reflexões sobre a autonomia 6 - passa palavra

Download Reflexões Sobre a Autonomia 6 - passa palavra

If you can't read please download the document

Upload: daniel-a-secas

Post on 10-Nov-2015

216 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

pp

TRANSCRIPT

Reflexes sobre a autonomia (6): classe e autonomia na era PT3 de maio de 2015Categoria:Ideias & DebatesComentar|ImprimirA crtica que fazemos ao autonomismo est exatamente em construir uma autonomia que, descolada das lutas dos trabalhadores (autnomas ou no), s existe na cabea de seus praticantes.Por Passa Palavra

Chegamos ltima parte de nosso debate. Certamente, alguns estranharo um texto de crtica forma como o autonomismo tem se desenvolvido no Brasil ser atravessado a todo tempo por uma aparente confuso entre autonomismo e as lutas autnomas de trabalhadores em vrios ambientes, pocas e pases. que, para ns,no h autonomismo sem estas lutas autnomas.A crtica que fazemos ao autonomismo est exatamente em construir uma autonomia que, descolada das lutas dos trabalhadores (autnomas ou no), s existe na cabea de seus praticantes. Exemplificamos as diferenas entre o autonomismo e as lutas autnomas dos trabalhadores para mostrar a profunda apartao entre uma coisa e outra, e s ento trazer o problema para aquilo que nos mais prximo.O pano de fundo de toda a discusso que travamos o fato de os trabalhadores viverem, na prtica,duas vidas: aquela em que somera fora de trabalho para o capital, e aquela em que sosujeitos polticos autnomos. Numa de suas vidas, vivem de acordo com as regras, hbitos, conceitos, ideologias, prticas etc. impostas pelos burgueses e gestores; noutra delas, inauguram prticas, hbitos, conceitos, regras, ideologias etc. capazes de construir relaes sociais novas, que ao se desenvolverem no tempo e no espao podem vir a substituir o capitalismo. A tenso entre estas duas vidas dos trabalhadores resulta em que suas lutas oscilam entre a total integrao aos quadros ideolgicos e prticos do capitalismo e a total ruptura com ele. Entre estes dois polos de um plano lgico situam-se as infinitas variaes e misturas verificveis num plano histrico entreintegraoeruptura, entreexploraoeautogesto, entrealienaoeplena realizao pessoal, entreheterogestoeautogesto. Aquilo que num plano lgico pode ser expresso como dois polos nada mais que a extremao de caractersticas de lutas sociais complexas, na tentativa de extrair elementos que permitam situ-las numcontinuumde lutas entre classes em tempos e lugares diferentes.No se pense que no Brasil a situao foi diferente. As lutas autnomas dos trabalhadores dos anos 1970 resultaram na formao do mais potente instrumento poltico que jamais tiveram oPartido dos Trabalhadores(PT). No por acaso, foi entre intelectuais petistas de primeira hora (Eder Sader, Marilena Chau, Marco Aurlio Garcia, Herbert Daniel, Marcos Nobre, Maria Clia Paoli, Silvio Caccia Bava, Vera Silva Telles, Amnris Maroni etc.) que emergiu no Brasil o autonomismo: foi o grupo da revistaDesviosquem, nas cinco edies publicadas aperiodicamente entre 1982 e 1986, trouxe militncia de esquerda brasileira nomes como Negri, Guattari, Castoriadis, Lefort e outros autores de textos to caros aos autonomistas de hoje (e queles que lhes fazem as cabeas); no por acaso, a velhaPoltica Operriaoptou por dissolver-se no interior do partido; no por acaso, os exilados em contato com as lutas autnomas dos trabalhadores na Europa retornaram com outras ideias, que desembocaram no PT e noPartido Verde(PV). (Antes de prosseguir, uma ltima observao sobre os tais autores, estes citados e outros tantos: no curioso que militantes polticos sejam tratados como autores acadmicos no campo autonomista? E que o inverso seja ainda mais verdadeiro?)Ocorre que este instrumento poltico s tido ainda hoje como o mais potente j criado pelos trabalhadores brasileiros porque conseguiu se pr como alternativa eleitoral vivel para sucessivas eleies presidenciais, e construiu uma base parlamentar slida ao longo dos anos. No pouco, considerando as severas limitaes dos instrumentos polticos anteriores (PTB, PCB etc.), mas o PT no , nem nunca se props a ser, outra