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Neste artigo propõe-se o desenvolvimento de uma rede colaborativa para combate à situação de vulnerabilidade social no contexto de cidades inteligentes.

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Olhos do Bem - Inteligencia artificial e inteligencia social emprol de uma cidade mais inteligente

Diego Antonio Lusa1

1Instituto de Ciencias Exatas e Geociencias – Universidade de Passo Fundo (UPF)Campus 1 - BR 285 - Passo Fundo (RS) - Brasil

{83473}@upf.br

Abstract. Cities grow proportionally in size and problems. Besides contributingto the declining quality of life, the problems experienced by cities accentuatesocial inequalities situation, evidenced by the presence of individuals in extremesocial vulnerability. One possible means of contour difficulties experienced bycities refers to the application of information and communication technologiesin order to make the cities smart in terms of infrastructure and services. Inthis paper, we propose the construction of collaborative network “Good Eyes”,based on the concept of smart cities and aimed specifically at combating socialvulnerability among individuals living on the streets.

Resumo. As cidades crescem proporcionalmente em tamanho e em problemas.Alem de contribuir para o declınio da qualidade de vida, os problemas vivencia-dos pelas cidades acentuam as desigualdades sociais, situacao evidenciada pelapresenca de indivıduos em condicoes de extrema vulnerabilidade social. Um dosmeios possıveis de contorno as dificuldades vivenciadas pelas cidades refere-sea aplicacao das tecnologias de informacao e comunicacao, visando tornar ascidades mais inteligentes em termos de infraestrutura e servicos. Neste artigo,propoem-se a construcao da rede colaborativa “Olhos do Bem”, embasada noconceito de cidades inteligentes e voltada especificamente ao combate da vul-nerabilidade social entre indivıduos em situacao de rua.

1. IntroducaoO rapido crescimento urbano vivenciado nas ultimas decadas tem colocado a prova osservicos e a infraestrutura das grandes cidades brasileiras. Problemas no transportepublico, saude, educacao e seguranca sao alguns exemplos dos efeitos observados emrazao deste crescimento desordenado. Como resultado, cria-se um ambiente caotico eestressante que reduz a qualidade de vida dos cidadaos, tornando a cidade um local poucoaprazıvel para se viver.

As dificuldades enfrentadas pelos grandes centros urbanos acabam tambem poracentuar as desigualdades sociais. Criam-se locais de alta concentracao populacional,com infra-estrutura precaria e alto ındice de violencia. Em decorrencia dos baixos ındicesde qualidade de vida observados, consolida-se um cırculo vicioso de pobreza e miseria,difıcil de ser superado sem uma quebra abrupta de realidade.

Neste contexto, enquadram-se tambem aqueles indivıduos em situacao de rua, quevivem a margem da sociedade e nao usufruem de praticamente nenhum dos benefıcios davida urbana. Dentre estes indivıduos que fazem da rua seu lar encontram-se inumeras

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criancas e adolescentes, que devido a dura vida entregam-se muito cedo ao crime e aosvıcios, tornando-se refens da situacao de miseria em que se encontram.

Uma das formas de tratar os grandes problemas vivenciados pelas cidades, desorte a oferecer a populacao maior qualidade de vida e trabalho, compreende aplicar tec-nologias de informacao e comunicacao (TIC) no meio urbano. Por meio da tecnologia,as responsabilidades fundamentais da cidade sao capacitadas em inteligencia e eficiencia,atendendo a populacao com maior velocidade e qualidade. Este e o princıpio fundamentalno qual esta embasado o conceito das cidades inteligentes.

Mais do que simplesmente aplicar tecnologias de ponta, as cidades inteligentesdevem preocupar-se com seus cidadaos. Os benefıcios gerados pelo uso das ferramentastecnologicas devem ser percebidos por todos os indivıduos e nao por apenas uma par-cela da populacao. Desta forma, e no mınimo imprescindıvel que uma cidade inteligentepreocupe-se com aqueles cidadaos que encontram-se em situacao de vulnerabilidade so-cial, em especial, com os que vivem em situacao de rua.

