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PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE COORDENAÇÃO DE ORDENS POLCA EM UMA CONFECÇÃO DE LINGERIE Livia Pereira Carvalho (UFG) [email protected] Maico Roris Severino (UFG/UFSCar) [email protected] A atual situação das pequenas e médias confecções de lingerie de Catalão vem apontando um deficiente Planejamento e Controle da Produção (PCP), de modo especial com a coordenação do fluxo de produção (materiais e informação). As razões paraa tal fato pode ser descrita pela centralização excessiva de funções dos proprietários, que por falta de disponibilidade de tempo e de conhecimento específico. Neste sentido, este trabalho tem por objetivo apresentar uma proposta de implementação do sistema de coordenação de ordens POLCA em uma pequena empresa de confecção. A motivação em termos da escolha deste sistema é pelo fato do ambiente em questão ser um job shop, com alta variedade e baixo volume de produtos e ser um ambiente make to order. Para efeito de estudo, foi desenvolvida uma pesquisa de caráter exploratório. A partir do diagnóstico foi proposto mudanças no layout, definição do número de cartões, definição do fluxo de materiais e uma dinâmica de funcionamento. Destaca-se que não foi possível a implementação da prática, visto à resistência da empresa em que foi realizado o estudo de caso. Assim, a principal contribuição deste trabalho foi demonstrar os aspectos que devem ser alterado em uma empresa para a implementação do sistema POLCA através de um exemplo real, visto que este é um assunto escasso na literatura em língua portuguesa. Palavras-chaves: POLCA, Coordenação de Fluxo de Produção, Confecções XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

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PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DO

SISTEMA DE COORDENAÇÃO DE

ORDENS POLCA EM UMA CONFECÇÃO

DE LINGERIE

Livia Pereira Carvalho (UFG)

[email protected]

Maico Roris Severino (UFG/UFSCar)

[email protected]

A atual situação das pequenas e médias confecções de lingerie de

Catalão vem apontando um deficiente Planejamento e Controle da

Produção (PCP), de modo especial com a coordenação do fluxo de

produção (materiais e informação). As razões paraa tal fato pode ser

descrita pela centralização excessiva de funções dos proprietários, que

por falta de disponibilidade de tempo e de conhecimento específico.

Neste sentido, este trabalho tem por objetivo apresentar uma proposta

de implementação do sistema de coordenação de ordens POLCA em

uma pequena empresa de confecção. A motivação em termos da

escolha deste sistema é pelo fato do ambiente em questão ser um job

shop, com alta variedade e baixo volume de produtos e ser um

ambiente make to order. Para efeito de estudo, foi desenvolvida uma

pesquisa de caráter exploratório. A partir do diagnóstico foi proposto

mudanças no layout, definição do número de cartões, definição do

fluxo de materiais e uma dinâmica de funcionamento. Destaca-se que

não foi possível a implementação da prática, visto à resistência da

empresa em que foi realizado o estudo de caso. Assim, a principal

contribuição deste trabalho foi demonstrar os aspectos que devem ser

alterado em uma empresa para a implementação do sistema POLCA

através de um exemplo real, visto que este é um assunto escasso na

literatura em língua portuguesa.

Palavras-chaves: POLCA, Coordenação de Fluxo de Produção,

Confecções

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

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1.1 1. Introdução

A Indústria de Confecções representa no contexto nacional uma das principais atividades

econômicas geradoras de emprego e renda. É considerado um setor de alto risco pela

economia devido a vários fatores, como a alta rotatividade de mão-de-obra, o rápido desgaste

e obsolescência do maquinário, até questões mais complexas como ausência de padrão de

qualidade, estratégias logísticas inadequadas, a falta de planejamento de demanda e o não

controle de matéria-prima (ROCHA, 2002).

Conforme dados da Associação Brasileira de Indústria Têxtil (ABIT), em 2011 o setor de

lingerie faturou R$ 5,45 bilhões em 2010, sendo responsável por 11% da produção de toda a

cadeia têxtil (VIEIRA e MARCONDES, 2012).

