r d laing - laços [coleção psicanálise]

93

Upload: charly-aventura

Post on 20-Jun-2015

1.732 views

Category:

Documents


10 download

TRANSCRIPT

Page 1: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]
Page 2: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

LAÇOSpor

R. D. Laing

Tradução de

Mário Pontes

2' EDIÇÃO

FICHA CATALOGRAFICA

(Preparada pelo Centro de Catalogação na fontedo Sindicato Nacional dos Editores de Livros, GB)

Laing, Ronald David, 1927-L1871 Laços Iporl R. D. Laing; tradução de Mário

Pontes. Petrópolis, Vozes, 1974.100 p. 21 cm (Psicanálise, v. 9).

Do original em inglês: Knots.

1. Poesia inglesa. 2. Psicanálise. I. Titulo. II. Série.

CDD - 821.914 821.00931CDU - 820.1 194574-0387

820-1:159.964.2

EDITORA VOZES LTDA.Petrópolis

1977Os elementos que aqui apresentamos em esboço

Edição original publicada em 1970 porTavistock Publications Limited

11 New Fetter Lane, London EC4© The R. D. Laing Trust 1970Titulo do original inglês: KNOTS

© 1974 da tradução portuguesaEditora Vozes Ltda.Rua Frei Luís, 100

Petrópolis, RJBrasil

Page 3: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Os elementos que aqui apresentamos em esboço não

tinham merecido até agora o esforço classificatório de

nenhum Lineu da servidão humana. O que não

impede sejam todos eles, talvez, estranhamente

familiares. Limitei-me, nas páginas seguintes, a

mostrar alguns daqueles que eu próprio vi. As

palavras que me ocorrem para designá-los são: nós,

laços, labirintos, impasses, disjunções, redemoinhos,

ligaduras. Eu poderia ter permanecido mais fiel à

"pureza" dos dados em que tais elementos se

apresentaram. Por outro lado, poderia tê-los

trabalhado ainda mais, dando-lhes um tratamento

próximo ao do cálculo lógico-matemático abstrato.

No final de contas, espero não tê-los esquematizado

tanto ao ponto de tornar impossível relacioná-los

outra vez às mui particulares experiências de que

vieram. Mas espero também que permaneçam

bastante independentes de qualquer "conteúdo", para

que possamos perceber a acabada elegância formal

desse tecido de maya.

R. D. Laing

Abril de 1969

Page 4: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

1Eles estão jogando o jogo deles.Eles estão jogando de não jogar um jogo.Se eu lhes mostrar que os vejo tal qual eles estão,quebrarei as regras do seu jogoe receberei a sua punição.O que eu devo, pois, é jogar o jogo deles,o jogo de não ver o jogo que eles jogam.

Page 5: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Eles não estão se divertindo.E se eles não se divertem eu também não me divirto.Somente se eu puder levá-los a se divertirpoderei divertir-me juntamente com eles.Mas não é nada divertido levá-los a divertir-se;pelo contrário, é trabalho muito árduo.Quem sabe, eu talvez me divertissese descobrisse por que não se divertem.Mas não fica nada bem que me divirta procurandosaber o porquê não se divertem.Ainda assim é um pouco divertido o ato de fingirque não encontro diversão em descobriro motivo por que não se divertem.

Vamos nos divertir? — convida a garotinhaque surge de repente não sei donde.E contudo divertir-me é perder tempo,já que me divertir não contribui para mostraro motivo por que não se divertem.

Como podes tu te divertirse Jesus na cruz morreu por ti?Achas acaso que na cruzJesus se divertia?

Page 6: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

O nosso dever é fazer com que os nossos filhos

nos amem, nos honrem e nos obedeçam.Se não nos amam, não nos honram e não nos obedecem,o nosso dever é castigá-los; do contrárionão estaremos a cumprir nosso dever.

Se crescem nos amando, nos honrando e nos obedecendo —benditos sejamos por tê-los feito crescer no bom caminho.

Se crescendo não nos amam, não nos honram e não[ nos obedecem

bem, talvez lhes tenhamos indicado o bomcaminho, talvez não.

Se lhes mostramos o caminho bomé com eles que algo está errado.

Se não lhes mostramos o caminho bomé conosco que algo está errado.

Page 7: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

O dever dos filhos seria respeitar os paissem que fosse necessário ensinar-lhes tal respeito,pois o respeito é algo natural —e afinal de contas foi assim que eu eduquei meu filho.

É claro que os pais devem ser dignos de respeito e,claro também, é possível que percam tal respeito.Mas ao final de contas espero que meu filho me respeitenem que seja porque lhe dou a liberdadede respeitar-me ou não me respeitar.

Page 8: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Algo de errado deve haver com elepois é certo que assim não agiria

se algo de errado não houvesse;portanto se é assim que ele ageé porque há com ele algo de errado

Ele não se apercebe de que há com ele algo de erradoporque

uma das coisas que nele andam erradasé não se aperceber de que há com elealgo de errado

portantotemos que ajuda-lo a aperceber-sede que o fato de não se aperceberde que há com ele algo de erradoé uma dessas coisasque nele andam erradas

Page 9: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

algo de errado com ele está havendoposto que ele pensa

que é conosco que algo anda erradoporque tentamos ajudá-lo a perceberque algo de errado com ele deve haverpor pensar que conosco algo anda erradoporque tentamos ajudá-lo a perceber

de que o estamos ajudandoa perceber

que o não estamos perseguindoquando o estamos ajudandoa perceber que não o estamos perseguindoquando o estamos ajudandoa perceberque se recusa a perceberque algo de errado deve haver

com elequando não percebe que algo de errado deve haver

com ele

Page 10: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

quando não nos agradecesequer pelo fato de tentarmos ajudá-loa perceber que algo de errado deve haver

com elequando não percebe que algo de errado deve haver

com elequando não percebe que algo de errado deve haver

com elequando não percebe que algo de errado deve haver

com elequando não nos agradece

pelo fato de que nunca tentamos fazercom que nos agradeça

Page 11: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

O dever dos filhos é respeitar os paisE o dever dos pais é ensinar os filhosatravés do bom exemploa respeitar os pais.

Pais que não dão aos filhos bons exemplosnão merecem respeito.Se nós os pais lhes dermos bons exemplospodemos esperar pela sua gratidãoquando crescidos eles próprios forem pais.

De um filho malcriadonão teremos respeitoporque não o castigamosporque não nos respeita

Não devemos estragar com mimos nossos filhos.Decerto o mais cômodo é fazer o que eles querem,mas eles não nos respeitarão quando crescerempor deixá-los fazer o que eles querem.Eles não nos respeitarão

se não os castigarmospor não nos respeitarem.

