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Saúde em Debate ISSN: 0103-1104 [email protected] Centro Brasileiro de Estudos de Saúde Brasil Ferreira de Oliveira, Walter Algumas reflexões sobre as bases conceituais da Saúde Mental e a formação do profissional de Saúde Mental no contexto da promoção da saúde Saúde em Debate, vol. 32, núm. 78-79-80, enero-diciembre, 2008, pp. 38-48 Centro Brasileiro de Estudos de Saúde Rio de Janeiro, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=406341773004 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Page 1: Redalyc.Algumas reflexões sobre as bases conceituais da Saúde

Saúde em Debate

ISSN: 0103-1104

[email protected]

Centro Brasileiro de Estudos de Saúde

Brasil

Ferreira de Oliveira, Walter

Algumas reflexões sobre as bases conceituais da Saúde Mental e a formação do

profissional de Saúde Mental no contexto da promoção da saúde

Saúde em Debate, vol. 32, núm. 78-79-80, enero-diciembre, 2008, pp. 38-48

Centro Brasileiro de Estudos de Saúde

Rio de Janeiro, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=406341773004

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Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal

Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Page 2: Redalyc.Algumas reflexões sobre as bases conceituais da Saúde

38 ARTIGO OIUGINAL I ORIGINAL ARTlCLE

Algumas reflexões sobre as bases conceituais da Saúde

Mental e a formação do profissional de Saúde Mental

no contexto da promoção da saúde

Reflections on the conceptual bases ofMental Health and the formation

ofthe Mental Health profissional in the context ofhealth promotion

Walter Ferreira de Oliveira I

I Douror; professor do Departamento

de Saúde Pública do Centro de Ciências

da Saúde da Universidade Federal de

Sanra Catarina (UFSC).

[email protected]

RESUMO Este texto discute aLgumas bases conceituais da SaúdeMentaL easpectos

reLativos à inserção do profissionaL de Saúde MentaL no Sistema Único de Saúde

(SUS), naperspectiva da promoção da saúde. ALgumas enunciações do conceito de

Saúde MentaLsão examinadas à Luz dos confrontosparadigmáticosproporcionados

pelaperspectiva muLtiprofissionaL. Os temas abordam as necessidadesfundamentais

da ftrmação em Saúde MentaL, ftrtemente influenciada por ptores cuLturais,

econômicos esociais. Aponta-se uma necessidade de maior discussão, no campo da

Saúde Mental, sobre suas bases conceituais e outros temas inter-reLacionados.

PALAVRAS-CHAVE: Saúde MentaL; Saúde púbLica; Sistema Único de

Saúde.

ABSTRACT Thispaper brings a discussion aboutsome conceptuaL bases o[MentaL

HeaLth and aspects reLated to the imertion o[the MentaL HeaLth profissionaL in

the SingLe HeaLth System (the so caLLedSUS in BraziL), in theperspective o[heaLth

promotion. The conceptuaLization o[MentaL HeaLth is examined in Light o[the

paradigmatic confrontatiom propitiated in the muLtiprofissionaL contexto The

themes herein stated respond to afundamentaL need in the context o[profissionaL

ftrmation in MentaL HeaLth which is strongLy influenced by cuLturaL, economic

and sociaLpctors. The need o[more discussion on the MentaL HeaLth concepts

and other reLated themes are herein pointed out.

KEYWORDs: MentaL HeaLth; PubLic heaLth; SingLe HeaLth System.

Stltid~ em Debau, Rio de Janeiro, 1/. 32. n. 78/79/80, p. 38-48. jan./de'L. 2008

Anotacao
Título do Artigo: ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE AS BASES CONCEITUAIS DA SAÚDE MENTAL E A FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE SAÚDE MENTAL NO CONTEXTO DA PROMOÇÃO DA SAÚDE Autor(es): Walter Ferreira de Oliveira a_Walter_Ferreira_de_Oliveira
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OLIVEIRA, W.F. • Algumas reAexões sobr(: as ba5(:S conceituais da Saúde Mental e a formação do profissional d(: Saúde Mental no contexlO da promoção da saúd(: 39

INTRODUÇÃO

DESAFIOS CONCEITUAIS E

PARADIGMÁTICOS EM SAÚDE MENTAL

O campo profissional da Saúde Memal é vasro,

multidimensional e tem grande imporrância no con­

texro da saúde coletiva. Encomra-se em um momemo

histórico de rransição paradigmática, que tem como uma

de suas características a força que ganham propostas de

reesrru(Utação epistemológica, técnico-assistencial e

polírico-jurídica, cujo maior impacto reside no desafio

da psiquiattia hegemônica como dispositivo de máximo

poder na átea (AMARANTE, 1995). O enfraquecimemo da

hegemonia psiquiárrica favorece abordagens, em Saúde

Memal, a parrir de bases conceituais mais diversificadas

e, parricularmeme, uma visão mais fenomênica, mais

social e imerativa do universo psíquico, que desptiviJegia

o domínio quase exclusivo do referencial nosográfico da

psiquiatria descritiva tradicional, inclusive no campo

clínico (MOREIRA; SLOAN, 2002).