No município de Catalão, este setor também tem bastante relevância para economia local,

sendo configurado especialmente por pequenas e médias empresas. Atualmente este setor está

organizado em um Arranjo Produtivo Local (APL) intitulada União das Indústrias de

Confecção de Catalão e Sudeste Goiano (UNICON), que buscam alternativas para que as

empresas associadas sejam mais competitivas.

Neste sentido, a UNICON juntamente com o curso de Engenharia de Produção da

Universidade Federal de Goiás (UFG) campus Catalão, vem desenvolvendo uma ação de

extensão intitulada “Projeto Consultoria Organizacional”, que visa profissionalizar as

atividades relacionadas à gestão da produção. Tal trabalho é desenvolvido através de estágios

remunerados sob a orientação dos professores do curso.

Dentre as observações realizadas neste projeto, verificou-se que a atual situação das pequenas

e médias confecções de lingerie de Catalão vem apontando um deficiente Planejamento e

Controle da Produção (PCP). As razões para tal fato pode ser descrita pela centralização

excessiva de funções dos proprietários, que por falta de disponibilidade de tempo, não

conseguem gerir algumas atividades relacionadas quanto ao eficiente fluxo de produção

(materiais e informação).

Neste sentido, este trabalho tem por objetivo apresentar uma proposta de implementação do

sistema POLCA em uma pequena empresa de confecção. Para tanto, avaliou-se a necessidade

de reorganização industrial e os pré-requisitos necessários para a implantação do mesmo.

A inspiração deste estudo ainda é motivada por tratar-se de um sistema pouco utilizado no

Brasil, não havendo trabalhos acadêmicos abordando a temática aplicada em empresas.

Destaca-se que pelo fato de ser uma empresa organizada em job shop com grande variedade

de produtos, o POLCA pode contribuir de modo significativo para este tipo de indústria.

Para efeito de estudo, foi desenvolvida uma pesquisa de caráter exploratório. O artigo foi

realizado por meio de um estudo de caso em uma empresa de lingerie. Para o

desenvolvimento de soluções para a empresa foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre os

seguintes tópicos: PCP, Sistemas de Coordenação de Ordens (SCO) e o POLCA, baseada em

livros, artigos e teses. Pelo caráter teórico- empírico, foi realizado a coleta de dados em uma

empresa, com um estudo detalhado e discussões conceituais a partir de revisões

bibliográficas.

Para melhor compreensão deste trabalho, na segunda sessão é apresentada uma revisão

bibliográfica abordando PCP, SCO e POLCA, a terceira sessão é apresentado o estudo de

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caso, com uma subsessão com as propostas sugeridas e, por último há as Considerações

Finais.

2. Sistema POLCA

Segundo VOLLMANN et. al. (2006) a tarefa essencial do sistema de Planejamento e Controle

da Produção (PCP) é gerenciar com eficiência o fluxo de material, a utilização de pessoas e

equipamentos e, responder às necessidades do cliente utilizando a capacidade dos

fornecedores, da estrutura interna e, em alguns casos, dos clientes para atender à demanda do

cliente. O PCP tem como atividades periféricas a obtenção de informação de clientes sobre

necessidade de produtos e o fornecimento de informação ao cliente sobre datas de entrega e

situação do produto.

O principal debate inserido no contexto do PCP é o confronto entre demanda versus

capacidade, e assim determinar o que, quanto, quando e com que recursos produzir/comprar,

tanto no nível estratégico, como tático e operacional, sendo respectivamente decisões de

longo, médio e curto prazo.

De acordo com Fernandes e Godinho (2007) a Programação da Produção (PP) está

relacionada com atividades de médio prazo, portanto, trata-se de decisões de intenção.

Enquanto que o Controle da Produção (CP) lida com atividades de curto prazo, responsáveis

por regular o fluxo de materiais em um sistema de produção. Dentre as atividades do CP tem-

se: “programação ou organização/explosão das necessidades em termos de componentes

materiais; controle da emissão/liberação na literatura de revisão e liberação de ordens e,

programação/sequenciamento das tarefas nas máquinas”.