coisa que no um instrumento para a construo do socialismo por meios eleitorais e a longa histria dos partidos social-democratas mundo afora evidencia os limites desta opo. Malgrado suas limitaes e contradies internas, o PT hoje o centro, junto com o PMDB, de um instvel bloco poltico que hegemoniza o pas h pelo menos doze anos (o PMDB encastelou-se no poder h mais tempo). Se se fala em hegemonia, no se pode esquecer que elano se exerce somente pela fora, mas tambm pelo consentimento; e queo consentimento no se cria apenas mediante propaganda e mistificaes ideolgicas, mas tambm por aquilo que as classes hegemnicas cedem em troca de sua sustentao. Se a polarizao das eleies presidenciais nos ltimos doze anos (especialmente, mas no s) corresponde disputa inter-gestorial pelo controle do aparelho tradicional do Estado Restrito (vez que seus postos no Estado Amplo ou seja, as empresas e demais aparelhos privados de hegemonia no so sujeitos a escrutnio pblico), no se pode esquecer que a legitimao da ascenso destes gestores ao poder se d, a cada turno, por processos histricos distintos.A base histrica da hegemonia petista a longa luta dos trabalhadores por melhores condies de vida. Os sindicalistas, tcnicos, acadmicos, funcionrios pblicos etc. alados a postos de liderana nestas lutas s se inauguram na funo degestoresdo capitalismo porque ingressam em instituies cada vez mais centrais para o pleno funcionamento e integrao da economia capitalista: presidncia, ministrios, governos estaduais, secretarias e ministrios de Estado, prefeituras, autarquias, cargos parlamentares, fundos de penso, conselhos e conferncias de polticas pblicas, cargos de confiana etc. Nestes lugares, em consonncia com sua origem histrica, seu trabalho manter o capitalismo funcionando ao mesmo tempo em que garantem melhorias na insero econmica dos trabalhadores o que no significa, automaticamente, melhorias na qualidade de vida. Sua ascenso s instituies de gesto da poltica e da economia, e sua progressiva incorporao enquantonova frao daclasse dos gestores, traz consigo a panplia das instituies de gesto da coisa pblica participativas ou no que s funcionam para quem participa tanto das lutas que se descolam de sua base social original, transformada agora em mero repositrio de legitimidade agitado num ou noutro momento mais crtico. Entretanto, atravs desta panplia que so concebidas e geridas as polticas pblicas criadoras de parte das condies necessrias mobilidade social ascendente to desejada pelos trabalhadores.E como est a vida destes trabalhadores?O padro da insero no mercado de trabalho permanece parecido ao identificado a partir de meados da dcada de 2000: aumento dos postos de trabalho apenas na base da pirmide social, em ocupaes com alta rotatividade, com remunerao orbitando em torno de 1 a 2 salrios mnimos. Se se leva em conta que na dcada anterior o crescimento foi nos postos de trabalhosem remunerao, o salto qualitativo notvel. Entretanto, ainda enfrentamos altssima rotatividade nos postos de trabalho (veraqui). 60% dos postos de trabalho criados desde a dcada de 2000 tm sido ocupados por mulheres, sendo que homens na mesma funo recebam 23% a mais em pequenas empresas e 44,5% a mais em grandes empresas (veraqui). A maior parte destes novos empregos tem sido ocupado por adultos jovens (entre 25 e 34 anos). Embora a diferena salarial entre brancos e negros tenha cado significativamente entre 2003 e 2013, negros ainda ganham 42,6% menos que brancos e tm taxa de desemprego maior (veraqui), e os postos na base da pirmide socioeconmica, com mais baixas remuneraes, so ocupados muito mais por eles que por brancos. Os gastos sociais saltaram de 13,5% do PIB em 1985 para 23% em 2013 (veraqui). No de estranhar, com tudo isso, que a participao dos salrios na renda nacional, que havia encolhido durante toda a dcada de 1990, tenha subido de 39,3% em 2004 para 43% em 2010, paralelamente a uma queda na participao empresarial na renda nacional (veraqui).Alm disso, inegvel o aumento avassalador na escolarizao dos trabalhadores nos ltimos quinze anos; a forte curva ascendente nas estatsticas de pessoas com ensino mdio completo