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PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DE
FILOSOFIAS DE GESTÃO AMBIENTAL
EM ESCOLAS
Bruna Maria Candido Neiva (UFG )
Marina de Siqueira Marques (UFG )
Vanessa Gisele Pasqualotto Severino (UFG )
Maico Roris Severino (UFG )
A questão ambiental é um tema continuamente discutido por todas as
camadas da sociedade contemporânea. Nesse contexto, entende-se que
a formação de uma consciência ambiental desde os primeiros anos do
estudo de uma criança, pode oportunizar à mesma a possibilidade de
modificar a forma como o mundo é tratado atualmente, visto que nesta
fase da vida são formados os princípios de cada indivíduo. No entanto,
acredita-se que para o desenvolvimento da consciência ambiental
muito mais que a educação a vivência gera impactos maiores. Neste
sentido, este trabalho tem por objetivo descrever uma proposta
genérica de implementação de filosofias de gestão ambiental em
escolas. Para tanto, a metodologia de pesquisa utilizada foi a teórica-
conceitual, que por meio da pesquisa aprofundada sobre os temas
Produção Mais Limpa (P+L), Logística Reversa e Sistemas de Gestão
Ambiental (SGA), se desenvolveu uma proposta genérica a ser
aplicada no contexto das escolas. Dentre os resultados deste trabalho,
pode-se destacar o levantamento de conjunto de ações e ou sugestões
de implantação das três filosofias no ambiente escolar. Como
contribuição deste trabalho, destaca-se a disponibilização de um
instrumental que auxilia as escolas na implantação das filosofias de
gestão ambiental P+L. Logística Reversa e SGA.
Palavras-chaves: Produção Mais Limpa, Logística Reversa, Sistema de
Gestão Ambiental, Escolas
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1. Introdução
A partir da década de 1970 iniciou-se o debate da incorporação das questões ambientais nos
diversos setores. Destaca-se que este debate foi se intensificando e alterando de foco e
abrangência ao longo do tempo. Segundo Zulauf (2000) pode-se dividir historicamente a
questão ambiental em três períodos (ou fases): fase pioneira (na década de 1970 com o
surgimento de movimentos ambientalistas, sem maiores fundamentos científicos, relacionado
com ações ativista por meio de protestos contra atitudes obviamente predadoras do meio
ambiente); fase política ou enforcement (como vontade social é precursora da vontade
política, a questão ambiental evoluiu para um movimento mundial de criação de temáticos
partidos ambientalistas a partir da década de 1980, e assim a institucionalização de leis como
mecanismo de controle ambiental); fase de mercado (a partir da década de 1990, em que se
percebeu como oportunidade de mercado a crescente demanda por serviços e produtos
relacionados com a questão ambiental).
Neste sentido, o setor produtivo tem desenvolvido e implementado diversas filosofias,
práticas e técnicas de gestão ambiental para adequar-se a esta demanda do mercado. Dentre
elas podem-se destacar: gestão de resíduos, gestão de resíduos naturais e energéticos, sistemas
de gestão ambiental, rotulagem, selo ambiental, certificação, sistemas de ecoeficiência,
produção mais limpa, ecodesign, análise do ciclo de vida, sistemas de logística reversa, green
supply chain management, entre outros (AMATO NETO, 2011).
Quando se analisa o contexto escolar, verifica-se que a maior parte dos relatos da literatura
estão focados com os temas educação ambiental e implantação de sistemas de coleta seletiva.
No entanto, verifica-se uma escassez de relatos relativos a uma implantação de filosofias,
práticas e técnicas de gestão ambiental mais abrangente, envolvendo desde a infraestrutura da
escola, procedimentos de rotina e educação. Neste sentido, este trabalho tem por objetivo
descrever uma proposta genérica de implementação de filosofias de gestão ambiental em
escolas.
Destaca-se a relevância de estudos desta natureza em função do fato de possibilitar impactos
positivos quanto às questões ambientais em dois aspectos: quanto aos benefícios do uso de
filosofias de gestão ambiental por escolas em si, e por ao implementarem tais filosofias,
desenvolvem direta e indiretamente ações de educação ambiental, contribuindo para a
formação de cidadãos mais conscientes ambientalmente.