Page 12: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Mamãe me ama.Eu me acho bom.

Eu me acho bom porque ela me ama.

Eu sou bom porque me acho bomEu me acho bom porque sou bomMamãe me ama porque sou bom.

Mamãe não me ama.Eu me acho mau.

Eu me acho mau porque ela não me amaEu sou mau porque me acho mau

Eu me acho mau porque sou mauEu sou mau porque ela não me amaMamãe não me ama porque sou mau.

Page 13: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Eu não me acho bomlogo sou maulogo ninguém me ama

Eu me acho bomlogo sou bomlogo todos me amam.

Eu sou bomvocê não me amalogo você é mau. Logo eu não amo você.

Eu sou bomvocê me ama.logo você é bom. Logo eu amo você.

Eu sou mauvocê me amalogo você é mau.

Page 14: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Mamãe me amaporque ela é boa

Eu sou mau, pois acho que ela é máLogo se eu sou bom

ela é boae me amaporque eu sou bompor saber que ela é boa.

Eu sou maupois duvido que ela me castigue por duvidar

de que me ama quando me castigapor duvidar de que me ama.

Diz mamãeque deve ser por culpa suase eu duvido que me ame.

Ela se acha máquando não percebo que me ama quando

se acha má quando não perceboque me ama.

Mamãe achaque é por culpa suaque posso ser cruel ao pontode duvidar de que me amaquando me faz sentir que sou cruelquando penso que tenta me fazerachar que sou cruel.

Laços Ec) 2918 — 2

Page 15: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

E bom ser bondoso. É nau ser cruel.

E mau achar que mamãe é cruel comigo e portanto má.

Mamãe é cruel comigomas é cruel apenas para ser bondosapor eu ter achado que era cruelquando foi cruelpor ter me castigadopor eu ter sido cruel para com elapor pensar que ela era cruel para comigopor ter me castigado

por eu ter pensado que ala era cruelpor ter me castigado

por eu ter pensado...

Você é cruelpor me fazer achar que sou mau por pensar

que sou cruel por fazer você se achar cruelpor eu me achar mau por você ser tão cruel a ponto

[de pensarque não amo você, quando bem sabe que eu

[amo você.

Se você não sabe que eu amo você, algo de errado está[havendo

com você.

Page 16: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcio sofrepor acharque Lúcia acha que ele a faz sofrerporque (ele) sofrepor acharque ela acha que ele a faz sofrerpor fazê-la achar que é culpadade fazê-lo sofrerporque (ela) achaque ele a faz sofrerporque (ele) sofrepor acharque ela acha que ele a faz sofrerpelo fato de que

da capo sine fine

Page 17: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

2Era uma vez um menininho chamado de Lúcioquerendo ficar o tempo todinho com sua mãezinhatemendo que ela o deixasse sozinho

quando o menininho ficou maiorzinhoquis ficar longe de sua mãezinhaagora temendo que ela quisesseficar junto dele o tempo todinho

e ficando crescido Lúcio amou Lúciae queria estar com Lúcia o tempo todinhotemendo que Lúcia o deixasse sozinho

quando Lúcio cresceu ainda maisnão quis mais ficar todo tempo com Lúciaele tinha ficado com medode que ela quisesse ficar todo o tempo com ele ede que ela tivesse ficado com medode que ele não quisesse ficar todo o tempo com ela

Lúcio leva Lúcia a temer que ele a deixe porqueLúcio teme que Lúcia o deixe.

Page 18: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcio teme que Lúcia seja como a mãe deleLúcia teme que Lúcio seja como a mãe dela

Lúcio teme queLúcia ache que ele é como a mãe dela

e queLúcia tema que

Lúcio ache que ela é como a mãe deleLúcia teme que

Lúcio ache que ela é como a mãe delee que

Lúcio tema queLúcia ache que ele é como a mãe dela

Page 19: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcio quer devorar a mãe e ser devorado por elamais tarde, ele hesita entre querer devorá-lasem querer contudo ser devorado por elae não querer devorá-laquerendo contudo ser devorado por ela.

Mais tarde ainda, ele não quer devorá-lanem quer que ela o devore.

Lúcio acha que Lúcia o devora.

Lúcio é devoradopelo medo devorador deser devorado pelodesejo devorador de Lúcia

de que Lúcio devore Lúcia.

Page 20: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Ele acha que ela o devoracom a sua exigência de que a devore

Duas pessoas que inicialmentequeriam devorar e ser devoradasestão devorando e sendo devoradas

Ela é devorada por ele que é devorado pelodevorador desejo dela de ser devorada por ele

Ele é devorado por ela que é devoradapor não ser por ele devorada

Ele é devoradopelo medo de ser devorado

Ela é devoradapelo desejo de ser devorada

Seu pavor de ser devoradonasce de seu pavor de ser devorado pelo seu devorarSeu desejo de ser devoradanasce do seu pavor do desejo de devorar

Page 21: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

LÚCIA

Eu não me respeitoEu não posso respeitar a ninguém que me respeiteEu só posso respeitar alguém que não me respeite.

Respeito Lúcioporque ele não me respeita

Desprezo Luísporque ele não me despreza

Somente uma pessoa desprezívelpode respeitar alguém tão desprezível quanto eu

Não posso amar alguém a quem desprezo

Logo, como eu amo Lúcionão posso acreditar que ele me ame

Que provas me daria de que me ama?

Page 22: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcia se sente segura quando briga com Lúcioporque Lúcio não reage

Lúcia briga com Lúcioporque Lúcio não reage

Lúcia briga com Lúcioporque Lúcio não lhe mete medo

Lúcio não lhe mete medoporque não reagindo é inofensivo

Lúcia se sente segura diante de Lúciologo Lúcia o despreza

Lúcia se apega a Lúcioporque Lúcio não lhe mete medo

Lúcia despreza Lúcioporque se apega a eleporque ele não lhe mete medo

Lúcia é cônscia da própria inferioridadelogo Lúcia é superior a quem quer que a suponhasuperior a Lúcio.

Page 23: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcia Tenho medoLúcio Não tenhas medoLúcia Tenho medo de ter medo quando

me dizes que não tenha medo

medomedo de ter medosem medo de ter medo

sem medocom o medo de não ter medosem medo de não ter medo

Page 24: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcia Me aborreço por estares aborrecidoLúcio Não estou aborrecidoLúcia Me aborreço pelo fato de não te aborrecer o fato

de eu me aborrecer por estares aborrecidoLúcio Me aborreço pelo fato de que te aborreças pelo fato

de que me aborreço pelo fato de que te aborreçaspelo fato de eu estar aborrecidoquando na verdade não estou aborrecido.

