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RACIONALIDADE SUBSTANTIVA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: Estudo de Caso na Sede Administrativa da Universidade do Estado de Mato Grosso –
UNEMAT
Ezequiel Nunes Pacheco1
RESUMO Com objetivo de estudar a intensidade da racionalidade substantiva na administração pública, este artigo, seguindo os estudos de Mauricio Serva, aplicara na Sede administrativa da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, o quadro de análise e o continuum de intensidade a ação racional substantiva e seus elementos. O método utilizado foi o estudo de caso em que foram realizadas entrevistas com os servidores e gestores e observação participativas nos diversos setores da instituição, e com esses dados, concluiu-se que a intensidade da racionalidade substantiva é elevada.
PALAVRAS-CHAVES: racionalidade substantiva, racionalidade instrumental, organização.
ABSTRACT In order to study the intensity of substantive rationality in public administration, this article, following the studies of Mauricio Server, apply the administrative headquarters of the State University of Mato Grosso - UNEMAT, the analytical framework and the continuum intensity and substantive rational action its elements. The method used was a case study in which interviews were conducted with the servers and managers and participatory observation in the various sectors of the institution, and with these data, we concluded that the intensity of substantive rationality is high.
KEYWORDS: substantive rationality, instrumental rationality, organization
__________________________ 1 Bacharel em Ciências Contábeis, Especialista em Contabilidade Pública pela UNEMAT e Mestrando em
Administração pela FEAD – Centro de Gestão Empreendedora.
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INTRODUÇÃO
O estudo da racionalidade tem se tornado um tema que tem despertado o
interesse de diversos pesquisadores e que seguindo os escritos de Alberto Guerreiro Ramos e
Mauricio Serva vão dando corpo a uma discussão sobre as organizações substantivas, e as
organizações públicas passam por um processo em que as mudanças, principalmente da
contabilidade pública que estão em convergências aos padrões internacionais, é estimulante
estudar o fenômeno organizações substantivas, mais que para Ramos (1989), nos dias atuais
ainda prevalece à racionalidade instrumental, fruto de um modelo de sociedade centrado no
mercado e que os seres humanos ainda são induzidos pelos meios de comunicação e de
publicidade, interferindo no poder de discernimento.
As organizações públicas ainda precisam de estudos mais aprofundados no que se
referem à racionalidade, seus processos organizacionais e elementos para isso, propomos
estudar e poder contribuir com outras pesquisas. A partir do estudo da teoria das
racionalidades com a aplicação prática desses ensinamentos, este artigo apresenta um estudo
de caso na sede administrativa da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, uma
fundação de direito público, onde é medido o grau de intensidade substantiva nesse ambiente
de gestão pública de ensino superior. O resultado dos dados é demonstrado em um quadro de
análise e em um continuum que mede a intensidade da racionalidade nas organizações.
RACIONALIDADE INSTRUMENTAL E SUBSTANTIVA
A racionalidade pode ser entendida segundo Weber (1994), como aquilo que qualifica
o sentido da ação social e pode ser entendida como a forma ou a orientação que a ação com
sentido assume. Esta afirmativa segundo Weber pode ser entendida a partir da idéia de que o
processo de racionalização assume seu lugar na vida social independentemente de outros
fatores, de forma própria e em padrões pouco previsíveis. Dessa maneira, a racionalidade
pode assumir diferentes proporções, com enfoques que variam conforme o padrão de ação
adotado pelos indivíduos em determinado contexto sócio-histórico.
Ao discutir a ação social, Weber (1994) argumenta que esta pode ser orientada: de modo racional referente a fins, por expectativas quanto ao comportamento de objetos do mundo exterior e de outras pessoas, utilizando estas expectativas como condições ou meios para alcançar fins próprios, ponderados e perseguidos racionalmente, com sucesso; de modo racional referente a valores, pela crença consciente no valor — ético, estético, religioso ou qualquer que seja sua interpretação —
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absoluto e inerente a determinado comportamento como tal, independentemente do resultado; de modo afetivo, especialmente emocional, por afetos ou estados emocionais atuais; de modo tradicional, por costume arraigado (p. 15).
Serva em seu artigo publicado na Revista de Administração de Empresa, v. 37 p.22
cita que a identificação das duas racionalidades e a detecção da predominância de uma delas
pressupõe a comparação entre os seus indicadores e que o primeiro passo para comparar
configurações distintas é defini-las de forma clara, bem como os seus elementos constitutivos.