e ensino universitrio completo o indica. A qualificaoformalda fora de trabalho no significa que tenha havido sua qualificaoreal; a tragdia do ensino pblico brasileiro (malgrado os esforos e lutas dos professores) e acommodificaodo ensino universitrio, prestado majoritariamente em faculdades privadas de questionvel qualidade acadmica, testemunham esta diferena. Entretanto, na hora de apresentar os diplomas e certificados para preencher uma vaga de trabalho com salrio achatado, um contador formado pela USP tem o mesmo valor que um formado pelo Centro Universitrio Jorge Amado (UNIJORGE).Os trabalhadores ainda no esto assim to bem afinal, o salrio mnimo atual representa 24,72% dosalrio mnimo vital,que oDepartamento Intersindical de Estatstica e Estudos Socioeconmicos(DIEESE) calcula em R$ 3.186,92 (veraqui) -, mas, no campo puramente econmico, esto melhorando. Apesar disso, os trabalhadores no se vem como classe mdia, como querem o governo e certos setores da economia (veraqui) caracterstica a ser comentada adiante.E o que fazem os trabalhadores com o que ganham?Seu crescente uso do carto de dbito frente ao dinheiro ou ao crdito pessoal (fiado) indica seu maior enredamento nas malhas do sistema financeiro (veraqui). Sua participao no mercado de turismo aumentou 242% entre 2002 e 2010 (veraqui) e neste mercado incluem-se tanto os que realizam o triste sonho da viagem Disney quanto as excurses de fim de semana em nibus informais. No de estranhar, pois as viagens so um dos principais sonhos de consumo dos trabalhadores brasileiros, frente da frequncia a restaurantes, bares e boates, da compra de produtos de beleza, da compra de carros e da compra de eletrnicos (veraqui). Seu consumo de telefonia mvel e internet maior que o de acessrios, shows, teatro, cinema e produtos de beleza (veraqui) indicando tanto a hiperconectividade caracterstica de um trabalho autnomo quanto as cobranas de patres e supervisores mais exigentes. Hiperconectividade, por sinal, que leva empresas a apostar no crescimento do mercado desmartphonesentre a classe trabalhadora, identificando j haver quem se disponha a pagar R$ 700,00 a R$ 800,00 num telefone (veraqui). Os novos hbitos de consumo dos trabalhadores, alm de serem importante fundamento macroeconmico contra crises econmicas de origem externa ao reforar o mercado de consumo interno, foram as empresas e os rgos de defesa do consumidor a alterar suas estruturas e prticas em funo da maior presso que lhes exercida por estes novos consumidores (veraqui). Tudo isto, mais o consumo de carros, de eletrodomsticos, de cosmticos, de TV a cabo ou satlite, de planos de sade etc. demonstram que em paralelo a programas sociais o que h umaincluso pelo consumo; embora favorvel perspectiva de luta de classe que adotamos (onde as conquistas materiais e culturais tm papel central), esta incluso pelo consumo tem problemas a serem tratados adiante.As flutuaes econmicas brasileiras recentes, entretanto, levaram a classe trabalhadora a ser mais pessimista quanto ao futuro, vendo para 2015 um cenrio de desemprego, acompanhado por aumentos salariais iguais ou inferiores aos ndices inflacionrios e a experincia prtica comprova que inflao no outra coisa seno desvalorizao da fora de trabalho e, por consequncia, dos trabalhadores. Um aspecto da incluso pelo consumo agravado com a inflao oendividamento.APesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplncia do Consumidor(PEIC) daConfederao Nacional do Comrcio de Bens, Servios e Turismo(CNC) indica aumento do endividamento no curto prazo (de janeiro a maro de 2015), mas uma melhora no endividamento comparado com 2014, e uma melhora na percepo das famlias sobre sua capacidade de pagar os dbitos; no longo prazo, as sries indicam leve curva ascendente no endividamento por cartes de crdito e uma forte tendncia queda no endividamento por carns de pagamento parcelado de bens, apontando portanto migrao da dvida do crdito direto em lojas, ainda que intermediado por instituies creditcias, para a financeirizao pura.Entretanto, os hbitos dos trabalhadores de lidar com crises (inflacionrias, recessivas e outras), se se mantiveram adormecidos nos ltimos anos, no morreram. 