psicologia forense e perfil criminal

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  • 8/18/2019 Psicologia Forense e Perfil Criminal

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    PSICOLOGIA FORENSE

    Carlos Fernandes da Silva

    Professor da Universidade de Aveiro

    2015

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    • Um dos primeiros usos documentados de perfil criminal disserespeito aos Judeus acusados de demonização – relatório

    elaborado pelo anti-semita Apion para o Imperador romanoCalígula (38 d.C.).

    • Apion acusou-os falsamente de assassinatos e raptos

    ritualistas na Páscoa judaica (libelo de sangue).• O libelo de sangue foi um dos primeiros e persistentes modos

    de profiling que envolvia um conjunto de características pré-definidas que permitiam inferir e acusar um sector particularda população (Judeus):

     – [1] um jovem masculino desapareceu, [2] há uma comunidade judaicapor perto, [3] desapareceu antes da Páscoa judaica, [4] o corpoapresenta lesões que parecem resultar de ritual e [5] o corpo perdeumuito sangue.

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    • Um dos primeiros textos conhecidos com instruções explícitas parainvestigação criminal foi o Malleus Maleficarum , escrito por 2monges dominicanos (Henry Kramer & James Sprenger, 1486),

    professores de Teologia da ordem dos Irmãos Pregadores., para serusado pela Inquisição.

    • Inclui a Bula papal de Inocêncio VIII, 9 Dezembro de 1484).

    • “Bruxas” e outros criminosos poderiam ser identificados porespecíficas circunstâncias, habilidades e características.

    • Para identificar e acusar uma bruxa: – Ser mulher

     – Mancha, cicatriz ou marca de nascimento (marca do diabo)

     – Viver só

     – Ter um animal de estimação (demónio sob a forma de animal – familiar )

     – Sofrer de sintomas mentais (alucinações visuais ou auditivas) – Cultivar ervas medicinais

     – Não ter crianças.

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    • 1689: reverendo Cotton Mather (reformador puritano), de Boston,escreveu o infame texto Memorable Providences, Relating toWitchcrafts and Possessions (1689).

    • Relatou o caso de John Goodwin, cujas filhas terão confrontado alavadeira Ann Glover (católica irlandesa) de roubar roupas em casae depois ficaram muito doentes (the diseases of astonishment  –

    doenças de espanto ou assombro).• Médicos (peritos) não encontraram explicação natural, logo Ann

    Glover foi acusada de bruxaria (witchcraft syndrome evidence).

    • Post hoc, ergo propter hoc (after this, therefore because of this):

     – Os sintomas são provocados pela lavadeira porque apareceram depois de

    ter sido confrontada pelas filhas; Ann Glover terá que ser forçosamentebruxa porque as filhas possuem os clássicos efeitos de bruxaria; e sãoclaramente sintomas de bruxaria porque ela é necessariamente bruxa.

     – FOI CONDENADA À FOGUEIRA.

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    • A publicação do Memorable Providences, Relating to

    Witchcrafts and Possessions (1689) pelo Reverendo Mather,favoreceu a sequencia de julgamentos de bruxas de Salem(1692-1693): reverendo Samuel Parris, da vila de Salem.

     – 14 mulheres e 6 homens foram executados.

    “… forensic experts of that time were making particular errorsin logic and reasoning that are repeated by profilers today”(Turvey, B., 2008, pp. 16).

    Profilers modernos – Criminologia (estudo do crime, criminosos e comportamento criminal)

     – Psicologia e psiquiatria

     – Ciências forenses (exame das evidências físicas de crime).

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    • Cesare Lombroso (italiano, 1835-1909), estudando 383 prisioneiros,distinguiu 3 tipos de criminosos: –

    Criminoso inato – Criminoso insano

     – Criminalóide: corresponde ao que hoje se designa perturbação anti-socialda personalidade.

    • Características do criminoso inato: –

    Desvio significativo do tamanho e forma da cabeça face ao comum na raça e regiãoonde nasceu;

     – Assimetria da face;

     – Dimensões excessivas da mandíbula e das “maçãs do rosto” (zigomáticos);

     – Defeitos e peculiaridades dos olhos;

     – Orelhas de tamanho não usual, ou ocasionalmente muito pequenas, ou

    perpendiculares à face (como nos chimpanzés); – Protrusão dos lábios;

     – Rugas abundantes e precoces;

     – Comprimentos excessivo dos braços;

     – Etc …

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    • A teoria subjacente é a evolucionista, como se no criminosohouvesse uma reversão a um estado humano mais atávico(apelike). Lombroso acreditava que poderia identificar um

    criminoso pelas características físicas – marca de Caim.

    • O criminologista Ernst Kretschmer (alemão), a partir de umestudo não confirmado com 4.414 criminosos, concluíu que

    haveria 4 tipos corporais com que correlacionou tipos decrimes: – Leptossómicos ou asténicos (altos e magros): furtos triviais e fraudes;

     – Atléticos (músculos bem desenvolvidos): crimes violentos;

     – Pícnicos (baixos e “gordos”): crimes de mentira e fraude, mas por

    vezes com crimes violentos; – Displásicos ou mistos (“disformes”): crimes contra a decência e a

    moralidade, assim como crimes de violência.