Lúcia Estás me julgando malLúcio Não estou te julgando malLúcia Estás me julgando mal quando pensas

que me julgas mal.

Lúcio Desculpa-meLúcia NãoLúcio Nunca te desculparei por não me desculpares

Page 25: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcia Tu me achas idiotaLúcio Não te acho idiotaLúcia Sou idiota quando acho que tu achas

que sou idiota quando na verdade não o achas:ou então estás mentindo.De qualquer forma sou uma idiota:quando acho que sou uma idiota, e sou uma idiotaquando acho que sou uma idiota, e não sou umaidiota quando acho que tu achas que sou uma idiotaquando na verdade não o achas.

Lúcia Sou ridículaLúcio Não, não és ridículaLúcia Sou ridícula por me achar ridícula quando

na verdade não o sou.Com certeza

estás rindo de mimpor achar que estás rindo de mim

quando na verdade não estás rindo de mim.

Page 26: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Até onde ser inteligente para ser idiota?Os outros disseram que ela era idiota. Então ela se fezde idiota para não ver até onde os outroseram idiotas por achar que ela era idiota,pois não ficava bem achar que eles eram idiotas.Ela preferiu ser idiota e boaa ser inteligente e má.

É mau ser idiota: ela tem que ser inteligentepara ser idiota e boa.E mau ser idiota, pois assim demonstrariaaté onde os outros foram idiotasquando lhe mostraram o quanto era idiota.

Page 27: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Me chateia o fato de que tenhas medode me chatear pelo fato de te interessares por mim.

Quando tentas me interessarnem calculas o quanto me chateias.

Tendo medo de chateartentas ser interessante não sendo interessadae só te interessas em não não seres chata.

Não estás Interessada por mim.Só estás interessada em que me interesse por ti.

Tu finges que te sentes chateadaporque eu não estou interessado

em que te amedrontesde que não me amedronte

de que não te interesses por mim.

Page 28: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcio O teu erro é teres inveja de mimLúcia O teu erro é pensar que tenho inveja de ti

Lúcio Tu nunca reconheces as minhas qualidades.Nem suportas a idéia de reconhecê-las.

Lúcia É aí que estás errado. Não podes suportara idéia de que não possam me importar.

Lúcio Tu és tal qual a minha mãe.Lúcia Tu me tratas exatamente como a ela.Lúcio Pois é só não agires como ela.Lúcia Tu a odeias e por isso me tentas destruir.

Lúcio Não podes parar com as tuas projeções. Tué que és a frígida.

Lúcia Eu não o era quando te encontrei.

Lúcio Vê lá se não cospes em tua vagina paracuspir por tabela em meu pênis

Lúcia Quando desces a tal nível sinto que tudo está[perdido

Lúcio Já é um ponto de partida. Pela primeira vezadmites algum sentimento de inadequação.

Lúcia Espero que possamos pelo menos ser amigosLúcio Claro. Tenho sido sempre teu amigo.

Page 29: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Sou feliz porque és felizsou infeliz porque és infeliz

Lúcio é infeliz porque Lúcia é infelizLucia é infeliz porque Lúcio é infeliz

porque Lúcia é infeliz porque Lúcio é infelizporque Lúcia é infeliz

Lúcia se sente culpada de ser infelizse Lúcio é infeliz porque Lúcia é infeliz...

Lúcio se sente culpado porque Lúcia é infelizpois acha que deveria fazê-la feliz

Lúcia se sente culpadaporque Lúcio se sente culpado

porque Lúcia se sente culpadaporque Lúcio se sente culpado

Laços Ec) 2918 — 3

Page 30: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Ele não pode ser felizhavendo no mundo tanto sofrimento

Ela não pode ser feliznão sendo ele feliz

Ela deseja ser felizEle não se sente com direito a ser feliz

Ela quer vê-lo feliz Ele quer vê-la feliz

Ele se sente culpado se ele é felize sente-se culpado se ela não é feliz

Ela quer os dois felizes Ele quer ela feliz

Logo nenhum deles é feliz

Ele a acusa de ser uma egoístapor tentar fazê-lo feliza fim de que ela possa ser feliz

Ela o acusa de ser um egoístapor só pensar em si e mais ninguém

Ele acha que pensa em todo mundo

Ela acha que antes de tudo pensa neleporque é a ele que ela ama

Page 31: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Como poderia ela ser felizse o homem a quem ama é infeliz

Para ele é como se ela o chantageassequando o faz sentir-se assim culpadode ser ela infeliz porque é ele infeliz

Para ela é como se ele procurasse destruir o seu amorquando a acusa de ser egoístaestando o mal, na verdade, em não poderser ela egoísta o bastante para ser felizse o homem a quem ama é infeliz

Ela sente quealgo de errado deve haver com elapara amar alguém cruel a ponto dedestruir o amor que tem por elee sentir-se assim com culpa em demasia para ser felize não ser feliz por culpa de sentir a culpa

Ele se sente infeliz por ser culpadode ser feliz quando os outros não o sãoe por ter cometido o erro de casar-se com alguémque só pode pensar em ser feliz.

Page 32: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Agora ela começou a bebera beber para criar corageme cada vez é menor a sua coragem

quanto mais ela bebemaior o seu medo de ser escrava da bebida

quanto mais ela bebeumenor o seu medo de estar bêbada

maior o medo de estar bêbada quando não bebeumenor o medo quando já bebeumaior o medo quando não bebeu

quanto mais ela se auto-destróimaior o medo de que ele venha a destruí-Ia

quanto maior o medo de vir a destruí-lomais a si própria ela destrói

Page 33: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcio Tu és um pé no sacoe para defender meu saco deste péque tu és, aperto as pernas e eu própriosou um pé no saco

tu és

Lúcia E a mim a cabeça me dói quando me esforçopor evitar que me faças doera cabeça.

Page 34: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Narciso enamorou-se da própria imagem ao tomá-lapela imagem de outro.

Lúcio está enamorado da imagem que Lúcia faz de Lúciotomando essa imagem pela própria.Lúcia não deve morrer para que Lúcioa si mesmo não se perda.Lúcio tem ciúmes de que a imagem de um outropossa refletir-se no espelho de Lúcia.

Lúcia é um espelho deformante de si própria.Lúcia precisa deformar-se como formade aparecer indeformada aos próprios olhos.

