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R. Ra’e Ga www.ser.ufpr.br/raega Curitiba, v.29, p.64-91, dez/2013 ISSN: 2177-2738
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REDES DE TRANSPORTES E COMÉRCIO INTERNACIONAL: os fluxos das
exportações do setor siderúrgico-metalúrgico no norte de Minas Gerais
TRANSPORT NETWORKS AND INTERNATIONAL TRADE: the flows of exports
of the steel and metallurgical industry in north of Minas Gerais
Luiz Andrei Gonçalves Pereira Doutorando em Geografia – Instituto de
Geografia/UFU Bolsista da CAPES
Uberlândia, MG, Brasil e-mail: [email protected]
William Rodrigues Ferreira
Professor Associado do Instituto de Geografia – UFU Uberlândia, MG, Brasil
e-mail: [email protected]
Artigo recebido em: 31/10/2012. Artigo aceito em: 11/11/2013.
Resumo
O sistema de trocas de bens e de serviços no comércio internacional tornou-se mais complexo e articulado, em um processo de interação espacial que ocorre a partir da organização das redes de transportes, das comunicações e dos fluxos de capital no espaço geográfico. O objetivo deste trabalho é analisar a configuração espacial das redes de transportes responsáveis pelo escoamento das exportações do setor siderúrgico-metalúrgico destinadas ao mercado internacional, enfocando a região norte de Minas Gerais, no período entre 2004 e 2011. As mercadorias exportadas foram transportadas exclusivamente por transporte rodoviário no percurso nacional; consequentemente, os portos, aeroportos e pontos de fronteiras articulados ao transporte marítimo, aéreo e rodoviário internacional viabilizaram os fluxos das exportações.
Palavras-chave: Redes de transportes; comércio internacional; exportações; setor
siderúrgico-metalúrgico.
Pereira, L. A. G.; Ferreira, W. R. Redes de Transportes e Comércio Internacional: os fluxos das exportações do setor siderúrgico-metalúrgico no
norte de Minas Gerais
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Abstract
The system of trade in goods and services in international trade has become more
complex and articulated in a process of spatial interaction, which occurs from the
organization of transport networks, communications and capital flows in geographic
space. The aim of this paper is to analyze the spatial configuration of transport
networks responsible for the flow of exports of steel and metallurgical industry for the
international market, focusing on the northern region of Minas Gerais, in the period
2004 to 2011. The exported goods were transported exclusively by truck on national
route, therefore, ports, airports and border points articulated maritime transport,
international road and air flows of exports made possible.
Keywords: Transport networks; international trade; exports; steel and metallurgical industry.
INTRODUÇÃO
O sistema de trocas de bens e de serviços no comércio internacional tornou-
se mais complexo e articulado, em um processo de interação espacial que ocorre a
partir da organização das redes de transportes, de comunicações e de fluxos de
capital no espaço geográfico. A localização concentrada ou dispersa das fontes de
matéria-prima, das fontes de energia, das plantas industriais, das empresas
prestadoras de serviços e dos mercados consumidores em diversas regiões do
mundo passou a requerer um sistema de transporte internacional eficaz e eficiente
para otimizar os fluxos das trocas comerciais entre as economias dos países
desenvolvidos, em desenvolvimento e subdesenvolvidos. Os diversos países
envolvidos nas relações econômicas internacionais tornaram-se dependentes das
articulações simultâneas das redes modernas de transportes e de comunicações
capazes de promover, de forma mais rápida, segura e com baixo custo, os fluxos de
capital no cenário internacional.
Nesse contexto, este trabalho busca responder à seguinte questão: como
estão organizadas as redes de transportes que inseriram os fluxos das exportações
do setor siderúrgico-metalúrgico do norte de Minas Gerais no comércio
internacional? O objetivo é analisar a configuração espacial das redes de transportes
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responsáveis pelo escoamento das exportações do setor siderúrgico-metalúrgico
destinadas ao mercado internacional, enfocando a região norte de Minas Gerais, no
período entre 2004 e 2011.
No processo de desenvolvimento da pesquisa que originou este artigo, os
estudos concentraram-se na revisão da literatura e na coleta de dados
disponibilizados pelas instituições governamentais, como o Departamento de
Estradas de Rodagens de Minas Gerais – DER/MG – e o Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC/ALICEWEB2. A parte
empírica da pesquisa foi desenvolvida através da coleta de dados nas fontes
primárias, por meio da aplicação de dez entrevistas semiestruturadas a
representantes do setor de logística ou de comércio exterior das empresas
exportadoras do setor siderúrgico-metalúrgico, com domicílios fiscais nos municípios
do norte de Minas Gerais. As informações extraídas das entrevistas permitiram
identificar as redes de transportes utilizadas pelas empresas exportadoras, apontar
problemas do sistema de transportes e propor possíveis soluções para esses
problemas, visando a melhorias constantes nas redes de transportes que escoam as
exportações da região norte-mineira.
Redes de transportes e organização espacial
Na ciência geográfica, o que são as redes de transportes? Para Rodrigue,
Comtois e Slack (2006), a rede de transportes é uma referência ao quadro de rotas
de um sistema de localizações identificado como nós, uma vez que a rota constitui
uma ligação entre dois nós, que são parte de uma grande rota, referindo-se às rotas
mais tangíveis, como estradas e trilhos, ou a rotas menos tangíveis, como
corredores aéreos e marítimos. As redes de transportes estão incluídas em uma
estrutura espacial composta pela organização da infraestrutura viária e dos terminais
de transportes que viabilizam as relações entre a origem e o destino dos fluxos de
cargas e de passageiros no espaço geográfico.
As redes de transportes são constituídas por um sistema arterial de
organização espacial por meio de rotas viárias que articulam os arcos e os nós na
estrutura da rede, tornando-se um foco de atração, de geração e de distribuição dos
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fluxos que, consequentemente, viabilizam a circulação de pessoas, de bens e de
serviços pelas redes (PONS; BEY, 1991. PONS; REYNÉS, 2004). É importante
frisar que os elementos infraestruturais básicos das redes de transportes são as
ligações e os nós das conexões responsáveis pela organização dos fluxos no
espaço geográfico.
Nas redes de transportes, as ligações são as próprias instalações viárias,
como as hidrovias, as rodovias, as ferrovias e as vias aéreas, enquanto os nós são
representados por cidades ou por terminais de cargas e/ou passageiros que são
interconectados por um determinado conjunto de ligações. Estas ligações e os nós
promovem acessibilidade aos lugares e também viabilizam os fluxos de veículos, de
passageiros e de mercadorias que circulam constantemente ou em determinado
período nos sistemas de transportes (TAAFFE; GAUTHIER; O`KELLY, 1996). As
ligações, a acessibilidade aos nós e os fluxos nas redes de transportes promovem
as interações espaciais, estruturando as articulações do espaço geográfico local,
regional, nacional e internacional.