Com intuito de propor uma ferramenta de auxılio no combate a vulnerabilidadesocial, com ampla aplicabilidade no contexto de cidades inteligentes, este artigo objetivaapresentar a rede colaborativa “Olhos do Bem”. Para tal, na Secao 2 apresentam-se osconceitos fundamentais que definem as cidades inteligentes e, na Secao 3, descreve-sea importancia do elemento humano dentro deste novos ambientes urbanos. Uma vezapresentada a fundamentacao teorica, na Secao 4 sao propostos os aspectos conceituais darede “Olhos do Bem”, ressaltando-se, em especıfico, as tecnicas de inteligencia artificialnecessarias a sua construcao. Por fim, na Secao 5 apresentam-se as consideracoes finaisacerca da proposta apresentada.

2. Cidades InteligentesO termo “cidade inteligente” tem se tornado muito frequente no linguajar de polıticos eautoridades governamentais nos ultimos anos. Boa parte das vezes, o uso do termo estamuito mais atrelado as estrategias de marketing, que buscam unicamente promover umamelhor impressao da cidade em investidores e nos proprios cidadaos, do que propriamenteao verdadeiro conceito de uma cidade inteligente.

A despeito da concepcao polıtica dada ao termo, observa-se que as origens doconceito “cidade inteligente” remontam do final da decada de 90, quando se discutia novaspolıticas de planejamento urbano, baseadas na teoria do crescimento inteligente (SmartGrowth). A partir de 2005, grandes players da industria tecnologica mundial, como IBM,Cisco e Siemens passaram a fazer uso da expressao para designar um aglomerado detecnologias e sistemas de informacao voltados a interoperabilidade da infraestrutura e deservicos urbanos [Harrison and Donnelly 2011].

E necessario ter em mente, contudo, que o conceito de cidade inteligente nao estarestrito a aplicacao de tecnologias de informacao e comunicacao em determinado meiourbano. De fato, as TICs apresentam-se como meios e nao como fim neste contexto. Umacidade inteligente e um local onde as TICs elevam as condicoes de vida, de trabalho e desustentabilidade [Berst 2013]. Desta forma, a cidade inteligente faz uso da informacao eda tecnologia para tornar sua infraestrutura crıtica, componentes e utilidades mais atrati-vos e eficientes, visando proporcionar uma melhor percepcao dos mesmos aos cidadaos[Committee of Digital and Knowledge-based Cities 2014].

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Basicamente, uma cidade inteligente deve prezar pela obtencao de melhoresındices de qualidade de vida, de trabalho e de sustentabilidade. A qualidade de vidaesta relacionada com um estilo de vida direcionado ao conforto, a saude e ao comprome-timento com o meio onde vive-se. Enquadram-se neste cenario, por exemplo, a presencade escolas de boa qualidade, ar e agua sem poluentes, servicos de emergencia de rapidaatuacao, entretenimento e baixos ındices de violencia. Por sua vez, as melhores condicoesde trabalho referem-se a uma maior oferta de empregos de melhor qualidade dentro doambiente urbano. Ja a questao da sustentabilidade direciona esforcos para o uso maisconsciente dos recursos naturais de toda ordem, buscando garantir que as geracoes futu-ras tenham condicoes de usufruı-los [Berst 2013].

Segundo Azkuna [2012], as cidades inteligentes reunem seis importantes camposde atuacao, os quais podem ser observados tambem pela perspectiva de fatores de de-sempenho. Estes campos-chave referem-se a economia, mobilidade, ambiente, cidadaos,qualidade de vida e gestao. Ja na visao de Berst [2013], uma cidade inteligente e vistacomo uma relacao entre responsabilidades e aspectos habilitadores. As responsabilidadesreferem-se aos servicos fundamentais providos pela cidade a seus cidadaos e os aspectoshabilitadores sao tecnologias e outras forcas transformadoras que tem a incumbencia detornar as responsabilidades essenciais da cidade mais inteligentes.

As cidades inteligentes, alem de eficientes, precisam preservar as oportunidadespara a espontaneidade, serendipidade (descobrir coisas agradaveis por acaso) e sociabi-lidade. Os cidadaos que vivem na cidade nao podem tornar-se meros fantoches, direcio-nados e controlados pelos elementos tecnologicos [Townsend 2013]. Em vista disso, ascidades inteligentes devem sempre considerar como pilar fundamental de sua construcaoo elemento humano.