Para isso, procuramos estudar os escritos de diversos autores sobre as duas
racionalidades para aplicar na pratica administrativa.
RACIONALIDADE INSTRUMENTAL
Segundo Ramos (1989) a racionalidade funcional ou instrumental pode ser definida
como ação baseada no cálculo, cuja qualidade e conteúdo inerentes as ações são orientada
para alcance de metas técnicas ou finalidades ligadas a interesses econômicos com fins
almejados e preestabelecidos e diz respeito a condutas, eventos ou objetos para atingir
determinado objetivo. A racionalidade tende a aparecer nas organizações com características
industriais e para Mannhein (1973), o desenvolvimento da racionalidade instrumental tem se
firmado na industrialização, submetendo o homem a critérios funcionais, antes que
substanciais, de entendimento e compreensão. A racionalidade instrumental orienta a conduta
humana como um meio para se atingir os objetivos, não apreciando a qualidade das ações,
mais o seu maior ou menor concurso, para atingir um fim preestabelecido, independentemente
do conteúdo que possam ter as ações (Ramos, 1983, p.39).
A racionalidade instrumental chamada por Mannheim (1973) de racionalidade
funcional configura a articulação ou relação entre as ações para que os objetivos
predeterminados sejam atingidos. A racionalidade é orientada então pelos objetivos a serem
atingidos, e o seu atendimento é o determinante da racionalidade. Nesta lógica prevalece a
relação entre meios e fins. Nesse tipo de racionalidade não é questionada a qualidade
intrínseca das ações, mas seu maior ou menor concurso, numa série de outros, para atingir um
determinado fim preestabelecido, independentemente do conteúdo que possam ter as ações
em questão.
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Para Pizza Junior (1994) a razão instrumental é aquela que visa ampliar o controle da
natureza, transformando-a em instrumento de produção. Sobre este assunto, Carvalho e
Escrivão Filho (2008) explicam: (...) a ação instrumental com relação a fins na racionalidade instrumental ou funcional. Atos ou indivíduos são funcionalmente racionais quando articulados ou relacionados com outros atos ou indivíduos, contribuem para a consecução de um objetivo predeterminado. “Na racionalidade funcional não se mede propriamente a qualidade intrínseca das ações, mas a sua maior ou menor concorrência, entre outras, para atingir um fim preestabelecido, independente do conteúdo que elas possam ter” (CARVALHO; ESCRIVÃO FILHO, 2008, P.214).
Segundo Serva (1996) no âmbito das organizações, a partir do uso extremado da
racionalidade da racionalidade instrumental, o ambiente organizacional distanciado de uma
noção ético-valorativa, poderá tornar-se propicio ao abuso de poder, à denominação, à
dominação, à dissimulação de intenções. Isto pode acabar conduzindo os participantes da
organização a travarem uma permanente competição, que resultara em um ambiente produtor
de ansiedade e, até mesmo, de patologias psíquicas, redundando em insegurança psicológica,
em degradação da qualidade de vida, produzindo uma atmosfera incapaz de prover a
satisfação e a realização humana.
E Serva, a partir dos trabalhos de Guerreiro Ramos e de Habermas, define a ação
racional instrumental e seus elementos constitutivos como: ação baseada no calculo, orientada
para o alcance de metas técnicas ou finalidades ligadas a interesses econômicos ou de poder
social, através da maximização dos recursos disponíveis. E segundo Serva, p.22-23 da Revista
de Administração de Empresas, v.37, n.2, os elementos constitutivos da ação racional
instrumental são:
a) calculo – projeção utilitária das conseqüências dos atos humanos;
b) fins – metas de natureza técnica, econômica ou política (aumento de poder);
c) maximização dos recursos – busca da eficiência e da eficácia máxima, sem
questionamento ético, no tratamento de recursos disponíveis, quer sejam
humanos, materiais, financeiros, técnicos, energéticos ou ainda, de tempo;
d) êxito, resultados – o alcance, em si mesmo, de padrões, níveis, estágios,
situações, que são considerados como vitoriosos face a processos
competitivos numa sociedade capitalista;
e) desempenho – performance individual elevada na realização de atividades,
centrada na utilidade;
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f) utilidade – dimensão econômica considerada na base das interações como
um valor generalizado;
g) rentabilidade – medida de retorno econômico dos êxitos e dos resultados
esperados;
h) estratégia interpessoal – aqui entendida como influência planejada sobre
outrem, a partir da antecipação das reações prováveis desse outrem a
determinados estímulos e ações, visando atingir seus pontos fracos.
