projeto de cooperação técnica pct bra/iica/05/004 – pan desertificação
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PROJETO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA
PCT BRA/IICA/05/004 – PAN DESERTIFICAÇÃO
Boas Práticas. Sobradinho/BA
PRODUTO 1 – Relatório Técnico contendo as etapas para o
levantamento das informações e identificação dos Saberes Tradicionais e
Boas Práticas de usos e conservação dos recursos naturais nos Estados que
compõem a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (Médio e Submédio e
Baixo São Francisco)
Adalcira Santos Bezerra Consultora
Brasília-DF
2013
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 01
2. O SEMIÁRIDO BRASILEIRO................................................................................ 02
3. ÁREAS SUSCEPTÍVEIS Á DESERTIFICAÇÃO - ASD......................................... 09
3.1. Desertificação.................................................................................................... 09
4. AS BACIAS HIDROGRÁFICAS E A DESERTIFICAÇÃO..................................... 14
5. CARACTERIZAÇÃO GERAL DA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO................. 14
5.1. Alto São Francisco............................................................................................ 17
5.2. Médio São Francisco........................................................................................ 18
5.3. Submédio São Francisco................................................................................. 18
5.4. Baixo são Francisco......................................................................................... 19
6. PROGRAMA DE REVITALIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRACISCO.................................................................................................................
24
7. COMUNIDADES TRADICIONAIS......................................................................... 26
8. CAMINHOS A PERCORRER ............................................................................... 30
9. CONCLUSÕES...................................................................................................... 33
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 34
1
1. INTRODUÇÃO
Na região semiárida do Nordeste brasileiro, a ocupação desordenada das
terras - para fins econômicos, notadamente a agricultura extensiva e a pecuária; a
especificidade climática; a escassez hídrica, são contribuintes para o processo de
desertificação à desertificação, imposta ao meio ambiente e à população residente
nesta região. Contudo, esse panorama que possui escala global, vem afetando
todos os países, com agravamento nos menos desenvolvidos e em
desenvolvimento, e se constitui na emergência de intervenção por meio de uma
agenda permanente, por parte de todas as nações, a partir do Plano de Ação
Mundial de Combate à Desertificação, baseado no qual o Brasil elaborou o seu
Programa de Combate à Desertificação (PAN-BRASIL).
A implementação do PAN-Brasil requer o envidamento de esforços dos
diversos setores do governo federal, sendo assim, o DCD/SEDR/MMA e o
Departamento de Revitalização de Bacias Hidrográficas da Secretaria de Recursos
Hídricos e Ambiente Urbano - DRB/SRHU/MMA, se alinham em torno da
estruturação de ações práticas na perspectiva de implementação deste Programa,
em diálogo com os processos do Programa de Revitalização da Bacia Hidrográfica
do Rio São Francisco (PRSF), que nesta consultoria, se enquadra em três linhas
técnico-temáticas: Agenda Socioambiental, Proteção e Uso Sustentável de Recursos
Naturais, e Economias Sustentáveis.
Assim, as regiões da Bacia Hidrográfica do rio São Francisco, afetas pelo
processo e fenômeno de desertificação, demandam políticas e programas de
convivência com a semiaridez, bem como o resgate e permanência dos saberes
tradicionais, além da busca e intensificação de alternativas e boas práticas que
integradas contribuam com a melhoria das condições de vida humana, conservação
dos recursos naturais e convivência com a seca.
Este relatório tem por finalidade atender ao contrato de prestação de
serviços de consultoria n º 113020, relativo ao termo de referência nº 3117 para o
Instituto Interamericano de Cooperação para a agricultura – IICA, para desenvolver o
2
RT1 constando, "Etapas para o levantamento das informações e identificação dos
saberes que possibilitem uma convivência com a semiaridez nos estados que
compõem a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (Médio, Submédio e Baixo São
Francisco).
2. O SEMIÁRIDO BRASILEIRO
O termo semiárido normalmente é usado para descrever o clima e as
regiões onde ocorrem precipitações médias anuais entre 250 e 500 mm.
