornaram impronunciáveis as suas
formas de conhecer e de ver o mundo. Como adverte o autor, não se deve esquecer que, “sob
a capa de valores universais autorizados pela razão, foi de fato imposta a razão de uma raça,
de um sexo e de uma classe social” (SANTOS, 1999, p.30).
Retornando ao problema da socialização de gênero e direcionando o enfoque à
população juvenil, pelo menos duas considerações se fazem necessárias. A primeira é a de
que existe uma contradição básica entre a socialização para o mundo privado e a socialização
para o mundo público. A segunda consideração, decorrente da anterior, é a de que a dicotomia
estabelecida entre os dois mundos não significa apenas que o mundo público seja masculino,
mas que ele tem maior valor econômico, social e político do que o do espaço privado
(ASTELARRA, 1987, p.159). Assim, de acordo com os padrões de socialização estabelecidos
por cada sociedade, os seres humanos aprendem quais tarefas podem ou devem desempenhar
e a entender a ordem social como um fato natural. Sustentam esse aprendizado, “normas que
prescrevem os comportamentos aceitáveis para uns e para outras e mecanismos de sanção e
controle, para impedir que se produzam desvios nas condutas individuais” (Idem).
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Com isso se quer realçar que ser jovem no feminino tem significado diverso de ser
jovem no masculino (SILVEIRA, 2002). Destarte, tal realidade nem sempre é considerada em
investigações sobre o comportamento social e político, o que fica evidente quando se busca
relacionar analiticamente juventude e gênero, como é feito a seguir. Para tal, mesmo com o
risco de simplificar o argumento, serão aqui condensados e brevemente discutidos alguns dos
aportes que buscam uma releitura da população juvenil como objeto de estudo.
À luz da literatura sobre juventude verifica-se que o assunto já ocupou um lugar de
destaque nos estudos políticos em quase todo o mundo. No amplo debate em torno das
manifestações estudantis desencadeadas nas décadas de 1960 e 1970, e, em especial nas de
1968, a participação política da juventude emerge como objeto de especial atenção. No Brasil,
a ênfase desses estudos recai inicialmente na participação estudantil dos anos 1960 e 1970. É
quando se examinam entidades estudantis, suas “práticas, representações, orientações e
valores envolvidos na adesão a essa forma de socialização política” (CARRANO, 2002, p.
185). Outras investigações discutem a participação juvenil no âmbito de distintas agências
sociais (Cebs, Pastorais, organizações comunitárias etc.) 3
.
O esgotamento da participação que culminou no maio francês de 1968 estava
praticamente decretado nos anos 1980. Certa nostalgia em relação ao ocorrido naquele
momento envolve avaliações nas quais são detectados o conservadorismo e a alienação
política entre a população juvenil (REGUILLO, 2000). Paulo César Carrano (2002) afiança
esse argumento pelo exame de estudos sobre juventude e participação política. Segundo o
autor, o reconhecimento da aliança em torno de ideologias, questões culturais e projetos
coletivos das manifestações de 68 é uma espécie de divisor de águas em relação a outros
eventos. Mobilizações posteriores são vistas como ações pontuais, a exemplo dos “cara-
pintadas”, no Brasil (1992), que se manifestaram em defesa da ética na política sem serem
identificados como revolucionários.
Quanto aos estudos sobre juventude e política, a metade da década de 1980 marca a
sua retomada no Brasil. Destarte, o conhecimento então produzido fica limitado à
3 O teor discursivo e o conteúdo da produção acadêmica sobre juventude elaborada no Brasil e em países da
Europa e América Latina são detalhados por Rosangela Barbiani (2007).
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reconstituição histórica das mobilizações contra a ditadura militar. Horizonte este ampliado
nos 1990 com as análises sobre novas formas de participação e organização da juventude
(voluntariado, ecologia). Voltar a olhar para a população juvenil, todavia, não alterou a
tendência de situá-la em polos opostos do campo político: revolucionários, de um lado, e
alienados, de outro.
Avaliações dos anos 1990, sustentadas por dados empíricos, questionam tanto as
versões do conservadorismo juvenil como as que veem esse segmento como sujeito central
das mudanças sociais. Segundo Suely Martins, a população juvenil não é por índole
conservadora ou revolucionária, mas afeita aos padrões de socialização expressos pela
sociedade na qual se insere. Daí considerar que “ao interagir com as instituições
socializadoras, a juventude pode criar espaços próprios de sociabilidade que em maior ou
menor grau lhe dão características específicas e vão modelando o seu fazer político na
sociedade” (MARTINS, 2002, p.72). A autora, contudo, salienta que este fazer “pode
representar conservação ou mudança” (Idem).
