proposta de cenário para a automação no comércio varejista do...

126
Proposta de cenário para a automação no comércio varejista do Brasil na década de 2020 e suas consequências para o mercado de trabalho Pedro Boechat Celani Zwirman Pedro Filipe Alves Ribeiro Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Roberto Ivo da Rocha Lima Filho Rio de Janeiro Agosto de 2018

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Proposta de cenário para a automação no comércio

varejista do Brasil na década de 2020 e suas

consequências para o mercado de trabalho

Pedro Boechat Celani Zwirman

Pedro Filipe Alves Ribeiro

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia de Produção da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Roberto Ivo da Rocha Lima Filho

Rio de Janeiro

Agosto de 2018

iii

Zwirman, Pedro Boechat Celani; Ribeiro, Pedro

Filipe Alves.

Proposta de cenário para a automação no comércio

varejista do Brasil na década de 2020 e suas consequências

para o mercado de trabalho/ Pedro Boechat Celani

Zwirman; Pedro Filipe Alves Ribeiro. – Rio de Janeiro:

UFRJ/ Escola Politécnica. 2018.

X, 116 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Roberto Ivo da Rocha Lima Filho

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/

Curso de Engenharia de Produção, 2018.

Referência Bibliográficas: p. 112-114

1. Automação. 2. Mercado de Trabalho. 3. Comércio

Varejista. I. Lima Filho, Roberto Ivo da Rocha. II.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola

Politécnica, Curso Engenharia de Produção. III. Proposta

de cenário para a automação no comércio varejista do

Brasil na década de 2020 e suas consequências para o

mercado de trabalho.

iv

AGRADECIMENTOS

Gostaríamos de agradecer às nossas famílias por todo apoio na elaboração deste

trabalho e, principalmente, em todo nosso caminho em busca do diploma de Engenheiro.

Não menos importante, agradecemos aos nossos diversos amigos que fizemos na UFRJ e

ao excelente corpo docente do Departamento de Engenharia Industrial. Este nos passou

seu valioso conhecimento e nos preparou não apenas para a profissão, mas para a vida.

Aqueles nos deram forças para seguir mesmo nos momentos mais estressantes.

Destinamos ainda um agradecimento especial ao professor Roberto Ivo por seu

ensinamento e atenção na elaboração deste estudo.

v

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.

Proposta de cenário para a automação no comércio

varejista do Brasil na década de 2020 e suas

consequências para o mercado de trabalho

Pedro Boechat Celani Zwirman

Pedro Filipe Alves Ribeiro

Agosto/2018

Orientador: Roberto Ivo da Rocha Lima Filho

Curso: Engenharia de Produção

Ao longo da história, a automação vem remodelando continuamente o mercado de

trabalho. Embora ela seja mais percebida com a eliminação de empregos, o passado

mostra que os novos tipos de tarefas criados pelo seu avanço mais do que compensaram

os empregos que foram eliminados. Por exemplo, nos séculos XIX e XX, viu-se a

automatização de grande parte das tarefas da indústria têxtil e da agricultura dar lugar a

uma ampla gama de novas tarefas, como o trabalho nas fábricas, a engenharia e outras

diversas atividades de escritório. Com isso, pergunta-se: as novas ondas de automação

que chegam no início do terceiro milênio seguirão essa tendência? Este estudo busca, a

partir do Método dos Cenários desenvolvido por Godet (1994), propor um cenário acerca

da automação no comércio varejista do Brasil na próxima década e suas consequências

para o mercado. Ao final, chega-se à conclusão de que grande parte das atividades hoje

exercidas no varejo devem conter um alto nível de automatização, sendo necessárias

ações por parte do governo, de forma a adequar a mão-de-obra às novas tarefas geradas.

Palavras-chave: automação, emprego, mercado de trabalho, comércio varejista, Brasil

vi

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Industrial Engineer.

Proposal of scenario for automation in retail market in

Brazil in the 2020s and their consequences for the labor

market

Pedro Boechat Celani Zwirman

Pedro Filipe Alves Ribeiro

August/2018

Advisor: Roberto Ivo da Rocha Lima Filho

Course: Industrial Engineering

Throughout history, automation has continually reshaped the labor market. Although it is

more perceived for its jobs elimination, the past shows that the new types of tasks created

by its advancement more than offset the jobs that were eliminated. For example, in the

nineteenth and twentieth centuries, the automation of much of the tasks of the textile and

agricultural industry was seen to give rise to a wide range of new tasks, such as factory

work, engineering and various other office activities. With this, one wonders: Will the

new waves of automation that are arriving at the beginning of the third millennium follow

this trend? This study seeks, based on the Scenarios Method developed by Godet (1994),

to propose a scenario for the automation in the retail market of Brazil in the next decade

and its consequences for the market. At the end, it is concluded that most of the activities

currently carried out in retail should contain a high level of automation, and actions are

required by the government, in order to adapt the workforce to the new tasks generated.

Keywords: automation, jobs, labor market, retail market, Brazil

vii

SUMÁRIO

1 Introdução ....................................................................................................................18

1.1 Contextualização ......................................................................................................18

1.2 Objetivo ....................................................................................................................20

1.2.1 Geral .................................................................................................................20

1.2.2 Específico ..........................................................................................................20

1.3 Justificativa do tema .................................................................................................20

1.4 Limites ......................................................................................................................20

1.5 Motivação .................................................................................................................21

1.6 Resumo da Estrutura ...............................................................................................21

2 Metodologia ..................................................................................................................22

3 Panorama econômico e tecnológico ..............................................................................24

3.1 Panorama Macroeconômico Brasileiro....................................................................24

3.1.1 Da prosperidade à crise ...................................................................................24

3.1.2 Situação econômica atual .................................................................................27

3.1.3 Expectativas e próximos passos da política econômica ...................................33

3.2 O Setor do Comércio Varejista no Brasil ................................................................34

3.2.1 Panorama atual ................................................................................................34

3.3 O Futuro da Automação Segundo Consultorias ......................................................37

3.3.1 Panorama geral ................................................................................................38

3.3.1.1 Envelhecimento da população .................................................................38

3.3.1.2 Ritmo da automação ................................................................................38

3.3.1.3 Competitividade das economias avançadas frente a mão de obra mais

barata das economias em desenvolvimento .............................................................41

3.3.2 Panorama Brasil...............................................................................................42

3.3.2.1 Automação geral ......................................................................................42

3.3.2.2 Automação varejo ....................................................................................43

3.3.2.2.1 Comparação por setor .........................................................................43

3.3.2.2.2 Comparação por dimensões no varejo ................................................43

3.3.2.2.3 Comparação por porte de empresa no varejo.....................................44

3.4 Frentes de Automação Iminentes no Comércio Varejista .......................................45

4 Revisão Sistemática da Literatura ...............................................................................49

4.1 Dinâmica de Sistemas ...............................................................................................49

4.1.1 Pensamento Sistêmico ......................................................................................49

viii

4.1.2 Sistemas dinâmicos ..........................................................................................49

4.1.3 Dinâmica de sistemas .......................................................................................49

4.2 Modelagem Macroeconômica...................................................................................51

4.2.1 O modelo ..........................................................................................................51

4.2.2 Identificando os ciclos de feedback ..................................................................53

4.3 Modelagem Tecnológica ...........................................................................................56

4.3.1 Abordagem baseada em tarefas .......................................................................56

4.3.2 Tecnologias que otimizam fatores de produção ..............................................57

4.3.2.1 Mudança tecnológica que otimiza a produtividade do capital, AK .........57

4.3.2.2 Mudança tecnológica que otimiza a produtividade do trabalho, AL ......58

4.4 Método dos Cenários ................................................................................................58

4.4.1 Identificação das variáveis-chave: análise estrutural......................................62

4.4.1.1 Listagem das variáveis .............................................................................62

4.4.1.2 Relacionamento das variáveis: construção da Matriz de Análise

Estrutural .................................................................................................................62

4.4.1.3 Identificação das variáveis-chave através do Método MICMAC ...........63

4.4.1.3.1 O princípio de MICMAC: elevando o poder da matriz .....................64

4.4.1.4 Comparação entre classificações diretas, indiretas e potenciais .............68

4.4.1.4.1 Gráfico influência-dependência ..........................................................68

4.4.2 Entendendo a Estratégia dos Agentes: o Método MACTOR ..........................70

4.4.2.1 Construindo a tabela de estratégia dos agentes ......................................72

4.4.2.2 Identificando as questões estratégicas e objetivos associados .................73

4.4.2.3 Posicionando cada agente em relação aos objetivos estratégicos (Matriz

de Posições Assumidas) ............................................................................................74

4.4.2.4 Classificando os objetivos de cada agente (Matriz de Posições

Valoradas) e avaliando a gama de possíveis convergências e divergências.............76

4.4.2.5 Avaliando o equilíbrio entre forças e formulando recomendações

estratégicas (matriz de posições valoradas com coeficientes de poder)...................80

4.4.2.6 Questões-chave sobre o futuro.................................................................85

4.4.3 Examinando possíveis futuros: análise morfológica .......................................85

4.4.3.1 O campo de possíveis futuros: o espaço morfológico ..............................85

4.4.3.2 O espaço morfológico útil ........................................................................86

5 Aplicação do método.....................................................................................................87

5.1 Identificação das variáveis-chave .............................................................................87

5.1.1 Lista de variáveis..............................................................................................88

5.1.2 Matriz de análise estrutural .............................................................................89

ix

5.1.3 Método MICMAC ............................................................................................90

5.2 Entendimento do jogo dos agentes ...........................................................................91

5.2.1 Identificação dos agentes .................................................................................92

5.2.1.1 Agente 1: governos ...................................................................................92

5.2.1.2 Empresas ..................................................................................................93

5.2.1.3 Agente 4: empresas cujo papel é vender soluções relacionadas à

automação de tarefas ................................................................................................93

5.2.1.4 Agente 5: trabalhadores (sindicatos) .......................................................93

5.2.2 Método MACTOR ...........................................................................................93

5.2.3 Construindo a tabela da estratégia dos agentes ..............................................93

5.2.4 Identificando as questões estratégicas e objetivos associados .........................94

5.2.5 Posicionando cada agente em relação aos objetivos estratégicos (Matriz de

Posições Assumidas) .....................................................................................................95

5.2.6 Classificando os objetivos de cada agente (Matriz de Posições Valoradas) e

avaliando a gama de possíveis convergências e divergências ......................................95

5.2.7 Avaliando o equilíbrio entre forças e formulando recomendações estratégicas

(matriz de posições valoradas com coeficientes de poder) ...........................................96

5.3 Análise Morfológica..................................................................................................98

5.3.1 Definição do espaço morfológico .....................................................................98

6 Resultado .................................................................................................................... 103

6.1.1 Definição do cenário mais provável ............................................................... 103

6.1.1.1 Recebimento/Estocagem e Entregas (baixa elasticidade) ..................... 103

6.1.1.2 Marketing/Vendas — Identificação, Monitoramento, Perfil de Compra

(alta elasticidade) .................................................................................................... 103

6.1.1.3 Atendimento e Caixa (elasticidade média) ............................................ 104

6.2 Impactos no mercado de trabalho .......................................................................... 107

6.3 O governo como tomador de decisão: ações recomendadas .................................. 107

6.4 Cenários para legislação trabalhista ...................................................................... 107

7 Conclusão .................................................................................................................... 109

7.1 Propostas de trabalhos futuros .............................................................................. 109

APÊNDICE A – Receita nominal - Varejo. Índice Mensal (Base: igual mês do ano anterior)

110

APÊNDICE B – .. RELAÇÕES ENTRE AS VARIÁVEIS SEGUNDO ACEMOGLU (2018)

111

x

APÊNDICE C –..................................................... MATRIZ DE ANÁLISE ESTRUTURAL

112

APÊNDICE D –.................................................................................................. MATRIZ M1

113

APÊNDICE E – .................................................................................................. MATRIZ M2

114

APÊNDICE F – .................................................................................................. MATRIZ M3

115

APÊNDICE G – ................................................................................................. MATRIZ M4

116

APÊNDICE H – ................................................................................................. MATRIZ M5

117

APÊNDICE I – ................................................................................................... MATRIZ M6

118

APÊNDICE J – .................................................................................................. MATRIZ M7

119

APÊNDICE K – ................................................................................................. MATRIZ M8

120

APÊNDICE L – ........................................ TABELA DAS ESTRATÉGIAS DOS AGENTES

121

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 122

xi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Pessoal ocupado total, por classificação de atividades. Fonte: (IBGE, 2015) 19

Figura 2: Pessoal ocupado nas empresas comerciais. Fonte: (IBGE, 2015). ................. 19

Figura 3: Fluxograma da metodologia. Fonte: elaboração própria................................ 22

Figura 4: Aumento do PIB (% anual) por ano. Fonte: Banco Mundial (2018). ............. 25

Figura 5: evolução trimestral do PIB. Variação acumulada 4 trimestres (%). Fonte:

adaptado de SEPLAN (2018). ..................................................................................... 27

Figura 6: evolução trimestral dos componentes da oferta do PIB. Fonte: adaptado de

SEPLAN (2018). ......................................................................................................... 28

Figura 7: evolução trimestral dos componentes da demanda do PIB. Fonte: adatado de

SEPLAN (2018). ......................................................................................................... 28

Figura 8: criação de empregos formais, acumulado no ano até o mês de referência. Fonte:

adaptado de SEPLAN (2018). ..................................................................................... 29

Figura 9: Brasil - Evolução mensal do saldo de emprego nos meses de junho de 1992 a

2018, sem ajuste: comparação entre total de setores e varejo. Fonte: CAGED – Junho

2018. ........................................................................................................................... 30

Figura 10: inflação. Fonte: SEPLAN (2018). ............................................................... 30

Figura 11: evolução das taxas de juros (meta SELIC e TJLP). Fonte: adaptado de

SEPLAN (2018). ......................................................................................................... 31

Figura 12: evolução da taxa de câmbio. Fonte: IPEA (2018). ...................................... 31

Figura 13: resultado primário do Governo Central — % do PIB. Fonte: adaptado de

SEPLAN (2018). ......................................................................................................... 32

Figura 14: regime geral da previdência social. Fonte: adaptado de SEPLAN (2018). ... 32

Figura 15: evolução da percepção de Risco-Brasil (EMBI+). Fonte: adaptado de SEPLAN

(2018). ........................................................................................................................ 33

Figura 16: mediana do resultado primário (% do PIB). Fonte: BCB. ........................... 33

Figura 17: Receita nominal - Média dos setores do Varejo. Índice Mensal (Base: igual

mês do ano anterior). Fonte: IBGE (2018). .................................................................. 35

xii

Figura 18: Ações das empresas do setor de comércio. Fonte: O Globo (2018). ............ 37

Figura 19: Categorias de adoção de tecnologias de automação. Fonte: BCG (2015) .... 39

Figura 20: Comparativo entre indústria e comércio/serviços. Fonte: Associação brasileira

de automação (2018) ................................................................................................... 43

Figura 21: Comparativo entre setores e dimensões. Fonte: Associação brasileira de

automação (2018) ....................................................................................................... 44

Figura 22: Comparativo da automação por porte de empresa. Fonte: Associação brasileira

de automação (2018) ................................................................................................... 44

Figura 23: Exemplo de Modelagem Soft (Qualitativa). Fonte: Fernandes (2003) ......... 51

Figura 24:’ modelagem macroeconômica. Fonte: elaboração própria........................... 52

Figura 25: ciclo de feedback de equilíbrio envolvendo inflação e consumo. Fonte:

elaboração própria. ...................................................................................................... 54

Figura 26: ciclo de feedback de equilíbrio envolvendo inflação e investimentos. Fonte:

elaboração própria. ...................................................................................................... 54

Figura 27: ciclo de feedback de equilíbrio envolvendo inflação e taxa de câmbio real.

Fonte: elaboração própria. ........................................................................................... 55

Figura 28: ciclo de feedback de reforço envolvendo inflação e investimentos a partir de

importação de bens de capital. Fonte: elaboração própria. ........................................... 55

Figura 29: O espaço das tarefas e a representação do efeito da automatização de tarefas

existentes e da introdução de novas tarefas. Fonte: Acemoglu (2017) .......................... 56

Figura 30: Fluxograma do Método dos Cenários. Fonte: Godet (1994). ....................... 60

Figura 31: Análise Estrutural. Fonte: adaptado de Godet (1994). ................................. 63

Figura 32: grau de preenchimento da Matriz de Análise Estrutura. Fonte: adaptado de

Godet (1994). .............................................................................................................. 63

Figura 33: exemplo de sistema. Fonte: Godet (1994). .................................................. 65

Figura 34: exemplo de ligação indireta. Fonte: adaptado de Godet (1994). .................. 65

Figura 35: exemplo de sistema de três variáveis. Fonte: adaptado de Godet (1994). .... 66

xiii

Figura 36: Matriz de Análise Estrutural do sistema S. Fonte: adaptado de Godet (1994).

................................................................................................................................... 66

Figura 37: Matriz M elevada ao quadrado. Fonte: Godet (1994). ................................. 67

Figura 38: influência de A em si própria através de forma indireta. Fonte: Godet (1994).

................................................................................................................................... 67

Figura 39: influência indireta de B em A. Fonte: Godet (1994). ................................... 67

Figura 40: matriz M elevada ao cubo. Fonte: Godet (1994). ........................................ 67

Figura 41: estabilização da classificação da linhas e colunas na potência de 4. Fonte:

Godet (1994). .............................................................................................................. 68

Figura 42: Gráfico Influência-Dependência. Fonte: adaptado de Godet (1994). ........... 69

Figura 43: estabilidade dos sistemas. Fonte: adaptado de Godet (1994). ...................... 70

Figura 44: o método MACTOR. Fonte: Godet (1994). ................................................ 72

Figura 45: tabela das estratégias dos agentes. Fonte: elaboração própria. ..................... 73

Figura 46: definição das questões estratégicas e dos objetivos associados. Fonte:

elaboração própria. ...................................................................................................... 74

Figura 47: exemplo de diagrama de possíveis convergências e divergências entre agentes.

Fonte: elaboração própria. ........................................................................................... 75

Figura 48: MAO - Matriz de Posições Assumidas (agentes X objetivos). Fonte: adaptado

de Godet (1994). ......................................................................................................... 75

Figura 49: MAA - Matriz de convergências e divergências (agentes x agentes). Fonte:

adaptado de Godet (1994). .......................................................................................... 77

Figura 50: diagrama de convergência sobre objetivos. Fonte: adaptado de Godet (1994).

................................................................................................................................... 77

Figura 51: diagrama de divergências. Fonte: adaptado de Godet (1994). ..................... 78

Figura 52: 2MAO. Fonte: adaptado de Godet (1994). .................................................. 79

Figura 53: 2MAA. Fonte: adaptado de Godet (1994). .................................................. 79

Figura 54: MDA. Fonte: adaptado de Godet (1994). .................................................... 81

Figura 55: MIA. Fonte: adaptado de Godet (1994). ..................................................... 82

xiv

Figura 56: 3MAO. Fonte: Godet (1994). ..................................................................... 83

Figura 57: 3MAA. Fonte: Godet (1994). ..................................................................... 83

Figura 58: terceiro diagrama completo de convergências sobre objetivos. Fonte: adaptado

de Godet (1994). ......................................................................................................... 84

Figura 59: terceiro diagrama completo de divergências sobre objetivos. Fonte: adaptado

de Godet (1994). ......................................................................................................... 85

Figura 60: passo 1 do método (determinação das variáveis-chave). Fonte: elaboração

própria. ....................................................................................................................... 87

Figura 61: Gráfico Influência-Dependência. Fonte: elaboração própria. ...................... 90

Figura 62: passo 2 do método (determinação do jogo dos agentes). Fonte: elaboração

própria. ....................................................................................................................... 92

Figura 63: Matriz 1MAO. Fonte: elaboração própria. .................................................. 95

Figura 64: Matriz 1MAA. Fonte: elaboração própria. .................................................. 96

Figura 65: Matriz 2MAO. Fonte: elaboração própria. .................................................. 96

Figura 66: Matriz 2MAA. Fonte: elaboração própria. .................................................. 96

Figura 67: Matriz MDA: Fonte: elaboração própria. .................................................... 97

Figura 68: Matriz MIA. Fonte: elaboração própria. ..................................................... 97

Figura 69: Matriz 3MAO. Fonte: elaboração própria. .................................................. 98

Figura 70: Matriz 3MAA. Fonte: elaboração própria. .................................................. 98

Figura 71: passo 3 do método (determinação das hipóteses). Fonte: elaboração própria.

