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Quarto22 Abril‘16 Albuquerque Mendes Rosebud

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Quarto22

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This isRoom Twenty Two.

And on the other side of its doors lies

an adventure thatis as fascinating

as it is inexplicable.

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Albuquerque Mendes transforma o Quarto 22 num compartimento autobiográfico de inequí-voco amor à sua Coimbra nossa.

“ROSEBUD” — diz ele. E escreve: “Não é uma exposição de fotografias mas sim de memórias. Em 1971, durante as férias da Páscoa, fui com o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra a Londres visitar os museus e as galerias de Arte, com o pintor João Dixo e o professor Orlando de Carvalho, subsidiados pela Fundação Calouste Gulbenkian. Dessa viagem resta a saudade.”

Concluímos: ele expõe a sua saudade da nossa Coimbra dele, do totalmente dele Círculo nosso.

José Bernardo de Albuquerque Mendes nasceu em Trancoso no ano de 1953; em 1963 veio para a Escola Brotero de Coimbra; em 1972 foi para o Instituto Superior de Engenharia do Porto; foi chamado para a vida militar em 1974; casou em 1977… Este é um tipo de biografia convencional do Cidadão. Mas há uma história — outra:

Em janeiro de 1970, Albuquerque Mendes entra para o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC ou CAP), abrindo-se a um novo mundo de experiências estéticas. Nos princípios de 70, o CAP era, para ele mais do que para

RegResso ao PResente

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ninguém, o sonho ao alcance dos sentidos, a utopia tornada visível, tangível, um lugar onde, das coisas corriqueiras, se fazia Arte; onde a secretaria se transformava festivamente em galeria de exposições; onde a velha cozinha era agora palco de ilusionismo, magia, partilha de iguarias e outras maravilhas saídas de caixas e garrafas…; onde os ateliês eram laboratórios de alquimia; onde a equipa de futsal, mista, compensava com a beleza dos equipamentos as cabazadas sofridas; onde se juntavam artes num “Presente” para o 2º aniversário da Ogiva de Óbidos e se respondia à “Agressão com o nome de Joseph Beuys”; onde se criava a “Floresta” para a Alvarez do Porto, onde a cave do edifício (da Castro Matoso, claro) se metamorfoseava integralmente na “Nossa Coimbra deles”; onde se celebrou o, inédito em Portugal e na maioria dos países, “Aniversário da Arte”, enchendo-se o prédio de instalações, música, jogos, festa…

“anunciando o 25 de Abril”, escreveu Ernesto de Sousa; onde se organizavam “viagens de estudo” (a Paris, Londres, Amesterdão…), pe-regrinações de descoberta, prazer, felicidade… Foi neste CAP que Albuquerque com dezasseis,

dezassete, dezoito, dezanove anos, livre de trabalhos, obrigações, necessidades, condi-cionamentos, inventou o sonho em plenitude, sonho palpável, atingido em desenhos, pinturas, colagens, rituais, performances… em fusão do dia-a-dia com a Arte, mostrando que a Arte pode ser a Vida.

Por tudo isso, o afastamento dessa utopia obrigava-o a regressar — do Porto, da tropa, da normalidade.

Em 31 de Outubro de 2015, em abertura do “Anozero”, Bienal de Coimbra organizada pelo Círculo de Artes Plásticas de Coimbra com a colaboração do Colégio das Artes, numa grande sala mesmo ao lado do Quarto 22, moveu-se em três atos, sucessivamente prestigiador, bailarino e louco. Nas duas primeiras cenas, único em palco, elegante, impecável nas respetivas indumentárias, quer evidenciando sensacional magia e incrível ilusionismo, quer, de seguida em fantástica dança reveladora do mais (estésico e) estético ato livre… ele, todo ele e só ele, preenche o ta-blado; depois, naquele mesmo palco, entra uma bailarina profissional, belíssima, de virtuosismo, erotismo e sedução dificilmente encontráveis,

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(que alegoria, meu Deus!) ofuscando-o mas atraindo-o, fascinando-o, subjugando-o, con-vertendo-o em ridícula sombra de néscio, idiota, com trajetos paradoxalmente fabulosos e belos na fealdade da caricatura.