Na busca de enfoques alternativos para retomar a juventude como objeto de
investigação da política, estudos voltados aos temas da socialização e da cidadania
(BAQUERO, 1997; SCHMIDT, 2001; MARTINS, 2002; NAZZARI, 2002, ARAÚJO, 2007),
analisam a população juvenil e buscam os motivos desta participar ou não de ações sociais e
políticas. Nesse cenário, baixa participação, ceticismo e desinteresse político deixam de ser
associados à juventude, vez que o fenômeno atinge amplos setores sociais; para serem vistos
como resultado das incertezas políticas e econômicas daquele momento.
Algumas investigações sobre a juventude portuguesa aportam outros elementos para
discutir esse ponto. Segundo Pedro Ferreira e Manuel Cabral (2002), a população juvenil
serve de parâmetro para medir o exercício da cidadania. Com efeito, as práticas desse grupo
além de denotarem a tendência social servem para reproduzi-las. Sendo assim, a ação dos
jovens é tida pelos autores como peça vital para romper o ciclo da não participação. As
disposições culturais e subjetivas da juventude, sua maior disponibilidade para mudanças do
que a de outros grupos etários, e o seu potencial para defender grandes causas sociais, são
alguns dos motivos arrolados para justificar sua posição. Por conseguinte, argumentam ser
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possível prever, com certa segurança, que mudanças no exercício da cidadania podem emergir
dos grupos jovens; probabilidade que tende a aumentar se as políticas públicas orientadas a
eles forem capazes de dinamizar certos processos e de sedimentar a conscientização e as
ações coletivas.
Os mesmos autores lembram que os registros da baixa propensão da população para a
ação coletiva preocupam quem estuda a política, pois, além de sugerirem passividade perante
o Estado apontam para o desinteresse ou apatia em relação à participação coletiva. Ao mesmo
tempo, destacam que estudos sobre associativismo, cidadania e participação social mostram
que os jovens não são nem mais nem menos ativos que a população em geral. Por fim,
enfatizam que o fato de não se evidenciarem rupturas geracionais expressivas faz supor que o
baixo envolvimento no exercício da cidadania não deve ser imputado apenas aos processos de
socialização. Sendo assim, esse déficit pode ser atribuído, sobretudo, “a razões que se
prendem com a organização societal, em particular, as relações entre esfera pública e privada
mais precisamente, ou as relações entre Estado e a sociedade civil de um ponto de vista mais
especificamente político” (FERREIRA; CABRAL, 2002, p.1, grifo meu).
Desse prisma, há que se destacar a pertinência de investir em abordagens de gênero,
em especial, nas que trazem ao debate as dicotomias entre público e privado e apontam para a
necessidade de dimensionar o impacto do processo de aquisição de papéis e identidades de
gênero sobre a inserção da cidadania no mundo público. Isso sem desconsiderar a importância
de temas relacionados à educação, família, mercado de trabalho ou de assuntos recorrentes,
sobretudo, de situações que emergem com o advento de economias de consumo e sociedades
globalizadas. Com efeito, ao se enfocar as e os jovens é preciso ter em conta que estes não
formam universos homogêneos e que abarcam situações e realidades distintas (BARBIANI,
2007). Afinal, há muitas maneiras de ser jovem e de viver a juventude e estas também se
expressam em termos de classe social, raça/etnia, idade e de gênero.
Quanto se evoca o gênero como objeto de estudo não há como desconhecer a
importância do conhecimento produzido sob essa rubrica. O enfoque de gênero permitiu
compreender as especificidades da condição feminina; dimensionar a contribuição social das
mulheres e registrar distintos fenômenos de opressão e dominação, que as situam em posições
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subalternas nas mais diversas sociedades. Permitiu, assim, identificar as assimetrias de gênero
que se manifestam de várias formas, entre elas: na feminização da pobreza; na discriminação
salarial, na violência doméstica e na predominância de níveis inadequados de saúde ou de
reduzida participação feminina nos sistemas políticos (PRÁ, 2004).
Avaliações dessa natureza, associadas à ação política de distintos grupos de mulheres,
em especial os feministas, produzem desdobramentos significativos. Com efeito, estas além
de tornar pública a exclusão das mulheres dos cenários social, econômico, político e cultural,
levam as forças políticas a se posicionarem em relação às reivindicações trazidas pelos
feminismos. Ao mesmo tempo, suscitaram nas mulheres um sentimento de pertença ao gênero
feminino (GUZMÁN, 1998; CHICUY, 2001).
