proposta técnica búfalo

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MANEJO DE BÚFALOS NA VÁRZEA Em Porto de Moz todas as comunidades da várzea entre o Rio Xingu e Amazonas criam búfalo. Essas comunidades estão distribuídas por rio da seguinte maneira: Rio Aquiqui: São Pedro, Caridade, São Sebastião do Aquiqui. Rio Uiui: Monte Sinai, Santa Luzia, Cuieiras, São Judas Tadeu. Rio Peituru: Miritizal, Cajueiro, Laranjal. Rio Guajará: Três Irmãos, São Jorge, Santo Antonio e outras rio acima. Rio Coati: Maria de Mathias, Vila Nova Bom Jesus, Vila Bom Jesus, Cupari, São João do Cupari. Rio Jaurucu: Juçara, Ariruá, Carmelino, Fazendinha, Ilha Grande, Batata, Irapi, Apeí, Maricota. As comunidades usam dois sistemas principais de manejo de acordo com as condições naturais. Aquelas que estão apenas em áreas de várzea (sem terra-firme) trabalham com o gado em marombas (currais suspensos) durante a noite e soltos para pastar os capins nativos da várzea durante o dia. Aquelas que estão em área de transição entre várzea e terra-firme trabalham com o gado na várzea no período de água mais baixa aproveitando os campos naturais e trazem o gado para pastos plantados na terra-firme na época das cheias quando os pastos naturais são cobertos pela água. Nos dois casos a criação depende muito da disponibilidade das pastagens naturais e da rusticidade do animal. A criação do búfalo está organizada em núcleos formados por diferentes famílias com relações de parentesco que moram próximas umas das outras. Os animais são criados soltos e não há cerca dividindo as terras entre as diferentes famílias. As áreas entre um criador e outro são marcadas por limites naturais como uma árvore, enseada ou igarapé. Nesse sistema as relações familiares próximas facilitam o entendimento sobre o uso do espaço comum. A quantidade de animais varia de 10 a 100 animais por família. Poucas famílias têm acima de 100 cabeças e existem algumas fazendas com planteis maiores. O búfalo é usado para a comercialização da carne, principalmente dos machos, e para a produção de leite para a fabricação de queijo. O gado vendido para carne funciona como uma poupança para as famílias e a produção de queijo serve como uma fonte de renda freqüente.

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Page 1: Proposta técnica búfalo

MANEJO DE BÚFALOS NA VÁRZEA

Em Porto de Moz todas as comunidades da várzea entre o Rio Xingu e Amazonas criam búfalo.

Essas comunidades estão distribuídas por rio da seguinte maneira:

Rio Aquiqui: São Pedro, Caridade, São Sebastião do Aquiqui.

Rio Uiui: Monte Sinai, Santa Luzia, Cuieiras, São Judas Tadeu.

Rio Peituru: Miritizal, Cajueiro, Laranjal.

Rio Guajará: Três Irmãos, São Jorge, Santo Antonio e outras rio acima.

Rio Coati: Maria de Mathias, Vila Nova Bom Jesus, Vila Bom Jesus, Cupari, São João do

Cupari.

Rio Jaurucu: Juçara, Ariruá, Carmelino, Fazendinha, Ilha Grande, Batata, Irapi, Apeí,

Maricota.

As comunidades usam dois sistemas principais de manejo de acordo com as condições naturais.

Aquelas que estão apenas em áreas de várzea (sem terra-firme) trabalham com o gado em

marombas (currais suspensos) durante a noite e soltos para pastar os capins nativos da várzea

durante o dia. Aquelas que estão em área de transição entre várzea e terra-firme trabalham com o

gado na várzea no período de água mais baixa aproveitando os campos naturais e trazem o gado

para pastos plantados na terra-firme na época das cheias quando os pastos naturais são cobertos

pela água. Nos dois casos a criação depende muito da disponibilidade das pastagens naturais e da

rusticidade do animal.

A criação do búfalo está organizada em núcleos formados por diferentes famílias com relações

de parentesco que moram próximas umas das outras. Os animais são criados soltos e não há

cerca dividindo as terras entre as diferentes famílias. As áreas entre um criador e outro são

marcadas por limites naturais como uma árvore, enseada ou igarapé. Nesse sistema as relações

familiares próximas facilitam o entendimento sobre o uso do espaço comum.

A quantidade de animais varia de 10 a 100 animais por família. Poucas famílias têm acima de

100 cabeças e existem algumas fazendas com planteis maiores. O búfalo é usado para a

comercialização da carne, principalmente dos machos, e para a produção de leite para a

fabricação de queijo. O gado vendido para carne funciona como uma poupança para as famílias e

a produção de queijo serve como uma fonte de renda freqüente.

Page 2: Proposta técnica búfalo

Os principais desafios das famílias são relacionados à garantia de alimentação adequada para os

animais (em particular na época das cheias quando a água cobre a pastagem nativa), à sanidade

animal para reduzir as perdas com a mortalidade e à reprodução, em particular considerando a

alta taxa de consanguinidade do rebanho. É ainda fundamental a questão da comercialização do

queijo considerando as exigências da vigilância sanitária. Adicionalmente, a criação da Reserva

Extrativista Verde Para Sempre em 2004 na área onde as famílias já criavam búfalo acrescentou

o desafio para as comunidades construírem uma proposta técnica para a criação de búfalo que

garanta a legitimação e o apoio institucional, em particular do órgão gestor da unidade.

ALIMENTAÇÃO

Área de várzea

No sistema de criação característico das áreas de várzea, as famílias constroem na margem dos

rios sua casa no sistema de palafitas e a maromba (curral suspenso) onde os animais ficam na

época da cheia. Nesse sistema o principal desafio é garantir alimentação para o gado no período

das cheias, em particular para os bezerros que não conseguem nadar grandes distâncias a procura

de pastos. As principais propostas técnicas sendo construídas pelos criadores são:

Manejo de pastagens naturais - A proposta das comunidades passa por fazer rotação de áreas

entre o período de cheias e de baixa das águas. Para isso algumas famílias já estão construindo

duas marombas: uma mais próxima do rio para manter o gado nessa área no período águas baixas

e outra no fundo da sua propriedade que geralmente é mais alta e menos afetada pela cheia para

manter o gado durante a subida das águas. As famílias que ainda não construíram sua segunda

maromba, costumam levar o gado para os tesos, áreas naturalmente mais altas onde o gado

consegue garantir alimentação por alguns dias.