42% deles j esto fazendo bicos para complementar a renda (veraquieaqui), e os emprstimos junto a familiares e amigos substituem progressivamente os crditos bancrios em situao de emergncia (veraqui,aquieaqui). Produtos ditos suprfluos so cortados da cesta de compras (veraquieaqui) embora o valor total das compras no tenha diminudo (veraqui). As recentes restries ao FIES levam ao ressurgimento de linhas privadas de crdito educacional (veraqui). A frao dos trabalhadores que mais se beneficiou com a mobilidade social ascendente dos ltimos doze anos que a mdia e o governo insistem em chamar de classe C ou classe mdia, contra todas as evidncias de que se trata de trabalhadores pobres e nada mais sente que o processo de mobilidade ascendente pode ser brecado caso o cenrio se mantenha (veraquieaqui).Paralelamente mobilidade social ascendente e ao temor de sua brecagem pela chegada da inflao, entretanto, h outro elemento a ressaltar, correlato a ela: oindividualismoe sua consequncia econmica, oempreendedorismo, ambos resultantes da lenta mobilidade social ascendente vivida pela classe trabalhadora na ltima dcada. Tomemos a questo pelos dois extremos: os trabalhadores menos qualificados, representados pelos beneficirios do programa Bolsa Famlia, e os trabalhadores mais qualificados, egressos do ensino universitrio. comum em crculos conservadores que se diga que os programas sociais, os aumentos no salrio mnimo e o crdito ao consumo estimulam a preguia dos mais pobres. Entretanto, basta ver o cotidiano de qualquer dos beneficirios destas polticas para notar que seu esforo para ascender social e economicamente, malgrado os auxlios governamentais, ainda hercleo. A mobilidade social ascendente, mesmo quando estimulada e apoiada, no to simples quanto parece.Beneficirios do Bolsa Famlia, por exemplo, esto nos mais baixos estratos de renda da sociedade, e para garantir a continuidade do benefcio precisam manter os filhos na escola no podendo mais empreg-los como fora de trabalho, tal como em tempos j passados, levando os adultos a sobrecarregar-se de trabalho (em geral em atividades com baixa exigncia de qualificao formal) para manter os filhos na escola. No obstante, entre os beneficirios deste mesmo programa que se encontram notveis melhorias no desempenho escolar dos filhos (veraqui), notveis estmulos ao empreendedorismo e ao trabalho por conta prpria embora em posies muito subalternas no mercado (veraqui); ademais, a opinio preconceituosa de que as famlias mais pobres estariam multiplicando filhos para receber mais benefcios no se sustenta, pois justamente a que as taxas de natalidade tm tido maior decrscimo (veraqui).Em outro exemplo, muturios do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) e beneficirios do Programa Universidade para Todos (PROUNI) esto na universidade, mas esto em geral includos nos 63% do total de estudantes universitrios que precisam trabalhar de dia e estudar noite e a recente queda no total de formandos evidencia as dificuldades que enfrentam (veraqui).Nos dois casos, h uma questo. A mobilidade social ascendente, nestas situaes, resulta da conjugao entre osprogramas econmicos e sociais, de um lado, e ainiciativa e esforo do trabalhador individualmente considerado, de outro; sem a iniciativa e o esforo, o programa no funciona, e sem o programa, a iniciativa e o esforo vm-se dificultados pela multiplicao dos obstculos entre sua posio na estratificao social e aquela que deseja alcanar. Sendo assim, a mobilidade social ascendente verificada nos ltimos anos resulta no apenas dos programas de governo, mas tambm e muito da iniciativa e esforo dos trabalhadores que souberam aproveit-los para acumular tanto benefcios materiais quanto maiores qualificaes profissionais, maior repertrio cultural etc.Ora, muito comum que a iniciativa e o esforo sejam mais imediatamente perceptveis pelo trabalhador individual que os programas econmicos e sociais afinal, quem no percebe o tempo e energia que dedica sua ascenso social? Eles so, com certa dose de razo, alados ao primeiro plano pelos trabalhadores enquanto ascendem, e os apoios