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PROJETO DE PESQUISA SUBMETIDO AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM JORNALISMO (PPJ), DO CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTES
CCTA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB
ELIABE ELON CASTOR DE CASTRO
PARAIBANOS NA FEB: GUERRAS TRAVADAS ANTES, DURANTE E DEPOIS DOS COMBATES
Projeto de Livro-reportagem a ser submetido ao
Programa de Pós-graduação em Jornalismo (PPJ)
JOÃO PESSOA2015
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INTRUDUÇÃO
O presente projeto tem por finalidade um estudo que possibilite a confecção de livro-
reportagem, cujo objeto pauta-se em uma análise sociológica, histórica e antropológica da
presença dos 300 paraibanos que integraram a Força Expedicionária Brasileira (FEB) no
teatro da II Guerra Mundial, dos quais seis tombaram em solo italiano vítimas do fogo
inimigo. Faz-se necessário observar que esses ex-combatentes figuravam o universo dos
25.334 homens brasileiros que embarcaram para a Itália, a fim de combaterem as forças
alemães da Wehrmacht, exército regular alemão, e a temida Waffen-SS, unidade de elite do
exercito nazista.
O que torna o objeto de estudo importante e, a posteriori, a própria edição do livro-
reportagem, é seu grau de ineditismo. Existindo parco material sobre a temática na forma de
pequenos relatos impressos, pouco se sabe daqueles paraibanos, em sua maioria analfabetos e
pobres, muitos provindos do interior do Estado; lutaram com bravura no front italiano.
Importante salientar que, embora surjam referências dos combates, o estudo irá se
aprofundar na trajetória dos veteranos, desde seu ingresso nas Forças Armadas Brasileiras até
sua chega ao porto italiano de Nápoles em junho de 1944. Nesse contexto, torna-se óbvio a
saga desses homens até seu destino final, estando, aí, o inevitável choque cultural e social
entre eles; brasileiros de outras regiões do país, o povo italiano, além dos norte-americanos,
uma vez que o escalão da FEB foi incorporado ao 5º Exército daquele país, havendo forte
xenofobia para com os brasileiros, pois os estadunidenses os consideravam inferiores e
inaptos para o combate, o que, ao longo das batalhas, essa “certeza” mudou devido ao espírito
aguerridos dos febianos (integrantes da FEB) e sua habilidade para improvisar e superar
situações adversas, como a neve e as forças inimigas.
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JUSTIFICATIVA
O dia 21 de fevereiro de 1945 marca um capítulo especial na história brasileira. Nesta
data, as tropas da FEB (Força Expedicionária Brasileira) dominaram as posições alemãs em
Monte Castello, na Itália, durante a II Guerra Mundial, depois de três tentativas fracassadas. A
Paraíba contribuiu para a vitória com vários “pracinhas” (nome como ainda hoje é conhecido
os soldados da FEB) participando das batalhas.
Os fatos, amizades, as perdas e o sofrimento antes, durante e depois da campanha
estão vivos na lembrança destes senhores de cabelos brancos, mas que estão se perdendo, para
sempre, em decorrência da morte desses ex-combatentes. Dado a este fato, o presente projeto
buscará coletar o máximo de informações primárias desses homens, contribuindo para que a
história do corpo militar paraibano seja transformado em livro-reportagem, não ficando,
apenas, na oralidade histórica que, ao passar do tempo, será modificada pelas gerações
vindouras, criando-se fatos inverídicos e mitos, descaracterizando a realidade ocorrida no
front italiano.
Importante salientar que existe, em João Pessoa, um pequeno museu instalado no
O 15º Batalhão de Infantaria Motorizado (15º BI Mtz) sobre a FEB, contendo fotos,
medalhas, cartas, armamentos, documentos oficiais e fardamentos dos ex-combatentes, muitas
dessas peças, inclusive, doadas por paraibanos que estiveram na guerra. O espaço servirá
como importante fonte de pesquisa. Funciona também neste recinto a sede da Associação dos
Veteranos da FEB - (ANVFEB) secção Paraíba, cujo número de associados não ultrapassa a
casa de trinta membros, todos com idade acima dos noventa anos, o que torna urgente
entrevistar e recolher o máximo de informações desses militares e dos seus familiares, pois,
uma vez mortos, sua lembranças serão sepultadas para sempre.