Para não se deformar ela quer que ele deforme a imagemdeformada de Lúcia no espelho deformado de LúcioEla espera que se ele deformar a sua deformaçãoela veja indeformada a sua imagemsem ter que ela mesma deformá-la.

Page 35: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Não consegui nunca aquilo que queria.Só tenho conseguido aquilo que não quero.Aquilo que eu quero

não consigo nunca.

Para conseguir, portanto, aquilo que eu queronão devo querer aquilo que eu quero

pois só consigo aquilo que não quero

só consigo aquilo que não queroaquilo que consigo é o que não quero

Não o consigoporque o quero

Só o consigoporque não o quero

Eu quero aquilo que não consigoporque

o que não consigo é o que quero

Eu não quero aquilo que consigoporque

o que consigo é aquilo que não quero

Não consigo nunca aquilo que eu queroNão quero nunca aquilo que consigo

Page 36: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Eu consigo aquilo que mereçoEu mereço aquilo que consigo

Eu o consegui,logo o mereço

Eu o mereçoporque o consegui

Tu não o conseguiste,logo não o mereces

Tu não o merecesporque não o conseguiste

Tu não o conseguisteporque não o mereces

Tu não o mereces,logo não o conseguiste.

Page 37: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Eu não tenho direito àquilo que tenhologo tudo o que tenho foi roubado.

Se eu consegui o que agora tenhoe se não tenho direito ao que tenho

devo tê-lo roubado certamente.

Eu não tenho direito àquilo que tenhoporque aquilo que tenho foi roubado.

Eu roubei aquilo que tenhologo não tenho direito aquilo que tenho.

Eu não tenho direito àquilo que tenhologo devo tê-lo roubado certamente.

Ou então alguém que tinha direito aquilo que tenhome deu por um grande favor aquilo que tenhoe assim é justo que eu deva agradecer por tudo o

[ que tenhoporque tudo aquilo que tenho

a mim me foi dado e não roubado por mim.

Page 38: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]
Page 39: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]
Page 40: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Laços positivos e laços negativos.

Negativo:Não posso vencer.

Tudo que faço é errado.Positivo:

Não posso perder.Tudo que faço é direito.

Eu o faço porque está direito.Está direito porque eu o faço.

Page 41: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

QueroConsigoPortanto sou bom

QueroNão consigoPortanto sou mau

Sou mauporque não consegui

Sou mauporque quis o que não consegui

O que devo fazer é tentarconseguir o que queroquerer o que consigo

e não conseguir o que não quero

Page 42: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

bom conseguir querer podermau não conseguir não querer não poder

consigo aquilo que queronão consigo aquilo que queroconsigo aquilo que não queronão consigo aquilo que não quero

de um modo geral não consigo aquilo que querologo

para conseguir aquilo que querofinjo que não quero aquilo que quero

sou mau porque quero aquilo que não consigonão tenho conseguido aquilo que quero

logo sou mau por querer aquilo que quero

se sou mau por querer aquilo que queronão serei menos mau por conseguir aquilo que quero

sou mau porque me acho mau emau porque me acho bom

pois é verdade que quanto mais má a gente émenos má a gente se acha

Algo de errado deve haver comigojá que não acho que algo de errado deve haver comigo

Page 43: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Tudo aquilo que a gente tema gente tem porque foi dado a gente

logo a gente tem direito a tertudo aquilo que a gente tem.

Quanto mais a gente temmelhor a gente é

pois quanto mais a gente temmais a gente foi recompensada

porque a gente é boa.Logo quanto mais muito mais eu faço

melhor muito melhor eu sou

quanto mais eu faço

mais eu tenho

quanto melhor eu sou

mais eu sou

Page 44: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Tudo o que tenho me foi dado e a mim pertence

Se tenho o que tenho é que decerto me foi dadoLogo o que tenho a mim pertence.

Não o tenhomas posso conseguir o que não tenhoe assim

já que me foi dada a capacidade de obtero que não tenho

que não tenho me pertence.

Não me pertencemas a mim foi dado e eu o tenhosou grato pois pelo que tenho ou

que a mim foi dado.

Ser grato contudo me irritapois se o que tenho me foi dado é que nem sempreme pertenceulogo se não me sinto grato

é que me não foi dadologo eternamente (passado, presente, futuro)me pertence.

Page 45: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

[Se me pertence Moderatonão é parte de mim .....1

[Se não me pertencenão é parte de mim .....2

Se não é parte de mimnão me pertence ] .....3

Se é parte de mimme pertence ] .....4

Mas,se me pertence

não é parte de mim .....1

e se não é parte de mimnão me pertence .....3

Portanto,se,se não é parte de mim

não me pertence .....3

se,se não me pertence

não é parte de mim .....2

se,se me pertence

não é parte de mim .....1

assim sendo,se não é parte de mim

me pertence .....5

Laços Ec) 2918 — 4

Page 46: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Se não é parte de mim me pertence .....5 poco a poço

Se me pertence não é parte de mim .....1 accelerando

al fine

Se me pertence não é parte de mim .....1

Se não é parte de mimnão me pertence .....3

se não me pertencenão é parte de mim .....2

se não é parte de mimme pertence .....5

Se, se me pertence não é parte de mim .....1se não é parte de mim

não me pertence .....3logo,

Se me pertence não me pertence .....6Se, se me pertence não pertence .....6

se ( 1 2 3 4/ 1 3/ 3 2 1 5/ 5 1 1 3 2 5 1 3 )

então,se não me pertence

não é parte de mim .....2e se não é parte de mim

me pertence .....5se me pertence

não é parte de mim, .....1se, se não é parte de mim

não me pertence .....3se não é parte de mim

me pertence .....5então,

Se me pertenceé parte de mim .....7

Page 47: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

se, se me pertenceé parte de mim .....7

se (1 2 3 4 1 3 3 2 1 5 5 1 1 3 2 5 1 3 6 6 2 5 1 3 5)se é parte de mim, me pertence .....4se me pertence não é parte de mim .....1

logo se não é parte de mim não me pertence .....3conseqüentemente,

Se não me pertence é parte de mim .....8Se não me pertence é parte de mim .....8se (1.....5 7 7 4 1 3)

se é parte de mimme pertence .....4se me pertence não me pertence .....6se não me pertence não é parte de mim .....2se não é parte de mim

me pertence .....5Então,

Se não me pertence me pertence .....9Se não me pertence me pertence .....9se (1.....3884625)se me pertence não me pertence .....6se não me pertencenão é parte de mim .....2se não é parte de mim me pertence .....5se me pertence é parte de mim .....7