Considerando os fluxos nas redes de transportes, Corrêa (2006, p. 279)
destaca que:
As interações espaciais constituem um amplo e complexo conjunto
de deslocamentos de pessoas, mercadorias, capital e informação
sobre o espaço geográfico. Podem apresentar maior ou menor
intensidade, variar segundo a frequência de ocorrência e, conforme a
distância e direção, caracterizar-se por diversos propósitos e se
realizar através de diversos meios e velocidades.
Nas redes de transportes, a amplitude e a complexidade das interações espaciais
dos fluxos de bens e de serviços são caracterizadas por variações na intensidade,
na frequência e na velocidade dos meios de transportes para transpor/superar as
distâncias no espaço geográfico. Dentro das redes de transportes, cada modalidade
forma ou tem a sua própria rede, sendo caracterizada, de forma segmentada, como
rede rodoviária, ferroviária, marítima, aeroviária, hidroviária ou dutoviária. No
processo de conexão de duas ou mais modalidades de transportes, tem-se
constituída a complexa rede de transporte intermodal, que é muito utilizada no
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transporte internacional de cargas no cenário mundial. Diante dessa complexa rede,
na sequência, será discutido o papel das redes de transportes nos fluxos de
mercadorias no comércio internacional.
COMÉRCIO INTERNACIONAL: redes de transportes e fluxos internacionais de
mercadorias
O comércio internacional é definido pelo sistema de trocas que ultrapassa as
fronteiras nacionais dos países, sendo representado por duas vias: uma, das
vendas, que são as exportações; e a outra, das compras, que são as importações
(MAIA, 2004). No contexto das trocas de bens e de serviços na escala local/regional
à internacional, ou vice-versa, Arroyo (2012, p. 8) aponta que “os fluxos
internacionais de mercadorias expressos nas exportações e importações mostram
as relações que distintas frações do território nacional têm com o mundo através da
atividade mercantil”. A espacialidade dos processos econômicos, representada pelos
fluxos que ultrapassam as fronteiras nacionais, resulta na aceleração da circulação
do comércio mundial, em um contexto de estratégias empresariais que desenvolvem
e/ou desenham novas tramas de negócios a partir das interações entre as empresas
e os mercados localizados em diferentes países desenvolvidos e em
desenvolvimento (ARROYO, 1995).
Para explicar os princípios das trocas no comércio internacional, Rodrigue,
Comtois e Slack (2006) destacam que, na economia mundial, nenhum país é
autossuficiente em produção para abastecer o seu mercado interno, tornando-se
necessárias as trocas de bens e de serviços entre os países envolvidos nas relações
econômicas internacionais. Sendo assim, cada país está envolvido em diferentes
níveis de comércio internacional, para vender o que produz para o exterior e também
para adquirir, no mercado externo, o que não é produzido no seu mercado interno,
constituindo uma flexível e complexa rede de trocas comerciais no espaço
geográfico mundial. Consequentemente, o sistema de compra e de venda está se
inter-relacionando constantemente no mercado internacional.
A ascensão do comércio internacional no período Pós-Segunda Guerra
Mundial tem aumentado a interdependência dos diversos elementos componentes
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da economia mundial, que são constituídos de numerosos relacionamentos
espaciais contínuos e descontínuos nos fluxos de capitais, de mercadorias, de
matérias-primas, de serviços e de informações entre as diferentes regiões do
mundo. Para Rodrigue, Comtois e Slack (2006), o comércio internacional de bens e
de serviços foi facilitado principalmente devido à aplicação de recursos tecnológicos
na integração produtiva, à eficiência dos meios de transportes e de comunicações e
à flexibilidade das transações financeiras. A junção desses elementos contribuiu
para a redução dos custos de produção e de circulação, viabilizando os fluxos de
capital e de consumo, principalmente em pontos estratégicos dos territórios
internacionais.
Na concepção de Monié (2011), o grande crescimento das trocas comerciais
imprimiu à infraestrutura logística uma função estratégica de articular interna e
internacionalmente os espaços de produção e de consumo. Isso ocorreu de duas
formas: na primeira, os diversos países e as regiões participam dos fluxos
econômicos globais, com maior dispersão dos fornecedores, produtores e
consumidores, que passaram a exigir uma maior capilaridade dos sistemas de
transportes. Na segunda forma, a organização da produção e dos fluxos em redes
também exige uma conexão perfeita entre os nós e os vetores, uma vez que
qualquer problema na rede compromete os fluxos.
Para Rodrigue (1999), o processo de globalização econômica dos mercados
internacionais tem recebido apoio para melhorias constantes na tecnologia de
transportes e também em investimentos na infraestrutura de transporte para a
superação de maiores distâncias em menor espaço de tempo. O desenvolvimento
das redes de transportes nacionais e internacionais ampliou o aproveitamento
prolongado das vantagens comparativas, em termos de recursos, de capital e de
trabalho, em diferentes mercados mundiais. Sendo assim, o crescimento dos fluxos
de mercadorias, a redução dos custos de produção e a disponibilização de mais
produtos nos mercados, por conseguinte, aumentou também o consumo, a produção
e a circulação em escala internacional.
A modernização tecnológica das redes de transportes possibilitou o
crescimento dos fluxos nos sistemas de distribuição de mercadorias, aumentando os
deslocamentos de bens e de serviços no espaço geográfico, em tempo
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relativamente menor. Rodrigue (1999) destaca que os movimentos das mercadorias
não estão ocorrendo muito mais rápido, mas se tornaram mais eficientes e rentáveis.
Isto porque a velocidade dos aviões (Boeing) é praticamente a mesma de 25 anos
atrás. No caso do fluxo marítimo, a velocidade também não tem melhorado
significativamente nos últimos 50 anos. O crescimento do comércio internacional não
pode estar ligado somente às melhorias da velocidade modal de transportes, está
relacionado também à maior capacidade dos veículos de transportar cada vez mais
quantidades de mercadorias com menores custos operacionais. Além disso, a
redução do tempo de transbordo nos terminais de cargas melhorou
consideravelmente a capacidade e a eficiência dos sistemas de transportes.