A Reforma Sanitária brasileira apóia-se em uma

definição ampla de saúde, que procura não usar a doença

como referência primordial. o caso espedfico da Saúde

Memal, a busca é por uma definição de sanidade que

não rome como referência fundamemal a parologia sob

a óptica médico-psiquiáuica. Essa idéia não só provoca

novos emendimenros do processo saúde-doença, na

perspectiva psicossocial, como esrrutura o modelo de

atenção para a rede de Saúde Memal como um rodo.

O compromisso da responsabilidade sanitária, que

se vem discurindo imensameme no âmbiro do Sistema-Unico de Saúde (SUS), inclui um reexame das posruras

éticas profissionais (CAMPOS, 1997). Novas posturas e

novas abordagens rornam-se temas imporrames no con-

texro da Reforma Psiquiátrica. Propõe-se um novo olhar

sobre e um novo lugar social para a loucura, romada

como referência emblemárica; é preciso idemificar a Re­

forma Psiquiátrica a parrir desse novo olhar e desse novo

lugar social (AMARANTE, 1995). Mas há outros temas a

serem explorados na perspecriva do cuidado, da promo­

ção da saúde e das ações prevemivas. Alguns passos têm

sido dados nesse semido, pOt exemplo, ampliando-se a

compreensão de cerros estados psíquicos diagnosticáveis

como possíveis insanidades, para modos diferenciados

de vivenciar o cotidiano e que traz conseqüências para

a qualidade da vida de muiros sujeiros estigmatizados'I '( . ,como oucos ou anormaIS.

Apesar dos avanços, na prática, os profissionais,

nem sempre conseguem deixat de rer como foco prin­

cipal o comrole dos sinromas, dos corpos e das vomades

de pessoas diagnosticadas como porradoras de transror­

nos memais (ROSA, 2006; SCALZAVARA, 2006; OLIVEIRA;

OORNELES, 2005). Coloca-se, emão, uma questão

crucial: como desenvolver ações de Saúde Memal na

perspectiva da responsabilidade sanitária exercida efe­

tivameme em serviços terrirorializados e promorores da

saúde? A questão ressalta a necessidade de se cominua.r

com questionamenros, reAexões, problematizações sobre

e a busca pela operacionalização dos novos conceiros e

paradigmas na prárica coridiana do cuidado sanitário,

bem como na perspectiva das relações imerpessoais,

imerdisciplinares e multiprofissionais, de forma a se

construírem e operarem imerações promororas de saú­

de. Além disso, ressalta-se a necessidade de as práticas

prevemivas e reabilitadoras serem repensadas de forma

que sejam comextualizadas no projeto do SUS.

A formação dos profissionais de Saúde Memal,

emretanro, ainda se constitui, explícita e, às vezes, sub­

repticiameme como uma amírese das propostas das

Reformas Sanitária e Psiquiátrica. O profissional está,

via de regra, à mercê de currículos que marginalizam

a Saúde Memal e o submerem à psicoparo!ogia tradi-

SaÚlk,m o,bau, Rio de Janeiro. v. 32, n. 78179/80, p. 38-48, jan.ldo.. 2008

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40 OLIVEIRA, w.F. • Algumas rcAexáes sobre as bases conceiruais da Saúde Mental e a formação do profissional de Saúde Mental no conrexlo da promoção da saúde

cional, privilegiam procedimentos clínicos quase que

exclusivamente aplicáveis a consultórios e ambulatórios

tradicionais e promovem a medicalização da vida coti­

diana, o que vai além da corriqueira medicamentação,

passando para toda uma postura cultural que transforma

condições sociais e culturais em problemas de ordem mé­

dica. Além disso, há O currículo oculto, que desfavorece

a autonomia do cidadão usuário dos serviços de Saúde

Mental, fomentando a tutela e as assimetrias de poder

que permeiam as relações profissionais e institucionais

(OLIVEIRA, 2003). A superação dessa situação é um dos

maiores desafios no contexto da Reforma Psiquiátrica.

Nesse sentido, ainda há muito a se debater (sobre a

evolução das bases conceituais e das representações

sociais da Saúde Mental, por exemplo) e a se repensar

como, por exemplo, as idéias que foram se cristalizando

no campo da psiquiatria e que estruturam grande parte

do pensamento dos profissionais de Saúde Mental, no

momento de sua formação acadêmica.

