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Ano IX - n°10 - Outubro de 2008 45 Da dimensão antropológica da comunicação ao jornalismo como encontro Vilso Junior Chierentin Santi 1 Adair Caetano Peruzzolo 2 Resumo No presente artigo, através de um minucioso trabalho arqueológico realizado sobre a teoria da co- municação como encontro, procuramos efetivar uma verdadeira transposição teórico-conceitual do referido paradigma para o universo do jornalismo e para o seu campo de atuação. Tal transposição procurou atender uma particular inquietação: a busca de nova perspectiva, mais completa, integral e integradora, que pudesse dar conta do que foi, do que é e do que será jornalismo como objeto de estudo na ciência comunicacional. O resultado dessa reflexão, a partir das discussões principalmente acerca da obra de Peruzzolo (2006), encontra-se aqui apresentado. Palavras-chave: Teoria da comunicação; comunicação como encontro; teoria do jornalismo; pro- cessos jornalísticos; metodologia de pesquisa em jornalismo. Abstract In this article, through a thorough archaeological work done on the theory of communication and meeting, seeking a real effective implementation theoretical/ conceptual paradigm of that to the worlds of journalism and for their field of expertise. is transposition sought answer a particular concern: the search for a new perspective, more complete, full and inclusive, which would give account of what was, what is, and the journalism that will be a subject of study in science commu- nication. e result of this reflection from the discussions mainly on the work of Peruzzolo (2006), is presented here. Keywords:eory of communication; communication as meeting; theory of journalism; journalis- tic processes; methodology of research in journalism. 1. Mestrando em Comunicação Social pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), área de concentração Comunicação Midiática, linha de pesquisa Mídia e Identidades Contemporâneas. 2. PhD em Comunicação pela Universidad Autonoma de Barcelona (UAB) e professor titular no Programa de Pós-Graduação em Comuni- cação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

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Quarto artigo da edição 10 da Rastros: Da dimensão antropológica da comunicação ao jornalismo como encontro. Texto de Vilso Junior Chierentin Santi e Adair Caetano Peruzzolo.

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Ano IX - n°10 - Outubro de 2008 45

Da dimensão antropológica da comunicação ao jornalismo como encontro

Vilso Junior Chierentin Santi1 Adair Caetano Peruzzolo2

ResumoNo presente artigo, através de um minucioso trabalho arqueológico realizado sobre a teoria da co-municação como encontro, procuramos efetivar uma verdadeira transposição teórico-conceitual do referido paradigma para o universo do jornalismo e para o seu campo de atuação. Tal transposição procurou atender uma particular inquietação: a busca de nova perspectiva, mais completa, integral e integradora, que pudesse dar conta do que foi, do que é e do que será jornalismo como objeto de estudo na ciência comunicacional. O resultado dessa reflexão, a partir das discussões principalmente acerca da obra de Peruzzolo (2006), encontra-se aqui apresentado.

Palavras-chave: Teoria da comunicação; comunicação como encontro; teoria do jornalismo; pro-cessos jornalísticos; metodologia de pesquisa em jornalismo.

Abstract In this article, through a thorough archaeological work done on the theory of communication and meeting, seeking a real effective implementation theoretical/ conceptual paradigm of that to the worlds of journalism and for their field of expertise. This transposition sought answer a particular concern: the search for a new perspective, more complete, full and inclusive, which would give account of what was, what is, and the journalism that will be a subject of study in science commu-nication. The result of this reflection from the discussions mainly on the work of Peruzzolo (2006), is presented here.

Keywords:Theory of communication; communication as meeting; theory of journalism; journalis-tic processes; methodology of research in journalism.

1. Mestrando em Comunicação Social pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), área de concentração Comunicação Midiática, linha de pesquisa Mídia e Identidades Contemporâneas.2. PhD em Comunicação pela Universidad Autonoma de Barcelona (UAB) e professor titular no Programa de Pós-Graduação em Comuni-cação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

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Introdução

Ao sermos incitados a desenvolver uma reflexão acerca de nosso objeto de pesquisa, uti-lizando como marco referencial a abordagem trabalhada por Peruzzolo (2006), logo pensamos: e o jornalismo, como fica? Em busca dessa e de outras respostas traçamos nosso objetivo para esse trabalho: propor, como o próprio título sugere, uma transposição dos conceitos apresentados e dis-cutidos por Peruzzolo na obra “A comunicação como encontro” para dentro do campo jornalístico ou do campo do jornalismo.

