projeto de pesquisa em hermeneutica contextual
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CENTRO UNIVERSITÁRIO METODISTAIZABELA HENDRIXBacharel em Teologia
Prof. Dr. Sidney de Moraes SanchesProf. Ms. Ebenézer da Silva Melo Júnior
Contribuições da História Cultural para a Hermenêutica Evangélica Contextual na América Latina
Belo Horizonte2008
1. Resumo
A reflexão bíblico-teológica latino-americana requer a discussão de uma hermenêutica
adequada ao texto bíblico, que funcione como articuladora entre o texto e a cultura dos
povos latino-americanos. O reconhecimento desta necessidade conduziu o teólogo
evangelical Juan B. Stam a propor uma Hermenêutica da contextualização apoiada na
teoria gadameriana do círculo hermenêutico. Esta pesquisa pretende testar a hipótese de
que a Hermenêutica da Contextualização se beneficiaria da soma dos instrumentos de
análise científica em uso nas disciplinas da Narratologia contextual e da História Cultural.
A primeira procura entender os processos culturais de produção e recepção de textos
narrativos. A segunda utiliza os registros de narrativas como instrumentos para entender,
analisar e avaliar determinada cultura. Para verificar a hipótese, a pesquisa realizará a
coleta, análise, classificação e categorização da documentação existente, a fim de melhor
conhecer, descrever e apresentar a Hermenêutica da contextualização, a Narratologia
contextual e a História Cultural como saberes autônomos. E, a seguir, se dedicara à
formulação de uma metodologia que viabilize o objetivo da Hermenêutica latino-americana
da contextualização entre os teólogos e teólogas evangelicais: situar o texto bíblico e a
reflexão bíblico-teológica na cultura dos povos latino-americanos. Dentre as estratégias de
difusão da pesquisa, pretende-se: apresentá-la na forma de um relatório final, a ser
publicado em formato de livro; introduzir o grupo de pesquisa nos fóruns de discussões
sobre as Hermenêuticas latino-americanas da contextualização, inclusive da Narratologia
Contextual e da História da Cultura; oferecer subsídios para o aperfeiçoamento do estudo
da Hermenêutica bíblica no curso de Teologia; oferecer pautas para a continuidade da
produção da literatura bíblica de cunho evangelical popular denominada Série Leitura
Bíblica.
2. Linha Curricular Institucional
Processos Educativo-Culturais socialmente responsáveis
3. Apresentação
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A Hermenêutica bíblica é parte do currículo do curso de Teologia da FATE-BH desde a
sua constituição como curso livre, no ano de 1996. Ao incluí-la como estudo curricular, a
FATE-BH afirmava a tradição evangélica originada na Reforma Protestante de inserir o
estudo e interpretação das Escrituras Sagradas como fonte primária de todo conhecimento e
atividade teológica.
Os docentes pesquisadores possuem formação específica nesta área de estudos
teológicos. O Professor Sidney de Moraes Sanches, coordenador da pesquisa, é Doutor em
Teologia, desde 2006, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte.
Realizou sua pesquisa de doutorado na área bíblica, investigando as recentes contribuições
da Narratologia, da Retórica e da Pragmática para a hermenêutica do texto bíblico. O
Professor Ebenézer da Silva Melo Júnior, coordenador auxiliar da pesquisa, concluiu no
mesmo ano e instituição o seu mestrado em Teologia, também na área bíblica, explorando a
contribuição da hermenêutica bíblica popular no livro de Amós.
Ambos são pastores batistas e se identificam com o movimento evangelical latino-
americano, que atua entre as igrejas evangélicas lutando por uma hermenêutica da
contextualização do texto bíblico. Ambos entendem essa pesquisa como uma oportunidade
de tratar esta hermenêutica bíblica em um nível mais acadêmico, e pretendem o
envolvimento voluntário de outros docentes do Izabela Hendrix interessados no tratamento
interdisciplinar do tema. Sobretudo, eles almejam a participação de estudantes em um forte
programa de iniciação científica, seja como bolsistas ou como voluntários.