Em 24 de Setembro de 2016, no Museu Soares dos Reis, Porto, na sala do autorretrato de Aurélio de Sousa, mesmo em frente e junto deste quadro e ao lado de um cavalete com tela branca, Albuquerque, caraterizado como pintor do século dezanove, vai fazer Arte. Olha atenta e prolongadamente para a obra na parede e, vendo-lhe a predominância do preto, passa em pinceladas esta cor para a tela. Revê o retrato e, quase ao mesmo tempo, mira-se num grande espelho de mão, alternando a focalização das figuras, comparando-as… E vê-se diferente. Por isso, veste um capelo preto, parecendo agora uma freira, ele com touca e sobrevirtude negras encaixilhando-lhe o rosto, rosto que também pinta de preto, à excepção dos olhos. Depois, em nova confrontação, percebendo a disse-melhança cromática da Pintora, ele, calçando cerimoniosas luvas brancas, em solenidade litúrgica, corrige-lhe o retrato pintando-o (meu

Deus!) com a mesma cor de piche, salvaguar-dando, aqui também, a zona dos olhos. (Crime! Heresia! — foram gritos contidos).

Entremos no Quarto 22.Ao centro, uma Inês de Castro feita em barro

modelado por carícias, mas agora escultura de frio mármore, sem braços nem pernas, sem orelhas e de olhos vazados…

Nas paredes, dezasseis dos vinte e dois quadros com o mesmo formato e dimensões exibem uma fotografia; os restantes são derivações de duas imagens: uma gravura e uma fotomontagem.

A gravura, possivelmente do século dezoito, “encontrou-a e interpretou-a” redesenhando-a, modificando-lhe parcialmente a representação: elegante zelador limpava-lhe o pó, delicada-mente; agora, já sem o espanador, mãos atrás das costas, faz xixi para a coluna que sustenta o retrato, ora um bocadinho mais a esquerda, ora um pouquinho mais para a direita… como um gracioso chafariz, que me fez lembrar a duchampiana “fonte” da juventude.

A fotomontagem, obra de Magritte publicada na revista “La Revolution Surrealiste”, nº 12, de 1929, tem como cercadura dezasseis fotografias

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de meio-corpo dos mais importantes pioneiros franceses, inesperadamente (?) todos eles com os olhos fechados. Num grande retângulo central, uma mulher nua, tendo por cima as palavras “je ne vois pas la”, e, por baixo, “cachée dans la forêt”. Lemos facilmente: “eu não vejo a mu-lher nua escondida na floresta”. Desta matriz, estão expostas três versões: numa, as figuras estão em negativo e a frase em positivo; noutra, é o inverso, sendo muito difícil a leitura das palavras, aqui de costas e, portanto, da direita para a esquerda; na outra, tudo é positivo (mas os Surrealistas continuam de olhos fechados). Na figuração destas três imagens, o centro das atenções é precisamente uma mulher nua, que olhos cerrados não veem — e que “não é uma mulher”, eu sei, mas… Na última (em que tudo está em positivo), ressaltam de um fundo escuro as luminosas palavras e o brilho esplendoroso da beleza feminina; nas restantes, escurece a mulher se a frase brilha; se a proposição vai em sentido contrário, resplandece a mulher. Nada disto veem os olhos cerrados, “Eu não vejo a mulher nua escondida na floresta”…: se não tenho os olhos abertos ou, se durmo, não sonho

com ela; se ao olhá-la, imagino um monstro ou outra coisa; se ela não está na floresta; se a vejo noutro lugar que não a floresta… Aliás, jamais conseguirei ver uma mulher escondida, nua ou vestida, porque, se escondida, é invisível e, se a vejo, não está escondida. Mesmos de olhos abertos.

As fotografias, todas diferentes mas das mesmas dimensões e temática, dezasseis — quantos os surrealistas de olhos fechados — são elucidadas por desmedida legenda, em duas linhas: “London, 1971” e, no meio desse feliz ano, um pequeno auto-retrato de Albuquerque Mendes com o aspeto atual de 2016 em minúsculo selo, uma espécie de cunho atestando a coabitação dos dois espaços-tempos (Londres, 1971 e Coimbra, 2016) agora, aqui, neste Quarto em capicua feito instalação de um mundo. Quer comecemos da esquerda quer da direita (no meio fica sempre a estátua), predominam as “fotografias”, sem denominação das especificidades escritas pela luz, dado que não importa o fotografado mas sim o fotógrafo, que vê e está lá, não como objeto em frente da objetiva mas dentro e fora, sujeito preenchendo a subjetiva.