A difusão das redes de comunicações (telefonia e internet) no cenário
internacional tem aumentado também os fluxos de capital, as atividades comerciais
e as necessidades por transportes. As melhorias dos sistemas de transportes
ocorreram, em sua maioria, nos terminais de cargas, por meio do sistema de
sincronização, que viabilizou mais rapidamente a continuidade dos fluxos e a
integração dos sistemas de transportes. Para Rodrigue (1999), a sincronização dos
terminais de cargas otimizou os fluxos nas redes de transportes, principalmente no
recebimento, no transbordo e na distribuição dos fluxos de mercadorias, garantido,
assim, a continuidade e a rapidez nos fluxos, uma vez que não é possível aumentar
significativamente a velocidade dos meios de transportes. Dessa forma, a
sincronização diminuiu o tempo de espera e aumentou a rapidez nos transbordos
das cargas de um modal de transporte para outro. Isso só foi possível por meio das
melhorias significativas das redes de comunicações (telefone e internet), que
contribuíram com a agilização do processo de sincronização nos terminais de
cargas.
A constante articulação da prestação de serviços dos terminais de transportes
e suas modalidades possibilitou os fluxos ininterruptos de mercadorias para o
funcionamento do modelo de consumo e de produção pós-fordista. Monié (2003, p.
60) explicita a interação entre esses fatores na afirmação que se segue:
A noção de circulação torna-se uma questão central desse modelo
pós-fordista que vende a mercadoria antes de sua produção e impõe
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uma reorganização completa dos sistemas de transportes nos seus
aspectos infraestruturais, institucionais, gerenciais e operacionais.
O sistema de sincronização dos terminais de cargas e dos meios de
transportes trabalha com fluxos contínuos, com baixo ou nenhum estoque de
mercadorias, pautado no sistema de just in time de produção, uma vez que os
serviços de transportes e de comunicações mantêm as cargas em constante
circulação no espaço geográfico. Todavia, uma interrupção no fluxo – por condições
do tempo, quebra de veículos, greves, acidentes, entre outros – afeta toda a cadeia
de circulação na rede de transportes que, por exemplo, pode parar temporariamente
as atividades produtivas e comerciais. Em países como, mais especificamente, o
Brasil, que apresenta sérios problemas na infraestrutura de operacionalização das
redes de transportes, os fluxos podem sofrer ainda interrupções mais constantes.
Os problemas na infraestrutura dos transportes brasileiros têm elevado os
custos de produção e de circulação, o que os empresários, os governantes e os
pesquisadores denominam de custo Brasil. Nas palavras de Monié (2003), o custo
Brasil é caracterizado pelos conjuntos de gargalos estruturais, institucionais e
operacionais da infraestrutura de logística e de transporte; resultam na elevação dos
custos de produção e, consequentemente, afetam a capacidade de competitividade
frente à concorrência internacional, onerando principalmente os setores
exportadores do país. O custo Brasil reintroduziu o debate sobre a necessidade de
retomar urgentemente os investimentos na infraestrutura, reatualizando,
reestruturando e modernizando os setores de transportes.
As melhores condições da infraestrutura de circulação, de produção e de
consumo estão mais concentradas e organizadas nos chamados países
desenvolvidos. Coforme Pons e Reynés (2004) e Rodrigue, Comtois e Slack (2006),
a configuração da geografia do comércio internacional ainda revela o predomínio de
um pequeno número de países, principalmente na América do Norte, na Europa e na
Ásia, formando uma tríade constituída pelos Estados Unidos, pela Alemanha e pelo
Japão, que dominam cerca de um terço de todo o comércio global. Mas essa
supremacia está sendo desafiada pelas economias emergentes.
Na atualidade, realmente, ocorre a ampliação do comércio internacional entre
os países emergentes, principalmente China, Brasil e Índia, entre outros. No setor de
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transportes, Laxe (2005) frisou o crescimento na prestação de serviços de
transportes internacionais das companhias marítimas asiáticas de países
emergentes, como China, Hong Kong (China), Coréia do Sul, Singapura, Taiwan e
Malásia, que têm se destacado e ampliado a sua participação no escoamento de
bens e de serviços no cenário internacional.
A prestação dos serviços de transportes das companhias localizadas em
países desenvolvidos, emergentes e subdesenvolvidos no comércio internacional é
de suma importância para o funcionamento das atividades econômicas,
principalmente na viabilização dos fluxos de bens e de serviços. Para Rodrigue,
Comtois e Slack (2006), aproximadamente metade de todo o comércio mundial
ocorre entre as localidades com distâncias que ultrapassam 3.000 quilômetros. Esse
é um dos motivos que leva ao envolvimento de vários modos integrados de
transportes nos movimentos dos fluxos internacionais. Por isso, nas redes de
transportes internacionais, são necessárias estratégias que articulem,
espacialmente, as modalidades de transportes e os terminais de cargas na
economia mundial.
As relações espaciais no comércio internacional ocorrem por meio do
transporte intermodal, podendo ser uma exceção somente nos países que possuem
fronteiras e vias de acessos terrestres. Para Hoyle e Knowles (2001), o transporte
intermodal é caracterizado pelo fluxo de carga que envolve uma interação espacial
do remetente ao destinatário, no qual uma unidade de carga é transportada em, pelo
menos, dois modos de transportes diferentes, com contrato único para transpor o
espaço geográfico. A sua finalidade básica é fornecer um sistema de fluxo contínuo,
em que as vantagens relativas de cada modo de transporte são combinadas para
produzir, de forma mais eficiente e com menor custo, a prestação de serviços porta
a porta nos deslocamentos de mercadorias, principalmente no comércio
internacional.
Na política de exportação, as redes de transportes intermodais estão
inseridas em uma estrutura espacial constituída por transporte nacional, que leva a
mercadoria do local de produção até o terminal; terminais de cargas, que recebe e
distribui as mercadorias; e transporte internacional, que leva a mercadoria do
terminal nacional para outros terminais de cargas no exterior. As redes de
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transportes são constituídas por grupos de modalidades terrestres, aquaviárias e
aeroviárias.
No Brasil, as redes de transportes terrestres nacionais são constituídas pelos
modais rodoviário, ferroviário e dutoviário, que integram as atividades econômicas
no espaço geográfico nacional, principalmente ligando as regiões costeiras e
interioranas. Na política de exportação, utilizam-se, para levar as mercadorias do
local de produção até os terminais de cargas alfandegados, portos, aeroportos e
pontos de fronteiras. É importante destacar que parte dos fluxos rodoviário e
ferroviário é destinada, em maior quantidade, aos portos, que são responsáveis pela
distribuição de grande parte da mercadoria exportada no cenário internacional. A
partir desses terminais, as mercadorias seguem para o exterior na modalidade
marítima (predominante), aeroviária ou terrestre. O transporte internacional terrestre,
rodoviário e ferroviário ocorre após os pontos de fronteiras, que estão localizados
entre os países que possuem fronteiras terrestres.