Para tanto, num primeiro momento, procederemos a uma verdadeira varredura arqueo-lógica na busca de desvelar os conceitos, as idéias e os paradigmas que deram e dão suporte à cha-mada “teoria da comunicação como encontro”, da “comunicação como relação”, ou da “dimensão antropológica da comunicação”. Depois dessa expedição pela obra de Peruzzolo (2006), tendo no horizonte a preocupação de alimentar nosso objeto de pesquisa, procuramos relacionar seus en-sinamentos com aquele campo que de fato pretendemos estudar e entender: o jornalismo e seus processos de produção, circulação e consumo.

Por quê?, podem perguntar alguns. Por que excursionar por esse caminho? Alguns mo-tivos relevantes podem ser apontados. O principal deles está relacionado a uma verdadeira sensa-ção de insuficiência teórico-metodológica que paira sobre as obras ditas “tradicionais” que tentam dar conta do fenômeno da comunicação e do jornalismo. Nelas sempre nos parece que algo está faltando. Basta resgatarmos as inúmeras contribuições da Escola Norte-americana, da Escola de Frankfurt, dos Estudos Culturais, do Pensamento Contemporâneo Francês, da Agenda Setting, do Newsmaking, da Espiral do Silêncio, e/ou do Ponto de Vista Semiótico, para perceber suas limita-ções e por vezes seu isolacionismo3.

Segundo, por vislumbrarmos nessa matriz teórico-metodológica um caminho novo, pas-sível de experimentação e de testagem. E, terceiro, porque concordamos que o jornalismo, assim como a comunicação, pela presente proposta, precisa encontrar em definitivo sua dimensão humana para fazer-se conforme aquilo que ele diz ser.

Razões absolutamente empíricas, podem criticar alguns. Até pode ser, mas não podemos esquecer que muitas das grandes “descobertas” humanas sempre partiram do mesmo lugar: do em-pírico como agente demovedor. Vamos aos argumentos.

Da dimensão antropológica da comunicação: desvelando a teoria

Compreender a comunicação como encontro, ou seja, em sua dimensão antropológica, conforme Peruzzolo (2006, p. 15) é, antes de tudo, encará-la como “resposta para necessidades e de-sejos próprios”. Como resposta a esses desejos, a comunicação faz crescer o valor da relação em suas práticas. Isso, devido ao seu imbricamento com os processos de subjetivação humana onde, numa relação de reciprocidade, a prioridade está na oferta, na qual os valores organizados na mensagem vêm antes do processo em si.

Dessa forma, para o entendimento global do fenômeno comunicacional, não se pode abrir mão de “pensar a comunicação pela sua qualidade”. “Precisamos distinguir o fenômeno, o acontecimento e o ato da comunicação de suas operações para que se possa dar a devida abrangên-cia lógica de sua força” (PERUZZOLO, p. 20). Para tanto, uma teoria da comunicação enquanto relação não deve abrir mão, principalmente, das “relações sociais que ela institui”, nem do “lugar que ela constrói para seus sujeitos” (ibid., p. 23).

Segundo Peruzzolo (ibid., p. 28), no homem os processos comunicacionais se organizam sob a forma de modelos culturais, e vão ser sempre afetados por essa lógica de formação cultural na

3. Para melhor entendimento das contribuições dessas correntes teóricas, ver, por exemplo, HOHLFELDT, Antônio; MARTINO, Luiz C. & FRANÇA, Vera V. (orgs). Teorias da comunicação: conceitos escolas e tendências. Petrópolis: Vozes, 2001.

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sua composição e consolidação histórica. “Isso quer dizer que estudar a comunicação como fenôme-no humano é compreendê-la na sua dimensão de fenômeno cultural”.

Esses modelos culturais, junto com a própria cultura, são, por sua vez, um universo criado pelo homem a partir de duas operações e/ou processos cognitivos básicos: a percepção e a repre-sentação. Peruzzolo (2006, p. 32-34) explica que a percepção “é um processo biofísico de captação, elaboração e registro dos estímulos que sensibilizam os órgãos sensoriais”. Já a representação cor-responde ao “investimento qualitativo no dado percebido. É um processo avaliativo pelo qual os estímulos percebidos recebem valoração”.