3. A importancia do elemento humano nas cidades inteligentesIndependentemente do modelo conceitual associado a uma cidade inteligente, para todoseles o cidadao, tanto na sua forma individual quanto coletiva, representa o elo funda-mental. Uma cidade inteligente e construıda por pessoas para pessoas. Por isso, qual-quer iniciativa promovida deve contar com o engajamento dos cidadaos, que precisam serconsiderados e consultados em todos os momentos [Berst 2013, Townsend 2013]. Alemdisso, os benefıcios diretos ou indiretos da construcao de uma cidade inteligente devemestar direcionados a elevacao da qualidade de vida dos cidadaos em todos os aspectospossıveis.

Cada cidade apresenta uma realidade distinta. Quando considera-se paıses desen-volvidos, as cidades em sua grande maioria naturalmente apresentam melhores condicoesde vida se comparadas a cidades de paıses em desenvolvimento. Isso pressupoe que oprocesso de implantacao de uma cidade inteligente esta diretamente relacionado com asnecessidades locais, nao sendo possıvel aplicar uma unica estrategia para toda e qualquercidade.

No caso especıfico de cidades brasileiras, um dos grandes desafios vivenciadosrefere-se a vulnerabilidade social. Segundo Atlas Brasil [2014], no ano de 2010, 11,61%dos indivıduos entre 15 e 24 anos nao estudavam nem trabalhavam e encontravam-se vul-neraveis a pobreza. Outro dado preocupante demonstrou que neste mesmo ano, 35,24%dos indivıduos maiores de 18 anos nao tinham ensino fundamental completo e sobrevi-

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viam de ocupacao informal. Alem destes, existem tambem os indivıduos em situacao derua, os quais, conforme estudo realizado pelo Ministerio do Desenvolvimento Social eCombate a Fome entre os anos de 2007 e 2008, em 71 cidades brasileiras, somavam umtotal de 31.922 adultos [MDS 2008].

Para o Ministerio do Trabalho e Emprego [2014], o termo vulnerabilidade social edefinido como “uma zona intermediaria instavel que conjuga a precariedade do trabalhoe a fragilidade dos suportes de proximidade”. Isso significa dizer que um cidadao soci-almente vulneravel e altamente suscetıvel e predisposto a ter respostas negativas e sofrerconsequencias negativas quando eventos de risco ocorrem (desemprego, inflacao, epide-mias, entre outros). Conforme observa-se pelos dados anteriormente apresentados, este eo caso de uma parcela significativa da populacao brasileira.

Um dos fatores necessarios para alavancar a qualidade de vida nas cidadesbrasileiras e a erradicacao dos espacos de alta vulnerabilidade social nas cidades[Macroplan 2013]. O compromisso por esta tarefa passa por todas as instancias soci-ais, nao estando restrito somente a iniciativas do governo municipal. Sabe-se que numacidade inteligente, a qualidade das interacoes sociais entre os cidadaos e um elemento-chave [Azkuna 2012] e neste sentido, atitudes assistencialistas que objetivam auxiliar oscidadaos em situacao de vulnerabilidade social sao de extrema valia. Alem de prestarapoio ao indivıduo, tais atitudes poderiam auxiliar o cidadao no processo de ascensaosocial, tirando-o da zona de instabilidade em que se encontra.

As tecnologias de informacao e comunicacao podem ser largamente utilizadasno apoio as acoes assistenciais, provendo um meio eficiente de compartilhamento deinformacoes entre os indivıduos engajados e as organizacoes de apoio social. Conjun-tamente, a aplicacao de tecnicas de inteligencia artificial poderiam facilitar importantestarefas, como a identificacao dos indivıduos, cruzamento de informacoes ou identificacaode perfis, por exemplo.