Os terminais de cargas alfandegados estão localizados nas fronteiras
aquaviárias (portos), aéreas (aeroportos) e terrestres (pontos de fronteiras), que
recebem os fluxos de bens e de serviços produzidos nos mercados nacionais e
destinados ao mercado internacional. A partir desses terminais alfandegados, há a
ocorrência do transporte internacional para a distribuição dos fluxos de mercadorias
no mercado mundial. No terminal portuário, encontra-se uma maior quantidade de
empresas prestadoras de serviços de transportes mais especializados para viabilizar
os fluxos na rede intermodal de transporte.
O transporte internacional ou de longa distância é caracterizado pelos fluxos
das mercadorias que ocorrem a partir dos terminais alfandegados, por meio de
transportes marítimos, aeroviários e terrestres. Para Rodrigue, Comtois e Slack
(2006), os terminais portuários e os transportes marítimos são responsáveis por
cerca de 90% dos fluxos em tonelagem, e aproximadamente 70% dos valores
financeiros das mercadorias em circulação no comércio global, principalmente dos
produtos de maior volume ou peso. O transporte aéreo internacional transporta
cerca de 0,2% dos fluxos de cargas em tonelagem e mais ou menos 15% dos
valores financeiros das mercadorias no mercado internacional. O transporte
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aeroviário é responsável principalmente pelos deslocamentos dos produtos de baixo
peso e volume; basicamente, os produtos tecnológicos e perecíveis.
No comércio internacional, a modalidade de transporte marítimo é de suma
importância nos fluxos de bens e de serviços, pois os custos operacionais são
menores, comparado aos outros modais de transportes. As interações espaciais dos
transportes terrestres, da estrutura portuária e do transporte marítimo propiciaram o
predomínio do transporte intermodal na cadeia de fluxos globais. Peyrelongue
(1999) afirma que a intermodalidade procedeu das relações espaciais do transporte
marítimo e dos portos, por intermédio da implementação do contêiner, uma grande
invenção tecnológica que permitiu a integração das redes de transportes terrestres e
marítimos, na organização e na intensificação dos fluxos de longa distância na
cadeia produtiva mundial. Os contêineres revolucionaram as redes de transportes e
demandaram navios maiores para o transporte de cargas, melhoramentos na
infraestrutura portuária e especialização das empresas prestadoras de serviços de
transportes, o que terminou por contribuir para a ampliação do comércio
internacional (LAXE, 2005).
O crescimento dos fluxos por contêiner tem otimizado os custos logísticos,
principalmente com a redução dos custos das embalagens e dos transbordos nos
terminais de cargas, facilitando os fluxos de mercadorias através do transporte
intermodal. Conforme Monié (2011, p. 307), “o uso do contêiner foi decisivo para
diminuir os custos e para suavizar a gestão das interfaces intermodais”. Para
Rodrigue e Notteboom (2009) e Pons e Reynés (2004), o contêiner foi considerado
mais do que uma caixa de aço, uma vez que é um vetor importante nas interações
espaciais; revolucionou os meios de transportes, tendo impactos significativos na
estrutura de produção, de distribuição e de consumo. A gestão dos fluxos de
mercadorias por contêiner foi viabilizada pela atuação conjunta da rede de
transportes e da rede telemática, que ampliou o tráfego em termos quantitativos,
qualitativos e espaciais. No cenário econômico atual, um dos grandes desafios para
o transporte em contêiner é a superação da circulação de contêineres vazios, que
ocorre diante dos desequilíbrios comerciais no espaço geográfico.
Nas redes de comércio internacional, as interações espaciais das redes de
transportes, de terminais de cargas (contêiner) e de comunicações estão cada vez
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mais flexíveis e complexas, principalmente nos relacionamentos do sistema de
compra e venda que ampliaram os fluxos de bens e de serviços no mundo
globalizado. Considerando esse contexto, a próxima seção demonstra como estão
estruturadas e organizadas as redes de transportes que inseriram as exportações do
setor siderúrgico-metalúrgico da região norte-mineira no cenário econômico
internacional.
NORTE DO ESTADO DE MINAS GERAIS: redes de transportes terrestres e
organização espacial das empresas exportadoras do setor siderúrgico-
metalúrgico
A expansão dos meios de transportes terrestres propiciou o desenvolvimento
do sistema capitalista nas áreas interioranas do território brasileiro. Nesse contexto,
também favoreceu o crescimento das atividades produtivas e comerciais na
mesorregião norte de Minas Gerais, ampliando as relações econômicas entre essa
região e os demais mercados nacionais e internacionais. O processo de
desenvolvimento dos sistemas de transportes terrestres no norte de Minas pode ser
caracterizado por dois períodos históricos: antes e após a criação da
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE.
O primeiro período foi o que antecedeu à implantação da SUDENE,
caracterizado pela implementação do sistema ferroviário e das rodovias não
pavimentadas, desenvolvendo o sistema viário e urbano, promovendo as interações
espaciais na circulação de pessoas, no transporte de cargas e no surgimento dos
entrepostos comerciais. Isso deu fôlego às atividades comerciais, principalmente em
Montes Claros e Pirapora. O segundo período ocorreu após a criação da SUDENE,
em 1959, instituição pública federal que subsidiou a implantação das políticas de
desenvolvimento regional por meio de uma ação conjunta dessa instituição com os
demais órgãos estaduais e prefeituras municipais, o que resultou em melhorias da
infraestrutura e favoreceu o processo de modernização econômica, principalmente
na região norte-mineira (PEREIRA, 2010).
A SUDENE, conforme estabelecido em seu segundo Plano Diretor (1963 –
1966), passou atuar no território norte-mineiro a partir de 1963, tornando-se um
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marco importante no processo de modernização da infraestrutura econômica de
transporte rodoviário e ferroviário. Para Pereira (2010), as ações estatais
subsidiaram, por meio de incentivos fiscais e financeiros, a expansão das atividades
produtivas privadas, representadas pelas atividades pecuaristas, agrícolas,
agroindustriais, industriais e de serviços. No setor de transportes terrestres, ocorreu
o reaparelhamento das vias permanentes e do material rodante do sistema
ferroviário, além da pavimentação de rodovias federais, estaduais e municipais no
norte de Minas Gerais. Segundo Pereira e Lessa (2011), os investimentos nos
setores de infraestrutura econômica e os subsídios estatais contribuíram para o
processo de expansão do capital privado no norte de Minas, e levaram à
concentração das atividades produtivas em pontos estratégicos do território norte-
mineiro, tendo, como exemplo, as indústrias.
A região norte de Minas Gerais é constituída por 89 municípios, dos quais
somente cinco concentram as atividades industriais, inclusive do setor siderúrgico-
metalúrgico: Montes Claros, Pirapora, Várzea da Palma, Capitão Enéas e Bocaiuva.