Nossa reflexão sobre a evolução do universo con­

ceitual em Saúde Mental é extremamente limitada, e

toma por base metodológica uma análise bibliográfica

focada em obras de autores que se tornaram marcos

proeminentes tanto no que se refere à historicidade da

formação acadêmica como no que diz respeiro à for­

mação profissional a partir do que propõe a Reforma

Psiquiátrica. Torna-se possível, dessa forma, esboçar

algumas considerações frente às atuais políticas de Saúde

Mental propostas no contexro do SUS.

VERTENTES FUNDAMENTMS NA

FORMAÇÃO EM SAÚDE MENTAL

O profissional de Saúde Mental contribui, com

sua emergente presença nas unidades de saúde geral,

para oxigenar o sistema de saúde como um todo atra-

Stltid~~m Debau, Rio de Janeiro, 1/. 32. n. 78/79/80, p. 38-48. jan./de'L. 2008

vés de seus questionamenros. Mas, esse profissional

também traz consigo contradições inerentes à sua

formação, com sua raiz na literatura psiquiátrica tra­

dicional. Esta, através dos tempos, cristalizou idéias

que são assimiladas, repetidas e perpetuadas de forma

ostensiva ou sub-reptícia nos ambientes curriculares e

extracurriculares. O contraponto é dado pela incor­

poração gradativa, ainda que marginal, de um corpo

literário que vem surgindo nos últimos 30 anos a partir

do movimento da Reforma Psiquiátrica.

No período de graduação dos cursos da área da

saúde, embora os níveis de discussão variem de acordo

com O curso, as idéias são em geral apresentadas sem

que se enfatizem os embates epistemológicos travados,

desde o século 18, em torno dos conceitos de saúde,

Saúde Mental e doença mental. Na pós-graduação,

esse quadro melhora para os profissionais que aten­

dem às áreas confluentes da saúde e das Ciências

Humanas e Sociais.

Afinal, quais são as idéias, os conceitos e a filosofia

da prática que são transmitidas aos estudantes da área

como verdades inquestionáveis e, além de tudo, em um

ambiente de sala de aula, intimidador, pouco convida­

tivo à crítica e perenemente condicionado pelas notas

obtidas nas avaliações?

A história da psiquiatria constitui uma rota concei­

tuaI que tem como marco o trabalho de Philippe Pinel,

considerado por muitos o pai da psiquiatria e defensor

dos direitos humanos, conforme os cânones da Revolu­

ção Francesa, da qual foi depurado. Pinel era adepto do

chamado tratamento moral, baseado na idéia de que a

disciplina e a moralização do comportamento, exercidas

em ambiente hospitalar, eram os principais elementos

potenciais de cura das doenças mentais (ALEXANDER; SE­

LESNICK, 1980). Isto se coadunava perfeitamente com al­

guns preceitos estabelecidos pela nova ordem capitalista

imposta pela burguesia, agora dominante. A organização

da existência humana nos moldes capitalistas torna de-

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OLIVEIRA, W.F. • Algumas reAexões sobre as bases conceimais da Saúde Menlal e a formação do profissional de Saúde Men!al no contexto da promoção da saúde 41

sejável que os corpos não abriguem condições limitanres

ao trabalho, condições que podem ser produzidas por

problemas inatos ou por vidas desregradas. É preciso

cuidar dos corpos, atitudes e comportamentos, além de

controlá-los e normalizá-los. A noção de normalidade

torna-se importanre e a prevenção e reabilitação passa

pelo controle, inclusive moral, das pessoas em todas as

suas instâncias (FOUCAULT, 1986; 1999). Surge, desta

forma, uma linha de pensamento e ação em saúde, cujo

objetivo é a normalização dos comportamentos e cuja

principal medida é a capacidade de produção.

A medicina se compromete, concomitantemente,

com o pensar cienrífico da época, que busca as causas

definitivas das doenças em substratos patológicos orgâ­

nicos subjacentes. No final do século 19 surgiu, como

resultado, a nosologia de Emil Kraepelin, psiquiatra

alemão que se dedicou à descrição minuciosa de todos

os comportamenros apresenrados pelos 'doenres menrais'

e à definição de síndromes identificadas com estes com­

portamentos, permitindo uma sistematização substancial

do trabalho semiológico em psiquiatria e conferindo um

status de ciência clínica a esta especialidade, tornando-a

mais respeitável no âmbito da medicina geral.