4. Objetivos
Como objetivo geral, a pesquisa pretende colaborar com a Hermenêutica latino-
americana da contextualização do texto bíblico, especificamente, ao lhe oferecer uma base
metodológica orientada pelos instrumentos científicos das disciplinas da Narratologia
contextual e da História Cultural, permitindo o desenvolvimento de uma ciência
hermenêutica evangelical autônoma em relação às demais que se apresentam no continente
latino-americano.
A partir desse objetivo geral, a pesquisa procurará realizar os seguintes objetivos
específicos:
3
1) Conhecer e refletir teoricamente sobre a Hermenêutica latino-americana da
contextualização do texto bíblico;
2) Conhecer a Narratologia contextual e a História Cultural, suas bases, desenvolvimentos,
instrumentos de análise e possíveis repercussões na Hermenêutica da Contextualização;
3) Colaborar com a reflexão bíblico-teológica latino-americana, evangelical, oferecendo-
lhe recursos hermenêuticos que sustentem sua tarefa de leitura do texto bíblico ante a
realidade cultural dos povos latino-americanos.
5. Breve histórico do fenômeno, da problemática envolvida, da solução proposta
e sua justificativa
No continente latino-americano é evidente a diversidade de hermenêuticas do texto
bíblico, inclusive entre as igrejas evangélicas. Estas hermenêuticas sempre padeceram de
um certo estrangeirismo frente à realidade histórica dos povos latino-americanos.
Conforme Juan B. Stam, teólogo evangelical norte-americano naturalizado costa-riquenho,1
...o Evangelho chegou até nós carregado de “bagagem cultural” estrangeira, quer dizer, a mensagem bíblica chegou até nós já “contextualizada”, num contexto que nem é o próprio contexto bíblico, nem tampouco nosso próprio contexto latino-americano, mas o contexto anglo-europeu e, principalmente, o norte-americano.
Uma classificação abrangente dividiria as hermenêuticas do texto bíblico importadas
para o continente latino-americano em três modelos:2 Hermenêutica fundamentalista, de
caráter literal, atribuindo inerrância ao texto bíblico, negando a sua historicidade,
submetendo-o a uma aplicação direta; Hermenêutica conservadora, atribuindo
infalibilidade ao texto bíblico, porém submetendo-o a um disciplinado estudo histórico-
gramatical; Hermenêutica liberal, sob forte influência do racionalismo científico iluminista,
afirmando a contingência histórica do texto bíblico, submetendo-o ao escrutínio das
ciências histórica e literária modernas.
1 STAM Juan B. A Bíblia, o Leitor e seu contexto histórico. In: Boletim Teológico, n.3, mai-ago, 1984, p. 94. Juan B. Stam, nascido em Nova Jersey, EUA, em 1928, possui toda uma trajetória de inserção na teologia evangelical centro-americana e, por extensão, na América do Sul. Foi professor do Seminário Biblico Latino-Americano (1957-1980), catedrático da Universidade Nacional da Costa Rica e, atualmente, é diretor da Universidade Evangélica das Américas, nesse país.2 O Prof. Dr. Júlio Paulo T. Zabatiero divide as Hermenêuticas da Bíblia no mundo evangelical entre Hermenêuticas não-acadêmicas e acadêmicas. Dentro da primeira, estariam as leituras fundamentalista, conservadora, devocional e neo-pentecostal da Bíblia. Na segunda, estariam as leituras histórico-gramatical e a hermenêutica contextual. ZABATIERO Júlio Paulo T. Hermenêuticas da Bíblia no mundo evangelical. In: REIMER Haroldo, DA SILVA Valmor (Orgs.). Hermenêuticas Bíblicas. Goiânia: ABIB, 2006, 61-74.