As pesquisas feministas, somadas aos estudos de gênero, também incidem no “fazer
científico, situando-o como prática social, caracterizada por jogos de poder que têm como
consequência a naturalização da diferença e a hierarquização das relações de gênero”
(MEDRADO; LYRA, 2000, p.3). Nessa direção, Boaventura de Souza Santos atribui às
correntes culturais, entre elas às feministas, a capacidade de confrontar realidades que causam
desconforto e indignação, estas omitidas na teoria crítica moderna em nome da universalidade
dos problemas sociais. Entende, assim, a contribuição dos estudos culturais para os quais
“convergem as diferentes ciências sociais e os estudos literários e onde se tem produzido
conhecimento crítico, feminista, antissexista, antirracistas, pós-colonial” (SANTOS, 1999,
p.202). Nesse diapasão, o autor credita à “sociologia feminista” o mérito de ter produzido “a
melhor teoria crítica” no decorrer das duas últimas décadas do século vinte (Idem).
Mesmo assim, também se tem o registro de que ainda falta às pesquisas feministas
dedicar espaço suficiente para tratar da conexão gênero e juventude. Com efeito, se o
feminismo logrou tirar a mulher da invisibilidade, tal não se verifica no que respeita à jovem
como objeto de estudo. Como adverte Astrid Chicuy, a jovem comumente integra “um grupo
humano caracterizado historicamente por seu silêncio, sua invisibilidade e, em última
instância, por sua ausência” (CHICUY, 2001, p.77). Como então explicar tal omissão?
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Análises feministas direcionadas ao Brasil e a outros países da América Latina notam
que embora as mulheres jovens sejam elemento de análise das ciências sociais, sua presença
aí ainda é pouco explorada. E isso, de certa forma, pode ser explicado pelo fato de o enfoque
centrado na realidade da mulher adulta dificultar a percepção das especificidades do universo
das jovens, mas também, em razão de a juventude ser examinada como se fosse assexuada.
Como esclarece Chicuy, tal lacuna em parte tem a ver com a novidade do tema. Como
visto antes, a juventude adquire mais significado social somente a partir dos anos 1970.
Situação expressa nas duas décadas seguintes pelo intento de conhecer a realidade desse
grupo. Mesmo assim, a autora considera que “não houve uma década em que os jovens
tenham sido um dos objetos de mais interesse das distintas disciplinas do conhecimento”
(Idem, p.4). Ao mesmo tempo, diz ela, a possibilidade de elaborar políticas públicas
específicas para este setor sem dúvida é fato positivo, contudo, também tem desvantagens,
pois em geral estas não se sustentam sobre uma base teórica, mas sim mediante a perspectiva
de problema social. Este traço, além de mantido, torna-se marcante ao longo da década de
1990, dada a associação, quase exclusiva, entre o mundo juvenil, sobretudo o popular, e os
temas do consumo das drogas e do álcool. A esse comentário a autora acrescenta o seguinte
questionamento: O que as mulheres têm a ver com estes temas? (Idem).
A avaliação de Benedito Medrado e Jorge Lyra (2000, p.1-2) permite ilustrar esse
ponto em sua referência ao fato de a adolescência e a juventude normalmente serem
associadas à ideia de problema social e de risco generalizado (conflito e tensão). A tradução
disso surge em declarações como: “gravidez de risco, risco de contrair o HIV, risco de uso de
drogas ilícitas, risco de vida frente à violência.” A noção de risco, por seu turno, traz
embutida a divisão de gênero. Nesse sentido, excetuada a “gravidez precoce (arena da
reprodução) os demais fatores de risco são, em geral, atribuídos ao adolescente ou jovem do
sexo masculino, descrito como, naturalmente, violento, agressivo, promíscuo, inconsequente,
aventureiro e impulsivo” (MEDRADO; LYRA, 2000, p.2).
A atribuição de condutas de risco para cada sexo expõe o sistema de gênero por outro
ângulo, ao demarcar a divisão sexual do trabalho pelo vínculo do feminino ao âmbito privado,
no plano da sexualidade, e do masculino à transgressão no mundo público. Para além dos
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prejuízos de tais enquadramentos, quando se enfoca a população juvenil como objeto de
estudo ou de políticas públicas é notório que tais ênfases dificultam conhecer outras
realidades desse segmento, bem como as suas potencialidades sociais, econômicas, políticas
ou culturais. Como expressa Marília Spósito (2002, p.22), “ainda há um desconhecimento
sobre a condição juvenil na sociedade brasileira” para dar conta da realidade plural
(desigualdades sociais, culturais e étnicas) que a juventude oferece à pesquisa acadêmica4.