Complementação alimentar - Outro desafio é garantir complementação alimentar em particular

para os animais pequenos e para as vacas no período pré e pós-parto. As principais propostas

técnicas sendo construídas pelos criadores são:

Fornecimento de capim na maromba - Quase todas as famílias já usam arrancar capim no

campo e levar para os bezerros que ficam na maromba durante todo o dia. Nesses casos

os criadores buscam áreas de pasto na área de entorno e arrancam as folhas, talos e raízes

para distribuir na maromba. Os criadores informam que os talos são preferidos pelos

animais pois as folhas normalmente já estão palhadas.

Page 3: Proposta técnica búfalo

Figura 1 – Área do criador Bena na comunidade São Pedro, no rio Aquiqui. O capim preferido

pelos criadores da comunidade é o rabo-de-rato. Geralmente eles fornecem capim aos animais

jovens que nadam menos e têm dificuldades para pasjejar áreas distantes nas cheias e para as

vacas e pré e pós-parto.

Preparo de área de recreio na ilharga da maromba – Algumas famílias começaram a fazer

quadras (piquetes) próximos à maromba para reservar pastos para a época das cheias.

Essas áreas servem como fonte de capim a ser fornecido aos animais jovens na maromba

ou a ser pastejada por eles com mais facilidade por estarem próximas da maromba.

Page 4: Proposta técnica búfalo

Figura 2 – Área de recreio no rio Uiui feita com cerca elétrica. Essas áreas são cercadas com

flexais (tábuas de madeira) ou mesmo com o uso de cerca elétrica, principalmente durante o

verão (embora algumas famílias mantenham a cerca elétrica nas cheias subindo o arame

conforme sobe a maré).

Produção de silagem – A grande maioria dos criadores não considera viável a produção

de capineira em plantios separados para a produção de silagem pois toda a área da

comunidade alaga uma vez por ano, dificultando o plantio de qualquer cultura. Mas

considerando o ciclo curto de algumas culturas como o milho, a fertilidade natural dos

solos e o fato de que parte das áreas próximas à maromba não fica coberta de capim, o

plantio de milho para silagem parece uma opção a ser testada por criadores interessados.

Para os criadores que já têm cerca elétrica, a opção de separar uma área para a produção

de silagem parece mais viável.

Área de transição entre várzea e terra-firme

Nas áreas de transição entre várzea e terra-firme os animais permanecem tradicionalmente por

cerca de seis meses em cada ambiente. Os animais ficam na área de várzea durante o período de

estiagem das chuvas (de agosto a janeiro) pois os campos naturais propiciam ótimo rendimento

de leite, crescimento e engorda, principalmente quando ocorrem as primeiras chuvas e o capim

rebrota rapidamente em dezembro. Nas áreas de várzea há predominância das espécies de capim

rabo-de-rato (o preferido dos criadores), pomunga, arroz bravo e perimembeca às margens dos

rios. Na época das cheias (de fevereiro a julho) os animais são levados para áreas de terra-firme

Page 5: Proposta técnica búfalo

que são normalmente abertas e formadas com capim brachiarão e quicuio. Quando o criador não

tem pasto formado na terra-firme é comum que ele arrende as pastagens para todo o rebanho.

A seguir são apresentadas as principais propostas técnicas para a garantia da alimentação dos

animais no sistema terra-firme:

Pastagem de terra-firme

Formação ou reforma de pastos na terra-firme – A abertura de novas áreas normalmente é feita

no sistema corte, encoivara e queima. No caso de reforma de áreas o sistema preferido pelos

agricultores é esperar o tempo de pousio para a formação da capoeira e proceder com o corte,

encoivara e queima. Quanto mais antiga a capoeira, menor será a competição da pastagem com

plantas invasoras. A alternativa de fazer a aração da terra é limitada pela presença de tocos nas

áreas e a dessecação da vegetação secundária é limitada por falta de assessoramento técnico. Os

pastos feitos em terra firme são geralmente de brachiarão e, em alguns casos, de quicuio. Junto

com o capim é recomendado plantar leguminosas como estilosante e calopogônio que são fontes

importantes de proteína para os animais e também adubam o solo com nitrogênio, principal

nutriente requerido pelas pastagens para seu desenvolvimento.

Figura 3. Pasto reformado com quicuio pelo produtor Alexandre no rio Coati. Um dos principais

desafios dos produtores é manter seus pastos produzindo a longo prazo pois a reforma é

normalmente muito dispendiosa em particular se feita em capoeira nova que apresenta muita

Page 6: Proposta técnica búfalo

competição com plantas invasoras. Nesse caso, a área foi roçada, plantada com mudas de quicuio

e roçada outras duas vezes até a formação do pasto.

Quadro 1. Características e exigências das principais forrageiras

Forrageira

Produção

de matéria

seca por

ha por ano

(toneladas)

Altura

de

entrada

dos

animais

(cm)

Altura

de

saída

dos

animais

(cm)

Exigência

à

adubação

Características Forma de

propagação

Período de

descanso

na época

das águas

Queda

de

produção

na seca

Braquiarinha

18

30 10 Baixa

Tolerância a baixa

fertilidade, bom

crescimento sob a

sombra, boa

qualidade forrageira

e alta produtividade

sobre uso intensivo.

Semente e

muda 28 a 32 dias Alta

Braquiarão

20

40 20 Média

Fácil

estabelecimento,

resistência à

cigarrinha das

pastagens, alta

produção de

sementes, boa

qualidade forrageira,

boa cobertura do

solo com domínio

sobre plantas

invasoras.

Semente e

muda 28 a 35 dias Média

Colonião

40

70 40 Alta

Bom

desenvolvimento em

solo argilo-arenosos

férteis e drenados,

moderada

resistência a seca e

ao fogo e elevados

teores de açúcar

Semente e

muda 28 a 35 dias Alta

Page 7: Proposta técnica búfalo

(engorda de

bovinos).