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A melhor imagem para identificar o tratamento que o texto bíblico recebe nestas
hermenêuticas é a do depósito. Ora o texto bíblico é um depósito espiritual onde o leitor
busca as verdades, orientações e recursos de que necessita; ora ele é um depósito moral e
doutrinário, um guia para a conduta e a confissão dogmática do leitor; ora ele é um
depósito de conhecimento histórico-literário, uma enciclopédia do mundo e da literatura
antiga.
Nenhuma destas hermenêuticas, portanto, valoriza a cultura dos leitores latino-
americanos do texto bíblico. A Hermenêutica popular latino-americana, surgida na década
de 80, procurou abordar esse leitor desde um viés sócio-econômico da categoria de povo.
De acordo com Milton Schwantes,3 nesta hermenêutica se buscava o protagonismo de um
novo sujeito leitor: o povo, em uma nova realidade vivida: popular, em uma situação
eclesialmente ecumênica: a igreja popular.
Os teólogos e teólogas evangelicais criticaram a Hermenêutica popular por excessiva
dependência do método histórico-crítico, considerado próprio à Hermenêutica liberal e
perpetuador do caráter colonizador da ciência bíblica do Norte; por restringir a
hermenêutica a certos temas bíblicos prediletos, como: o êxodo, o conflito e a esperança,
retomando uma espécie de fundamentalismo teológico de tom ideológico: a luta de classes;
pela pouca abertura a novas abordagens hermenêuticas contemporâneas, talvez mais
adequadas aos novos tempos latino-americanos.
Em contrapartida, os teólogos e teólogas evangelicais latino-americanos demonstraram
preferência pelo que denominaram Hermenêutica contextual ou da contextualização. O
tema da contextualização nasceu nos círculos norte-americanos protestantes que se
apropriaram dos estudos antropológico-culturais para elaborar uma nova estratégia de
missão em uma situação de pós-colonialismo.
Contudo, nos anos 80, Juan B. Stam usou o termo para propor uma Hermenêutica da
Contextualização que realizaria o objetivo do texto bíblico: causar impacto no leitor latino-
americano conduzindo-o a uma missão compromissada com e transformadora da sua
realidade histórica. Para Stam, esta hermenêutica asseguraria o lugar do leitor latino-
americano do texto bíblico junto ao seu leitor original. O método para assegurar esse lugar,
Stam encontrou no círculo hermenêutico, cujas origens atribui a Martin Heidegger, Rudolf
3 SCHWANTES Milton. “Caminhos da Teologia Bíblica”. In: Estudos Bíblicos 24 (1989) 9-19.
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Bultmann e Hans Georg Gadamer, sobretudo nas teorias da pré-compreensão e da fusão de
horizontes.4
Para Stam, todavia, a teologia latino-americana, ao se apropriar do círculo
hermenêutico, alterou-o profundamente introduzindo nele a realidade histórica do leitor
latino-americano em substituição à subjetividade existencial proposta pelos seus
formuladores. Segundo ele5
a história irrompeu no círculo hermenêutico. Em lugar de ser somente um “círculo vicioso” entre o sujeito existencial e sua auto-compreensão, veio a ser entendido como a circulação dinâmica entre a leitura do texto bíblico e a leitura constante da realidade contemporânea.
Stam reconhece a contribuição dos estudos de Juan Luís Segundo, teólogo latino-
americano católico, acerca do círculo hermenêutico,6 que chama de método contextual.
Segundo Stam7
este círculo hermenêutico não se choca em nada com a fidelidade às Escrituras, sendo, pelo contrário a melhor maneira de ser fiel a elas, vivendo plena e responsavelmente nossa própria realidade histórica (como nos exige a fidelidade bíblica), questionando biblicamente todas as tradições e interpretações humanas, sociologicamente acondicionadas, à luz de novas vivências históricas e novas releituras da Palavra.