É pela representação que o dado percebido passa a significar algo para o organismo. E, também, será fundamentalmente pela representação que se vai estabelecer a relação — ingredien-te básico responsável pelo florescimento do fenômeno comunicacional. “A representação se forma através da percepção, parte sempre de uma percepção, de um objeto, ou de uma coisa que se torna, depois, já investida, enriquecida por circunstâncias, valores e sentido — daí representada” (ibid., 2006, p. 34).

Entretanto, conforme o autor, “rigorosamente, nunca representamos um objeto, mas fa-zemos a representação de (sobre) um objeto” (ibid., p. 34). É conveniente lembrar ainda que “toda a comunicação implica numa relação, mas nem toda relação implica em comunicação” (ibid., 40).“A percepção e a representação são modos de experimentar o mundo e de agir concretamente sobre ele e têm por função regular a atividade relacional do organismo”. Desde então, a representação no nível humano é cultural. Mas há nela também uma base “infracultural” (ibid., p. 34-35). Fechando o circuito, ele argumenta:

A relação de comunicação é a que se faz por um meio físico, que se constitui em mensagem para os comunicantes. A relação precisa acontecer, precisa fazer-se no tempo e no espaço. Daí também ser um ato, uma ação que congrega seres que se compõem na resolução de interesses. O relacionamento se faz numa matéria, de-nominada comumente mensagem. Assim, a mensagem se define por natureza, como o meio de comunicar, modo pelo qual o comunicante se inscreve no espaço e no tempo do outro. (ibid., 2006, p. 40)

Por isso, falar da “relação de comunicação” é falar de algo que está “entre” — é falar da mensagem e de suas múltiplas possibilidades. Pois nos comunicamos em algo — numa mensagem — não comunicamos algo (uma mensagem). Portanto, “retornando à relação de comunicação, é preciso dizer que sua especificidade consiste, justamente, na representação como sendo uma nova possibilidade de relacionamento” (ibid., 2006, p. 40-41).

Para o autor,

O que vai possibilitar a relação de comunicação será o meio de representar, porque a comunicação se faz por um meio, e o meio é justamente representar aquilo que se quer comunicar. É a representação que vai especificar a relação da comunicação em que o termo da relação vem representado com todo um investimento afetivo, emocional, físico etc., por meio de uma linguagem (ibid., p. 44).

Assim, a representação passa a subentender a relação de comunicar que, por sua vez, vai indicar que é a linguagem quem vai marcar a especificidade dessa relação. Logo, o que faz com que uma relação seja relação de comunicação é a “representação como meio de comunicar”. Dessa for-ma, a mensagem passa a ser um “pacote de representações, que serve de ponto de passagem para as significações sociais” (ibid., 2006, p. 45).

Então, no nível da representação, eu me relaciono com a linguagem que é o meio de comunicar; a linguagem, essa que organiza e representa aquilo que quero mos-

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trar para chegar ao outro, mas que também constrói o outro como termo da rela-ção de comunicação (ibid., p. 45).

A ação comunicativa é sempre garantida pela linguagem. Em outras palavras, isso diz que as representações também passam a “controlar e a condicionar as formas de percepção, alterando as formas de relacionamento do homem” (ibid., p. 70).

Ao tratar do lugar que a comunicação constrói para seus sujeitos, o autor lança mão da noção de discurso. Conforme Verón (2006, p. 48), a mensagem nada mais é do que “o ponto de passagem que suporta a circulação social das significações”.

Verón também diz que, rigorosamente, as relações não se dão nos sujeitos comu-nicantes, mas os sujeitos se relacionam com as representações constituídas (enun-ciados, mensagens) como forma (meio, mediação) de suas interações. Para isso se passou a falar de discurso, cuja categoria subentende a ação persuasora do outro, de modo recíproco (ibid., 2006, p. 49).

Peruzzolo lembra ainda que há, nesse funcionamento discursivo, inevitavelmente, a con-formação da relação de poder — relações de poder entendidas segundo a ótica Bourdieusiana. “O que a pesa não é, então, a imagem do outro, mas o lugar do outro no discurso, isto é a relação de poder entre-vista”.

Desse modo, fica claro que o poder não será definido na relação, mas no lugar do outro nessa relação e que a escolha dos elementos que irão compor uma mensagem nunca é “inocente”, será sempre negociada no interior da representação como relação de força. Por isso, pode-se afirmar que “o fato de pertencer a uma ou outra representação discursiva muda o sentido de uma palavra”. Nessa ótica a representação, bem como as relações de comunicação que ela estabelece, serão sempre “agenciamentos” (ibid., 2006, p. 46).