Mombaça

40

90 50 Alta

Elevada produção

sob adubação

intensiva, elevada

qualidade, alto valor

alimentício e

moderada

resistência a

cigarrinha das

pastagens.

Semente e

muda 28 a 30 dias Alta

Tanzânia

30

70 30 Alta

Possui elevado valor

nutritivo e

alimentício, elevada

resposta a adubação,

boa resistência a

cigarrinhas das

pastagens,

uniformidade de

pastejo, boa

resposta sob pastejo

rotacionado.

Semente e

muda 28 a 32 dias Alta

Quicuio

12

35 15 Baixa

Boa adaptabilidade a

solos úmidos e de

baixa fertilidade, alta

resistência a seca,

tolerante ao ataque

de cigarrinhas.

Semente e

muda 28 a 35 dias Média

Divisão das quadras (piquetes) - A divisão da área em quadras serve para fazer o

rotacionamento do gado para que a forragem tenha tempo de descanso e assim consiga se

restabelecer para o próximo ciclo de pastejo. Para que o pasto se recupere é fundamental que o

gado entre na altura indicada do capim e seja retirado também na altura indicada, garantindo o

período que o pasto precisa para se recuperar (quadro 1). É necessário se observar o formato dos

piquetes. O comprimento normal do piquete não pode ultrapassar três vezes o valor da largura.

Page 8: Proposta técnica búfalo

Os piquetes mais adequados são os quadrados pois possibilitam melhor aproveitamento da

forrageira.

O quadro a seguir resume a área de pastagem que será necessária para criar diferentes tamanhos

de rebanho de acordo com o tipo de pasto.

Quadro 2.

Pasto Vacas ha Pasto Vacas Há

Brachiarão 10 1,1 Brachiarinha 10 1,3

30 3,5 30 4,8

50 6,0 50 6,3

Colonião 10 0,6 Mombaça 10 0,6

30 1,8 30 1,7

50 2,8 50 2,8

Tanzânia 10 0,8 Quicuio 10 2

30 2,3 30 6

50 4,8 50 10

A estimativa do tamanho da área de manejo foi feita dividindo a necessidade de massa seca de

forragem por ano pela produção de massa por hectare. Como exemplo, supondo que se necessita

alimentar 10 vacas em pasto de brachiarão, parte-se do princípio de que as vacas consomem 2%

de seu peso vivo em matéria seca e o brachiarão tem produção esperada de 20 toneladas de

MS/ha por ano. Considerando que as 10 vacas pesam 400 kg cada, elas vão consumir juntas 80

quilos de matéria seca por dia. Considerando as perdas com o pastejo (30%) e da estacionalidade

(10%) serão necessários 22.857 kg de matéria seca por ano. Essa quantidade poderá ser suprida

por 1,1 ha de brachiarão.

ÁREA TOTAL = Necessidade de matéria seca por ano = 22857/ 20 = 1,1

Produção esperada

Para se calcular o numero de piquetes é necessário que o agricultor considere:

Período de descanso – relaciona-se ao tempo em que o gado não ocupa o piquete e deixa o pasto

se recuperar para futuramente haver uma nova ocupação. O período de descanso é dependente de

alguns fatores como à espécie forrageira, condições de fertilidade do solo e o clima da região.

Período de ocupação - O período de ocupação é a época que o gado está pastejando dentro da

área. No caso de rebanhos leiteiros, deve ser de um dia (no máximo dois dias) pois o

prolongamento da ocupação causa variação na produção de leite. O gado deve começar a

ocupação antes de a planta soltar a inflorescência ou apresentar folhas envelhecidas pois nesse

caso a planta já se encontra com pouco valor nutritivo.

O cálculo do número de piquetes segue a equação:

Page 9: Proposta técnica búfalo

NÚMERO DE PIQUETES = Período de Descanso + 1

Período de Ocupação

No exemplo do brachiarão que tem período de descanso de 28 a 35 dias (média de 32 dias)

(quadro 1), o resultado é o seguinte se o período de ocupação for de um dia: (32/1) + 1 = 33

piquetes.

O tamanho do piquete é calculado dividindo-se a área total pelo número de piquetes. No exemplo

dado, os 1,1 ha devem ser divididos pelos 33 piquetes. Isso resulta em cada piquete com 0,03 ha,

ou 300 m². Isso faz com que cada uma das 10 vacas utilize 30 m² por dia.

Figura 4. Croqui da propriedade

Água e sombra - Também é fundamental pensar os piquetes garantindo o acesso do gado à água

a distâncias curtas. A água em um rebanho leiteiro é de fundamental importância pois o leite

apresenta 87% de água. Para uma vaca que apresenta alta produção é necessário que ela possa ter

acesso à água de maneira fácil.A demanda de uma vaca é de 80 litros por dia por animal de até

500 quilos. Para cada litro de leite produzido a vaca aumenta o consumo de água em cinco litros.

Então uma vaca que produzir 10 litros de leite terá que beber os 80 litros mais 50 litros de água

totalizando 130 litros finais de água por dia. As vacas leiteiras são animais preguiçosos, que não

se dispõem a caminhar muito para beber água. Assim, deve-se observar a qualidade das vias de

acesso e a distância dos bebedouros. Bebedouros mal localizados e distantes das áreas de manejo

Page 10: Proposta técnica búfalo

e de descanso certamente prejudicarão a produção de leite em razão do menor número de acessos

ao ponto de água e da menor quantidade de água consumida durante o dia. Outro ponto

importante é a qualidade da água oferecida aos animais. Se as vacas tiverem acesso a uma fonte

de água quente, barrenta ou suja, o consumo será afetado. Nesse caso, os animais bebem apenas

o mínimo necessário mas não o suficiente para proporcionar produção elevada.