Existem alguns sistemas que se comprometem a realizarem uma, duas, ou até mesmo três das

atividades supracitadas. Esses sistemas são denominados ordering system, termo elaborado

por Burbidge em 1990, ou em português, Sistema de Coordenação de Ordens (SCO). Na

revisão de literatura desses autores foram identificados 17 diferentes Neste trabalho, é

apresentado somente o sistema Paired-cell Overlapping Loops of Cards with Authorization,

popularmente conhecido como POLCA (FERNANDES e GODINHO Filho, 2007).

O sistema POLCA, criado por SURI (1998), é caracterizado pela combinação do esquema

kanban e o HL/MRP (High Level Material Requirement Planning). Ele busca suprir e/ou

melhorar as limitações de ambos sistemas. Para aplicação do POLCA, o layout da empresa

deve ser em células, e pode ser aplicada em ambientes job shop, ou seja, cada peça tem um

roteiro de fabricação que pode ser ou não o mesmo de outras peças fabricadas na instalação.

Destaca-se que o POLCA é um sistema de controle de materiais projetado para empresas que

atuam em ambientes Make To Order (MTO) e Engineering To Order (ETO), e que lidam com

alta variedade de produtos customizados em pequenos lotes e sofrem forte pressão para

fornecer em curtos tempos de atravessamento; ou ainda, para empresas que possuem uma

ampla variedade de opções e combinações que inviabilizam estoques para todas as suas

opções nos seus vários estágios de produção.(SURI, 1998; RIEZEBOS, 2010; DEL BIANCO,

2008).

RIEZEBOS (2010) destaca que para o funcionamento com êxito do POLCA o projeto de

implantação deve conter três categorias:

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a) Roteamento: cartões com rotas específicas que devem ser anexados no trabalho para

autorizar o progresso do pedido no chão de fábrica;

b) Liberação: lista de liberação que mostra o momento de início mais cedo de cada ordem das

peças do sistema celular;

c) Instalações: instalações capazes de operar o sistema nas mais variadas circunstâncias.

O POLCA apresenta 4 características básicas (SURI, 1998; FERNANDES e GODINHO

Filho, 2007; DEL BIANCO, 2008):

a) Autorização de liberação por meio de um sistema denominado HL/MRP (higher level

MRP).

O sistema HL/MRP é semelhante ao sistema MRP convencional com duas diferenças:

- O HL/MRP é baseado em uma estrutura de produtos simplificada, utilizando os leadtimes

das células ao invés dos leadtimes individuais dos centros de trabalho dentro de cada célula;

- As datas planejadas pelo HL/MRP são apenas datas nas quais as tarefas podem ser iniciadas

(por isso são chamadas datas de autorização e não de liberação como no MRP convencional),

sendo que seu início concreto na produção se dá somente mediante esta autorização, e

também mediante a disponibilidade do cartão POLCA na célula que vai iniciar o trabalho;

- O HL/MRP também é responsável por fazer a previsão de demanda para controlar a

capacidade e o nível de estoque da matéria-prima necessária. Além disso, é através dele que

se determinam quantos cartões POLCA serão utilizados em certo horizonte de planejamento,

e quanto WIP se referirá a um único cartão;

- Distinto do MRP tradicional, que determina a data de início da produção de cada estação de

trabalho, HL/MRP somente determina quando um lote de produto poderá ser iniciado em cada

célula, autorizando-o, e não o obrigando;

- O HL/MRP fornece suporte para a fabricação de uma ficha (denominada ticket) para cada

WIP que se inicia no sistema, e que o acompanha durante todo o processo, contendo: a

sequência de operações a ser feita, componentes a serem adicionados em certa operação (se

houver), e outras instruções especiais, bem como a data de autorização para o WIP ser

trabalhado em cada célula do seu roteiro.