Abrangendo a maior área territorial dentre os espaços naturais que compõe a região
Nordeste, localizada em uma região que recebe pouca influência das massas de ar
úmidas e frias vindas do Sul, o semiárido se caracteriza por médias térmicas acima
de 26° C, índice pluviométrico com média anual entre 300 mm e 800 mm, além de
distribuição irregular das chuvas, baixa umidade, intensa evaporação e elevado
escoamento superficial das águas. Estas condições conformam uma acentuada
deficiência hídrica que se constituem no principal problema que afeta o povo
nordestino (LOPES, 2008).
Outra característica torna o semiárido com atributo diferenciado em
proporção com relação a outros países, em condições normais, chove cerca de
1000 milímetros, embora essa chuva seja má distribuída física e temporalmente. Só
em picos de secas, chove pelo menos 200 milímetros, (GALVÍNCIO & RIBEIRO,
2005). Ou seja, não é a ausência ou falta de chuva ou de água, o indicador para o
déficit hídrico, ocorre que o nível de evaporação chega a três vezes mais do que o
de precipitação. Então, a constatação é quanto ao desequilíbrio entre o que evapora
e o que precipita. A questão exige o comprometimento de esforços em pesquisas
para a implementação de políticas públicas que deem conta da reversão da situação
de escassez hídrica, de modo que essa água seja “guardada” para os períodos de
seca.
A região semiárida no Nordeste, tem como característica peculiar a
predominância do bioma Caatinga, que constitui o Sertão. Uma vegetação única no
3
mundo e tida como a mais ameaçada do Brasil, que, de acordo com Cirilo (2008), é
composta prioritariamente por arbustos que perdem as folhas nos meses mais secos
ou por pastagens que secam na época de estiagem. Informações do Instituto
Nacional do Semiárido Brasileiro – INSA1, dão conta de que, conforme dados
extraídos do XII Recenseamento Geral do Brasil (Censo Demográfico 2010),
realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o semiárido está
demarcado por 1.135 municípios, distribuídos por nove estados da Federação: Piauí,
Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia
(Região Nordeste) e Norte de Minas Gerais (Região Sudeste), o que representa
980.133,079 Km², onde reside uma população de 22.598.318 habitantes, que
representam aproximadamente 12,% da população brasileira, com predomínio para
a população adulta, sendo que a zona rural possui 8 milhões.
A realidade da população do semiárido brasileiro, decorrente das condições
climáticas, e socioambientais, levou o Governo Federal por meio do Ministério da
Integração Nacional (MI), ainda no ano de 2004, em parceria com o Ministério do
Meio Ambiente (MMA), a constituir grupos de trabalho para pesquisar e elaborar um
estudo para redelimitação da região semiárida, objetivando a melhor distribuição de
políticas públicas. Como resultado, foram acrescidos 102 municípios, 9% de sua
área, com 1.133 municípios (enquanto que o Insa, informa a existência de 1.135
municípios) em 982.563,3 km², (Quadro 1 e Figura 01).
Quadro . Números de Municípios do Semiárido, área e população, segundo
unidades da federação.
Estados Nº de Municípios Área População
Piauí 127 150.454,25 969.399
Ceará 150 126.514,87 4.211.292
Rio Grande do
Norte 147 49.589,87 1.601.170
Paraíba 170 48.785,32 1.966.713
1 O Insa tem por finalidade a promoção do desenvolvimento científico e tecnológico do
Semiárido brasileiro, bem como realizar e divulgar estudos e pesquisas para o fortalecimento do desenvolvimento sustentável desta região.
4
Pernambuco 122 86.719,44 3.236.741
Alagoas 38 12.686,86 838.740
Sergipe 29 11.175,64 396.399
Bahia 265 393.589,96 6.453.283
Minas Gerais 85 103.589,96 1.184.527
Total 1.1333 982.563,0 20.858.264
Fonte: Relatório final elaborado pelo GT interministerial para a redelimitação do semiárido
nordestino e do Polígono das Secas - MI, 2005.