recebidos vo sendo lanados ao segundo plano. Este o solo frtil em que as ideologias dameritocracia, doempreendedorismoe doindividualismogerminam. No negamos o papel da iniciativa nem do esforo individual na mobilidade social ascendente; ressaltamos, apenas, que um de seus elementos tem sido destacado do outro o que no de estranhar, diante do quadro ideolgico capitalista j desenhado na parte 2 deste ensaio (veraqui). E quem ascende socialmente tende a desejar, evidentemente, fugir das humilhaes, das atribulaes, das limitaes e da sensao (real) de explorao e opresso vividas no trabalho assalariado o que consideramos, anticapitalistas que somos, sentimentos absolutamente legtimos. O problema est notipo de sada do assalariamento apontado pela meritocracia, pelo empreendedorismo e pelo individualismo.Sculos atrs, alm do aquilombamento, havia outra sada para a escravido, usada nas dcadas finais do regime escravista colonial especialmente por escravos urbanos (considerados aqui no enquantoclasse social, mas enquanto meroconjuntoheterogneode indivduos): a compra de sua prpria alforria, algumas raras vezes seguida, com o passar dos anos, pela compra de mo-de-obra escrava pelo liberto. No se tratava, nunca, nestes raros casos, de libertos com grandes plantis de escravos, como os grandes senhores rurais, os grandes comerciantes urbanos etc. O que ocorria era, digamos, o liberto que trouxera da frica tcnicas artesanais de metalurgia comprar, depois de anos de trabalho e economias, um ou dois escravos para auxiliar-lhe em sua oficina; a vendedora ambulante j remediada comprar um ou dois escravos para, com mais gente a circular pela cidade, tirar um lucro extra de seu comrcio; e por a vai. Para a maioria dos libertos, todavia, a vida era uma luta constante para conseguir num dia dinheiro (ou crdito) suficiente para comprar a comida do dia seguinte, e sonhar com o dia em que poderiam comprar braos extras para vencer a faina diria.Vamos encarar: em linhas muito gerais, o processo se repete quanto ao assalariamento. Se nenhuma outra sada ao assalariamento aparece, o negcio prprio apresentado e estimulado nos meios de comunicao, nos rgos e entidades de fomento ao empreendedorismo (SEBRAE, SENAC, SESCOOP, SENAR, OCB, IEL, SENAI etc.) e nas conversas informais como o oposto do assalariamento, como sua negao. A escassa difuso de experincias de autogesto que sejam ao mesmo tempo representativas de seus setores e factveis para o trabalhador tornam-lhe utpicas quaisquer outras iniciativas que no tornar-se o prprio patro. isto o que levou 34,5% dos adultos brasileiros a estar envolvidos em negcio prprio em 2014, tornando o Brasil o primeiro pas no ranking mundial doGlobal Entrepreneurship Monitor(GEM), frente dos EUA e da China (veraqui). Seria isto puro reflexo da pejotizao do mercado de trabalho brasileiro? Cremos que a causa no est somente a. Hoje, 40% dos moradores de favelas querem abrir negcio prprio. O nmero representa queda em relao pesquisa anterior, de 2013, quando 53% manifestavam o desejo deempreender (veraqui). Mesmo assim superior mdia nacional. De acordo com o Sebrae, 23% da populao brasileira desejacriar um empreendimento prprio (veraqui). curioso que 70% dos moradores de favelas afirme querer morar no mesmo lugar, mesmo se sua renda duplicasse (veraqui) um curioso enraizamento, cujas possveis consequncias sero discutidas adiante.So estes alguns dos elementos materiais formadores de um quadro ideolgico e prtico complexo, mas marcado pelo individualismo, pela meritocracia e pelo empreendedorismo. Os trs, juntos, embaam o fato dea mobilidade social ascendente resultar de dcadas de luta coletivados trabalhadorescontra os esforos conjugados de burgueses e de certa frao dos gestores. Livres para empreender e chamados poltica somente de quatro em quatro anos para escolher a faco gestorial que os conduzir ao paraso, no de estranhar que a esta mobilidade social ascendente dos trabalhadores brasileiros nos ltimos doze anos no tenha correspondido um aumento da participao poltica, que sconquistas materiaisno se tenham somadoconquistas polticasde maior monta (veraquieaqui).Num contexto em que as