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Ana Isabel Fontes 1 SATISFAÇÃO PROFISSIONAL DOS ENFERMEIROS… QUE REALIDADE? SERVIÇO DE CUIDADOS INTENSIVOS VERSUS SERVIÇO DE MEDICINA Ana Isabel Costa Fontes Dissertação de Mestrado em Ciências de Enfermagem 2009

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Ana Isabel Fontes

1

SATISFAO PROFISSIONAL DOS ENFERMEIROS

QUE REALIDADE?

SERVIO DE CUIDADOS INTENSIVOS

VERSUS

SERVIO DE MEDICINA

Ana Isabel Costa Fontes

Dissertao de Mestrado em Cincias de Enfermagem

2009

Ana Isabel Fontes

2

ANA ISABEL COSTA FONTES

SATISFAO PROFISSIONAL DOS ENFERMEIROS

QUE REALIDADE?

SERVIO DE CUIDADOS INTENSIVOS VERSUS SERVIO DE

MEDICINA

Dissertao de Candidatura ao Grau de Mestre em Cincias da Enfermagem,

submetida ao Instituto de Cincias Biomdicas de Abel Salazar da

Universidade do Porto.

Orientador

Professora Doutora MANUELA MARTINS

Categoria

Professora Coordenadora

Afiliao

Escola Superior de Enfermagem do Porto

NOVEMBRO 2009

Ana Isabel Fontes

3

na cincia a descoberta s acontece quando o investigador fica

como que fascinado pela meta, absorto nela, no pensa em mais nada.

como se abanasse as grades do real esforando-se por ver mais

alm. E ento, a uma dada altura, milagrosamente, elas abrem-se. No

haveria arte, msica, poesia, se o artista no aceitasse viver at ao

mais profundo as suas emoes, tambm as dolorosas, tambm as

lancinantes. Dante no teria escrito a Divina Commedia e Shakespeare

as suas obras se tivessem medo dos sentimentos obscuros

FRANCESCO ALBERONI IN O OPTIMISMO (1995, p.114)

Ana Isabel Fontes

4

AGRADECIMENTOS

Expressamos o nosso reconhecimento e gratido Professora Doutora

Manuela Martins, que atravs da sua preciosa orientao cientfica, compreenso e

empenhamento tornou exequvel o desenvolvimento desta investigao.

Aos Enfermeiros dos Servios de Cuidados Intensivos e Servios de Medicina,

pela colaborao fornecida durante a colheita de dados, e cuja disponibilidade tornou

vivel a realizao deste estudo de investigao.

Aos meus pais e irmos pelo carinho, apoio e estmulo proporcionado ao longo

desta caminhada.

Aos meus amigos por toda a compreenso, incentivo e apoio que foi

imprescindivel para a concluso deste estudo.

A todos aqueles que contribuiram, de forma directa ou indirecta, com a

concretizao deste estudo, agradeo sincera e profundamente.

Ana Isabel Fontes

5

RESUMO

A satisfao profissional dos profissionais de sade tem enquadramento legal

prprio pela Lei de Bases da Sade segundo a qual refere que a satisfao

profissional (ou deve ser) um dos critrios de avaliao peridica do SNS, a par da

satisfao dos utentes, da qualidade dos cuidados e da eficiente utilizao dos

recursos numa ptica custo-benefcio. Autores tais como Graa (1999), Lopes (2001),

Vila e Rossi (2002), Martinez e Paraguay (2003), Martinez et al (2004), Gonalves

(2007), entre outros, influenciaram o repensar do problema e assim colocamos a

seguinte questo: Ser que h condies especficas no trabalho dos enfermeiros

que condicionam a sua satisfao profissional?

A dissertao est ordenada numa sequncia: enquadramento terico,

metodologia e apresentao e anlise dos dados. Este estudo tem por objectivo

compreender at que ponto os locais de trabalho influenciam a Satisfao Profissional

dos Enfermeiros, com a finalidade de contribuir para a progressiva melhoria da

satisfao profissional dos Enfermeiros, assim como para a qualidade dos cuidados.

Trata-se de um estudo comparativo, de natureza descritiva, transversal e com uma

componente analtica, tendencialmente um estudo de caso com abordagem

quantitativa. A varivel dependente a satisfao profissional, tendo esta sido

operacionalizada em sete dimenses: remunerao; condies de trabalho e sade;

segurana no emprego; relacionamento profissional/utente e equipa; autonomia/poder;

status e prestgio; realizao profissional, pessoal e desempenho organizacional.

A amostra foi constituda por 220 Enfermeiros, de dois servios de natureza

diferente (Servios de Cuidados Intensivos e Servios de Medicina), de dois hospitais

da regio Norte. O instrumento de colheita de dados foi um questionrio, adaptado de

Graa (1999).

Dos resultados salienta-se que os enfermeiros esto significativamente

satisfeitos com dimenso status e prestgio, realizao profissional/pessoal e

desempenho organizacional e Relacionamento profissional/utente e equipa, e

apresentam-se no satisfeitos no que concerne remunerao. Em termos de score

global, encontram-se nem satisfeitos, nem no satisfeitos, porem confirma-se uma

proximidade com a satisfao. A partir da anlise dos resultados obtidos atravs do

inqurito por questionrio, enunciam-se as concluses em relao satisfao

profissional dos enfermeiros estudados, onde se elaboram algumas propostas que de

alguma forma possam vir a contribuir para que os enfermeiros apresentem nveis mais

Ana Isabel Fontes

6

altos de satisfao, e consequentemente aumento da qualidade dos cuidados de

enfermagem.

Palavras-chave: Satisfao; Enfermeiros; Servios de Cuidados Intensivos;

Servios de Medicina; Trabalho

Ana Isabel Fontes

7

ABSTRACT

The professional satisfaction of Health staff has its own legal regulation: the

Lei de Bases da Sade, that specifies professional satisfaction as a point to consider

when SNS (National Health Service) evaluates its staff, just as much as patients

satisfaction, the health care services quality and existent resources administration.

Graa (1999), Lopes (2001), Vila e Rossi (2002), Martinez e Paraguay (2003),

Martinez et al (2004), Gonalves (2007), along other authors, reformulated the problem

and so we formulate the question: Are there any specific work conditions in nurses

job that make a difference in their professional satisfaction?

The present work obeys the following order: involving theories, methodology,

and data presentation and analysis. The aim of this study is to understand how far the

place where professional work is an influence in Nurses Professional Satisfaction

(Satisfao Profissional dos Enfermeiros), trying to be a positive contribution in its

improvement and better health services. Its a comparative, descriptive and transversal

study, which has a analytical side in it, a quantitative approach of a studied case. The

focal subject is professional satisfaction and it was studied according to seven different

views: Remuneration; Work and Health Conditions; Job Security; Professional

Relations with Patients and Work Team; Autonomy; Status and Prestige, Personal and

Professional Satisfaction and Organizational Achievement.

The sample was made of 220 Nurses from two different services: Intensive

Care Unit and Medicine Service, in two Hospitals from the North. The instrument used

to collect data was an adaptated questionnaire based on a Graas questionnaire

(1999).

In the results we can read that Nurses are satisfied in what concerns Status and

Prestige, Personal and Professional Satisfaction, Organizational Achievement and

Professional Relations with Patients and Work Team , but not satisfied in what

concerns Remuneration. In global terms they arent satisfied nor unsatisfied, but

we can note that they are closer to satisfied. When we analyze the results from the

questionnaire we come up with some conclusions concerning Nurses Professional

Satisfaction, where we present some proposals trying to contribute for higher levels of

satisfaction and consequent better nursing cares.

Key Words: Satisfaction; Nurses; Intensive Care Units; Medicine Service;

Work.

Ana Isabel Fontes

8

RSUM

La satisfaction professionnelle du personnel de sant a un encadrement lgal

propre dfini par la Lei de Bases da Sade , selon laquelle la satisfaction

professionnelle est (ou doit tre) un des critres d'valuation priodique du SNS

(Servio Nacional de Sade) autant que la satisfaction des patients, la qualit des

soins o l'efficace utilisation des ressources dans une perspective cots-avantages.

Des auteurs comme Graa (1999), Court (2001), Vila e Rossi (2002), Martinez e

Paraguay (2003), Martinez et al (2004), Gonalves (2007) entre autres, ont influenc le

repenser du problme et par suite on formule la question: Est-ce qu'il y a des

conditions spcifiques dans le travail des infirmiers qui conditionnent leur

satisfaction professionnel?

La dissertation obit l'ordre suivant : cadre thorique, mthodologie et

prsentation et analyse des donnes. Cette tude vise comprendre la mesure dans

laquelle le lieu de travail influence la satisfaction professionnelle des infirmiers, afin de

contribuer l'amlioration progressive de la satisfaction professionnelle des infirmiers

ainsi que pour la qualit des soins

Il s'agit d'une tude comparative, de nature descriptive, transversale et avec

une composante analytique, tendanciellement une tude de cas avec abordage

quantitatif. La variable dpendante est la satisfaction au travail, en ayant celle-ci

tudie dans sept dimensions: Rmunration; Conditions de travail et sant; Scurit

dans l'emploi; Relations professionnelles/Patient et quipe; Autonomie/pouvoir; Statut

et prestige; Ralisation Professionnelle, personnelle et performance organisationnelle.

L'chantillon a t constitu par 220 Infirmiers de deux services de nature diffrente

(Unit de Soins Intensifs et Services de Mdecine), de deux hpitaux de la rgion

Nord. L'instrument de rcolte de donnes a t un questionnaire, adapt de

Graa(1999).