Então, se é parte de mim não é parte de mim] .....10 (cf. uma alteração

en-armônica)

se não e parte de mim me pertence .....5se me pertence

é parte de mim .....7Se é parte de mim não me pertence .....11Se não me pertence

não é parte de mim .....2se não é parte de mim

me pertence

Page 48: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

se me pertence não me pertencese não me pertence me pertence

se me pertence não é parte de mimse não é parte de mim não me pertence se não me pertence

é parte de mimse é parte de mim não me pertencese não me pertence não é parte de mim

logo, se não é parte de mim é parte de mimse não é parte de mim não me pertencese não me pertence não é parte de mimse não é parte de mim é parte de mimse é parte de mim

não me pertencese não me pertence

é parte de mimse é parte de mim me pertence

se me pertencenão é parte de mim

portanto, se não é parte de mimme pertence

se me pertence me pertence

Page 49: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

se me pertence me pertencese me pertence não me pertencese não me pertence me pertencese me pertence me pertencese me pertence não me pertencese não me pertence

é parte de mimse é parte de mim me pertencese me pertence não é parte de mimse não é parte de mim é parte de mimse é parte de mim

não é parte de mimse não é parte de mimé parte de mim

se é parte de mim não é parte de mimse não é parte de mim se é parte de mimse é parte de mim se é parte de mimse é parte de mim se não é parte de mimse não é parte de mim se não é parte de mimé parte de mim se não é parte de mimse não é parte de mim é parte de mimse é parte de mim não é parte de mimse não é parte de mim é parte de mimse é parte de mimse não é parte de mimse é parte de mim

Page 50: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

se não é parte de mimse é parte de mimse não é parte de mimse é parte de mimse não é parte de mim é parte de mimse não é parte de mim não é parte de mimnão é parte de mim se é parte de mimse é parte de mim é parte de mimé parte de mim se não é parte de mimse não é parte de mim não é parte de mimse não é parte de mim é parte de mimé parte de mim se é parte de mimse não é parte de mim não é parte de mimnão é parte de mim se não é parte de mimse é parte de mim é parte de mimse é parte de mim é parte de mimeu o souse é parte de mimse não é parte de mim, eu o sou, se não o sou,eu o sou, se eu o sou, não o sou

Page 51: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Ela deseja que ele a desejeEle deseja que ela o deseje

Para conseguir que ele a desejeela finge que o deseja

Para conseguir que ela o desejeele finge que a deseja

Lúcio desejao desejo de Lúcia por Lúcio Lúcia deseja

daí porque o desejo de Lúcio por LúciaLúcio diz a Lúcia daí porque

que Lúcio deseja Lúcia Lúcia diz a Lúcioque Lúcia deseja Lúcio

um contrato perfeito

Page 52: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcia e Lúcio desejam ser desejados.

Lúcia deseja Lúcio porque ele deseja ser desejadoLúcio deseja Lúcia porque ela deseja ser desejada.

Lúcia deseja que Lúcio deseje*que Lúcia deseje

o desejo que Lúcio tem do desejo de Lúciapelo desejo de Lúcio pelo desejo de Lúcia pelo

desejo de Lúcio que Lúcia desejeque Lúcio deseje

que Lúcia desejeo desejo de Lúcio pelo desejo de Lúcia

pelo desejo que tem Lúcio de queLúcia deseje que Lúcio desej *

* repetir sine fine

Page 53: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Ela não consegue que ele dê a ela o que deseja deleela acha por isso que ele é mesquinho

Ela não consegue dar a ele o que dela ele desejaela acha por isso que ele é insaciável

Ele não consegue que ela dê a ele o que deseja delaele acha por isso que ela é mesquinha

eele não consegue dar a ela o que dele ela deseja

ele acha por isso que ela é insaciável

Page 54: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcia acha que Lúcio é mesquinho e insaciávelLúcio acha que Lúcia é mesquinha e insaciávelquanto mais Lúcia acha que Lúcio é mesquinhotanto mais Lúcio acha que Lúcia é mesquinhaquanto mais Lúcia acha que Lúcio é insaciáveltanto mais Lúcio acha que Lúcia é insaciável

quanto mais mesquinho Lúcia acha Lúciotanto mais mesquinho Lúcia acha Lúcio

tanto mais insaciável Lúcio acha Lúciase Lúcio acha que Lúcia é insaciável

por Lúcia achar Lúcio mesquinhoLúcia acha que Lúcio é mesquinho

por Lúcio achar Lúcia insaciávelse Lúcio acha que Lúcia é mesquinha

por Lúcia achar Lúcio insaciávelLúcia acha que Lúcio é insaciável

por Lúcio achar Lúcia mesquinha

Page 55: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcioacha Lúcia

mesquinha insaciável

porque porque

mesquinho insaciável

Lúcia achaLúcio

Lúcio acha que Lúcia

é

insaciável mesquinha

porque

Lúcia acha que Lúcio

é

insaciável mesquinho

Page 56: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Quanto maisLúcio acha Lúcia mesquinha por achar Lúcio insaciável

tanto maisLúcia acha Lúcio mesquinho

por achar Lúcia mesquinhapor Lúcia achar Lúcio insaciável

por Lúcio achar Lúcia mesquinha

Quanto mais Lúcia acha Lúcio mesquinhopor achar Lúcia mesquinha

por Lúcia achar Lúcio insaciávelpor Lúcio achar Lúcia mesquinha

tanto mais Lúcio acha Lúcia mesquinhapor Lúcia achar

Lúcio mesquinhopor Lúcio achar Lúcia mesquinhapor Lúcia achar Lúcio insaciávelpor Lúcio achar Lúcia mesquinha

por Lúcia não dar a Lúcio o que Lúcio deseja de Lúcia

Ele deseja dela que seja mais generosaem sua opinião sobre ele,

quer dizer, que não o ache mesquinhopor ele achá-la mesquinha

por ela achá-lo insaciávelpor ele achá-la mesquinha

por ela achá-lo mesquinhopor ele achá-la mesquinhapor ela achá-lo insaciávelpor ele achá-la mesquinha

Page 57: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Ela achaque ele está querendo demais (insaciável)quando espera que elanão ache que ele está querendo demais (insaciável)quando espera que elanão o ache nem mesquinho nem insaciável

quando acha que ela é mesquinhaquando acha que ele é insaciável

quando acha que ela é mesquinhaquando acha que ele é mesquinhoquando acha que ela é mesquinhaquando acha que ele é insaciávelquando acha que ela é insaciável

quando na verdade tudo o que ela quer dele é queele seja mais generoso em sua opinião sobre ela

quer dizer, que não a considere mesquinhapor ela considerá-lo mesquinhopor ele considerá-la insaciávelpor ela considerá-lo mesquinho

por ela considerá-la mesquinhapor ela considerá-lo mesquinhopor ele considerá-la insaciávelpor ela considerá-lo mesquinho

por ele desejar que seja mais generosa em sua opinião[sobre ele

quer dizer,

Page 58: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

3Se eu não sei que não sei

penso que seiSe eu não sei que sei

penso que não sei

Page 59: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Há qualquer coisa que não seie que pelo visto deveria saber.