As obras de Pinel e Kraepelin, assim como as de

outros psiquiatras como Esquirol e Janet, permitem

que diagnósticos psiquiátricos cada vez mais específicos,

que levem em consideração os comportamenros (sinais)

e sentimentos (sintomas) expressados pelos pacientes,

sejam estabelecidos. Essa psicopatologia descritiva per­

mite que os médicos psiquiatras estabeleçam 'verdades

científicas' e mantenham sob controle a determinação

do cuidado à doença mental. A verdade sobre a doença

mental, estabelecida pelo esquema nosográfico-compor­

tamental, afirma-se como instrumento de poder médico;

uma vez ensinada sob esta óptica, a psicopatologia passa

a ser aceita como verdade natural. E ela é apresenrada

dessa forma até hoje, tendo como 'bíblia' o OSM-IV­

TR® da American Psychiatric Association (2003).

Um dos legados da nosologia de Kraepelin é a idéia

de que não há cura para transtornos mentais graves,

como as síndromes psicóticas. Existe também a palavra

'alienado', oriunda da dicotomia colocada e usada para se

explicar e descrever a doença mental enrre razão e desati­

no. O doente mental, por não dispor da razão, não pode

participar adequadamente da comunidade social; sua

própria natureza o aliena da convivência sadia e normal

(ALMEIDA FILHO, 1999). As idéias de que os alienados

não são capazes de contribuir produtivamente com a

sociedade e de que apresenram um razoável potencial

de periculosidade são, enrão, estabelecidas. O esquema

moral e nosográfico impregnou as páginas dos textos di­

dáticos utilizados largamente na formação de psiquiatras

e, por contingência, de outras disciplinas ligadas à Saúde

Mental. Passou-se a aceitar como verdades absolutas

essa idéia de que as pessoas com problemas mentais são

desatinadas, improdutivas, perigosas, incuráveis e que

seu tratamento deve ser feito em regime de estrita tutela,

baseado no controle cuidadoso de seus comportamentos,

normalizando-os e moralizando-os.

Na conrra-hegemonia surge o trabalho de Freud,

mas algumas questões importanres pendiam sobre sua

obra. Primeiro, a psicanálise não se enquadra no restrito

esquema experimental que a ciência positivista domi­

nanre aceitava como legítimo; segundo, Freud trabalhou

com populações restritas, principalmenre com a classe

social mais privilegiada da Europa do fim do século 19

(embora os estudos das forças hegemônicas também

tenham sido, em sua quase totalidade, restritos a sujeitos

inrernados em manicômios). Apesar de sua psicologia

dinâmica ser considerada contra-hegemônica, ainda é

de natureza essencialmenre determinista e baseada em

estudos de casos patológicos.

Em 1913, Karl Jaspers lançou Psicopatowgia geral,

propondo uma abordagem fenomenológica e existencial do

psiquismo. Localizamos três vertentes importantes (psico­

patologia descritiva, psicologia dinâmica e fenomenologia

Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 32, n. 78/79/80, p. 38-48. jan.ldt."Z. 2008

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42 OLIVEIRA, w.F. • Algumas rcAexâes sobre as bases conceiruais da Saúde Mental e a formação do profissional de Saúde Mental no conrexlo da promoção da saúde

existencial) para o futuro desenvolvimento do pensamento

em Saúde Mental; vertentes essas que até hoje marcam

profundamente a formação dos profissionais da área.

DESENVOLVIMENTO CONCEITUAL EM

SAÚDE MENTAL

No início do século 20, o movimento higienista

ganha grande força na psiquiatria, afirmando o inte­

resse pela anormalidade e a intervenção preventiva da

psiquiatria na vida pessoal, comunitária e institucional.

A essa altura o repertório psiquiátrico já incluía a noção

de impossibilidade de os esquizofrênicos estabelecerem

relações adequadas, o grande sintoma da esquizofrenia

na visão da nosologia de Kraepelin. Essa característica,

aliada àa noções de periculosidade e improdurividade,

passou a estereotipar por contraposição as maneiras de

ser da normalidade na visão da psiquiatria; visão essa

que consolidava a afirmação peremptória do sisrema

capitalista. Algumas repercussões desse jogo de forças

ideológicas no território da epistemologia da Saúde

Mental são flagrantes. Em 1947, Karl Menninger (apud

BROWN, 1958, p. 2324), enuncia a seguinte definição

de Saúde Mental:

Adaptação dos seres humanos ao mundo ea outros como máximo de efttividade e ftlicidade. Não somenteeficiência, ou apenas contentamento - ou a graça deobedecer alegremente às regras do jogo. É tudo istojunto, os comportamentos que implicam consideraçãosocial, e uma disposição alegre.

Também emblemáticos, Ewalt e Fansworth (apud

BROWN, 1975) definem o indivíduo saudável como

sendo aquele:

que tem confiança em si mesmo e nos outros, um sensode competência e um sentimento de que a situação hu-

Stltid~ ~m Debau, Rio de Janeiro, 1/. 32. n. 78/79/80, p. 38-48. jan./de'L. 2008

mana tem um significado maior eum valorprofundo,

tem mais resistência à descompemação emocional doque aqueles que têm atitudes e sentimentos que levamà imegurança. (p. 2324).