Outra coisa que no pastejo rotacionado se tem levado em conta é o bem estar animal pois

comprovadamente quando um animal está em situação de conforto ele produz mais. Dentro disso

é indicada a presença de sombra em alguns pontos dentro do pastejo rotacionado. Geralmente as

pastagens têm árvores que podem fornecer sombra. A curto prazo pode-se separar um piquete

que tenha uma árvore de livre acesso só para a sombra permitindo que na hora do sol forte as

vacas possam ir para esse piquete que também deve ter uma fonte de água.

Uso de cerca elétrica - Para a divisão interna dos piquetes é recomendado o uso de cercas

elétricas “alimentadas” com energia solar ou bateria que reduzirá os custos de implantação dos

piquetes (se comparados à cerca com arame liso ou farpado), pois o custo com fio elétrico e

estacas é menor. Essa é uma novidade para os agricultores. A cerca elétrica possibilita dividir a

área com apenas um fio e trabalhar com estacas a cada 15 metros em média. Para a instalação os

seguintes detalhes são importantes:

Seguir as recomendações do manual de instruções do aparelho eletrificador – cada

eletrificador (aparelho de choque) já indica quantos quilômetros de cerca ele consegue

cobrir. Existem eletrificadores disponíveis para funcionar com energia da rede elétrica,

com baterias carregadas com energia solar e com pilhas. Na compra do aparelho já é

importante ter uma ideia do tamanho da cerca a ser estabelecida e saber a fonte de

energia.

Aterramento – o eletrificador tem uma saída que deve ser aterrada. A sugestão é conectá-

la a duas barras de ferro enterradas no chão em área úmida.

Isolar o fio da cerca – um bom isolamento garante a eficiência do sistema. O fio da cerca

não deve estar em contato nem com o capim nem com a madeira das estacas. Para o

isolamento é possível trabalhar alternativas locais como borracha de pneus velhos para

envolver os fios, produtos comerciais como isoladores para pregar nas estacas ou mesmo

tubos de plástico de cinco oitavos que podem ser inseridos em furos feitos nas estacas

com furadeiras manuais ou elétricas.

Para-raios – devem ser instalados para garantir a segurança do sistema e evitar queima do

eletrificador.

Page 11: Proposta técnica búfalo

Figura 5. Instalação da cerca elétrica na propriedade do Sr. Alexandre no rio Uiui. A cerca

elétrica facilita a divisão dos piquetes que permite a recuperação da pastagem nas áreas de terra-

firme. O sistema é simples e mais barato do que a construção convencional de cercas que usa

mais estacas e arame.

Manejo do gado na terra-firme - O manejo busca garantir que o gado entre no piquete no

momento em que o capim está em seu melhor estágio e saia no momento adequado para permitir

a recuperação rápida do capim (ver quadro 1). Caso chegue o dia de trocar as vacas de piquete e

elas não consumiram toda a área, faz-se o repasse com os animais jovens, mas sempre

respeitando a altura de saída da forragem.

Para aproveitar o bosteamento dos animais que serve como adubo para o solo, recomenda-se

todo dia, antes de retirar os animais das parcelas, ir 15 minutos antes e levantar todos os animais,

estimulando que este façam o bosteamento no piquete e não no corredor durante o caminho para

o curral de ordenha.

A cada inicio de uso da área, também é recomendado a roçagem dos piquetes 1 mês antes de

colocar os animais, para que a “palhada” formada pelo tempo de descanso logo, seja cortada e

assim o capim “brote” e esteja em boa qualidade para o primeiro pastejo. Caso não seja possível

fazer a roçagem, coloca-se os animais jovens para fazer esse corte. Mas não se deve deixar que

esses animais “rapem” o pasto.

Page 12: Proposta técnica búfalo

Sal mineral – Não é tradição entre os criadores oferecer sal mineral para o rebanho. Mas alguns

criadores já começam a usar o sal como fonte complementar de minerais para os animais que

estão na terra firme. O recomendado é ter um cocho coberto para se distribuir sal a vontade para

os animais.

SANIDADE

Cuidados com os bezerros

É muito importante garantir o bom desenvolvimento inicial dos bezerros. Para isso é

fundamental que o bezerro mame logo após o parto ingerindo o colostro do leite que é

fundamental para seu sistema imunológico.

Depois, quando começa a ordenha, é importante deixar leite suficiente para o bezerro mamar. Os

criadores começam a tirar leite a partir do oitavo dia do nascimento dos bezerros, quando o leite

“clareia”. Parte pequena dos criadores, para promover o melhor desenvolvimento dos bezerros,

começa a tirar leite a partir do vigésimo dia de nascimento dos bezerros. A partir do início da

ordenha, os produtores passam a apartar as vacas no final do dia prendendo os bezerros nos

currais ou marombas para a ordenha na manhã do dia seguinte. Durante a ordenha e ao longo do

dia, os bezerros ficam com as vacas. Em muitos casos os criadores tendem a ordenhar e deixar

pouco leite para os bezerros. Nesse caso, como os bezerros não recebem alimentação

complementar, têm baixo desenvolvimento inicial e não se fortalecem o suficiente para suportar

a época da chuva.

Page 13: Proposta técnica búfalo

Figura 6. Bezerros do Sr. xxx do rio Peituru na maromba com sinais subnutrição por falta de

pasto e amamentação. A oferta do colostro nos primeiros dias e leite posteriormente é

fundamental para o desenvolvimento inicial dos bezerros uma vez que os criadores não têm

recursos nem tradição de oferecer complementação alimentar. Geralmente a desmama é natural

feita pela própria vaca a partir do oitavo mês.

Higiene

A principal questão da sanidade é garantir a higiene no trato com os animais. Como a criação é

extensiva, o maior cuidado deve ser tomado para manter as instalações limpas. Os criadores em

geral não investem em instalações e isso pode trazer prejuízos. A seguir são apresentadas as

questões mais importantes para a estrutura e higiene das instalações usadas para o manejo dos

animais (curral nas áreas de terra-firme e maromba nas áreas de várzea).

Curral – A função do curral é facilitar o manejo do rebanho, indo da aplicação do medicamento

à ordenha. Embora não seja comum, recomenda-se que o curral tenha piso de cimento. O piso de

cimento facilita a instalação uma esterqueira para facilitar a limpeza e retirada do esterco que

pode ser aproveitado para a adubação. Além de propiciar o bem estar dos animais, a esterqueira é

uma prática sanitáira que evita a propagação de doenças.