Somado a isso, a compreensão da juventude como categoria de distintas origens
(étnico-raciais, de classe etc.) ou de dois sexos permanece ausente de muitas análises e sem
tratamento empírico adequado. E isso se verifica independente do incremento dos estudos
sobre o tema. Conforme Spósito (2009, p.34), quando se considera “que aspectos importantes
derivados da condição rural e urbana, das relações de gênero e étnico-raciais começam a ser
incorporados” em estudos de juventude, é possível detectar avanços em seu desenvolvimento.
Contudo a autora ressalva que isso ocorre de maneira ainda desigual; assinala, também, que
“um elemento ainda pouco explorado nas análises é o entendimento da categoria juventude a
partir de um ponto de vista relacional” (Idem, p.35)5.
No mesmo sentido, é criticada a carência de recortes de gênero nos estudos de
juventude e a ausência desta categoria nas avaliações feministas. A partir desse
questionamento, defende-se que a constatação de déficits dessa natureza deve estimular o
investimento no tema, bem como o de ver nas gerações mais jovens a capacidade de reciclar
valores sociais e de afrontar as assimetrias de gênero (COUTINHO, 2006). Ainda sobre a
relação gênero e juventude, é possível sustentar, parafraseando Astrid Chicuy (2001, p.4), o
quanto é difícil “construir teoricamente o objeto de estudo chamado jovem mulher”.
Investigar a dimensão da jovem, assevera a autora, é tarefa bem mais complexa do que a de
estudar o jovem posto que a delimitação institucional é mais restrita em relação a ela, a ponto
de identificar-se “a mulher jovem, ou, a jovem mulher, somente a partir de temas ou
4 Spósito refere-se ao um Banco de Dados com 387 registros na área de Educação e Juventude
(1984-1998). O acervo está disponível na página de Ação Educativa:
http://www.acaoeducativa.org 5 O estudo utiliza o banco de teses da Capes (1999-2006), nas áreas das Ciências Sociais, Educação e Serviço
Social, incluindo por volta de 1.290 registros.
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problemas associados a sua sexualidade, como se esse fosse o único campo de identificação”
(Idem).
A dificuldade de construir a jovem como objeto de estudo é alvo da própria crítica
feminista. Mary Castro questiona a falta de investimento feminista na compreensão das
culturas juvenis atribuindo-a “ao fato de as mulheres jovens ainda não se constituírem em um
coletivo feminista, sujeito social de pressão, sujeito de uma cidadania ativa juvenil feminista”
(CASTRO, 2004, p.298). Indo além, Wivian Weller (2005) contesta a invisibilidade feminina
nas (sub)culturas juvenis e a ausência de estudos e pesquisas sobre jovens e adolescentes do
sexo feminino, tanto na análise feminista quanto na dedicada à juventude. Elaine Muller
(2004, p.4), por seu turno, constata a irrelevância analítica da categoria gênero nas abordagens
clássicas sobre juventude, afiançando que o seu máximo avanço é o de refletir um pouco
sobre os papéis sexuais e as diferentes formas de socialização de meninos e meninas.
Ademais, como assevera Janaína Coutinho, se faz necessário construir uma nova visão
de juventudes com seu protagonismo, o que sugere considerar o contexto hierárquico de
gênero em que se inserem. Igualmente, cumpre reconhecer nelas “o papel estratégico
potencial na reciclagem das ideias hegemônicas vigentes com relação às diferenças de sexos –
que afetam suas vidas diárias e estruturam o todo social” (COUTINHO, 2006, p.1). Ou como
postula Rossana Reguillo (2000), reconhecer as e os jovens como sujeitos de direitos, com
necessidades, demandas particulares e potencialidades em relação a outros grupos etários,
requer pensar na sua singularidade e diversidade. Necessário, então, assumir que diferentes
aspectos da condição juvenil precisam ser teorizados e dimensionados a luz da evidência
empírica. Com base no exposto, direciona-se a atenção para os diálogos das e dos jovens,
antes abrindo parênteses para informar os procedimentos adotados na pesquisa em questão.
Diálogos entre e com a juventude: limites e possibilidades
Procedimentos da pesquisa
Para abordar a questão empírica são apresentados resultados da pesquisa “Gênero e
Juventude no Processo de Socialização e Construção da Cidadania”, desenvolvida a partir de
2008 com o propósito de apreender diferenças e similaridades nas percepções (opiniões) e nos
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comportamentos de rapazes e moças da coorte de 15 a 29 anos. A coleta e a análise dos dados
da pesquisa seguiram o método misto e a estratégia exploratória sequencial, priorizando a
natureza qualitativa da abordagem e a integração de abordagens na fase de interpretação dos
dados (CRESWELL, 2007).