RACIONALIDADE SUBSTANTIVA
Com o objetivo de compreender a racionalidade das ações dos indivíduos nas
organizações, Guerreiro Ramos diz: “uma teoria da vida humana associada e substantiva,
quando a razão, no sentido substantivo, e sua principal categoria de análise” (Ramos, 1989,
p.26).
Alberto Guerreiro Ramos em seu livro “A Nova Ciência das Organizações – uma
reconceituação da riqueza das nações, que foi lançado no ano de 1981, propôs que as
organizações fossem analisadas sob enfoque da racionalidade abordando a “teoria substantiva
da vida humana associada” (1989, p26)”.
Segundo Ramos, a razão é constituída em um conceito básico para analise de qualquer
ciência da sociedade e das organizações e para ele a racionalidade substantiva é um atributo
natural do ser humano, visto que reside na psique humana e é a partir dela que os indivíduos
podem buscar conduzir sua vida pessoal na direção da auto-realização e do auto-
desenvolvimento, engajando-se de forma mais expressiva no processo de desenvolvimento
social e, no âmbito da teoria administrativa, no processo de desenvolvimento da própria
organização.
Segundo Silveira, a racionalidade substantiva refere-se ao direcionamento de ordens
de ação sob determinados padrões que levam em consideração a contextualização do
indivíduo, sem, contudo ter como base somente o cálculo dos fins. Dessa forma, cada ponto
de vista implica uma configuração identificável de valores que determina a direção de um
processo de racionalização subseqüente. Esses valores adquirem racionalidade por seu status
como consistentes postulados de valores. Assim, diferentes facetas da vida defendem seus
próprios postulados de valores como racionais e rotulam as outras facetas como irracionais.
Além do mais, a racionalidade substantiva é orientada por valores sociais e está em
conformidade com pressupostos sociais.
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Para Guerreiro Ramos (1989) a racionalidade substantiva dever ter por objetivo a
busca sistemática da eliminação de compulsões desnecessárias, agindo sobre as atividades
humanas nas organizações econômicas de forma a tornar pleno o desenvolvimento das
potencialidades do ser humano.
A racionalidade substantiva é “um ato de pensamento que revela percepções
inteligentes das inter-relações de acontecimentos, numa situação determinada”
(MANNHEIM, 1962, p.62), e sugere que atos dessa natureza tornem possível uma vida
pessoal orientada por “julgamentos independentes” (MANNHEIM, 1962, p.68).
A racionalidade substantiva não seria algo que se limitaria a uma determinada forma
de atuação e sim pelas idéias e princípios dos indivíduos com ações conjuntas sem
compromisso com a forma sistêmica da organização e suas burocracias. A racionalidade substantiva, em primeiro lugar, nunca poderá ser confinada num enunciado interpretativo... somente através da livre experiência da realidade e de sua precisa articulação poderá ser compreendida... não se pode compreendê-la através da simples aquisição de um pacote de informações (Ramos, 1989, p.194).
A racionalidade substantiva esta voltada para a valorização do ser humano de forma
individual e coletiva fundamentada nos padrões éticos que permitem aos indivíduos julgar e
mensurar determinados acontecimentos. E o interessante é que mesmo ocorrendo a
diversidade de idéias entre os indivíduos de uma mesma organização, esta diversidade não
gera desordem, pois a racionalidade substantiva transita como equilíbrio dos indivíduos em
relação a coletividade, com aplicação do respeito a dignidade humana, liberdade de expressão
e defesa dos valores éticos e morais.
Segundo Serva, a racionalidade substantiva promove, mesmo na diversidade do
ambiente organizacional, equilíbrio que esta baseado na inter-relação pró-ativa do individuo
com a coletividade, expressa pelo respeito, no exercício da liberdade, numa aceitação natural
do compromisso e no reconhecimento da importância dos valores éticos. Assim pode se
afirmar que “[...] partindo-se do individuo tenta-se construir uma organização que possa
viabilizar seus anseios conjugados na base da proximidade e compatibilidade de valores”.