prticas de ruptura com o capitalismo foram substitudas pelas que impulsionam a mobilidade social ascendente dos trabalhadores, e portanto sua maior integrao ao sistema; num contexto em que no se v mais as grandes mobilizaes de trabalhadores que marcaram as dcadas de 1980 e 1990; num contexto de exaltao miditica das agitaes polticas de setores conservadores da sociedade (que, no se iludam, esto presentes tambm entre os trabalhadores); num tal contexto, como possvel continuarmos a falar, ento, daautonomiadesta classe? Como possvel esquecer que vivemos sob a hegemonia compartilhada entre burguesia e gestores no Brasil e no mundo? Estaramos pretendendo reacender chamas de utopias irrealizveis, retornar a uma era de ouro das lutas sociais massivas?No. Somos mulheres e homens de nosso tempo, e intervimos nas lutas de nosso prprio tempo. A tragdia que se apresenta diante de ns, especialmente em tempos de vacas tuberculosas, no nos autoriza a encenar farsas.Sabemos reconhecer, entretanto, que, mesmo fortemente integrados no capitalismo, no h trabalhador que no queira romper com o assalariamento a nossa interpretao de sua vocao empreendedora. Vimos, alm disso, que a identidade de classe sob o nome que se achar mais adequado: pees, guerreiros, batalhadores etc. forte ao ponto do enraizamento territorial ser um de seus traos marcantes. Vimos, ainda, que reemergem laos elementares e primrios de solidariedade entre os trabalhadores, mesmo sob toda a escumalha individualista e em contextos de dificuldades econmicas. Entendemos, ainda, que no miudinho de suas vidas pessoais, no h trabalhador que no esteja lutando por conquistas materiais e culturais. E, num contexto marcado por polticas voltadas a promover a mobilidade social ascendente (e, portanto, a maior integrao ao sistema capitalista), entendemos que esta luta apenas um dos frontes de luta, e que possvel abrir outros.Ao intervirmos nas lutas de nosso tempo, samos de nossa zona de conforto. Se j o fazemos na prtica, preciso faz-lo igualmente em nossas reflexes polticas. Isto implica em sair do debate estril e politicamente ambguo do governismo e entrar no debatedo fortalecimento da classe atravs de conquistas materiaise culturais.Nas democracias capitalistas, ttico exigir mais e mais daquilo que atenda aos eixos de luta dos trabalhadores, at bater no impossvel; os limites do impossvel so dados a cada momento pela correlao de foras entre as classes envolvidas nesta luta; e a correlao de foras, ao contrrio do que dizem certos conservadores de esquerda acomodados com o reformismo lento dos ltimos doze anos, no pode ser medida seno enquanto se luta.Para dar este salto, preciso fazer a cada momento uma anlise fina do impacto de cada medida governamental, de cada resultado de lutas no trabalho e fora dele, de cada mudana comportamental, para identificar nelas o que, de fato, significa conquista material e cultural dos trabalhadores, e o que refora sua relao com os gestores e a burguesia. E esta anlise precisa ser feita em cima da atualidade, no com o que dizem os textos de dez, vinte, cinquenta, cem, cento e cinquenta, cento e setenta anos atrs. preciso saber transformar em problemas concretos das lutas estecarter dualdos resultados das lutas travadas na formao social em que nos encontramos, qual seja, o de que asconquistas materiais para os trabalhadoressomam-se a um simultneoreforo da hegemonia dos gestores. S ento poderemos, com nossos companheiros do trabalho, da escola, da universidade, do movimento etc., questionar osentidoe ocontedoda mobilidade social ascendente enquanto construmos alternativas de luta que agreguem no apenas um pequeno clube de iniciados, no apenas uma minoria ativa ou uma vanguarda, mas amplas massas de trabalhadores. S assim poderemosavanar nas lutasecritic-las por dentro e no outra coisa o que o Passa Palavra tem feito desde 2009. Viver os riscos, apontando-os para super-los.As jornadas de junho de 2013 so o primeiro sintoma deste grito por mais vindo desta nova composio da classe trabalhadora, mais qualificada, com renda inversamente proporcional a seu investimento educacional e sujeita a alta rotatividade no