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Aqui se mostra ele, trazendo(-se n’) o Círculo de Artes Plásticas a este Quarto (de planta) em Círculo, pleonasticamente pondo o Círculo nos quadros e os quadros em Círculo, ou seja, Círculo e Colégio das Artes enlaçando-se.

Eu, deliciado neste envolvimento de Círculos, apercebo-me de que uma data (1791), errada à primeira vista, é, afinal, a juntar ao tempo da gravura, ao da fotomontagem, ao dos carimbos… um forte indicativo da intemporalidade. A es-cultura central, vejo-a nitidamente como uma peça de xadrez, peão ou rainha, movendo-se no infinito de hipóteses.

No seio desta venerável Universidade, ele expõe-se a filosofar em torno da origem da Arte, da sua obra e do próprio conceito, recuando aos princípios da atividade artística e, antes de mais, às vivências estéticas de fruidor com dezoito anos, livre, despreocupado, sem necessidades, subjugações ou compromissos.

Hoje, mais do que então, sabe que a forma (na acepção ampla) de qualquer produto é determi-nada pelas quatro causas (motora, final, formal e material) unificadas ou não em causa formal, se se concentram no mesmo sujeito, ou se dividem

em pessoas, lugares ou tempos diferentes pela separação das causas motora e teleológica. Na separação, o sujeito-motor é servil, artesão ou operário. Quando o sujeito, não servo mas senhor, é plenamente e ao mesmo tempo causa motora e causa final, em asseidade, em autotelia e funciona em ato voluntário (que contém em si concepção, deliberação, decisão e execução), faz nascer a obra de arte do ventre da Estética (talvez melhor dissesse: da ESTÉSICA).

Do estado hipnagógico de semi-dormentes ou semi-despertos, mundo de necessidades, do útil, do que serve… temos duas hipóteses de evasão: ou a anestesia (não temos sensações); ou a estesia — as vívidas sensações são plurívocas e intransitivas experiências estéticas.

É na evasão estésica que “pernoitamos” (que ficamos em vigília, quero dizer) no Quarto 22; (na anestésica, permanecemos hirtos em cama de hospital).

Se em tudo — na língua portuguesa, até eti-mologicamente — a coisa (cousa) é a causa, a fortiori na Arte, porque origem, porque criação, porque faz surgir do nada que não seja a causa unificada.

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Na luxuosa e inesquecível “Pousada 22” ve-mos que a Poesia é bem mais completamente verdadeira do que a História, porque não omite o universo da imaginação, parte fundamental da causa.

Albuquerque, numa expressão de Heidegger, “põe-se-em-obra-da-verdade”, obra claramente feita objeto, mas objeto que volta a sujeito para nos obrigar a ter saudades do presente.

A beleza desta evasão de regresso ao pre-sente — beleza, sim! — lembra-me Vostell que, a um admirador que lhe aclamara a obra, dizendo

“Além do mais, é bela”, respondeu, corrigindo: “A beleza está no mais”.

-> Armando Azevedo

Janeiro 2017

Albuquerque Mendes

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Livro

EdiçãoColégio das Artesda Universidade de Coimbra

CoordenaçãoAntónio olaioJosé Maçãs de Carvalho

TextoArmando Azevedo

Fotografiasvítor Garcia

Designbrunadesousa.com

impressãoNozzle, Lda

Ano de Edição2017

iSBN978-989-99717-9-0

Depósito Legalxxxxxxxxx

ExpoSição

AutorAlbuquerque Mendes

Títulorosebud

CoordenaçãoAntónio olaioJosé Maçãs de Carvalho

MontagemTomás Antunes

Secretariadoisabel Teixeirapaula Lucas

identidade Q22brunadesousa.com

produçãoColégio das Artesda Universidade de Coimbra

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Quarto 22, lugar desenhado por

João Mendes Ribeiro. Uma sala circular, parede de cortina branca, estrutura

para pendurar 22 imagens.

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