(Serva, 1993, p.38)
Segundo Passeri o substantivo da racionalidade estaria no que fazer e porque fazer ou
no “modus faciendi”, isto é, no estado de espírito, no “animus” com o qual se deve fazer
alguma coisa e Serva, 1993, p.39 diz que “nestas organizações há intenção é que a realização
das atividades seja prazerosa, observando a solidariedade dos indivíduos e a participação
efetiva de cada um dentro da organização”.
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A sintonia com a causa maior e a organização e a identificação com os valores pessoais e grupais são os critérios essenciais (para a escolha/adesão e aceitação dos membros da organização). Disponibilidade para realização de tarefas e empatia são critérios complementares (Serva, 1993, p.39).
Segundo Mauricio Serva (1996, p. 118-119) existe cinco pontos que são fundamentais
para abordagem substantiva nas organizações, de Guerreiro Ramos:
1) As necessidades humanas são variadas e atendidas por múltiplos cenários sociais;
2) Somente algumas necessidades humanas são atendidas pelo sistema de mercado,
que determina um cenário social, fortemente influenciado pela comunicação
operacional e por critérios instrumentais;
3) Os diferentes cenários organizacionais estão correlacionados a diferentes
categorias de tempo e espaço;
4) Diferentes cenários organizacionais possuem diferentes sistemas cognitivos;
5) Diferentes cenários sociais tem como requisito diferentes enclaves – territórios –
dentro do tecido social, embora possuam vínculos entre si.
E Mauricio Serva no seu artigo publicado na Revista de Administração de Empresas,
v. 37, n.2 p.22, com base nos estudo de Guerreiro Ramos e Habermas, define a ação racional
substantiva, como: ação orientada para duas dimensões: na dimensão individual, que se refere
à autorealização, compreendida como concretização de potencialidades e satisfação; na
dimensão grupal, que se refere ao entendimento, nas direções das responsabilidades e
satisfação sociais. E Serva define também os elementos da ação racional substantiva que são:
a) autorealização – processos de concretização do potencial inato do
individuo, complementados pela satisfação;
b) entendimento – ações pelas quais se estabelecem acordos e consensos
racionais, mediadas pela comunicação livre, e que coordenam atividades
comuns sob a égide da responsabilidade e satisfação sociais;
c) julgamento ético – deliberação baseada em juízos de valor (bom, mau,
verdadeiro, falso, certo, errado etc.), que se processa através do debate
racional sobre as pretensões e validez emitidas pelos indivíduos nas
interações;
d) autenticidade – integridade, honestidade e franqueza dos indivíduos nas
interações;
e) valores emancipatórios – aqui se destacam os valores de mudança e
aperfeiçoamento do social nas direções do bem-estar coletivo, da
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solidariedade, do respeito à individualidade, da liberdade e do
comprometimento, presentes nos indivíduos e no contexto normativo do
grupo;
f) autonomia – condição plena dos indivíduos para poderem agir e
expressarem-se livremente nas interações.
APRESENTAÇÃO DO QUADRO DE ANÁLISE
Nesta pesquisa, adotaremos o modelo do quadro de análise I, construído por Serva
(1997) onde resume a descrição de alguns processos organizacionais relacionados com os
elementos da racionalidade.
Quadro I – Quadro de análise
Tipo de racionalidade X
Processos organizacionais
Racionalidade substantiva
Racionalidade instrumental
Entendimento Fins julgamento ético Desempenho
Hierarquia e normas
Estratégia interpessoal Autorealização Utilidade
Valores emancipatórios Fins Valores e objetivos
Julgamento ético Rentabilidade Entendimento Cálculo
Julgamento ético Utilidade Tomada de decisão
Maximização de recursos
Maximização de recursos
Desempenho
Controle Entendimento
Estratégia interpessoal Autorealização Maximização de
recursos Entendimento Desempenho
Divisão do trabalho
Autonomia Cálculo Autenticidade Desempenho
Valores emancipatórios Êxito/resultados Comunicação e relações interpessoais
Autonomia Estratégia interpessoal Fins Ação social e relações ambientais Valores emancipatórios
Êxito/resultados Reflexão sobre a organização Julgamento ético Desempenho
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Valores emancipatórios Fins Rentabilidade
Julgamento ético Cálculo Autenticidade Fins
Conflitos
Autonomia Estratégia interpessoal Autorealização Fins
Autonomia Êxito Satisfação individual
Desempenho Autorealização Utilidade
Valores emancipatorios Êxito/resultados Dimensão simbólica
Desempenho Fonte: Serva (1997, p. 24).