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Para melhor compreensão deste artigo ele está organizado do seguinte modo: na seção 1 foi
apresentada a contextualização, problematização, objetivo e justificativa do trabalho; na seção
2 é apresentado o procedimento metodológico utilizado; na seção 3 é apresentada uma revisão
de literatura sobre os temas abordados neste artigo a partir de conceitos gerais e relatos de
estudos de caso; na seção 4 é apresentada e discutida a proposta elaborada; e, por fim, na
seção 5, as conclusões, limitações e sugestões de trabalhos futuros relacionados ao tema.
2. Procedimentos Metodológicos
Este trabalho é um dos resultados do projeto de extensão e pesquisa intitulado
‘Conscientização ambiental: potencializando impactos positivos no meio ambiente a partir da
educação básica’ financiado pelo edital PROEXT 2014 do Ministério da Educação (MEC).
Para atendimento aos objetivos propostos neste trabalho desenvolveu-se uma pesquisa do tipo
teórico conceitual. Segundo Demo (2000), a pesquisa do tipo teórica tem por intuito
reconstruir teoria, conceitos, ideias, ideologias, polêmicas, tendo em vista, em termos
imediatos, aprimorar fundamentos teóricos. Para tanto, utilizou-se como procedimento
metodológico a pesquisa bibliográfica. Para Gil (2008) este tipo de pesquisa é desenvolvido
com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos.
De modo operacional, para a elaboração da proposta apresentada neste artigo, foi realizada
num primeiro momento uma revisão aprofundada na literatura sobre os conceitos das
filosofias de gestão ambiental, bem como de relatos de estudos de casos de implementação de
tais filosofias em escolas (quando encontrado na literatura) e em outros ambientes produtivos,
por meio de livros e artigos de periódicos e anais de congressos. A partir do estudo das
filosofias, elaborou-se a proposta genérica por meio da adaptação destes às especificidades do
ambiente escolar. Por fim, fez-se uma análise e avaliação conceitual crítica da aplicabilidade
da proposta elaborada.
3. Revisão de Literatura
A partir das demandas apresentadas pela sociedade por soluções sustentáveis no âmbito dos
sistemas de produção, iniciou um debate científico, que culminou no surgimento de uma área
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de conhecimento e de atuação da Engenharia de Produção chamada Engenharia de
sustentabilidade. Segundo a Associação Brasileira de Engenharia de Produção (ABEPRO) a
área da Engenharia de Sustentabilidade refere-se ao planejamento da utilização eficiente dos
recursos naturais nos sistemas produtivos diversos, da destinação e tratamento dos resíduos e
efluentes destes sistemas, bem como da implantação de sistema de gestão ambiental e
responsabilidade social. Dentre os temas abordados nesta área pode-se destacar: gestão
ambiental; sistemas de gestão ambiental e certificação; gestão de recursos naturais e
energéticos; gestão de efluentes e resíduos industriais; produção mais limpa e ecoeficiência;
responsabilidade social; e desenvolvimento sustentável (ABEPRO, 2014).
Em função dos objetivos propostos neste trabalho, a seguir são a apresentadas breves revisões
de literatura acerca de três filosofias de gestão ambiental: Produção Mais Limpa, Logística
Reversa e Sistemas de Gestão Ambiental e Certificação. Ainda, pelo fato da proposta
elaborada ter o foco de aplicação em escolas, e apresentada uma revisão bibliográfica acerca
do tema Educação Ambiental.
3.1. Produção Mais Limpa (P+L)
Até a metade do século passado o homem considerava a Terra como uma fonte inesgotável de
recursos naturais, o resultado deste pensamento foi à utilização desenfreada destes recursos
por toda a humanidade, causando vários danos ao planeta.
Para diminuir todos esses danos surge o conceito da gestão ambiental, na qual propõe um
ganho competitivo das organizações e instituições que dela usa, unindo o interesse da
organização (lucro), em paralelo com ideias que visam agredir menos o ambiente. Como
tática da gestão ambiental surge o conceito da Produção Mais Limpa (P+L), que tenta
encorajar as empresas a ter um ganho competitivo, inovador e ambientalmente sustentável.