Conforme Peruzzolo, “a afirmação da representação, como possibilidade e qualidade da relação de comunicar, é a afirmação da força recíproca dos sujeitos na comunicação, bem como a possibilidade de experiência compreensiva da relação” (PERUZZOLO, 2006, p. 50). Dessa forma, convém lembrar que o que determina a ocorrência ou não de comunicação é a existência de um meio de comunicar, em que se pode produzir um “efeito de informação” (ibid., p. 59); que a qualidade específica da comunicação humana provém da “faculdade de simbolização” (ibid., p. 83); que as informações tomadas pelos órgãos sensoriais, são “vertidas em conceitos de linguagem pela ação da representação” (ibid., p. 83); e que, é a “qualidade da representação que muda a relação”, a qual vai configurar o “modo humano da linguagem” (ibid., p. 84).

Portanto, segundo Peruzzolo (ibid., p. 86), será a necessidade da busca do outro para si-mesmo quem vai definir a comunicação como razão de ser. “É assim que ela é essencialmente encontro”. Encontro como “ocorrência de associação, de composição, de contatos no âmbito da comunicação” (ibid., p. 113.). Esse encontro só vai acontecer se ocorrer determinado efeito de cor-respondência — a mensagem é, e/ou terá de ser, resposta à necessidade desse outro. Essa é a razão porque ele acolhe o convite/estímulo percebido e realiza a esperada relação.

Dessa forma, para compreendermos o sentido de um evento de comunicação, não basta estar atentos apenas à mensagem e ao momento em que ela é posta em circulação. Temos de prestar atenção também no momento do encontro dos sujeitos. É nesse encontro que o sentido é agencia-do, dentro daquilo que significa a relação intersubjetiva.

Assim, ao pensar a mensagem como uma oferta de resposta à necessidade do outro para a necessidade própria, torna possível conceber a comunicação como um pro-cesso de informação ou busca de um modo de afetar o outro. Nesse caso, o que diz se houve ou não comunicação não é algum objetivo atingido, mas, sim, a realização

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de um relacionamento motivado por uma mensagem, em que um e outro comuni-cante efetuam uma representação do sentido na relação (ibid., p. 96).

Então, a comunicação não é nem pode ser definida apenas como transmissão. Ela é fun-damentalmente relação que, entre os comunicantes, pode fazer-se por meio de uma transmissão. “A transmissão ou exposição são inevitáveis, mas são eventos conjugados ao meio de comunicar na sua fisiologia. Eles realizam a comunicação, não são a comunicação” (ibid., p. 96).

Porém, alerta o autor:

A relação não é ainda mensagem, nem resposta a ela. É a representação que vai operar a comunicação e fazer da matéria recebida uma mensagem. Todavia, a re-ciprocidade, de modo fundamental, não está no ato da reação ou da resposta, na repercutibilidade da comunicação, mas na natureza mesma da proposta, ou seja, a mensagem organizada é, primeiramente, resposta à necessidade e ao desejo do outro para a necessidade e desejo próprios (ibid., p. 97).

“A comunicação é reciprocidade em razão da bipolaridade das necessidades, que coloca os comunicantes numa relação de força. É assim que comunicar significa sair do próprio círculo mágico e estabelecer relações com os outros” (ibid., p. 103).

Conforme Peruzzolo,

A comunicação é naturalmente recíproca, porque a mensagem organizada é, pri-meiramente, resposta ao desejo e à necessidade do outro, o que estimula no outro a sua captura (apreensão da mensagem como resposta ao seu desejo e às suas neces-sidades), propiciando o jogo social, a composição de um corpo, a conjugação de forças, a instituição de uma sociedade (ibid., p. 105).

Outro ponto importante que cabe relembrar é que a comunicação se faz “entre” os comu-nicantes. O lugar do encontro está “fora” das individualidades. “Os dois, ou mais, não se comuni-cam, mas a comunicação ocorre no ‘entre’ eles” (ibid., p. 104). “É assim que comunicar é preciso, pois, a comunicação não é uma contingência, pelo contrário, é a impulsão do ser que se exprime na busca do encontro com outro, pelo qual ele se torna ser humano” (ibid., p. 107).

Por fim, o autor sentencia: “Nesse sentido, olhando a sua forma física de realização, pro-cessamento, a comunicação pode ser definida (ou tomada) como um ato social mediante o qual se efetua um intercâmbio de informações em ritmos singulares entre comunicantes” (ibid., p. 108).