O procedimento quantitativo permitiu obter um quadro geral de aspectos
sociodemográficos, além de dados sobre comportamentos e atitudes das e dos jovens
brasileiros em termos longitudinais, que não serão aqui abordados. Já o estudo qualitativo,
cujos fragmentos serão integrados a esta exposição, permitiu relacionar o processo de
socialização das e dos jovens ao de construção/constituição das identidades de gênero e
observou, entre outras atividades: seleção de informantes chaves; formação de grupos de
diálogo; classificação e ordenamento das narrativas, de acordo com os temas centrais da
investigação, e interpretação dos resultados. A geração de dados pela técnica de grupos de
diálogos tem por objetivo propiciar a interação entre as pessoas investigadas, estimulando-as a
expor e ouvir diferentes pontos de vista, fazer questionamentos e trocar experiências. A
pesquisa realizada até então é identificada como um estudo experimental no qual são
buscados subsídios para aperfeiçoar os roteiros qualitativos e indicadores para a elaboração de
instrumento de medida6.
Até 2014 foram conduzidos oito grupos de jovens (4 a 6 participantes cada) na cidade
de Porto Alegre/RS, formados por mocas e rapazes de diferente origem social e grau de
escolaridade (reuniões de duas horas e trinta minutos). O binômio público e privado orientou
os diálogos, focalizados em questões sobre família, escola, trabalho, política cultura e mídia.
Dito isso, chega-se às falas das e dos jovens ouvidos nos grupos, destacando fragmentos dos
diálogos sobre família, trabalho e política.
Participação no espaço privado e no espaço doméstico
A igualdade de direitos e de oportunidades, para passar de um direito formal,
escrito, a um direito real, exercido por homens e mulheres, deverá ter em
conta a divisão dos espaços que compõem a vida social dos indivíduos em
6 A pesquisa com os grupos de diálogo está em andamento dá sequência aos encontros realizados entre junho de
2008 e novembro de 2014.
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uma sociedade: o espaço público, o espaço privado e espaço doméstico
(BATTHYÁNY, 2004, p.21).
Nos diálogos sobre a participação de mulheres e homens no espaço privado a ideia de
que os afazeres domésticos devem envolver ambos converge em diferentes grupos. Contudo,
também é verbalizado que na prática isso não ocorre. Tal realidade foi atribuída à influência
da mãe sob a alegação de que ela “ensina o machismo” e que as mães “não ensinam as tarefas
domésticas aos meninos”. Outro fator arrolado é o de que essa atitude da mãe contribui para
tornar o homem “dependente da mulher”. Em relação ao cuidado de crianças, tanto nos
grupos formados apenas por mulheres como nos grupos mistos foi reiterado que “a mulher se
dedica mais ao cuidado dos filhos por uma ligação iniciada na gestação, mas não justifica o
homem abster-se”. Já entre as jovens a opinião é de que “os homens devem compartilhar o
serviço doméstico”, porém consideram que “por uma questão histórica, cultural, é natural que
as mulheres se dediquem mais as tarefas de cuidado da casa e dos filhos”.
A noção da possibilidade de mudanças na divisão sexual do trabalho aparece nas falas
das jovens quando manifestam que “antigamente a mulher era responsável por tudo e hoje em
dia é possível dividir com um homem as tarefas de cuidar dos filhos e qualquer outra
atividade em relação à família”. Para um dos jovens isso “tudo depende do modelo que se tem
em casa”. Na maioria das falas houve consenso de que “deve haver um acordo, um
equilíbrio”. Não obstante, tal equilíbrio aparece condicionado a uma suposta disponibilidade
de tempo: “Quem tem mais tempo livre é que faz mais. Quem trabalha fora faz menos”.
Manifestações dessa ordem dão atualidade ao estudo de Diane Alméras (1997) sobre
as responsabilidades familiares, no qual identifica quatro tipos de repartição das tarefas
prestadas por mulheres e homens na família, a saber:
- tipo tradicional; as tarefas domésticas e de cuidado dos filhos são
responsabilidade exclusiva da mulher, ainda quando esta trabalha fora do lar.
- Tipo de transição incipiente: segue o tipo tradicional, mas com uma
repartição simbólica das tarefas [...] que conta com a ajuda do homem.
- Tipo em transição avançada: a repartição das tarefas domésticas e de
cuidado dos filhos se fazem sobre a base de negociações abertas entre o
homem e a mulher.
- Tipo equitativo (moderno): as responsabilidades familiares são repartidas
entre o homem e a mulher, incluindo em suas negociações as preferências
individuais (ALMÉRAS, 1997, p. 26-28).