................................................................................................................................... 98

Figura 72: cadeia de valor de uma empresa genérica do comércio varejista. Fonte:

elaboração própria. ...................................................................................................... 99

Figura 73: espaço morfológico com elasticidade substituição capital-trabalho das

componentes e custo de utilização de cada tecnologia (dimensão). Fonte: elaboração

própria. ..................................................................................................................... 100

Figura 74: passo 4 do método (definição da hipótese mais provável). Fonte: elaboração

própria. ..................................................................................................................... 103

xv

Figura 75: Curva-S da tecnologia. Fonte: Christensen (2012) .................................... 105

Figura 76: modelo contendo eventos "disparadores" do sistema. Fonte: elaboração

própria. ..................................................................................................................... 106

xvi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Decomposição do crescimento do PIB. Fonte: Barbosa (2017). ................... 26

Tabela 2: Evolução da taxa de retorno sobre o capital próprio e da Taxa Selic (2010-

2014). Fonte: Oreiro (2017). ....................................................................................... 26

Tabela 3: indicadores do volume de vendas no comércio varejista e comércio varejista

ampliado, por atividades, no Brasil — indicador trimestral (base igual trimestre do ano

anterior). Fonte: IBGE (2018). .................................................................................... 36

Tabela 4: lista de variáveis. Fonte: elaboração própria. ................................................ 88

Tabela 5: Explicação das relações que conectam o modelo tecnológico ao modelo

macroeconômico. Fonte: elaboração própria. .............................................................. 89

Tabela 6: grau de preenchimento da matriz. Fonte: elaboração própria. ....................... 90

Tabela 7: variáveis-chave. Fonte: elaboração própria. ................................................. 91

Tabela 8: questões e objetivos estratégicos. Fonte: elaboração própria. ....................... 95

xvii

LISTA DE EQUAÇÕES

Equação 1: tecnologia como agente que otimiza os fatores de produção. ..................... 57

Equação 2: impacto da evolução da tecnologia na elasticidade substituição capital-

trabalho. ...................................................................................................................... 58

Equação 3: salário em equilíbrio. ................................................................................ 58

Equação 4: parcela de trabalho na produção agregada. ................................................ 58

Equação 5: o princípio de MICMAC de forma algébrica. ............................................ 65

Equação 6: coeficiente ri (coeficiente de poder). ......................................................... 82

Equação 7: normalização do coeficiente de poder........................................................ 82

18

1 Introdução

1.1 Contextualização

Nos dias atuais, nota-se grande incerteza no que tange o mercado de trabalho. A

propagação da automação, aliada a importantes mudanças demográficas, como o

envelhecimento da população e o aumento da expectativa de vida, tem poder de gerar

mudanças disruptivas na economia global ou até mesmo uma mudança de paradigma

sobre o que se conhece como trabalho.

Ao longo da história, ondas de automação, como, por exemplo, a que ocorreu na

indústria têxtil e na agricultura durante os séculos XIX e XX, foram capazes de remodelar

a economia mundial, alterando drasticamente a estrutura do mercado de trabalho:

deslocando os trabalhadores do campo para as fábricas e, posteriormente, das fábricas

para o setor de serviços (ACEMOGLU e RESTREPO, 2018). A nova onda da automação,

que está na eminência de se tornar técnica e economicamente viável, entretanto, se

espalhará por muito mais atividades e setores, afetando de forma mais concreta as nossas

vidas.

Não menos importante, alterações em andamento nas pirâmides etárias de

diversos países impactará diretamente a força de trabalho, como, por exemplo, o Japão,

cuja reduzida força de trabalho pode prejudicar o crescimento do PIB (MCKINSEY

GLOBAL INSTITUTE, 2018), criando um desafio para os governos e as empresas. Essa

possível escassez de mão-de-obra, ao tornar os salários mais elevados, será um dos

aceleradores da automação que, por sua vez, permitirá um salto na produtividade, porém

acabando com muita das profissões que se conhece hoje.

Diante desse cenário de muitas novidades, é de extrema importância para os

tomadores de decisão ponderar sobre o futuro do mercado de trabalho — seja o governo

ao traçar políticas públicas, as empresas ao fazer decisões de investimentos ou, até

mesmo, um jovem ao decidir no que se especializar. Considerando a relação entre

automação e mudanças no mundo do trabalho proposta por estudos como Acemoglu e

Restrepo (2018) e Bain & Company (2018) entre outros, este estudo vai em busca dos

cenários mais prováveis da automação no comércio varejista do Brasil para, em seguida,

trazer suas consequências para o emprego.

Explica-se a escolha do setor de comércio por ser o que mais emprega no Brasil,

segundo pesquisa do IBGE (2015), como é possível ver na Figura 1. Além disso, pode-

19

se ver na Figura 2 que o comércio varejista é o que mais emprega no setor de comércio,

ainda segundo pesquisa do IBGE (2015).

Figura 1: Pessoal ocupado total, por classificação de atividades. Fonte: (IBGE, 2015)

Figura 2: Pessoal ocupado nas empresas comerciais. Fonte: (IBGE, 2015).

Por fim, define-se o cenário exploratório, ou seja, o mais provável de acordo com

os processos de mudança já conhecidos ou com extrapolações de tendências passadas.

Com isso, faz-se uma breve recomendação das ações que o governo deve tomar para gerar

frutos para o mercado de trabalho.

20

1.2 Objetivo

1.2.1 Geral

Entender as forças que estão por trás da evolução da automação brasileira ao longo

do tempo, além da definição e posicionamento dos agentes que a influenciam.

1.2.2 Específico

Propor um cenário para a automação no comércio varejista do Brasil, assim como

suas consequências para o mercado de trabalho, através do Método dos Cenários de

Michel Godet, utilizando-se, para isso, os diversos dados socioeconômicos disponíveis.

1.3 Justificativa do tema

O avanço, no início do terceiro milênio, de diversas tecnologias que prometem um

salto na automação mundial tem suscitado diversas discussões acerca do futuro do

mercado de trabalho. Compreender de que maneira essa automação avançará é de suma

importância para tomada de ações que garantam um avanço saudável, sem afetar a

geração de empregos.

Portanto, este estudo busca ajudar a responder a perguntas acerca desse tema,

especificamente no Brasil, afim de propor possíveis ações que abrandariam o efeito da

automação no mercado de trabalho: quão intenso será a automação extensiva (aumento

do número do tipo de tarefas automatizadas)? Quão intenso será a automação intensiva

(aperfeiçoamento de automação já existente)? Quão rápido será o ritmo do emprego das

novas formas de automação? Quantos novos tipos de tarefas serão criados na economia?

Ressalta-se ainda que, embora o resultado final (o cenário proposto) seja

específico para o setor do comércio varejista, os resultados parciais (as variáveis mais

importantes para automação e a interação entre os agentes) são compatíveis com qualquer

setor, permitindo, assim, estudos em outros setores da economia.

1.4 Limites

Como será visto mais adiante, na parte final do método utilizado (Método dos

Cenários), é recomendada a utilização de métodos baseados na opinião de especialistas

(Método Delphi, por exemplo) para mensurar a probabilidade das soluções encontradas.

Entretanto, devido à dificuldade de implementação e distribuição de um questionário,

decidiu-se por substituir este por uma pesquisa acerca do que os especialistas vêm

publicando ou falando, seja em artigos ou em entrevistas. A classificação das soluções

quanto às suas probabilidades será, então, feita de maneira qualitativa.

21

1.5 Motivação

Pertencentes à geração Y, os autores deste trabalho nasceram em uma época

marcada pela alta velocidade da informação. Essa geração, conhecida por ser a primeira

a nascer em um mundo totalmente globalizado, cresceu tendo que se adaptar a diversas

mudanças tecnológicas, propiciadas pelo advento da internet. Hoje, conforme a

tecnologia avança, não é diferente: com tantas mudanças, é fundamental entender as

tendências da sociedade para se preparar profissionalmente para o futuro. Dessa forma,

acredita-se que este estudo seja útil não só para prever movimentações em uma área tão

importante na geração de empregos, como também para estimular uma forma sistêmica

de se pensar sobre o futuro.

1.6 Resumo da Estrutura

No capítulo 1, é feita a contextualização e a explicação da relevância do tema

estudado, além de traçar os objetivos e limites do trabalho. Em seguida, no capítulo 2, é

explicada a metodologia utilizada, buscando esclarecer o raciocínio desenvolvido no

trabalho.

No capítulo 3, faz-se uma análise do panorama econômico e tecnológico,

enquanto, no capítulo 4, realiza-se uma revisão sistemática da literatura, considerando

artigos recentes do economista Daron Acemoglu e também relatórios de consultorias

estratégicas (Bain & Company, Mckinsey & Company e Boston Consulting Group).

Além de explicar fenômenos relacionados à automação e o Método dos Cenários de

Michel Godet, é feita uma pesquisa acerca do comércio varejista brasileiro e suas frentes

de automação.

No capítulo 5, aplica-se o Método dos Cenários, desde a prospecção das variáveis-

chave até a análise morfológica. definição do cenário mais provável. Já no capítulo 6, é

apresentado o resultado do trabalho, ou seja, a definição de um cenário para a automação

no comércio varejista brasileira. Nesse capítulo, também são analisados os impactos da

desse cenário no mercado de trabalho, assim como feita uma breve recomendação de

política pública.

Por fim, no capítulo 7, é apresentada a conclusão do trabalho, onde salienta-se as

forças e fraquezas encontradas no método nesse tipo de aplicação (automação no

comércio varejista brasileiro). O estudo é, então, finalizado, com algumas propostas de

trabalhos futuros que enriqueçam a base de conhecimento a respeito da automação no

Brasil.

22

2 Metodologia

Godet (2000) define cenário como a descrição de uma situação futura e do curso

de eventos que, a partir da situação atual, possibilitam alcançá-la. Além disso, dois são

os tipos de cenários: (i) exploratório, ou seja, partindo de tendências passadas e futuras,

e chegando a situações futuras prováveis; (ii) normativa, ou seja, futuros desejáveis, a

partir da visão de algum agente. Ainda segundo Godet (2000), os estudos de cenários

exploratórios e normativos permitem, quando feitos em conjunto, que um agente altere o

curso natural dos acontecimentos para chegar a seus objetivos, resultando assim em sua

estratégia.

Assim como definido no capítulo anterior, este estudo realiza uma análise

exploratória — ao definir o cenário mais provável, a partir de tendências passadas —, e

define as ações/estratégias necessárias por parte do governo. Para isso, utiliza-se o

Método dos Cenários proposto por Godet (1994) tendo como insumos, para sua execução,

o referencial teórico (academia e consultorias), além de dados históricos e atuais. O

fluxograma da metodologia se encontra na Figura 3.

Figura 3: Fluxograma da metodologia. Fonte: elaboração própria.

Começa-se a aplicação do método fazendo uma revisão do referencial teórico,

tendo como foco artigos de Daron Acemoglu (1) sobre modelagem matemática da

automação e seus efeitos, e estudos das consultorias Bain & Company (2018), The Boston

Consulting Group (2015) e Mckinsey Global Institute (2018) sobre desdobramentos da

23

automação para os próximos anos. Esta fase tem como objetivo entender as relações de

causa e efeito que caracterizam o sistema aonde a automação está inserida para, então,

chegar-se às variáveis-chave (3) do problema — elasticidade substituição capital-

trabalho, custo da mão-de-obra, inflação, consumo e parcela de capital na produção

agregada.

Tendo definido as variáveis-chave, define-se os agentes que atuam no sistema.

Estes são os que, no passado, tiveram influência sobre essas variáveis, sendo eles o

governo, as grandes empresas do comércio varejista, as pequenas e médias empresas do

comércio varejista, as empresas fornecedoras de tecnologia e os trabalhadores. Após

identificá-los, faz-se uma análise do jogo (7) aonde eles estão inseridos, onde chega-se à

conclusão de que o governo e as empresas possuem grande convergência sobre seus

objetivos.

Neste ponto, é de suma importância salientar que os resultados das etapas 3

(determinação das variáveis-chave) e 7 (entendimento do jogo dos agentes) do método

são referentes à automação em geral, uma vez que modelos estudados se baseiam no

processo de automação como um todo. Apenas na determinação da etapa seguinte, ou

seja, na determinação das hipóteses (8) é, de fato, feita a particularização para o comércio

varejista. Essa etapa consiste em construir o espaço morfológico, sendo as componentes

deste as diversas atividades primárias do comércio varejista, ou seja,

recebimento/estocagem, entregas, marketing e atendimento/caixa.

Chega-se, então, à hipótese mais provável (12) — ou cenário exploratório —

tendo como suporte dados atuais do setor do comércio varejista no Brasil (9), das suas

frentes de automação (10) e do contexto macroeconômico (11). Por fim, considerando

toda a análise feita anteriormente, são propostas ações (13) por parte do governo, de modo

a incentivar o mercado de trabalho.

24

3 Panorama econômico e tecnológico

3.1 Panorama Macroeconômico Brasileiro

Recém-saído de uma profunda crise econômica, tido para alguns especialistas

como a mais grave desde a segunda guerra mundial (OREIRO, 2017), o Brasil demonstra

lentos passos de recuperação na sua situação econômica. Após duas quedas do PIB — de

3,5% em 2015 (em relação a 2014) e 2016 (em relação a 2015) — o país teve uma tímida

recuperarão em 2017, concretizando um preocupante crescimento de apenas 1,0%

(SEPLAN, 2018)

Para 2018, entretanto, é prevista uma ligeira melhora no crescimento do PIB,

apoiado, em parte, pelo consumo e investimento privado (ANSPACH, 2018). Após um

início de ano repleto de incertezas, fazendo com que instituições e especialistas

divergissem quanto às suas previsões, esse crescimento começa a se estabilizar em 2,18%,

segundo relatório Focus de junho de 2018.

Para 2019, os números seguem melhorando, indicando um crescimento real do

Produto Interno Bruto próximo a 3,0% a.a. (FOCUS, 2018). A concretização dessas

previsões, no entanto, dependerá da capacidade do governo de implementar um pacote de

medidas de austeridade fiscal (BARBOSA, 2017), além de fatores externos, como a

política monetária do governo dos EUA (MELLO, WELLE e DE OLIVEIRA, 2018).

Contudo, diante de um cenário político muito instável, ano de eleição e muitos

protestos, o projeto dessas medidas avançam lentamente. Além disso, a instabilidade do

cenário internacional pode afetar o interesse de investidores internacionais, tornando a

taxa de câmbio uma incógnita e fazendo com que o governo altere a taxa de juros interna

(MANKIW, 2018).

Para entender a situação atual, assim como o planejamento do governo para os

próximos anos, é fundamental a compreensão dos fatores que levaram à crise. Dessa

forma, na busca dessa compreensão, o presente capítulo é dividido em três partes:

i. Da prosperidade à crise;

ii. Situação econômica atual;

iii. Expectativas e próximos passos da política econômica.

3.1.1 Da prosperidade à crise

Após um começo de milênio apresentando grande ascensão econômica,

culminando em um crescimento real de 7,53% a.a. em 2010, o Brasil teve uma brusca

reversão do quadro, traduzida em uma rápida desaceleração do PIB. Como se pode ver

25

na Figura 4, em 2015, o que era uma desaceleração virou uma contração, fazendo com

que o país entrasse em uma profunda crise econômica, durando dois anos.

Para Barbosa (2017), a crise resulta de um conjunto de choques de oferta e

demanda, resultado de erros de política econômica que coincidiram com o momento da

realização da Nova Matriz Econômica (NME). A NME foi um conjunto de políticas na

economia que incluíram medidas como redução da taxa de juros, elevação de gastos,

concessões de subsídios e intervenção em preços.

Ainda segundo Barbosa (2017), os choques de demanda são divididos em três

grupos: o esgotamento da NME a partir de 2014, a crise de sustentabilidade da dívida

pública doméstica de 2015 e a correção do populismo tarifário, que demandou uma

política contracionista para controle inflacionário.

Figura 4: Aumento do PIB (% anual) por ano. Fonte: Banco Mundial (2018).

Dentre as políticas que resultaram no fim da NME, as mais relevantes foram em

relação à política da taxa de juros e de investimentos. Em 2012, o governo aumenta a taxa

de juros em um momento de aceleração da inflação. Sabe-se que a taxa de juros é

instrumento do governo para controle da inflação; historicamente, o aumento da taxa de

juros desacelera a inflação.

Em relação à política de investimentos, um ambicioso plano para a exploração,

produção (pré-sal) e refino do petróleo, resultou em um aumento da importância da

Petrobras que chegou a representar 10% de todo investimento do país. Após a criação de

26

empresas e a construção de estaleiros, a política não apresentou os resultados esperados

(BARBOSA, 2017).

Essa política, que utilizou recursos públicos de forma exagerada, no entanto, não

veio acompanhada de um aumento da produtividade total dos fatores (PTF), mas sim de

uma queda desta (ver Tabela 1). Assim, reduziu-se a capacidade de crescimento da

economia no período e, consequentemente, não expandiu o produto potencial

(BARBOSA, 2017).

Tabela 1: Decomposição do crescimento do PIB. Fonte: Barbosa (2017).

O não aumento da PTF, por sua vez, é explicada pela queda nos investimentos,

explicada pela grande incerteza no país, que tornara a taxa de retorno do capital uma

incógnita. Como se sabe, a demanda por investimentos é maior, quanto maior for a Taxa

de Retorno sobre o Capital Próprio (Return on Equity ou ROE). De fato, observou-se uma

redução desta, alcançando um valor mais baixo do que a inflação, tornando-se assim

negativa em termos reais, como é possível ver na Tabela 2 (OREIRO, 2017).

Tabela 2: Evolução da taxa de retorno sobre o capital próprio e da Taxa Selic (2010-2014). Fonte: Oreiro

(2017).

27

Além disso, com a intervenção no setor energético, houve a redução das tarifas de

energia e o controle do preço da gasolina, afetando negativamente a margem de lucro da

Petrobras e Eletrobras (OREIRO, 2017). O controle de preços seria seguido por sua

liberação em 2015 e resultando em um abrupto realinhamento de preços que levou a um

choque negativo na economia, representando, apenas para Petrobras, uma perda de R$ 50

bilhões (BARBOSA, 2017). A dispersão desse choque, por sua vez, fez com que o Banco

Central elevasse a taxa de juros para controlar a inflação (BARBOSA, 2017). Como

explica Oreiro (2017), o realinhamento de preços causou um salto na inflação de 6,41%

em 2014 para 9,48% em 2015,

A intervenção governamental e seus estímulos fiscais prejudicaram as contas

públicas, ocasionando em uma deterioração da dívida pública, após a transformação do

superávit primário de 2% do PIB real em um déficit primário superior a 3%. Isso elevou

de forma substancial o risco Brasil, e implicou no aumento da taxa de juros. Por fim,

observou-se uma redução real nos investimentos em 4,8% e a menor taxa de crescimento

real do consumo nos últimos anos (BARBOSA, 2017).

3.1.2 Situação econômica atual

Como exposto anteriormente, após grave crise econômica que resultou na

contração do produto interno bruto, o Brasil volta a crescer em 2017, após passar por uma

grave recessão (Figura 5).