De lanalyse des rsultats il se fait ressortir que les infirmiers sont

significativement satisfaits dans la dimension Statut et prestige, Ralisation

professionnel /personnel et performance organisationnel et relations professionnels

/patient et quipe, et se prsentent non satisfaits en ce qui concerne a la

rmunration. Globalement ils se trouvent ni satisfaits , ni non satisfaits , mais il

y a une proximit avec la satisfaction . En partant de l'analyse des rsultats

obtenus travers l'enqute par questionnaire, s'noncent les conclusions concernant a

la satisfaction professionnelle des infirmiers tudis, et s'laborent quelques

propositions qui puissent contribuer que les infirmiers prsentent des niveaux plus

Ana Isabel Fontes

9

levs de satisfaction, et par consquence amlioration de la qualit des soins

infirmiers

Mots-cls: Satisfaction ; Infirmiers ; Services de Soins Intensifs ; Services de

Mdecine ; Travail

Ana Isabel Fontes

10

NDICE

INTRODUO .......................................................................................................... 16

CAPTULO I SATISFAO E CONTEXTOS DE TRABALHO ........................................... 19

1. ENFERMAGEM: DAS CONCEPES S PRTICAS .............................................................. 20

2. A PROCURA DA QUALIDADE PELA SATISFAO ............................................................... 24

3. SATISFAO PROFISSIONAL ....................................................................................... 28

3.1. Factores que influenciam a Satisfao ....................................................... 33

3.2. Motivao e Modelos Tericos sobre a Satisfao ...................................... 54

3.3. Cultura Organizacional .............................................................................. 60

4. SERVIO DE CUIDADOS INTENSIVOS VERSUS SERVIO DE MEDICINA .................................... 63

CAPTULO II TRABALHO DE CAMPO ........................................................................ 66

1. DESENHO DA INVESTIGAO ..................................................................................... 66

2. FINALIDADE E OBJECTIVOS ........................................................................................ 69

3. QUESTES DE INVESTIGAO/ HIPOTESES .................................................................... 70

4. POPULAO EM ESTUDO E AMOSTRA .......................................................................... 72

5. VARIVEIS EM ESTUDO ............................................................................................ 77

6. INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS....................................................................... 83

6.1 Determinao da Confiabilidade .................................................................... 85

7. PROCEDIMENTO DE COLHEITA DE DADOS .................................................................... 90

8. CONSIDERAES TICAS ......................................................................................... 92

9. MODELO DE ANLISE DE DADOS ............................................................................... 93

CAPTULO III- A INFLUENCIA DO CONTEXTO NA SATISFAO ................................... 96

1. A SATISFAO NOS SERVIOS DE MEDICINA E SERVIOS DE CUIDADOS INTENSIVOS ................ 96

1.1. Anlise da Satisfao Profissional dos Enfermeiros .................................... 98

2. CONFRONTANDO COM OS CUIDADOS DE SAUDE PRIMRIOS ............................................ 109

3. O CONFRONTO DAS TEORIAS AO TRABALHO DE CAMPO .................................................. 112

3.1. Cuidados de Sade Primrios versus Hospital ......................................... 129

4. LIMITAES DO ESTUDO ........................................................................................ 133

CAPTULO IV- DAS CONCLUSES S PROPOSTAS .............................................................. 134

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................... 140

ANEXOS ................................................................................................................ 160

ANEXO 1 - PEDIDO DE AUTORIZAO DE UTILIZAO DO INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS

(EMLIA, 2007), E RESPOSTA DO OFCIO .......................................................................... 161

ANEXO 2- INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS (QUESTIONRIO) ....................................... 164

Ana Isabel Fontes

11

ANEXO 3 CARACTERSTICAS DA AMOSTRA ....................................................................... 172

ANEXO 4 ESTATSTICAS DESCRITIVAS RELATIVAS S DIMENSES E COMPONENTES DAS DISCREPNCIAS

(E-R) (DIMENSES E COMPONENTES ORDENADAS POR ORDEM CRESCENTE DA MDIA). ................. 174

ANEXO 5 ESTATSTICAS DESCRITIVAS RELATIVAS S EXPECTATIVAS ....................................... 178

ANEXO 6 ESTATSTICAS DESCRITIVAS RELATIVAS AOS RESULTADOS........................................ 181

ANEXO 7 GRAU DE ASSOCIAO ENTRE A SATISFAO PROFISSIONAL E OS ITENS/PROPOSIES DAS

DIMENSES ESTUDADAS. ............................................................................................... 184

ANEXO 8 COMPARAO DOS VALORES DA MDIA (DESVIO PADRO) DAS DIMENSES DA SATISFAO

PROFISSIONAL DE ACORDO COM AS VARIVEIS SCIO-DEMOGRFICAS .................................... 188

Ana Isabel Fontes

12

INDICE DE FIGURAS

Figura 1- Dimenses da Satisfao Profissional operacionalizada por Graa 1999 ..... 34

Figura 2- Desenho da Investigao ....................................................................................... 67

Figura 3-Populao em estudo e amostra ........................................................................... 73

Figura 4-Critrios de seleco................................................................................................ 74

Figura 5- Caractersticas associadas s intenes comportamentais (I) por parte dos

Enfermeiros inquiridos (n = 218). ................................................................................... 97

Figura 6- Grfico de perfil para a satisfao profissional dos Enfermeiros da amostra (n

= 220) ............................................................................................................................... 100

Ana Isabel Fontes

13

INDICE DE QUADROS

Quadro 1-Os factores higinicos e os factores motivacionais .......................................... 57

Quadro 2-Variveis que influenciam a satisfao em contexto de trabalho ................... 60

Quadro 3- Caracterizao do hospital1 e hospital2 ............................................................ 74

Quadro 4- Caractersticas scio-demograficas da amostra .............................................. 75

Quadro 5- Caracterizao da amostra (variveis intervenientes) .................................... 76

Quadro 6- Variveis scio-demograficas .............................................................................. 78

Quadro 7-Variveis intervenientes ........................................................................................ 78

Quadro 8- Varivel dependente ............................................................................................. 81

Quadro 9-Descrio das dimenses da SP (Graa, 1999) e distribuio das

proposies pelas dimenses no questionrio ............................................................ 82

Quadro 10- Varivel Independente ........................................................................................ 83

Quadro 11-Valores de Alpha de Cronbach (), para a consistncia interna .................. 86

Quadro 12- Estatsticas descritivas (dimenses ordenadas por ordem decrescente da

mdia) e consistncia interna (alpha de Cronbach), relativas ao total e dimenses

(Expectativas). .................................................................................................................. 87

Quadro 13- Estatsticas descritivas (dimenses ordenadas por ordem decrescente da

mdia) e consistncia interna (alpha de Cronbach), relativas ao total e dimenses

(Resultados). ..................................................................................................................... 88

Quadro 14- Estatsticas descritivas (dimenses ordenadas por ordem crescente da

mdia) e consistncia interna (alpha de Cronbach), relativas ao total e dimenses

(Discrepncias). ................................................................................................................ 89

Quadro 15- Escala de Satisfao profissional (de 0 a 10) ................................................. 94

Quadro 16- Escala de scores de Satisfao profissional (de 0 a 10) .............................. 95

Quadro 17- Distribuio de frequncias associadas s intenes comportamentais (II)

por parte dos Enfermeiros inquiridos. ........................................................................... 98

Quadro 18- Ordenao das dimenses relativas satisfao profissional (por ordem

decrescente do grau de satisfao). ............................................................................. 99

Quadro 19- Grau de associao entre os resultados (R) e as expectativas (E) segundo

as dimenses da satisfao profissional. ................................................................... 101

Quadro 20- Grau de associao entre a Satisfao profissional e as dimenses

estudadas. ....................................................................................................................... 102

Ana Isabel Fontes

14

Quadro 21- Grau de associao mais elevada entre a Satisfao profissional e os

itens/proposies das dimenses estudadas. ........................................................... 103

Quadro 22- Dimenses da Satisfao profissional e variveis Gnero, Escalo Etrio,

Habilitaes acadmicas ............................................................................................... 104

Quadro 23- Dimenses da Satisfao profissional e as variveis Horas de

trabalho/semana, Antiguidade profisso/carreira, Antiguidade no actual servio 105

Quadro 24- Satisfao profissional de acordo com a Natureza do Servio e Instituio.

........................................................................................................................................... 106

Quadro 25- Caracterizao da amostra: Fontes (2009) e Gonalves (2007) ............... 109

Quadro 26- Condies de Trabalho: Fontes (2009) e Gonalves (2007) ..................... 110

Quadro 27- Dimenses da Satisfao Profissional: Fontes (2009) e Gonalves (2007)

........................................................................................................................................... 111

Ana Isabel Fontes

15

CHAVE DE SIGLAS

(Alpha de Cronbach)

ANE (Associao Nacional de Enfermagem)

ARS (Administrao Regional de Sade)

CAP (Contrato Administrativo de Provimento)

CIT (Contrato Individual de Trabalho)

CS (Centro de Sade)

CSP (Cuidados de Sade Primrios)

CTC (Contrato a Termo Certo)

DGS (Direco regional de Sade)

DL (Decreto de Lei)

DR (Dirio da Republica)

Enf. (Enfermeiros)

ENSP (Escola Nacional de Sade Pblica)

EPE (Entidade Pblica Empresarial)

ICN (International Council of Nursing)

LBS (Lei de Bases da Sade)

Max (Valor mximo)

Md (Mediana)

Min (Valor mnimo)

n (Frequncia absoluta)

OE (Ordem dos Enfermeiros)

OMS (Organizao Mundial de Sade)

p (Significncia)

Prob. (Probabilidade)

QVT (Qualidade de Vida no Trabalho)

REPE (Regulamento do Exerccio Profissional dos Enfermeiros)

rs (Correlao de Spearman)

S. Med. (Servios de Medicina)

SCI (Servios de Cuidados Intensivos)

SEP (Sindicato dos Enfermeiros Portugueses)

SNS (Sistema Nacional de Sade)

SP (Satisfao Profissional)

SPSS (Statistical Package for the Social Sciences)

UCI (Unidade de Cuidados Intensivos)

Ana Isabel Fontes

16

INTRODUO

A realidade que o trabalho passou a ocupar um lugar central na vida da

pessoa e se esta no tiver prazer e satisfao ser infeliz. A Satisfao e o sentir-se

bem no trabalho e na profisso fazem parte integrante da vida, tanto mais quando se

trata de profisses no mbito das relaes humanas como a Enfermagem. A

satisfao profissional surge como um tema, que actualmente tem sido objecto de

diversos estudos (Graa, 1999; Lino, 1999; Martinez et al, 2004; Gonalves, 2007) na

medida que naturalmente aceite que uma pessoa satisfeita mais produtiva, e neste

sentido a prestao de cuidados de qualidade pressupe profissionais satisfeitos.

De acordo com Santos, Braga e Fernandes (2007) a fora de trabalho de uma

empresa constituda pelos seus trabalhadores e prev -se que as suas

competncias e qualificaes contribuam para o desenvolvimento da empresa e a

consecuo dos objectivos.

