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A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. [Recensão a] Platão - «A República». Livros I, II e III. Autor(es): Ramalho, Américo da Costa Publicado por: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Estudos Clássicos URL persistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/27275 Accessed : 21-Jan-2019 03:28:27 digitalis.uc.pt

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Page 1: [Recensão a] Platão - «A República». Livros I, II e ... · centenário do nascimento de Giovanni Pico della Mirandola (nascido a 24-2-1463), urna das

A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis,

UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e

Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos.

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acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s)

documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença.

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respetivo autor ou editor da obra.

Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito

de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste

documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por

este aviso.

[Recensão a] Platão - «A República». Livros I, II e III.

Autor(es): Ramalho, Américo da Costa

Publicado por: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de EstudosClássicos

URLpersistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/27275

Accessed : 21-Jan-2019 03:28:27

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FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

INSTITUTO DE ESTUDOS CLÁSSICOS

H V M A N I T A S

C O I M B R A MCMLXV ־ LXVI

V O L S . X V I I E X V I I I

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Platão, A República. Livros I, II e III. Tradução de Luís do Espí-

rito Santo. Guimarães Editores, Lisboa s.d. [1965], 188 pp..

Continuam a aparecer traduções portuguesas do grego, que nos deixam dúvidas sobre o conhecimento desta língua, por parte dos seus autores. Está nesse caso a que Guimarães Editores, de Lisboa, publicaram, assinada por Luís do Espírito Santo.

Desde o cenário ao diálogo, as supressões que o tradutor operou no texto mostram o seu alheamento do original e empobrecem bastante esta versão da República.

Limitar־me־ei a comentar dois ou três passos do início. Logo de entrada, em 327b, traz a edição da Casa Guimarães:

«O escravo chegou junto de nós e, puxando-me pelo manto, disse:— Sócrates! Polemarco pede-vos que o espereis.Perguntei-lhe onde estava o seu amo.»Esta versão omite όπισθεν que se liga a λαβόμενος «puxando-me (o manto)

por detrás». Tal situação leva no texto grego Polemarco a dizer, mais adiante: «E eu voltei-me e perguntei onde é que ele estava». O tradutor omitiu Kal εγώ μετεστράφην («E eu voltei-me»), estragando a naturalidade da cena.

Desnecessárias faltas de respeito pelo original revelam o tradutor que se não preocupa com o texto grego. Por exemplo, em 328a : Άφ9 ίππων; ήν δ’εγώ «A cavalo ?— disse eu» (Sócrates). Na versão criticada: «A cavalo, disseste?...».

Mais adiante, no encontro em casa de Céfalo, este não estava sentado numa «espécie de poltrona», como diz o tradutor, que decerto não consultou o texto grego. Se tivesse ido ao original, teria lá encontrado επί τίνος προσκεφαλαίου τε και δίφρον «sobre uma almofada, numa cadeira». O assento é igual aos outros, excepto na almofada, pois todos são designados pela mesma palavra: δίφρος. Talvez uma versão como a de Chambry (Belles-Lettres), «siège garni d’un coussin», tenha iludido o tradutor. E do francês deve ter vindo também aquele «Clitofone», em francês «Clitophon», em vez de «Clitofonte», personagem mencionada entre os presentes.

No mesmo passo, o texto grego é Ενθνς οϋν με ίδών ο Κέφκαλος ήσπάζετό τε και είπεν — «Αο νετ-me, Céfalo saudou-me e disse». O tradutor transforma «me» em «nos», falseando o texto.

Falando dos bens que herdou e comparando-os aos que tenciona deixar aos filhos, Céfalo diz: έγώ ôè αγαπώ εάν μη ελάττω καταλίπω τοντοισιν, άλλα βραχεί γέ τινι πλείω η παρέλαβον — «Quanto a mim, fico satisfeito, se não deixar diminuída a fortuna a estes aqui presentes, mas um pouco maior do que a recebi». (330c).

A versão portuguesa, feita em estilo «utilitário», elimina uma parte das consi- derações do ancião Céfalo e traduz: «Portanto, dar-me-ei por feliz, se meus filhos vierem a receber um pouco mais do que aquilo que herdei». Isto é, ficam por tra- duzir as palavras: εάν μη ελάττω καταλίπω.

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Logo a seguir, em 330c, a comparação que vai de ώσπερ γάρ oí ποιηταί até f/περ oi άλλοι é fundida com o período anterior numa frase comprimida e apressada que contrasta com o tom calmo e prazenteiro do original, o tom duma conversa entre amigos, na Atenas do século v a.C..

As expressões duplas tão características da prosa grega, que se compraz em dizer como a coisa é e não é, são sistemáticamente eliminadas e reduzidas ao estilo telegráfico e utilitário de urna conversa entre homens afadigados do nosso tempo. Esta falta de apreensão da cor original leva-me a pensar que o autor da versão edi- tada por Guimarães & C.a não bebeu άπο κρήνης, na fonte grega, no próprio texto de Platão, mas alhures.

Américo da Costa Ramalho

Ricardo Avalone, Mecenate. Librería Scientifica Editrice, Napoli, s.d., 336 pp..

Estudo do homem e da sua obra literária, feito à maneira de biografia digressiva e parafrástica, em torno dos testemunhos fundamentais recebidos da Antiguidade.

O amigo e colaborador do princeps teve a pouca sorte de se tornar, aos olhos de Séneca, um símbolo do epicurismo romano. E nos comentários do moralista, com a sua posição preconcebida de estóico, feitos em ar retórico de diatribe, está uma das fontes principais, diversas vezes aduzida e criticada, do interessante trabalho do Professor Avalone.

Os fragmentos de prosa e verso de Mecenas são também cuidadosamente ana- lisados, nesta apresentação que dele faz o Autor «sotto il nuovo profilo di epicúreo e romântico» (p. 111).

O homem cujo nome próprio se tornou o substantivo comum com que nas línguas de civilização se designa o protector cultural e a sua acção (mecenas, mecena- tismó) é aqui objecto de um livro que se lê com interesse e cujas ideias mestras acabam por ficar gravadas no espírito do leitor, à força de repetidas.

A. C. R.

Giovanni Pico delia Mirandola, Carmina Latina entdeckt und heraus- gegeben von Wolfgang Speyer. E. J. Brill, Leiden, 1964, 60 pp..

Entre as publicações com que foi celebrado, em todo o mundo culto, o quinto centenário do nascimento de Giovanni Pico della Mirandola (nascido a 24-2-1463), urna das mais interessantes foi esta da primeira edição dos Carmina Latina do pró- prio humanista italiano.