Figura 5: evolução trimestral do PIB. Variação acumulada 4 trimestres (%). Fonte: adaptado de SEPLAN

(2018).

Como se pode ver na Figura 6, a recuperação do país foi puxada em grande parte

pelo crescimento real de 3,1% da agropecuária no primeiro trimestre, que manteve-se

forte, chegando a um crescimento real de 13% no quarto trimestre.

28

Figura 6: evolução trimestral dos componentes da oferta do PIB. Fonte: adaptado de SEPLAN (2018).

No lado da demanda, repara-se recuperações nas exportações, que voltaram a

crescer no terceiro semestre de 2017, e no consumo das famílias, que voltou a crescer no

quarto trimestre, diferentemente dos investimentos, que continuaram caindo (Figura 7).

Figura 7: evolução trimestral dos componentes da demanda do PIB. Fonte: adatado de SEPLAN (2018).

Já no que diz respeito à criação de emprego formal, o início de 2018 é marcado

pela volta da criação de empregos, após retração de 2015 a 2017 (Figura 8).

29

Figura 8: criação de empregos formais, acumulado no ano até o mês de referência. Fonte: adaptado de

SEPLAN (2018).

Focando a análise do desemprego no setor do varejo, revela-se o quão importante

é o varejo para geração de emprego no Brasil. Na Figura 9, está a evolução mensal do

saldo total de emprego e do saldo do setor do varejo nos meses de junho de 1992 a 2018,

onde é possível ver que a curva do total dos setores acompanha a curva do varejo.

Também se observa o quão grave a crise iniciada em 2014/2015 foi para o varejo: neste

setor, nota-se um saldo negativo na criação de empregos em 2014 que, se considerado a

relação histórica, indicaria um saldo negativo na criação total de empregos no ano

seguinte (2015).

30

Figura 9: Brasil - Evolução mensal do saldo de emprego nos meses de junho de 1992 a 2018, sem ajuste:

comparação entre total de setores e varejo. Fonte: CAGED – Junho 2018.

A inflação, por sua vez, se mostrou estável de 2017 a 2018 (2,86% em janeiro),

após redução em anos anteriores (Figura 10).

Figura 10: inflação. Fonte: SEPLAN (2018).

Observando a taxa básica de juros, a SELIC, observa-se um decline considerável,

alcançando 6,75% em fevereiro (Figura 11).

31

Figura 11: evolução das taxas de juros (meta SELIC e TJLP). Fonte: adaptado de SEPLAN (2018).

Em relação ao comércio exterior, observa-se uma alta recente da taxa de câmbio,

chegando no maior nível desde 2 de março de 2016 (R$ 3,84 em 06/06/2018),

influenciado pela aumento da demanda do dólar devido à expectativa do aumento da taxa

de juros nos EUA (FOLHA, 2018). Veja a Figura 12.

Figura 12: evolução da taxa de câmbio. Fonte: IPEA (2018).

Concernente às contas públicas, observa-se uma melhora do resultado primário

(acumulado em 12 meses), após uma redução das despesas primárias (Figura 13).

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

jan

/20

09

jul/

2009

jan

/20

10

jul/

2010

jan

/20

11

jul/

2011

jan

/201

2

jul/

2012

jan

/20

13

jul/

2013

jan

/20

14

jul/

2014

jan

/20

15

jul/

2015

jan

/20

16

jul/

2016

jan

/20

17

jul/

2017

jan

/20

18

R$ Taxa de câmbio nominal

32

Figura 13: resultado primário do Governo Central — % do PIB. Fonte: adaptado de SEPLAN (2018).

A previdência social, entretanto, tem sua situação cada vez pior, ocasionada pelo

aumento vertiginoso das despesas relacionadas (Figura 14).

Figura 14: regime geral da previdência social. Fonte: adaptado de SEPLAN (2018).

Por fim, observamos uma melhora substancial no Risco-Brasil, fruto da melhora

das contas do governo, que teve sua credibilidade aumentada (Figura 15).

33

Figura 15: evolução da percepção de Risco-Brasil (EMBI+). Fonte: adaptado de SEPLAN (2018).

3.1.3 Expectativas e próximos passos da política econômica

Como se pode ver no anexo 1 (Relatório Focus de junho de 2018), há uma melhora

no crescimento do PIB, indo de 2,19% em 2018 para 3,0% em 2019, e um crescimento

modesto das taxas de juros (6,53% em 2018 para 7,13% em 2019) e inflação (3,65% em

2018 para 4,01% em 2019), indicando certa estabilidade econômica no país. Desse modo,

com diminuição da incerteza e uma taxa de juros relativamente baixa, espera-se a

retomada de investimentos no país. Além disso, uma melhora no resultado primário

(Figura 16) deve melhorar o risco do país, aumentando a credibilidade deste e atraindo

capital estrangeiro.

Figura 16: mediana do resultado primário (% do PIB). Fonte: BCB.

34

Ressalta-se que é fundamental a solução do problema fiscal para a retomada do

crescimento, de modo a estabilizar a relação dívida/PIB brasileira (BARBOSA, 2017).

Entretanto, se medidas de austeridade fiscal como a reforma da previdência não forem

concretizadas, o Brasil pode voltar a correr sérios riscos. Como foi visto anteriormente, a

despesa do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) entrou em disparada,

aumentando o rombo do mesmo.

Barbosa (2017) esclarece que são necessárias políticas que retomem o

crescimento do país, como a redução do grau de intervenção na economia, para melhor

alocação do capital, e flexibilização do mercado de trabalho para aumentar a

produtividade. Além disso, também é defendida a recuperação da poupança doméstica de

maneira a possibilitar um aumento do investimento doméstico, principalmente em

infraestrutura.

Oreiro (2017) também toca na questão da flexibilização do mercado de trabalho,

adicionando que é fundamental uma redução do custo de trabalho na indústria. Esta

redução, em conjunto com a manutenção da taxa de câmbio em um patamar competitivo,

é importante para o reestabelecimento das margens de lucro das empresas.

Contudo, resolver os problemas internos não bastam para garantir o crescimento.

Risco a fatores externos, como a política monetária americana e a onda de protecionismo

iniciada pelo governo Trump, podem tornar a taxa de juros interna volátil, além de

prejudicar o crescimento do setor externo do Brasil. Isso se deve ao fato de que esse

protecionismo envolve produtos tipicamente exportados pelo Brasil como, por exemplo,

o aço (MELLO, WELLE e DE OLIVEIRA, 2018).

3.2 O Setor do Comércio Varejista no Brasil

3.2.1 Panorama atual

Após acentuada queda no crescimento das vendas, culminando numa contração

delas em 2016, devido à crise econômica explicada anteriormente, o comércio varejista

volta a crescer em 2017, como pode ser visto na Figura 17.

35

Figura 17: Receita nominal - Média dos setores do Varejo. Índice Mensal (Base: igual mês do ano

anterior). Fonte: IBGE (2018).

No Apêndice A, está a evolução da receita nominal nos vários setores do comércio

varejista desde 2007. Nesse gráfico, é possível observar que os setores mais afetados pela

crise foram “Equipamentos e materiais para escritórios, informática e comunicação” e

“Móveis e Eletrodomésticos”. O menos afetado foi “Artigos farmacêuticos, médicos,

ortopédicos, de perfumaria e cosméticos".

Analisando o desempenho no início de 2018, observa-se um crescimento de 3,8%

no comércio varejista restrito no primeiro trimestre de 2018 contra o primeiro trimestre

de 2017, puxado em maior parte pelas vendas de “Outros artigos de uso pessoal e

doméstico”, com crescimento de 8,7%, e também por “Hiper, Supermercados, produtos

alimentícios, bebidas e fumos”, com crescimento de 5,7%, como é possível ver na Tabela

3. O destaque negativo, por outro lado, é das vendas de “Livros, jornais, revistas e

papelaria”, com -8,2%.

36

Tabela 3: indicadores do volume de vendas no comércio varejista e comércio varejista ampliado, por

atividades, no Brasil — indicador trimestral (base igual trimestre do ano anterior). Fonte: IBGE (2018).

EXPECTATIVAS PARA O VAREJO EM 2018

As expectativas para o ano de 2018 são boas. Segundo especialistas, o conjunto

de renda e emprego, que vem melhorando de maneira gradual, e a tendência de melhora

no crédito são pontos chave dessa recuperação. Após dois anos de consumo fraco, espera-

se que a demanda, que estava reprimida, melhore o resultado de diversos setores, como

os têxteis, de alimentos e o de eletrodomésticos (RIBEIRO, 2018).

Enquanto o setor de alimentos é beneficiado pela safra que, neste ano, espera-se

ser menor que a do ano passado, melhorando sua margem, os outros segmentos

aproveitarão as melhores condições de crédito, que tem como um dos motivos a taxa de

juros mais baixa. Além disso, pode-se ver na Figura 18 que a boa expectativa é

confirmada pela alta das ações das empresas do setor do comércio, em especial, varejista.

(RIBEIRO, 2018).

37

Figura 18: Ações das empresas do setor de comércio. Fonte: O Globo (2018).

Dessa forma, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo

(CNC) prevê um crescimento de 5,0% no comércio em 2018. Ainda segundo a entidade,

o processo de desinflação e a intensificação da queda da taxa de juros, além da retomada

do nível de emprego, são cruciais para a consolidação da recuperação. Entretanto, o setor

continua pendente da recuperação das condições de consumo (NIELMAR, 2018).

3.3 O Futuro da Automação Segundo Consultorias

Como insumo cujo objetivo é ter algum vislumbre qualitativo sobre o futuro da

automatização mundial e no Brasil, este estudo utilizará os comentários, principalmente

qualitativos, de um dos principais observadores do ponto de vista corporativo. Esses

observadores são as consultorias estratégicas, cujo papel que combina percepções

profundas dentro das dinâmicas das organizações e mercados, é capaz de construir um

horizonte das expectativas a respeito do futuro da automação.

Para elucidar de forma mais coesa com o objeto de estudo, faz sentido olhar a visão

geral do panorama (ponto de vista da automação no mundo), depois restringe-se

geograficamente (ponto de vista da automação no Brasil) e por fim filtra-se por atividade

econômica (visão do varejo no Brasil)

Dentro desse objetivo identifica-se algumas tendências mundiais no panorama

geral que estão presentes em todos os relatórios em maior ou menor grau e por isso

merecem atenção, são elas:

1. Aspecto demográfico e envelhecimento da população

2. Variação do ritmo da automação

38

3. Grau de competitividade das economias avançadas contra a mão de obra mais

barata das economias em desenvolvimento

3.3.1 Panorama geral

Segundo os principais relatórios de consultorias globais, hoje vive-se uma era de

transformação equivalente à do século passado, quando houve a migração de uma

sociedade agrária para uma sociedade industrial. A diferença é que hoje essa

transformação é dirigida pela robótica (automação manual) e pela inteligência artificial

(automação intelectual) que estarão gerando a disrupção em praticamente todos os setores

da economia.

3.3.1.1 Envelhecimento da população

De acordo com um relatório do Mckinsey Global Institute (MGI) para o World

Economic Forum (2018) o envelhecimento da população impactará o crescimento

econômico de forma bem acentuada. Indaga-se que o crescimento do PIB mundial nos

últimos anos teve o protagonismo de dois principais fatores, o crescimento da população

e o aumento da produtividade (produção por trabalhador). Um desses fatores está

entrando em declínio, sobrando para a produtividade compensar os dois, o que acaba por

estimular o desenvolvimento e implementação de tecnologias de automação.

Outro relatório, da Bain & Company’s Macro Trends Group (2018) endossa essa

tendência. Ele prevê que o envelhecimento da população gerará escassez de mão de obra

e influenciará as empresas a investirem em tecnologias de automação.

3.3.1.2 Ritmo da automação

As consultorias também chamam atenção para o ritmo de automação, ou seja, o

quão rápido e quantos esforços os países estarão dispostos a empregar para acelerar ou

diminuir o processo de desenvolvimento e implantação de tecnologias de automação. De

acordo com um estudo do The Boston Consulting Group (2015) a respeito da velocidade

de adoção de tecnologias de automação na manufatura, existe, por um lado, o interesse

dos países em proceder de forma moderada, dada a tensão entre o estímulo à automação

causado pela expectativa de diminuição do crescimento da força de trabalho, com o

estímulo para um processo mais lento para evitar uma disrupção massiva nos setores da

economia e permitir que a força de trabalho tenha tempo para se adaptar. Por outro lado,

uma vez que as primeiras empresas começarem a implementar novas formas de

automação, as outras irão segui-las rapidamente para se manterem competitivas.

39

Vale ressaltar que mesmo que este estudo tenha a manufatura como objeto de

estudo, ele continua sendo relevante para o varejo por dois motivos. O primeiro se refere

à aproximação do ritmo de automação da manufatura em um determinado espaço

temporal ao ritmo futuro à esse mesmo espaço no setor de serviços. O segundo salienta

que esse estudo relata a postura dos países frente à uma onda de automação, portanto a

manufatura é apenas uma particularização.

Nessa linha de estudo, o BCG expõe que o ritmo de adoção das tecnologias de

automação estará diretamente atrelado à indústria e características do país, alguns com

uma postura mais agressiva, outros com uma abordagem mais lenta. Dito isso, o BCG

salienta três tendências principais que influenciam a velocidade de adoção de forma mais

geral:

• A relação custo-produtividade

• Os avanços tecnológicos que derrubam barreiras de adoção em setores-chave

• Chegada de sistemas acessíveis a pequenos manufatureiros tanto pelo custo

quanto pela complexidade

Analisando essas tendências e o contexto de cada país, o BCG organizou os seguintes

países:

Figura 19: Categorias de adoção de tecnologias de automação. Fonte: BCG (2015)

40

A Figura 19 ilustra as 4 principais posturas frente a adoção de novas tecnologias

de automação na manufatura e exemplos dos respectivos países que se adequam a essa

abordagem:

• Agressiva (Aggressive) – Já vem instalando mais robôs do que seria esperado por

essas economias, dado a produtividade ajustada pelo custo da mão de obra desses

países. O motivo é parcialmente explicado pelo fato de todas essas economias

possuírem crescimento acima da média de salários, possuírem taxa de desemprego

baixa e força de trabalho em processo de envelhecimento rápido. Cerca de 50%

das tarefas relativas a manufatura automatizadas até 2025

• Rápida (Fast) – Se encontram em situação similar aos países com postura

agressiva, porém como se tratam de economias maiores e mais robustas, essas

possuem graus de complexidade, regulações e ações, em geral do governo, para

impedir uma disrupção massiva e incentivo para uma abordagem mais moderada

através de legislações trabalhistas e assistência aos trabalhadores. Cerca de 30 a

45% das tarefas relativas a manufatura automatizadas até 2025.

• Moderado (Moderate) – Estão em um ritmo que acompanha o crescimento

econômico desses países, possuem maiores regulamentações trabalhistas,

restrições ao capital externo e controle governamental das taxas de juros devem

contrinuir para amenizar a adoção de tecnologias de automação. 30 a 35% das

tarefas relativas a manufatura seja automatizadas até 2025.

• Lenta (Slow) – Apesar de possuírem um alto custo de mão de obra, sofrerem com

o processo de envelhecimento da população, estas economias possuem um

processo bem mais lento de adoção de tecnologias de automação. Um dos

principais motivos para isso são as regulações que proíbem ou dificultam a

substituição da mão de obra por capital. São governos menos flexíveis que

prejudicam não só o processo de automação, mais desencorajam o investimento

em bens de capital no longo prazo, forte controle sobre as taxas de juros e restrição

de investimento externos são empecilhos adicionais. Até 15% das tarefas relativas

a manufatura seja automatizadas até 2025. O que tornará difícil para os que

possuem processo de adoção lenta competirem com os que possuem processos

mais rápidos

41

Vale ressaltar que as porcentagens de adoção à automação utilizadas nesse estudo

possuem função primariamente comparativa entre as posturas dos países, sendo então

interpretadas de forma qualitativa.

Complementando essa abordagem, o MGI (2018) salienta ainda cinco elementos que

devem ser considerados pelos países em relação a adoção futura de uma tecnologia de

automação:

1. Potencial Tecnológico

2. Custo de desenvolvimento e de implementação de tecnologias de automação

3. Dinâmica de oferta e demanda de mão de obra

4. Benefícios da automação além da substituição da mão de obra (maior

produtividade, melhor qualidade, menor quantidade de erros e competências que

superam a habilidade humana)

5. Regulação e problemas sociais oriundos da possível automação de funções

críticas que podem pôr em risco a segurança da população (cirurgias e trânsito em

vias públicas) e substituição da mão de obra.

3.3.1.3 Competitividade das economias avançadas frente a mão de obra mais

barata das economias em desenvolvimento

Outro fator abordado pela Bain (2018) é o efeito do aumento do salário na China

como estimulo para automatização. É mostrado que, na China em 2010, o período para

se obter retorno sobre o investimento na substituição da mão de obra (estimated payback

period), ou seja, o benefício em se automatizar uma função era entorno de 5,3 anos. Em

2016, a combinação de queda nos preços dos robôs e o aumento do custo da mão de obra

diminuíram esse período para 1,5 anos. E é esperado que até o o final da década, esse

período será reduzido para menos de um ano.

Um efeito semelhante é descrito ainda pela Bain (2018) e observado em outros

países, as novas gerações de tecnologias de automação estão se tornando competitivas

frente à mão de obra de países em desenvolvimento. Por exemplo, em 1997, o valor

agregado fabril adicionado por dólar de trabalho era o dobro no México em relação aos

Estados Unidos. Em 2013, essa diferença diminuiu para menos de 15%. O que mostra um

crescimento da atratividade de arranjos mais automatizados nas economias mais

avançadas.

42

3.3.2 Panorama Brasil

Dentro dos comentários das principais consultorias é encontrado um olhar

especial para o Brasil, e como este vai se comportar futuramente dentro desse novo

contexto homem-máquina.

3.3.2.1 Automação geral

Anteriormente foi mostrado que o Brasil foi categorizado como um país que

possuirá um processo de adoção de tecnologias de automação lento. O relatório do BCG

(2015) ainda salienta que devido ao impacto do governo em políticas trabalhistas, forte

controle sobre investimentos externos e taxas de juros implicarão em uma estimativa de

15% das tarefas relativas a manufatura, automatizada até 2025. O que prejudicará a

competitividade brasileira frente aos países que farão uma transição mais ligeira.

Por outro lado, a modelagem da adoção das tecnologias de automação feita pelo

MGI (2018) já denota um cenário ainda mais conservador. Nesse cenário é explicitado a

potencialidade de automação no Brasil, já que apenas com a tecnologia disponível hoje

já é possível automatizar metade de todas as horas trabalhadas pela força de trabalho, com

potencial especial nas áreas de manufatura e varejo. Além disso, estimativas do relatório

MGI preveem que até 2030, presumindo um cenário de adoção médio, 14% do total de

postos de trabalho poderão ser automatizados.

Além disso, uma visão mais panorâmica do Brasil é trazida por um estudo feito

pela Associação Brasileira de Automação (2018), que analisou os desdobramentos da

automação no Brasil.

O estudo desdobra a automação de empresas em diferentes dimensões de

automação, e ainda segmenta entre fábricas e comércio/serviços como mostrado abaixo:

• Empresas → Subdividida entre indústria e comércio/serviços

o Sistemas

o Relacionamento com o colaborador

o Relacionamento com o cliente

o Atendimento

o Logística

o Fábrica (Indústria)

o Loja (Comércio e Serviços)

43

Através da análise dessas dimensões de automação, o estudo estipula um índice

cujo intervalo de 0 a 1, sendo zero a inexistência de automação e 1 a automação plena,

denota a distribuição e concentração da automação no mercado brasileiro.

Como linha de base do estudo, salienta-se que o índice geral de automação do

mercado brasileiro é 0,22 no ano de 2017, esse número representa a média de adoção às

tecnologias de automação das empresas brasileiras, levando em conta o tamanho e setor

de atuação. Dessa forma, com base nele compara-se mais a frente as dimensões do varejo

e o porte das empresas.