b) Método de controle de material baseado em um cartão (denominado cartão POLCA). O

cartão deve, de forma clara, apontar em letras grandes a célula de origem e a célula de

destino, nesta ordem, separadas por uma barra. A finalidade deste design é facilitar para o

trabalhador do chão de fábrica a visualização de forma rápida e fácil o trajeto do WIP. Para

garantir a compreensão, uma legenda é coloca abaixo. O código do cartão é utilizado para

controle dos funcionários fora do chão de fábrica que realizam o HL/MRP. Estes cartões são

utilizados para comunicação e controle entre as células (a FIGURA 4.14 apresenta um modelo

de cartão POLCA);

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Fonte: Adaptado de SURI, 1998.

Figura 1 - Cartão POLCA

A definição do número de cartões existentes para cada relação é feita a partir da Equação 1

(sempre deve ser um número inteiro e arredondado para cima):

Equação (1)

Onde:

LT (A): lead time da célula A;

LT (B): lead time da célula B;

NUM (A,B): número de WIP que passam de A para B durante o período de planejamento;

D: dias de trabalho durante o horizonte de planejamento.

É preciso decidir, também, o quantum de um cartão - quantidade de WIP referente a um único

cartão. Se este for muito grande, o lead time das células relacionadas também o será, e, de

acordo com a equação acima, haverá muitos cartões A/B. Isso pode tornar o esquema mais

complexo, o que não é indicado.

A definição do tempo de autorização ocorre baseada na disponibilidade de recursos na

empresa, bem como daqueles que foram adquiridos e estão previstos para chegar. Dessa

forma, sabe-se a quantidade que está/estará disponível em cada célula do roteiro do produto

solicitado. Um WIP cuja data de autorização tenha chegado ou passado é definido como

autorizado, caso contrário, ele é considerado prematuro.

Com esse tempo de autorização, a produção de estoques intermediários é evitada, uma vez

que não é enviado WIP para células que não possuem recursos suficientes.

c) Os cartões POLCA, ao invés de se referirem especificamente a um produto, se referem a

um par de células escolhidas da seguinte forma: se o roteiro de uma ordem qualquer sair de

uma célula A1 para uma célula B2, então é criado um cartão POLCA A1/B2 e assim por

diante para as outras etapas do processamento. Este procedimento de trabalhar com as células

em pares faz com que o cartão POLCA garanta que uma célula somente irá trabalhar em uma

tarefa para a qual a célula de destino tem capacidade disponível;

d) O cartão POLCA para cada par de células permanece com a tarefa durante toda sua jornada

(incluindo processamento) através das duas células e depois retorna para a primeira célula

quando é finalizado o processamento na segunda célula. Neste momento, a primeira célula

pode iniciar outra tarefa.

Vale ressaltar que, no POLCA cada célula só inicia um trabalho mediante a três requisitos

(com exceção da primeira e da última, que não atendem ao item 1 e 2, respectivamente):

1. O cartão da relação entre ela e a célula anterior deve estar presente na célula em

questão;

2. O cartão da relação entre ela e a célula posterior deve estar presente na célula em

questão;

3. O trabalho desta célula deve estar autorizado pelo HL/MRP.

Em linhas gerais, o funcionamento do POLCA é o seguinte: quando uma empresa recebe uma

ordem de cliente o sistema HL/MRP usa os leadtimes planejados de cada célula para

determinar quando cada célula no roteiro do produto pode iniciar o processamento da tarefa.

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Estas datas de autorização serão seguidas somente se um cartão POLCA estiver disponível na

célula que inicia a operação. A Figura 2 faz apresenta uma representação esquemática do

mecanismo de funcionamento do POLCA.

SURI (1998) destaca que algumas ganhos importantes através do uso do POLCA, tais como:

a) a garantia que cada célula só trabalhe em WIPs que são destinadas para outras células que

terão disponibilidade para trabalhar num futuro próximo;

b) o uso da autorização do HL/MRP previne a produção de inventário desnecessário;

c) permite maior flexibilidade que outros sistemas que puxam a produção;

d) No caso de existência de gargalos, o uso de cartões para pares de células facilita a sua

identificação.