Eu não sei o que é isso que não seie que pelo visto deveria saber.

e me sinto como se fosse um idiotaquando dou mostras de não saber o que é isso

nem de não saber o que é que eu não sei.Finjo então saber o que não sei.

E assim fico com os nervos rebentadosjá que não sei o que devo fingir que estou sabendo.

Finjo então que de tudo estou sabendo.

Acho que sabes o que eu pelo visto deveria sabere contudo não me podes dizer do que se trataporque não sabes que eu não sei do que se trata.

É possível que saibas aquilo que não sei, mas que não saibasque não sei

e que não posso dizer-te que não sei.Terás portanto que dizer-me tudo.

Page 60: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcio pode ver que está vendoaquilo que Lúcia não pode ver

e pode ver que Lúcia não pode ver queLúcia não pode ver aquilo

Lúcio pode ver que está vendoaquilo que Lúcia não pode ver

mas Lúcio não pode verque Lúcia não pode ver

que Lúcia não pode ver aquilo

Lúcio tenta levar Lúvia a verque Lúcio pode vero que Lúcia não pode ver

mas Lúcio não pode verque Lúcia não pode ver que Lúcia não pode ver aquilo

Lúcio vêque qualquer coisa há que Lúcia não pode ver

e Lúcio vêque Lúcia não pode ver que não pode ver aquilo

Embora Lúcio possa ver que Lúcia não pode ver que não[pode ver aquilo

ele não pode ver que também ele não o pode ver

Laços Ec) 2918 — 5

Page 61: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcio pode ver1. que qualquer coisa há que Lúcia não pode ver2. e que ela pode ver que qualquer coisa há que ela não pode ver3. e que todavia ela não pode ver o que é que não pode ver

(Lúcio pode ver que)4. ela pode ver que Lúcio pode ver qualquer coisa

que ela pode ver que não pode vermas não pode ver o que é que não pode ver

Page 62: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcio pensaque não sabe

que ele pensaque Lúcia pensaque ele não sabe

Mas Lúcia pensa que Lúcio sabe

Lúcia não sabe portantoque ela não sabe

que Lúcio não sabeque Lúcia pensaque Lúcio sabe

e Lúcio não sabe que ele não sabeque Lúcia não sabe que ela não sabeque Lúcio não sabe

que Lúcia pensa que Lúcio sabeque Lúcio pensa que ele não sabe

Page 63: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcio não sabe que sabe e não sabeque Lúcia não sabe.

Lúcia não sabe que não sabee não sabe

que Lúcio não sabe que ele sabee que ele não sabe que Lúcia não sabe.

E assim tudo corre às maravilhas para os dois.

Page 64: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcio pensa queo que ele sabe que Lúcia não sabe

é que não há coisa alguma por saberacerca daquilo que Lúcia procura saber,mas isto é a própria Lúcia que deve descobrir.

Lúcia pensa queLúcio sabe queLúcia pensa que Lúcia não sabe.

Lúcio não sabeque qualquer coisa há por saberque Lúcia pensa

que Lúcia não sabee que Lúcio sabe.

Daí, Lúcio convence Lúcia de que nada há por saber.

Page 65: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúciosabe que ele não sabe

e percebe que Lúcianão sabe que ela não sabe.

Quando diz a Lúcioo que Lúcio sabe que ele não sabe

Lúcia ajuda Lúcio a ajudar Lúciaa saber que ela sabeo que ela não sabe que ela sabe.

Mesmo assim Lúciaacha

que ela sabe que ela não sabee que Lúcio sabe

que ela sabe que ela não sabee que Lúcio sabe

o que Lúcia não sabe.

Page 66: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcia achaque qualquer coisa há que ela sabeque ela não sabe que o sabe.

Ela acha que Lúcio não o sabeque Lúcio sabe que ele não o sabe.

Lúcia espera que por meio de LúcioLúcia venha a saberque ela sabeo que Lúcio sabe que ele não sabe —

mas só se Lúcio puder perceberque Lúcia sabeque Lúcio sabe que Lúcio não sabee que Lúcia não sabe que ela sabe.

Page 67: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcio sabe que ele não sabeLúcia acha que ela sabe o que Lúcio não sabe, masela não sabe que ele não o sabe.Lúcio não sabe

que Lúcia não sabe que ele não sabe,e acha que ela sabe o que ele sabe que ele não sabe.

Lúcio crê em Lúcia.Lúcio não sabe agora que ele não sabe.Um final feliz.

Lúcio acha que Lúcio vê o que Lúcio não vê*e que Lúcia vê o que Lúcia não vê.

Lúcia crê em Lúcio.Agora ela acha que vê o que Lúcio acha que Lúcio vê

e que Lúcio também o vê.É provável que por ora os dois estejam totalmente errados.

• Existe aqui algo de ambíguo. Lúcio acha que está vendo miragens;estará ou não? Lúcio acha que não está vendo miragens.Estará ou não? Melhor examinar a coisa pelos dois lados.

Page 68: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Qualquer coisa há que Lúcio não vê.Lúcia acha que Lúcio não o vê.Lúcio acha que o vê e que Lúcia não o vê.E Lúcia por sua vez não vê o que

Lúcia acha que Lúcio vê.

Lúcio diz a Lúciao que Lúcio acha que Lúcia não vê.

Lúcia se apercebede que

se Lúcio achaque Lúcia não vê aquiloque Lúcia acha que vê,

Lúcio não vêo que Lúcia achava

que Lúcio via.

Page 69: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcia achaque Lúcio acha

que algo existe que Lúcia não vê.

Lucio achaque Lúcia o vê

mas Lúcio não vêque Lúcia achaque Lúcio achaque Lúcia não vê.

Page 70: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcia acha que não pode ver o que ela acha que Lúcio podever e que o próprio Lúcio acha que

Lúcia não o vê.

Lúcio vê que Lúcia vêque ela acha que ela não vê,

e que ela achaque ele acha

que ela não

Mas Lúcio não pode ver o que Lúcia não pode verrezão por que ela acha que ela não pode ver o queLúcio acha que ela pode ver,

e acha que ele acha que ela não pode.