3.3.2.2 Automação varejo

Como o objeto de estudo desse trabalho é o varejo brasileiro, essa sessão focará a

análise nos dados apresentados pela Associação Brasileira de Automação (2018) nesse

setor em específico, o comparando com o que se vê no universo Brasil como todo.

3.3.2.2.1 Comparação por setor

Figura 20: Comparativo entre indústria e comércio/serviços. Fonte: Associação brasileira de automação

(2018)

Primeiro, pode-se notar pela Figura 20 que a automação do mercado brasileiro

tem maior adoção no setor industrial, isso se dá principalmente porque foram nas linhas

de produção que surgiram as primeiras tecnologias de automação. A automação

comercial e de serviços tem uma história muito mais recente.

3.3.2.2.2 Comparação por dimensões no varejo

É importante ressaltar inicialmente que o varejo objeto de estudo desse trabalho

se difere da definição de varejo do estudo da Associação Brasileira de Automação. O que

será considerado varejo no caso desse estudo será o campo “comércio e serviços”

nas tabelas referidas.

44

Figura 21: Comparativo entre setores e dimensões. Fonte: Associação brasileira de automação (2018)

Como mostrado na Figura 21 (acima), nota-se como a distribuição da automação

no varejo está feita em relação às dimensões predefinidas. Nessa visão é possível tecer

alguns comentários sobre as dimensões:

Algumas dimensões impulsionam o índice de automação, enquanto outras ainda

possuem investimentos em fase muito inicial. As dimensões “Relacionamento com o

cliente” e “Relacionamento com o colaborador” por exemplo, só vem adquirindo

relevância recentemente, então as tecnologias que permeiam esse mercado, além de raras,

ainda são pouco adotadas pelas empresas.

Além disso, vale comentar que o índice de automação em lojas, ou seja, pontos de

vendas totalmente automatizadas ainda é extremamente residual no Brasil e grande parte

da contribuição ao índice da automação advém dos sistemas integrados de gestão e

logística, mesmo assim, estes estão defasados da indústria.

3.3.2.2.3 Comparação por porte de empresa no varejo

Figura 22: Comparativo da automação por porte de empresa. Fonte: Associação brasileira de automação

(2018)

Por fim, pode-se notar pela Figura 22 que a maior parte da automação está

concentrada nas grandes empresas, o que não chega a ser uma surpresa dado o grande

investimento necessário para implementação de soluções de automação. Mesmo assim,

já se nota algum grau de automação nas pequenas e médias empresas, o que denota um

45

crescimento na acessibilidade das soluções de automação que geram ganhos de

produtividade para as mesmas.

3.4 Frentes de Automação Iminentes no Comércio Varejista

Aqui serão discriminadas as principais frentes de automação relevantes para o

varejo e cuja implantação é vislumbrada no horizonte de 20 anos. Como um dos principais

critérios para aderência dessas soluções é o custo de adoção, uma atenção especial será

dada às estimativas do custo de implantação das tecnologias, essa estimativa será feita de

forma qualitativa, não tendo como objetivo a valoração do custo em si, apenas inferir se

determinada tecnologia possui um custo ainda alto e proibitivo, moderado ou se já possui

um custo mais baixo que facilita a aderência e se já existe indícios de disseminação no

varejo brasileiro. O objetivo é identificar tendências e possíveis entraves para

implantação dessas tecnologias.

Sendo assim, as principais frentes analisadas serão descritas abaixo em conjunto

com seu potencial custo de implantação.

• Esteira automática em conjunto com robôs

Dentro dos processos de recebimento e estocagem dos produtos do varejo,

existe a possibilidade da implementação de um sistema de esteiras

automáticas e robôs pré-programados que direcionam os produtos para os

seus respectivos locais de estoque ou saída para entrega. Esse sistema é

encontrado na Amazon, por exemplo, onde um investimento significativo

foi feito nessa área e hoje eles comercializam essa capacidade de

gerenciamento de estoque como serviço para terceiros que o utilizam para

vender os seus próprios produtos.

Custo: Altíssimo custo de implantação. Segundo o Seattle Business News

(2017), a Amazon investiu cerca de 200 milhões de dólares para

desenvolver a sua solução.

• Drones

Dentro do processo de entrega de produtos e serviços de delivery

(principalmente no e-commerce) existe expectativa de se utilizar drones

na última etapa de entrega, essa tecnologia consiste em pequenos veículos

aéreos não tripulados, elétricos e controlados por operadores que viajam

pequenas distâncias.

46

Custo: Baixo custo de manutenção. Segundo o Business Insider (2017),

estimativas dizem que cada entrega via drone custaria 1 dólar para a

Amazon.

• Veículos autônomos

Ainda no processo de entrega, porém mais focado nas primeiras etapas

(entre centros de distribuição interestaduais, por exemplo), é questionada

a utilização de veículos autônomos e elétricos capazes de percorrer

grandes distâncias. Apesar da expectativa nessa tecnologia, essa ainda se

encontra incipiente, possuindo alto risco e custo.

Custo: Alto custo de implantação. Segundo o Tecmundo (2017), o custo

de se adicionar recursos autônomos a veículos de linha está na faixa de 10

mil dólares.

• Beacon

Já na parte de eficácia de estratégias de marketing, tem-se tecnologias que

monitoram o trajeto e comportamento do cliente e geram dados para as

empresas de varejo analisarem e suportarem novas estratégias mais

efetivas. Essa tecnologia geralmente é instalada em pequenos dispositivos

que se conectam aos smartphones dos clientes, com o barateamento do

custo da conectividade e de hardwares que captam dados, essa tecnologia

possui um custo extremamente baixo.

Custo: Baixíssimo custo de implantação. Segundo o portal Practical E-

commerce (2015) o custo de dispositivos beacon está em torno de quarenta

e oitenta dólares.

• Big Data Analytics

Já onde serão geridos todos os dados captados pelas empresas de varejo,

encontra-se as tecnologias que são responsáveis pela gestão, estocagem e

análise desses dados. Essas soluções apesar de possuírem um custo alto de

implementação, já estão disseminadas nas empresas brasileiras.

Custo: Alto/Moderado custo de implantação. Segundo o portal da Forbes

(2012), a mão de obra especializada em conjunto com a migração de dados

de data centers para nuvem é alto, porém soluções para empresas que não

envolvem migração de dados são bem mais acessíveis.

• Machine Learning

47

Com a evolução dos processos de geração e gestão dos dados, tecnologias

que automatizam o processo de análise estão começando a surgir, essas

tecnologias utilizam modelagem matemáticas e estatísticas para criar

insights e previsões de cenários para os dados consumidos. O custo de

processamento dessa tecnologia já vem sendo reduzido dado a

popularização da tecnologia e disseminação de profissionais

especializados nessa área.

Custo: Baixo custo de implantação. Segundo o catálogo de serviços

prestados pela Amazon, o custo de 20h de processamento e criação de mil

modelos de previsões custaria em torno de 100 dólares.

• Autoatendimento

Como ponto chave de contato com o cliente em casos de serviços de

atendimento, chatbots, vem sendo implementados em empresas diversas,

em especial no varejo. Esses chatbots são robôs que são capazes de fazer

o primeiro contato com o cliente e sanar alguns problemas padronizados,

economizando o tempo dos atendentes e barateando o serviço.

Custo: Baixo custo de implantação. Segundo o portal da IBM (2017),

chatbots seriam capazes de diminuir em 30% o custo do atendimento ao

cliente.

• Self Checkout

Caixas automáticos que prestam o serviço de venda de produtos no varejo

já são uma realidade, são máquinas capazes de identificar o produto

escolhido e receber o pagamento pelo método preferido do cliente.

Custo: Alto custo de implantação. Segundo o MIT o custo de implantação

de uma máquina de self checkout custa em torno de U$125.000,00. Se

configurando como um investimento inicial alto, porém com custo de

manutenção baixo.

• Just Walk Out Technology (Amazon)

A Amazon está desenvolvendo uma tecnologia que acabaria com a

necessidade de se ter um caixa na saída de uma loja. Essa tecnologia

consiste em um conjunto de câmeras, algoritmos avançados para

identificação de objetos por computadores e um processo igualmente

avançado de aprendizado de máquina para reconhecer os produtos

48

retirados das prateleiras e realizar o processo de pagamento

automaticamente quando o cliente sair da loja.

Custo: Alto custo de implantação. Segundo o The Guardian (2018), o

poder computacional e sensores de alta tecnologia necessários para

implantação dessa solução demandam um investimento bem maior que um

posto de self checkout.

49

4 Revisão Sistemática da Literatura

4.1 Dinâmica de Sistemas

4.1.1 Pensamento Sistêmico

Segundo Amarildo Fernandes (2003) o pensamento sistêmico é uma forma holística

de se pensar e abordar a compreensão de sistemas complexos e envolve uma mudança de

mentalidade. Essa mudança incentiva a prestar atenção nos inter-relacionamentos, em vez

de cadeias lineares de causa-efeito, ver os processos de mudança e olhar o ser humano

como parte de um processo de feedback, não ficando à parte dele (SENGE, 2017).

De acordo ainda com Senge (2017) esse pensamento nos ajuda a abordar um

diferente tipo de complexidade, a complexidade sistêmica, onde uma pequena mudança

em uma das variáveis causa uma cadeia mudanças que impactam o sistema como todo,

em contraponto à complexidade dos detalhes que aprofunda nas minúcias das variáveis

em detrimento da visão dos padrões e inter-relacionamentos principais.

4.1.2 Sistemas dinâmicos

De acordo com Fernandes (2003) os sistemas podem ser classificados em ciclos

abertos e sistemas de feedback. O primeiro caracteriza por ter inputs que influenciam os

outputs, porém os outputs estão isolados e não exercem influência nos inputs (Relações

de causa-efeito). O segundo é caracterizado pela influência do seu passado, possuindo

uma estrutura onde o output influencia o input, nesse cenário causa e efeito se confundem,

pois uma causalidade não tem apenas um efeito e a informação sobre o estado do sistema

é a base da decisão que gera uma ação e que gera um resultado. E essa informação se

torna input novamente para um novo processo decisório. Essa estrutura caracteriza um

sistema dinâmico.

4.1.3 Dinâmica de sistemas

Dentro dos sistemas dinâmicos o principal objeto de estudo é o ciclo de feedback

que pode ser dividido em ciclos de reforço (+) e ciclos de equilíbrio (-). Segundo

Fernandes (2003) os ciclos de reforço se caracterizam por ter um efeito positivo, ou de

incentivar determinado comportamento da variável, os ciclos de equilíbrio proporcionam

o efeito contrário.

As modelagens de sistemas dinâmicos podem possuir duas abordagens, que são

divididas em modelagens soft e hard. A modelagem soft (que será utilizada nesse estudo)

possui um caráter qualitativo, desvantagem por não mostrar muita informação no decorrer

do tempo e geralmente é utilizada nas etapas iniciais, de conceptualização e definição do

50

problema. A modelagem hard já possui um caráter mais quantitativo, desvantagem de ter

um distanciamento dos agentes estudados e geralmente é utilizada nas etapas posteriores

de um estudo.

Nesse estudo em particular será utilizado como parâmetro para modelagem, as

etapas da modelagem soft abordada por Fernandes (2003) a seguir:

1. Definição de uma situação complexa de interesse → Onde é buscada uma situação

importante e complexa para a organização, ou para o conjunto de indivíduos

interessados.

2. Apresentação da história dos eventos → Onde o objetivo é assinalar eventos

relevantes relacionados com a situação ao longo do período considerado.

3. Identificação de fatores chave → Onde é necessário identificar que fatores ou

variáveis podem ser assinalados como chave para a compreensão da situação.

4. Observação do comportamento → Consiste em observar padrões de

comportamento através de gráficos de curva, de alguns elementos chaves e ao

longo do tempo.

5. Identificação de influências → Passo em que o objetivo é identificar as relações

causais entre os fatores, a partir da comparação das curvas, hipóteses preliminares

e intuições a respeito das influências recíprocas.

6. Identificação de modelos mentais → O objetivo desta fase é identificar os modelos

mentais presentes, ou seja, levantar crenças e pressupostos que os atores

envolvidos mantêm em suas formas de enxergar a realidade, e que estão ajudando

a criar a estrutura em questão.

O resultado dessa modelagem é chamado de enlace causal e é um modelo de

relacionamento entre os agentes envolvidos.

51

Figura 23: Exemplo de Modelagem Soft (Qualitativa). Fonte: Fernandes (2003)

Na Figura 23 tem-se um exemplo de enlace causal. Nele pode-se notar 4 ciclos de

feedback, dois ciclos de reforço (R+) e dois de equilíbrio (E-), assim como a visão das

inter-relações entre todos os agentes do sistema.

4.2 Modelagem Macroeconômica

4.2.1 O modelo

A modelagem macroeconômica realizada neste trabalho tem como objetivo

entender a dinâmica econômica do sistema em estudo. Esse sistema, durante a

implementação do Método dos Cenários, será baseado tanto nesta modelagem

(macroeconômica), quanto na modelagem tecnológica explicada no item 4.3.

Para a realização desta modelagem, faz-se uso da Dinâmica de Sistemas,

explicadas no item 4.1, buscando entender a interação entre as diversas variáveis e

localizando os ciclos de feedback em questão. Para simplificar, diz-se que uma influência

positiva é caracterizada por uma correlação positiva, enquanto influência negativa

caracteriza-se por uma correlação negativa. O modelo está representado na Figura 24 e

será explicado logo abaixo.

52

Figura 24:’ modelagem macroeconômica. Fonte: elaboração própria.

Uma vez que um dos objetivos deste trabalho é compreender o emprego da

tecnologia de automação, entende-se que uma das principais variáveis macroeconômica

é a demanda por investimentos I’. A partir desta variável, serão buscadas várias relações

de causa e efeito desta com outras variáveis, e assim por diante.

Observa-se que todas essas relações estão sob a condição ceteris paribus. Além

disso, salienta-se que este modelo possui como objetivo principal ter insumos, ou seja,

relações, para o desenvolvimento da matriz de análise estrutural proposta no Método dos

Cenários. Desta forma, o modelo procura representar ciclos de feedback que envolvam

variáveis macroeconômicas que estejam mais relacionadas as variáveis tecnológicas,

sendo elas o consumo C’ e demanda por investimentos I’. Por exemplo, sabe-se que C’ é

influenciado pelo nível de salário (ou custo do trabalho), enquanto I’ influencia a principal

variável do estudo, a parcela de capital na produção agregada.

Portanto, sem pretensões de obter uma modelagem hard, e com o intuito de obter

uma representação simplificada da realidade, decide-se por não representar no modelo

outras variáveis macroeconômicas como gastos de governo, importações e exportações.

Essas são, a priori, variáveis que possuem um menor número de relações com o modelo

tecnológico. Não está descartada, entretanto, a hipótese de testar novos modelos que

envolvam essas variáveis.

53

A primeira percepção que pode-se ter refere-se à taxa de juros real r. É uma

variável importantíssima para o modelo, integrando diversos ciclos de feedback e tendo

uma influência negativa (i) sobre a demanda por investimentos I’, uma vez que compõe

o custo do capital (WOILER e MATHIAS, 2015). A taxa de juros real r também possui

influência negativa (iii) sobre o consumo C’, devido ao aumento da demanda (MANKIW,

2018), influência negativa (ii) sobre a taxa de câmbio real er, devido à movimentação de

divisas (MANKIW, 2018), e é influenciada positivamente (iv) pela taxa de juros nominal

i, conforme a equação de Fisher (MANKIW, 2018).

Além de ser influenciado pela taxa de juros real r, a demanda por investimentos

I’ também é influenciada negativamente (vi) pela taxa de câmbio nominal en, que, por sua

vez, é influenciada positivamente (x) pela taxa de câmbio real er. Para a relação (vi),

toma-se como premissa que parte da tecnologia da automação é importada; para a relação

(x), sabe-se que a taxa de câmbio nominal é igual à variação da taxa de câmbio real mais

a diferença da taxa de inflação entre os dois países (MANKIW, 2018).

Ainda em relação à demanda por investimentos I’, ela tem influência positiva (ix)

sobre o PIB Y, uma vez que é um dos componentes da demanda no PIB (MANKIW,

2018), e influência positiva (xi) na inflação , por aumentar a demanda (lei da oferta e da

demanda) (MANKIW, 2018). Já o consumo C’, também possui, assim como o

investimento I’, influência positiva (viii) e (vii) tanto no PIB Y, quanto na inflação ,

pelos mesmos motivos.

Por fim, sabe-se que a inflação possui influência positiva (v) sobre a taxa de

juros nominal i, explicada através de uma relação histórica (BARBOSA, 2017), e é

influenciada positivamente (xii) pela taxa de câmbio real er, uma vez que o aumento desta

torna os bens importados mais caros (MANKIW, 2018).

4.2.2 Identificando os ciclos de feedback

É possível observar que todos os ciclos de feedback deste modelo envolvem a

inflação e a taxa de juros. Quando a taxa de inflação se eleva, o governo age, elevando a

taxa de juros, acionando ciclos de feedback de equilíbrio, fazendo com que a taxa de

inflação reduza novamente. A taxa de juros é, portanto, o instrumento escolhido pelo

governo para o controle da inflação.

Assim, nota-se que a inflação pode se elevar a partir de diferentes estímulos:

aumento da demanda das famílias (consumo C’), aumento da demanda das empresas

(investimentos I’) ou através do aumento da taxa de câmbio real er, pois torna os insumos

54

importados mais caros. Nesses três casos, há ciclos de feedback de equilíbrio,

respectivamente representados na Figura 25, Figura 26 e Figura 27.

Figura 25: ciclo de feedback de equilíbrio envolvendo inflação e consumo. Fonte: elaboração própria.

Figura 26: ciclo de feedback de equilíbrio envolvendo inflação e investimentos. Fonte: elaboração

própria.

55

Figura 27: ciclo de feedback de equilíbrio envolvendo inflação e taxa de câmbio real. Fonte: elaboração

própria.

Por outro lado, é possível observar um ciclo de feedback de reforço quando há

alterações na demanda por investimentos em função da variação da taxa de câmbio,

podendo gerar um aumento constante da inflação (Figura 28).

Figura 28: ciclo de feedback de reforço envolvendo inflação e investimentos a partir de importação de

bens de capital. Fonte: elaboração própria.

As figuras acima nos mostram o quanto é importante a identificação dos ciclos de

feedback para a formação de insights acerca do sistema. Assim, considerando um governo

racional, que possui como uma de suas metas o controle da inflação, esta deve ser

controlada atuando em variáveis que estejam nos mesmos ciclos de feedback, como é o

caso da taxa de juros nominal i.

56

4.3 Modelagem Tecnológica

O pano de fundo do comportamento das tecnologias de automação, seus principais

agentes no processo de automação e como estes se relacionam, serão mapeados de acordo

com a estrutura baseada em tarefas (ACEMOGLU e RESTREPO, 2018) em conjunto

com dois tipos distintos de mudança tecnológica que otimizam os fatores de produção,

uma que otimiza o trabalho e outro que otimiza o capital. Ressalta-se ainda que essa

modelagem será utilizada de forma qualitativa, apenas para definirmos relações entre os

agentes, portanto estes serão vistos de forma superficial e sem o rigor matemático exigido

para a aplicação do modelo e por fim que um resumo dessas interações pode ser visto no

apêndice B.

4.3.1 Abordagem baseada em tarefas

O principal pilar para a análise segundo Acemoglu (2018) se pauta na abordagem

baseada em tarefas, essa abordagem consiste em supor que a produção agregada total de

um determinado setor é resultado da combinação da produção de todas as tarefas que

agregam valor nesse setor. Essas tarefas estão distribuídas em um espectro com dois

extremos que representa a propensão dessa tarefa ser automatizada, um dos extremos

representa as tarefas com altíssima propensão a serem automatizadas e o outro mostra

tarefas com baixíssima propensão a sem automatizadas.