Do jornalismo como encontro: uma transposição possível e necessária

Nenhum texto é inocente ou natural. Em cada discurso, além daquele certo saber ou daquela informação sobre o assunto de que se fala ou se escreve, fotografa ou desenha, há também um certo modo implícito de sugerir ao leitor, o ouvinte ou vidente, o lugar de onde se fala, escreve ou vê. Há uma maneira estratégica de re-presentar e afirmar a visão de mundo que se integra e a perspectiva ideológica que se adota. (PERUZZOLO, 2006, p. 13)

Se esta é uma máxima, por que então para o jornalismo admitir, adotar e trabalhar com essa possibilidade ainda é tão caro? Por que os mitos da objetividade e do jornalismo como espelhos da realidade ainda teimam em permanecer e perseguir os profissionais, os veículos, as empresas de comunicação, e até mesmo os cidadãos comuns, nas suas falas sobre o fazer jornalístico?

É através do entendimento da comunicação como encontro e dos paradigmas a ela re-lacionados que procuraremos desmistificar essa visão mecânica que ainda ocupa relevante espaço

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no campo jornalístico. Para nós, muitos dos preceitos que fundam a comunicação como encontro aplicam-se convenientemente à explicação do jornalismo por suas relações e como produto cultural; como meio ambiente de produção, circulação e consumo dos bens simbólicos.

Se existe uma dimensão antropológica da comunicação, então podemos falar também numa dimensão antropológica do jornalismo. É assim, se utilizando dos conceitos apresentados aci-ma acerca da teoria da comunicação como encontro, que procuraremos materializar a transposição conceitual que consideramos tanto possível quanto necessária.

Para explicar o jornalismo e sua relação com a comunicação como encontro, partimos da seguinte premissa: conforme Traquina (2004, p. 19), “o jornalismo é a vida, tal como é contada nas notícias de nascimento ou de morte. É a vida em todas as suas dimensões, como uma enciclopédia”. Segundo o autor, “um exame da maioria dos livros e manuais sobre jornalismo define as notícias em última análise como tudo que é importante e/ou interessante. Isso inclui praticamente a vida, o mundo e o outer limits”. Deriva desse ponto de vista o que podemos qualificar como dimensão antropológica também para o jornalismo.

Assim como na comunicação, julgamos pertinente no caso do jornalismo, para explicar sua dimensão antropológica, considerar primeiramente por quais elementos ele se constrói ou se manifesta e quais suas relações interssociais. Nesse ponto esbarramos na representação. O jornalis-mo também lança mão da representação como meio efetivo de comunicar, o que nos leva igualmen-te a não prescindir da dimensão relacional em sua construção.

Assim sendo, fica claro que a necessidade da presença dessa ação da representação na rela-ção de comunicação é uma máxima também para o jornalismo. É através da representação que se faz possível a relação com a linguagem, que é quem verdadeiramente vai organizar e representar aquilo que o próprio campo jornalístico vai mostrar para chegar ao outro. No entanto, é também através dessa linguagem que se vai construir o outro como termo da relação de comunicação — disso nunca podemos esquecer.

Falando do discurso e do lugar do outro na relação de comunicação, afirma Peruzzolo (2006, p. 46): “O repórter, o fotógrafo, o cinegrafista, antecipam na sua representação o modo de ser do outro e experimentam o lugar do outro a partir do seu próprio lugar”. Ele ainda com-plementa: “Há nesse funcionamento discursivo a conformação da relação de poder. O que a pesa não é, então, a imagem do outro, mas o lugar do outro no discurso, isto é, a relação de poder entre-vista”.

Por tanto, o jornalismo também participa desses processos de significação. Nele, segundo os princípios da comunicação como relação, pode-se falar em representação da mensagem, além da representação dos fatos e acontecimentos como substratos que exprimem as informações que se quer partilhar. Aliás, técnica e linguagem são modos de o homem se relacionar com o mundo, e para nós é exatamente isso que o jornalismo, desde sua configuração inicial, vem buscando operacionalizar.

No entanto, é somente quando essa relação se vê mediada e adaptada pela interposição de meios — o que vai produzir o distanciamento do encontro com o outro — que o jornalismo vai encontrar o ambiente propício para florescer. Assim sendo, o jornalismo e seus produtos ou meios de expressão configuram-se como “technês” que acabam por perturbar a representação, mudando inclusive o “estatuto de seu funcionamento” (ibid., p. 87).