Atravs da pesquisa bibliogrfica (Andr e Neves, 2001; Graa, 1999; Ordem

dos Enfermeiros, 2004a; Ferreira, 2006; Carvalho, 2007a; Barbosa e Melo, 2008)

efectuada podemos afirmar que predomina o consenso de que a Satisfao

Profissional em Enfermagem constitui um indicador na qualidade dos cuidados

prestados aos utentes e neste sentido surge a nossa preocupao de estudar a

satisfao profissional dos Enfermeiros. Constatamos que esta temtica tem

enquadramento legal na Lei de Bases da Sade n. 48/ 90 de 24 de Agosto. A

satisfao profissional est longe de constituir uma preocupao acessria ou apenas

passageira, pois est directamente ligada, explcita ou implicitamente, qualidade de

desempenho, produtividade e realizao pessoal (Andr e Neves, 2001).

Note-se que a satisfao no trabalho surge como um fenmeno complexo e de

difcil conceptualizao, uma vez que se trata de um estado subjectivo, e que este

pode variar de indivduo para indivduo, de circunstncia para circunstncia e ao longo

do tempo (Fraser, 1983 apud Martinez et al 2004).

A Ordem dos Enfermeiros (OE) define como um dos quatro eixos prioritrios

de investigao estudos que abordem estratgias inovadoras de gesto/liderana e

organizao do trabalho favorecedoras de contextos de trabalho que promovam e

facilitem a qualidade dos cuidados (2006a, p.4). Segundo a Ordem dos Enfermeiros

(2004a) a insatisfao profissional vai resultar numa menor reteno no emprego,

assim como a perda da qualidade na execuo das tarefas profissionais que se

reflectem em esquecimentos, atrasos e falhas nas tarefas, dificuldades na relao com

os utentes, entre outras.

Ana Isabel Fontes

17

A verdade que no possvel ter servios de sade eficientes sem

profissionais motivados pelo seu trabalho e pelas condies em que este prestado

(OE, 2004a).

De acordo com Graa (1999) a satisfao profissional consiste numa atitude,

uma emoo ou sentimento que pode ser verbalizado e medido atravs da opinio.

O autor acima referido seleccionou as dimenses para avaliar a satisfao profissional

nomeadamente: a remunerao, as condies de trabalho e sade, a segurana no

emprego, o relacionamento, a autonomia/poder, o status/prestgio e a realizao.

Muitas mudanas tm ocorrido a nvel dos processos e estruturas de prestao

de cuidados de sade, tanto a nvel de Enfermagem, como a nvel da sua formao

profissional. de salientar a crescente introduo de inovao tecnolgica nos

contextos de trabalho, o que vai implicar uma maior competncia profissional.

No que diz respeito natureza do trabalho a principal distino entre os

Servios de Medicina e Servios de Cuidados Intensivos reflecte-se na diferena de

cuidados polivalentes e especializados, o que implica situaes clnicas de menor

gravidade nos Servios de Medicina, e situaes clnicas no estabilizadas e de

elevada gravidade nos Servios de Cuidados Intensivos (Chauvenet 1972, apud Lopes

2001).

Num estudo realizado por Carapinheiro e Lopes (1997) conclui-se que os

Servios de Medicina so os que apresentam uma taxa mais elevada de transferncia

e nunca representam a escolha para a colocao, enquanto os Servios de Cuidados

Intensivos so os servios eleitos nas opes dos enfermeiros devido a uma

percentagem significativa para a colocao e sem percentagem para pedidos de

transferncia.

De acordo com Vila e Rossi (2002), os Servios de Cuidados Intensivos apesar

de serem os locais ideais para atender doentes graves, estas podem constituir um dos

ambientes mais agressivos, tensos e traumatizantes do hospital. O ambiente tem

influncia directa no bem-estar do paciente, famlia e equipe multiprofissional (idem,

p.140), e que essencial cuidar de quem cuida (idem p.142) de forma a ter cuidados

de qualidade.

Com a realizao desta investigao pretendemos aprofundar os

conhecimentos sobre a satisfao dos enfermeiros em diferentes realidades de

trabalho, com o intuito de favorecer uma reflexo consistente.

Neste sentido o problema de investigao que pretendemos estudar o nvel

de Satisfao Profissional dos enfermeiros dos Servios de Cuidados Intensivos e

Servio de Medicina, com a finalidade de contribuir para a progressiva melhoria da

satisfao profissional dos enfermeiros, assim como para a qualidade dos cuidados.

Ana Isabel Fontes

18

Logo o desenvolvimento do nosso processo de investigao orientar-se- no sentido

de responder questo de investigao: Ser que h condies especficas no

trabalho dos enfermeiros que condicionam a sua satisfao profissional?

Trata-se de um estudo comparativo, de natureza descritiva, transversal e com

uma componente analtica, e tendencialmente um estudo de caso com abordagem

quantitativa. A varivel dependente a satisfao profissional, tendo esta sido

operacionalizada em sete dimenses: remunerao; condies de trabalho e sade;

segurana no emprego; relacionamento profissional/utente e equipa; autonomia/poder;

status e prestgio; realizao profissional, pessoal e desempenho organizacional

(Graa, 1999).

O presente trabalho tem como objectivo realizar uma reviso de um quadro

terico que nos ajude a compreender os problemas da no satisfao dos

enfermeiros, apresentar o resultado de um estudo quantitativo e comparativo, e

tambm contribuir para a anlise e discusso sobre satisfao no trabalho dos

enfermeiros;

Ao longo do trabalho sero focados diversos aspectos, apresentados de forma

descritiva, encontrando-se estruturado em quatro captulos. O primeiro captulo est

dedicado contextualizao do nosso problema de investigao com explorao do

tema a investigar. Tambm abordamos conceitos pertinentes para este estudo, tendo

por base a pesquisa efectuada e o parecer dos vrios autores consultados. O segundo

captulo diz respeito investigao emprica realizada/ trabalho de campo, incluindo o

tipo de estudo, variveis, a populao, a amostra, o instrumento de colheita de dados,

os aspectos ticos e a forma como os dados foram tratados. No terceiro captulo far-

se- uma anlise crtica baseada em fundamentos slidos acerca de conhecimentos

cientficos e experienciais, o confronto das teorias com o trabalho de campo, assim

como sero apresentadas as limitaes encontradas neste estudo. No quarto e ltimo

captulo ser realizada uma sntese de toda a situao, uma reflexo dos contedos

desenvolvidos, e sero apresentadas as principais concluses, sugestes que

parecem adequadas para a contribuio de um melhor nvel de conhecimentos.

Ana Isabel Fontes

19

CAPTULO I SATISFAO E CONTEXTOS DE TRABALHO

A satisfao no trabalho um fenmeno amplamente estudado. Esse interesse

decorre da influncia que a mesma pode exercer sobre o trabalhador, afectando a sua

sade fsica e mental, as atitudes, o comportamento profissional, e social, com

repercusses para a vida pessoal e familiar do indivduo como para as organizaes.

Alguns estudos (Graa, 1999; Angerami, Gomes e Mendes 2000; Lino, 2004;

ICN 2007c; Gonalves, 2007) tm abordado a satisfao no trabalho, e desde cedo

tm despertado interesse de profissionais de sade e de investigadores nas mais

diversas reas.

Este captulo apresenta uma viso geral sobre: Enfermagem e sua evoluo

como profisso; a Qualidade associada satisfao; Satisfao profissional,

nomeadamente definio, conceitos, os factores que influenciam a satisfao

profissional, Motivao e modelos tericos referentes satisfao no trabalho, e

cultura organizacional. No ltimo ponto deste captulo foi feita a caracterizao dos

Servios de Cuidados Intensivos e Servios de Medicina com referncia a alguns

dados de estudos encontrados nestes ambientes.

Analisar questes relacionadas com a satisfao no trabalho complexo uma

vez que so muitos os factores que influenciam o comportamento das pessoas, assim

como das vrias facetas que envolvem o ambiente do trabalho.

De acordo com Martinez, Paraguay e Latorre (2004) o ambiente psicossocial

no trabalho engloba a organizao do trabalho e as relaes sociais estabelecidas. Os

factores psicossociais no trabalho so aqueles que se referem interaco entre e no

meio ambiente de trabalho, o contedo do trabalho, as condies organizacionais e as

habilidades do trabalhador, as necessidades, a cultura, as causas pessoais extra-

trabalho que podem influenciar a sade, o desempenho e a satisfao no trabalho.

De acordo com Mauro e Veiga (2008, p.65) os principais problemas das

condies de trabalho so:remunerao; oportunidade de carreira; garantias

disciplinares; horas de trabalho; descanso e frias; segurana social; proteco

sade; oportunidade de formao inicial e educao contnua; efectivo de pessoal no

servio; organizao do trabalho; participao do pessoal na determinao das suas

condies de trabalho e de vida; participao em tudo que contribui para a satisfao

no trabalho.

Este estudo visa contribuir para a anlise e discusso sobre satisfao no

trabalho dos enfermeiros e justifica-se pela relevante influncia que a satisfao no

trabalho parece exercer sobre os enfermeiros.

Ana Isabel Fontes

20

1. ENFERMAGEM: DAS CONCEPES S PRTICAS

A Enfermagem tem como objectivo prestar cuidados de Enfermagem ao ser

humano, so ou doente, ao longo do ciclo vital, bem como aos grupos sociais onde

est inserido, de forma que mantenham, melhorem e recuperem a sade.

Segundo Collire, os efeitos das descobertas do fim do sc. XIX, no domnio da

fsica e da qumica, ao serem aplicados medicina, permitem a evoluo desta para

processos mais complexos de diagnstico e de tratamento das doenas. Assim, surgiu

a necessidade dos mdicos delegarem algumas tarefas que habitualmente

executavam. Deste modo, surge a enfermeira auxiliar do mdico.

A necessidade das enfermeiras em clarificar a especificidade dos servios

que prestam comunidade, tem motivado os tericos de enfermagem a elaborar

modelos conceptuais para a sua profisso. Esses modelos orientam no s para a

prtica da enfermeira como tambm servem de guia para a formao, investigao e

gesto dos cuidados de enfermagem. Com o passar dos anos, os conceitos sobre a

enfermagem modificaram-se com base em vrias teorias, como: Modelos

comportamentais de Johnson, Modelo da conservao de Levine, a Estrutura de auto-

cuidado de Orem, Modelo de adaptao de Roy e a Teoria das necessidades

humanas bsicas de Wanda de Aguiar Horta (Lucas, 2004).