APRESENTAÇÃO DO CONTINUUM DE AVALIAÇÃO DA AÇÃO
RACIONAL SUBSTANTIVA
Com o objetivo de melhor demonstrar o grau de racionalidade dentre das
organizações, Serva (1997) estabeleceu um continuum, que será demonstrado na figura 1, e
este continuum será um instrumento auxiliar na avaliação do grau da racionalidade deste
estudo de caso.
Figura 1 – continuum de intensidade de racionalidade substantiva
totalmente mínima baixa média elevada muito totalmente elevada elevada elevada
Fonte: Serva (1997), p.25
UNIDADE DE ANÁLISE INSTITUCIONAL
No dia 20 de julho de 1978, com base na Lei nº 703, foi criado o Instituto de
Ensino Superior de Cáceres - IESC.
Em 1985, através da Lei Estadual nº 4.960, de 19 de dezembro de 1985, o Poder
Executivo instituiu a Fundação Centro Universitário de Cáceres - FUCUC, entidade
fundacional autônoma, vinculada à Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Mato
Grosso.
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Em 1989, por meio da Lei Estadual nº 5.495, de 17 de julho de 1989, alterou-se a Lei
nº 4.960, de 19/12/85, para adaptação às normas da legislação de Educação, a fim de que
passasse a denominar-se Fundação Centro de Ensino Superior de Cáceres - FCESC.
Em 1992, por intermédio da Lei Complementar nº 14, de 16 de janeiro do mesmo ano,
a Fundação de Ensino Superior de Cáceres (FCESC) passa a denominar-se Fundação de
Ensino Superior de Mato Grosso - FESMAT, cuja estrutura organizacional, alterada pelo
Decreto nº 1.236, de 17 de fevereiro de 1992, foi implantada a partir de maio de 1993. Em 15
de dezembro de 1993, foi criada a Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT,
tendo como mantenedora a Fundação Universidade do Estado de Mato Grosso, com sede em
Cáceres e os campi universitários de Sinop, Alta Floresta, Nova Xavantina, Alto Araguaia,
Pontes e Lacerda, Médio Araguaia - Luciára, Vale do Teles Pires - Colíder, Vale do Rio
Bugres - Barra do Bugres e Tangará da Serra.
A UNEMAT institucionalmente está vinculada à Secretaria de Estado de Ciência e
Tecnologia – SECITEC e, por meio do Conselho Estadual de Educação – CEE/MT, tem seus
atos de legalidade reconhecidos para o ensino regular de graduação e para as modalidades
diferenciadas. Como universidade, teve seu primeiro credenciamento, por cinco anos, em 10
de agosto de 1999, ato realizado pelo CEE/MT, sendo recredenciada pela Portaria 064/2005 -
CEE/MT, no Diário Oficial do Estado, em 22 de março de 2005, também por 05 (cinco) anos.
A Universidade do Estado de Mato Grosso, com a sua sede localizada em Cáceres-MT
desde sua gênese, ao longo dos seus 30 anos têm criado estratégias que buscam implantar e
implementar práticas inovadoras, consoantes com os anseios da comunidade. Oferta diversos
cursos de Licenciaturas, Bacharelados e Pós-Graduação nos 120 municípios dos 142 que
compõem o Estado de Mato Grosso.
Possui projetos inovadores, como o Terceiro Grau Indígena, que qualifica professores
de 30 etnias do Estado e 14 de outros Estados da Federação, o de formação de professores
para Assentamentos Rurais, Projeto de Formação de Professores em Serviço (Projeto
Parceladas, Módulos Temáticos, Ensino a Distância) entre outros.
Ao longo do seu funcionamento, a UNEMAT apresenta uma somatória de
experiências didático-científico-pedagógicas e administrativas que a projeta como uma
instituição portadora de requisitos indispensáveis ao desenvolvimento do ensino, da pesquisa
e da extensão, desempenhando um papel essencialmente social no Estado, capaz de alicerçar a
base humana regional na afirmação de melhores condições de vida da população e na garantia
de padrões éticos de justiça e equidade.
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Nesse processo, uma preocupação constante na UNEMAT tem sido a qualificação de
seu quadro docente e a formação do espírito crítico para responder, sobretudo, os problemas
do interior do Estado, visto que os seus 11 campi abarcam três biomas: Pantanal, Cerrado e
Amazônia e as Bacias hidrográficas do Prata, Amazônica e Araguaia, caracterizando uma
diversidade biológica ímpar no Brasil.