Foi dito que a qualidade da comunicação depende do estado de representação dinamizada para comunicar-se. A do jornalismo também. “Pela capacidade de simbolização, o homem é capaz de fazer projeto e, portanto, de comunicar-se através de algo que cria, que imagina, que projeta”, diz Peruzzolo (ibid., p. 87-88).

Dessa forma o jornalismo pode ser definido como uma criação humana através da qual o homem e suas organizações podem se comunicar tendo como aporte o universo de representações no qual se inscrevem. Assim sendo, torna-se tranqüilo para o campo jornalístico entender, assimilar e conviver com a própria evolução do seu fazer, pois o meio de representação vai sempre transformar e/ou modificar a relação de comunicação.

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Mas não é somente isso: ela vai interferir também na qualidade da comunicação ao trans-formar a qualidade da representação, já que “é o meio de representar que dá a qualidade à comuni-cação” (PERUZZOLO, 2006, p. 89) e, conforme nosso transpositivo raciocínio, ao jornalismo.

Neste universo a informação não seria, como se disse anteriormente, nada além de um efeito de sentido possível. Dessa forma, invariavelmente, não se pode pensar a informação sepa-radamente do real construído através de um discurso — aqui consideramos o jornalismo como um construtor especialista de discursos. Nesse ponto de vista não há nada que se possa chamar de informação, pois “o expresso não existe fora de sua expressão”, afiança Deleuze (apud Peruzzolo, 2006, p. 93).

De outra forma, de acordo com Peruzzolo (ibid., p. 94), pensamos que esse modelo seja demasiado representativo do jogo hegemônico do poder instaurado e/ou exercido. Diz ele: “O protótipo comunicacional da notícia leva, implícito nele, a preocupação de ordenar a desordem aparente do mundo (humano, animal, natural), de fazer a perecer o significado das relações, dar-lhes inteligibilidade e consistência”.

Assim, ao considerar a mensagem jornalística como uma oferta de resposta à necessidade do outro para a necessidade própria, torna-se possível conceber a comunicação e o jornalismo como um processo de informação ou busca de um modo de afetar o outro. Nesse caso, o que diz se houve ou não comunicação e se o jornalismo cumpriu sua função não é algum “objetivo atingido, mas, sim, a realização de um relacionamento motivado por uma mensagem, em que um e outro comuni-cante efetuam uma representação do sentido na relação” (Peruzzolo, 2006, p. 96).

Portanto, podemos afirmar que o jornalismo não pode e nem deve mais ser tomado como transmissor de mensagens. Ele é antes de tudo, assim como a própria comunicação, relação que, entre os comunicantes, pode materializar-se pela transmissão, já que no universo jornalístico a ex-posição também é inevitável, mas ele, em si, não comunica, apenas vai possibilitar sua relação, estabelecer a ponte e/ou suportar mensagens.

Desse modo, trazemos aqui outra consideração tomada como importante no trato da transposição conceitual que propomos — da comunicação ao jornalismo como encontro. Quando tratamos da mensagem, inclusive da mensagem jornalística, não podemos esquecer que ela ainda não é relação, nem uma resposta, pois é somente a partir da conveniente representação que o dado recebido transformar-se-á em mensagem, estabelecerá a relação e assim vai comunicar.

A força, portanto, de toda mensagem jornalística está na sua qualidade de resposta à ne-cessidade de seu intercomunicante. Assim pretendemos reafirmar que aquilo que se nomeia como mensagem não movimenta só uma informação sobre aquilo que versa, trata, fala ou apresenta, mas também “diz algo a respeito do sujeito que a propõe” (ibid., p. 100). Por isso, o jornalismo não pode ser uma apresentação unipessoal. O jornalismo também é reciprocidade em razão da bipolaridade de suas necessidades, que vai sempre colocar os comunicantes numa relação de força.

Da dimensão cultural do jornalismo como encontro

A reflexão que segue, sem dúvida, não é original. No entanto, desde o princípio, o que nos seduziu foi a forma de pensar o fenômeno comunicacional aqui já apresentado e, conforme nossa “percepção”, sua adaptabilidade aos estudos do jornalismo o que nos levou a trabalhar na presente possibilidade.