4. Rede colaborativa “Olhos do Bem”Voltada especificamente ao combate da vulnerabilidade social, a rede colaborativa “Olhosdo Bem”, descrita na sequencia simplesmente por Rede, busca fazer uso das tecnologiasde informacao e comunicacao, bem como de avancadas tecnicas de inteligencia artificialpara auxiliar cidadaos e governantes na difıcil tarefa de retirar indivıduos da zona devulnerabilidade social extrema.

Dentre todas as categorias de indivıduos em situacao de vulnerabilidade social, aRede buscara atender especificamente aqueles que encontram-se a margem da sociedade,ou seja, criancas e adultos em situacao de rua. Os principais motivos que levam tais in-divıduos a viver pelas ruas sao em geral o uso de alcool, drogas, desemprego e desavencasfamiliares [MDS 2008]. Entende-se que, com o devido apoio, muito provavelmente boaparte destes indivıduos possam ser reintegrados a sociedade.

Em termos de infraestrutura, a Rede sera composta por um portal web e por umaplicativo para dispositivos moveis. O aplicativo tera como principal incumbencia ali-mentar o portal com informacoes sobre os indivıduos que encontram-se em situacao derisco, fazendo registros dos eventos in loco. Por sua vez, o portal tecera a rede colabora-tiva entre cidadaos, governo e entidades assistenciais, oferecendo importantes ferramentaspara auxılio nas acoes de ajuda (Figura 1).

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Figura 1. Descricao dos elementos integrantes da rede “Olhos do Bem”

O aplicativo para dispositivos moveis sera direcionado especificamente apopulacao, com intuito de que o cidadao o use para realizar registros dos indivıduos emsituacao de vulnerabilidade, seja por meio de fotografias ou descritivamente, no local emque os indivıduos vulneraveis encontram-se situados. No momento em que os dados fo-rem confirmados, o aplicativo ira envia-los para a base de dados da Rede, tornando-osdisponıveis para processamento e visualizacao no portal. Tanto a propria Rede quando asentidades assistenciais farao uso destes dados para tomada de decisao.

O fluxo de informacoes na Rede tera inicio com o usuario registrando um eventodo cotidiano, por meio de uma fotografia e/ou descricao de algum indivıduo em situacaode vulnerabilidade. Para tal tarefa, o usuario podera utilizar tanto o proprio portal quantoo aplicativo para dispositivos moveis. A partir disso, a imagem e demais informacoesrelevantes, como a localizacao geografica do indivıduo vulneravel, serao enviadas pormeio de um canal de comunicacao ate o servidor central, alimentando a base de dados daRede. Toda a comunicacao estabelecida com a Rede sera feita via web services, utilizandoo protocolo SOAP1 no transporte aos dados.

Ao ser recepcionada na base de dados da Rede, a imagem e processada e umacopia de menor dimensionalidade e criada. A criacao da copia da imagem servira degatilho para iniciar o processo de identificacao do perfil e de busca nas bases de pes-soas desaparecidas. Ambos os processos serao executados em background e farao uso detecnicas de inteligencia artificial.

Para construcao da Rede serao empregadas tecnicas de inteligencia artificial naidentificacao do perfil dos indivıduos combinadas a tecnicas de identificacao biometrica.O reconhecimento facial sera desenvolvido com uso de uma rede neural artificial e terapor objetivo identificar, nas imagens enviadas, a presenca de uma face. Uma vez asse-gurada a presenca da face, serao extraıdos e gravados na base de dados os elementos deidentificacao biometrica presentes na imagem. A Figura 2 ilustra funcionalmente a Rede.

1Simple Object Access Protocol

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Figura 2. Diagrama funcional da rede “Olhos do Bem”

Os dados de identificacao biometrica extraıdos, alem de servirem ao processo deidentificacao do perfil dos indivıduos, serao aplicados nas buscas sistematicas em bases depessoas desaparecidas, a fim de localizar e notificar os orgaos e familiares que procurampor tais pessoas. Na sequencia, os processos de identificacao do perfil e de busca porpessoas desaparecidas serao descritos em maiores detalhes.

4.1. Identificacao de perfil

Dentro da Rede, todo indivıduo em situacao de vulnerabilidade tera um perfil unico. Esteperfil sera construıdo automaticamente com base nas informacoes enviadas pelos usuariosque fazem uso do aplicativo e do portal. Para identificar de forma unica cada indivıduo, epor conseguinte construir o seu perfil, serao utilizadas apenas as imagens de face enviadas.