O modelo biomdico um exemplo de um modelo conceptual tradicional.

Neste, o homem considerado apenas um ser biolgico e os objectivos da

enfermagem so dirigidos para a cura, ou seja, este modelo est centrado apenas na

doena.

Contudo, este modelo biomdico tem sido, ultimamente, alvo de crticas

dos enfermeiros que tm reflectido sobre a enfermagem. Estes propem o abandono

deste modelo e aconselham uma prtica de acordo com modelos prprios de

enfermagem que valorizem a interveno profissional orientada para o cuidar.

Estes modelos apoiam-se em teorias essencialmente oriundas das

cincias sociais e humanas, tendo em comum uma perspectiva de cuidados centrada

na pessoa como sujeito activo destes mesmos cuidados.

Assim, existe um modelo centrado na pessoa que o modelo humanista

(ex: Virgnia Henderson), um modelo centrado nas relaes interpessoais

(ex:Hildegard Peplau), outro centrado no mundo (sistemas e campo de energia).

Os conceitos chave dos modelos so: a pessoa, a sade, o ambiente e a

enfermagem.

Ana Isabel Fontes

21

Todos estes modelos apontam para intervenes individualizadas do

enfermeiro, centrado na pessoa que recebe cuidados e nas suas necessidades, sendo

o receptor de cuidados visto como sujeito activo.

Com a reforma de Florence Nightingale foi iniciada a reelaborao da natureza

do trabalho de Enfermagem atravs da progressiva dissociao do trabalho

domstico, e pelas estratgias de formalizao da sua formao profissional e de

institucionalizao da ideologia da vocao (Lopes, 2001). A nfase dada formao

nunca se sobreps vocao, nomeadamente nos valores da dedicao, bondade

de carcter, obedincia perante as hierarquias e de firmeza perante os que se

encontravam sob sua autoridade (idem, 2001, p.26).

Ao longo da sua vida, F. Nightingale desenvolveu esforos no sentido de

potenciar a prestao de melhores cuidados em contexto hospitalar.

A crescente globalizao e a substituio do homem por mquinas criaram a

necessidade de recuperar os valores humanos, ticos e os relacionamentos

interpessoais. Actualmente uma organizao para ser competitiva necessita dos

profissionais comprometidos com a filosofia e princpios da organizao.

Enfermagem tem como objectivo prestar cuidados de enfermagem ao ser

humano, so ou doente, ao longo do ciclo vital, bem como aos grupos sociais onde

est inserido, de forma que mantenham, melhorem e recuperem a sade (REPE,

1996). O ICN (2000) define Enfermagem como fazendo parte integrante do sistema de

cuidados de sade. Enfermagem engloba a promoo da sade, a preveno da

doena e os cuidados a pessoas de todas as idades com doena fsica, doena

mental ou deficincia.

Em Portugal, o exerccio da Enfermagem est regulamentado pela Ordem dos

enfermeiros. A OE tem a responsabilidade de, atravs da certificao de profissional

dos enfermeiros, fornecer aos cidados a garantia do que podem e devem esperar de

cada Enfermeiro. Pretende promover e desenvolver um modelo capaz de motivar os

profissionais a manter, desenvolver e a adquirir novas competncias profissionais,

cada vez mais adequadas s necessidades de cuidados de enfermagem, e ao

permanente desenvolvimento cientfico e tcnico que suporta os cuidados de sade

em geral e os de enfermagem em particular, o que implica um envolvimento do

prprio, mas tambm das organizaes prestadoras e formadoras (Sousa, 2006).

A maioria dos profissionais de enfermagem dos hospitais e dos centros de

sade manifesta um certo esprito de reivindicao, no sentido de alcanar novas

formas de controlo da sua exclusividade nas actividades, propondo, para o efeito, a

reconfigurao da formao, da carreira, das condies de trabalho, da obteno de

um voz activa. Este esprito de reivindicao explica-se pelo facto dos modelos de

Ana Isabel Fontes

22

referncia das prticas profissionais, que so ensinadas nas escolas superiores de

enfermagem, (em virtude do que preconizado no Decreto-Lei n437/91, de 8 de

Novembro mais tarde reforado pelo Decreto-Lei n161/96 (REPE)) no se aplicarem

na realidade, ou seja, nos hospitais e centros de sade.

So as escolas de enfermagem e as associaes profissionais que

constroem a enfermagem ideal e os prestadores de cuidados (que esto em grande

maioria) tm menos voz na profisso.

Contudo, com o D.L n161/96 foi publicado o regulamento do Exerccio

Profissional dos Enfermeiros (REPE) que veio reforar a oportunidade dos enfermeiros

se debruarem sobre o lugar dos valores, da tica e do desenvolvimento na prtica de

cuidados e na educao em enfermagem.

A Enfermagem uma profisso que exige bastante dedicao pois envolve

actividades stressantes, num ambiente onde frequentemente as pessoas esto

doentes ou debilitadas. Isso tudo reflecte num elevado ndice de stress no ambiente de

trabalho. Cada profissional trs consigo influncias culturais, familiares, experincias

diferentes que precisam ser levados em conta para entender o comportamento

humano no trabalho.

A Enfermagem tem evoludo de formas muito diversas quer no campo

profissional, no campo da formao/acadmico, quer ainda no que diz respeito

dignificao do exerccio profissional e no que concerne qualidade e eficcia da

prestao de cuidados de sade, que se traduzem no desempenho profissional cada

vez mais complexo, diferenciado e exigente, com a necessidade da criao de

organismos que regulem a prtica profissional de Enfermagem, com a finalidade de

atingir a excelncia dos cuidados prestados.

Alm da cincia, do conhecimento, da arte e da tcnica, a excelncia na

prestao de cuidados pressupe tambm que o profissional se comprometa com uma

hierarquia de valores que vo orientar o seu exerccio (Cunha, 2004). So valores

universais a observar na relao profissional: a igualdade, a liberdade responsvel,

com a capacidade de escolha, tendo em ateno o bem comum; a verdade e a justia;

o altrusmo e a solidariedade; a competncia e o aperfeioamento profissional (Idem).

Os enfermeiros tm presente que bons cuidados significam coisas diferentes

para diferentes pessoas, e, assim, o exerccio profissional dos enfermeiros requer

sensibilidade para lidar com essas diferenas perseguindo-se os mais elevados nveis

de satisfao dos clientes (OE, 2002, p.7).

Os cuidados de enfermagem materializam-se nos actos que visam a pessoa no

seu todo, por isso, ultrapassa a simples satisfao das necessidades, dirigindo-se ao

Ana Isabel Fontes

23

ser que cuidado. Estes assumem uma conotao tica, visando o bem da pessoa

cuidada como fim ltimo (Cunha, 2004).

imprescindvel que o enfermeiro adopte uma atitude de anlise e reflexo em

toda a sua prtica profissional na persecuo da excelncia.

O enfermeiro quando realiza a anlise do seu trabalho e da gesto dos

recursos existentes, pode clarificar os aspectos positivos e as dificuldades e/ou

constrangimentos existentes. Identifica igualmente as falhas e as inconsistncias

verificadas, o que potencia a mudana de atitude, numa lgica de construo de

competncias de desenvolvimento profissional (Nunes, Amaral e Gonalves, 2005).

A questo da Satisfao Profissional dos profissionais de sade tem o

enquadramento legal na Lei de Bases da Sade n48/90 de 24 de Agosto.

necessrio que haja satisfao e gosto naquilo que se faz. Tem que haver um esforo

de todas as partes envolventes neste processo profissionais e instituies, para que

haja satisfao de quem presta cuidados e de quem os recebe.

Atravs da pesquisa bibliogrfica que foi efectuada podemos afirmar que

apesar da dificuldade de conceptualizao, predomina o consenso de que a satisfao

profissional em Sade constitui um indicador na qualidade dos cuidados prestados aos

utentes, da a nossa preocupao em averiguar a satisfao profissional dos

enfermeiros.

Enfermagem consiste numa profisso em que seres humanos cuidam de

outros seres humanos, que interagem entre si, que reagem a cada (des)encontro e

que influencia as suas (in)satisfaes. A satisfao profissional pode variar

consoante as caractersticas inerentes do servio ou instituio, relao interpessoal

com os superiores hierrquicos, condies de trabalho, entre outros.

Num estudo de natureza sociolgica realizado por Carapinheiro e Lopes (1997)

concluiu-se que os servios que tinham mais pedidos de transferncia eram os

servios de Medicina (35%), seguidos dos servios de Cirurgia (19%) e Urgncia (8%).

No entanto, estes dois ltimos servios tm a particularidade de serem os mais

solicitados para a sua colocao, Cirurgia (34%) e Urgncia (26%), o que revela serem

servios estratgicos nas opes de mobilidade interna dos enfermeiros, mas no

so os servios de fixao destes profissionais. Os Servios de Medicina so

classificados como preteridos nas opes de mobilidade dos enfermeiros uma vez

que apresentam a taxa mais elevada de pedidos de transferncia e nunca

representam a escolha para colocao. Os Servios de Cuidados Intensivos so os

nicos servios com uma percentagem significativa para a colocao e sem

Ana Isabel Fontes

24

percentagem para pedidos de transferncia, o que significa como servios eleitos

nas opes dos enfermeiros (p.71).

2. A PROCURA DA QUALIDADE PELA SATISFAO

Provavelmente os primeiros estudos realizados sobre a qualidade foram

levados a cabo pelos Romanos atravs de registos feitos nos hospitais militares. Na

dcada de 1850 Florence Ninghtingale registou por escrito os cuidados prestados e

avaliou-os com intuito de melhorar os servios prestados. Em 1863 foi publicado por

Lusa M. Alcott registos sobre a qualidade dos cuidados de enfermagem durante a

Guerra Civil Americana (Sale, 1998).

Na dcada de 90 a Organizao Mundial de Sade (OMS) preconizou a

Qualidade como a palavra-chave para os servios de Sade (Bernardo, 2000).

A realidade que estamos na era da Qualidade, em que o pblico cada vez

mais exige qualidade a todos os servios de Sade, assim como os Profissionais de

Sade (de uma forma particular, os enfermeiros) desejam melhorar a sua performance

global, e por fim os Governos e polticos que cada vez mais exigem um nvel elevado

de qualidade vs custos.

Qualidade surge como um conceito actual, contudo este est muito debatido e

por isso apresenta-se um pouco banalizado.