Segundo Calia e Guerrini (2011, p. 38) o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA) define Produção Mais Limpa como:
“A aplicação contínua de uma estratégia ambiental preventiva aos processos,
produtos e serviços a fim de aumentar a eficiência total e de reduzir riscos aos seres
humanos e ao ambiente. A Produção Mais Limpa pode ser aplicada aos processos
utilizados em qualquer setor econômico, nos próprios produtos e nos vários serviços
oferecidos a sociedade”.
Para a Produção Mais Limpa qualquer resíduo é considerado um ganho negativo para a
empresa. Sendo assim, a P+L admite ao seu usuário compreender os custos e a sistematização
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do funcionamento dos processos, serviços e produtos, permitindo a solução das dificuldades
do meio técnico e ambiental da organização, além de eliminar a poluição durante o processo
de produção e convívio do homem no seu habitat natural. Para isso é necessário um baixo
investimento, podendo resultar na redução dos custos da empresa e da utilização de matérias-
primas, água e energia.
Segundo Silva e Medeiros (2006), o processo de implementação da P+L é composto por uma
sequência de etapas que podem ser verificadas na Figura 1. A seguir segue a descrição das
atividades a serem desenvolvidas para a implementação do P+L.
Figura 1 – Etapas de implementação da Produção Mais Limpa (P+L)
Fonte: CNTL (2003) apud Silva e Medeiros (2006).
Etapa 1:
A primeira etapa consiste no comprometimento da direção. Pois é de suma importância que a
direção esteja comprometida para a realização do trabalho. Na sequência é passado aos
funcionários todas as ideias e vantagens da metodologia a ser inserida na organização. Em
seguida, é formado o ecotime. Este será um grupo de funcionários que ficarão responsáveis
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para a aplicação da metodologia para o restante, cabendo a este grupo a elaboração dos
objetivos e ideias que serão implantados.
Etapa 2:
Em seguida, é feita uma pré-avaliação da situação atual da instituição, na qual é feito um
estudo de como é feito o descarte e o impacto causado pelos resíduos sólidos, efluentes
líquidos e emissões atmosféricas geradas pela empresa. Além disso, também é elaborada a
descrição do layout atual, com equipamentos e trajetória de movimentação dos materiais.
Depois da avaliação é construído um fluxograma, traçando um mapa do processo de produção
da empresa, sendo elaborado assim um levantamento dos dados quantitativos. Após a
elaboração do fluxograma é feita a parte de avaliação de entradas e saídas, sendo que o
objetivo dessa etapa é a obtenção dos gastos gerais da empresa, tanto em matéria-prima, como
em gastos com alimentação, água e energia. Esta análise é importante para a próxima fase, na
qual serão elaborados alguns indicadores para que sejam alcançados pela empresa.
Após toda a parte da coleta de dados é realizada, então, a avaliação das informações obtidas
sendo, nesta etapa, percebidos pela organização os resíduos que são gerados, os regulamentos
legais que devem ser cumpridos e quais os custos envolvidos para o descarte e implantação da
ideia P+L na empresa.
Ao decorrer do processo de implementação da P+L surgirão algumas barreiras, tais como o
desconforto do responsável pela área avaliada em relação à quantidade de resíduo gerado e o
levantamento de dados que podem afetar o resultado obtido. Tais barreiras devem ser
identificadas e estudadas para não atrapalhar a agilidade do processo.
Na etapa seguinte é feita a seleção do foco de avaliação e a priorização das ações, com base
na análise dos dados obtidos e na capacidade financeira da empresa.
Etapa 3:
Depois dessa parte é realizada a elaboração dos balanços de massa e de energia, para serem
elaborados esses balanços é necessário um balanço específico de cada setor, identificando a
máquina e/ou operação que foi avaliada.
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Feito o balanço material nas etapas e/ou setores priorizados, é necessário avaliar as origens de
cada resíduo identificado, para isso podem ser feitas algumas perguntas, tais como: quais
resíduos foram gerados?; como?; por quê?; onde? e quando?