Por fim, “O trabalho de investigação começa pela escolha de um tema. Todos os
temas são possíveis. Qualquer aspecto da sociedade, seja banal, insignificante, estranho,
místico ou politizado, pode dar lugar a uma investigação: um tema aparentemente ruim pode
levara uma boa pesquisa. Mas existem temas melhores que outros. Há, portanto, todo o
interesse que se reflita bem no tema de partida. O tema ideal é claro e motivador, o
pesquisador sabe onde pode chegar e tem vontade de seguir esse caminho, porque ele tem a
intuição de que nele possa haver muito material a ser descoberto” (KAUFMANN, 2013 pg.
59), fato que se aplica com a temática sugerida neste projeto.
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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O livro reportagem é um veículo de comunicação jornalístico bastante conhecido nos
meios editoriais do mundo ocidental. Desempenha um papel específico, de prestar informação
ampliada sobre fatos, situações e ideias de relevância social, abarcando uma variedade
temática expressiva” (LIMA, 1993, Pg 15). Se a notícia é o relato de um fato de interesse
jornalístico, a reportagem é a narrativa que aborda as origens, implicações e desdobramento
do fato. Ela “ é todo e qualquer discurso capaz de evocar o mundo concebido real, material e
espiritual, situado em um espaço determinado (SODRÉ, 1988)
Observando tais conceitos, e avançando para o livro-reportagem, ele pode resultar da
simples compilação de reportagens já publicadas (coletâneas) ou de trabalho feito para livro,
mas concebido e realizado em termos jornalísticos, a exemplo: O Abusado – O Dono do
Morro (CACO BARCELLOS), As duas Faces da Glória: A FEB vista pelos seus aliados e
inimigos (WILLIAN WAACK),"Olga" (FERNANDO MORAIS) e Chatô – O Rei do Brasil,
também de Fernando Morais e “A Noite das Grandes Fogueiras” (DOMINGOS
MEIRELES).
Nesse contexto, o livro- reportagem se constitui em ferramenta adequada para narrar a
saga dos paraibanos na Segunda Guerra Mundial, pois dá autonomia de extensão e conteúdo
dos fatos. Mas antes de continuar a discorrer sobre a proposta, faz-se necessário observar que
o livro-reportagem é o jornalismo que interpreta, que investiga, que acorda os olhos para uma
nova realidade, para um diferente ângulo de visão. Um jornalismo ciente da sua história, de
seu valor e do seu compromisso em formar cidadãos críticos e responsáveis.
Ao escrever o autor precisa deixar seu texto de uma forma que não seja maçante ou
sem conteúdos. Para isso precisa anotar os diálogos completos, reconstruir cena por cena,
tendo o devido cuidado de deixar bem clara a diferença entre a reportagem e a ficção-
jornalística. “Enquanto a primeiro usa adereços literários para aprofundar a abordagem sobre
fatos reais, a segunda apenas parte desses mesmos fatos para construir seu enredo, que será
complementado por novas narrativas inventadas pelo autor”, (PENA, 2006,)
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“Muitos dos profissionais, descontentes com os rumos das redações, tomam,
espontaneamente, a iniciativa de trilhar o caminho solo. Passaram a colaborar com algumas
institucionais e, eventualmente, produzir livros-reportagens”. (BELO, 2013,pg. 17), o que não
foge a essa afirmação o presente projeto.
OBJETIVOS
5.1 OBJETIVO GERAL
Entrevistar os ex-combates paraibanos que figuraram as tropas brasileiras a fim de
tornar os dados coletados em livro-reportagem.
5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Deixar uma obra inédita para a geração atual e vindoura sobre a participação dos
paraibanos que lutaram na Segunda Guerra Mundial;
Contribuir com o acervo historiográfico da presença das Forças Armadas Brasileiras
no “teatro” da guerra na Itália;
Mostrar ao público paraibano e, de forma geral, aos brasileiros, a tenacidade e os
grandes sacrifícios prestados pelo corpo da tropa da Paraíba entes, durante e depois
dos combates contra os alemães;
Valorizar a figura dos ex-combatentes paraibanos, não permitindo que seus atos
heroicos caiam no esquecimento da história;
Narrar os percalços dos paraibanos desde a separação familiar, os choques culturais
em diversas escalas, seus traumas, frustrações, medos, honras e glórias;
Prestar uma homenagem a esses homens que, em dias atuais, pouco se sabe dos seus
feitos heroicos, antes, durante e depois da Segunda Grande Guerra.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
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Entende-se que o objeto de estudo do presente projeto é um ser humano que passou
pelos horrores da Segunda Guerra Mundial, impondo, na memória de cada um, inúmeros
traumas e assuntos delicados que implicam, diretamente, no estado emocional dos
entrevistados. Como se não bastasse, outro agravante contribui para a coleta de dados: a
avançada idade dos ex-combatentes.