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A coexistência destes modelos revela um contínuo na evolução da lógica de gênero e
pode indicar o desenvolvimento de práticas mais e/ou menos equitativas entre mulheres e
homens (ALMÉRAS, 1997). Dessa perspectiva, a eloquência nas opiniões das e dos jovens
em favor de mudanças no espaço doméstico não significa o avanço em direção ao terceiro e
ao quarto modelo, nem o aumento da “autonomia feminina em relação às incumbências da
esfera privada” (SANTOS, 2008, p.105). Na verdade, o evidenciado é a tendência de um
movimento pendular entre o tradicional e o moderno (BATTHYÁNY, 2004). Dualismo este
também expresso para as jovens diante da tensão de ter de conciliar vida familiar e vida
profissional, como visto a seguir.
Fronteiras entre a vida familiar e a vida profissional
O ponto aqui examinado diz respeito ao significado da participação das mulheres no
mercado de trabalho para a conquista da autonomia feminina. Segundo as jovens investigadas
o trabalho é sinônimo de liberdade e autossuficiência para a mulher. Nesse quesito,
ressaltaram a relevância do trabalho para conquistar a independência financeira, “sem
depender do homem em nenhum momento”, pois “a mulher pode ser casada e independente”.
Os rapazes dos grupos mistos corroboraram essas ponderações e afiançaram ser “obrigação de
ambos” o sustento da casa. Pese a defesa da participação feminina no mercado de trabalho, as
e os jovens questionaram o fato de poucas mulheres ocuparem cargos de chefia.
As e os jovens expressaram que as empresas obteriam benefícios ao terem mais
mulheres em postos de decisão “porque as mulheres têm uma visão mais abrangente e
planejam melhor suas ações”. Já, os homens, são tradicionais na forma de empreender, pois
“arriscam de forma mais aventureira”, enquanto as mulheres “arriscam de maneira planejada”.
No entanto, sublinharam que o fato de as mulheres exercerem cargos de chefia não muda as
relações de poder, pois “o poder é dos homens” e porque os “salários continuam menores que
os deles”. Importante destacar a respeito que a maior parte dos diálogos expressou as
desigualdades de gênero nas relações de trabalho em moldes muito próximos aos inscritos nas
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abordagens feministas. No mesmo teor, eles e elas mencionaram as dificuldades impostas às
mulheres para conciliar vida pessoal, familiar e profissional (PRÁ, 2013).
Desse ponto de vista, dados de pesquisa apresentados pela Organização Internacional
do Trabalho (OIT, 2007) revelam as dificuldades de as mulheres conciliarem o trabalho
remunerado à vida familiar. Segundo estudos realizados com executivos/as de diferentes
países as mulheres que postergam o casamento ou a constituição de uma família em favor da
carreira profissional são 32% mais numerosas do que os homens, enquanto as que decidem
não ter filhos são 12% contra 1% dos homens. O interesse em investir na carreira profissional
ou em postergar o casamento e a decisão de ter filhos também aparece como prioridade entre
uma parcela das jovens dos grupos de diálogos. Entretanto, isso não é consensual. Para as
jovens das classes populares, a família e os filhos são prioritários em relação ao trabalho e à
profissão. Já entre as universitárias e as da classe média, predomina o interesse em adiar a
constituição da família e buscar a afirmação profissional. É oportuno notar aqui a escassez de
manifestações dos jovens durante os diálogos sobre as fronteiras entre família e profissão.
Nesse sentido, como expressa Tania Steren dos Santos:
As fronteiras entre vida profissional e familiar são menos delimitadas para as
mulheres do que para os homens. Na realidade social contemporânea, a
igualdade de condições de vida e trabalho entre homens e mulheres passa
necessariamente pela questão da articulação da esfera profissional com a
doméstica e por oportunidades mais igualitárias entre os sexos na esfera
pública e no lar (SANTOS, 2008, p. 100).
Antes de encerrar esse ponto, vale fazer referência aos componentes da socialização de
gênero presentes nos diálogos das e dos jovens ouvidos na pesquisa. Assim, as manifestações
relativas aos lugares disponibilizados a elas no âmbito familiar (doméstico) e na esfera
profissional, refletem a divisão sexual do trabalho que conforma o sistema de gênero com
base “na flexibilidade e na capacidade de adaptação das mulheres” (BATTHYÁNY, 2004,
p.53). Em contrapartida, discursos igualitários minimizam as tensões provocadas pelas
desigualdades de gênero, com teor semelhante aos utilizados para ocultar outros marcadores
sociais de desigualdade, entre eles, os étnicos, culturais e geracionais. A partir desses
comentários são apresentadas, na sequência, breves reflexões sobre as manifestações das e
dos jovens em relação à sua participação na política.