    • Mas, não se comparou com controlos sem criminalidade.

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    • As actuais investigações sobre PET, fMRI, CAT scans, enzimas,genes e inventários de personalidade seguem o mesmoprincípio da marca de Caim.

    • Criminologistas Investigativos

    • Sir Arthur Conan Doyle (1859 – 1930): “crime is common;logic is rare” (Sherlock Holmes in The Adventure of the CopperBeeches). – Defendeu o princípio da eliminação dos viés desnecessários e a

    redução das teorias preconcebidas em qualquer interpretação dosfactos.

     – “It is a capital mistake to theorize before you have all the evidence. Itbiases the judgement” (Doyle, 1887).

     – Foi o arquitecto do conceito da revisão do caso após convicção.

    • Mais do que um ficcionista, era um crente na evidência.

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    • Dr Johann (Hans) Baptist Gustav Gross (1847-1925) –publicou Criminal Investigation –  A Practical Textbook formagistrates, Police Officers, and Lawyers (1906). – Proclamou a virtude da ciência contra a intuição;

     – Defendeu a abordagem sistemática para a reconstrução holística docrime e criminal profiling, contra a experiência não cientificamente

    informada e a super-especialização. – Apresentou o conceito de modus operandi (os criminosos são

    identificáveis pelos vestígios do crime).

    • O’Connel & Soderman (1935) – Modern CriminalInvestigation: segue a mesma linha.

     – “They do not talk about typical offenders; rather they discuss how the

    examination of physical evidence and offender actions can lead togood suspects” (Turvey, 2008, pp. 27).

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    • Dr James Brussel, de Greenwich Village, New York, emparelhava o

    modus operandi com os padrões clínicos das doenças mentais.• Elaborou o perfil do Mad Bomber que aterrorizou a cidade de Nova

    Iorque entre 1940 e 1950. Sugeriu 19 itens de perfil. Em 1957 apolícia deteve George Metesky, confirmou que era o autor dosataques bombistas e o perfil coincidia com o do Dr James Brussel.

    • 1972: Jack Kirsch (agente do FBI) criou a Unidade de Ciência doComportamento (BSU) do FBI.

    • 1985: como expansão da BSU, foi criada a NCAVC (National Center

    for the Analysis of Violent Crime).• 1995: criada a Academy of Behavioral Profiling (ABP), organização

    internacional e independente – www.profiling.org

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    Profiling

    • Perfil criminal é uma colecção de inferências acerca de

    características da pessoa responsável por cometer um crimeou uma série de crimes.

    • Inferência evidência e raciocínio lógico.

    • Especulação conclusão baseada em teoria ou conjectura

    sem evidência firme.

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    • Aspectos a ter em conta no profiling:

    • 1. Efeito do observador

     – The scientific observer is an imperfectly calibrated instrument(Rosenthal, 1966, pp. 3). Distorções resultantes do contexto e estadomental do perito, o seu empregador, os pares e expectativas.

    • 2. A estatística só por si não é ciência.

    • 3. A tecnologia não é ciência.

    • 4. Separar factos de opiniões.

    • 5. Distinguir fontes primárias de informação (inalteradas,directamente da fonte) de fontes secundárias (interpretadasou sumariadas por alguém).

  • 8/18/2019 Psicologia Forense e Perfil Criminal

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    • Aspectos a ter em conta no profiling:

    • 6. Lógica no raciocínio (McInerney, 2004): – Princípio da identidade: “a thing is what it is”. Tratar cada caso como um

    evento individual, mais do que uma extensão ou crime similar.

     – Princípio do meio excluído: “between being and nonbeing, there is nomiddle state”. Ocorreu um crime, ou não ocorreu, não há “talvez”.

     – Princípio da razão suficiente: não admitir um rapto por extra-terrestres.Esta competência requer que o profiler estabeleça cuidadosamente ocomportamento que quer caracterizar.

    • 7. A inferência pode ser indutiva ou dedutiva. – Indutiva: processo comparativo, correlacional ou estatístico, muitas vezes

    dependente da perícia subjectiva frequentemente associada a síndromespsicológicos.

     – Dedutiva: método baseado na evidência, raciocínio processo-orientadoacerca de padrões de comportamento de um ofensor particular.

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    • Aspectos a ter em conta no profiling:

    • 8. Tipos de argumentos indutivos:

     – Generalização indutiva: Partindo de um exemplo ou de uma amostra,

    extrair características que aplica a casos aparentemente análogos. KarlPopper alertou para os perigos da generalização indutiva.

     –  Argumento estatístico: Estatística tem a ver com probabilidade, “it is a

    matter of likelihood” (verosimilhança) . Soa bem, convence facilmente

    e dá suporte a estereótipos de senso comum (daí a sedução).