Para minimizar possíveis bloqueios no estado psicológico dos entrevistados, o que
poderia redundar na recusa de entrevistas, ou mesmo “mascarar” fatos, faz-se necessário,
antes de apontar uma câmara ou gravador sobre os ex-combatentes, dialogar informalmente,
livre do rigor do jornalismo factual para, assim, firmar, antes de tudo, um elo de respeito e
cumplicidade.
Numa classificação sintética da entrevista na comunicação coletiva, distingue-se dois
grupos: entrevistas cujo objetivo é espetacularizar o ser humano; e entrevistas que esbocem a
intenção de compreendê-lo (MEDINA, 1990). Mais à frente a autora defende a chamada
entrevista-diálogo, e complementa: “Em certos casos felizes, a entrevista torna-se diálogo.
Este diálogo é mais que uma conversação mundana. É uma busca em comum. O entrevistador
e o entrevistado colaboram no sentido de trazer à tona uma verdade que pode dizer respeito à
pessoa do entrevistado ou a um problema”.
Para reforçar esse preceito, se o entrevistador enumera uma lista de perguntas em um
tom morno ou, pior ainda, as lê como se fossem um questionário, a pessoa logo adotará o
mesmo estilo para responder, limitando-se a frases breves, correspondendo aos pensamentos
de superfície mais imediatamente disponíveis, sem se envolver pessoalmente. É preciso se
afastar radicalmente desse estilo, que produz material inadaptado ao método compreensivo.
No questionário, o tom e a formulação das perguntas, logicamente, levam à respostas claras e
breves: sim ou não, múltipla escolha, frase ‘aberta’, mas sucinta”. (KAUFMANN, 2013, pg.
79).
Ainda partindo do princípio da coleta de dados, Nilson Lage explica que a política das
redações é reunir um volume de informação maior do que aquele que será publicado. Já o
ideal de um livro-reportagem, como se trata de um assunto apenas, é a qualidade das
informações relatadas, por isso a produção é bastante intensa, daí a importância de criar uma
empatia com o entrevistado, adentrado no seu mundo de memórias, arquivos e histórias que
possam contribuir com a feitura da obra.
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REFERÊNCIAS
ALCINA, Miguel Rodrigo. A construção da notícia. tradução de Jacob A Pierce – Petrópolis - RJ; Vozes, 2009.
BARONE, João – 1942: o Brasil e sua guerra desconhecida quase desconhecida – Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 2013.
EDUARDO BELO,– Livro-Reportagem – 2ª Edição, São Paulo. Contexto. 2013.
FELIPE PENA. Jornalismo Literário.São Paulo. Ed. Contexto. 2006.
GILBERT, Martin.A Segunda Guerra Mundial: os 2.174 dias que mudaram o mundo. Tradução; Ana Luísa Faria, Miguel Serras Pereira. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014.
KAUFMANN, Jean Claude. A entrevista compreensiva: um guia para pesquisa de campo.tradução de Thiago de Abreu e Lima Florêncio. Maceió. Vozes Edufal. 2013.
LAGE, Nilson. A Reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Renovar, 2001.
MEDINA, Cremilda de Araújo. Entrevista: o diálogo possível. São Paulo. Ática.1990.
MUNIZ, Sodré. Técnicas de Reportagem. São Paulo: Summus. 1988.
PEREIRA LIMA, Edvaldo. Páginas ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. Campinas, Ed. da Unicamp, 1993.
ORWELL, George. Literatura e política: jornalismo em tempos de guerra. Tradução, Sérgio Lopes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
WAACK, William M.- As duas faces da glória: a FEB vista pelos seus aliados e inimigos. São Paulo. Planeta. 2015