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Participação no espaço público e político
A visão da política compartilhada entre as e os integrantes da pesquisa revelou sua
rejeição aos políticos e às instituições. As e os jovens ressaltaram de modo contundente não
confiar em políticos e partidos. Além disso, as e os jovens afirmaram não saber no que
acreditar devido ao excesso de “manipulação da mídia” e à manipulação exercida pelos
partidos políticos. Usaram expressões tais como “hipócrita” e “individualismo” para
caracterizar a ação e o discurso dos políticos. Também afirmaram que as ações dos políticos
“não tem por objetivo um bem maior, a população, buscam o bem só para si.” Essa rejeição à
política, conforme Anne Müxel (1994, p.153) pode ser verificada diariamente nas expressões
de denúncias realizadas com a mesma convicção e força “tanto pelos estudantes como pelos
assalariados, pelos jovens sejam eles diplomados ou não, de direita, de esquerda ou sem
orientação política definida”.
Mesmo rejeitando a política formal, as e os jovens mostraram-se predispostos a
participar de algum tipo de associação ou movimento social, com a ressalva de que se
envolveriam apenas em entidades sem “vínculo com partidos políticos”. No que se refere às
formas dessa participação, as e os jovens consideram o engajamento político em associações e
movimentos sociais o tipo mais eficaz, opinando que “é preciso mudar os problemas que estão
ao redor; começar por ações pequenas, depois mudar o mundo.” Assim, para elas, com esse
tipo de participação é “mais fácil, pois você reúne um grupo e consegue mudar”. Ademais,
consideraram que seria “mais fácil” obter mudanças sociais e políticas públicas por meio dos
movimentos sociais, como ONG´s e fóruns de democracia deliberativa, como o Orçamento
Participativo, rejeitando os partidos políticos como porta-vozes de suas deliberações.
A despeito disso, Lígia Amâncio chama atenção para as relações complexas e
contraditórias da política afirmando serem elas reveladoras das limitações para o
'engajamento' político das mulheres. Uma das questões centrais desta tensão está relacionada
com o próprio conceito de política e de participação. A mobilização das mulheres assume
características que escapam às definições convencionais de ativismo político, o que significa
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que a sua participação não é considerada, traduzindo-se na percepção de que os principais
atores sociais são os sindicatos, as igrejas, os estudantes, ou os funcionários públicos, e não os
movimentos de mulheres, invisíveis e inqualificáveis (AMÂNCIO, 1994).
Concernente ao voto, as opiniões ficaram bem divididas. Algumas jovens afirmaram
que continuariam exercendo o direito de votar, mesmo se o voto fosse facultativo. Entretanto,
segundo elas, por causa do “jeitinho brasileiro”, o brasileiro não está preparado para o livre
exercício do voto, sugerindo que as eleições não transcorreriam em perfeitas condições caso
as pessoas não tivessem a obrigação de ir as urnas. Outras jovens, por sua vez, demonstraram
não ter convicção quanto ao ato de votar, alegando não saber se continuariam votando nas
eleições se fosse facultativo; posição semelhante foi encontrada entre os jovens.
Nos diferentes grupos de diálogo, as e os jovens enfatizaram não dispor de
conhecimento e informação suficientes para entender o jogo político. Uma das jovens
expressou-se nos seguintes termos: “Eles (os políticos) não nos dão o precisamos. Não nos
dão educação, acesso a cultura. Não nos dão tudo o que é mais necessário, que nos faça
enxergar e querer mudar. [...] O povo quanto mais inteligente, mais ele vai querer mudança”.
Também para Müxel, a política é o “domínio das pessoas sem escrúpulos” e não inspira a
aprovação. Por esse motivo, diz ela, os jovens têm o sentimento de dispor de poucos
elementos para compreender a situação política.
Quando questionadas sobre quais mudanças deveriam ocorrer para que viessem a se
interessar mais por política e fossem mais participativas, as opiniões, de um modo geral,
encaminharam-se em defesa da necessidade de ter “menos corrupção e mais credibilidade”.
As jovens verbalizaram ainda que faltam investimentos em políticas públicas voltadas para as
áreas da saúde, educação: “eu penso que teriam de melhorar os postos de saúde e as escolas
públicas”, destacou uma delas. Essa postura também encontra ressonância na avaliação de
Müxel, quando observa que a restauração entre os jovens cidadãos e a política se daria por
meio da construção de uma nova moral política, na qual emergiriam “dignidade e
transparência, coesão antes que coerção, unidade e respeito às diferenças, comunicação e
reforço da democracia” (MÜXEL, 1997, p.156).