No processo classificatorio das imagens sera aplicada uma rede neural artificial(RNA), adequadamente construıda e treinada para identificar apenas as imagens que pos-suam registro de uma face. O grau de certeza emitido como respostas pela rede sera defundamental importancia para a decisao pela escolha ou descarte da imagem. Este graudevera estar contido numa escala real variando de 0 a 1, onde 0 indica que a imagem naocontem uma face e 1 indica a presenca inequıvoca de uma face. Desta forma, o papelrealizado pela RNA sera filtrar apenas imagens que possuam grau de certeza igual ousuperior a 0.9.

A seguir, as caracterısticas da RNA a ser construıda para reconhecimento facialserao descritas detalhadamente.

4.1.1. Redes Neurais Artificais

Uma rede neural artificial e um processador macicamente paralelamente distribuıdo, cons-tituıdo de unidades simples, denominadas neuronios, que tem por objetivo armazenarconhecimento experimental e torna-lo disponıvel para uso. Assemelham-se ao cerebro

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humano pelo fato de adquirirem conhecimento a partir de um processo de aprendiza-gem e por armazenar o conhecimento por meio da forca de ligacao entre os neuronios[HAYKIN 2001].

Os modelos neurais fazem parte de um paradigma de inteligencia artificial cha-mado conexionista. Este paradigma entende que o comportamento inteligente emergeem um sistema a partir da interconexao entre os componentes simples, conexoes estasajustadas pelo uso de um processo de aprendizagem [LUGER 2004].

Os principais usos das redes neurais sao classificacao, reconhecimento depadroes, evocacao de memoria, predicao, otimizacao e filtragem de ruıdos. Seu uso naresolucao destes problemas deve-se as suas caracterısticas peculiares, como capacidadede generalizacao, adaptabilidade e nao-linearidade [HAYKIN 2001].

Uma rede neural artificial e composta por neuronios artificiais. Assim como aRNA e uma metafora para a forma de funcionamento do cerebro humano, o neuronioartificial e uma metafora para o funcionamento do neuronio natural. Os elementos quecompoem um neuronio artificial sao [HAYKIN 2001]:

• Sinais de entrada: Sao dados enviados do ambiente ou de outros neuronios. Po-dem ser valores discretos como (1, -1), (0, 1) ou mesmo numeros reais, depen-dendo do modelo;• Conjunto de pesos com valor real: Os pesos determinam a forca da conexao.

Estao associados a cada uma das entradas que o neuronio recebe;• Nıvel de ativacao: Corresponde a soma de todas as entradas multiplicadas pelo

peso da conexao correspondente.• Funcao de limiar: Funcao que calcula a saıda do neuronio. Seu objetivo e gerar

uma saıda do tipo ligado/desligado nos neuronios reais;A Figura 3 apresenta o modelo esquematico de um neuronio artificial. Nele,

os elementos x1, x2, x3, ..., xn representam as entradas do neuronio. Os elementosw1, w2, w3, ..., wn referem-se aos pesos das conexoes. Ja a funcao f corresponde a funcaode limiar.

Figura 3. Modelo esquematico de um neuronio artificial segundo [LUGER 2004]

Assim como os neuronios artificiais, as redes neurais caracterizam-se por propri-edades como topologia, algoritmo de aprendizagem e esquema de codificacao utilizado.

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A topologia da rede e uma propriedade decorrente da forma como os neuronios se in-terconectam para forma-la e pode ser do tipo alimentacao direta (feedforward) ou redesrecorrentes (feedback). Os algoritmos de aprendizagem sao utilizados no treinamento darede para calibrar os pesos sinapticos entre as conexoes, tornando-a apta a identificar ospadroes desejados sobre os dados de entrada. Por sua vez, o esquema de codificacao cor-responde as interpretacoes atribuıdas aos dados fornecidos como entrada e obtidos comosaıda [LUGER 2004].