Por fim, Stam conclui que o círculo hermenêutico “é uma contribuição muito valiosa
para uma hermenêutica evangélica contextualizante”,8 porém, ele deve ir além do viés
histórico de perfil sócio-ideológico para abranger toda a cultura, assumindo a tarefa de
conhecer, de compreender e de interpretar a realidade conforme manifesta em determinada
cultura, o que impôe à Hermenêutica uma “tarefa de radical contextualização”. Assim9
uma hermenêutica evangélica latino-americana terá que derivar de seu próprio contexto [a cultura] (e não de um outro contexto estrangeiro, nem de alguma suposta esfera supra-contextual) as perguntas, a linguagem, os critérios e a metodologia para seu trabalho exegético e teológico.
Carlos René Padilla, teólogo equatoriano batista, desenvolveu de modo independente
pautas para uma Hermenêutica latino-americana da contextualização do texto bíblico sem
propor o instrumental do círculo hermenêutico. Para ele, a solução para o problema
4 STAM Juan. Idem, p. 110.5 STAM Juan. Ibidem, p. 110.6 Juan Luís Segundo desenvolve seu método na obra: Libertação da Teologia. São Paulo: Loyola, 1978.7 STAM Juan. Ibidem, pp. 112,113.8 STAM Juan. Ibidem, p. 113.9 STAM Juan. Ibidem, pp. 113,114.
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hermenêutico se encontra no reconhecimento dos fatores condicionantes de compreensão
do leitor do texto bíblico, o original e o latino-americano: sua atitude religiosa para com
Deus, sua tradição eclesiástica e sua cultura.
Dentre esses fatores, a cultura é a mais importante, pois o leitor latino-americano do
texto bíblico10
não vive num vazio, mas numa situação histórica concreta, em uma cultura da qual deriva não somente seu idioma, mas também seus padrões de pensamento e conduta, seus métodos de aprendizagem, suas reações emocionais, seus valores, interesses e metas. Ou a mensagem de Deus chega em termos da sua própria cultura, ou não lhe chegará.
Assim, conforme Padilla, a contextualização acontece na medida em que a Palavra de
Deus se encarna na igreja e o evangelho toma forma na cultura, cabendo à hermenêutica a
tarefa de mediação entre a Palavra de Deus e a cultura do leitor.11
Na atualidade, a hermenêutica do texto bíblico vive verdadeira ebulição a partir de
novos influxos advindos do desenvolvimento de diversificadas teorias literárias do texto
que resultaram em novos métodos de leitura e compreensão.12
Na segunda metade do século 20, o gênero narrativo obteve impulso considerável
desde a abordagem semiológica dos estruturalistas, sobretudo russos e franceses. Após os
trabalhos iniciais de análise estrutural do conto russo por Vladimir Propp, em Morphologie
du Conte, seguiram-se os trabalhos de semântica ou semiótica estrutural da narrativa,
também chamada Narratologia formal ou estrutural, de Tzvetan Todorov, Gérard Gennete,
Claude Brémond, A.J. Greimas e Roland Barthes reunidos, a princípio, no volume 8 da
revista francesa Communications.13
A importância dada ao gênero narrativo também contribuiu para a sua redescoberta no
texto bíblico, datando da década de 1970 os primeiros esforços na criação de uma
metodologia exegética para a narrativa bíblica: a Crítica Narrativa (Narrative Criticism).14
10 PADILLA C. René. A Contextualização do evangelho. In: ______. Missão Integral. São Paulo: FTLa-Brasil, 1992, p. 97.11 PADILLA. Idem, p. 114.12 Para introdução ao assunto: FITZMYER Joseph A. A Bíblia na Igreja. São Paulo: Loyola, 1997, p. 19-69.13 Cf. THISELTON Anthony C. New Horizons in Hermeneutics. Grand Rapids: Zondervan, 1992, p. 479-486. A coleção de ensaios intitulou-se: L’Analyse Structurale du Récit. Du Seuil, 8/1966. Pode-se encontrar a seleção desses ensaios em Português em: Análise Estrutural da Narrativa. Pesquisas semiológicas. Petrópolis: Vozes, 1972.14 Do ponto de vista estritamente literário, a obra fundamental permanece: ALTER Robert. The Art of Biblical Narrative. Basic Books, 1981; REYES George. Esbozo histórico de los acercamientos literários al texto bíblico. Kairos 24 (1999) 39-53; STAMPS Dennis L. Rhetorical and Narratological Criticism. In:
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A Narratologia, em suas origens, postulou a mudança de foco na teoria literária da
narrativa: do autor para a estrutura do texto narrativo. Desenvolvimentos mais recentes,
porém, apontaram para a necessidade de se observar os processos culturais de produção e
recepção das narrativas. Essa denominada posição contextualista afirma que15
a Narratologia falha ao não levar em consideração o contexto no qual a literatura é situada: ‘Longe de ser autônoma, auto-contida, auto-motivadora, cujos objetos existem livres do contexto, existindo independentemente dos interesses ‘pragmáticos’ do discurso ‘cotidiano’, a obra literária tem lugar no contexto, e como qualquer outra declaração não pode ser descrita à parte daquele contexto”.