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Ainda sobre os grupos de diálogo, o observado nesse âmbito permitiu identificar
percepções, orientações e manifestações das e dos jovens acerca da participação no espaço
público e privado. No mesmo sentido, propiciou apreender padrões de comportamento da
população juvenil e relacionar aspectos da construção/constituição das identidades de gênero
entre a juventude. Assim, ficaram evidentes os déficits de cidadania da juventude da pesquisa.
No mesmo sentido, emergiram questões conexas à socialização de gênero em aspectos
referentes à participação das e dos jovens investigados no espaço privado (doméstico) e no
espaço público e político, corroborando os objetivos da pesquisa.
Considerações Finais
Com as reflexões apresentadas buscou-se relacionar as categorias gênero e juventude
no âmbito da Ciência Política e dos estudos feministas. Conexão examinada como parte de
um processo no qual o gênero dá significado a relações de poder. Nesse plano, as
manifestações das e dos jovens sobre a participação no espaço público e privado expressaram
a influência das interações de gênero na definição dos comportamentos nesses espaços.
Experiências de socialização pertinentes ao feminino e ao masculino evidenciaram a
construção/constituição das identidades de gênero nas duas dimensões, legitimando os
questionamentos da pesquisa.
Percepções sexistas subjacentes a esse tipo de construção pontuaram boa parte dos
diálogos das e dos jovens pesquisados. Eles e elas expressaram tensões e ambiguidades
pertinentes à reprodução de assimetrias de gênero. Consoante à família isso foi evocado em
razão da ingerência da mãe na reprodução dos papéis de gênero, pois “ela ensina o
machismo”. Já as percepções sobre o âmbito do trabalho denotaram a presença de
discriminações de gênero com referência às diferenças salariais ou à dificuldade de as
mulheres chegarem a cargos de chefia, confirmando as avaliações da literatura pertinente
(AMÂNCIO, 1994). Com efeito, mesmo que as e os jovens pesquisados entendam necessário
mudar essas realidades, ideologias de gênero perpassam seus diálogos ou são tidas como
“naturais” e, até mesmo, inevitáveis (GUERREIRO; ABRANTES, 2007).
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Os resultados obtidos também possibilitaram constatar o desinteresse das e dos jovens
investigados pela participação em espaços políticos formais, apesar de sua participação
adquirir mais relevo hoje no Brasil. Ademais, evidenciaram a prevalência de uma visão
negativa sobre a sua possível atuação política. Na mesma direção, os dados indicaram que a
juventude carece de incentivo para estreitar relações com atores políticos e instituições
governamentais. A ideia generalizada entre integrantes dos grupos de diálogo é a de que a
classe política não merece crédito. O desinteresse político, presente nos diálogos, denuncia
déficits de cidadania e de socialização política. Mesmo assim, as e os jovens manifestaram
interesse em participar de organismos ou instituições “desde que não vinculadas a partidos
políticos”, o que indica especificidades e singularidades da participação juvenil que precisam
ser investigadas.
Assim, não faltaram convergências de opinião entre os grupos investigados, sem que
se pudesse aprofundar o debate sobre as implicações disso. Portanto, a exploração de
tendências dessa natureza permanece em aberto à investigação. Nesse sentido, embora hoje se
ressalte a importância de considerar as necessidades da juventude e incorporar seus pontos de
vista e ideias para planejar o desenvolvimento da vida social e política, estudos relacionando
gênero e juventude são ainda minoritários. Situação a sugerir a pertinência de empreender
investimentos acadêmicos que deixem de ter em conta o jovem como afeito a posturas
extremas, que vão da alienação à transgressão, e deixem de rotular a jovem pela sexualidade
ou por seu vínculo “natural” à esfera doméstica, Além disso, registrar percepções (opiniões) e
comportamentos de gênero pode fornecer subsídios para explicações analíticas sobre o
imaginário juvenil na arena pública, ainda mais quando se aceita a ideia de que uma nova
visão está surgindo a respeito das questões de gênero e de juventude.
Em suma, vale reiterar que as construções sociais de gênero interferem na conquista da
cidadania juvenil. Em consequência, discriminações reproduzidas no contexto familiar e nos
ambientes de trabalho, somadas ao afastamento da política formal, condicionam as
oportunidades disponibilizadas para as e os jovens. Dessa forma, são mantidas situações que
beneficiam os segmentos masculinos, adultos, brancos e escolarizados, acentuando a
vulnerabilidade das jovens e dos jovens.
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