Por outro lado, Ginsburg (1955) privilegia a capa­

cidade de se relacionar com o meio, que se manifesta

em três áreas principais: amor, trabalho e prazer. Ele

enfatiza como sinais de uma mente sã

a habilidade de reter um emprego, ter uma jàmília,manter-se sem problemas com a lei e aproveitar asoportunidades de obtenção de prazer. (p. 2324).

A noção de sanidade estava centrada, portanto, na

adaptação social e cul tural mediada pela segurança pessoal

e confiança na vida e no próximo, na participação alegre

de um jogo cujas regras eram estabelecidas no contexto

de um complexo social e ideológico hegemônico e na

habilidade em se adaptar à sociedade como ela é, aprovei­

tando as oportunidades que ela oferece para o encontro

da felicidade. Tornam-se automaticamente suspeitos não

só aqueles que se encontram em forma radical de alie­

nação (os chamados loucos), mas também aqueles que

. . -'questionam, angustiam-se ou nao acelram as propostas

de participação social oferecidas pelo sistema.

Essas, e outras definições de mesmo tom, tornam-se

importantes referências e compõem o universo conceituai

dos livros-texto de psiquiauia dos países alinhados com o

sistema de produção e o modus vivendi capitalista, como o

Brasil. Tais definições acabaram por nortear, nas décadas

seguintes, os principais textos psiquiátricos, como os de

Mayer-Gross (Inglaterra), Kaplan (EUA), Honório Delga­

do (Espanha) e Henry Ey (França) entre outros; passaram,

também, a apresentar ressonância em textos das áreas de psi­

cologia, enfermagem psiquiátrica e terapia ocupacional que,

mesmo rrazendo eventuais críticas ao modelo biomédico,

aceitavam como base as verdades cien ríficas já estabelecidas

nos textos psiquiátricos a respeito da loucura.

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OLIVEIRA, W.F. • Algumas reAexões sobre as bases conceimais da Saúde Menlal e a formação do profissional de Saúde Men!al no contexto da promoção da saúde 43

Essa linha de pensamento, assim como as linhas

contra-hegemônicas, continuava abordando a Saúde

Mental a partir da doença. A Organização Mundial da

Saúde (OMS) problematizou o assunto ao lançar no

preâmbulo de sua constituição, em 1946, a idéia de que

saúde não podia ser considerada apenas como a ausência

de doenças, mas um estado de bem-estar físico, mental

e social. Essa forma de compreender a saúde é simultâ­

nea ao lançamento de O normal e o patológico (1943),

de Canguilhem, que questiona a epistemologia vigente

até então na saúde e com grandes repercussões na Saúde

Mental. Esse filósofo discutiu de forma aprofundada a

questão de a saúde poder ou não ser considerada como

um conceito dentro dos padrões da ciência. O autor

conclui que sim, mas faz uma ressalva: há uma forma

de encarar a saúde que é subjetiva, pessoal e outra mais

objetiva, científica (CANGUILHEM, 1990). Essa idéia se

contrapunha àquelas de alguns autores da escola feno­

menológica, sobretudo os mais radicais, para os quais

a saúde é uma manifestação exclusivamente de caráter

pessoal, absolutamente privado, só podendo ser avaliada

pela pessoa que a vivencia (ALMEIDA FILHO, 1999).

Tal problematização epistemológica, tanto quanto a

definição da OMS de 1946, trouxe conseqüências para

decisões sobre saúde coletiva. A partir desse entendimento

da saúde, como sendo um estado de bem-estar, ou uma

manifestação subjetiva, um atributo que se pode obje­

tivar e até mensurar, fundam-se diferentes maneiras e

possibilidades de programar, ou não, ações a promovam

e reabilitem. Dependendo do conceito de Saúde Mental

sobre o qual se fundamenta, é possível pensar em que

consiste a sua manutenção, promoção e reabilitação.

Embora o discurso da saúde coletiva inclua o ob­

jetivo da promoção, as discussões acima colocadas não

são, a nosso ver, suficientemente contempladas nas dis­

cussões clínicas, curriculares ou nos processos de gestão

e planejamento. Essa evasão intensifica a confusão que

se instala a partir da contraposição de uma prática, for-

temente vinculada a uma epistemologia essencialmente

positivista, ao discurso da promoção, privilegiando-se

a quantificação de procedimentos, a protocolização

de ações e a avaliação por alcance de metas gerenciais

estabelecidas por planejamentos normativos.

A promoção da saúde questiona a atuação dos serviços

com base na objetividade e na quantificação. Como estabe­

lecer medidas efetivas para a Saúde Mental, ou objetivar a

análise da condição psíquica, sem voltar a privilegiar uma

nosologia hoje posta sob suspeita do ponto de vista da

eficácia terapêutica? (MOREIRA; SLOAN, 2002).