Desse modo, em acordo com a tese de Peruzzolo (2006), podemos pensar em analisar o jornalismo também pelo seu viés cultural. Para tanto é imprescindível tomá-lo primeiro como um fenômeno cultural, sem esquecer, no entanto, que o próprio fenômeno cultural é produzido pelo jornalismo e pelos processos comunicacionais. Em relação à cultura, ele é produto e pro-dutor do processo em que está inscrito. Sem assombro, dessa forma consideramos que o jorna-lismo, como fenômeno comunicacional e cultural, é uma resultante relacional. Nesta hipótese a cultura “torna-se a matriz codificadora/ decodificadora dos sentidos e dos significados (inter)

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cambiados na comunicação”, e o jornalismo, na contemporaneidade, componente obrigatório dessa matriz (PERUZZOLO, 2006, p. 128).

Assim podemos falar no fenômeno cultural como um fenômeno humano e no homem enquanto sujeito fundamentalmente relacional; do jornalismo como importante mediador da rela-ção do homem com seu mundo; e da comunicação como um fenômeno essencialmente humano, produtora de diferentes tipos de organização social e de diversos modos de ser e estar no mundo.

Ao considerarmos o jornalismo como uma relação, falamos dele como uma ligação. Uma ligação que envolve minimamente sempre dois pontos e uma escolha, um privilegiar. Esta opera-ção traz consigo um trabalho que se ocupa de sua permanência, de sua durabilidade. Quando isso acontece, ele se torna hábito e, enquanto tal, tem garantida sua continuidade. Esse argumento pode ser utilizado para explicar a origem e a permanência do próprio jornalismo enquanto produto e/ou produtor de cultura, bem como sua lógica própria de funcionamento e produção dentro do univer-so cultural humano. Para nós, tanto o jornalismo quanto a cultura exprimem e são expressão dos “modos de relacionamento do homem com seu real” (ibid., p. 139).

Assim também o jornalismo acaba por constituir o seu “modelo cultural”. Um modelo que carrega consigo uma impressionante capacidade mutagênica, que tem contato, relaciona-se e atravessa outros modelos e paradigmas e que é capaz, por esse contato, de se reinventar a cada nova fase do desenvolvimento cultural e tecnológico humano.

Como já dissemos, para nós o jornalismo é tanto um produtor quanto um produto cultu-ral e, enquanto tal, conforme Peruzzolo (2006, p. 144-145), é um “objeto consagrado como respos-ta a anseios humanos, que recebe peso simbólico dentro do conjunto do que já existe como cultura, de modo que ele já não é mais ali um mero objeto, mas um sistema de relações e de sentido”. O jornalismo e seu modelo cultural “sistematiza respostas às questões humanas”.

Segundo Peruzzolo (2006, 145-153), no fenômeno cultural — e para nós também no jornalismo — há a institucionalização de relações privilegiadas e estabelecidas que se desenvolvem num processo de quatro estágios: no primeiro ocorre a percepção; no segundo ocorre a representa-ção, a qual possibilita o estabelecimento da relação; no terceiro ocorre a relação, que se estabelece em vista das representações investidas nos limites do simbólico; e, por fim, há o ajustamento dessa relação. Com uma ressalva: ao que parece, no jornalismo esse processo é duplo ou duplicado. Ele ocorre tanto no nível do que se convencionou chamar de produção quanto no nível da recepção. Isso dá pistas da complexidade envolvida em seu estudo.

Porém, não precisa os jornalistas, quando tratam do jornalismo, assustarem-se diante dos novos paradigmas e/ou novas ambiências, principalmente aqueles relacionados às novas tecnologias. Entendido como um modelo cultural, produtor e produto da cultura, o jornalismo se institucionali-za integrado aos demais modelos e irá persistir enquanto persistir a razão que o tornou privilegiado. Na chamada “era da informação” achamos que ele goza, ainda, de certa estabilidade.

Mas uma coisa é certa: mudanças aconteceram, acontecem e continuarão a acontecer, e devemos estar atentos a elas, pois “todo modelo cultural é um ajustamento de relações, um modo de ser relacional privilegiado dentro de certo agrupamento humano ou sociedade. Isso significa que os ajustamentos regram as condutas posteriores, quer dizer, as relações passam de efeitos a causas” (ibid., p. 154).

Não podemos esquecer ainda do papel da tecnologia e da linguagem dentro do jornalis-mo, como modo e instrumento de expressão do homem. Vislumbrar a configuração e a existência do jornalismo sem ambas, na verdade, parece impossível. Conforme Peruzzolo (2006, p. 156), “linguagem e tecnologia não se separam. São, num aspecto, expressões, e no outro, dinâmicas da transformação e ação do homem sobre o seu mundo”.