Desde esta nova perspectiva, a Narratologia contextual (Contextualist Narratology),
agora mais ampla e contemporânea, estuda16
a teoria de narrativas, textos, imagens, espetáculos, eventos narrativos; artefatos culturais que ‘contam uma história’. Tal teoria nos ajuda a entender, analisar e avaliar narrativas...o segmento da realidade que a narratologia se esforça por fazer seus pronunciamentos consiste de ‘textos narrativos’ de todos os tipos, compostos para uma variedade de propósitos e servindo a muitas diferentes funções.
Abordagem semelhante à Narratologia contextual se encontra na proposta da História
Cultural. Também oriunda de mudanças ocorridas nos estudos históricos na segunda
metade do século passado, a História Cultural reúne as abordagens da Antropologia
Cultural e da História, preocupada com as tradições da cultura popular e as interpretações
culturais da experiência histórica.17
A História Cultural atenta ao que denomina micro-história ou história do cotidiano, aos
detalhes, visíveis apenas na micro-estrutura social. Dentre outras tarefas, ela registra,
examina e interpreta as narrativas que descrevem o conhecimento passado, os costumes e
as manifestações artísticas de uma determinada sociedade humana vinculada à sua cultura,
descrevendo os seus variados modos de vida que envolve o conjunto de sua atividade
cultural passada, seu lugar no presente e os possíveis futuros desenvolvimentos.
Esta pesquisa entende que a perspectiva de ambas as disciplinas é hermenêutica, pois
assume que o gênero narrativo, predominante nas culturas humanas, funciona como meio
PORTER Stanley E. (Ed.) A Handbook to the Exegesis of the New Testament. Boston/Leiden: Brill Academic Pub. Inc., 2002; POWELL Mark Alan. 15 CHATMAN Seymour. What Can We Learn from Contextualist Narratology? In: Poetics Today 11/2 (1990) 309-328, apud PRATT, 1977:115.16 BAL Mieke. Narratology. 2a. Ed. Toronto: University of Toronto Press, 1997, p. 4.17 Para uma introdução, ver: BARROS José D’Assunção. A História Cultural Francesa - Caminhos de Investigação. In: Fênix. Revista de História e Estudos Culturais. 2/II-4 (2005) 1-17. Acesso por meio do site www.revistafenix.pro.br.