Figura 29: O espaço das tarefas e a representação do efeito da automatização de tarefas existentes

e da introdução de novas tarefas. Fonte: Acemoglu (2017)

57

O diagrama acima ilustra a série de tarefas, a fronteira de automação I, o total de

tarefas N e o limite tecnológico da automação atual Ĩ, vale ressaltar que a fronteira de

automação I vai ser sempre o menor valor dentre o limite da tecnologia de automação e

o limite cuja automação possui vantagem econômica frente à mão de obra.

Esse diagrama ilustra 3 efeitos distintos no modelo descrito por Acemoglu:

• O equilíbrio estável dado uma determinada fronteira de tecnologia I.

• Geração de novas tarefas - Alteração na parcela de tarefas dado a inserção de uma

tecnologia que gera novas tarefas para a mão de obra – Nesse caso a parcela de

trabalho na produção agregada aumenta à medida que N aumenta.

• Automação extensiva - Alteração na parcela de tarefas automatizadas com a

evolução tecnológica que diminui o custo, aumenta a produtividade e viabiliza a

automação de tarefas que eram antes feitas por trabalhadores.

4.3.2 Tecnologias que otimizam fatores de produção

Outro aspecto muito importante da modelagem utilizada em Acemoglu (2018) é

a mudança tecnológica como agente que atua otimizando os fatores de produção, ou seja,

o avanço da tecnologia incrementa a produtividade ou barateia o capital que, como

consequência substitui a mão de obra na parcela da produção agregada.

Equação 1: tecnologia como agente que otimiza os fatores de produção.

Esse aspecto assume a forma acima, onde temos o total da produção agregada Y

de um setor como sendo função das tecnologias que otimizam a produtividade do capital

AK e tecnologias que otimizam a produtividade do trabalho AL. Além disso temos o total

de capital disponível K e mão de obra disponível L.

4.3.2.1 Mudança tecnológica que otimiza a produtividade do capital, AK

Novamente segundo Acemoglu (2018), dentro do universo de otimização de

fatores de produção, do ponto de vista do capital, supõe-se que a automação é a mudança

tecnológica que otimiza a produtividade do capital e se estuda a alteração nas variáveis à

medida que se altera a fronteira da automação que gera produtividade do capital Ak.

Conforme a fronteira de automação vai progredindo, tem-se um aumento na parcela de

produção gerada pelo capital, dado que a elasticidade de substituição também estimula

58

esse processo de forma crítica, já que a propensão das empresas à utilizar as novas

tecnologias influencia tanto quanto à existência das ditas tecnologias.

Equação 2: impacto da evolução da tecnologia na elasticidade substituição capital-trabalho.

Onde εKL é a elasticidade de substituição entre capital e trabalho e sK é a parcela

de capital na produção agregada. Vale ressaltar ainda que como todo e qualquer fator

que influencie o aumento da parcela de capital na produção, também gerará a

diminuição da parcela de mão de obra na produção agregada.

4.3.2.2 Mudança tecnológica que otimiza a produtividade do trabalho, AL

Em seguida, Acemoglu (2018) faz algumas definições. Define primeiro que o

salário no equilíbrio W como sendo a derivada da produção agregada Y em função da mão

de obra disponível L, supondo o mercado em equilíbrio, o salário em equilíbrio será igual

ao produto marginal do trabalho.

Equação 3: salário em equilíbrio.

Essa abordagem já esclarece algumas interações entre a evolução da tecnologia

que otimiza o trabalho e o custo da mão de obra (salário) no equilíbrio. Em seguida vale

ressaltar os principais fatores que influenciam nessa parcela de contribuição da mão de

obra na produção agregada.

Equação 4: parcela de trabalho na produção agregada.

Conforme visto acima, o salário no equilíbrio e a quantidade de mão de obra

disponível são de suma importância na influência da parcela de mão de obra na

produção agregada segundo Acemoglu (2018).

4.4 Método dos Cenários

O Método dos Cenários, proposto e desenvolvido por Godet (1994), possui os

seguintes objetivos:

59

1. Detectar as variáveis-chave, a partir da identificação das variáveis inseridas no

sistema estudado através de uma análise sistêmica;

2. Determinar os principais agentes que influenciam o sistema e suas estratégias,

assim como os meios que eles dispõem para alcançar seus objetivos;

3. Descrever o desenvolvimento do sistema em estudo, em forma de cenários,

levando em consideração as evoluções mais prováveis acerca das variáveis-chave

e fazendo suposições sobre o comportamento dos agentes.

De maneira geral, duas são as fases que compõem o método: construção de uma

base de dados acerca do sistema; estabelecimento dos cenários, a partir da base de dados

construída. Ao final, é possível conceber um futuro possível e explorar os caminhos que

levam até eles, além de recomendar ações para o tomador de decisão.

Um destaque do método é seu aspecto modular, o que o torna bastante flexível. É

possível utilizar as ferramentas que o compõem (explicadas mais adiante) de forma

independente, possibilitando a mescla com métodos diferentes. Além disso, ao final do

método, pode-se usar técnicas de previsão clássicas para a quantificação dos cenários. O

fluxograma completo do método, com essas ferramentas, encontra-se na Figura 30.

60

Figura 30: Fluxograma do Método dos Cenários. Fonte: Godet (1994).

Construção da base de dados

A construção da base de dados é realizada em três fases:

1. Delimitação do sistema estudado;

2. Identificação das variáveis-chave;

3. Estudo do retrospecto do ambiente e das estratégias dos agentes.

Fenômeno sob estudo (Variáveis internas)

Ambiente geral (Variáveis externas)

Limitação do sistema e busca por variáveis-chvave

Variáveis influentes Variáveis dependetes

RETROSPECTIVA Mecanismo, Tendências e

agentes

SITUAÇÃO PRESENTE Sementes de mudança

Projeto dos agentes

TABELA Estratégia dos agentes

Suposições prováveis baseadas nas

variáveis-chave no futuro

CENÁRIOS Caminhos Imagens Previsões

Estratégias alternativas

Plano de ação

Análise estrutural Método

MICMAC

Análise do papel dos agentes

Método MACTOR

Método especialista: Questionári

o SMIC

Análise morfológica

Método de multicritérios

Multipol

61

Ao delimitar o sistema, constrói-se uma lista das variáveis – quantificáveis ou não

– que caracterizam o sistema, sendo elas divididas em dois grupos:

• Variáveis internas → caracterizam o fenômeno estudado;

• Variáveis externas → caracterizam o ambiente no qual o fenômeno está inserido,

considerando, por exemplo, o contexto político, econômico, tecnológico, entre

outros.

Um cuidado que deve se ter ao construir a base é se certificar de que mesmo as

variáveis que não influenciam o sistema hoje, mas que podem influenciar o sistema em

um momento posterior estão sendo consideradas. Como será demonstrado mais adiante,

as variáveis que compõem os sistemas interagem tanto de forma direta, quanto de forma

indireta.

A técnica utilizada nessa fase é a análise estrutural, que permite a demonstração

de uma hierarquia de variáveis, com base no seu grau de interação no sistema (tanto como

influenciadora em outras variáveis, quanto como influenciada por outras variáveis).

Dessa forma, é feita uma análise exploratória, que consiste em uma análise retrospectiva

e atual da situação dos agentes, com o objetivo de identificar os mecanismos que tiveram

influência na evolução do sistema, assim como fatores invariantes e tendências

importantes. Além disso, a análise do quadro atual permite identificar “sementes de

mudança” envolvendo as variáveis-chave, além das estratégias dos agentes que estão por

trás desses movimentos.

Ao final deste estágio, são determinadas as estratégias dos agentes para, então, ser

feita uma confrontação da intenção desses agentes e do desenvolvimento resultante do

poder entre eles. Neste ponto, faz-se, por fim, uma tabela com a síntese dos

desenvolvimentos passados e da situação atual.

Construção dos cenários

Após ter definido as variáveis-chave e relacionado as estratégias dos agentes, é

hora de elaborar as hipóteses acerca do futuro. Para isso, é realizada uma análise

morfológica, a partir da qual é definido um espaço morfológico, ou seja, todos os futuros

possíveis. Por fim, são sugeridos métodos baseados na consulta de especialistas via

questionário, como, por exemplo, o Método Delphi, de modo a criar um ranking das

hipóteses em termos de probabilidade e, consequentemente, uma hierarquia dos futuros.

Observa-se, entretanto, como explicado anteriormente, que este estudo não

contempla essa parte do método (questionário aos especialistas), sendo substituída por

62

uma pesquisa sobre o que vem sendo publicado e falado por consultorias e especialistas.

Essa alteração respeita a modularidade do método, não trazendo piores consequências

para o resultado: apesar de não ser feito um questionário, o ranking das hipóteses continua

baseado em especialistas.

O método é completado com uma descrição detalhada da imagem final e, se

necessário, as imagens intermediárias que levam até ela. Contudo, é importante frisar que

nenhum método prospectivo pode nos dar certeza sobre o futuro, pois este é sempre

incerto. O Método dos Cenários, entretanto, ao conjecturar, é de grande valia para pensar

sistematicamente acerca do futuro.

4.4.1 Identificação das variáveis-chave: análise estrutural

O objetivo principal da análise estrutural é analisar a relação entre as variáveis

que caracterizam o sistema em estudo. Assim, o sistema é representado através da criação

de uma matriz que interconecta todas as componentes do sistema, permitindo,

posteriormente, reduzir a complexidade do sistema, identificando suas variáveis-chave.

Essa análise é realizada em três etapas:

1. Listagem das variáveis;

2. Relacionamento das variáveis e construção da Matriz de Análise Estrutural;

3. Identificação das variáveis-chave através do Método MICMAC.

4.4.1.1 Listagem das variáveis

Para a listagem das variáveis, nenhum tipo de pesquisa é tirado de cogitação; o

importante é que nenhuma variável fique de fora da análise. Deve-se assim obter uma

lista exaustiva para, em seguida, obter um refinamento da mesma e, ao final, separar as

variáveis em internas que caracterizam o subsistema em estudo e são sensíveis ao

ambiente – e em externas – que caracterizam o ambiente e são as mais influentes.

4.4.1.2 Relacionamento das variáveis: construção da Matriz de Análise Estrutural

A Análise Estrutural procura inter-relacionar diversas variáveis em uma matriz

quadrada, denominada Matriz de Análise Estrutural, como pode ser visto na Figura 31.

Nela, lista-se as variáveis determinadas anteriormente tanto nos rótulos de linhas (i),

quanto nos rótulos de colunas (j). Feito isto, sempre que tivermos uma relação onde i tem

influência sobre j, escreve-se o dígito 1 no cruzamento da linha i com a coluna j. Em

outras palavras, i representa as variáveis como influenciadora, e j, como dependentes.

63

Figura 31: Análise Estrutural. Fonte: adaptado de Godet (1994).

Antes de determinar uma relação específica, é importante atentar-se para não se

cometer erros comuns como inversão de causa e efeito ou relações não diretas. Além

disso, deve-se considerar não somente variáveis que possuem relações hoje, mas também

as variáveis que possam vir a ter relações no futuro, ou seja, relações potenciais. Um

aspecto importante a se considerar é o grau de preenchimento da matriz. O autor do

método informa que, por experiência, uma matriz elaborada deve estar entre 15 e 25%

preenchida. Mais do que isso, ela está excessivamente preenchida, com ligações

secundárias sendo consideradas diretas. Na média, o grau de preenchimento deve estar

próximo ao da Figura 32.

Figura 32: grau de preenchimento da Matriz de Análise Estrutura. Fonte: adaptado de Godet (1994).

4.4.1.3 Identificação das variáveis-chave através do Método MICMAC

Após ter construído a Matriz de Análise Estrutural, é o momento de reduzir a

complexidade do sistema através do Método MICMAC (Cross-Impact Matriz –

64

Multiplication Applied to Classification). Este método procura apontar as variáveis

independentes e as dependentes (variáveis-chave), ao classificar as mesmas em diretas e

indiretas.

Examinar diretamente a matriz construída anteriormente é possível detectar quais

variáveis possuem impacto direto em outras, entretanto, isso não é suficiente para revelar

variáveis ocultas que podem ter grande impacto no problema estudado. Além das ligações

diretas entre variáveis, há também ligações indiretas, dispostas em cadeias de influências

e ciclos de feedback.

Como uma matriz pode conter milhões de interações em forma de cadeias e ciclos,

torna-se humanamente impossível interpretar a rede de relações. Dessa forma, o método

MICMAC, por meio de um sistema de multiplicação de matrizes aplicada à Matriz de

Análise Estrutural, é usado para estudar a difusão de impactos através de caminhos e

ciclos de feedback. Ao final do método, é possível estabelecer uma hierarquia para as

variáveis:

• Em ordem de suas influências, considerando o número de cadeias e ciclos de

tamanho 1, 2, ... n ... partindo de cada variável;

• Em ordem de suas dependências, considerando o número de cadeias e ciclos de

tamanho 1, 2, ... n ... chegando a cada variável.

4.4.1.3.1 O princípio de MICMAC: elevando o poder da matriz

O Princípio de MICMAC é baseado nas propriedades das matrizes booleanas.

Tomando o esquema da Figura 33, onde temos os subsistemas S1 e S2, e as variáveis a, b

e c, sabemos que S1 e S2 não são independentes, pois estão conectados através de a, b e

c. No que diz respeito aos efeitos diretos, temos:

• a é fortemente dependente de S1;

• c rege S2.

Ao analisar os efeitos diretos, tendemos a negligenciar b, porém esta variável

pode representar um elemento essencial da estrutura do sistema, pois é um ponto de

relação transversal entre os subsistemas S1 e S2.

65

Figura 33: exemplo de sistema. Fonte: Godet (1994).

Se a variável i influencia diretamente a variável k e se k influencia diretamente a

variável j, temos o que está representado na Figura 34 (a). Neste caso, qualquer mudança

em i pode ter repercussões na variável j, ou seja, há uma ligação indireta entre i e j,

representada na Figura 34 (b). Muitas ligações indiretas deste tipo, existentes na Matriz

de Análise Estrutural, não devem ser consideradas na classificação de ligações diretas.

Entretanto, ao elevar a matriz ao quadrado, esses tipos de ligações são revelados.

Figura 34: exemplo de ligação indireta. Fonte: adaptado de Godet (1994).

De forma algébrica, temos:

Equação 5: o princípio de MICMAC de forma algébrica.

Quando 𝑎𝑖𝑗2 não é igual a 0, há pelo menos um k onde 𝑎𝑖𝑘

1 × 𝑎𝑘𝑗1 = 1, i.e. há ao

menos uma variável intermediária k onde a variável i impacta k (𝑎𝑖𝑘1 = 1) e a variável k

impacta j (𝑎𝑘𝑗1 = 1). Portanto, podemos dizer que há um caminho de segunda ordem que

vai de i a j; se 𝑎𝑖𝑗2 = 𝑁, há N caminhos de segunda ordem indo de i a j, através de N

variáveis intermediárias.

66

De maneira similar, calculando A3, A4, ..., An, o número de caminhos de 3ª, 4ª e nª

ordem interconectando as variáveis podem ser encontradas. Cada vez que o processo é

repetido, uma nova hierarquia de variáveis, com classificação baseada no número de

ações indiretas (influências) que elas têm em outras variáveis, pode ser deduzida. Quando

elevada a uma certa potência, essa hierarquia se estabiliza, sendo o resultado final

denominado classificação MICMAC.

A soma dos elementos 𝑎𝑖𝑗𝑛 de uma linha i (𝑎𝑖𝑗

𝑛 sendo um elemento da matriz

elevada a n) representa o total de caminhos de tamanho n saindo da variável. Visto de

outra forma, pode-se dizer que a variável i influencia diversas outras variáveis do sistema.

Como consequência, a classificação MICMAC ordena as variáveis de acordo com a

influência que elas possuem (ou que elas sofrem) sobre o sistema levando em

consideração a rede de interligações descrita pela Matriz de Análise Estrutural.

Para tornar o processo mais claro, consideremos o sistema S, contido na Figura

35.

Figura 35: exemplo de sistema de três variáveis. Fonte: adaptado de Godet (1994).

S pode, então, ser representado pela Matriz de Análise Estrutural M contida na

Figura 36.

Figura 36: Matriz de Análise Estrutural do sistema S. Fonte: adaptado de Godet (1994).

67

Em M, os elementos da diagonal são iguais a zero, o que significa que a influência

de uma variável em si mesma não é levada em consideração, enquanto em ligações

indiretas, este tipo de influência é considerado, como é possível ver na Figura 37.

Figura 37: Matriz M elevada ao quadrado. Fonte: Godet (1994).

O dígito 1 no cruzamento da primeira linha com a primeira coluna significa que

há um caminho de tamanho 2 indo de A a A, como é comprovado na Figura 38.

Figura 38: influência de A em si própria através de forma indireta. Fonte: Godet (1994).

O dígito 1 no cruzamento da segunda linha com a primeira coluna significa que

há um caminho de tamanho 2 indo de B a A, como é comprovado na Figura 39.

Figura 39: influência indireta de B em A. Fonte: Godet (1994).

De maneira análoga, temos que os elementos de uma matriz elevada a 3 mostra

os caminhos e ciclos de tamanho 3 que vão de uma variável a outra Veja a Figura 40.

Figura 40: matriz M elevada ao cubo. Fonte: Godet (1994).

68

Após elevar a matriz a uma certa potência, como já comentado anteriormente, as

classificações das linhas (ranking das variáveis por influência) e colunas (ranking das

variáveis por dependência) se estabilizam, enfatizando a importância de certas variáveis

possuem devido a seus efeitos indiretos. Na Figura 41, notamos que as classificações das

linhas e colunas se estabilizam na potência de 4.

Figura 41: estabilização da classificação da linhas e colunas na potência de 4. Fonte: Godet (1994).

4.4.1.4 Comparação entre classificações diretas, indiretas e potenciais

Como foi possível ver anteriormente, além de um simples exame da matriz que

permite discernir as variáveis com maior número de conexões diretas com o sistema, é

muito importante identificar também as variáveis ocultas que, levando em consideração

o número de relações indiretas e ciclos de feedback, também se apresentam como muito

importantes. As variáveis são, portanto, classificadas como diretas ou indiretas, sendo

estas duas classificações associadas a horizontes de tempo:

• Classificação direta: resulta de relações com impacto do curto ao médio prazo. O

horizonte de tempo corresponde a menos de uma década.

• Classificações indireta: resulta de relações com impacto do médio ao longo prazo.

O horizonte de tempo de 10 a 15 anos.

Comparando ambas as classificações (direta e MICMAC), pode-se confirmar a

importância de certas variáveis, além de revelar outras que antes pareciam pouco

importantes, mas que, depois, passaram a ter grande relevância por causa das ligações

indiretas. Desconsiderar essas variáveis durante a análise exploratório pode distorcer os

cenários encontrados.

4.4.1.4.1 Gráfico influência-dependência

Após determinado o nível de influência e dependência (soma dos elementos de

cada linha e soma dos elementos de cada coluna, respectivamente) das variáveis, deve-se

posicionar as variáveis no Gráfico Influência-Dependência, representado na Figura 42.

69

Figura 42: Gráfico Influência-Dependência. Fonte: adaptado de Godet (1994).

O gráfico da ser dividido em cinco áreas:

Área 1: Variáveis determinantes: altamente influentes e pouco dependentes;

condicionam o resto de sistema.

Área 2: Variáveis retransmissoras: altamente influentes e altamente dependentes;

são instáveis por natureza; qualquer ação nessas variáveis impacta outras

variáveis, havendo um retorno do efeito (feedback), amplificando ou estabilizando

o impulso inicial.