trabalho (pesquisas mais recentes indicam ser este o pblico majoritariamente participante das manifestaes da poca veraqui); que outros sintomas podem ser vistos no presente? O descolamento entre PT e classe trabalhadora que se vai apontando nas ltimas eleies presidenciais (veraquieaqui) que significados polticos pode vir a ter no futuro? No querer dizer, para alm das sempre suspeitas questes relativas corrupo (que preocupa tambm os trabalhadores, como se pode veraqui), que o PT j no aparenta mais representar este desejo por mais? este, segundo entendemos, o contedo da autonomia.Autonomia, para ns, muito mais que a simplescapacidade de dar-se as prprias regras; isso tambm, mas a traduo desta definio quase etimolgica no contexto das lutas sociais significa aconstruo ttica de um caminho que leve a um horizonte estratgico alm do capitalismo, atravs deconquistas materiais e culturais da classe trabalhadorae da sua progressivaorganizao autnoma e independente, sob diversasformase nas mais diversasescalas. atravs do acmulo destas conquistas, somado a esta organizao autnoma, que oslimitesdas concesses capitalistas se tornaro evidentes, e podero, assim, ser identificados e atacados.No falamos aqui da identificao, pela ensima vez, de limites j verificados em outros contextos da histria qualquer escolstico da revoluo conseguiria faz-lo com duas horas de pesquisa na internet e uma redao inflamada. No se trata, tampouco, de propor a agitao por meio das clssicas, avanadssimas e desgastadas palavras-de-ordem que, por isso mesmo, isolam l adiante quem as agita.Trata-se de que estes companheiros com maior acmulo e, portanto, conscincia mais alargada sobre os limites histricos do capitalismo, possam identificar, nas lutas em que esto inseridos com outros companheiros, at onde sua experincia comum permitiu identificar limites concretos, atuais e palpveis das lutas, e at onde possvel ir sem desencadear seu descolamento da maioria. Trata-se, igualmente, de avanar nas conquistas (e no s nas lutas, pois radicalizao sem conquista sinal de isolamento) e testar estes limites na prtica, at que sua ruptura se mostre possvel e se tenha no somente a ousadia, mas tambm as condies necessrias para efetiv-la. no contexto de lutas quereivindiquem mais do que j se conquistou, e simultaneamentequestionem o custo poltico das atuais conquistas materiais e culturaiseapontem para o esgaramento e ruptura dos limites das concesses capitalistas, que as incontveis prticas do autonomismo podem fazer algum sentido. Do contrrio, no passam de tapeao, mimimi, quatch-quatch de quem quer se afastar ao mximo da luta de classes e, por isso mesmo, enfraquece a luta dos trabalhadores. reflexo sobre estas questes, na verdade pontos iniciais de um debate mais complexo, que convidamos quem est na luta, porque os tempos do porvir no esto para brincadeira. E que este debate possa frutificar l onde se faz mais necessrio.A srieReflexes sobre a autonomiafoi publicada em6 partes.Etiquetas:Capitalismo,Reflexes,Trabalho_e_sindicatosComentrios2 Comentrios on "Reflexes sobre a autonomia (6): classe e autonomia na era PT"ulisses em 4 de maio de 2015 10:57

FELIX GUATTARI entrevista LULA (*)So Paulo, 01/9/1982, o intelectual burgus branco de esquerda' (Guattari) e um espcime conspcuo dos pobres infelizes subeducados (Lula) trocam figurinhas.(**)Suely Rolnik, porta-bandeira sem mestre-sala, faz a ltima e quase desnecessria pergunta.(*) editora brasiliense, 1982(**) ver CITANDO CHARB [passapalavra maio 1, 2015]Lucas em 4 de maio de 2015 16:12

a etapa de conflito social inaugurada em 2013, e especialmente a sada do armrio dos setores da extrema-direita jogou na cara de muita gente que o senso comum no basta mais. Quem ficar no senso comum vai ser levado pela onda. Pressionados pelo contexto, muitos tero que levar a srio pensamentos e reflexes que antes pareciam trabalho superficial levar a cabo.Afinal, o marxismo serve para qu? A qu vem a importar a histria das lutas dos trabalhadores?Pois tanto a luta sem o pensamento, quanto o pensamento sem a luta, so terreno estril. Tambm o a autonomia sem o classismo, parece ser a mensagem do passapalavra.