    • 9. Características das proposições indutivas. – Termos usados: normalmente, frequentemente, raramente, na

    maioria dos casos, provavelmente, usualmente, nunca, sempre.

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    Aspectos a ter em conta no profiling:

    • 10. A probabilidade condicionada: – Exemplo de raciocínios indutivos falaciosos em virtude da

     probabilidade condicionada:

     – Premissa 1: A maioria dos assassinos são homens (para sustentar oargumento admitamos 70%).

     – Premissa 2: Dos assassinos que são homens, a maioria tem entre 18 e24 anos (admitamos mais uma vez 70%).

     – Conclusão: o assassino será um homem com idade entre 18 e 24 anos.

     – Problema matemático: 0,70 x 0,70 = 0,49, isto é, 49%.

    Em suma: – A probabilidade de ser homem com idade entre 18 e 24 anos é

    inferior a 50%!...

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    Aspectos a ter em conta no profiling:

    • 11. O raciocínio dedutivo: – Se as premissas são verdadeiras, então a conclusão é verdadeira.

     – Modus ponens: [1] Se P, então Q; [2] P, [3] logo Q.

     – Modus tollens: [1] Se P, então Q; [2] não Q, [3] logo não P.

    Exemplo de modus ponens: – Premissa 1: se a vítima está cuidadosamente desarticulada, então o assassino

    possuirá conhecimentos médicos;

     – Premissa 2: a vítima não foi desmembrada com instrumentos habitualmenteusados em lojas ou em casa (machados);

     – Premissa 3: não há evidência de ter sido usado instrumento de serrar;

     – Premissa 4: a vítima está desmembrada pelas articulações (não nossegmentos dos ossos), cuidadosamente.

     – Conclusão: o crime evidencia um criminoso com conhecimentos médicos.

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    Aspectos a ter em conta no profiling:

    • 12. O raciocínio dedutivo:

     – Se as premissas são verdadeiras, então a conclusão é verdadeira.

     – Modus ponens: [1] Se P, então Q; [2] P, [3] logo Q.

     – Modus tollens: [1] Se P, então Q; [2] não Q, [3] logo não P.

    Exemplo de modus tollens: – Premissa 1: se a vítima de homicídio sexual tem sangue e pele do atacante

    sob as unhas;

     – Premissa 2: o criminoso terá que ter evidencia de ferimentos;

     –

    Premissa 3: o suspeito não tem ferimentos; – Conclusão: o suspeito não foi o autor do crime.

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    • FALÁCIAS LÓGICAS

    • Apelo à autoridade. – A autoridade pode não ser perito na matéria;

     – Pode ser perito em determinada matéria, mas não ser na que está emdiscussão;

     – Pode estar enviesada;

     – Pode não ser reconhecida pelos pares como autoridade.

    • Apelo à tradição.

    •  Argumentum ad hominem (argument to the Man). – O argumento dirige-se ao carácter, não ao raciocínio. Ex: “fulano é um

    sujeito tímido, logo não poderia ter perpetrado esse crime violento”.

    • Apelo emocional. – O relatório usa linguagem sensacional (ex: convicção, disfarce,

    ameaçador), usa analogias inapropriadamente (ex: lobo vestido compele de cordeiro), desviando a atenção do leitor da evidência forense.

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    • FALÁCIAS LÓGICAS

    • Cum hoc, ergo propter hoc (with this, therefore because of this). – Conclui uma relação de causalidade a partir de uma correlação entre

    eventos.

    • Generalização precipitada. – A partir de um caso (ou dado) ou muitos poucos casos (ou dados).

    • Generalização de varrimento. – A partir de muitos casos, considera-se que é mais um exemplo.

    • Falsa precisão. – Quando o argumento assume um grau de precisão (de uma informação)

    superior ao que possui.

    • Dissonância cognitiva. – O perito acredita que é capaz de identificar os erros de pensamento,

    apesar de a evidência ser em sentido contrário: “é sinal de incompetêncianão reconhecer a incompetência”.

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    • Análise investigativa criminal

     – Procura identificar as características de

    personalidade do ofensor a partir dos dados docrime.

     – (CIA – criminal investigative analysis).

    • 1. Avaliação do acto criminoso.

    • 2. Avaliação compreensiva dos dados específicos da cena do crime.

    • 3. Análise compreensiva da vítima.

    4. Avaliação dos relatórios preliminares da polícia.• 5. Avaliação dos resultados de exame médico ou de autópsia.

    • 6. Desenvolvimento do perfil com características críticas do ofensor.

    • 7. Sugestões de investigação para completar o perfil.

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    Sítios da Internet sobre Profilinghttp://www.liv.ac.uk/psychology/ccir/op.html

    Nas referências do texto há acesso a artigos.

    http://www.liv.ac.uk/psychology/ccir/op.htmlhttp://www.liv.ac.uk/psychology/ccir/op.html