Em vista da sua capacidade de generalizacao, as redes neurais artificiais apresen-tam excelentes resultados no processo de reconhecimento facial. Dentre os diversos tiposde redes existentes, a Back Propagation Multi-Layer Perceptron e uma das redes queapresenta bons resultados nesta tarefa [Latha et al. 2009].

A Multi-Layer Perceptron (MLP) e um tipo de rede feedforward que apresentaum camada de entrada com um ou mais nos, uma ou mais camadas intermediarias deneuronios artificiais escondidas e uma camada de neuronios de saıda. A rede MLP econsiderada do tipo feedforward porque os sinais de entrada sao propagados de camadaem camada, de forma que as saıdas da camada anterior sao conectadas diretamente asentradas da proxima camada de modo nao cıclico. O algoritmo de aprendizagem BackPropagation e o mais conhecido e utilizado para treinamento de redes do tipo MLP[Latha et al. 2009, HAYKIN 2001].

O aprendizado de uma rede MLP utilizando o algoritmo Back Propagation ocorrede maneira supervisionada. Isso significa que na fase de treinamento da rede sao apre-sentadas as entradas e as respectivas saıdas esperadas. Em vista da rede possuir mul-ticamadas, o erro (diferenca entre o resultado esperado e o resultado obtido) gerado noprocessamento dos sinais pode espalhar-se entre as camadas, evoluindo em complexidadee imprevisibilidade. Como forma de resolver este problema, o algoritmo Back Propaga-tion atribui a cada neuronio da rede sua parcela de culpa pelo erro gerado, tomando poracao o ajuste dos pesos sinapticos [LUGER 2004].

4.1.2. Caracterısticas da rede neural artificial de reconhecimento facial

O processo de reconhecimento facial a ser implementado para a rede “Olhos do Bem”fara uso de uma rede neural do tipo MLP devido ao seu bom desempenho neste tipo detarefa. O numero adequado de camadas escondidas, bem como de neuronios por camadasnao podera ser previamente definido, visto que sera necessario realizar diversos testes ateser obtida a melhor relacao.

Antes de propriamente definir a estrutura da rede neural de reconhecimento seranecessario definir o formato dos valores de entrada da mesma. Originalmente, a imagemde uma face contem um vasto conjunto de informacoes na forma de pixeis. Porem, boaparte destas informacoes nao tem relevancia para o processo de reconhecimento facial,sendo necessario apenas um subconjunto de caracterısticas. Em vista disso, sera precisoreduzir a dimensionalidade da imagem para uma proporcao que permita tanto manter ascaracterısticas essenciais da imagem quanto permita o adequado processamento da mesmapela rede neural [Silva et al. 2005].

Considerando-se que a captura das imagens podera ser feita por meio de dispo-

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sitivos portateis, como smartphones e tablets, as imagens enviadas a Rede serao prova-velmente coloridas e apresentarao resolucao elevada. Para o processo de reconhecimentofacial, contudo, as imagens deverao ser convertidas para escala de cinza, com resolucaode 32 x 32 pixels. Uma vez reduzida a dimensionalidade das imagens, cria-se um vetorde 1024 posicoes que representara a entrada da rede neural. Essa mesma abordagem foiutilizada com sucesso no trabalho intitulado “Reconhecimento de Faces Neutras UsandoRedes Neurais em Paralelo”, de Silva et. al [Silva et al. 2005].

Para a fase de treinamento da rede, serao utilizados um conjunto de 500 imagens,todas com resolucao 32 x 32 pixels e em escala de cinza. Deste total, 250 serao utilizadaspara a fase de treinamento e as demais, para a fase de testes. Espera-se com isso obter umgrau de certeza de cerca de 95% nas saıdas da RNA.

A rede neural MLP estara localizada numa camada imediatamente anterior aoextrator de informacoes biometricas faciais e ira atuar especificamente como filtro dasimagens enviadas a Rede. A filtragem das imagens pela RNA visa basicamente garantir acriacao de um banco de dados biometrico de alta qualidade.