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de conhecer, compreender e interpretar a realidade. Ele se constitui uma linguagem que
atua como uma estratégia hermenêutica por meio do qual o produtor e o leitor da narrativa
se comprometem e atuam na realidade.18
A pesquisa entende, ainda, que sendo o gênero narrativo presente em toda a parte,
também está presente no texto bíblico e na totalidade da cultura dos povos latino-
americanos, como belissimamente descreve Roland Barthes,19
inumeráveis são as narrativas do mundo. É de início uma variedade prodigiosa de gêneros, eles próprios distribuídos entre substâncias diferentes, como se toda matéria fosse boa para o homem confiar-lhe a sua narrativa; a narrativa pode ter como suporte a linguagem articulada, oral ou escrita, a imagem, fixa ou móvel, o gesto e a mistura ordenada de todas as substâncias; está presente no mito, na lenda, na fábula, no conto, na novela, na epopéia, na história, na tragédia, no drama, na comédia, na pantomima, no quadro pintado...nos vitrais, no cinema, nas histórias em quadrinhos, nas notícias de jornal, na conversa. Além disso, sob essas formas quase infinitas, a narrativa está presente em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as sociedades; a narrativa começa com a própria história da humanidade; não há, nunca houve em lugar nenhum povo algum sem narrativa...a narrativa está sempre presente, como a vida.
Portanto, a pesquisa trabalha com o postulado de que o gênero narrativo aproxima tanto
o produtor e o leitor original das narrativas bíblicas quanto o leitor latino-americano destas
narrativas, sendo que este, sensível à narrativa como aquele, ouve sua própria história no
texto bíblico.
Assim, a hipótese desta pesquisa é que é possível a utilização dos instrumentos de
análise da Narratologia Contextual e da História Cultural para a formulação de uma
metodologia para a Hermenêutica Latino-americana da Contextualização do texto bíblico.
Caso a hipótese seja confirmada, espera-se que, doravante, esta Hermenêutica habilite
os teólogos e teólogas evangelicais a ocupar importante lugar de auxílio à reflexão bíblico-
teológica latino-americana.
6. Metodologia
A fim de melhor conhecer a teoria da Hermenêutica da Contextualização, e de
compreender as bases, desenvolvimentos e possibilidades conceituais e práticas dos
instrumentos de análise da Narratologia Contextual e da História Cultural para aquela, será
18 Cfe.: DEL ÁGUA Agustín. “Interpretación del Nuevo Testamento y Métodos”. Estúdios Eclesiasticos 73 (1998) 3-42.19 BARTHES Roland. “Introdução à Análise Estrutural das Narrativas”. In: ___ A Aventura Semiológica. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 103,104.
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realizada uma pesquisa bibliográfica, de início, com a coleta documental, primária e
secundária, existente na literatura nacional e internacional, visando descrever os três
saberes autonomamente, por meio da sua classificação e explicação. A seguir, a pesquisa
pretende utilizar os instrumentos de análise da Narratologia Contextual e da História
Cultural para a formulação de uma metodologia para a Hermenêutica Latino-americana da
Contextualização do texto bíblico.
7. Articulação com o ensino e a extensão
Toda pesquisa em determinada área de estudos deve partir e corresponder ao projeto
pedagógico do respectivo curso que reúne o conhecimento relativo a tal área. No caso
específico da pesquisa proposta, há uma articulação inevitável com o ensino, tendo em
vista a constatação recente da importância da Hermenêutica da Contextualização para todo
conhecimento humano, visto que todo ele carece de interpretação, inclusive o teológico. À
medida que os resultados da pesquisa forem obtidos, será possível a discussão desta
importante questão contemporânea em seu próprio ambiente latino-americano, trazendo
grande contribuição para o curso de Teologia.
Uma significativa e consolidada atividade de extensão do curso de Teologia é a
produção da literatura de interpretação bíblica, denominada Série Leitura Bíblica,
publicada pela FATE-BH, cujos volumes iniciais circulam por todo o país atendendo,
sobretudo, à comunidade prisonal carente de boa literatura e boa formação cristã e ética.
Esta atividade é realizada por docentes e estudantes da área vinculados ou não ao estágio
supervisionado. Espera-se que os resultados da pesquisa se traduzam em pautas
hermenêuticas que estimulem e habilitem cada vez mais os estudantes e os professores a
continuarem essa atividade com competência e trazendo benefícios maiores e crescentes à
mesma.
