realização de experimentos
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Psicologia Experimental
Aula 5
Realização de Experimentos
Prof. Dr. Caio Maximino
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Objetivos da aula
● Delimitar os métodos de seleção e recrutamento de participantes humanos para pesquisas experimentais
● Delinear maneiras de manipular a variável independente (tratamento) e mensurar a variável dependente
● Discutir a importância e necessidade de adicionar controles especiais de expectativa na pesquisa experimental com humanos
● Levantar estratégias para eliminação de defeitos dos estudos
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Métodos de seleção de participantes humanos
● Selecionar ≠ alocar!
● A maioria dos projetos de pesquisa envolve amostragem dos participantes com base em uma população que é composta por todos os indivíduos que sejam de interesse ao pesquisador– Crianças, pacientes com transtorno de estresse pós-
traumático, idosos, ratos, pombos, corvos...
● Os métodos utilizados para selecionar tem implicações para a generalização dos resultados, para a replicabilidade, e para a validade interna
Seleção departicipantes
Manipulandoa VI
Medindoa VD
Controlandoexpectativas
Eliminandodefeitos
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Locais e fontes de participantes para a pesquisa psicológica
● Dependendo do problema de pesquisa, podemos procurar participantes dentro da própria universidade → Conveniente, mas com pouco potencial para generalizar para a população humana
● Localizar participantes em potencial fora de universidade, no entanto, pode ser difícil, principalmente na hora de convencer alguém da importância do projeto
● Crianças– Bebês: podem ser localizados contatando hospitais, médicos obstetras, ou pediatras,
aulas/cursos para pais
– Crianças de 1-6 anos podem ser encontradas contatando creches e igrejas
– Crianças mais velhas podem ser encontradas na escola
● Adolescentes podem ser mais difíceis de recrutar do que crianças, porque saem da escola e se juntam à força de trabalho
● É mais difícil recrutar adultos fora da universidade, mas eles podem ser recrutados a partir de grupos da igreja, clubes, associações políticas, &c
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Amostragem probabilística● Amostras selecionadas aleatoriamente a partir da população
● Necessárias quando é importante descrever acuradamente a população (p. ex., levantamentos de opinião)
● Simples: Todos os elementos da população têm a mesma probabilidade de pertencerem à amostra
● Estratificada: População separada em grupos homogêneos e amostrada em cada grupo
● Por conglomerados: População dividida fisicamente em conglomerados (p. ex., bairros, quadras) e amostrada em cada conglomerado
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Amostragem não-probabilística
● Também chamada de “amostragem de conveniência”; participantes selecionados pela facilidade
● Se o foco do estudo é a relação existente entre as variáveis que estão sendo estudadas e o teste de previsões derivadas de teorias sobre comportamentos, pode-se usar esse tipo de amostragem
● Vantagens: Não necessita de listagem da população; menos custoso do que amostragens aleatórias
● Desvantagens: Não se conhece a probabilidade de um elemento pertencer à amostra; generalização reduzida
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Tamanho da amostra
● O tamanho da amostra deve ser– grande o suficiente para que seja uma representação
precisa da população– grande o suficiente para produzir resultados
estatisticamente significativos– pequeno o suficiente para que possa ser administrável
● Elementos metodológicos e estatísticos influenciam no tamanho da amostra:– Pergunta de pesquisa, unidades experimentais e
operacionalização– Teste estatístico escolhido, poder estatístico, e tamanho do
efeito
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Obtendo permissão
● Uma vez que você tenha identificado uma fonte de participantes e definido a estratégia de seleção, a próxima tarefa é obter permissão
● No caso da pesquisa na universidade, é preciso obter acesso dos participantes ao local da pesquisa; no caso de pesquisas fora da universidade, pode ser preciso passar por diferentes instâncias (p. ex., professor, diretor da escola, secretaria de educação)
● O processo pode ser facilitado com o uso de prospectos do projeto, descrevendo os elementos essenciais da pesquisa
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Obtendo consentimento● Uma vez obtida autorização para realizar a pesquisa no local
intentado, o próximo passo é obter o consentimento dos participantes
● A obtenção do consentimento é uma condição básica da pesquisa, e ela não pode continuar sem esse passo (Resolução CNS 466/2012)
● Para pesquisas com crianças, o consentimento deve ser obtido tanto com a criança quanto com os pais ou responsáveis
● Os TCLEs devem ser obtidos antes de iniciar a pesquisa, para evitar ameaças à validade interna (viés de seleção)
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Passos para a apresentação dos tratamentos
● Operacionalização– Instruções específicas, eventos e estímulos
que serão apresentados aos participantes da pesquisa
● Montagem de cenário
● Manipulação propriamente dita
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Montagem de cenário
● Objetiva:1) Dar aos participantes o esclarecimento necessário
para o consentimento informado;
2) Explicar aos participantes por que o experimento está sendo realizado
● Ex.: LINDSAY, JACK & CHRISTIAN (1991) investigaram vieses étnicos na memória de reconhecimento para saber se adultos lembram melhor de faces de pessoas de sua própria raça do que a de outras raças → Como montar o cenário?