A parte do curral para os animais adultos que ficam pouco tempo não precisa ser coberta, mas a

parte destinada aos bezerros que ficam presos geralmente a partir das 16h deve ser coberta.

Dentro do próprio curral pode-se fazer uma sala cercada para fazer a ordenha, diminuindo assim

os gastos com instalações. A área a ser destinada para a ordenha no curral depende de quantas

pessoas fazem a ordenha, mas basicamente se utiliza uma área de 2m x 3m para cada vaca e sua

cria. Essa área deve ser limpa antes e depois da ordenha.

Page 14: Proposta técnica búfalo

Figura 6. Curral na propriedade do Sr. Renato na Comunidade São João do Cupari, no rio

Cupari. O piso de madeira dificulta a retirada do esterco e, particularmente nas épocas mais

úmidas, fica com forte odor causado pela urina dos animais acumulada na parte debaixo do

assoalho (a alternativa seria piso de cimento com esterqueira). A falta de cobertura aumenta o

estresse dos bezerros que são presos no meio da tarde de cada dia para facilitar a ordenha no dia

seguinte (a alternativa seria uma cobertura para a parte do curral em que os bezerros ficam presos

com fonte de água).

Maromba – A maromba é uma estrutura suspensa feita de madeira para abrigar o gado na época

das cheias. Para o assoalho é recomendado deixar espaço entre tábuas de 2 cm e usar tábuas de

3cm de espessura para facilitar a limpeza. A rampa deve ter as laterais bem cercadas, contendo

proteção capaz de evitar que, ao escorregar, o animal coloque pernas para fora e seja pisoteado

pelos demais. É muito importante fazer degraus para evitar que fique escorregadia. Sugere-se 2,5

m2 por animal para calcular o tamanho da maromba.

Page 15: Proposta técnica búfalo

Figura 7. Maromba secundária do criador Bena na comunidade São Pedro, no rio Aquiqui. A

rampa deve ser o menos inclinada possível para evitar muito esforço durante subidas e decidas

de animais.

Acidentes

Os bubalinos são animais que apresentam alta capacidade de adaptabilidade a ambientes “hostis”

para outras espécies de animais domésticos. Mesmo assim, nos campos naturais de várzeas de

Porto de Moz, nas marombas ou mesmo em áreas de pastagens de terra-firme são muito comuns

acidentes que provocam a morte desses animais.

A principal medida para evitar acidentes é amansar os animais adequadamente. Na prática as

vacas são amansadas quando têm a primeira cria e o criador começa a fazer a ordenha. Com o

bezerro mamando, o criador vai tentando tirar o leite. A prática exige principalmente carinho e

paciência nos primeiros dias com várias tentativas. O criador não deve ser agressivo com os

animais.

A seguir apresentamos um quadro com os principais tipos de acidentes, causas e medidas

preventivas.

Quadroxx. Tipos de acidentes mais comuns

Page 16: Proposta técnica búfalo

TIPOS DE

ACIDENTES

CAUSA/S OCORRÊNCIA MEDIDAS (DICAS DE)

PREVENTIVAS (PREVENÇÃO)

Afogamento Transporte por

água de

animais em

grandes grupos

incluindo

animais

jovens.

Bezerros durante

transporte de animais

em rios, passagem e

em campos inundados.

Evitar aglutinação dos animais ou

pressionar para que nadem mais

rápido. Sempre que possível mantê-

los em filas deixando a líder do

grupo guiar os demais. Evitar

transportar animais por áreas de

boiados sempre que possível, evitar

transportar rebanhos com muitos

animais.

Chifre

engatado

Enroscamentos

dos chifres em

troncos e

raízes de

árvores

Principalmente entre

vacas com mais de

cinco anos de idade da

raça murrah ou do

cruzamento desta com

a mediterrânea. Esses

animais apresentam

chifres em forma de

um círculo, com

pequena abertura na

parte interna. Ao

esfregá-lo em troncos e

raízes de árvores há

riscos do animal ficar

preso e não conseguir

sair. Quando ocorre em

regiões alagada pode

haver afogamento.

Serragem do chifre cerca de 5cm da

ponta. A idade indicada é para vacas

a partir do quarto ano. O cuidado é

evitar corte que provoque

sangramento e crie condições para

infecções e bicheira.

Chifrada (e

chifre

engatados)

Briga entre

animais

Sobretudo entre vacas

que disputam a

liderança do rebanho.

É muito comum as

briga entre vacas

ocorrendo o encaixe

dos chifres fazendo

com os animais fiquem

presos uns nos outros.

Serragem dos chifres ou descarte,

quando não se trata de animal de

“baixa” produtividade

Page 17: Proposta técnica búfalo

Quando isso ocorre em

áreas alagadas aumenta

o risco de morte por

afogamento. Outro tipo

de ocorrência muito

comum é engate do

chifre na parte anterior

da cocha, em muitos

casos o animal morre

engatado no outro

Acidente em

marombas

Rompimento

da estrutura da

maramba ou

frestas que

permitam a

entrada das

patas dos

animais,

decidas e

subidas em

rampas mal

construídas,

assoalho

escorregadio

Em marombas

construídas durante o

inverno com estruturas

frágeis ou com abertura

entre tábuas

possibilitando a

entrada dos membros e

derrapagem dos

animais provocando a

fratura da bacia

(cavidade óssea que

serve de base ao tronco

e de ponto de apoio aos

membros inferiores)

O cuidado essencial está na

construção da estrutura da maromba

de acordo com a quantidade de

animais desejada. Para o assoalho é

recomendado deixar espaço entre

tábuas de 2 cm e com tábuas de 3cm

de espessura, a rampa deve ser

menos inclinada possível para evitar

muito esforço durante subidas e

decidas de animais e com as laterais

bem cercadas, contendo proteção

capaz de evitar que, ao escorregar, o

animal coloque pernas para fora e

seja pisoteado pelos demais. Fazer

espécie de degraus para evitar que

fique escorregadia.