A expansão do capital privado no norte de Minas Gerais, representado pelas
indústrias do setor siderúrgico-metalúrgico, ocorreu nos municípios que dispunham,
simultaneamente, das redes de transportes terrestres ferroviários e rodoviários, com
a função de promover a interação, a integração e a articulação espacial nas escalas
locais, regionais, nacionais e internacionais. Dessa forma, espacialmente, as
indústrias localizadas em Montes Claros e em Capitão Enéas são acessadas e/ou
estão interligadas às demais regiões do país pelas BR 135, 122, 365 e 251, e
Ferrovia Centro-Atlântica – FCA. As cidades de Pirapora e Várzea da Palma são
ligadas aos mercados pelas BR 365, 496 e 135, e FCA; Bocaiuva possui acesso
pela BR 135 e pela FCA (Figura 1).
Nas atividades industriais, o setor siderúrgico-metalúrgico é controlado pela
iniciativa privada, sendo estimulado também pelas ações estatais através dos
investimentos em infraestrutura econômica, dos incentivos fiscais e financeiros que
são disponibilizados pelas instituições públicas federais, como a SUDENE e o Banco
do Nordeste do Brasil – BNB. Além disso, os municípios da região norte-mineira
subsidiam a atividade industrial doando terrenos e concedendo isenções de tributos
municipais. Tudo isso, somado também ao baixo custo da mão-de-obra regional,
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torna-se atrativo importante para a instalação de indústrias (PEREIRA, 2010). Nesse
processo, o setor siderúrgico-metalúrgico desenvolveu as suas bases produtivas,
tornando-se um dos setores econômicos da atividade industrial mais importantes na
região norte de Minas Gerais.
Figura 1 – Norte de Minas Gerais, municípios e cidades: transportes e localização geográfica das empresas exportadoras do setor siderúrgico-metalúrgico. Fonte: MDIC/ALICEWEB2, 2004-2011. Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais – DER/MG, 2011. Org. PEREIRA, Luiz Andrei Gonçalves, 2012.
Considerando os fluxos das exportações, no período de 2004 a 2008, a região
norte-mineira apresentou um crescimento constante nas exportações totais, saindo
de 254 para 545 milhões de dólares. Em 2009, ocorreu uma redução dos fluxos das
mercadorias de 545 para 445 milhões de dólares; provavelmente, isso ocorreu
devido à crise econômica internacional. A partir de 2010, os fluxos das exportações
voltaram a crescer de forma mais acelerada, saltando de 445 para 702, em 2010, e
chegando a 966 milhões de dólares, em 2011. Por sua vez, as exportações do setor
siderúrgico-metalúrgico apresentaram um crescimento de 2004 para 2005, saltando
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norte de Minas Gerais
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de 167 para 204 milhões de dólares; porém, em 2006, apresentou uma leve queda,
de 204 para 196 milhões de dólares. No período que decorre de 2007 a 2008, voltou
à dinâmica de crescimento, passando de 196 para 351 milhões de dólares.
Enquanto em 2009 apresentou novamente uma queda mais acentuada, indo de 351
para 228 milhões de dólares, que pode ser justificada também pela crise mundial;
porém, em 2010, voltou a crescer de forma mais acentuada, saltando de 228 para
371; e, em 2011, chegou a 508 milhões de dólares (vide Gráfico 1).
Gráfico 1 – Exportações da região norte de Minas Gerais e do setor siderúrgico-metalúrgico, no período de 2004 a 2011 (USS/FOB – 1.000.000 – moeda corrente). Fonte: MDIC/ALICEWEB2, 2004; 2005; 2006; 2007; 2008; 2009; 2010; 2011. Org. PEREIRA, Luiz Andrei Gonçalves, 2012.
Depois da análise dos fluxos financeiros das mercadorias vendidas ao
exterior, destaca-se a circulação de quantidade em toneladas das mercadorias
exportadas pela região norte de Minas Gerais. De 2004 a 2007, ocorreu um pequeno
crescimento nas exportações, que foi de 169 para 186 mil toneladas, estagnando-se
em 2006; isto se comparado a 2005. No período entre 2008 e 2009, ocorreu uma
queda mais acentuada, apresentando um decréscimo – de 186 (em 2007) para 159
e 113 mil toneladas, respectivamente –, tendo como possível causa a crise
econômica internacional. De 2010 a 2011, houve um crescimento mais acentuado,
saltando de 113 (em 2009) para 176 e 246 mil toneladas, respectivamente. O setor
siderúrgico-metalúrgico apresentou também características semelhantes às
exportações totais da região norte-mineira: no período de 2004 a 2007, houve um
leve crescimento, saindo de 138 para 156 mil toneladas, estagnando-se em 2006,
254 299
361
440
545
445
702
966
167204 196
263
351
228
371
508
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1.000
1.100
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Período
Val
ores
US
$/F
OB
(1.
000.
000)
Norte de Minas Gerais (US$FOB) Siderúrgico-metalúrgico (US$/FOB)
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quando se compara com 2005. Entre o ano de 2008 e 2009, apresentou decréscimo
– de 156 (em 2007) para 133 e 104 mil toneladas –, possivelmente por causa da
crise mundial. Em 2010, apresentou um crescimento acentuado, indo de 104 (em
2009) para 166 mil toneladas; em 2011, voltou a ter um leve crescimento, indo de
166 para 172 mil toneladas (Vide Gráfico 2).
Gráfico 2 – Exportações da região norte de Minas Gerais e do setor siderúrgico-metalúrgico, no período de 2004 a 2011 (Toneladas – t – 1.000). Fonte: MDIC/ALICEWEB2, 2004; 2005; 2006; 2007; 2008; 2009; 2010; 2011. Org. PEREIRA, Luiz Andrei Gonçalves, 2012.
Após a apresentação dos dados estatísticos das exportações na região norte
de Minas Gerais, é possível caracterizar a importância do setor siderúrgico-
metalúrgico na participação dos fluxos de comércio internacional, uma vez que esse
setor exportou, em média, no período analisado, cerca de 57% dos valores em
dinheiro e aproximadamente 83% do peso/volume de cargas exportadas. Nesse
contexto, o setor siderúrgico-metalúrgico foi representado por dez empresas
exportadoras com domicílios fiscais na região em estudo. Os principais produtos
exportados foram: silício, ferrossilício, ferroligas, blocos de motores, peças
automotivas, corpos roedores (esferas), placas ferroviárias, contadores de líquidos
(hidrômetros), material de precisão, pinos, parafusos e porcas, entre outros. A seção
seguinte visa analisar a rede de transportes que promove os fluxos das exportações
de mercadorias do setor siderúrgico-metalúrgico no cenário internacional.