Depois de realizados todas as avaliações e as causas de geração de resíduos, são realizadas a
geração das opções de P+L para deixar de gerar os resíduos analisados, para isso também
podem ser utilizadas algumas perguntas para ajudar a instituição: como deixar de gerar o
resíduo?; como reduzir sua geração?; como reciclar internamente? e como reciclar
externamente?
Etapa 4:
Depois de elaboradas as estratégias de implementação é necessário então que se faça a
avaliação e escolha da opção. Primeiramente deve ser realizada a avaliação técnica, sendo
avaliados os atributos e condições que as matérias-primas e materiais devem apresentar para a
nova proposta, se esta parte for aprovada, então será feita a avaliação ambiental. Nesta
avaliação, são observados os ganhos ambientais a serem alcançados pela empresa. Em
seguida seria feita a avaliação econômica, sendo analisada a viabilidade econômica para a
implementação das novas ideias.
Etapa 5:
As duas últimas etapas a serem cumpridas são as fases de implementação inicial das ações
que foram propostas e o monitoramento das atividades para a avaliação do desempenho
ambiental causado pela mudança.
3.2. Logística Reversa
Segundo Leite (2009), a logística reversa é a área da logística empresarial que organiza o
planejamento, a operação e o controle do fluxo logístico para o retorno dos bens de pós-venda
e pós-consumo ao ciclo produtivo e através dos canais de distribuição reversos podem agregar
valores nas diversas naturezas: econômico, prestação de serviços, ambiental, legal, logístico,
entre outros.
Ainda para o autor, a partir da década de 1990, a logística reversa se tornou um tema
constante em discussões ambientais, porém os primeiros estudos aconteceram entre a década
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de 1970 e 1980, relacionando principalmente o retorno dos produtos a serem processados em
reciclagem de materiais, analisados como canais de distribuição reversos (LEITE, 2009).
O escopo e a escala de atividades de reciclagem e reaproveitamento dos produtos e
embalagens teve um crescimento considerável nesses últimos anos. A expansão da logística
reversa se deve ao atendimento às questões ambientais impostas pela legislação, a
sensibilização do consumidor com o meio ambiente, os ganhos pela imagem diferenciada e a
redução dos custos de produção (CHAVES; ALCÂNTARA, 2009).
O sistema de logística reversa utiliza as mesmas formas do processo logístico direto, a
diferença é que o sistema reverso inicia suas atividades a partir do momento em que o produto
é entregue ao consumidor podendo ser reinserido no processo de produtivo (GUARNIERI,
2011). A Figura 2 representa o processo de logística direta e reversa:
Figura 2: Processo logístico direto e reverso
Fonte: Lacerda, 2009.
Segundo Leite (2009), a tendência de descartabilidade dos bens e o crescimento dos fluxos
logísticos diretos e reversos exigem que a implantação de sistemas reversos eficientes de
produtos de dois tipos: pós-venda e pós-consumo.
Logística reversa de pós-venda: é área que se preocupa com a operação do fluxo físico
e das informações logísticas correspondentes de bens de pós-vendas, que não foram
devolvidos por razões comerciais, defeitos no produto, erros no pedido, estragos
durante o transporte, entre outros. O retorno desse tipo de produto em grande
quantidade precisa ser minimizado, pois pode trazer a empresa prejuízo nas operações
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e na rentabilidade das atividades empresariais (LEITE, 2009; ACOSTA; WEGNER;
PADULA, 2008).
Logística reversa de pós-consumo: é a área que trata da disposição final dos bens no
final de sua vida útil, devido ao uso. Existe uma preocupação com a destinação final
desse tipo de produto, pois, sua destinação pode ser dirigida em locais que provoquem
grandes impactos ao meio ambiente. Assim existem três subsistemas reversos: o de
reuso são os casos onde o produto ainda apresenta condições de utilização; a de
remanufatura é o canal reverso onde os produtos são reaproveitados suas partes
principais, transformando-o em um produto com a mesma finalidade; a de reciclagem,
onde o produto se transforma em matéria-prima secundária ou reciclada e é
incorporada em novos produtos (GUARNIERI, 2011; ACOSTA; WEGNER;
PADULA, 2008).