O que significa qualidade quando ela se refere sade das pessoas? O que

significa qualidade do exerccio de Enfermagem cujo contedo to diverso, to

pouco observvel e mensurvel e to pouco aparatoso, uma vez que constitudo por

inmeras pequenas coisas, cada uma das quais, por muito secundria que parea

face ao absoluto, ou de um ponto de vista geral tem um peso to grande na balana

quando diz respeito vida e ao futuro de uma pessoa? (Hesbeen, 2001, p.37)

Qualidade por vezes entendida como a Excelncia (Cunha, 2004), ou como a

perfeio, como o que h de melhor (Hesbeen, 2001). Em sade, qualidade surge

como uma garantia do grau formal de excelncia.

A necessidade de implementar sistemas de sade de qualidade,

nomeadamente cuidados de enfermagem de qualidade, est actualmente assumido

como uma prioridade pelas vrias Organizaes Nacionais e Internacionais, como

sejam a OMS, a OE, ICN, entre outros.

A qualidade e a produtividade na rea da sade, nomeadamente na

Enfermagem, implicam uma organizao do trabalho no apenas racional, mas

tambm uma organizao que envolva os seus profissionais (OE, 2004a).

Ana Isabel Fontes

25

visvel que a qualidade em sade no se atinge apenas com o exerccio

profissional dos enfermeiros, nem o mesmo pode ser negligenciado ou oculto nos

esforos para atingir qualidade em sade. necessrio ver a instituio como um

todo, em que funes diferenciadas so distribudas por vrios actores (Mdicos,

enfermeiros, gestores, entre outros) e que os esforos devem ser coordenados e em

convergncia.

A percepo de qualidade no a mesma quando se cliente, mdico,

enfermeiro, gestor ou outro. Assim sendo, a garantia da qualidade inclui a integrao

destas diferentes perspectivas. A qualidade em Sade uma tarefa multiprofissional e

um conceito multidimensional que inclui conceitos como a eficcia, a eficincia, a

qualidade tcnicoprofissional, a satisfao e a adequao.

O Ambiente de trabalho como contexto onde se realizam as nossas prticas

profissionais, ser um factor determinante para os cuidados de excelncia. Segundo a

Ordem dos enfermeiros, Ambientes favorveis prtica so locais, fsica e

psicologicamente seguros, que promovem a prtica multidisciplinar e esto dotados de

recursos suficientes, sabendo-se que reduzem prticas inseguras e os riscos para os

doentes e para os profissionais.

Qualidade em sade , assim, a garantia do grau de excelncia (Cunha, 2004).

Pode ser entendida como forma de estar, de conviver e de actuar, no sentido de haver

uma procura permanente de obteno de melhores resultados a partir de um melhor

desempenho de cada elemento interveniente no processo. O

cliente/famlia/comunidade o centro de todo o processo - para ele que existimos!

Engloba parmetros como a eficcia, a eficincia, a qualidade tcnico-profissional, a

satisfao e a adequao (Bernardo, 2000).

A qualidade das prestaes de enfermagem desenvolvidas no exerccio

profissional, bem como as condies de trabalho dos enfermeiros tm sido objecto de

anlise frequente (OE, 2004a, p.17).

Cuidados de excelncia tornam a profisso de enfermagem mais autnoma e

credvel. Para esta excelncia concorrem a valorizao dos cuidados de enfermagem,

no s pelo enfermeiro, mas tambm por outros tcnicos e pelos cidados em geral.

necessrio que os enfermeiros tenham uma conduta que desenvolva a estrutura

conceptual da profisso e preservem os direitos dos cidados no sentido da

excelncia em cuidados de enfermagem e sade.

A busca da excelncia deve ser uma constante em cada acto profissional, e tal

concretiza-se pelo aperfeioamento profissional e o desenvolvimento de

competncias. Os cuidados holsticos e os princpios de respeito pelos valores,

Ana Isabel Fontes

26

costumes, religies e outros contemplados no cdigo deontolgico constituem-se na

boa prtica de cuidados.

Do ser enfermeiro h um conceito geral que se concretiza em cada um dos

profissionais, mas que tem um horizonte comum expresso na ideia de excelncia

(Vieira, 2007, p.71). Se no nosso dia-a-dia, durante a prtica de Enfermagem, forem

criadas as condies ideais para o raciocnio moral, ento os enfermeiros sero

capazes de optar pelo comportamento mais justo em situaes que envolvem

escolhas/decises no mbito da tica e da moral. Podemos constatar que o hbito de

Reflexo e do Pensamento Crtico so pr-requisito desejvel para uma prtica de

Enfermagem profissional, avanada, humana, tica, moral, deontolgica, competente

e actual!

necessrio formar os enfermeiros, nomeadamente a nvel moral, de modo a

contribuir para a dignificao da profisso de Enfermagem e tambm para a melhoria

da qualidade dos cuidados, uma vez que, actualmente os enfermeiros confrontam-se

com questes ticas cada vez mais complexas, independentemente da rea que

trabalhem. necessrio que os enfermeiros conheam as normas morais e

deontolgicas, mas sobretudo o seu fundamento tico, que lhes permitir em cada

situao concreta, ultrapassar conflitos/dilemas morais e resolver problemas ticos

(Vieira, 2007).

sabido que a Enfermagem como profisso intercepta a vida do indivduo no

percurso de todo o seu ciclo vital e que os cuidados de enfermagem surgem como um

prolongamento e uma substituio daquilo que os utilizadores dos cuidados no

podem, temporariamente, assegurar por si prprios (Colire, 1989, p.287).

Parafraseando a Ordem dos Enfermeiros No possvel ter hospitais ou

centros de sade eficientes, desempenhando integralmente a respectiva misso, sem

profissionais motivados pelo seu trabalho e satisfeitos com as condies em que

prestado, incluindo nestas as partidas materiais e imateriais recebidas (2004a, p.8).

So vrios os factores que interferem com a qualidade dos ambientes de

trabalho dos enfermeiros, entre eles temos a Satisfao profissional que est

relacionada com a forma como os enfermeiros se sentem no que respeita sua vida

laboral.

A satisfao dos enfermeiros tambm afectada por factores globais, tais

como o apoio por parte do governo, suporte de infra-estruturas fsicas e compromisso

do empregador com os servios de enfermagem (ICN, 2007c,p.18).

De acordo com um estudo realizado por Anselmo, Angerami e Gomez (1997)

referido pelo ICN (2007c), estes constataram que as diferenas institucionais nos

recursos materiais e humanos, e manuteno adequada do equipamento conduzem

Ana Isabel Fontes

27

progressiva deteriorao dos servios de sade (sobretudo no que respeita a servios

do estado) e criam desta forma insatisfao profissional. As condies de trabalho,

constitudas por diversos elementos, tais como os salrios, os benefcios, o volume de

actividade, as horas e os turnos, estavam presentes em todos os relatos prestados

pelos profissionais como sendo uma razo para a demisso. Os enfermeiros tm o

direito de trabalhar num ambiente conducente com a qualidade de cuidados,

benefcios/ordenados competitivos e um ambiente de trabalho familiar que promova a

segurana ocupacional e a sade dos seus empregados (ICN, 2004).

Em Portugal, As insatisfaes tambm tm que ver com a falta de pessoal

(no h quem no as refira) e com as presses exercidas relativas quantidade de

servio a executar, o que se vai necessariamente repercutir na qualidade inferior das

prestaes, mesmo fazendo trabalho extra mesmo sem compensao monetria OE

(2004a, p.396).

A satisfao no trabalho tambm considerada como um dos indicadores da

Qualidade de Vida no Trabalho.

A satisfao no trabalho influencia a satisfao com a vida por meio da

generalizao das emoes do trabalho para a vida fora do trabalho e de atitudes

decorrentes, que tambm podem afectar, especificamente, as relaes scio-

familiares (Locke, 1976, citado por Martinez et al, 2004).

O bem-estar e a Qualidade de Vida no Trabalho so factores que influenciam a

qualidade dos cuidados, e como tal fundamental desenvolver investigaes sobre

esse assunto, no devendo ficar restritas ao Enfermeiro, mas a todos os membros do

seu universo de trabalho. Num estudo realizado por Schmidt e Dantas (2006) sobre a

Qualidade de Vida no Trabalho dos profissionais de Enfermagem sob a ptica da

satisfao, concluram que os componentes com maiores fontes de satisfao foram o

Status profissional, a autonomia e a interaco, e os componentes com menor

satisfao foram os Requisitos do trabalho, as Normas organizacionais e a

remunerao.

Presentemente a sociedade exige altos nveis de qualidade na rea da sade,

paralelamente inteno dos profissionais de sade de melhorarem a sua prestao.

Qualidade em sade surge assim como a chave dos servios de sade, como a

excelncia ou perfeio (Hesbeen, 2001), e como um aspecto que diz respeito a

todos: Mdicos, enfermeiros, gestores, entre outros.

Em enfermagem, necessrio que os enfermeiros desenvolvam as suas

competncias profissionais, respeitem o seu cdigo deontolgico, progridam o hbito

Ana Isabel Fontes

28

da reflexo e do pensamento crtico, executem boas prticas de cuidados, de modo a

contribuir para a dignificao da profisso de Enfermagem e tambm para a melhoria

da qualidade dos cuidados. Existem vrios factores que interferem com a qualidade

dos ambientes de trabalho dos enfermeiros, nomeadamente a Satisfao profissional

dos mesmos.

3. SATISFAO PROFISSIONAL

Desde o fim dos anos 70, tanto na Europa como nos EUA, vrias

transformaes econmicas, polticas e culturais, deram aos pacientes um novo lugar

na avaliao dos servios de sade. Os custos crescentes dos servios de sade

foram um dos elementos que favoreceram as polticas reformadoras e de restrio de

gastos, e o aparecimento de novos modelos de gesto visando maior transparncia,

qualidade e eficincia dos servios.

A satisfao profissional surge como um tema, que actualmente tem sido

objecto de diversos estudos (Fraser, 1983 apud Martinez et al 2004; Graa, 1999;

Lino, 1999; 2004; Angerami, Gomes e Mendes, 2000; Andr e Neves, 2001; Martinez,

Paraguay e Latorre, 2004; Santos, Braga e Fernandes, 2007; Gonalves, 2007) na

medida que uma pessoa satisfeita mais produtiva, e neste sentido a prestao de

cuidados de qualidade pressupe profissionais satisfeitos.