Fonte: Adaptado de SURI (1998).

Figura 2: Mecanismo de funcionamento do sistema POLCA.

Dentre os fatores que dificultam a implantação do sistema o autor destaca o aumento da

complexidade (devido à designação de um cartão para cada relação de um tipo de produto) e a

necessidade de mudança no arranjo físico da empresa (já que o POLCA funciona

exclusivamente em células com trabalhadores polivalentes).

Na literatura encontra-se alguns relatos do uso do POLCA em algumas empresas, dentre eles

destacam-se: RIEZEBOS (2010) descreve a aplicação do POLCA em uma empresa de

pequeno a médio porte que produz dobradiças sob encomenda, na Holanda no ano de 2007. A

primeira fase do exame revelou que os principais objetivos da implementação do POLCA

seria para melhorar a confiabilidade da empresa, pois muitas encomendas eram entregues

mais de duas vezes por semanas, e, também, pretendia-se reduzir o WIP e o tempo de

transferência.A segunda etapa investigou a possibilidade de aplicar uma estrutura celular.O

terceiro estágio estava centrado no sistema ERP, nos tempos de produção de células, e na

ordem das informações. A quarta etapa identificou as rotas de produtos dos postos de

trabalho. Finalmente, o estágio cinco identificou o número de cartões que deviam circular.

Para o caso em questão, a implantação do POLCA não exigiu muitas mudanças no sistema.

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KRISHNAMURTHY e SURI (2009) analisaram o resultado da implantação do sistema em

um fabricante de peças usinadas, Olsen Engineering. A implantação foi realizada devido a

alguns desafios que a empresa enfrentava: a) excesso de produtos acabados, bem como WIP

ao longo da sua instalação, e (b) longos prazos de entrega, que resultou em frequentes

expedições, horas extras. A implantação do POLCA resultou em varias melhorias: redução de

quesitos como: lead time de vários produtos, variando de 22% a 68%, do WIP e estoque de

inventários de até mais de 90% em algumas células. Além de mudanças relacionadas a

questões da qualidade - controle visual, tempo de máquina parada, disponibilidade de

material, dentre outros.

Tais autores também relatam a aplicação em outras empresas, como um fabricante de motores

de centros de controle e uma fábrica de extrusão de alumínio, entre outros casos encontrados

na literatura.

3.Estudo de caso

O estudo em questão aborda uma pequena empresa de lingerie, na cidade de Catalão-GO. A

empresa é integrante da União das Indústrias de Confecção (UNICON) de Catalão e do

Sudeste Goiano. A UNICON está direcionada a fortalecer o setor confeccionista por meio da

união de empresários da área, com o intuito de aumentar o poder de negociação com

fornecedores e fazer parcerias com entidades públicas para abastecer a infra-estrutura destas

empresas, capacitar mão-de-obra, adquirir máquinas e matérias primas mais acessíveis.

Atualmente, a empresa é composta por 21 funcionários, sendo que estes estão alocados na

empresa nas seguintes funções: 2 no corte, 15 na costura, 1 gerente, 1 auxiliar, 1 na

embalagem e 1 no acabamento. Em relação ao número de máquinas, estas são em número de

18, sendo que algumas ficam ociosas. Na figura 3 é apresentado o layout da empresa

atualmente.

Figura 3-Layout atual da empresa

A empresa fabrica principalmente camisolas, com uma média de 40 modelos e, espartilhos,

com uma média de 15 modelos. Para efeito de estudo, será considerado o modelo mais

vendido de camisola e espartilho. Seguem o Fluxograma de Processo do Espartilho 068 com

respectivo fio e da Camisola S43 nas Figuras 4 e 5.