Área 3: Variáveis resultantes: pouco influentes e altamente dependentes; são

influenciadas pelas variáveis determinantes (área 1) e retransmissoras (área 2).

Área 4: Variáveis rejeitadas: pouco influentes e pouco dependentes; constituem

tendências ou fatores que são relativamente desconectados do sistema, possuindo

poucas conexões com ele; por causa desse desenvolvimento relativamente

autônomo, elas pouco interferem no sistema, podendo ser excluídas da análise

sem afetar o resultado do estudo.

Área 5: Variáveis moderadamente influentes e/ou dependentes: a priori, nada

pode-se dizer a cerca dessas variáveis localizadas no agrupamento intermediário.

A disposição dos pontos ao longo do gráfico nos permite trazer conclusões sobre

a estabilidade do sistema. Em um sistema instável, percebe-se um agrupamento de pontos

ao longo da diagonal principal, sendo cada variável tanto influente quanto dependente:

cada ação nessas variáveis impacta outras variáveis do sistema, que retornam o efeito para

as variáveis originais. Em um sistema estável, por outro lado, há uma dicotomia entre

70

variáveis influentes, que permite a ação dos agentes sobre o sistema, e as variáveis

resultantes, que dependem das variáveis influentes. A representação de ambos os gráficos

se encontra na Figura 43.

Figura 43: estabilidade dos sistemas. Fonte: adaptado de Godet (1994).

Portanto, as variáveis retransmissoras, localizadas no canto superior direito do

gráfico, a priori, são as variáveis-chave do sistema — aquelas contra as quais os agentes

deverão lutar, devido ao seu teor instável.

Não há um uma interpretação oficial dos resultados do MICMAC. Contudo,

aconselha-se formar perguntas corretas acerca das variáveis e propor explicações

baseadas nas relações presentes no sistema. Estas explicações são de grande importância

para o próximo passo do Método dos Cenários, que constitui essencialmente em localizar

quais agentes estão envolvidos em cada variável e, portanto, quais agentes deverão ter

seus papéis cuidadosamente estudados, tanto no passado, quanto no presente e no futuro.

4.4.2 Entendendo a Estratégia dos Agentes: o Método MACTOR

Ao responder as questões sobre as variáveis-chave, todas as fontes de informação

estatísticas devem ser aproveitadas de modo a identificar as principais tendências,

analisar as descontinuidades do passado, as condições sob quais elas aconteceram e o

papel dos principais agentes nessa evolução. Uma pesquisa bem elaborada é necessária

para identificar os principais eventos que apontaram o caminho para o futuro, e obter um

melhor entendimento sobre a interação entre os eventos, além de melhor compreensão da

relação entre agentes.

Os agentes são elementos de um sistema que possuem vários graus de liberdade,

as quais eles estão aptos a exercer, através de ações estratégicas, para alcançar os

objetivos. Como consequência, analisar o movimento dos agentes, confrontando seus

planos e examinando o equilíbrio de suas forças é essencial para esclarecer essas questões

estratégicas,

71

O método MACTOR (Matrix of Alliances and Conflicts: Tactics, Objectives and

Recommendations) tem como objetivo aproveitar de melhor maneira as informações

contidas na tabela de estratégia dos agentes. A análise dos movimentos dos agentes,

proposta pelo método, é composta por 6 etapas:

1. Anotar cada plano, movimentações, restrições e meios de ação (construir a tabela

das estratégias dos agentes).

2. Identificar as questões estratégicas e objetivos associados a cada disputa, ou

“campo de batalha”.

3. Posicionar cada agente em cada disputa e observar as convergências e

divergências.

4. Classificar os objetivos de cada agente e avaliar as possíveis táticas (interações de

possíveis convergências e divergências) em termos de seus objetivos prioritários.

5. Avaliar as relações de poder e formular recomendações estratégicas para cada

agente, considerando seus objetivos prioritários e a disponibilidade de seus

recursos.

6. Levantar perguntas estratégicas sobre o futuro — i.e. formular hipóteses

considerando as tendências, eventos e descontinuidades que irão caracterizar a

evolução do equilíbrio entre as forças de cada agente. É através dessas perguntas

estratégicas, e hipóteses sobre suas respostas, que os cenários são construídos.

O valor agregado pelo MACTOR deriva principalmente das etapas 3 (posicionar

agentes em relação a seus objetivos), 4 (táticas para possíveis alianças e conflitos) e 5

(recomendações estratégicas). O fluxograma do método pode ser visto na Figura 44.

72

Figura 44: o método MACTOR. Fonte: Godet (1994).

4.4.2.1 Construindo a tabela de estratégia dos agentes

Nesta etapa, é importante decidir sobre o nível de especificação de cada agente.

Tomando as empresas como exemplo, deve-se decidir tratá-las como um único agente,

ou separar elas em empresas pequenas, médias e grandes. Não se pode, entretanto, correr

o risco de tornar o sistema extremamente complexo a ponto de dificultar qualquer tipo de

análise. O autor do método recomenda um nível de especificação que gere no máximo 20

agentes.

A tabela de estratégias dos agentes é construída em uma matriz quadrada (agentes

X agentes), como mostrado na Figura 45, onde A1, A2, A3, ..., A.N são os agentes. As

células da diagonal principal são normalmente as mais cheias, pois nelas traçamos a

Variáveis-chave da

análise estrutural e

agentes envolvidos

Tabela de estratégia

dos agentes

Conflitos estratégicos

e objetivos associados

Objetivos dos atores/

Matriz de posição

1 MAO

Primeira matriz de

convergência e

divergência

1MAA: MAO x MOA

Matriz valorada de

posições em termos de

objetivos 2MAO

Matriz de

relacionamento de

poder direto e indireto

Coeficiente de poder (ri)

Segunda matriz de

convergência e

divergência 2MAA

Matriz valorada de posição

com coeficientes de poder

Terceira matriz de

convergência e

divergência 3MAA

Recomendação

estratégica para cada

agente

73

identidade de cada agente. Por outro lado, as diversas das outras células — que

representam ações de agentes em outros agentes — são quase ou completamente vazias.

Figura 45: tabela das estratégias dos agentes. Fonte: elaboração própria.

4.4.2.2 Identificando as questões estratégicas e objetivos associados

Ao discutir e elaborar a tabela de estratégia dos agentes, as questões estratégicas

— i.e. as disputas nas quais os agentes se confrontarão — são esclarecidas mais

facilmente. Nesta etapa, determina-se algumas questões estratégicas sobre o sistema em

estudo, observando em quais delas os agentes são convergentes e quais eles são

divergentes considerando seus objetivos. Cada uma dessas questões estratégicas

(disputas) é, então, apresentada em forma de um ou mais objetivos (veja a Figura 46)

sobre os quais os agentes convergem, divergem ou se apresentam como neutros.

Ações em

Ações de

A2 A3 ... A.N

A1

A2

A3

...

A.N

A1

74

Figura 46: definição das questões estratégicas e dos objetivos associados. Fonte: elaboração própria.

Observa-se que, diferentemente das disputas, os objetivos geralmente são

definidos através de sentenças que começam com um verbo no infinitivo.

4.4.2.3 Posicionando cada agente em relação aos objetivos estratégicos (Matriz de

Posições Assumidas)

As relações entre os agentes em cada disputa podem ser representadas em forma

de um diagrama de possíveis convergências e divergências, como pode ser visto no

exemplo da Figura 47. Para cada agente, o problema é identificar e avaliar suas opções

estratégicas, além de uma seleção coerente de objetivos e alianças. Devido à dificuldade

de se comparar visualmente todos os diagramas, todos os diagramas são resumidos em

uma única matriz, denominada MAO (Matrix of Actors and Objectives), representa na

Figura 48.

Questões (Disputas) Objetivos associados

E1 O1.1, O1.2, O1.3 ...

E2 O2.1, O2.2, O2.3 ...

E3 O3.1, O3.2, O3.3 ...

E.N O.N.1, O.N.2, ON.3 ...

75

Figura 47: exemplo de diagrama de possíveis convergências e divergências entre agentes. Fonte:

elaboração própria.

Figura 48: MAO - Matriz de Posições Assumidas (agentes X objetivos). Fonte: adaptado de Godet

(1994).

A MAO deve ser preenchida da seguinte forma:

• (+1) Agente i a favor do objetivo j.

• (-1) Agente i contrário ao objetivo j.

76

• (0) Agente i neutro em relação ao objetivo j.

Assim, a quinta coluna representa o diagrama da Figura 47, associado ao objetivo

O5.

4.4.2.4 Classificando os objetivos de cada agente (Matriz de Posições Valoradas) e

avaliando a gama de possíveis convergências e divergências

Para cada agente, é interessante anotar o número de objetivos nos quais eles são

convergentes ou divergentes. Novamente, devido a dificuldade de se realizar essa tarefa

para matrizes extensas, multiplicamos a MAO (actors x objectives) por sua transposta,

MOA (objectives x actors), para obter uma nova matriz, denominada MAA (actors x

actors).

Para distinguir quais das questões estratégicas correspondem a convergência (+1)

ou divergência (-1) entre os agentes, deve-se proceder com o cálculo MAO X MOA,

aplicando a seguinte convenção:

• ncij é obtido pelo produto da matriz que contém apenas produtos escalares

positivos. Representa o número de objetivos nos quais os agentes i e j possuem

atitude em comum, favorável ou desfavorável a certos objetivos. Em outras

palavras, representa o número de convergências.

• ndij é obtido pelo produto da matriz que contém apenas produtos escalares

negativos. Representa o número de objetivos nos quais os agentes i e j possuem

atitude divergente. Em outras palavras, representa o número de divergências.

A matriz MAA, representada na Figura 49, é, portanto, constituída de pares

(ncij,ndij). Por exemplo, MAA23 = (+2, -2) significa que os agentes A2 e A3 possuem a

mesma posição em dois objetivos (O1 e O5), e são contrários em outros dois objetivos

(O3 e O4).

77

Figura 49: MAA - Matriz de convergências e divergências (agentes x agentes). Fonte: adaptado de Godet

(1994).

Diagramas de Convergência e Divergências iniciais

Ao indicar, para cada par de agentes, o número de convergências (ncij) e o número

de divergências (ndij), a matriz MAA nos permite obter dois diagramas completos: uma

para a representação das convergências e outro para as divergências; a espessura das

linhas é proporcional ao número de objetivos em questão. Veja as Figura 50 e Figura 51.

Figura 50: diagrama de convergência sobre objetivos. Fonte: adaptado de Godet (1994).

78

Figura 51: diagrama de divergências. Fonte: adaptado de Godet (1994).

Diagramas de convergências e divergências aprimorados

Os primeiros diagramas obtidos são considerados elementares, pois só levam em

consideração o número de convergências e divergências em cada objetivo. Para tornar o

modelo mais próximo da realidade, é aconselhável introduzir mais duas dimensões:

• A prioridade de objetivos, que varia para cada agente;

• A relação de força entre agentes.

Para levar em consideração a prioridade de objetivos de cada agente, é suficiente

anotar o posicionamento de cada agente em relações a seus objetivos em uma escala de -

3 a +3, levando em consideração se o nível de oposição ou concordância é alto, médio ou

baixo. Quanto maior é a preocupação do agente com o objetivo, maior o valor registrado.

Assim, obtêm-se uma segunda matriz de posições valoradas do tipo MAO

(agentes x objetivos), que é denominada de 2MAO (Figura 52); multiplicando-a por sua

transposta, obtêm-se uma do tipo MAA (agentes x agentes), chamada de 2MAA (Figura

53).

79

Figura 52: 2MAO. Fonte: adaptado de Godet (1994).

Figura 53: 2MAA. Fonte: adaptado de Godet (1994).

80

A matriz 2MAA é formada por todos os pares de convergências (2cij) e

divergências (2dij) valoradas. Cada elemento é obtido a partir da média de intensidade

(em valores absolutos) de, respectivamente, convergências e divergências em objetivos.

Seguindo o exemplo utilizado até então, temos que:

2𝑐23 =|−2| + | − 1|

2+

|−3| + | − 2|

2= 4

e

2𝑑23 = |+3| + | − 3|

2+

|−1| + | + 3|

2= 5

Por definição, convergência levam sinal positivo, enquanto divergências, sinal

negativo. Com a 2MAA, pode-se ver a intensificação de certas intrigas ou o

fortalecimento de alianças.

A interação de possibilidades de convergências e divergências não depende

somente da prioridade de objetivos de cada agente, mas também da capacidade de cada

agente de se impor aos outros, ou seja, as relações de poder.

4.4.2.5 Avaliando o equilíbrio entre forças e formulando recomendações

estratégicas (matriz de posições valoradas com coeficientes de poder)

Sendo apenas divergente com um agente não é suficiente para opor-se a ele —

também se necessita de meios diretos e indiretos para se opor. Uma seleção tática de

convergências e divergências é necessariamente dependente desses meios. Às vezes, até

mesmo a existência de um equilíbrio entre forças positivo pode desencadear um conflito.

É útil, portanto, guiar escolhas táticas analisando relações de poder através de duas

matrizes: MDA (Matrix of means of Direct Action), representada na Figura 54, e MIA

(Matrix of means of Indirect Aciont), representada na figura. A primeira matriz, MDA, é

simplesmente uma tabela agentes X agentes na qual a influência potencial de cada agente

sobre outro é registrada em uma escala de 0 a 3 (nula, fraca, moderada, forte). Lendo a

soma de cada linha e cada coluna é possível saber, respectivamente, os agentes que são

mais influenciadores e os agentes que são mais sujeitos à pressão de outros.

81

Figura 54: MDA. Fonte: adaptado de Godet (1994).

Porém, ao tratar as relações de poder, não podemos restringir nossa análise apenas

para os meios de ação direta: um agente pode influenciar outro através do intermédio de

um terceiro agente. É importante, portanto, encontrar a matriz MIA —means of indirect

(second order) actions — obtido pela multiplicação da matriz MDA por ela mesma (MIA

= MDAxMDA), de acordo com o princípio de MICMAC. A matriz MIA, representada

na Figura 55, revela relações de poder que não são encontradas de forma intuitiva.

82

Figura 55: MIA. Fonte: adaptado de Godet (1994).

Sabendo que um agente que possui o dobro de influência que outro no equilíbrio

de forças é o mesmo que dizer que esse agente possui o dobro de poder sobre os objetivos,

podemos chegar na matriz 3MAO. É necessário, portanto, determinar os coeficientes ri,

responsáveis por caracterizar as relações de influência:

Equação 6: coeficiente ri (coeficiente de poder).

Para facilitar a interpretação e o cálculo dos coeficientes, transforma-se ri em r*i:

Equação 7: normalização do coeficiente de poder.

onde n é o número de agentes.

A partir do exemplo dado, temos:

𝑟1∗ = 1.23, 𝑟2

∗ = 0.88, 𝑟3∗ = 0.36, 𝑟4

∗ = 1.49, 𝑟5∗ = 0.83, 𝑟6

∗ = 1.21

A soma de todos os coeficientes deve ser igual a 6. Logo, se todos os agentes

tivessem a mesma relação de poder, todos os r*i seriam iguais a 1.

83

Esses coeficientes funcionam como peso para as relações de influência, e, ao

multiplicar cada linha da 2MAO por eles, encontra-se a 3MAO (Figura 56). A 3MAO,

por sua vez, ao ser multiplicada por sua transposta, resulta na 3MAA (Figura 57).

Figura 56: 3MAO. Fonte: Godet (1994).

Figura 57: 3MAA. Fonte: Godet (1994).

84

Por fim, chegamos ao terceiro diagrama completo de convergências (Figura 58) e

divergência (Figura 59) sobre objetivos. Comparando este diagrama com o diagrama

inicial, nota-se diferenças significativas entre a estratégia dos agentes quando a

priorização de objetivos e o equilíbrio de forças é levado em consideração.

Figura 58: terceiro diagrama completo de convergências sobre objetivos. Fonte: adaptado de Godet

(1994).

85

Figura 59: terceiro diagrama completo de divergências sobre objetivos. Fonte: adaptado de Godet (1994).

4.4.2.6 Questões-chave sobre o futuro

A evolução de relações de poder entre os agentes pode ser representada na forma

de hipóteses, cada qual podem ou não ser realizada no horizonte de tempo considerado.

Essas hipóteses são relacionadas a tendências, assim como a eventos ou descontinuidades.

O passo seguinte do Método dos Cenários consiste em reduzir a incerteza sobre essas

hipóteses.

4.4.3 Examinando possíveis futuros: análise morfológica

Nesta etapa, o sistema sob estudo é quebrado em seus diversos componentes.

Estas devem ser o mais independente possível, além de representar a totalidade do

sistema.

4.4.3.1 O campo de possíveis futuros: o espaço morfológico

Para cada componente, é considerada, então, diversas configurações. Um sistema

com quatro componentes, cada uma contendo quatro configurações, representa 4x4x4x4

= 256 combinações possíveis. Este campo de possibilidades é chamado de espaço

morfológico.

86

Um sistema com muitas componentes e configurações leva a um espaço

morfológico muito grande, tornando a análise difícil. Entretanto, há restrições (como, por

exemplo, incompatibilidades técnicas) que podem tornar diversas soluções inviáveis,

reduzindo, assim, o espaço morfológico. Além disso, é possível também dar preferência

às combinações de configurações que parecem mais propícias que outras, em termos de

desenvolvimento de custos, viabilidade etc.

Em essência, um cenário não é nada mais que a combinação das configurações de

cada componente. O espaço morfológico, por sua vez, define o conjunto de cenários

possíveis. Abaixo, é proposta uma abordagem metodológica para contornar a dificuldade

gerada por um espaço morfológico extenso.

4.4.3.2 O espaço morfológico útil

Reduzir o espaço morfológico é necessário, pois é humanamente impossível

analisar, uma por uma, todas as soluções geradas pelas combinações. Além disso, não há

necessidade de identificar soluções que serão rejeitadas de acordo com alguns critérios

(técnico, econômico etc.) levados em consideração. Portanto, é necessário identificar os

componentes principais e secundários correspondentes a cada um desses critérios. Para

isso, os seguintes passos são recomendados:

• Escolher os critérios econômicos, técnicos e estratégicos que podem ser usados

para analisar e selecionar as melhores soluções dentre o total de soluções possíveis

(espaço morfológico).

• Identificar as componentes que são consideradas cruciais levando em

consideração os critérios adotados, e classificar essas componentes de acordo com

seus pesos, de acordo com as diretrizes adotadas.

• Restringir a exploração do espaço morfológico para as componentes identificadas.

• Introduzir restrições de exclusão ou preferências.

Esse procedimento permite dar prioridade à análise dos principais componentes

do sistema, reduzindo o espaço morfológico a um subespaço que considera apenas as

soluções mais relevantes. A etapa seguinte do Método dos Cenários consiste em calcular

a probabilidade de cada solução através de métodos baseados no consenso de

especialistas, como, por exemplo, o Método Delphi.

87

5 Aplicação do método

Partindo da integração de toda metodologia explicitada anteriormente, com os

panoramas que servirão de insumo para aplicação do método, dá-se início a parte prática

do estudo.

5.1 Identificação das variáveis-chave

Neste ponto, começa-se, a aplicação do método, onde são determinadas as

variáveis-chave do sistema (item 3 do fluxograma):

Figura 60: passo 1 do método (determinação das variáveis-chave). Fonte: elaboração própria.

88

5.1.1 Lista de variáveis

As variáveis que utilizaremos na matriz de análise estrutural são as listadas na

Tabela 4, já classificadas em internas e externas. Além disso, observa-se que uma parte

delas foram retiradas da modelagem tecnológica (capítulo 4.3) e a outra da modelagem

macroeconômica (capítulo 4.2).

Tabela 4: lista de variáveis. Fonte: elaboração própria.