A satisfao no trabalho surge como uma das variveis relacionadas com o

trabalho de maior relevncia na actualidade. Segundo a Lei de Bases da Sade (Lei n

48/90 de 24 de Agosto), a Satisfao Profissional , ou deve ser, um dos critrios de

avaliao peridica do Servio Nacional de Sade (SNS), paralelamente satisfao

dos utentes, qualidade dos cuidados de enfermagem e da eficiente utilizao dos

recursos numa ptica de custo-benefcio.

consensual que a definio de Satisfao de difcil operacionalizao uma

vez que se trata de um conceito de natureza multidimensional, assim como esta

frequentemente associada produtividade e realizao pessoal. No entanto, a

satisfao e o trabalho nem sempre andaram juntos. Graa (1989,p.23) refere

trabalho e satisfao, dever e prazer so como azeite e vinagre, no se misturam.

A satisfao do profissional com o trabalho que realiza tem sido estudada como

uma das mais importantes variveis consequentes da rea de comportamento

organizacional. Satisfao provm da palavra latina satisfactione, termo definido como

o acto ou efeito de satisfazer ou satisfazer-se, ou como contentamento e alegria

(Dicionrio de Lngua Portuguesa, 2008).

Ana Isabel Fontes

29

Donabedian (1980) salienta a importncia de saber o grau de satisfao dos

trabalhadores, uma vez que a satisfao geral do trabalhador tem influncia directa na

qualidade dos cuidados (Matsuda e vora, 2006).

Aps a descoberta da existncia de uma relao directa entre a satisfao dos

trabalhadores e a produtividade das organizaes, muitos foram os estudos que

comearam a surgir neste mbito.

A satisfao no trabalho consiste num fenmeno subjectivo, que pode variar de

pessoa para pessoa, de circunstncia para circunstncia, ao longo do tempo para a

mesma pessoa, e influenciada por foras internas e externas ao ambiente (Fraiser,

1983, citado por Martinez e Paraguay, 2003).

Quanto ao conceito Satisfao tem vindo a ser desenvolvido ao longo deste

sculo, mas o seu incio coincide com o aparecimento da Escola das Relaes

Humanas de Elton Mayo.

As conceptualizaes mais frequentes descrevem a satisfao como uma

atitude, isto , como disposies para agir, contudo pode-se considerar que algumas

atitudes podem ser resultado da satisfao no trabalho, mas no a sua definio

(Martinez e Paraguay, 2003; Chiavenato, 2005).

Outras conceptualizaes sobre a satisfao descrevem a satisfao no

trabalho como uma emoo, ou seja, como um estado emocional agradvel resultante

da avaliao que o indivduo faz do seu trabalho e resulta da percepo da pessoa

sobre como atinge a satisfao (Locke, 1969, citado por Martinez e Paraguay, 2003).

Chiavenato (1994) descreve satisfao como o resultado da motivao

cclica. Isto significa que, quando um estmulo ou incentivo alteram o equilbrio

interno, gera-se uma necessidade, uma tenso que conduz ao desenvolvimento de um

comportamento que satisfaz essa necessidade e promove de novo o equilbrio. A

satisfao pode tambm ser vista como um constructo que representa um estado

emocional positivo, uma atitude positiva face ao trabalho e as experiencias vividas no

trabalho (Vala et al, 1998), e traduz uma resposta individual, emocional, afectiva e

gratificante que resulta da situao de trabalho. Para outros autores (Mc Nesse-Smith,

1997 citado por Matsuda e vora, 2006) a satisfao definida como sentimentos

que o trabalhador tem sobre o trabalho em geral que inclui aspectos como satisfao

com a superviso, condies de trabalho, pagamento, oportunidades e normas da

organizao.

A satisfao no trabalho consiste em se perceber ou sentir que aquilo que se

recebe justo ou est de acordo com o que se espera receber comparativamente com

os seus pares na mesma situao e de acordo com os investimentos feitos na

organizao onde trabalha (Graa, 1997; Santos, 1984; apud Pereira, 1998).

Ana Isabel Fontes

30

De acordo com Lvyn-Leboyer a satisfao profissional consiste em:

Reaces afectivas relacionadas com a actividade profissional e que podem

ser devidas ao prazer ligado prpria actividade ou ligada aos papeis representados

na vida profissional ou ainda ao valor atribudo por cada um ao que recebe em troca

do seu trabalho. Mais precisamente, a satisfao sentida resultante de uma

comparao implcita entre o que o trabalho d ao indivduo e o que se espera retirar

dele (Doran e Parot no Dicionrio de Psicologia, 2001).

A satisfao vai traduzir a forma positiva ou negativa que as pessoas sentem

em relao ao seu trabalho. A satisfao no trabalho est relacionada com: os

contedos e processos mentais, com a moral e envolvimento no trabalho, assim como

um estado emocional agradvel ou positivo que resultou do trabalho, baseada em

crenas, valores ou atitudes (Martins, 1985 citado por Tamayo, 2004); a influncia de

foras internas e externas ao ambiente de trabalho (Fraser, 1983 citado por Martinez

et al, 2004); o prprio trabalho e o seu contedo, as possibilidades de promoo,

reconhecimento, condies e ambiente de trabalho, relaes com os colegas e

subordinados, caractersticas da superviso e gerenciamento e polticas e

competncias da empresa (Locke, 1976 citado por Martinez et al, 2004, p.56); a

qualidade de vida no trabalho e de como as pessoas se sentem na organizao

(Chiavenato, 2005).

Para Graa (1989), a satisfao profissional resulta da obteno de certos

resultados, sob a forma de recompensa em funo do trabalho realizado.

A satisfao no trabalho pode manifestar-se na sade, na qualidade de vida e

nos comportamentos dos trabalhadores, reflectindo-se nos mesmos e nas

organizaes; indivduos mais satisfeitos com o trabalho apresentam uma melhor

qualidade de sade (fsica e mental) e uma menor ocorrncia de doenas (Locke,

1976; Rocha, 1996; Zalewska, 1999), e associado longevidade (Fraser, 1983; Locke,

1976) (citados por Martinez et al, 2004).

No entanto, o trabalho nem sempre foi uma actividade remunerada e, durante

muito tempo, foi utilizado como forma de castigo ou punio e, em outras

circunstncias, a remunerao tratava-se de um valor simblico tendo em conta as

necessidades de sobrevivncia do indivduo. O conceito trabalho bem conhecido

por todos ns, contudo o mesmo sugere diferentes estmulos e percepes.

Gonalves (1999) acrescenta ainda que o trabalho um termo que evoca justamente

o incmodo e a tortura. Analisando a origem do termo trabalho verificamos que o

mesmo provm da palavra latina Tripallium, termo que evoca o incmodo e a tortura.

Segundo o Dicionrio de Lngua Portuguesa (2008) trabalho consiste no acto ou efeito

Ana Isabel Fontes

31

de trabalhar, ou ao exerccio de uma actividade humana, manual ou intelectual,

produtiva.

Ao analisarmos algumas expresses populares usualmente utilizadas, como

por exemplo trabalha que nem um mouro, verificamos que uns traduzem indcios de

relutncia pelo trabalho, enquanto outros, como por exemplo, e se te der uma forte

vontade de trabalhar, senta-te e espera que a crise passe, contm explicitamente a

vontade de no trabalhar. No entanto, estes ditados populares parecem reveladores

da percepo negativista e infeliz que muitas pessoas tm do trabalho, e por outro

lado, traduzem tambm a importncia que este representa para as mesmas (Pereira,

1996).

Com o evoluir do tempo estes conceitos foram abandonados

progressivamente, trazendo consigo um desenvolvimento da liberdade individual e

econmica, que se estendeu aos nossos dias. Freud (1930/1996) refere-se ao trabalho

como uma fonte de prazer, satisfao e bem-estar, se for livremente escolhido.

Contudo, nem sempre o trabalho fonte de felicidade, mas sim uma necessidade.

Lower (1984) considera o trabalho como uma fonte de prazer mas no como uma

diverso, uma vez que exige disciplina, responsabilidade e compromisso (Tamayo,

2004).

Alberto (2000) citado por Martinez et al, 2004), refere-se ao trabalho como uma

das facetas da existncia do homem, manifestam o seu carcter social o que justifica

uma viso mais abrangente muito alm da econmica. Desse modo, desde cedo

aprendemos a necessidade e a importncia de termos uma profisso que nos

dignifique. O trabalho visto como uma componente da felicidade humana, e a

felicidade no trabalho resulta da satisfao de necessidades psicossociais, do

sentimento de prazer e do sentimento de contribuio no exerccio da sua actividade

profissional (idem).

Segundo a perspectiva de Birou (1976, p.408), o trabalho pode ser entendido

em duas vertentes. Uma vertente diz respeito s contrapartidas no trabalho, s

compensaes que sero obtidas pelo bom desempenho de uma tarefa ou aquelas

que derivam do sentimento de realizao pessoal. Outra vertente refere-se s

compensaes obtidas durante um perodo de trabalho, onde se incluem as relaes

sociais que se desenvolvem no prprio local de trabalho e os laos sociais que se

formam, fruto da posio que se ocupa.

Actualmente o trabalho surge na vida como um meio de sobrevivncia

econmica, e /ou apresenta-se como uma necessidade pessoal e psicolgica na

procura da valorizao pessoal. O trabalho passou a ser percebido como um

importante meio de valorizao e satisfao pessoal, sendo caracterizado pela

Ana Isabel Fontes

32

polivalncia, versatilidade, flexibilidade e disponibilidade, para alm de exigir um

verdadeiro sentido de auto-aprendizagem (Martins e Lus, 2000). Como ser humano, o

Homem necessita de trabalhar para satisfazer as suas necessidades de forma que ao

cumprir com certas obrigaes se sinta bem consigo e para com a sociedade.

Segundo Collire (1989), pertencer a uma profisso pertencer a uma classe

social com um lugar determinado na hierarquia dos poderes reguladores da

sociedade.

Ao longo dos tempos Virgnia Henderson procurou descrever uma definio de

Enfermagem que descrevesse a essncia da profisso de enfermagem. Neste sentido

a autora defendia que a Enfermagem deveria ser explicitamente definida na

bibliografia proporcionando os parmetros, para as funes da enfermeira no

atendimento do consumidor e na salvaguarda do pblico de profissionais

despreparados e incompetentes (Furukawa & Howe, 2000, p.61).