Atualmente são ofertados 83 cursos de graduação, sendo 44 regulares, 08 de
Licenciaturas Parceladas, 06 de Ensino Aberto e a Distancia, 03 Turmas Especiais em
Educação Superior Indígena e 21 Fora da Sede, que atendem mais de 15 mil alunos e 57
cursos de pós-graduação lato sensu, 04 curso stricto sensu, sendo 06 Mestrado institucional e
vários minters e dinters com as principais universidades do país.
O quadro atualmente é constituído de 1.436 servidores, distribuídos em 663
professores e 456 técnicos-administrativos efetivos e 298 professores e 19 técnicos-
administrativos contratados.
O quadro de docentes efetivos da UNEMAT compreende 119 doutores e 328 mestres,
resultante da política de investimento na qualificação do corpo docente e técnico-
administrativo. Atualmente mantêm-se afastados para qualificação stricto sensu 4 professores
e 3 técnicos-administrativos em cursos de Mestrado e 51 docentes em programas de
doutoramento nas diversas áreas do conhecimento em instituições brasileiras de ensino
superior.
Encontram-se em desenvolvimento na UNEMAT 115 projetos de pesquisa e 106 de
extensão, envolvendo professores-pesquisadores e 231 alunos-bolsistas, que atuam nas áreas
de ciências humanas, sociais e aplicadas, bem como nas áreas tecnológicas e ambientais, cuja
investigação se assenta sobre questões de relevância para a construção do conhecimento
cientifico, cujo resultado deverá apresentar alternativas que possam interferir positivamente
na sociedade mato-grossense.
A UNEMAT está situada no Estado de Mato Grosso que é o Estado de maior
dimensão territorial do Centro-Oeste, com uma área de 903.357 km.², que representa 10,61%
do território nacional. Localizado na porção nortenoroeste da região, é formado por três dos
grandes biomas brasileiros – Cerrado, Pantanal e Floresta Tropical – concentra parcela
importante da moderna agropecuária do Brasil.
Está localizado a oeste da região Centro-Oeste e a maior parte de seu território é
ocupado pela Amazônia Legal, sendo o extremo sul do estado pertencente ao Centro-Sul do
Brasil. Tem como limites: Amazonas, Pará (N); Tocantins, Goiás (L); Mato grosso do Sul (S);
Rondônia e Bolívia (O). Sua capital é a cidade de Cuiabá.
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A Universidade do Estado de Mato Grosso dispõe nos municípios sede dos campi
universitários (11 campi e 15 núcleos pedagógicos) de instalações físicas próprias, alugadas
ou cedidas, perfazendo um total de 6.075.777 m² de área física e 48.753,92 m² de área
construída.
A Instituição vem desenvolvendo propostas pedagógicas diferenciadas (Parceladas,
Modulares, Programa de Ciências Agro-Ambientais, 3º Grau Indígena), nas quais a pesquisa
norteia a construção/desconstrução do conhecimento. Assim, entende-se o ensino como uma
dinâmica de descoberta e de criação. Nesse sentido, conta com Bibliotecas: central, regional e
setorial, com um acervo bibliográfico de 304.260 títulos/exemplares e 40 laboratórios nas
diversas áreas do conhecimento para utilização em aulas práticas das disciplinas constantes
nas grades curriculares dos cursos, com vistas a subsidiar e enriquecer o processo ensino-
aprendizagem.
No que se refere à modernização e à agilização da comunicação intra e inter-campi e
com o mundo global, a Universidade, por meio da Coordenadoria de Tecnologia de
Informações, busca fortalecer e integrar a tecnologia, tornando-a uma ferramenta
imprescindível para o desenvolvimento da gestão universitária, reduzindo custos e facilitando
a tomada de decisão. Para tanto, dispõe de 12 circuitos de dados/voz instalados nos campi
universitários de Alto Araguaia, Alta Floresta, Barra do Bugres, Cáceres, Colíder, Juara,
Luciára, Nova Xavantina, Pontes e Lacerda, Sinop, Tangará da Serra e na sede administrativa
da Universidade.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Devido à estrutura organizacional da UNEMAT ser muito grande e o tempo para
realização do estudo de caso ser pequeno, decidi por realizar a pesquisa na sede administrativa
situada no município de Cáceres-MT, onde resido e trabalho desde 2005, e por manter contato
com todos os funcionários e professores que atuam na gestão da universidade. A metodologia
utilizada foi a observação participante durante duas semanas nas diversas pro-reitorias e
setores ligados a elas, realizando ainda entrevistas no que diz respeito aos processos
organizacionais e administrativos e segundo Yin, o estudo de caso é usado como estratégia de
pesquisa em diversas situações, com vistas as contribuir com o conhecimento obtido dos
eventos individuais, organizacionais, políticos e de grupo, concorrendo para o fato de que em
todas essas situações se destaca a intenção de buscar a compreensão de fenômenos sociais
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complexos, uma investigação que garanta a preservação “das características holísticas e
significativas dos acontecimentos da vida real” (YIN, 2005, p.20).