Não existem definições claras que nos ajudem a

elucidar e quantificar a Saúde Mental, para fins de diag­

nóstico e tratamento e as que existem têm sua credibili­

dade em cheque, como é O caso dos testes psicológicos

e de muitas escalas diagnósticas baseadas em contagem

de itens sintomáticos. A questão pode ter significados

diferentes para profissionais que subscrevem uma abor­

dagem fenomenológica, existencial, qualitativa ou dinâ­

mica, e para gestores e avaliadores que determinam, com

base no desempenho objetivo e quantitativo, a alocação

de recursos nos âmbitos público e privado.

Na medida em que se acirram, e não se resolvem,

as tensões entre a hegemonia do modelo tradicional e a

postura de Reforma Psiquiátrica, os profissionais de Saúde

Mental sofrem a ação de fatores estressantes que obstaculi­

zam seu desempenho profissional, obrigados a fazer, muitas

vezes, concessões que os desmotivam e os angustiam.

CONTRIBUIÇÕES DO MODELO

CULTURALISTA, DA ANTIPSIQUIATRIA E DA

PSICOLOGIA SOCIAL

O modelo biomédico segue a tradição hegemôni­

ca e, portanto, dicotomiza saúde e doença. Na lógica

prevalente, o avanço de um lado significa a menor

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44 OLIVEIRA, w.F. • Algumas rcAexáes sobre as bases conceiruais da Saúde Mental e a formação do profissional de Saúde Mental no conrexlo da promoção da saúde

ingerência do outro, isto é, quanro mais uma pessoa se

encontra doente menos possibilidades há de que seja

considerada saudável e vice-versa. Essa premissa, aceita

com reservas, na clínica médica, torna-se complicada no

terreno mental que contempla a idéia de que um indi­

víduo pode, por exemplo, apresentar sinais de doença

mental e, ao mesmo tempo, funcionar de forma saudável

em outros planos existenciais ou temporais. O modelo

tradicional, ancorado na descrição e quantificação de

sinromas, se traduz em uma prática institucional que

desconsidera as potencialidades humanas e estigmatiza

pOt meio de diagnósticos que definem uma condição

como irreversível, apenas controlável por medicamen­

ros. Por ourro lado, essa mesma maneira insritucional

reforça a promiscuidade terminológica saúde/doença

como Zusman (1975) ilustra:

Instituições de saúde mental' normalmente atendema "doentes mentais. "Profissionais de saúde mentalsão

especialistas em tratamento de doenças mentais e têmrelativamentepouco treino em saúde mental. Muitosquestionários aplicackJs à população com a intenção demedir a saúde mental na verdadefocalizam sintomasde doenças mentais. (p. 2324).

Para Ronald Laing (1959; 1967) e Thomas Szasz

(1974), o diagnóstico é uma construção social e política

de base econômica e cultural; essa discussão é retoma­

da no campo da Antropologia Médica sobretudo por

KJeinman (1988) e Young (1982). A contribuição epis­

temológica desses autores é suficientemente vasta para

merecer uma revisão à parte, trabalho a que se dedicou

Almeida Filho (1999).

Limitamo-nos aqui a enfatizar o reconhecimento,

por KJeinman, das diferenças biológicas e culturais no

estado de doença (sickness). O autor propõe duas cate­

gorias na análise da doença, usando o termo patologia

(disease) para categorizar as alterações biológicas ou

psicológicas, de acordo com a classificação biomédica,

Stltid~ ~m Debau, Rio de Janeiro, 1/. 32. n. 78/79/80, p. 38-48. jan./de'L. 2008

e o termo enfermidade (illness) para as características

culturais da doença. Patologia refere-se à ocorrência ob­

jetiva de funcionamento anômalo dos sistemas orgânicos

ou fisiológicos. Na categoria enfermidade, incorpora-se

a experiência e a percepção individual relativas a uma

variedade de problemas decorrentes da patologia, bem

como a reação pessoal e social à enfermidade, ou seja, o

significado atribuído pessoal e culturalmente à doença.

AAntropologia Médica poteneialiwu um novo olhar

sobre a apresentação e o curso das doenças mentais. Sob

sua óptica, as apresentações, percepções, significados e

evolução das doenças não constituem uma realidade ob­

jetiva e inquestionável, como preconiza a psicopatologia

descritiva, mas ocorrem de acordo com O sujeito, com O

grupo socioculrural e com a interpreração e significância

que lhe são atribuídas pela sociedade e pelos próprios pro­

fissionais da área. Além de se contrapor a uma nosologia

que reconhece uma evolução da doença independente­

mente da subjetividade, a abordagem antropológica tira

o foco da doença e o coloca na pessoa que sofre e nos

sujeitos que a circundam, inclusive o profissional que

a diagnostica e trata. Essa é uma proposta radical para

evolução do pensamento sobre a doença mental, embora,

como enfatiza Almeida Filho (1999), a doença ainda seja

a referência para se pensar a saúde.