246
176
113
159
186
174174169
172166
104
133156
143143138
0
50
100
150
200
250
300
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Período
Quantidade e
m T
onela
das -
t (
1.0
00)
Norte de Minas Gerais (t) Setor siderúrgico-metalúrgico (t)
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Redes de transportes e fluxos das exportações do setor siderúrgico-
metalúrgico no norte de Minas Gerais
Na política de exportação da região norte-mineira, as redes de transportes
foram estruturadas em transporte nacional, terminais alfandegados e transporte
internacional. Todas as empresas do setor siderúrgico-metalúrgico utilizaram, no
percurso nacional, o transporte rodoviário para o escoamento da produção destinada
ao mercado externo, por causa da agilidade da modalidade rodoviária no processo
de deslocamento das mercadorias, associada também à falta de um sistema
ferroviário adequado para o transporte de produtos siderúrgico-metalúrgicos.
Os fluxos das mercadorias foram direcionados aos terminais alfandegados
portuários, aeroportuários e pontos de fronteiras. De forma específica, o porto do Rio
de Janeiro (RJ) foi o principal concentrador dos fluxos, recebendo 78,10% dos fluxos
em dinheiro e 82,16% da quantidade em toneladas. O porto de Sepetiba (RJ) atraiu
13,78% dos fluxos em dinheiro e 14,68% da quantidade em toneladas. Em seguida,
o porto de Santos (SP) recebeu 1,22% dos fluxos em dinheiro e menos de 1% da
quantidade em toneladas. Os demais portos receberam, individualmente, fluxos em
dinheiro e em toneladas inferiores a 1%. O ponto de fronteira de São Borja (RS)
recebeu 5,37% dos fluxos em dinheiro e 1,75% da quantidade em toneladas. Os
demais pontos de fronteiras receberam, individualmente, fluxos dos valores em
dinheiro e em toneladas inferiores a 1%. Quanto aos aeroportos, estes receberam,
individualmente, fluxos dos valores em dinheiro inferiores a 0,5%; e os fluxos em
toneladas, inferiores a 0,05% (Figuras 2 e 3).
Além da distribuição espacial dos fluxos das exportações, a Tabela 1 vem
mostrar detalhadamente os valores dos fluxos em dinheiro e da quantidade em
toneladas dos produtos do setor siderúrgico-metalúrgico em cada terminal
alfandegado utilizado, incluindo também os fluxos por modal de transporte nacional
e internacional.
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Figura 2 – Transporte nacional e terminais alfandegados: fluxos acumulados das exportações do setor siderúrgico-metalúrgico no norte de Minas Gerais, no período de 2004 a 2011 (US$/FOB – moeda corrente). Fonte: MEDIC/ALICEWEB2, 2004; 2005; 2006; 2007; 2008; 2009; 2010; 2011. Org. PEREIRA, Luiz Andrei Gonçalves, 2012.
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Figura 3 – Transporte nacional e terminais alfandegados: fluxos acumulados das
exportações do setor siderúrgico-metalúrgico no norte de Minas Gerais, no período de 2004
a 2011 (Toneladas - t). Fonte: MEDIC/ALICEWEB2, 2004; 2005; 2006; 2007; 2008; 2009; 2010;
2011. Org. PEREIRA, Luiz Andrei Gonçalves, 2012.
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Tabela 1– Fluxos acumulados das exportações do setor siderúrgico-metalúrgico na região norte de Minas Gerais, no período de 2004 a 2011: transporte nacional, terminais alfandegados e transporte internacional de cargas
Modal de transporte Fluxos das mercadorias exportadas
Nacional Internacional Terminais Alfandegados US$/FOB – Moeda corrente
% Quantidade em toneladas (t)
%
Ro
do
viá
rio
Ma
rítimo
Po
rto d
e (o
)
Rio de Janeiro (RJ) 1.787.889.415 78,10 949.352,36 82,16
Sepetiba (RJ) 315.369.877 13,78 169.677,29 14,68
Santos (SP) 27.927.348 1,22 5.112,47 0,44
Vitória (ES) 2.427.303 0,11 1.979,36 0,17
Rio Grande (RS) 2.252.639 0,10 920,77 0,08
Belém (PA) 236.250 0,01 150,00 0,01
Ro
do
viá
rio
Aé
reo
Ae
rop
orto
d
e (o
)
Guarulhos (SP) 7.729.700 0,34 428,73 0,04
Campinas (SP) 3.717.854 0,16 243,74 0,02
Rio de Janeiro (RJ) 236.392 0,01 16,28 0,00
Confins (MG) 77.164 0,00 3,68 0,00
Uruguaiana (RS) 1.9845 0,00 6,91 0,00
Ro
do
viá
rio
Ro
do
viá
rio
Po
nto
de
fron
teira
de
São Borja (RS) 122.828.151 5,37 20.221,48 1,75
Uruguaiana (RS) 12.790.656 0,56 5.096,37 0,45
Foz do Iguaçu (PR) 3.266.268 0,14 1.384,35 0,12
Santana do Livramento (RS)
1.395.585 0,06 86,47 0,01
Chuí (RS) 1.002.902 0,04 863,25 0,07
Jaguarão (RS) 9.097 0,00 5,50 0,00
Corumbá (MS) 13.500 0,00 0,95 0,00
Pontaporã (MS) 200 0,00 0,02 0,00
Norte de Minas Gerais Total 2.289.190.146 100 1.155.549,98 100
Resumo
Modal de transporte (Geral) Fluxos por terminas alfandegados de cargas (Geral)
Nacional Internacional Terminais US$/FOB % Toneladas (t) %
Rodoviário Marítimo Portos 2.136.102.832 93,32 1.127.192,25 97,54
Rodoviário Aéreo Aeroportos 11.780.955 0,51 699,34 0,06
Rodoviário Rodoviário Pontos de fronteiras 141.306.359 6,17 27.658,39 2,40
- - Total 2.289.190.146 100 1.155.549,98 100
Fonte: MDIC/ALICEWEB2, 2004; 2005; 2006; 2007; 2008; 2009; 2010; 2011. Org.
PEREIRA, Luiz Andrei Gonçalves, 2012.