4.2. Busca por desaparecidos

Muitos dos indivıduos em situacao de rua encontram-se afastados de seus familiares eamigos. Nao raramente, sao parte do grupo de pessoas desaparecidas, apresentando ca-dastro em bancos de dados como o do Cadastro Nacional de Criancas e Adolescentes De-saparecidos2 e do Desaparecidos do Brasil.org 3. Em vista disso, tao importante quantoidentifica-los e prover mecanismos para aproxima-los dos familiares e amigos que os bus-cam.

Para promover esses encontros, a Rede fara uso dos dados de identificacaobiometrica armazenados para realizar buscas sistematicas nos bancos de dados de pes-soas desaparecidas. Basicamente o processo sera dividido em tres etapas: aquisicao,sincronizacao e comparacao.

Na etapa de aquisicao, a imagem da pessoa desaparecida, conjuntamente comos dados de identificacao, serao capturados pela Rede do banco de dados de pessoasdesaparecidas (parceiro). A imagem obtida sera entao processada e submetida a RNA paravalidacao da qualidade dos elementos faciais. Se obtida a qualidade esperada, a imagempassa para a etapa de sincronizacao, onde sera equalizada temporalmente pela aplicacaode uma tecnica de morphing4. Finalmente, na etapa de comparacao, os dados biometricosda imagem sincronizada temporalmente serao extraıdos e comparados ao banco de dadosda Rede. Se alguma similaridade for identificada, a Rede imediatamente comunicara oparceiro que disponibilizou a imagem.

A Figura 4 ilustra as etapas do processo de busca por pessoas desaparecidas.

2http://www.desaparecidos.gov.br/3http://www.desaparecidosdobrasil.org/4Tecnica de metamorfose de imagens digitais com aplicabilidade na simulacao do envelhecimento do

rosto humano

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Figura 4. Etapas do processo de busca de pessoas desaparecidas

5. Consideracoes Finais

Muito alem de uma nova forma de se pensar o meio urbano, as cidades inteligentes saoa tendencia de como serao as cidades no futuro. Utilizando como meio o uso massivodas tecnologias de informacao e comunicacao, as cidades inteligentes buscam aumentar aqualidade de vida, de trabalho e a sustentabilidade.

Contudo, a aplicacao das tecnologias de informacao e comunicacao no ambienteurbano nao deve representar o objetivo fundamental de uma cidade inteligente. De fato, ofoco das acoes deve estar sempre direcionado ao elemento humano, ou seja, os cidadaos.Uma cidade somente pode ser considerada inteligente se valoriza seus indivıduos e prezapela melhoria de suas condicoes de vida.

Em vista disso, a rede “Olhos do Bem” se propoe a ser uma ferramenta de impactono combate a vulnerabilidade social extrema, situacao na qual os indivıduos encontram-se desamparados de todas as formas, sem abrigo nem expectativas para a vida. Espera-secom a aplicacao da Rede obter um maior engajamento da populacao no combate a estetipo de situacao, tornando os cidadaos mais comprometidos com o bem estar do proximo.

Tambem e objetivo da Rede colaborar com as organizacoes que buscam por pes-soas desaparecidas, provendo mecanismos automatizados de identificacao e notificacao.Com isso almeja-se aproximar os indivıduos desaparecidos de seus familiares e amigos,recolocando-os em seu local de origem e por conseguinte, devolvendo-lhes a dignidade eesperanca de vida.

De fato, a grande contribuicao da Rede no meio urbano sera uma transformacaode pensamento. Sabe-se que a vida em sociedade preve a todos uma parcela de respon-sabilidade sobre a realidade vivida. Assim, a Rede busca reviver essa responsabilidadeimplıcita que todo o cidadao possui de contribuir com a sociedade em que vive. No caso

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da Rede, entende-se que essa responsabilidade refere-se ao apoio e auxılio aos menosfavorecidos.

Como trabalhos futuros, existe a intencao de agregar novos servicos a Rede, comopor exemplo, a integracao com redes sociais de amplo espectro, tais como Facebook, Twit-ter, Google+ e Instagran. O objetivo principal desta integracao e agregar um numero cadavez maior de indivıduos no movimento em prol da erradicacao da vulnerabilidade socialextrema. Alem disso, e esperado que o aplicativo para dispositivos moveis receba novasfuncionalidades, sendo a primeira delas referente ao pre-processamento das imagens deface.

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