A antipsiquiatria, na década de 1960, marcou uma

nova aderência à fenomenologia existencial e uma transi­

ção para as definições reformistas contemporâneas, enfa­

rizando o condicionamenro social da construção coleriva

da experiência e das identidades de grupos e indivíduos

(SZASZ, 1974). Uma criança, argumenta Laing (1%7),

começa já em tenra idade a perpetuar valores, crenças

e atitudes aprendidos no contexto da vida familiar e•

por conta dos meios de comunicação. A medida que

se desenvolve pela socialização que acontece na igreja,

na escola, nos clubes e em ourras instituições nas quais

se estabelecem relações, cujo acesso é determinado por

sua classe socioeconômica e pelas oportunidades que

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OLIVEIRA, W.F. • Algumas reflexóe5 sobre as bases conceituais da Sallde Menral e a formação do profissional de Saúde Mcnlal no cOl1lexto da promoção da saúde 45

lhe são apresenradas (ou negadas) de acordo com sua

inserção sociocultural. A definição da insanidade mental,

aponta Szasz (1974), é produzida a partir dessas normas

e padrões de desenvolvimento, que obedecem a regras

morais e servem àopressão de minorias socioeconâmicas

e aos interesses de indústrias de serviços e de produção

farmacológica, que dependem da sistematização da in­

sanidade para o seu sustento econâmico e político.

A fenomenologia existencial, na visão da antipsi­

quiatria, conceitua a experiência humana como experi­

ência comum, compartilhada socialmente. Lane (1984)

corrobora esta visão, apontando que roda psicologia é

psicologia social; não há como dicoromizar ser indivi­

dual e ser social. A aurora trabalha a idéia de 'indivíduo

social', argumentando que a formação da identidade é

completamente relacional, que ocorre não só em fun­

ção de farores pessoais, mas das relações com O mundo

exterior. Eu sou o que o outro ajuda a definir. Minha

experiência é parte da experiência geral do mundo. Mi­

nha percepção do mundo exterior, meus desejos, atitudes

e ambições são fruro do que os outros determinam. Osc ,_ • "... •outros sao pessoas, grupos e mstltUlçoes com os qUaIS

esrou envolvido direta e pessoalmente, ou aqueles que

nem mesmo suspeiro quem sejam, mas que podem in­

fluenciar minha maneira de ser. A idéia de que a Saúde

Mental da pessoa depende, além dela mesma, de suas

relações com Ooutro e com o mundo, também se con­

trapõe à radicalidade nosográfica-positivista, já que essa

busca a explicação da determinação da Saúde Mental

primordialmente a partir da genética e da bioquímica.

TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS DE

DEFINIÇÃO DE SAÚDE MENTAL

A década de 1970 foi marcada pelo desenvol­

vimenro de uma série de movimenros de reforma,

destacando-se a atuação de Franco Basaglia na Itália,

que adicionou à sua visão epistemológica uma prática

política que visava o fim dos manicâmios. Vastas

revisões sobre a Reforma Psiquiátrica, na Itália e no

Brasil, têm sido conduzidas, como na obra de Basa­

glia (1985), Amaranre (1995) e Rotelli, Leonardis e

Mauri (2001).

Uma série de definições de Saúde Mental ainda

têm sido propostas, seguindo as várias vertentes que

compõem os eixos teórico-conceituais da área. Kaplan,

Sadock e Grebb (1997) revisam o conceiro e apontam di­

versos farores considerados nessas definições, entre eles,

a resistência funcional, a constância da personalidade, a

disposição pessoal, o crescimento e o desenvolvimento

compatíveis com ciclo vital, a auro-afirmação, as atitudes

com O self, a percepção da realidade, a previsibilidade

de ações, as formas de reação perante circunstâncias

internas e externas, as características adquiridas e

adaptadas em relação ao meio-ambiente, a habilidade

de se relacionar com O meio ambiente e os graus de

auronomia, entendida como uma independência das

influências sociais.

Se pensarmos as tendências a partir do Relatório

Lalonde, um dos marcos da Promoção de Saúde, lan­

çado em 1974, teríamos ainda que considerar o estilo

de vida, a capacitação das comunidades e a oferta de

serviços como farores condicionantes da saúde. A Saúde

Mental, nessa perspectiva, depende também da respon­

sabilidade pessoal e admite a influência dos poderes

SOCIomstl tuclOnalS.