A Tabela 1 mostra que, a partir dos fluxos nos terminais alfandegados, é
possível afirmar que 93,32% dos valores em dinheiro e 97,54% da quantidade em
toneladas foram embarcados nos portos e transportados pelo transporte marítimo,
por causa dos menores custos operacionais dessa modalidade, principalmente dos
fretes, mas também por ser um meio de transporte ideal para o escoamento de
grandes quantidades em pesos e volumes por longas distâncias. Através dos pontos
de fronteiras, foram embarcados 6,17% dos fluxos das mercadorias em dinheiro e
2,4% das cargas em toneladas, que foram conduzidas por transporte rodoviário
internacional para os países vizinhos do Brasil, como Argentina, Paraguai, Bolívia,
Uruguai e outros. Enquanto isso, os pequenos volumes de cargas que necessitam
de urgência na entrega foram embarcados nos aeroportos e enviados por transporte
Pereira, L. A. G.; Ferreira, W. R. Redes de Transportes e Comércio Internacional: os fluxos das exportações do setor siderúrgico-metalúrgico no
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aéreo internacional, o equivalente a 0,51% dos valores em dinheiro e 0,06% da
quantidade em toneladas, pois o transporte aeroviário apresenta um custo
operacional mais elevado para o deslocamento de cargas no espaço geográfico.
Isso justifica o baixo uso dessa modalidade de transporte.
Nos fluxos das exportações, as empresas localizadas em Pirapora, Várzea da
Palma e Capitão Enéas concentraram as embarcações de cargas nos terminais
portuários localizados no estado do Rio de Janeiro (porto do Rio de Janeiro e de
Sepetiba), pelo fato de estarem localizados geograficamente mais próximos da
região norte-mineira e por oferecerem bons serviços na área de logística e de
transportes. A empresa localizada em Bocaiuva concentrou seus fluxos no ponto de
fronteira de São Borja (RS), pelo fato de grande parte da mercadoria ser exportada
para o mercado argentino. As empresas localizadas em Montes Claros concentram
os fluxos das mercadorias exportadas no porto de Santos (SP) devido à maior
facilidade de enviar cargas para o estado de São Paulo e a melhor infraestrutura de
serviços logísticos oferecidos nesse terminal. Em casos mais específicos, os outros
terminais (portos, aeroportos e pontos de fronteiras) foram utilizados de acordo com
a necessidade do cliente e com a oferta de transporte internacional disponível para
os países no exterior.
Após transposição das fronteiras brasileiras, os fluxos das mercadorias, em
valores financeiros, foram destinados aos blocos econômicos regionais: União
Europeia1, NAFTA2, APEC3 (excluso países do NAFTA), MERCOSUL4 e outros. Os
fluxos das exportações do setor siderúrgico-metalúrgico da região norte-mineira,
47,33% dos valores em dinheiro e 50% da quantidade em toneladas, foram
destinados à União Europeia. Com relação ao NAFTA, foram enviados 19,41% dos
valores em dinheiro e 19,28% da quantidade em toneladas. No caso da APEC, este
bloco recebeu 16,26% dos fluxos em dinheiro e 17,39% da quantidade em
1 União Europeia: composta por 27 países – Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda,
Luxemburgo, Reino Unido, Irlanda, Dinamarca, Grécia, Portugal, Espanha, Finlândia, Suécia, Áustria, Eslovênia, Eslováquia, República Tcheca, Polônia, Chipre, Malta, Estônia, Lituânia, Letônia, Hungria, Romênia e Bulgária. 2 Acordo de livre comércio da América do Norte - NAFTA. Composto por três países: Estados
Unidos, Canadá e México. 3 Acordo de livre comércio da América do Norte - NAFTA. Composto por três países: Estados
Unidos, Canadá e México. 4 Mercado Comum do Sul – MERCOSUL. Composto por quatro países: Brasil, Argentina, Uruguai e
Paraguai.
Pereira, L. A. G.; Ferreira, W. R. Redes de Transportes e Comércio Internacional: os fluxos das exportações do setor siderúrgico-metalúrgico no
norte de Minas Gerais
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toneladas. Para o MERCOSUL, exportaram-se 10,27% dos fluxos em dinheiro e
6,13% da quantidade em toneladas. Finalizando, os outros blocos/países
importaram 6,73% dos valores em dinheiro e 7,2% da quantidade em toneladas
(Figura 4).
Figura 4 – Setor siderúrgico-metalúrgico na região norte de Minas Gerais: destinos dos fluxos das exportações por blocos econômicos de 2004 a 2011. Fonte: MDIC/ALICEWEB2, 2004; 2005; 2006; 2007; 2008; 2009; 2010; 2011. Org. PEREIRA, Luiz Andrei Gonçalves, 2012.
Nas entrevistas, observamos que todas as empresas do setor siderúrgico-
metalúrgico, no processo de agilização das exportações, contrataram os prestadores
de serviços de transportes fora do norte de Minas Gerais, principalmente na região
portuária do Rio de Janeiro e de Santos. Essa escolha é devido à concentração dos
profissionais (despachante aduaneiro5) e das empresas especializadas (operador
5Despachante aduaneiro – profissional, pessoa física que presta serviços na agilização da
documentação necessária ao desembaraço aduaneiro da mercadoria exportada ou importada nas áreas/recintos alfandegados (KEEDI; MENDONÇA, 2000).
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norte de Minas Gerais
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logístico6) nas atividades de prestação de serviços no setor de comércio
internacional. É importante ressaltar que as empresas da região norte-mineira
também contrataram os serviços de transportes em Sete Lagoas/MG (cidade
especializada no setor de siderurgia) para escoar as mercadorias até os terminais
alfandegados de cargas. No norte de Minas, a falta de serviços especializados em
transportes internacionais estimulou as empresas exportadoras a buscarem esses
serviços em outros centros logísticos do Brasil.
Para mercadorias escoadas por transporte marítimo, as empresas
contrataram e utilizaram os serviços de aluguel e de estufagem de contêineres de 20
e 40 pés dry cargo (carga seca) nas regiões portuárias. Nas interações espaciais do
deslocamento de contêiner, foi possível calcular uma média aproximada dos custos7
no percurso nacional das mercadorias contêinerizadas. Os custos nos
deslocamentos do contêiner de 40 pés dry cargo na rota entre Pirapora (MG) e Rio
de Janeiro (RJ), considerando o contêiner estufado (colocar mercadoria) na base de
produção na região norte-mineira, poderiam ser pagos, em média, com
aproximadamente US$ 3,45 mil dólares8 (moeda corrente) por contêiner. Mas as
empresas fizeram a opção de levar as mercadorias até as regiões portuárias por
meio de carretas; nessas regiões, é feita a estufagem dos contêineres. Isto
possibilita uma redução, em torno de 50%, nos custos de deslocamento de
mercadorias no percurso nacional. Dessa forma, os custos do transporte de
contêiner estufado nas regiões interioranas tende a serem mais caros, por isso as
empresas buscam mecanismos para minimizar esses custos, levando as
mercadorias para as regiões portuárias e, nelas, são feitas as contratações e as
estufagens dos contêineres.