Por exemplo:

Lúcia achaque Lúcio acha que Lúcia é idiota.

Lúcio não acha que Lúcia é idiota,mas não pode ver porque

Lúcia acha que Lúcio acha que Lúcia é idiotaquando Lúcio não acha.

Lúcia também não, só que para ela Lúcio está mentindo.

Page 71: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcio vêque Lúcia não pode ver que Lúcia não pode ver

e queLúcia não pode ver

que Lúcio pode ver ever que ele vê

o que Lúcia não pode ver que ela não pode ver.Lúcio tenta levar Lúcia

a perceber que qualquer coisa deve haverque ela não pode ver que ela não pode ver.

Lúcia acha que Lúcia o vêe pode ver que Lúcio acha

que Lúcia acha que ela o vêmas que Lúcio acha

que Lúcia não pode ver que ela não pode ver.Lúcia acha

que Lúcio não pode ver que ele não pode vero que ele acha que pode ver

e que ele não pode ver (portanto)que ela vê o que ele acha que vê

mas não vê.

Page 72: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcio acha que sabeLúcia acha que Lúcia não sabe Lúcio diz a Lúcia

o que Lúcio sabee sabe que sabee sabe que Lúcia não sabee sabe que Lúcia por vezes

acha que sabequando de fato não sabe.

As vezes Lúcio percebeque Lúcia idealiza Lúcioquando o acha onisciente (onipotente)e então ele lembra a Lúciaque é somente um ser humanoque não sabe de tudo nem tudo pode fazer.

Lúcio diz que Lúciaeleva Lúcioà onipotência para que ela mesma permaneça impotente

[para tornar Lúcioimpotente para torná-la potente paradestruir a potênciade Lúcio que Lúcia inveja...

Lúcia acha que Lúcio está errado.

Page 73: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcio achaque ele não sabe o que (ele pode ver)

Lúcia acha que Lúcio sabe,e que Lúcia sabe

o que Lúcio pensa que Lúcio sabeque ele acha

que ele não sabe.

Lúcio diz a Lúcia:"Tu achas que eu o sei,

mas não o sei".Lúcia acha que ele sabe, porém se recusa a dizer-lhe

[o que sabe.

Page 74: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcio sabe que não sabemas não sabe que Lúcia não sabe

que ela não sabe que ele sabe que ele não sabe.

Lúcio acha que

Lúcio sabe que Lúcio não sabe

sabe que Lúcia sabe

sabe que Lúcia sabe que ela sabe

sabe que Lúcia acha que Lúcio sabe

sabe que Lúcia acha

que Lúcio não sabe que Lúcio sabe

é que Lúcia percebe que é isso o que ele achamas que ela acha que ele está em erro.

Lúcio está vendo que Lúcia não sabeque Lúcio não sabe o queLúcia achaque Lúcio sabe.

Mas Lúcio não pode verporque Lúcia não sabeque Lúcio não sabeo que Lúcia achaque ele sabe.

Page 75: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcio descobre que sabeque Lúcia não sabe

que Lúcio sabeque ele não sabe

o que ela achaque ele sabe

sem que seja contudo o que ela acha que ele sabe.

Lúcio percebe ainda que a própria Lúcia sabe o que Lúciaacha que Lúcio sabe, sem que Lúcia percebaque ela não sabe.

Lúcio está vendo queLúcia sabe

o que Lúcia achaque Lúcio sabe

e que Lúcia não sabeque ela sabee Lúcio sabe que ele não sabe.

Lúcio não pode dizer a Lúciado que se trata

pois embora ele possa ver que Lúcia sabe do que se trataele próprio não sabe do que se trata.

Page 76: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcia não sabeque Lúcio não sabe o que x vem a ser

e que tudo o que Lúcio lhe pode dizeré que algo há, ele não sabe o quê,

algo há que ele não sabe.

Algo há que Lúcio não pode ver.Ele sabe que algo há que não pode vermas não sabe o que é que não pode ver.E contudo Lúcio pode ver que Lúcia pode ver

que algo há que Lúcio não pode ver.

Lúcio não sabeo que é que não sabe

mas Lúcio achaque Lúcia sabe seja o que for desse algo que ele não

[sabe.

Laços Ec) 2918 — 6 81

Page 77: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcio não pode dizer a Lúcia o que éque ele quer que Lúcia lhe diga.Lúcia por sua vez não pode dizê-lopois embora Lúcia saiba o que x vem a serLúcia não sabe

que Lúcio não sabe o que x vem a ser.

Lúcio pode verque Lúcia sabe que elepercebe que elanão sabe que ela sabe o que x vem a ser.Lúcia só pode descobrir que ela o sabese perceber que Lúcio não o sabe.

Lúcia contudonão pode ver o que é

que Lúcio não sabe.Se o visse teria satisfação em dizê-lo.

Page 78: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcio pode ver que está a vero que ele pode ver que Lúcia não pode ver

e que ele pode verque Lúcia não pode ver que ela não pode ver

mas ele não pode ver PORQUELúcia não pode ver que Lúcia não pode ver.

Lúciapode ver que Lúcio não a compreende

e pode ver que ele não pode ver que não a compreende:e pode ver

que ele não pode ver que ele não pode verque ela vê que ele não pode ver que ele não pode ver.

Por que Lúcia continua então a sentir-se perplexa?Lúcia não pode compreender porque ele não pode verque ela vê que ele não pode ver que ele não compreende.

Page 79: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Lúcia pode ver que Lúcio não pode vere que pode ver que ele não pode ver.

Lúcia pode ver PORQUELúcio não pode ver

mas Lúcia não pode ver PORQUELúcio não pode ver que ele não pode ver.

Lúcio "vê" que Lúcia está cegae que Lúcia não pode ver que está cega.

Lúcio percebe que tanto ele quanto Lúcia estão cegos.E quando um cego tem de guiar outro cegopouco importa que o guia saiba que é cego.

Lúcio não pode ver que ele não pode vere não pode ver

que Lúcia não pode ver que Lúcia não pode ver.E vice-versa.