Em 1976 Virgnia Henderson publica em The nature of nursing a definio

definitiva de enfermagem:

A funo singular da Enfermeira assistir o indivduo efermo ou no, na realizao das actividades que contriburam para a sade ou para a sua recuperao (ou para a morte pacfica) que ele realizaria sem ajuda se tivesse a fora, o desejo ou o conhecimento necessrios. E fazer isso de tal maneira que lhe ajude a adquirir a independncia o mais rpido possvel. Henderson, 1994, p.21

A autora supracitada (1994) prope 14 necessidades bsicas que abrange

todos os componentes do cuidar e que contribuem para engrandecer a sua

perspectiva sobre a profisso (Furukawa & Howe, 2000, p.61). Estas necessidades

tm em conta os aspectos biolgicos, sociolgicos, fsicos, psicolgicos e espirituais

da pessoa.

Na prtica de Enfermagem a motivao surge como um aspecto fundamental

na procura da maior eficincia e consequentemente maior qualidade de cuidados

prestados, juntamente com a satisfao profissional.

Em suma, a satisfao profissional contribui para a realizao pessoal e

profissional a partir da satisfao das necessidades biolgicas, psicolgicas e sociais.

A pessoa necessita de trabalhar para satisfazer as suas necessidades de forma a

sentir-se bem consigo prprio e para com a sociedade. Muitos dos trabalhos

elaborados ao longo dos ltimos anos sobre a satisfao profissional estiveram

intimamente ligados a conceitos e teorias da motivao, pelo que se torna pertinente

fazer uma reviso desses conceitos.

Ana Isabel Fontes

33

3.1. FACTORES QUE INFLUENCIAM A SATISFAO

Autores tais como, Graa (1999), Lino (1999, 2004), Angerami, Gomes e

Mendes (2000), Andr e Neves (2001), Martinez, Paraguay e Latorre (2004),

Gonalves (2007), debruaram-se a estudarem a satisfao em situao de trabalho e

todas as questes que ela envolve, nomeadamente os factores que influenciam a

satisfao e a motivao para o trabalho.

A motivao surge como um impulso para a satisfao em geral visando o

crescimento e desenvolvimento pessoal e, como consequncia o organizacional

(Lima, 1996; apud Batista et al, 2005, p.86)

Se existir uma grande diferena entre aquilo que o trabalhador espera obter

(expectativas) e aquilo que acaba por conseguir (os resultados ou recompensas),

naturalmente fica insatisfeito e desmotivado para novas tarefas. Neste sentido, quanto

maiores forem as expectativas pessoais em relao ao trabalho (desenvolvimento

pessoal, independncia de esprito e aco), mais a insatisfao assume fortes

consequncias, entre as quais salienta-se o absentismo (Michel, 1992).

Numa fase inicial alguns autores, como Graa (1999), Cavanagh (1992) apud

Martinez et al (2004), pensaram ser possvel construir um ndice de satisfao global

no trabalho, mas numa anlise mais profunda sobre o trabalho, concluram que so

vrios os factores que influenciam a satisfao, e que esses mesmos variam de

indivduo para indivduo.

Ao procurar saber quais so os factores que esto subjacentes

satisfao/insatisfao profissional, a literatura consultada mostra-nos um panorama

bastante abrangente e complexo em relao s suas determinantes ou factores.

Cavanagh (1992) prope trs grupos que influenciam a satisfao no trabalho:

diferenas na personalidade, diferenas no ambiente de trabalho e diferenas nos

valores atribudos ao trabalho (Martinez et al, 2004).

Graa (1999) operacionaliza a satisfao profissional em sete dimenses

(Figura1): autonomia e poder; condies de trabalho e sade; Realizao profissional,

pessoal e desempenho organizacional; relacionamento profissional/utente e equipa,

remunerao; segurana no emprego; status e prestgio. Ambas as dimenses

interagem entre si, mas tambm tm um espao prprio, sendo que cada pessoa

movimenta de forma nica estas dimenses.

Ana Isabel Fontes

34

Figura 1- Dimenses da Satisfao Profissional operacionalizada por Graa 1999

Fonte: adaptao das dimenses da Satisfao profissional de Graa (1999)

Para melhorar a compreenso do problema da satisfao profissional vale a

pena fazer uma reflexo sobre cada uma das dimenses apresentadas por Graa

(1999).

AUTONOMIA E PODER

Walker e Marist apud Francs (1984), demonstraram que a conduo do ritmo

de trabalho est directamente ligada autonomia que por sua vez influencia a

satisfao profissional.

Graa (1999) descreve a dimenso autonomia e poder como a margem de

poder e de liberdade que o Enfermeiro tem no exerccio das suas funes, dentro dos

constrangimentos impostos pela especificidade da prestao de cuidados de sade,

da organizao e do sistema de sade onde se est inserido (neste caso, os Servios

de Cuidados Intensivos e Servios de Medicina). Inclui a oportunidade de participao

na organizao e funcionamento dos servios.

Os enfermeiros, como sujeitos sociais, actuam nas instituies de sade na

procura de uma autonomia no desenvolvimento das suas aces profissionais.

Para Ferreira et al. (1996) a autonomia representa a utilizao plena das

capacidades fsicas e mentais e a realizao de um trabalho estimulante.

Ferreira (2006) refere que a Satisfao Profissional pode ser influenciada por

vrios factores, como: A escassa autonomia, a indefinio das tarefas, a elevada

presso a que esto submetidos e sobrecarga de trabalho; A falta de apoio dos

Autonomia e poder

Condies de trabalho e sade

Realizao profissional,

pessoal e Desempenho

organizacional

Relacionamento profissional/utente

e equipaRemunerao

Segurana no emprego

Status e Prestgio

Ana Isabel Fontes

35

superiores e as poucas expectativas de carreira e desenvolvimento da profisso,

assim como a falta de reconhecimento pessoal e profissional.

Silvas et al (2002) apud Ordem dos enfermeiros (2004a) argumentam que a

autonomia est limitada pelas polticas governamentais, pelas regras organizacionais

e pelo poder do prprio grupo de referncia.

Deodato (2006) considera que a designao actual de autonomia foi

influenciada pelo filsofo Kant. Segundo este, referenciado pelo autor supra citado,

uma pessoa s autnoma se agir como ser moral, escolhendo e respeitando a lei

moral (p.6). Neste sentido, o agir de forma autnoma est intimamente relacionado

com liberdade responsvel, ou seja, as decises que so tomadas de livre vontade e

em conscincia.

Ao falarmos de autonomia, falamos obrigatoriamente em tomada de deciso,

uma vez que A tomada de deciso do enfermeiro que orienta o exerccio

profissional autnomo (OE, 2002, p.7). Os profissionais de Enfermagem tm uma

importante contribuio no planeamento dos servios de sade, na tomada de deciso

e no desenvolvimento apropriado e efectivo das polticas de sade. Os enfermeiros

podem e devem contribuir para as polticas de sade pblica referentes aos

determinantes de sade (ICN, 2000), assim como devem estar envolvidos no

planeamento estratgico, no planeamento e utilizao eficientes de recursos, no

planeamento de chefia e avaliao dos programas e servios. Por seu lado, as

organizaes profissionais de Enfermagem tm a responsabilidade de promover e

advogar a participao dos enfermeiros na tomada de deciso, na sade tanto a nvel

local, nacional e internacional.

Segundo Martins e Lus (2000) os atributos, que so cada vez mais valorizados

pelos profissionais actuais, esto relacionados com o nvel de responsabilidade

assumido, com a participao na tomada de deciso, com a utilizao dos

conhecimentos adquiridos, a possibilidade de utilizao do sentido crtico e inovador

e a oportunidade de apoiar a organizao em processos de mudana.

Num estudo realizado por Cura e Rodrigues (1999) a 91 enfermeiros com o

intuito de conhecer os sentimentos dos mesmos a respeito da satisfao no trabalho,

conclui que os enfermeiros encontram-se satisfeitos nos aspectos intrnsecos

(Acompanhamento, Reconhecimento e Autonomia). Os enfermeiros que trabalhavam

na especialidade de psiquiatria eram mais maduros, mais experientes e com mais alto

nvel de satisfao, enquanto os enfermeiros que trabalhavam na Pediatria eram mais

jovens, menos experientes, apresentando um nvel de insatisfao mais alto.

No que diz respeito ao factor Desgaste fsico e psicolgico, conclui-se que os

enfermeiros mais jovens esto menos satisfeitos com o seu trabalho e tm pouca

Ana Isabel Fontes

36

autonomia. Para a relevncia dada ao trabalho no contexto social, verificou-se que os

enfermeiros esto insatisfeitos devido desvalorizao e falta de reconhecimento do

seu trabalho, que confirmado pela falta de recompensa financeira e falta de

expectativa de ascenso na carreira.

Em suma, a autonomia e poder surgem como um dos factores que influenciam

a satisfao dos profissionais. necessrio que os enfermeiros tenham margem e

liberdade de escolha na sua pratica profissional tendo em considerao as

especificidades inerentes (Graa, 1999), com a utilizao plena das capacidades

fsicas e mentais e a realizao de um trabalho estimulante (Ferreira et al, 1996).

Quando se fala de autonomia, implicitamente fala-se de tomada de deciso (OE,

2004a), de responsabilidade e esprito crtico, possibilidades de mudana (Martins e

Lus, 2000).

CONDIES DE TRABALHO E SADE

Graa (1999) descreve a dimenso condies de trabalho e sade como: o

ambiente fsico e psicossocial de trabalho com implicaes na sade, segurana e

bem-estar fsico, mental e social dos enfermeiros; A existncia de servios, programas

e actividades orientadas no s para a preveno dos riscos profissionais bem como

para a vigilncia e a promoo da sade (por ex., ter meios, a nvel individual e

colectivo, para proteger a sua sade e a dos seus colegas); A informao no domnio

da Segurana, Higiene e Sade no Trabalho, as oportunidades de participao e

consulta, etc.

As condies de trabalho dos enfermeiros nos hospitais tm sido consideradas

inadequadas, factor explicado pelas especificidades do ambiente e s actividades

insalubres executadas, levando ao desgaste fsico e emocional, a baixa remunerao

e o desprestgio social (Marziale, 2001).

Num estudo realizado por Mendes (2000) referenciado pela Ordem dos

Enfermeiros (2004a), conclui-se que a maioria dos enfermeiros inquiridos sente a

necessidade de melhorar as condies de trabalho na sua organizao,

nomeadamente no que se refere formao contnua, s relaes humanas, s

condies tcnicas, ao horrio de trabalho e remunerao.