8. Articulação com a demanda eclesial e social
A Hermenêutica do texto bíblico é uma tarefa da igreja inserida em seu contexto
histórico específico. Portanto, a igreja pode ser considerada uma comunidade de
interpretação, pois lhe cabe encontrar sua história no texto bíblico e localizar o texto
bíblico em sua história. A falta de auto-compreensão desta função conduz à absorção
acrítica do Evangelho e a um posicionamento estranho ao próprio ambiente latino-
10
americano por parte das igrejas evangélicas. A Hermenêutica da Contextualização parte
desse reconhecimento e pretende atender a esta ampla e urgente demanda eclesial das
igrejas evangélicas no continente latino-americano, de modo que elas aprendam a
interpretar o texto bíblico e a própria cultura, formando um testemunho relevante porque
contextualizado.
A satisfação de uma demanda por uma igreja evangélica contextualizada, refletindo e
atuando em sua própria sociedade e cultura, é o principal benefício que esta pesquisa
pretende alcançar. Trata-se de uma repercussão social indireta como resultado da formação
de uma autoconsciência da parte das igrejas e líderes evangélicos de Belo Horizonte, desde
que os resultados da pesquisa cheguem aos seus espaços por meio de palestras, mini-cursos,
estudos informais e formais.
9. Resultados esperados
Dentre os possíveis resultados esperados, diretos e indiretos, enumeram-se os seguintes:
1) Utilizar os instrumentos de análise das disciplinas da Narratologia Contextual e da
História Cultural para a formulação de uma metodologia para Hermenêutica da
Contextualização, permitindo que ela ocupe importante e necessário lugar junto à leitura do
texto bíblico que se realiza entre as igrejas evangélicas.
2) Conhecer as disciplinas da Narratologia Contextual e da História Cultural, suas bases,
desenvolvimentos e aplicações no pensamento contemporâneo pós-moderno.
3) Contribuir para o desenvolvimento da Hermenêutica da Contextualização na reflexão
bíblico-teológica latino-americana, de cunho evangelical.
4) Aplicar os resultados à disciplina Hermenêutica Bíblica do Bacharel em Teologia
visando ao aperfeiçoamento da disciplina.
5) Participar da discussão sobre as hermenêuticas latino-americanas desenvolvidas por seus
principais articuladores, visando trocar informações sobre suas pesquisas mais recentes.
Dentre as ações mais imediatas, haverá comunicações nos seguintes eventos: III Congresso
da Associação Brasileira de Interpretação Bíblica, ABIB, em Setembro, em São Paulo; no
IV Simpósio Filosófico-Teológico da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, FAJE, em
Setembro, em Belo Horizonte.
6) Estabelecer relações informais com os pesquisadores latino-americanos da Narratologia
Contextual, da História Cultural e da Hermenêutica da Contextualização, visando à
aproximação das pesquisas na área.
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7) Elaborar pautas hermenêuticas contextuais para a Série Leitura Bíblica.
10. Estratégias de difusão dos conhecimentos gerados
Quanto às estratégias para a disseminação do conhecimento gerado pela pesquisa, serão
procuradas as seguintes ações:
1) Apresentar um relatório final, possivelmente na forma de um livro, que aborde o
seguinte tema: Hermenêutica Latino-americana da Contextualização do texto bíblico:
contribuições da Narratologia Contextual e da História Cultural.
2) Publicar, ao longo do desenvolvimento da pesquisa, artigos em periódicos acadêmicos e
em eventos, comunicando os resultados obtidos.
3) Organizar eventos: painel, mini-cursos e seminários, para apresentação dos resultados da
pesquisa tanto à comunidade acadêmica como à comunidade externa em geral.
4) Envolver estudantes da graduação e da pós-graduação lato sensu do curso de Teologia
na pesquisa de modo a obter trabalhos de TCC que envolvam a temática sob estudo.
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