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Montagem de cenário
● Na pesquisa com humanos, algumas VDs são muito reativas, principalmente quando envolvem aspectos psicossociais
● Nesse caso, pode ser necessário mascarar a explicação (não explicitar a hipótese, apresentar motivo genérico, &c)– É preciso discutir isso com os participantes
numa entrevista de esclarecimento ('debriefing') ao término do experimento
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Tipos de manipulações
● Uma vez recrutados os participantes e montado o cenário, o experimento pode começar
● Manipulação direta: Apresentação de material verbal, escrito ou visual aos participantes– Mais comum na pesquisa de PPB
● Manipulações que envolvem encenação: Criação de “cenários” que programam a ocorrência de eventos– Usadas para gerar um estado interno (frustração, baixa auto-
estima, ansiedade) ou simular situações do mundo real
– Mais utilizado para estudar o papel do contexto social imediato
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Força da manipulação● A “força” da manipulação é o grau com o qual a VI é
apresentada– Intensidade de estímulo, dose, tempo de exposição, magnitude de
diferenças, &c
● Em delineamentos experimentais simples, a VI tem só dois níveis: tratamento e controle– Nesses casos, uma manipulação forte maximiza as ≠s entre os grupos
● Uma boa guia é introduzir primeiro a manipulação mais forte para demonstrar a associação, e então manipular sistematicamente os níveis da VI para descreve com mais detalhes– Problemas potenciais: validade externa, ética
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Custo da manipulação
● O custo é um fator que limita a força da manipulação e, consequentemente, o número de níveis do tratamento
● Recursos financeiros limitam utilização de equipamentos, pagamento de cúmplices e reembolso dos gastos dos participantes
● Limitações de tempo dificultam a aplicação de alguns testes
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Tipos de medidas● A escolha da medida depende estritamente da operacionalização
– Mais de um tipo de medida pode ser utilizada, porque a maioria dos conceitos teóricos admite mais de uma operacionalização
● Medidas de auto-relato: Escalas psicológicas, diários, discurso, &c
● Medidas comportamentais: Observações diretas de comportamentos (frequências, taxas, durações, latências/tempos de reação, &c)
● Medidas fisiológicas: Registros de respostas psicofisiológicas (p. ex., RGP, EMG, EEG, PP...), endócrinas (p. ex., cortisol, prolactina...), ou fisiológicas (p. ex., temperatura, urinálise, pressão...)
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Sensibilidade da VD
● ≠ reatividade; o quão susceptível é a VD a mudanças na VI
● Quando o desempenho na VD é máximo independente da VI (i.e., quando o teste é fácil demais), observamos efeito de teto (os participantes rapidamente atingem o nível máximo de desempenho)
● Quando o desempenho na VD é mínimo independente da VI (i.e., quando o teste é difícil demais), observamos efeito de piso (os participantes nunca chegam a níveis apropriados de desempenho.
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Medidas múltiplas
● Pode ser útil medir mais de uma VD porque:– A maioria dos conceitos admite mais de uma
operacionalização– O tratamento pode afetar algumas VDs mas não outras– Os pesquisadores podem estar interessados em estudar
os efeitos de um tratamento sobre vários comportamentos diferentes
● Muitas vezes, para reduzir a complexidade do delineamento experimental e garantir a ortogonalidade das medidas, pode ser necessário realizar uma série de experimentos ao invés de um experimento com várias medidas
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Custo das medidas
● O método de medida é limitado pelo custo
● Medidas de auto-relato com lápis e papel são normalmente baratas, mas o uso de testes psicológicos comerciais pode aumentar o custo financeiro
● Utilizar pacotes de programas pré-estabelecidos pode aumentar o custo financeiro e diminuir o custo de aprender a criar estímulos
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Princípios éticos
● No Brasil, a pesquisa em (com?) humanos é regida pela Resolução CNS 466/2012– A Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em
Psicologia é signatária de uma minuta para a criação de Comitês de Ética em Pesquisa nas Ciências Humanas e Sociais
● A leitura desse material é condição sine qua non para a realização de atividades de pesquisa!