Caso haja a morte de animais é recomendado fazer a queima das carcaças. Na época da cheia

recomenda-se levar as carcaças para as áreas de teso campo e queimar ou enterrar. Não é correto

jogar as carcaças no rio para serem levadas pela maré pois isso provoca contaminação das águas

e doenças nas populações rio abaixo.

Calendário profilático

É necessário que o criador siga o calendário profilático que é o cronograma mensal de vacinação

e combate a endoparasitas e ectoparasitas.

Quadro 3. Calendário profilático

Page 18: Proposta técnica búfalo

Idade (Dias) Cura de

umbigo

Vermifugação Vacina de

Brucelose

Vacina de

Clostridiose –

1 X

7

15 X

30 X

60 X

90

120

180 X X X

Cura de umbigo – Na várzea os criadores não costumam fazer cura de umbigo, sendo raros os

casos de inflamação. Na terra-firme, é mais comum haver complicações e os cuidados com a

cura do umbigo devem ser redobrados. Tanto na várzea quanto na terra-firme, a cura deve ser

feita no primeiro dia de vida do animal com solução de iodo a 10% repetindo esse procedimento

duas vezes ao dia até que o quinto dia ou até que o umbigo fique seco. Caso o umbigo esteja

grande ele deve ser cortado ficando a dois dedos do abdômen.

Verminoses e ectoparasitas (principalmente piolho) – O fundamental desses tratamentos é

aplicar os medicamentos na dose correta, concluir o tratamento iniciado e alternar os

medicamentos para evitar resistência nos animais.

Brucelose – A vacinação deve ser feita entre o entre o terceiro e o oitavo mês de vida, sendo

recomendado o sexto mês.

Clostridiose – A vacina para manqueira deve ser aplicada junto com a vacina de brucelose.

Depois deve ser feita anualmente junto com a campanha de vacinação.

Aftose – As vacinações para aftose devem ser feitas duas vezes por ano nas campanhas que

acontecem em maio e novembro em Porto de Moz. O controle é feito pela Adepará.

Page 19: Proposta técnica búfalo

REPRODUÇÃO

As comunidades têm rebanho misto com baixa produção de leite (dois litros por vaca por dia em

média) mas considera que o gado tem ganho de peso relativamente bom. Um dos principais

desafios é a consanguinidade do rebanho da região que tem a mesma origem. Para superar o

problema há a possibilidade de troca de touros e inseminação artificial.

Como as famílias criam os animais soltos (sem áreas individuais separadas) os touros cobrem as

vacas de todos os vizinhos sem distinção. Então a troca de touros entre vizinhos não é funcional

para evitar que os pais cubram as filhas. A alternativa encontrada é a troca de touros entre

comunidades.

A inseminação nas áreas onde, pela criação solta e extensiva, não é possível separar as vacas dos

touros é difícil de ser implementada. Nas áreas em que os criadores têm pastos separados (em

particular aqueles que têm pastos em terra-firme) há maior possibilidade na medida em que é

possível separar as vacas para inseminar com mais facilidade.

Monta natural

De maneira geral, a reprodução ocorre de forma natural, obedecendo ao ciclo natural de

reprodução dos animais e sua adaptação ao ambiente. Isso ocorre devido às condições oferecidas

pelos ecossistemas (várzea e terra-firme) e pelo modo extensivo como a criação é desenvolvida.

Para os criadores que dispõem só de área de várzea, o período de monta ocorre nos primeiros

meses do período seco, isto é, principalmente entre os meses de agosto e setembro com a parição

acontecendo entre os meses junho e julho. Nas áreas só de várzea, as crias ocorrem nos durante o

período das cheias, o que representa riscos iminentes de perda do bezerro e muito trabalho para o

criador. Como não existe terra, o criador fica vigiando o animal nos dias que antecede a parição

para, aos primeiros sinais de parto, levá-la à maromba e, assim evitar que o parto ocorra dentro

d’água. Esse é um dos períodos de maiores cuidados com a alimentação das vacas para evitar a

engorda excessiva, capaz de provocar disfunção (distócicos) durante o parto ou subnutrição que

também pode ocasionar problemas durante a após o parto.

Na faixa de transição entre várzea e terra-firme, a monta ocorre no início do período chuvoso, em

principalmente entre janeiro e favereiro, ocasionando a parição (pico) em novembro e dezembro.

Para a criação na faixa de transição, os partos ocorrem no final do período seco com grandes

extensões de terra. Como não há cercas para manejo dos animais, em muitos a vaca pare nas

ilhas, permanecendo com a cria escondida por até cinco dias antes de juntar ao rebanho. Mais

freqüentemente entre as novilhas de primeira cria (primíparas), há muitos casos de abandono do

bezerro recém-nascido que dificilmente é encontrado com vida ou quando encontrado já em

estado debilitado morre nos primeiros dias de vida. Alguns criadores adotam construir um

cercado próximo do curral para as vacas que estão por parir, evitando assim a perda do bezerro.

Page 20: Proposta técnica búfalo

Em ambos os ecossistemas as novilhas de primeira cria entram no cio a partir dos dois anos de

idade quando atingem cerca de 350kg, próximo ao parto atingem em média 450kg. Parindo,

portanto normalmente aos três anos de idade (em média). Uma vaca pare em média dez crias.

Predominantemente as raças murrah e mediterrâneo ou o cruzamento entre as duas raças ocupam

maior espaço na preferência dos criadores, pela dupla aptidão: carne e leite. Em menor escala são

encontrados os animais da raça jafarabadi – mesmo apresentando menor produção de leite, essa

raça tem crescimento rápido, podendo chegar a 1.000kg na fase adulta.

Seleção do touro - Considerando que o processo reprodutivo ocorre através de monta natural, os

criadores têm a preocupação em selecionar o “melhor” animal, para reprodutor, normalmente da

mesma propriedade. Os critérios de seleção basicamente se restringem ao desenvolvimento

corpóreo do animal. Os machos com crescimento acelerado e que apresentam boa formação de

chifres (armados como são definido pelos criadores), ficam reservados para futuros reprodutores

nas propriedades. Quando os criadores têm oportunidade compram touros dos compradores de

gado que adentram os rios animais de outras propriedades ou trocam entre vizinhos animas com

aparências físicas bem desenvolvidas (melhorar a redação).