Page 80: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

4Lúcio tem medo de Lúcia Lúcia tem medo de Lúcio

Lúcio tem mais medo de Lúcia Lúcia tem mais medo de Lúcioquando Lúcio acha quando Lúcia achaque Lúcia acha que Lúcio acha

que Lúcio tem medo de Lúcia que Lúcia tem medo de Lúcio

E já que Lúcio tem medode que Lúcia possa achar

que Lúcio tem medo delaLúcio passa a simular

que Lúcio não tem medo de Lúciapara que Lúcia tenha mais medo de Lúcio

e já que Lúcia tem medode que Lúcia possa achar

que Lúcia tem medo deleLúcia passa a simular

que Lúcia não tem medo de Lúcio

AssimLúcio tenta fazer com que Lúcia o tema ao ver

que Lúcio não a temee Lúcia procura fazer com que Lúcio a tema

ao ver que Lúcio não o teme

Page 81: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Quanto mais Lúcio tem medo de Lúciatanto mais Lúcio tem medo

de que Lúcia possa acharque Lúcio tem medo de Lúcia

Quanto mais Lúcia tem medo de Lúciotanto mais Lúcia tem medo

de que Lúcio possa acharque Lúcia tem medo de Lúcio

quanto mais Lúcio tem medo de Lúciatanto maior é o medo de Lúcio

de não ter medo de Lúciapois é muito perigoso deixar de ter medoquando se tem pela frente alguém tão perigoso

Lúcio tem medo porque Lúcia é perigosaLúcia parece perigosa porque Lúcio tem medo

quanto mais Lúcia tem medo de Lúciotanto maior é o medo de Lúcia

de não ter medo de Lúcio

Page 82: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Quanto mais Lúcio tem medo de não ter medomais medo ele tem de parecer que tem medo

quanto mais Lúcia tem medode não ter medo

maior é o medo de Lúcia

de parecer que tem medo

quanto maior é o medo de ambosmenor a aparência do medo de ambos

Lúcio tem medode não ter medo de Lúcia

e de parecer que tem medo de Lúciae de que Lúcia não tenha medo de Lúcio

Lúcia tem medode não ter medo de Lúcio

e de aparentar ter medo de Lúcioe de que Lúcio não tenha medo de Lúcia

Lúcio procura portanto criar medo em Lúciaaparentando ele mesmo sem medo

de que Lúcia pareça sem medo

e Lúcia procura criar medo em Lúcioaparentando ela mesma sem medo

de que Lúcio pareça sem medo

Page 83: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Quanto mais Lúcio aparenta sem medomais medo ele tem

de não ter medode parecer que tem medode que Lúcia não tenha medo

Quanto mais Lúcia aparenta sem medomais medo ela tem

de não ter medode parecer que tem medode que Lúcio não tenha medo

Quanto é assim que se dámais Lúcio amedronta Lúciapor parecer que não se amedronta

e mais Lúcia amedronta Lúciopor parecer que não se amedronta

Chegarão ambos a ter medode ter medo e criar medo

ao invés de ter medode não ter medoe de não criar medo?

Page 84: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Poderão Lúcio e Lúciano pavor de que nem um nem o outro estejam

[apavoradoschegar ao ponto de

apavorar-se por tanto um como o outro estarem[apavorados,

e, alguma vez, nãoapavorar-se por tanto um como o outro não

[estarem apavorados?

Page 85: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

5Tudo em tudoCada homem em todos os homenstodos os homens em cada homem

Todos os seres em cada serCada ser em todos os seres

Todos em cada umCada um em todos

Toda distinção é mente, pela frente, na mente, da menteSem distinção não há mente para distinguir

Page 86: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

A gente está dentrologo a gente está fora daquele dentro onde a gente esteveA gente se sente vaziaporque não há nada dentro da genteA gente trata de pôr dentro da gente

aquele dentro do foradentro do qual a gente já estevequando a gente trata de por a gentedentro daquilo de que a gente está fora:para devorar e ser devorado

para pôr o fora dentro e para estardentro do fora

Mas é pouco ainda. A gente trata de chegarao dentro daquele fora do qual a gente está dentro echegar ao dentro do fora. Mas a gente não chegadentro do fora pondo o fora pra dentropois —embora a gente esteja toda dentro do dentro do foraa gente está fora do próprio dentro da gentequando a gente entra no foraa gente permanece vazia porqueenquanto a gente está dentromesmo o dentro do fora está forae ainda não há nada dentro da genteNunca houve nada dentro da gentee nunca haverá nada dentro da gente

Page 87: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Estou fazendoaquilo que estou fazendoé o eu que está fazendoaquilo que o eu está fazendoé aquilo que estou fazendoo eu está fazendo que eu esteja fazendoestou sendo feito pelo que estou fazendofazendo-o

A gente tem medodo eu que tem medodo eu que tem medodo eu que tem medoA gente pode falar talvez de reflexos

Page 88: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Embora seres inumeráveis tenham sido levados ao Nirvanaser nenhum foi levado ao Nirvana

Antes de atravessar a porta a gente podenão estar consciente de que tem lá uma portaA gente pode pensar que tem lá uma porta por atravessare procurar a porta durante muito temposem a porta acharA gente pode achar a portae não abrir-se a portaSe ela se abre a gente pode atravessara porta e ao atravessar a portaa gente vê que a porta atravessadafoi pelo eu que foi atravessadaninguém atravessou a portanão havia porta para ser atravessadaninguém jamais encontrou uma portaninguém jamais percebeu que jamais houve porta

Page 89: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Dizem aqueles que sabem o que se disse dos dharmasque como numa jangadadeveriam ser largados os dharmas e como elestambém os não-dharmas

Quando escutam dizer que os dharmase além deles ainda os não-dharmasdeveriam ser largadosalguns acham que não há portaé isto o que eles achamnão há como saber se há porta excetoatravessando a porta

Page 90: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

um dedo indica a lua

Coloque-se a expressãoum dedo indica a lua entre parênteses(um dedo indica a lua)

A afirmação:"Um dedo indica a lua está entre parênteses"

é uma tentativa de dizer que tudo o que está entre parênteses( )

está para aquilo que não está entre parênteses,como um dedo para a lua

Coloque-se toda possível expressão entre parênteses,Coloque-se toda possível forma entre parêntesese coloque-se também os parênteses dentro de parênteses

Toda-expressão-e-toda-formaestá para o desprovido-de-expressão-e-formacomo um dedo para a luatoda-expressão-e-toda-formaIndica o desprovido-de-expressão-e-forma

a proposição"Toda forma indica o desprovido-de-forma"

é em si uma proposição formal

Page 91: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Não —o dedo está para a luacomo a forma está para a não forma

e simo dedo está para a luacomo

qualquer possível expressão, forma,proposição, inclusive esta, feitaou por fazer, inclusive parênteses,inclusive colchetes

está para

Page 92: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

Ah que dedo mais engraçadinhodeixe-me chupá-lo

Ah mas não é nada engraçadinhotire esse dedo daqui

Page 93: R D Laing - Laços [Coleção Psicanálise]

A afirmação indica o nada O dedo diz o nada