Não podemos encarar, também, o processo de construção da cultura e de seus modelos, inclusive do modelo cultural jornalístico, de seus meios e produtos, como inocente e ingênuo. Ele, por via das mensagens que mobiliza, não só carrega certas regras de codificação do real como acaba por propor modos de codificar aquela realidade na qual se inscreve. Isso demonstra que a forma

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assumida pela relação de comunicação condiciona a mensagem. Ou seja, o meio pode limitar ou até controlar a expressão. Isso “significa escolha e classificação, e classificação não se faz sem análise” (ibid., p. 158). Aqui, definitivamente, cai por terra o mito do jornalismo objetivo ou do jornalismo como espelho da realidade.

Aproveitando-se da definição de Peruzzolo (2006, p. 163-166) para cultura, afirmamos que também o jornalismo pode ser “o ajustamento e a fixação da relação estabelecida para perpetuar a comunicação necessária ao desenvolvimento do ser; é a expressão dos modos de ser desse sujeito enquanto realiza seus projetos existenciais”. O jornalismo é um processo, queremos qualificá-lo assim, que “se apresenta como uma dinâmica muito característica, que é um jogo de equilíbrio que se desenvolve entre o estabelecido e o novo”.

Esse entendimento possibilita então, perfeitamente, a compreensão do jornalismo e do fenômeno de produção e recepção de mensagens como um modelo cultural — o que é fundamental para que se possa interrogar quais são seus verdadeiros sentidos e significados. Assim, o jornalismo como produtor e produto da cultura tanto pode refletir/reagir a realidade social na qual se insere e da qual é expressão quanto pode regulá-la. Achamos, definitivamente, que o jornalismo contribui para nomear “o modo de relacionamento do homem com o seu real” (ibid., p. 163-166).

Aqui, tomamos um caminho que propunha nos levar a uma direção. Um caminho ainda em construção, quase integralmente pavimentado, mas que ainda tem seus percalços. Esse caminho, no entanto, pode nos conduzir a um horizonte, a um locus que talvez, inicialmente, nem ele mesmo imaginava poder levar. Pode, quem sabe, advir daí sua mais nobre qualidade.

Considerações finais

A presente reflexão se originou a partir dos debates acerca da obra de Peruzzolo (2006) e, como já admitimos, a partir de um sentimento de falta e/ou “incompletude”: as teorias revisitadas até o momento, que aspiram dar conta do fenômeno da comunicação e do jornalismo, parecem-nos que sempre deixam algo de fora — mais excluem do incluem; mais fragmentam do que integram; mais parcializam do que procuram explicar o todo etc.

Foi justamente o potencial catalisador identificado na teoria da comunicação como en-contro e sua dimensão antropológica que nos seduziu e que têm nos revelado belas surpresas a cada retomada. De nebuloso num primeiro momento, o paradigma passou a centelha ao propiciar novos questionamentos; e a tocha uma vez que, ao menos neste trabalho, serviu para iluminar nosso ca-minho na busca de apreensão do fenômeno comunicacional/ jornalístico conforme ele se realiza de fato — através de seus processos.

Essa capacidade de resposta integral do paradigma, cremos, advém de sua própria nature-za: da sua forma e a partir de onde ele se coloca para enxergar o mundo e o fenômeno da comunica-ção — a qual tomamos emprestado para olhar o jornalismo. É justamente essa forma particular de pensar o mundo e de posicionar o fenômeno da comunicação e da cultura que achamos pertinente ser transposta para explicação de outros fenômenos culturais e do próprio homem.

Claro que ao propormos pensar o jornalismo nessa lógica, devido as nossas próprias limitações compreensivas, corremos o risco de cometer alguns equívocos. Somente esperamos que esses equívocos não obscureçam o que aqui procuramos demonstrar. Achamos possível, e até mesmo necessário, deslocar nossos objetos de estudo de seu lugar comum, de onde eles sempre fo-ram tomados, a fim de que possamos descobrir novas dimensões desses fenômenos e, se possível, explicar na globalidade sua composição e formas de atuação. Foi exatamente isso que procuramos fazer com o jornalismo.

Dessa forma, reiteramos: compreender a comunicação e o jornalismo como construção cultural “a partir de uma dimensão qualificadora e não meramente estrutural e circunstancial”, é e deve ser sempre nosso grande desafio nessa caminhada.

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Da dimensão antropológica da comunicação ao jornalismo como encontro

Rastros - Revista do Núcleo de Estudos em Comunicação54

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