O processo reprodutivo tem importância singular nos resultados econômicos da criação de

bubalinos relativos à produção de leite e ganho de peso dos animais para abate. Por isso, há que

se ter uma atenção especial para este fator. A seguir, dicas simples que podem trazer bons

resultados:

a) Troca de touro anualmente – o ideal para a criação com monta natural é a troca anual do

touro. Com isso, evita-se a endogamia ou consanguinidade provocada pelo acasalamento

entre animais com elevado grau de parentesco (irmã, mãe, filha...). A tendência “natural”

é que a filiação entre animais não consangüíneos, com boa produtiva (genética),

apresentem índices de produtividade igual ou superior aos pais biológicos.

b) Conhecer as origens do touro – a troca do touro dever ser baseada em critério de escolha

objetivando melhor produtividade, principalmente de leite. Não basta apenas trocar por

trocar. Faz-se necessário que o reprodutor tenha características de um bom reprodutor.

Para isso é importante ter informações dos pais – se a mãe tem boa produtividade de leite,

se as filhas também apresentam boa produtividade, instinto maternal da mãe (boa

criadeira) e, subretudo, se o animal é saudável. Um reprodutor contaminado com a

bactéria Brucella abortus, causadora da brucelose, pode contaminar um rebanho não

imunizado inteiro, ocasionando em perda da produção provocada por abortos além dos

riscos de contaminação humana.

c) Selecionar as melhores vacas do plantel – avaliar a frequência de parição, produção de

leite, boa criadeira (instinto maternal) e manter as vacas e suas filhas no plantel.

Page 21: Proposta técnica búfalo

Quadra-maternidade – uma alternativa para evitar que a vaca realize o parto longe dos cuidados

do dono é o estabelecimento do “piquete-maternidade.” Isto é, uma área cercada com oferta de

água e alimento em abundância e qualidade para os animais ficarem confinados no pré-parto.

Isso faz com que o criador acompanhe de perto o parto e o pós-parto do animal evitando

inclusive longas caminhadas do vaqueiro para descobrir o local onde a vaca escondeu a cria ou

mesmo a perda do bezerro por abandono, ataque de morcego, afogamento em passagens e outros

agentes capazes de provocar a morte de um recém-nascido. A quadra maternidade cumpre

função parecida à área de recreio na ilharga da maromba destinada aos bezerros.

Figura 7. Maromba principal do criador Bena na comunidade São Pedro, no rio Aquiqui. A

quadra-maternidade construída próxima à maromba e à casa do criador facilita a cura do umbigo,

facilita ao bezerro mamar o colostro nas cinco primeiras horas que é quando a vaca está com

maior concentração de anticorpos, facilita auxílio do criador no parto. A vaca entra quando o

animal começa a dar sinais de parto e fica até o bezerro ter cinco dias de vida.

Inseminação artificial

Uma alternativa, embora ainda não testada em Porto de Moz, para “refrescar” o sangue dos

pequenos rebanhos é a inseminação artificial. Considerando os custos para obtenção de touros de

linhagem sanguínea diferente e comprovadamente com bom reprodutor, fica bem mais barato

produzir animais por inseminação que comprar touros, sendo os mais próximo são da Ilha do

Marajó. A inseminação é a forma mais fácil de “introduzir sangue novo” no rebanho da região,

visto que quase todo o rebanho da região tem parentesco. Contudo, deve-se ter um

Page 22: Proposta técnica búfalo

acompanhamento de pessoas com experiência em inseminação podendo ser o próprio vaqueiro e

evitar a aquisição de sêmens de animais não adaptados às condições ambientais da região.

Além do sêmen do touro, é fundamental a seleção das vacas a serem inseminadas pois a cria

herda características do pai e da mãe. Como critérios sugere-se escolher as vacas por produção

do leite, ganho de peso, ser boa criadeira (evitando vacas que rejeitam ou deixam os filhos

escondidos na mata), ter bom temperamento (evitando vacas agressivas, fácil de amansar) e ter

bom úbere de bicos bem definidos e de fácil ordenha. Do ponto de vista sanitário, é fundamental

trabalhar apenas com animais imunizados para brucelose.

As vacas devem ser inseminadas 12h depois da identificação do cio que é identificado pela

inquietação do animal e com as vacas se deixando montar. Como no caso de bubalinos as vacas

costumam entrar no cio durante a noite, é mais difícil para o criador identificar o momento exato

do cio. Caso o criador prefira, os veterinários recomendam a inseminação em tempo fixo para

bubalinos. Nesse caso o cio é induzido pela aplicação de hormônios e o processo de inseminação

geralmente precisa ser acompanhado por um especialista.

Para a inseminação é necessário ter:

Botijão – O botijão serve para manter o sêmen congelado com nitrogênio que precisa ser

reabastecido periodicamente. É normal que os criadores tenham um botijão menor para

transportar os sêmens a serem utilizados no dia.

Sêmen – O criador pode escolher o sêmen com base nas características do animal que ele

quer (tamanho, produção de leite, peso). No Pará o Cebran (Centro de Reprodução

Animal) localizado no município de Castanhal comercializa sêmen de bubalinos.

Para a inseminação é recomendado se ter um “Jiqui” que deve ser coberto para conforto do

produtor quando for manejar o rebanho (aplicação de vacinas, inseminação) e diminuir o estresse

do animal (estresse térmico) quando ali estiver. Sugere-se usar cavaco ou palha para cobrir o

Jiqui. Telhas de amianto não são recomendadas por aumentar o calor.

Page 23: Proposta técnica búfalo

Figura 7. Jiqui (brete) na propriedade do Sr. Renato na Comunidade São João do Cupari, no rio

Cupari usado para a vacinação do rebanho. Se adaptado pode ser usado para facilitar a

inseminação.