ANÁLISE DOS DADOS
As coletas dos dados foram feitos através de entrevistas semi-estruturada e da
observação. As perguntas foram feitas relacionadas com o conjunto de processos
organizacionais hierarquia e normas, valores e objetivos, tomada de decisão, controle, divisão
do trabalho, comunicação e relações interpessoais, ação social e relações ambientais, reflexão
sobre a organização, conflitos, satisfação individual e dimensão simbólica com objetivo de
identificar o tipo de racionalidade predominante na sede administrativa da UNEMAT e com o
analises dos dados, foram percebidos os seguintes aspectos:
* Hierarquia e normas: são amplamente discutidas no congresso universitário; nos órgãos
colegiados que são formados pelo conselho curador, conselho universitário – CONSUNI e
conselho universitário – CONEPE; órgãos de administração central que são formados pela
reitoria, pro-reitorias e assessorias superiores; órgãos de administração executiva; órgãos de
administração didático-cientifica; e pelos órgãos de administração regional, havendo a
predominância da racionalidade substantiva.
* Valores e objetivos: observou-se que os valores e objetivos da instituição estão bem
relacionados com a autorealização, valores emancipatorios e julgamento ético, pois suas
principais metas são ministrar ensino superior em diferentes campos do conhecimento
humano; estender à sociedade serviços indissociáveis de ensino, pesquisa e extensão;
promover a assimilação dos valores culturais, desenvolver o espírito crítico e difundir os
conhecimentos por todos os meios ao alcance da Universidade; inserir e intervir na sociedade,
identificando os problemas sociais, na busca de alternativas relevantes para o homem realizar-
se como pessoa e coletividade; garantir o acesso ao conhecimento cultural-científico e a
participação de toda a população no processo de desenvolvimento social, com perspectiva à
melhoria da qualidade de vida; desenvolver pesquisas que apontem para o melhor
aproveitamento sustentado dos recursos naturais e para a formulação de políticas alternativas
de sobrevivência; gerar conhecimentos necessários ao desenvolvimento de Mato Grosso,
respeitando as características socioambientais, de forma a contribuir para o desenvolvimento
científico-tecnológico; promover a compreensão e cooperação internacional; qualificar
professores em nível superior para atuarem no ensino fundamental e médio; alicerçar a base
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humana regional, na afirmação de melhores condições de vida da população e na garantia dos
padrões éticos de justiça e equidade.
* Tomada de decisão: as decisões em sua maioria são tomadas após serem amplamente
discutidas pelos conselhos e órgãos visando o bem estar social, mais seguindo o entendimento
e julgamento ético.
* Controle: realizado previamente com intuito orientativo e posteriormente com aplicação
das sanções previstas seguindo a ação substantiva do entendimento.
* Divisão do trabalho: caracterizado pelo conhecimento técnico de cada servidor tendo suas
atribuições ligadas a sua especialidade.
* Comunicação e relações interpessoais: é percebido a racionalidade substantiva com base
nos elementos da autenticidade,valores emancipatórios e autonomia, pois se percebe a união
entre os funcionários, o respeito às opiniões e todos tem o direito de participar das discussões
dentro da organização.
* Ação social e relações ambientais: a preocupação ambiental é forte na instituição, pois ela
possui dois mestrados nessa área, um em ciências ambientais e o outro em ecologia e
conservação, e vários projetos em defesa do bem estar social.
* Reflexão sobre a organização: as reflexões ocorrem com objetivo de melhorar e que tudo
venha acontecer da melhor maneira e satisfazer o interesse de todos.