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Figura 4-Fluxograma de processo do Espartilho com respectivo fio

Figura 5: Fluxograma de Processo da Camisola S43

Durante a pesquisa de campo, foram identificados diversos problemas. O que mais chamou a

atenção foi em relação às ordens perdidas no fluxo de materiais e informação e a falta de

planejamento na sequência das atividades. Foi observado que as costureiras não sabem o que

vão fazer diariamente, já que as informações são repassadas verbalmente pela gerente ao

longo do período. Com isso, a costureira pode não priorizar o que tem mais urgência, devido à

falta de informação. O mesmo acontece no acabamento, a pessoa responsável, não tem acesso

a relação de prioridades de serviço. Um exemplo claro presenciado, foi o corte de 200

segmentos de elástico rubi para alça de sutiã e ligas de espartilho que poderiam ser cortados

posteriormente, já que se tinha urgência em alças jasmins. Devido a isso, há aumento nos

estoques intermediários, o que resulta em tempo perdido, estoque de WIP alto e mão de obra

utilizada sem levar em conta as prioridades produtivas.

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Em meio a conversas com a proprietária, foi notado centralização excessiva de funções a

mesma, que muitas vezes, se ocupava em máquinas de costura para auxiliar na produção, ou

até mesmo na seção de corte. Com isso, questões relacionadas à gestão da produção ficavam

deficientes na empresa, principalmente no que se diz respeito a eficiência no fluxo de

materiais, utilização de pessoas e equipamentos.

3.1.Proposta

Como a empresa em questão apresenta problemas de Fluxo de Produção, o grupo de pesquisa

apontou como uma possível solução, a aplicação de um SCO. Tratando-se de uma confecção

de lingerie, com produtos com alta variedade e baixo volume, com um padrão job-shop,

torna-se sugestivo a implantação do sistema POLCA. A intenção seria melhorar a

coordenação entre os postos de trabalho, melhorar o desempenho das entregas, reduzir os

níveis de WIP entre operações, dentre outros.

Para a implantação do POLCA, algumas mudanças seriam necessárias. Dentre elas, a

mudança no layout. Para aplicação deste sistema é necessário o layout celular. No caso,

sugeriu-se células dedicadas, já que existem máquinas iguais. O indicado seria a formação de

células dedicadas às camisolas e células dedicadas aos espartilhos (em função do número de

variedades de cada um dos produtos). Pelo fato do espaço físico ser pequeno e ter apenas uma

única máquina dos tipos interlock, BT, Pespontadeira e Galoneira, propõe-se o uso de células

virtuais. A localização dessas máquinas únicas foram estrategicamente analisadas, sendo estas

dispostas o mais próximo possível da outra célula para facilitar a movimentação, quando for

necessário utilizar a máquina da outra célula. O layout proposto é demonstrado na Figura 6.

Figura 6- Layout proposto

Vale ressaltar que, os funcionários deveriam ser treinados para lidarem com o sistema de

forma eficiente. Como trata-se de uma ferramenta de complexidade maior, já que cada

produto tem um cartão correspondente, a necessidade de treinamento é vital.

Para que o POLCA seja colocado na prática, é necessário estabelecer a quantidade de cartões.

Os cálculos realizados foram baseados na Equação 1. Para efeito de demonstração

matemática, somente os cálculos do Espartilho 068 e fio serão evidenciados para instituir o

número de cartões necessários. Para efetuar os cálculos, foi necessário realizar um estudo dos

tempos. A fabricação do Espartilho foi divida em 10 sequências operacionais, cada uma com

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a respectiva máquina responsável pela atividade, e posteriormente tempo necessário para

realização da função. O número de cartões necessários para cada relação estão nas Tabelas 1 e

2.