Castillo e Prieto (1990), tambm citados pela Ordem dos Enfermeiros (2004a),

descrevem as condies de trabalho como as condies fsicas e ambientais (ex:

rudos, calores) e as condies cognitivas do trabalho (ex: stress). Os referidos

autores classificam as condies de trabalho em seis pontos: condies materiais de

trabalho ligadas higiene e segurana; organizao do trabalho; durao do trabalho;

Ana Isabel Fontes

37

modos de remunerao do trabalho; desenvolvimento das carreiras; outras condies

ligadas ao ambiente da empresa. As condies de trabalho podem tambm ser

entendidas como as condies fsicas (segurana e higiene), o clima pessoal (relaes

interpessoais e estilo de liderana), o contedo do trabalho, a formao, a

comunicao, a participao na soluo de problemas de trabalho, e as decises

relacionadas com o trabalho. Passamo-nos a centrar na organizao do trabalho e na

participao, com o intuito de promover a satisfao dos indivduos no trabalho e obter

a sua melhor performance (idem).

Existe uma correlao positiva entre a motivao para o trabalho e a satisfao

com as condies de trabalho e todos os indicadores de impacte organizacional

analisados.

Condies de trabalho engloba diversos aspectos da situao de trabalho:

aspectos materiais, relacionais, psicolgicos, organizacionais e outros (Sagehomme,

1997 p.11).

No estudo para dissertao de mestrado, Mendes (2000), segundo a OE

(2004a, p.103) conclui que que quase todos os enfermeiros inquiridos (94,3%) sentem

a necessidade de melhorar as condies de trabalho na organizao onde esto,

sobretudo no que respeita a formao contnua (62,1%), s relaes humanas

(58,6%), s condies tcnicas (48,9%), ao horrio de trabalho (36,1%) e

remunerao (33,9%) .

Quanto relao entre condies de trabalho e grau de satisfao com as

mesmas, verificou-se que, quando os enfermeiros se mostram satisfeitos com as

condies de trabalho, esto a referir-se, essencialmente, remunerao,

Formao e Carga de Trabalho. J o mesmo no acontece quando se referem ao

nmero de doentes de que se ocupam diariamente, s prticas de participao,

forma como funcionam os servios de apoio, s condies de espao, ao equipamento

e material, s relaes de trabalho e os riscos a que esto sujeitos, Ordem dos

Enfermeiros (2004a, p.266).

Os contextos de trabalho no conseguem ser dissociados dos contextos

polticos e econmicos, contextos esses que na maioria dos casos so extremamente

vinculativos para as condies de trabalho. Os aspectos polticos e econmicos so

um assunto incontornvel quando se fala em excelncia dos cuidados e dos

ambientes favorveis (ou no) sua prtica, assim como a sua influncia na

satisfao dos profissionais de sade.

Ana Isabel Fontes

38

A sade, como grande tema, foi sempre algo que preocupou os portugueses e,

como tal as diversas polticas de sade que tm sido adoptadas, tm reflectido

diferentes formas de ver um problema que continua longe de se ver resolvido.

O Servio Nacional de Sade (SNS), em Portugal, semelhana dos outros

sistemas de sade europeus, confronta-se, actualmente, com o dilema entre privilegiar

as necessidades das suas populaes, no que respeita sade ou privilegiar a

poupana dos recursos financeiros existentes (OE, 2004a). consensual a

necessidade de reforma do Sistema de Sade portugus mas todas as medidas sero

infrutferas se no forem implementadas de forma gradual. S implementando

ambientes favorveis a prticas de qualidade, se poder obter um feedback positivo

dos verdadeiros impulsionadores da mudana.

Um ambiente de trabalho seguro um pr-requisito para um ambiente

favorvel prtica (ICN, 2007c, p.25). O ambiente de trabalho influencia o

comportamento humano, e este pode funcionar como factor de satisfao ou

insatisfao. Algumas variveis ambientais podem explicar em parte o grau de

satisfao no trabalho, assim como tambm se deve ter em considerao as

diferenas individuais dos indivduos envolvidos. Tem-se verificado que, para alguns

as condies ambientais presentes surgem como uma fonte de insatisfao, enquanto

que para outros as actividades se tornam satisfatrias independentemente das

condies ambientais.

No que concerne ao tipo de instituio, o impacte das condies de trabalho

no percepcionado da mesma maneira em todas as organizaes, e no que respeita

ao impacte positivo podemos ento verificar que as maiores diferenas verificam-se

nas condies de sade e segurana no trabalho e nas condies dos materiais de

trabalho. De acordo com a Ordem dos Enfermeiros (2004a), as instituies

privadas/de gesto privada so as que apresentam os valores mais altos na

percepo de impacte positivo.

As organizaes de Enfermagem desempenham um papel crucial na advocacia

pelos ambientes de trabalho saudveis e pelas prticas de dotaes seguras (ICN

2007b). As condies fsicas e ambientais do trabalho dizem respeito no s s

condies gerais de temperatura, luminosidade, higiene, entre outras, assim como s

mais especficas: equipamento e ferramentas de trabalho, condies de segurana.

Em Portugal (Ordem dos Enfermeiros, 2004a),

Apesar de, na maior parte dos casos, os meios de trabalho razoveis, no deixa de haver pequenos acidentes de trabalho, j que o nmero de enfermeiros inferior ao que seria necessrio, bem como ao stress que advm

Ana Isabel Fontes

39

de situaes de emergncia acumuladas com actividade normal, e com reclamaes de utentes e dos respectivos familiares (p.397).

Existem muitos programas de segurana no local de trabalho. No entanto a

literatura indica que no podero ter sucesso quando as presses no trabalho e

instabilidade do pessoal incentivam as prticas perigosas no trabalho (SEP, 2007).

Muitas vezes o gosto evidenciado pelo trabalho no domiclio que se detecta

existir nos centros de sade no deixa de ficar ensombrado pelos riscos que no

conseguem evitar, dadas as ms condies dos habitats de muitos utentes (Ordem

dos Enfermeiros, 2004a).

A segurana no local de trabalho, em organizaes de cuidados de sade,

um assunto de preocupao crescente. O pessoal tem o direito de ser informado de

qualquer potencial risco, no local de trabalho e a responsabilidade de seguir as

directivas destinadas a reduzir o risco e prevenir danos/leses. Entre as vrias

preocupaes com a sade e segurana do empregado, em organizaes de cuidados

de sade, as mais importantes so a violncia no local de trabalho, a segurana em

instituies comunitrias e abuso de substncias, o stress relacionado com o trabalho,

doenas infecciosas, alergias e hipersensibilidade e leses fsicas (Tappen, 2005).

No que respeita aos servios de sade so vrios os que funcionam 24 horas

por dia, sendo necessrio recorrer ao trabalho por turnos. No entanto uma

preocupao crescente que o trabalho por turnos possa ter um impacto negativo

na sade individual, na habilidade para funcionar, nos grupos de suporte imediato e na

continuidade dos cuidados, afectando assim os servios de provenincia (ICN, 2007b).

O trabalho por turnos constitui um problema de sade pblica. Os enfermeiros

devidos s caractersticas do seu trabalho esto sujeitos a exigncias psicolgicas,

como o trabalho por turnos, para alm dos riscos profissionais que correm.

O trabalho por turnos e o trabalho nocturno provocam alteraes na sade e no

bem-estar dos trabalhadores (Azevedo, 1980, apud Cruz, 2003), mas nem sempre

avaliado negativamente pelos trabalhadores. Este tipo de trabalho apresenta efeitos

de vrias ordens: alteraes do ritmo biolgico, alteraes do sono, alteraes da vida

social, alteraes digestivas, alteraes a nvel da fadiga, alteraes na vida

profissional (Freitas, 2008).

No estudo realizado por Kostreva e Genevier (1989) concluram que a principal

razo para o abandono da profisso de Enfermagem devido ao facto de trabalhar

por turnos (Cruz, 2003). Contudo, tambm existem estudos realizados por Burger et al

(1957), Mann e Hoffman (1960) e Mott et al (1965) que referem a existncia de

Ana Isabel Fontes

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factores motivadores dos trabalhadores para o trabalho nocturno, como o caso da

remunerao, da situao familiar e a idade (idem).

Num estudo realizado por Costa, Morita e Martinez (2000) conclui-se que o

trabalho por turnos tem efeitos sobre a sade do trabalhador, nomeadamente

alteraes gastrointestinais, cardiovasculares e neuro-psquicas, assim como na vida

social, pela interferncia no relacionamento pessoal e familiar, pela restrio na

participao de actividades sociais e organizadas, e pela dificuldade de planear a vida.

Um nmero limitado de estudos demonstrou a relao entre os turnos

alargados (mais de oito horas) e a fadiga, assim como o aumento dos riscos de

segurana. Estas consequncias negativas no se limitam sade fsica (como o

caso de dor de cabea, fadiga e insnia), mas tambm se verificam disfunes ao

nvel familiar e social (ICN, 2001).

frequentemente sugerido que o Stress influencia as pessoas para a

satisfao no trabalho. Chan et al (2000) citado por Gomes et al (2008) refere que o

stress ocupacional dos enfermeiros inclui cinco grandes classes de problemas:

caractersticas individuais do profissional, caractersticas do trabalho executado,

caractersticas da organizao, vida familiar, e a influncia da estrutura social. As

consequncias subjacentes ao stress ocupacional nos enfermeiros podem ser de

carcter mais individual, como a depresso, a ansiedade, o burnout, entre outros, mas

tambm de carcter interpessoal, como por exemplo uma menor qualidade dos

servios prestados.

Os enfermeiros no esto isentos das consequncias do stress ocupacional,

apresentando problemas como a insatisfao com o trabalho, a sndrome de burnout e

absentismo (Cavalheiro e Lopes 2008, p.16).

A realidade que os enfermeiros de cuidados intensivos esto mais expostos a

doentes mais crticos e a ambientes tecnologicamente mais avanados. O stress dos

enfermeiros que trabalham em Servios de Cuidados Intensivos est relacionado com

o ambiente fechado, a iluminao artificial, o ar condicionado, a planta fsica, as

rotinas exigentes, os equipamentos sofisticados e ruidosos, o lidar com a morte, a

actuao junto de doentes crticos (Cavalheiros e Lopes, 2008). No estudo realiz