Lacerda (2002) aponta os seis elementos que atuam como Fatores Críticos nas situações de
logística reversa. Tais elementos são apresentados na Tabela 1:
Tabela 1 – Elementos constituintes de um projeto de Logística Reversa
Fonte: Elaborado pelos autores
3.3. Sistemas de Gestão Ambiental e Certificação
O Sistema de Gestão Ambiental (SGA) pode ser definido como um conjunto de rotinas e
procedimentos sistematizados aplicados por uma organização, visando equilibrar a proteção
ambiental e a prevenção de poluição com as necessidades socioeconômicas, atendendo as
expectativas das partes interessadas (PIMENTA et al., 2003). Em outras palavras, o objetivo
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de um SGA é sistematizar ações voltadas ao meio ambiente, como também uma melhoria da
eficiência do compromisso ambiental das organizações (BERTOLINO, 2006).
O SGA abrange todos os níveis organizacionais necessários ao planejamento, execução,
revisão e desenvolvimento de uma política ambiental, sendo considerada uma ferramenta de
gestão ambiental que permite a uma organização o controle sobre seus aspectos e impactos
ambientais nas atividades produtivas de forma interligada, e não isolada (DE SOUZA;
RODRIGUES; DA COSTA, 2013).
No contexto supracitado, Barbieri (2007) afirma que a realização de ações ambientais
pontuais, episódicas ou isoladas não configura um SGA, pois para que se configure como tal,
é necessário o envolvimento de diferentes segmentos da empresa, a formulação de diretrizes,
definição de objetivos, coordenação de atividades e avaliação de resultados.
Situar-se acima das exigências legais, mediante SGA, deixa de ser apenas uma estratégia
preventiva para constitui-se mesmo em vantagem competitiva e diferencial no mercado. Isto
porque a qualidade ambiental exige um uso mais racional e produtivo de insumos, reduzindo
os custos de produção. Além disso, as mudanças podem gerar novas oportunidades de
negócios (VOGT et al., 1998).
O propósito do SGA pode ser sintetizado como uma possibilidade de desenvolver,
implementar, organizar, coordenar e monitorar as atividades organizacionais relacionadas ao
meio ambiente, visando conformidade e redução de impactos ambientais (MELNYK;
SROUFE; CALANTONE, 2002).
Segundo (AUGUSTO, 1995) existem vários tipos de programas de certificação ambiental, são
eles:
a) Selos de aprovação: identificam produtos ou serviços menos prejudiciais ao ambiente
que seus simulares com a mesma função;
b) Certificação de atributo único: atestam a validade de uma reivindicação ambiental feita
pelo fabricante do produto;
c) Cartões informativos: oferecem informações sobre o produto ou o desempenho
ambiental de processos ou indústrias. Informam sobre vários tipos de impacto
ambiental: consumo de energia, poluição do ar, da água, entre outros;
d) Informações técnicas publicadas: referem-se normalmente à produtos e apresentam
informações técnica, neutras e relativamente completas;
e) Alertas: referem-se às informações negativas, geralmente de publicação obrigatória,
por poderem afetar a saúde do consumidor.
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A norma ABNT ISO 14001 (2004) especifica requisitos relativos a um SGA, permitindo a
uma organização formular uma política e objetivos que levem em conta os aspectos legais e as
informações referentes aos impactos significativos. Ela se aplica aos aspectos ambientais que
possam ser controlados pela organização e sobre os quais se presume que ela tenha influência.
Contém requisitos baseados na metodologia conhecida como ciclo PDCA – planejar,
executar, verificar e agir, do inglês: plan, do, check e act.
4. Proposta
A proposta elaborada trata de uma adequação das filosofias de gestão ambiental P+L,
Logística Reversa e SGA para o ambiente escolar. Destaca-se que a proposta busca integrar as
diversas atividades e requisitos das diferentes filosofias em uma só proposta, pois ora tais
atividades são sobrepostas, ora são complementares. Ressalta-se ainda que uma proposta que
combina as práticas destas filosofias permite uma atuação mais abrangente em termos de
gestão ambiental. A Figura 3 faz uma representação esquemática da proposta elaborada.