6 Operador logístico – empresa que presta serviços logísticos, especializada em gerenciar e em
executar todas ou parte das atividades logísticas na exportação ou na importação de mercadorias, prestando, simultaneamente, serviços nas atividades de controle de estoque, armazenagem e gestão de transportes (Associação Brasileira de Movimentação e Logística – ABML, 1999). 7 É importante frisar que essa média dos custos, didaticamente, visa mostrar de forma simples os
custos no deslocamento do contêiner em rotas do percurso nacional. O cálculo do custo logístico (armazenagem, transporte e transbordo) é muito mais complexo, pois, especificamente, o custo pode variar de produto para produto, de terminal para terminal e de sentido de deslocamento de rota para rota, uma vez que as tarifas e as taxas sofrem diversas variações de preços. 8 Dólar = R$ 2,03; cotação do dia 13 de julho de 2012. O contêiner de 40 pés dry cargo estufado em
municípios do norte de Minas, por exemplo, Pirapora, tem um custo em torno de R$ 7 mil reais.
Pereira, L. A. G.; Ferreira, W. R. Redes de Transportes e Comércio Internacional: os fluxos das exportações do setor siderúrgico-metalúrgico no
norte de Minas Gerais
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Na política de exportação, o norte de Minas Gerais, como no Brasil, apresenta
vários desafios na infraestrutura das redes de transportes, principalmente no setor
de transporte nacional e nos terminais alfandegados de cargas. Assim, os principais
problemas são: má conservação da infraestrutura da malha rodoviária, infraestrutura
precária das ferrovias, burocracia no desembaraço das mercadorias, falta de serviço
logístico especializado em comércio internacional na região em estudo, falta de uma
Estação Aduaneira Interior – EADI (porto seco) – e deficiências na infraestrutura
logística dos terminais alfandegados, principalmente na infraestrutura portuária e
aeroportuária.
No Brasil, particularmente no norte de Minas Gerais, os grandes desafios para
a superação dos gargalos nas redes de transportes como forma de minimizar os
problemas e de maximizar a eficiência e a eficácia das redes de transportes são:
programas contínuos de investimentos na melhoria da infraestrutura do sistema
rodoviário, investimentos contínuos na modernização do sistema ferroviário,
dinamização regional do setor de transportes internacionais, modernização do
sistema aduaneiro, instalação de uma Estação Aduaneira Interior – EADI (porto
seco) – e programas contínuos de investimentos na modernização na infraestrutura
dos terminais alfandegados, principalmente nos portos e aeroportos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As redes de transportes promovem a circulação de pessoas, de mercadorias
e de serviços no espaço geográfico. Portanto, no comércio internacional, a
flexibilidade das redes possibilitou vender e/ou adquirir produtos em diferentes
escalas geográficas. Consequentemente, as atividades econômicas comerciais
estão mais dependentes da infraestrutura e dos fluxos das redes de transportes, que
atuam articuladas com canais de comunicações e de informações, ou vice-versa. A
infraestrutura das redes de transportes tem seus reflexos no ordenamento espacial
das atividades econômicas na mesorregião norte de Minas Gerais, uma vez que é
observada uma concentração das atividades econômicas nos pontos dinâmicos e
estratégicos no território norte-mineiro, principalmente naquelas áreas de mais fácil
conexão com o mercado nacional e internacional. O processo de modernização
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norte de Minas Gerais
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econômica foi influenciado pelos incentivos fiscais e financeiros, que também
favoreceram a expansão das atividades industriais do setor siderúrgico-metalúrgico
na região norte-mineira, em Montes Claros, Pirapora, Várzea da Palma, Bocaiuva e
Capitão Enéas.
As empresas do setor siderúrgico-metalúrgico, no período de 2004 a 2011,
tiveram uma participação importante nas exportações da região norte de Minas
Gerais, exportando cerca de US$ 2,3 bilhões de dólares (moeda corrente) e
aproximadamente 1,2 milhões de toneladas em mercadorias. Todas elas usaram
somente o transporte rodoviário para levar as mercadorias do local de produção até
os terminais alfandegados de cargas. Na política de exportação, os portos
concentraram 93,32% dos valores em dinheiro e 97,54% da quantidade em
toneladas dos fluxos das mercadorias exportadas. Os pontos de fronteiras escoaram
6,17% dos fluxos em dinheiro e 2,40% da quantidade em toneladas; já os terminais
aeroportuários receberam 0,51% dos fluxos em dinheiro e 0,06% da quantidade em
toneladas das exportações.
Considerando os fluxos das exportações por terminais alfandegados,
observa-se que o porto do Rio de Janeiro (RJ) foi o maior concentrador dos fluxos
das mercadorias, recebendo 78,10% dos fluxos em dinheiro e 82,16% da quantidade
em toneladas. O porto de Sepetiba (RJ) recebeu 13,78% dos fluxos em dinheiro e
14,68% da quantidade em toneladas, seguido pelo ponto de fronteira de São Borja
(RS), que atraiu 5,37% dos fluxos dos valores em dinheiro e 1,75% da quantidade
em toneladas. Logo após, o porto de Santos (SP) recebeu 1,22% dos fluxos
financeiros e menos de 1% da quantidade em toneladas. Os demais terminais
receberam, individualmente, fluxos em dinheiro e em toneladas inferiores a 1%.
As empresas exportadoras do setor siderúrgico-metalúrgico situadas no norte
de Minas Gerais contrataram os serviços especializados de transporte internacional,
principalmente nas regiões portuárias, que estão associados à utilização elevada
dos terminais portuários e de transporte marítimo internacional para os fluxos de
mercadorias. A contratação dos serviços especializados de logística – estufagem de
contêineres – nas regiões portuárias reduz os custos em aproximadamente 50% nos
fluxos da mercadoria no percurso nacional, ou seja, o fluxo da mercadoria do local
de produção até a região portuária.
Pereira, L. A. G.; Ferreira, W. R. Redes de Transportes e Comércio Internacional: os fluxos das exportações do setor siderúrgico-metalúrgico no
norte de Minas Gerais
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Além disso, os gargalos das redes de transportes no Brasil e no norte de
Minas Gerais precisam ser minimizados, em curto prazo, e solucionados, em médio
e longo prazo, para que as empresas possam ser mais competitivas no cenário
internacional. Para que isso ocorra, são necessários programas contínuos de
investimentos, visando a melhorias na infraestrutura de transporte rodoviário,
ferroviário, dutoviário, hidroviário, aeroviário e marítimo, responsáveis pelas
articulações dos fluxos de bens e de serviços no mercado interno e externo.
AGRADECIMENTOS: Apoio financeiro: CAPES (bolsa de estudos).
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