Foi utilizado como critério para separar as variáveis em internas e externas, a

percepção do capital como agente, ou seja, todas variáveis que são características do

Nome da Variável Símbolo Fonte

Tecnologia que otimiza Capital - Máquinas Ak

Capital K

Parcela de capital na produção agregada sK

Elasticidade de substituição Capital - Trabalho εKL

Produtividade do capital η

Custo do capital R

Produção Agregada Y

Produto Marginal do Trabaho - Nível de Salário - Custo da mão de obra W

Tecnologia que otimiza Trabalho - Mão de obra Al

Mão de obra L

Parcela de mão de obra na produção agregada sL

Fronteira de automação I

Total de tarefas N

Produtividade do trabalho ɣ

Taxa de Juros r

Investimentos I'

Taxa de Câmbio e

Inflação

Consumo C'

Taxa de Câmbio Nominal e n

Taxa de Juros Nominal i

I

n

t

e

r

n

a

s

E

x

t

e

r

n

a

s

Cap. 4.3 -

Modelagem

Tecnológica

Cap. 4.2 -

Modelagem

Macroeconômica

Nome da Variável Símbolo Fonte

Tecnologia que otimiza Capital - Máquinas Ak

Capital K

Parcela de capital na produção agregada sK

Elasticidade de substituição Capital - Trabalho εKL

Produtividade do capital η

Custo do capital R

Produção Agregada Y

Produto Marginal do Trabaho - Nível de Salário - Custo da mão de obra W

Tecnologia que otimiza Trabalho - Mão de obra Al

Mão de obra L

Parcela de mão de obra na produção agregada sL

Fronteira de automação I

Total de tarefas N

Produtividade do trabalho ɣ

Taxa de Juros r

Investimentos I'

Taxa de Câmbio e

Inflação

Consumo C'

Taxa de Câmbio Nominal e n

Taxa de Juros Nominal i

I

n

t

e

r

n

a

s

E

x

t

e

r

n

a

s

Cap. 4.3 -

Modelagem

Tecnológica

Cap. 4.2 -

Modelagem

Macroeconômica

89

capital propriamente dito, como produtividade do capital, parcela do capital na produção

agregada, elasticidade de substituição do capital e trabalho, dentre outros, são

considerados variáveis internas. Já todos agentes além do capital, como força de trabalho,

produção agregada, total de tarefas, esses são considerados variáveis externas.

5.1.2 Matriz de análise estrutural

A matriz de análise estrutural, feita através das variáveis listadas na sessão

anterior, encontra-se representada no Apêndice C. Observa-se que parte delas é explicada

a partir da modelagem tecnológica e macroeconômica (partes sombreadas na matriz). As

relações da parte não sombreada, ou seja, a parte onde o modelo tecnológico é integrado

ao modelo macroeconômico, são explicadas na Tabela 5.

Tabela 5: Explicação das relações que conectam o modelo tecnológico ao modelo macroeconômico.

Fonte: elaboração própria.

Destaca-se aqui que o grau de preenchimento está próximo ao sugerido por Godet

(1994), como pode ser visto na Tabela 6. Ter um grau de preenchimento próximo ao

recomendado é um sinal de que o modelo é consistente, uma vez que diversos

experimentos realizados pelo autor do método com esse nível de preenchimento se

mostraram eficazes (GODET, 1994).

Relação Explicação Fonte

(xiii)

Definição econômica de investimento: total de máquinas,

equipamentos e instalações produtivas numa economia, num dado

período.

Ferreira (2004)

(xiv)

Definição econômica de investimento: total de máquinas,

equipamentos e instalações produtivas numa economia, num dado

período.

Ferreira (2004)

(xv)

Definição econômica de investimento: total de máquinas,

equipamentos e instalações produtivas numa economia, num dado

período.

Ferreira (2004)

(xvi) Hipótese: parte da tecnologia de automação é importada. Hipótese

(xvii)Definição econômica de inflação (de custos): o que se origina de uma

elevação autônoma dos custos de produção.Ferreira (2004)

(xviii) Dissídio coletivo FIEP (2008)

(xix)

Definição econômica de investimento: total de máquinas,

equipamentos e instalações produtivas numa economia, num dado

período.

Ferreira (2004)

(xx) Quanto maior é a renda do trabalhador, maior é seu consumo Mankiw (2018)

(xxi) Mais pessoas empregadas significa mais pessoas consumindo Mankiw (2018)

(xxii)Uma elasticidade mais alta significa que o empresário está mais

disposto a trocar um trabalhador por uma máquinaAcemoglu (2018)

90

Tabela 6: grau de preenchimento da matriz. Fonte: elaboração própria.

5.1.3 Método MICMAC

A partir da matriz de análise estrutural, encontramos a matriz M1 (Apêndice D),

onde toda relação tem seu símbolo substituído por 1, enquanto o resto recebe zero. Em

seguida, elevamos a matriz M1 ao quadrado para obter a matriz M2 (Apêndice E), e assim

por diante, obtendo M3 (Apêndice F), M4 (Apêndice G), M5 (Apêndice H), M6

(Apêndice I), M7 (Apêndice J) e M8 (Apêndice K).

Nos Apêndices, ao lado de cada matriz, estão também a ordem de influência e de

dependência das variáveis. Nota-se que a matriz se estabiliza em M7, ou seja, de M7 para

M8 não se altera a ordem de influência e dependência das variáveis.

Após obter estabilização da matriz em M7, podemos identificar as variáveis-chave

do sistema, ou seja, aquelas que são muito influentes e muito dependentes. Essas

variáveis, como explicado anteriormente, são as que têm mais poder de modificar o

sistema, e ficam localizadas na área mais externa do Gráfico Influência-Dependência

(como destacado), como pode ser visto na Figura 61.

Figura 61: Gráfico Influência-Dependência. Fonte: elaboração própria.

Variáveis Valor Recomendação

Internas em internas 25,0% 20,0%

Internas em externas 14,4% 10,0%

Externas em internas 10,0% 15,0%

Externas em externas 14,7% 25,0%

91

Por fim, na Tabela 7 estão as variáveis-chave identificadas através do Método

MICMAC. Como é possível observar, o método cumpriu um dos objetivos propostos por

Godet (1994), revelando duas “variáveis ocultas” no sistema. Enquanto sK, εKL e W são

variáveis-chave determinadas de forma intuitiva, e o C’ são variáveis que, a priori, não

eram importantes; estas só tiveram sua importância identificada após a aplicação do

MICMAC.

Tabela 7: variáveis-chave. Fonte: elaboração própria.

De fato, temos que W é muito importante para o sistema, uma vez que W muito

alto incentiva a substituição de trabalhadores por máquinas. A taxa dessa substituição, a

elasticidade εKL, por sua vez, indica a quantidade de trabalhadores substituídos para uma

variação de W. Já sK, é o próprio emprego da tecnologia. Vê-se, portanto, que são três

variáveis críticas para a automação.

Para entender as “variáveis ocultas”, aproveitamos o modelo macroeconômico

proposto no item 4.2.1, além de algumas ligações dele com o modelo tecnológico. Com

eles, podemos ver que a inflação está ligada a vários ciclos de feedback que envolvem

a demanda por investimentos I’, que por sua vez, é muito influente em diversas variáveis

do modelo tecnológico. Já o consumo C’, é relevante, porque influencia e é

influenciado por W.

5.2 Entendimento do jogo dos agentes

Chega-se, portanto, ao segundo passo do método, o entendimento do jogo dos

agentes (item 7 do fluxograma):

92

Figura 62: passo 2 do método (determinação do jogo dos agentes). Fonte: elaboração própria.

5.2.1 Identificação dos agentes

Nessa sessão será discutido os principais agentes influentes no método de

cenários.

5.2.1.1 Agente 1: governos

É um agente muito influente, apresentando considerável poder sobre todas as

variáveis:

• Possui como uma das metas o controle da inflação, que é feita através de ajustes

na taxa de juros, como explicado anteriormente.

• Afeta o consumo, ao alterar a taxa de juros, impactando no poder de compra das

famílias.

• Causa variações no custo da mão-de-obra, ao alterar o salário mínimo e realizar

reformas trabalhistas.

• Impacta na elasticidade de substituição capital-trabalho, ao alterar a taxa de

juros e o custo da mão-de-obra, tornando a aquisição de bens de capital mais cara

ou mais barata.

• Modifica a parcela de capital na produção agregada, ao alterar a elasticidade

de substituição capital-trabalho.

93

5.2.1.2 Empresas

As empresas não possuem tanto poder de alterar o sistema quanto o governo,

entretanto é o agente que possui a decisão final quanto ao emprego da tecnologia de

automação. Influenciam, portanto, na parcela de capital na produção agregada e na

elasticidade de substituição do capital.

Agente 2: grandes empresas

No caso das empresas grandes, pode-se dizer ainda que são empresas mais

propícias à automatização devido à maior capacidade financeira, que possibilita um maior

volume de investimentos.

Agente 3: pequenas e médias empresas

Não possuem tanta capacidade de investimento quanto às empresas grandes,

entretanto, apenas as pequenas empresas são responsáveis por 70% dos empregos no

Brasil, segundo reportagem em 2017 (ESTADÃO, 2017).

5.2.1.3 Agente 4: empresas cujo papel é vender soluções relacionadas à automação

de tarefas

São empresas grandes e pequenas que atuam no mercado de soluções de

automação, ou seja, empresas favoráveis ao processo de automação de tarefas,

dependentes de políticas que interferem com esse movimento (Legislação de patentes,

legislação trabalhista, burocracias, etc.) e da predisposição à investimento das empresas

clientes.

5.2.1.4 Agente 5: trabalhadores (sindicatos)

Os trabalhadores possuem influência sobre o salário e o consumo, e,

consequentemente sobre a inflação. Além disso, podem pressionar o governo na criação

de leis que limitam o emprego de novas tecnologias de automação.

5.2.2 Método MACTOR

5.2.3 Construindo a tabela da estratégia dos agentes

A tabela da estratégia dos agentes se encontra na tabela Apêndice L

Representando-a como matriz, o agente de cada linha exerce influência no agente de cada

coluna, ou seja, no termo aij, o agente i exerce influência em j. Dessa forma, nessas

posições na tabela, descreve-se os objetivos e as ações de um agente sobre outro.

A diagonal principal, uma vez que seus termos não representam pares de agentes,

é destinada a descrever aspectos estratégicos de cada agente. Portanto, nesses termos da

94

matriz, colocamos os objetivos gerais de cada agente, assim como seus meios e restrições

para atingi-los.

5.2.4 Identificando as questões estratégicas e objetivos associados

As questões e objetivos estratégicos se encontram na Tabela 8. Embora as

questões Q1 e Q2 estejam diretamente relacionadas (para haver bem-estar é necessário

haver crescimento econômico), optou-se por separá-las, deixando em Q1 os objetivos

com impactos mais diretos no PIB, ou seja, aumento da demanda e da produtividade.

95

Tabela 8: questões e objetivos estratégicos. Fonte: elaboração própria.

5.2.5 Posicionando cada agente em relação aos objetivos estratégicos (Matriz de

Posições Assumidas)

A partir dos objetivos definidos na sessão anterior, construímos a matriz 1MAO

(Agentes x Objetivos), também denominada de Matriz de Posições Estratégicas. Quando

aij contém o dígito 1, significa que o agente i é a favor do objetivo j; contendo o dígito -

1, ele é contra o objetivo, e como dígito 0, ele é neutro.

Os agentes escolhidos para o modelo são: Governo (A1), Grandes Empresas do

Varejo (A2), Pequenas e Médias Empresas do Varejo (A3), Trabalhadores (A4) e

Empresas Fornecedoras de Tecnologia). A 1MAO se encontra na Figura 63.

Figura 63: Matriz 1MAO. Fonte: elaboração própria.

5.2.6 Classificando os objetivos de cada agente (Matriz de Posições Valoradas) e

avaliando a gama de possíveis convergências e divergências

A partir da matriz 1MAO, aplicamos os cálculos descritos na explicação do

método, e encontramos a matriz 1MAA, que se encontra na fig. Nela, cada termo aij,

exceto a diagonal (não é utilizada), representa o número de objetivos em que o agente i e

o agente j são convergentes (primeiro número do par, que possui sinal positivo), e o

número de objetivos em que eles são divergentes (segundo número do par, que possui

sinal negativo). A Matriz 1MAA se contra na Figura 64.

Questões (Disputas) Objetivos associados

Q1 - Crescimento Econômico (aumento do PIB) O1: aumentar os investimentos em automação no comércio (aumento da produtividade)

O2: incentivar o consumo

O3: aumentar os gastos do governo com formação técnica (aumento da produtividade)

O4: incentivar (financiar) o desenvolvimento da tecnologia de automação no comércio

Q2 - Bem-estar da população O5: aumentar a parcela do trabalho na produção agregada

O6: realizar reforma trabalhista

O7: realizar reforma da previdência

96

Figura 64: Matriz 1MAA. Fonte: elaboração própria.

A matriz 1MAA não considera a prioridade dos objetivos para cada agente. Logo,

constrói-se a matriz 2MAO (Figura 65), que contém o peso, de -3 (muito contrário) a +3

(muito a favor), de cada objetivo para cada agente. Em seguida, do mesmo modo que foi

obtida a matriz 1MAA, encontra-se a matriz 2MAA (Figura 66), esta última levando em

consideração o peso de cada objetivo para cada agente.

Figura 65: Matriz 2MAO. Fonte: elaboração própria.

Figura 66: Matriz 2MAA. Fonte: elaboração própria.

5.2.7 Avaliando o equilíbrio entre forças e formulando recomendações estratégicas

(matriz de posições valoradas com coeficientes de poder)

Para se obter um modelo ainda mais próximo da realidade, é recomendado ainda

introduzir as relações de poder entre cada agente. Por exemplo, sabe-se que o governo

possui muita força sobre os outros agentes, o que pode ser decisivo em diversos

movimentos estratégicos. Portanto, define-se a matriz MDA (Matriz de Ações Diretas)

97

(Figura 67), onde o termo aij representa o quanto (de 0 a 3, sendo 0 nada influente e 3

muito influente) o agente i influencia no agente j.

Figura 67: Matriz MDA: Fonte: elaboração própria.

A partir da matriz MDA, então, chega-se à matriz MIA (Matriz de Ações Indiretas),

através do princípio de MICMAC, o mesmo utilizado para encontrar as variáveis-chave

do sistema. MIA representa, portanto, não somente as relações de força diretas, como

também as indiretas. A MIA se encontra na Figura 68, onde Mi é a quantidade total de

influências indiretas de cada agente, e Di é a quantidade total de dependência de cada

agente. A partir desses números, encontra-se ri, que é o peso da força de cada agente, e,

depois, ri*, que facilita a interpretação ao tornar a soma dos pesos igual a 5. Dessa forma,

se cada agente tivesse a mesma força, cada ri* seria igual a 1. A explicação dos cálculos

encontra-se dentro da explicação do método.

Figura 68: Matriz MIA. Fonte: elaboração própria.

Após obter o peso da força de cada agente sobre outros, encontra-se a matriz

3MAO (Figura 69). Por fim, a partir da matriz 3MAO, chega-se à matriz 3MAA (Figura

70), através dos mesmos cálculos feitos anteriormente. Esta matriz considera além da

prioridade de cada agente sobre os objetivos, as relações de poder, e sua interpretação é

da mesma forma que as outras MAA: revela quais são as alianças mais prováveis no

sistema.

98

Figura 69: Matriz 3MAO. Fonte: elaboração própria.

Figura 70: Matriz 3MAA. Fonte: elaboração própria.

5.3 Análise Morfológica

A análise morfológica compõe o item 8 do fluxograma, “determinação das

hipóteses:

Figura 71: passo 3 do método (determinação das hipóteses). Fonte: elaboração própria.

5.3.1 Definição do espaço morfológico

Para a definição do espaço morfológico, utilizou-se como base a cadeia de valor

típica de uma empresa do comércio varejista (Figura 72). Assim, cada atividade primária

99

foi transformada em uma componente do espaço morfológico. As atividades de suporte,

por sua vez, foram desconsideradas, pois não são exclusivas do varejo.

Já as dimensões de cada componente, elas foram definidas a partir da sessão

anterior onde foram explicadas as frentes de automação iminentes. Além disso, para

facilitar a análise, adaptou-se a tabela proposta por Godet (1994), colocando a elasticidade

de substituição capital-trabalho εKL de cada componente, além do custo da utilização de

cada tecnologia, pois essas variáveis-chave impactam diretamente a parcela de capital sK

no produto agregado (Figura 73).

Figura 72: cadeia de valor de uma empresa genérica do comércio varejista. Fonte: elaboração própria.

Para contextualizar o universo do espaço morfológico do mercado varejista foi

recorrido à estrutura de cadeia de valor acima, esta servirá o propósito de simplificar a

distribuição de cenários para a automação, porém vale ressaltar que esta é utilizada no

fluxo da manufatura segundo Porter (1979), logo possui limitações dentro do âmbito de

serviços e na contemplação de mudanças no modelo de negócio.

Infra-estrutura

Monitoramento Remoto

Integração por backoffice

Gestão de Recursos Humanos

Recrutamento

Gestão de Desempenho

Desenvolvimento Tecnológico

-

Aquisição/Compras

Negociação Produtos

Seleção Produtos

Logística de Entrada Operações Logística de Saída Marketing e Vendas Serviços

Recebimento Venda Envio (e-commerce) Identificação Pós venda

Estocagem Delivery Monitoramento

Perfil de Compra

Ati

vid

ades

de

Sup

ort

e

Ati

vid

ades

Pri

már

ias

100

Figura 73: espaço morfológico com elasticidade substituição capital-trabalho das componentes e custo de utilização de cada tecnologia (dimensão). Fonte: elaboração própria.

Elasticidade

Recebimento/Estocagem Baixa Carro de mão + escada Carro motorizado + empilhadeira hidráulica/elétrica Esteira + robô

Envio (e-commerce)/Delivery Baixa Entregador Drone Veículos Autônomos

Identificação Alta Amostragem VRM (Visit Relationshio Management) Machine Learning***

Monitoramento Alta Observação/ estudos no local Beacon

Perifl de Compra Alta Questionário Big Data Analytics* Machine Learning***

Atendimento Média Ponto de Venda Online Autoatendimento

Caixa (lojas físicas) Média Manual Self Checkout** Just Walk Out Technology

Custo Custo Custo

Grau de Automação

Tecnologia que otimiza o capital Capital disponível Produtividade da mão-de-obra Mão-de-obra disponível Mactor

Recebimento/Estocagem Alto custo de implementação Baixa, problemas de saúde Sindicato Forte

Envio (e-commerce)/Delivery Tecnologia em desenvolvimento Alto custo de implementação

Identificação Tecnologia bem desenolvida Mão-de-obra cara

Monitoramento Tecnologia bem desenolvida Mão-de-obra cara

Perifl de Compra Tecnologia bem desenolvida Mão-de-obra cara

Atendimento Tecnologia bem desenolvida

Caixa (lojas físicas) Alto custo de implementação Baixa, problemas de saúde Sindicato Forte

EXPLICAÇÕES

101

Conforme ilustrado acima, pode-se salientar as soluções mais palatáveis ao

empresariado brasileiro com base na elasticidade de substituição capital-mão de obra e

custo das soluções.

Dentro do espectro da elasticidade de substituição1 baixa, ou seja, soluções que o

empresariado está pouco propenso a substituir mão de obra por capital, salienta-se que o

altíssimo custo de implementação de uma solução totalmente automatizada de

recebimento e estocagem de produtos, com esteiras automáticas e robôs, é pouco provável

de ser disseminado no Brasil em um espaço de 20 anos. Isso se dá principalmente por

dois motivos, o custo de implantação dessa tecnologia restringe às empresas grandes,

estas que são capazes de custear o investimento nessa tecnologia, ou seja, com capital

mais abundante disponível. E empresas grandes, que empregam muita mão-de-obra nos

setores de operação de estoques por exemplo, estão suscetíveis à sindicatos fortes, estes

que possuem interesse explícito na não implantação dessa ou de qualquer tecnologia que

diminua a parcela de mão de obra na produção agregada, principalmente se essa parcela

for de sua área de atuação.