Sequência operacional Máquinas Tempo(s)

Número de

cartões

Montagem Overlock 92 3

Montagem do tule fino Reta 390 2

Montagem da frente Galoneira 57 4

Montagem final Overlock 470

pespontar babado Galoneira 47 1

Barbatana Pespontadeira 197 2

colocar aro e palheta/

alça

Manual-

acabamento 156 2

Travetar Travete 195 3

pregar abotoador Zig Zag 234 4

limpeza e passar fita

lateral

Manual-

acabamento 463

Fonte: Elaborado pelos autores

Tabela 1 – Número de cartões POLCA para cada relação do produto Espartilho

Sequência operacional Máquinas Tempo (s)

Número de

cartões

passar cougar persa 34 1

Montagem overlock 26 1

passar cougar persa 103 1

Travetar travete 73 1

limpeza do fio

manual-

acabamento 27 1

embalagem do fio e

spatilho manual 88

Fonte: Elaborado pelos autores

Tabela 2 - Número de cartões POLCA para cada relação do produto Fio

Para o espartilho serão necessários 16 cartões, sendo que, 4 cartões são para a relação

galoneira/overlock/galoneira, 1 para relação galoneira/pespontadeira, 2 para relação

pespontadeira/manual-acabamento, 2 para relação manual-acabamento/travete, 3 para relação

travete/zig-zag e 4 para relação zig-zag/ manual acabamento. A mesma interpretação é feita

para o fio.

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Para fins de melhor compreensão do mecanismo de funcionamento do sistema POLCA neste

caso, a Figura 7 traz uma representação do processo do Espartilho 068.

Destaca-se, que a Figura 7 não é uma representação fiel do funcionamento do sistema

POLCA, já que foram representados somente os cartões da relação que iria ingressar no

processo, os demais foram ocultados para facilitar a visualização e entendimento.

4.Considerações finais

Neste sentido, este trabalho tem por objetivo apresentar uma proposta de implementação do

sistema POLCA em uma pequena empresa de confecção como mecanismo de coordenação do

fluxo de produção (materiais e informação). Para tanto, avaliou-se a necessidade de

reorganização industrial e os pré-requisitos necessários para a implantação do mesmo.

Destaca-se que em termos conceituais a proposta apresenta-se coerente com o referencial

teórico, tanto em termos de ambiente a ser implantando (job shop com baixo volume e grande

variedade de produtos MTO), bem como o ajuste da infraestrutura teoricamente recomendada

pela literatura.

No entanto, não foi possível a implementação da prática, visto à resistência da empresa em

que foi realizado o estudo de caso. Dentre os fatores que contribuíram para a inviabilidade de

implementação foram: falta de disponibilidade da proprietária para dedicar-se as mudanças

que seriam necessárias dentro da empresa; a impossibilidade de contratação de um

profissional da área para efetuar a implantação, treinamento dos funcionários e

acompanhamento, as pessoas, em geral, que prestam serviço a fábrica, devido a maior idade,

se mostraram resistentes a mudanças, principalmente no que se diz respeito a inovação.

Muitas costureiras são bastante conservadoras e não admitem realizar algumas tarefas como

por exemplo, preencher formulários e repassar cartões. E, como a mão-de-obra na cidade de

Catalão é escassa, a proprietária muitas vezes se submete as imposições dos funcionários. E

pelo fato do sistema POLCA a princípio ser um sistema um pouco complexo quanto a sua

compreensão ao primeiro contato, verificou-se grande resistência pela proprietária e pelos

funcionários.

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Figura 7- Mecanismo de funcionamento do sistema POLCA para o espartilho 068

A partir destas restrições não foi possível avaliar a contribuição do sistema POLCA quanto à

coordenação de fluxo de produção, sendo uma limitação deste trabalho. Assim, a principal

Page 13: PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE COORDENAÇÃO DE ... · ambiente make to order. Para efeito de estudo, foi desenvolvida uma pesquisa de caráter exploratório. A partir

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

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contribuição deste trabalho foi demonstrar os aspectos que devem ser alterado em uma

empresa para a implementação do sistema POLCA através de um exemplo real, visto que este

é um assunto escasso na literatura em língua portuguesa. Para trabalhos futuros, através de

simuladores pretende-se avaliar o grau de contribuição quanto à coordenação do fluxo de

produção por meio do POLCA, bem como, aplicação em outros casos reais.

Referências

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