● Além do consentimento, é preciso salvaguardar a privacidade e a confidencialidade das respostas dos participantes
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Expectativas como obstáculos para experimentos em psicologia
● Características de demanda: Participantes não são recipientes passivos: “As características de demanda da situação ajudam a definir o papel de 'bom sujeito experimental', e as respostas do sujeito são uma função do papel que é criado” (Orne, 1962, p. 779)
● Viés do experimentador: As expectativas do pesquisador acerca do experimento podem influenciar o resultado
● Essas características interagem: o comportamento do experimentador é uma das principais fontes de característica de demanda, e pode ser usado pelo participante para inferir o comportamento de um “bom sujeito”
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Controlando características de demanda
● Engodo – Levar os participantes a pensar que o experimento está estudando uma coisa quando de fato está estudando outra
● Dissimulação da medida independente – Utilização de medidas não-intrusivas, inclusão da medida entre um conjunto de itens de disfarce em um questionário, &c
● Eliminação do experimentador (Rosenthal, 1975) – Automatização da apresentação dos estímulos e instruções
● Utilização de observações comportamentais ao invés de auto-relato
● Perguntando em entrevistas de esclarecimento ('debriefing')
● Klein et al. (2012): Descrever explicitamente no método características dos experimentadores, dos participantes, e do delineamento
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Klein et al. (2012)● Sobre os experimentadores
– Quem foram?
– O que sabiam sobre o experimento?
– O que sabiam sobre os participantes?
– O que esperavam do experimento?
● Sobre os participantes– Quem eram?
– Que recompensas/contrapartidas receberam?
– O que sabiam sobre o experimento?
– O que sabiam sobre o experimentador?
– O que poderiam esperar do experimento?
● Sobre o desenho experimental– Que tipo de
recompensa/contrapartida era oferecida?
– Houve algum tipo de engodo?– Quais informações estavam
disponibilizadas aos participantes?
– Como essas informações foram transmitidas?
– O experimentador estava presente durante a mensuração?
– Os participantes eram isolados, ou estavam a distância perceptual dos seus pares?
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Controle das expectativas do experimentador
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● O experimentador pode, de forma inconsciente tratar diferentemente os participantes nas várias condições do estudo
● O experimentador pode interpretar e registrar os comportamentos de forma diferente
● Robert Rosenthal: estratégias para reduzir os efeitos de expectativa:– Bom treinamento– Aplicar simultaneamente os procedimentos correspondentes a todas
as condições– Automação dos procedimentos– Duplo cego: Os experimentadores desconhecem as hipóteses ou os
tratamentos
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Grupos placebo
● Um tipo especial de expectativa dos participantes surge quando o tratamento é de fato um tratamento (no sentido literal, médico) – Drogas ou tratamentos psicológicos
● Placebo negativo: A substância ou o tratamento são inativos ou inofensivos
● Placebo ativo: A substância ou o tratamento não produzem o efeito testado, mas que produz efeitos colaterais similares
● Questões éticas importantes
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Efeito Hawthorne● As pessoas mudam seu comportamento simplesmente porque
sabem que estão sendo observadas → Reatividade
● Assim chamado devido à fábrica Hawthorne Works, onde o experimento reportado por Roethlisberger e Dickinson ocorreu
● Se um grupo de controle de atenção (não recebe tratamento, ou recebe um tratamento que não deve afetar a VD) apresentar menos efeito do que o grupo de tratamento, o resultado não se deve ao Efeito Hawthorne
● Especialmente importante na pesquisa com crianças, porque sua resposta à observação é mais variável
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Controlando efeitos de desenvolvimento
● Na pesquisa do desenvolvimento, a passagem de tempo entre pré-teste e pós-teste pode ser uma importante ameaça à validade interna
● Incluir um grupo de maturação, com participantes com a mesma idade no início do experimento, mas que não passam por tratamento
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Ferramentas para evitar defeitos
● A preparação de um projeto de pesquisa é ajuda a sistematizar e organizar as ideias e submetê-las ao crivo dos pares
● Estudos-piloto, realizados com número reduzido de participantes, pode revelar problemas no experimento; pode ser seguido de debriefing
● Testes de manipulação tentam medir diretamente se a manipulação do tratamento tem o efeito pretendido sobre o construto
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Entrevistas de esclarecimento● Após a coleta de dados, o pesquisador pode introduzir uma
entrevista de esclarecimento (“debriefing”)
● Discussão do objetivo dos estudos e dos tipos de resultados que são esperados, e das implicações éticas e práticas
● Durante a entrevista de esclarecimento, podem-se obter dados de segunda pessoa em retrospecto– Ex., como interpretaram o tratamento e o que estavam pensando ao
responder às VDs
● Também pode ser útil pedir aos participantes que não discutam os resultados com outras pessoas, para evitar problemas de difusão dos tratamentos
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Atualizando Cozby: Laboratório online
● Experimentos em páginas da Internet podem ser usados para validar resultados da pesquisa laboratorial e de campo
● Vantagens:– Facilitação de pesquisas trans-culturais– Possibilidade de produzir amostras mais diversas
– Populações maiores para amostragem
– Custo mais baixo
● Limitações:– Dificuldade em verificar a identidade dos participantes– Instruções experimentais podem ser ignoradas ou lidas sem cuidado– Distrações significativas podem ocorrer durante o experimento
– Atrito
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