Como a inseminação é feita buscando a melhoria da raça e superar os problemas de

consanguinidade, é recomendado que o criador garanta que os bezerros tenham leite suficiente

para mamar o que vai garantir seu desenvolvimento inicial. Alguns criadores recomendam não

tirar o leite das vacas inseminadas buscando a melhoria do plantel para proporcionar que os

bezerros atinjam 300 kg já no primeiro ano de vida.

PRODUÇÃO DE QUEIJO

Higiene na ordenha

A a ordenha é feita nas manhãs manualmente durante o período de lactação da vaca. Há duas

formas mais comuns para a ordenha. Na primeira, principalmente entre a terceira semana e o

segundo mês de vida do bezerro, o ordenhador faz os procedimento durante a amamentação de

bezerro. Nesse caso, normalmente o bezerro mama em dois mamilos e o ordenhador retira o leite

de dois. Geralmente o bezerro é posto para mamar até descer o leite da vaca, quando começa a

ordenha. Na segunda forma é adotada quando o bezerro já está mais crescido e já se alimenta

com capim (complementarmente), normalmente a partir do terceiro mês do nascimento. Nesse

caso o ordenhador prende o bezerro com o uso de uma corda enquanto faz a ordenha. Para essa

atividade não foi possível observar cuidados higiênicos convencionais, como a limpeza das mãos

Page 24: Proposta técnica búfalo

e dos mamilos das vacas. O período mais crítico é no início das chuvas pois as tetas ficam sujas

de barro. Nesse período os produtores usam lavar os tetos antes do início da ordenha. O período

de cheia é considerado o mais higiênico pelos produtores pois os tetos estão limpos. Para a

higiene na ordenha duas propostas são fundamentais: No verão (e início das chuvas): 1. levar o

gado para a água para banhar antes da ordenha 2. Construir um curral-maromba com torneira

para facilitar a higienização dos tetos. O leite é transportado em recipientes abertos até as

“queijarias” onde é feito o processo de produção do queijo.

Produção de queijo

Depois da ordenha, o leite passa por um crivo para retirar parte das impurezas e fica em repouso

durante 24 horas (aproximadamente) em recipiente de plástico até coalhar. Depois é posto em

sacas de fibra para o processo de desidratação (retirada do soro). Quando desidratada a coalhada

é misturada ao leite cru até formar uma mistura homogênea. Leva-se ao fogo até formar uma

massa elástica. Novamente é posto em peneiras para desidratar o soro. A massa é temperada com

sal e levada a um tacho com manteiga de búfalo saturada até fritar. Quando está frito é posto em

recipiente com capacidade para a quantidade produzida (fôrma de plástico com capacidade

média de 1 a 10 kg).

A ADEPARÁ impõe restrições à comercialização do queijo fora do município de origem. Como

os produtores de queijo da região não têm nenhum registro, a Agência de Defesa Animal do Pará

(ADEPARÁ) proibiu a saída de queijo do município de Porto de Moz. A agência estabeleceu

prazo de dois anos, ainda em 2008, para os produtores se regularizarem nos Sistemas de

Inspeção Sanitária. Até então nem os produtores se regularizaram, nem a ADEPARÁ restringiu

de uma vez o comércio de queijo.

Custos para a rerforma, piqueteamento e cerca elétrica de 3ha e para a reprodução com

inseminação artificial

Material Finalidade Quantidade Preço

unit.

(R$)

V. total

(R$)

PREPARO DA

ÁREA

Roço da capoeira

(outubro)

Retirar capoeira para plantio 20,00 1000,00

Plantio com mudas

de quicuio

Acelerar a formação e evitar

ataque de pragas e plantio por

semente

20,00 1000,00

Transporte das

mudas

180,00

Page 25: Proposta técnica búfalo

Roço 1 (junho) Roço da capoeira para abrir

espaço para o desenvolvimento do

capim

30 20,00 600,00

Roço 2 (janeiro) Roço da capoeira para abrir

espaço para o desenvolvimento do

capim

20 20,00 400,00

CERCA

Arame liso flexível Cerca 2.000m 250 500,00

Isoladores Isolamento dos fios 160 unid. 1,00 160,00

Estacas Suporte para os arames 80 unid. 5,00 400,00

Eletrificador (a pilha) Eletrificar arame 1 unid. 100 100,00

Aterramento Condutor de desvio 3 unid. 10,00 30,00

Conectores do

aterramento

Conectar fios 3 unid. 1,00 3,00

Porteira eletrificada Fechar piquetes 1 unid. 30,00 30

Mão-de-obra Instalação 2 diárias 25,00 50,00

Kit pára-raios Desvio de descarga elétrica 1 unid. 30,00 30,00

Esticador de arame Esticar os arames 10 unid 2,00 20,00

INSEMINAÇÃO

Botijão Armazenamento de sêmen

Botijão Transporte local de sêmen

Sêmen

Curso de

inseminador

Bibliografia –

Láu, Hugo Didonet. Manejo Ecosanitário de Búfalos: Princípios, Técnicas e Aplicação. Belém:

Embrapa Amazônia Oriental, 2006. 64p.

Autores: Claudio Barbosa, Katiele Amorin, Nazaré Batista Barbosa (Rio Coati), Renato Barbosa

(Rio Cupari), Benedito xxx (Rio Aquiqui), Gabriel Medina

Page 26: Proposta técnica búfalo

A1 – S 01 53 013 W 052 38 594

A2 – S 01 53 014 W 052 39 011

A3 – S 01 53 019 W 052 39 029

A 4 – S 01 53 019 W 052 39 041

A5 – S 01 53 025 W 052 39 055

A 6 – S 01 53 023 W 52 39 068

A 7 – S 01 53 014 W 52 39 081

A 8 – S 01 52 589 W 052 39 105

Ponto 1 – S 01 52 599 W 052 38 596

Ponto 2 – S 01 52 582 W 052 39 021

Ponto 3 – S 01 52 569 W 052 39 034

Ponto 4 – S 01 52 559 W 052 39 047

Ponto 5 – S 01 52 548 W 052 39 050

Ponto 6 – 01 52 536 W 052 39 057

Ponto 7 – S 01 52 531 W 052 39 067

Ponto 8 – S 01 52 526 W 052 39 077