Figura 3 – Proposta de integração de filosofias de gestão ambiental
Fonte: Elaborado pelos autores.
Em termos de atividades relacionadas à adequação de cada filosofia de estão ambiental para o
ambiente escolar tal proposta aponta:
4.1. Proposta de implantação da P+L:
A adaptação da P+L para o ambiente escolar está descrita na Figura 4.
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Dentre as possibilidades de atuação pode-se destacar: a produção de sabão, sabonete e/ou
desinfetante por meio do uso do óleo de fritura, alteração da instalação elétrica para em
paralelo para melhor aproveitamento da luz solar, instalação de temporizadores nas torneiras,
aproveitamento frente e verso de papéis, produção de banquetas, coletores, entre outros, com
garrafas PET, utilização das sobras de alimento como adubo para a hora da escola, entre
outras oportunidades.
Figura 4 – Proposta de implantação da P+L em escolas
Fonte: Elaborado pelos autores.
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4.2. Proposta de implantação da Logística Reversa:
Para implantação da Logística Reversa, se faz necessária a implantação anterior da P+L, ou
somente da coleta seletiva na escola. Assim se faz necessário a instalação de coletores
pequenos nos diversos locais da escola para o armazenamento por turno, e coletores grandes
para o armazenamento semanal (ou para a periodicidade do recolhimento pela prefeitura
municipal, cooperativa ou catadores). Estes coletores grandes inclusive podem ser utilizados
como pontos de entrega voluntária pelos moradores do bairro.
Caso tenha coleta seletiva no bairro da escola, deve-se fazer a sincronização da disposição
para a coleta destes materiais com a rota do caminhão. Caso só tenha em bairros vizinhos,
deve-se fazer um estudo da rota da coleta seletiva e definir uma parceria para a passagem
exclusiva na escola. Caso ainda, não seja possível, sugere-se a parceria com grupos de
catadores para fazer a coleta dos materiais.
Outro aspecto importante é o controle do material gerado. Não para a comercialização, mas
para avaliação do comprometimento da comunidade escolar com o programa.
4.3. Proposta de implantação de SGA:
A ideia que permeia a implantação de um SGA é que os procedimentos quanto às questões
ambientais sejam padronizadas e documentas pela escola. Assim, as ações implementadas
deixa de fazer parte de uma ação isolada, e se torna perene por meio da implantação do
programa. Assim, as ações planejadas e implantadas por meio da P+L e da Logística Reversa
se tornam procedimentos padrões da escola.
Assim, deve-se definir a política de gestão ambiental da escola, e esta política se tornar uma
cultura entre direção, professores, servidores e estudantes.
Ressalta-se que além dos ganhos econômicos verifica-se a potencialidade do estabelecimento
de uma imagem ainda mais positiva da escola para a comunidade.
5. Considerações Finais
A questão ambiental é um tema continuamente discutido por todas as camadas da sociedade
contemporânea. Nesse contexto, entende-se que a formação de uma consciência ambiental
desde os primeiros anos do estudo de uma criança, pode oportunizar à mesma a possibilidade
de modificar a forma como o mundo é tratado atualmente, visto que nesta fase da vida são
formados os princípios de cada indivíduo.
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Artigos publicados na Constituição Federal do Brasil nas Leis de Diretrizes e Bases da
educação defini a necessidade de inclusão da temática 'meio ambiente' nos parâmetros
curriculares nacionais (PCN) como tema transversal. No entanto, destaca-se que todas as
ações baseadas na perspectiva da educação para a sustentabilidade ambiental são
prognósticas, pois as intervenções apenas podem ser percebidas em longo prazo. Neste
sentido, implementar ações concretas de gestão ambiental nas escolas reforça as ações em
termos de educação ambiental além dos benefícios ao meio ambiente gerados por sua
implementação. Assim, a implementação das filosofias P+L, Logística Reversa e SGA
tornam-se oportunos para a educação e a gestão ambiental.
Destaca-se que este trabalho relata apenas sugestões genéricas de aplicação destes conceitos
em escolas. Como trabalho futuro, a equipe desenvolverá a aplicação prática desta proposta
para avaliação da consistência e dos benefícios gerados pela mesma.
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