Finalmente, em 2001 a Organização Mundial de

Saúde enunciou uma definição de Saúde Mental, como

um:

Estado de bem-estar no qual o indivíduo realiza suashabilidades, consegue lidar com os estresses normais davida, pode trabalharprodutivamente efrutiftramenteeestd em condições de contribuir com sua comunidade.(Organização Mundial de Saúde, 2005).

SaútÚ nn Ekbau. Rio de Janeiro. v. 32. n. 78/79/80. p. 38-48, jan.ldez. 2008

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46 OLIVEIRA, w.F. • Algumas rcAexâes sobre as bases conceiruais da Saúde Mental e a formação do profissional de Saúde Mental no conrexlo da promoção da saúde

Pode-se dizer, ainda, que a evolução conceituaI

no campo da Saúde Mental, em seus aspectos mais

progressistas, propicia um retorno da filosofia exis­

tencial como base interpretativa para a experiência

subjetiva (AMARANTE, 2007). A compreensão ampla

desta evolução nos ambien tes curriculares, acadêmi­

cos e clínicos, pode se fortalecer com O fomento de

discussões sobre a natureza da saúde, da doença, da

cura, da reabilitação, da promoção e da prevenção;

assim como discussões sobre temas como a inter e

a transdisciplinaridade, o interparadigmatismo, as

relações de poder e a contratualidade exercida entre

profissionais, serviços e usuários, direitos humanos,

autonomia e cidadania das pessoas com transtornos

psíquicos, natureza, missão e funcionamento das

instituições, institucionalização e desinstituciona­

lização, determinação multifatorial envolvida nos

processos saúde-doença e, enfim, sobre a natureza

essencialmente política da epistemologia em Saúde

Mental (VASCONCELOS, 2002; ALMEIDA FILHO, 1999).

Essas discussões podem viabilizar o exercício de novas

formas de relação, novas linguagens, novas práticas e

novas tecnologias sociais nos projetos terapêuticos,

bem como nortear a participação do profissional de

Saúde Mental em ações comunitárias.

É importante discutir como se efetiva e se cons­

trói, conceitualmente e na prática, a postura, o olhar,

do profissional e das instituições em relação ao sujeito

que procura por seus serviços ou é colocado involun­

tariamente na condição de usuário. O debate entre

correntes positivistas, biologicistas, fenomenológicas,

existencialistas, culturalistas, entre outras, tem um po­

tencial frutífero se exercido como um diálogo no qual

podem emergir livremente as discussões sobre estes e

outros temas relevantes para o avanço do projeto sani­

tário do SUS.

Stltid~ ~m Debau, Rio de Janeiro, 1/. 32. n. 78/79/80, p. 38-48. jan./de'L. 2008

CONSIDERAÇÓES FINAIS

Frente a um mundo em constante transformação, O

profissional de Saúde Mental enfrenta questionamentos

sobre temas emergentes e persistentes e, particularmente,

sobre o desenvolvimento de seu campo profissional.

Uma das formas de definir o campo da Saúde Mental

é como um sistema aberto que pensa a natureza, as

condições e as interações humanas, contextualizando

sua existência cognitivo-intelectual e suas interações

simbólicas. Esse sistema funciona em meio a uma

perspectiva sociocultural que constantemente avalia

comportamentos, determinando quais são adequados e

quais são inadequados. Nessa perspectiva, o campo da

Saúde Mental é um universo no qual constantemente

se elaboram, checam, discutem e restabelecem valores,

símbolos e significados; é um campo que contribui com

a formação, compreensão e elaboração de atitudes e

comportamentos pessoais, profissionais e institucionais,

diretamente influenciadores na qualidade da vida dos

indivíduos e das comunidades por meio do poder que

os profissionais detêm sobre os processos privados e

coletivos de saúde-doença.

O avanço neste campo é crucial para uma sociedade

mais sadia, mais justa e humanizada e se materializa no

seio de processos sociais complexos, como as Políticas

Públicas. A discussão das bases conceituais em Saúde

Mental contrasta e dialoga, assim, com um pano de

fundo social, político e cultural. As maneiras de concei­

tuar 'saúde' e 'Saúde Mental', transcendem disciplinas

científicas e territórios de ação em saúde, colocando

em perspectiva a necessidade de o profissional de Saúde

Mental encarar, em sua permanente formação, os papéis

que exerce frente à realidade da experiência humana da

forma como ela se apresenta no cotidiano de indivíduos,

grupos, comunidades e instituições.

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OLIVEIRA, W.F. • Algumas reAexões sobre as bases conceimais da Saúde Menlal e a formação do profissional de Saúde Men!al no contexto da promoção da saúde 47

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Recebido: maio/200B

Aprovado: ser.l2DDS

Stltid~ ~m Debau, Rio de Janeiro, 1/. 32. n. 78/79/80, p. 38-48. jan./de'L. 2008