De forma similar a implantação de sistemas de entrega autômatos ou operados

remotamente (drones) geram uma forte antipatia por parte de sindicatos fortes, estes que

regem os acordos trabalhistas de profissionais que atuam com fretamento de encomendas.

Além disso há o agravante em relação aos veículos autômatos, que possuírem uma

tecnologia ainda incipiente que gera uma precaução acima da média por parte do governo,

já que existe o risco de acidentes no trajeto da entrega que colocam os cidadãos em risco.

No outro extremo, temos o espectro da elasticidade de substituição alta, onde o

empresariado está muito propenso a substituir a mão de obra por capital. Nesse caso as

novas tecnologias estão todas relacionadas à captação, gerenciamento e análise de dados

gerados pelos clientes. Essa área de conhecimento é relativamente nova e postos de

trabalho nesse setor ainda estão sendo gerados, então não existe substituição de mão-de-

obra já que anteriormente esses postos de trabalho nem existiam. Ainda assim, mesmo

que futuros desdobramentos dessa tecnologia gerem um efeito de deslocamento, onde a

mão de obra será substituída por capital, esses postos por serem novos e não possuírem

1 Elasticidade de substituição nesse caso se refere a elasticidade de substituição entre os fatores de produção capital e trabalho. Um conceito econômico que mede a substituibilidade entre os dois fatores. Quanto menor

a elasticidade mais suscetível à substituição, quanto maior a elasticidade menos suscetível à substituição.

102

sindicatos fortes, estão mais vulneráveis e possuem menor poder de barganha frente aos

empresários e frente ao governo. Além disso se faz importante salientar os aspectos do

custo de implementação dessas tecnologias, todas elas estão conectadas de forma quase

que dependentes, isto é, a tecnologia Beacons gera uma quantidade monstruosa de dados

que devem ser armazenados e gerenciados via tecnologias relativas à Big Data Analytics,

que por sua vez são analisadas via Machine Learning. Portanto, pode-se estabelecer que

para a solução fim a fim, o custo de implantação é relativamente alto, mas após a

implantação o custo de manutenção dessas soluções é baixo.

Por fim, entre os dois extremos tem-se as soluções que possuem elasticidade de

substituição média, ou seja, não existe um caso específico geral que norteie a implantação

ou não dessas tecnologias pelo empresariado varejista brasileiro. Nesse caso uma

perspectiva um pouco mais detalhista em relação aos fatores pertinentes se faz necessária.

No caso do autoatendimento, tem-se como fator positivo à implantação o fato

dessa tecnologia diminuir o custo do atendimento ao cliente (Como foi explicitado

anteriormente), além da tecnologia já existir e estar em curva ascendente de evolução.

Como pontos opostos à implantação, temos o aspecto cultural do brasileiro de estar

acostumado a ser atendido por uma pessoa física e não por uma máquina, o grande efeito

de deslocamento advindo dessa tecnologia, já que o setor de atendimento ao cliente

emprega muita mão de obra desqualificada. Por fim ainda existe a questão da valorização

do atendimento personalizado que não é contemplado pelo autoatendimento.

Já no caso do Self Checkout e Just Walk Out, tem-se situações mais complexas.

Além do alto custo de implantação de ambas as tecnologias (Também descrito nos

capítulos anteriores), deve-se levar em conta novamente o aspecto cultural do brasileiro

que não está habituado com tecnologias que geram comodidade e, porém, possuem falhas

que podem ser exploradas para fins escusos. Ainda mais, deve-se lembrar que o sindicato

que rege os profissionais responsáveis pelas áreas de caixa são tradicionais e possuem

uma força considerável de barganha (Sindicato dos Comerciários), tanto frente ao

governo quanto frente às empresas. Como precedente pode-se citar o fato de o

autoatendimento nos postos de gasolina ser irregular no Brasil, sendo obrigado a

utilização de profissionais que abastecem os carros e fazem as operações de pagamento.

Tudo isso é contrabalançado pelo capital que seria economizado com mão-de-obra e

encargos trabalhistas.

103

6 Resultado

Chega-se, por fim, à parte final do método, onde se define a hipótese mais

provável para o cenário (item 12):

Figura 74: passo 4 do método (definição da hipótese mais provável). Fonte: elaboração própria.

6.1.1 Definição do cenário mais provável

Para a definição do cenário mais provável, se fará uso da elasticidade de

substituição como principal parâmetro que ditará os cenários futuros, essa elasticidade

que se comporta conforme a análise anterior.

6.1.1.1 Recebimento/Estocagem e Entregas (baixa elasticidade)

Conforme estabelecido anteriormente, apesar da necessidade de aumento da

produtividade no processo de recebimento e estocagem, o alto custo de implementação

de tecnologias totalmente automatizadas em conjunto com a ação contrária dos sindicatos

influenciará na adoção de postos de trabalho com mão de obra em conjunto com algum

maquinário que otimize a operação. Nesse caso o mais provável será um operador e um

carro motorizado em conjunto com uma empilhadeira hidráulica.

6.1.1.2 Marketing/Vendas — Identificação, Monitoramento, Perfil de Compra

(alta elasticidade)

Já no caso dos processos mais focados nas áreas de marketing e vendas, o cenário

é muito mais amigável em relação às novas tecnologias. A probabilidade está a favor da

implementação, já que a criação de novos postos de trabalho, um custo moderado de

104

implementação e a já existente disseminação dessas tecnologias indicam a implantação

de tecnologias relacionadas à Machine Learning, Beacons e Big Data Analytics

6.1.1.3 Atendimento e Caixa (elasticidade média)

Por último, no caso do atendimento, existe uma alta probabilidade de os cenários

futuros penderem para tecnologias aperfeiçoadas de autoatendimento em combinação

com atendimentos online, estes que apesar de impessoais geram escalabilidade para o

atendimento ao cliente já que vários atendimentos podem ser feitos ao mesmo tempo.

Além disso, o baixo custo dessa tecnologia a torna atrativa não só para grandes empresas

como para pequenas e médias.

No caso dos caixas, encontraremos alguma resistência por parte dos sindicatos,

porém a grande produtividade gerada por postos de self checkout gera uma possibilidade

atraente para o varejo brasileiro, ainda que como visto anteriormente o mais provável

seria uma parcela grande de operações de caixa ainda sendo feitos de forma manual e

tradicional enquanto uma migração lenta em direção a sistemas mais automatizados de

self checkout.

Essa análise em específico pode ser vista de uma forma um pouco mais detalhista

e com seus desdobramentos sistêmicos discriminados. Para isso, criou-se um modelo

(Figura 76) envolvendo as variáveis-chave, com o intuito de entender como variações no

sistema resultam em um aumento da automação na economia, ou seja, um aumento da

parcela de capital na produção sK. Além disso, introduziu-se a variável expectativa de

mercado E.M. e definiu-se alguns eventos que disparam o sistema, sendo eles:

1. Aumento das vagas de trabalho com o surgimento de novas tecnologias na

área de Marketing, principalmente Machine Learning. Essa tecnologia criou

novos cargos relacionados à tecnologia da informação, enquanto manteve as

vagas dos analistas de Marketing (UBEDA, 2017).

2. Aumento da expectativa do mercado. Como visto na Figura 18, a expectativa

do mercado, traduzida em termo das ações das empresas do varejo, vem crescendo

após o fim da recessão. Entretanto, para que essa recuperação seja sólida, é

necessárias certas medidas como as descritas na sessão sobre o panorama

macroeconômico. Sabe-se, entretanto, que essas medidas dependem do próximo

presidente a ser eleito.

3. Espera-se nos próximos anos uma diminuição relevante no custo de aquisição

das tecnologias envolvendo Atendimento e Caixa. Segundo a teoria da curva-S

105

da tecnologia e redes de valor (CHRISTENSEN, 2012) a melhoria do

desempenho de um produto, em determinado período de tempo ou devido a um

esforço de engenharia, é diferente em cada estágio de maturidade da tecnologia.

Nos primeiros estágios, a taxa de progresso do desempenho será lenta e à medida

que a tecnologia se torna melhor compreendida, controlada e difundida, a taxa de

melhoria tecnológica será acelerada, conforme é ilustrado abaixo.

Figura 75: Curva-S da tecnologia. Fonte: Christensen (2012)

Ainda segundo Christensen (2012), com o aumento da performance, a base

da competição na indústria muda. Em um primeiro momento com a base nos

aspectos tecnológicos, mudando para confiabilidade e terminando na competição

baseada no preço, que por fim barateia a tecnologia e toda as soluções que a

circundam.

106

Figura 76: modelo contendo eventos "disparadores" do sistema. Fonte: elaboração própria.

Como é possível observar, o aumento de sK depende diretamente do aumento dos

investimentos I’. Nota-se também que o aumento dos investimentos I’ depende

diretamente do aumento da elasticidade substituição capital-trabalho εKL. Com o evento

3, espera-se, portanto, um aumento dos investimentos. Por outro lado, devido às novas

vagas criadas com o Machine Learning (evento 1), haverá um aumento no consumo que,

por sua vez, aumenta a inflação e a taxa de juros, diminuindo, assim a demanda por

investimentos.

Em suma, enquanto o aumento da elasticidade substituição capital-trabalho εKL

aumenta a demanda por investimentos I’, o aumento do consumo, devido aos novos

postos de trabalhos criados inicialmente, possui o efeito inverso. Logo, a variável

expectativa do mercado se mostra decisiva no decorrer dos próximos anos. Uma

expectativa alta aumenta a oferta e, portanto, estabiliza a inflação, permitindo taxa de

juros mais baixas e um aumento contínuo dos investimentos.

Além da expectativa do mercado, é importante considerar ainda que outras ações

como a política de crédito para incentivo aos investimentos é bem provável, uma vez que

o resultado do Método MACTOR indica uma provável aliança entre o governo e as

empresas (Figura 70).

Entretanto, é importante destacar que há outros aspectos que influenciam a

elasticidade. Dentre eles, deve-se dar importância para locais, como comportamento e

conjuntura social e política que podem gerar alguns entraves na adoção de determinadas

107

tecnologias, outro fator importante que pode vir a influenciar a elasticidade é o retorno

de investimento nas tecnologias, quanto menor o tempo de retorno desse investimento,

mais atraente será para os empresários.

Visto isso, aposta-se que na próxima década haverá um decréscimo vertiginoso

no tempo de retorno dos investimentos em tecnologias de automação, devido ao

encarecimento da mão-de-obra em conjunto com uma expectativa de um governo um

pouco mais liberal que facilite os investimentos privados em novas tecnologias. Em

conjunto também ocorrerá uma diminuição nos custos de implementação devido ao

amadurecimento dessas tecnologias. E por fim uma maior atuação dos sindicatos,

principalmente relacionados à mão de obra pouco qualificada devido ao crescimento de

tarefas que a automação será capaz de realizar.

6.2 Impactos no mercado de trabalho

Diante do exposto anteriormente, pode-se esperar um crescimento na demanda

por mão-de-obra capacitada em análise e manuseio de dados. Isso se dará principalmente

pela aderência das tecnologias relacionadas à Big Data Analytics, Machine Learning e

Beacon, devido ao seu moderado custo de implantação e extremo potencial de geração de

valor. Esses profissionais atuarão provavelmente em todos as lacunas geradas pelas

limitações tecnológicas dessas soluções, além das novas oportunidades geradas pela nova

frente de inovação nesse setor como consultorias, métodos de visualização de dados,

design e áreas de conhecimento relacionadas à banco de dados.

6.3 O governo como tomador de decisão: ações recomendadas

O governo como principal agente nesse contexto deverá agir com foco em preparar

o mercado de trabalho para a adoção em massa dessas tecnologias, capacitando a mão-

de-obra através de cursos técnicos que sejam curtos e que a permitam de ingressar nesse

mercado o quanto antes. Além disso, ele deve atuar facilitando as empresas a investirem

nesse tipo de tecnologia, desburocratizando e promovendo a infraestrutura para que haja

um ambiente favorável à maturação dessas soluções no Brasil.

6.4 Cenários para legislação trabalhista

Dentro do âmbito legislativo, tendo em vista a falta de agilidade dos processos

burocráticos instaurados, pode-se esperar uma rigidez no que tange a legislação

trabalhista no curto prazo, e excentricidades ainda são esperadas como leis que proíbem

o autoatendimento em postos de combustível, por exemplo.

108

Porém no médio, longo prazo a pressão da provável escassez de postos de trabalho

exigirá uma maior agilidade e flexibilidade da legislação trabalhista a fim de diminuir o

custo da mão de obra e consequentemente estimular o aumento do nível de trabalho.

109

7 Conclusão

Ao final do trabalho, além de aplicar uma abordagem holística para se prever a

automação no comércio varejista e propor um cenário factível, é válido ressaltar a força

e a fraqueza do Método dos Cenários.

Usando como bibliografias principais, de forma integrada, Acemoglu (2018) e

Godet (1994), foi possível notar a consistência do Método MICMAC. O resultado possui

como variáveis-chaves, ou seja, variáveis muito influentes e dependentes, o salário e a

elasticidade substituição capital-trabalho, que além de intuitivas, são as mais relevantes

segundo Acemoglu (2018). Além disso, haver um efeito positivo da automação para o

mercado de trabalho nessa área reforçou a tendência histórica enxergada por Acemoglu

(2018): o aumento do número de tarefas pela automação.

A fraqueza da metodologia proposta por Godet (1994), entretanto, é vista no

Método MACTOR: a volatilidade política pode alterar rapidamente os resultados. Em 4

anos, ou até mesmo menos, no caso de impeachment, as alianças mais prováveis podem

se alterar drasticamente: enquanto um governo de direita está mais inclinado a se aliar às

empresas, um governo de esquerda estará mais inclinado a se aliar aos trabalhadores.

Portanto, o MACTOR pode não funcionar com questões estratégicas cujos agentes

possuam estratégia volátil.

No caso deste trabalho, a volatilidade política afeta principalmente o futuro das

atividades com elasticidade substituição-trabalho média, uma vez que a formação de

alianças pode ser decisiva na adoção de novas tecnologias. Essas atividades são as que

possuem uma menor chance de acerto, sendo necessário o uso de métodos baseados no

consenso de especialistas para aumentar a acurácia do método.

7.1 Propostas de trabalhos futuros

Para enriquecimento da base de conhecimento acerca do tema proposto, sugere-se

reaplicações do Método dos Cenários a partir de diferentes modelos de relacionamento

de causa e efeito, de modo a testar a sua consistência através da comparação dos diversos

resultados obtidos. Além disso, a aplicação de algum método de consenso de especialistas

pode ser de grande utilidade para aumentar a assertividade dos resultados, servindo,

portanto, como uma importante complementação do trabalho.

110

APÊNDICE A – RECEITA NOMINAL - VAREJO. ÍNDICE MENSAL (BASE: IGUAL MÊS DO ANO ANTERIOR)

Fonte: IBGE (2018).

111

APÊNDICE B – RELAÇÕES ENTRE AS VARIÁVEIS SEGUNDO ACEMOGLU (2018)

Fonte: elaboração própria.

Nome da Variável Símbolo - Influenciador Símbolo - Influenciado Motivos Segundo Acemoglu (2018)

Tecnologia que otimiza Capital - Máquinas Ak sK, εKL, η, R, Y, W, sL, N

> Tecnologia que otimiza o Capital aumenta a produtividade do capital, aumentando a parcela de capital na produção

agregada

> Tecnologia que otimiza o Capital também aumenta a elasticidade de substituição de capital pelo mesm motivo

anterior

> Tecnologia que otimiza o Capital aumenta a produtividade do capital (autoexplicativo)

> Tecnologia que otimiza o Capital tendem a diminuir o custo do capital no longo prazo

> Tecnologia que otimiza o Capital aumenta a produividade e por fim aumenta o produto agregado do setor

> Tecnologia que otimiza o Capital tende a aumentar o custo da mão de obra em casos de necessidade de mão de obra

qualificada

> Tecnologia que otimiza o Capital por aumentar a parcela de capital na produção agregada, diminui a parcela da mão

de obra na mesma

> Tecnologia que otimiza o Capital pode aumentar o número de novas tarefas em um determinado setor

desempenhadas por mão de obra

Capital K Ak, εKL, R, Y, W, sL

> Capital disponível aumenta o surgimento de tecnologias que otimizam o Capital

> Capital disponível influencia no aumento da elasticidade de substituição de capital

> Capital disponível diminui o custo de capital

> Capital disponível aumenta o produto agregado do setor

> Capital disponível aumenta o custo da mão de obra (salário)

> Capital disponível aumenta a parcela de mão de obra no produto agregado

Parcela de capital na produção agregada sK - -

Elasticidade de substituição Capital - Trabalho εKL Y, W

> A elasticidade de substituição influencia no aumento da produção agregada (Via instauração de fatores mais

produtivos

> A elasticidade de subtituição influencia no poder de barganha da mão de obra, logo influenciando os salários (custo

de mão de obra)

Produtividade do capital η R, Y, sL

> A produtividade do capital diminui o custo de capital

> A produtividade do capital aumenta a produção agregada

> A produtividade do capital diminui a parcela de mão de obra na produção agregada

Custo do capital R Y > O custo de capital influencia na produção agregada

Produção Agregada Y R, sL

> A produção agregada também influencia no custo de capital

> A produção agregada aumenta a parcela de mão de obra na produção agregada pois uma maior produtividade gera

uma maior demanda por bens e serviços que gera uma maior demanda por mão de obra

Produto Marginal do Trabaho - Nível de Salário - Custo da mão de obra W Y, sL> O custo da mão de obra influencia na producão agregada

> O custo da mão de obra influencia na parcela de mão de obra na produção agregada

Tecnologia que otimiza Trabalho - Mão de obra Al Y, W, sL, N

> Tecnologia que otimiza o trabalho aumenta a produção agregada

> Tecnologia que otimiza o trabalho diminui o custo da mão de obra

> Tecnologia que otimiza o trabalho aumenta a parcela de mão de obra na produção agregada

Mão de obra L εKL > Mão de obra disponível influencia diretamente a elasticidade de substituição de capital - trabalho

Parcela de mão de obra na produção agregada sL - -

Fronteira de automação I R, Y, W

> A fronteira de automação influencia diminui o custo de capital no longo prazo

> A fronteira de automação influencia no aumento da produção agregada

> A fronteira de automação influencia na diminuição do custo da mão de obra (salários)

Total de tarefas N R, Y, W

> O número total de tarefas influencia no custo de capital

> O número total de tarefas influencia no aumento da produção agregada

> O número total de tarefas influencia no aumento do custo da mão de obra (salários)

Produtividade do trabalho ɣ Y > A produtividade do trabalho influencia o auemnto da produção agregada

112

APÊNDICE C – MATRIZ DE ANÁLISE ESTRUTURAL

Fonte: elaboração própria.

Legenda

Relações do modelo tecnológico

Relações do modelo macroeconômico

113

APÊNDICE D – MATRIZ M1

Fonte: elaboração própria.

114

APÊNDICE E – MATRIZ M2

Fonte: elaboração própria.

115

APÊNDICE F – MATRIZ M3

Fonte: elaboração própria.

116

APÊNDICE G – MATRIZ M4

Fonte: elaboração própria.

117

APÊNDICE H – MATRIZ M5

Fonte: elaboração própria.

118

APÊNDICE I – MATRIZ M6

Fonte: elaboração própria.

119

APÊNDICE J – MATRIZ M7

Fonte: elaboração própria.

120

APÊNDICE K – MATRIZ M8

Fonte: elaboração própria.

121

APÊNDICE L – TABELA DAS ESTRATÉGIAS DOS AGENTES

Fonte: elaboração própria.

122

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125

ANEXOS

126

ANEXO 1 – Focus Relatório de Mercado 1 de junho de 2018