* Conflitos: os conflitos de idéias acontecem principalmente nas discussões dos conselhos,
mais as opiniões são respeitadas e o regime democrático prevalece.
* Satisfação individual: e percebida em relação à autonomia, mais em relação à
autorealização, muitos não estão satisfeito com as atividades, qualificação permanente e
questões salariais.
* Dimensão simbólica: a instituição é bem vista pela maioria dos entrevistados da sede
administrativa e representa muito pra eles e suas famílias, mais ainda assim, existem alguns
somente com interesses salariais e o seu próprio interesse.
Para melhor visualização e entendimento dos resultados dessa pesquisa, lançaremos no
quadro de análise I proposto por Serva.
Tipo de racionalidade X
Processos organizacionais
Racionalidade substantiva
Análise da Racionalidade
substantiva
Entendimento julgamento ético Muito elevada
Hierarquia e normas
Valores e objetivos Autorealização
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Valores emancipatórios Muito Elevada Julgamento ético
Entendimento Julgamento ético Elevada
Tomada de decisão
Elevada Controle Entendimento
Autorealização Entendimento Elevada
Divisão do trabalho
Autonomia Autenticidade
Valores emancipatórios Elevada Comunicação e relações interpessoais
Autonomia Muito Elevada Ação social e relações ambientais Valores emancipatórios
Julgamento ético
Valores emancipatórios Baixa Reflexão sobre a organização
Julgamento ético
Autenticidade Baixa Conflitos
Autonomia Autorealização
Autonomia Baixa Satisfação individual
Autorealização
Valores emancipatorios Baixa Dimensão simbólica
Fonte: Adaptado de Serva (1997, p. 24). E para analisar a intensidade da racionalidade substantiva na sede administrativa da
UNEMAT, usaremos o continuum proposto por Serva.
Figura 2 - Posição da sede administrativa no continuum de intensidade de racionalidade substantiva
Sede administrativa UNEMAT totalmente mínima baixa média elevada muito totalmente elevada elevada elevada
Fonte: Serva (1997), p.25
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CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo deste estudo foi identificar a intensidade da racionalidade substantiva na
Sede administrativa da Universidade do Estado de Mato grosso – UNEMAT e o modelo
apresentado por Mauricio Serva foram de fundamental importância e compreensão para que
pudéssemos chegar à conclusão. Já em relação à bibliografia sobre este assunto, senti
dificuldades de encontrar por ser um tema ainda pouco discutido, e o que predomina são os
estudos de Guerreiro Ramos com a abordagem conceitual e Mauricio Serva demonstrando a
racionalidade substantiva na pratica administrativa. O que podemos perceber com a análise
dos dados é que a racionalidade substantiva predominou em sete dos onze processos
organizacionais, portanto, a racionalidade instrumental é percebida em quatro dos processos
organizacionais, sendo um desafio à organização ser considera totalmente substantiva, mais
que o resultado foi até surpreendente e que podemos concluir que a posição no continuum de
intensidade da racionalidade foi considerada elevada.
Deixo como proposta de estudo futuro, estender a pesquisa em todos os campis e
núcleos pedagógicos da universidade, e realizar um comparativo entre as unidades, pois neste
momento o pequeno espaço de tempo não nos permite ir além, mais pretendo continuar
estudando e aprofundar neste assunto que muito me interessou desde que tomei conhecimento
nas aulas de Fundamentos de Gestão de Organizações, ministradas pelo Prof. Dr. Alex
Moreira.
REFERENCIAS CARVALHO, K. C.; ESCRIVÃO FILHO, E. A tensão administrativa: a visão de Guerreiro Ramos. In: ESCRIVÃO FILHO, E. PERUSSI FILHO, S. Administração e ... evolução do trabalho do administrador. São Carlos: RiMa, 2008. ESCRIVÂO FILHO, E. et al. Compreendendo a dinâmica das pequenas empresas: mapa organizacional como ferramenta de ação administrativa. Revista Matiz, Matão, ano 1, n.1,2005,p. 20-40. Guerreiro Ramos, A. A nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das nações Rio de Janeiro: fundação Getulio Vargas, 1989. MANNHEIM, K. O homem e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1962. Mannheim, K. (1973). Diagnóstico de nosso tempo. Rio de Janeiro: Zahar. PIZZA JUNIOR, W. Razão substantiva. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v.28, n.2, abr./jun,1994, p.7-14.
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