Figura 1. Nova Delimitação do Semiárido.
Fonte: Nova Delimitação Semiárido Brasileiro (MI).
5
Conforme consta do Documento Base do Programa Água Doce2, uma ação
do Governo Federal, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente por meio da
Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano (SRHU), o semiárido apresenta
particularidades que apontam para a escassez hídrica:
Pouca chuva: a precipitação média anual para o período de 1961 a 1990
variou de 550 mm a 1550 mm. Outra característica concentração das
precipitações pluviométricas em um curto período do ano – aproximadamente
4 meses;
A evapotranspiração potencial é bastante elevada, variando de 1400 a 2000
mm (ÁRIDAS, 1994), resultando em taxas negativas no balanço hídrico;
O índice de aridez nessa região varia de 0,21 - 0,50. Este índice é definido
como a razão entre a precipitação e a evapotranspiração potencial. As áreas
com índice de aridez. Abaixo de 0,65 são susceptíveis à desertificação
(Brasil, 1998). Estas, cobrem uma superfície de 1.340.863 km2, sendo que as
mais escuras representam as áreas semiáridas;
Vegetação rala, constituída de árvores de pequeno porte, formando o bioma
da caatinga, vegetação arbóreo - arbustiva e, muito raramente, arbórea,
comportando folhas miúdas e hastes espinhentas adaptadas para conter os
efeitos de uma evapotranspiração muito intensa;
Baixa disponibilidade hídrica superficial;
As bacias localizadas em terrenos cristalinos, com regime de chuva irregular,
possuem vazões de estiagem muito baixas. A rede hidrográfica é densa,
constituída, em sua maior parte, de rios intermitentes, o que gera
necessidade de captação e armazenamento de água por meio de obras
hídricas (açudes, cacimbas, poços amazonas, poços tubulares, cisternas,
barragens subterrâneas);
Baixa vocação hidrogeológica, ou seja, reduzida capacidade de
armazenamento de água subterrânea.
2 O Programa Água Doce (PAD), visa o estabelecimento de uma política pública permanente
de acesso à água de boa qualidade para o consumo humano, promovendo e disciplinando a implantação, a recuperação e a gestão de sistemas de dessalinização ambiental e socialmente sustentáveis para atender, prioritariamente, as populações de baixa renda em comunidades difusas do semiárido.
6
Para Cirilo, Montenegro; Campos (sem data), a questão relacionada à
escassez de chuvas reside na variabilidade temporal das precipitações e das
características geológicas dominantes, onde há predominância de solos rasos
baseados nas rochas cristalinas e consequentemente baixas trocas de água entre o
rio e o solo adjacente. A maior exceção é o Rio São Francisco, que nasce na Serra
da Canastra, em Minas Gerais.
Em alusão à escassez de chuvas, Malavezzi (2007), diz que “É importante
destacar que o Semiárido tem apenas duas estações: uma chuvosa e a sem chuvas
e que um dos principais problemas que assola essa região não é a falta de água,
mas o acesso a ela”.
Outra questão dos períodos, historicamente, prolongados de secas, são as
contradições e injustiças sociais que resultam em graves situações para a população
que ali reside, com desdobramentos negativos incalculáveis, como a perda de vidas
humanas; alta mortandade das crias (animais); perda da produção de subsistência,
com consequente adaptação adversa, por desconhecimento; à convivência com o
semiárido; aumento do estado de pobreza; avultamento da desatenção à educação
e saúde; baixa expectativa de vida; à "expulsão" de significativa parcela da
população, mulheres, jovens, homens para as sedes e grandes centros, geradores
de acentuado problemas sociais, entre outros.
Na região semiárida, a caatinga, única no mundo, é o bioma predominante,
na língua tupi significa “mata branca”, possui vegetação xerófila, uma característica
adaptativa aos habitats secos por sobreviverem com quantidades de água
reduzidas, “... com folhas pequenas que reduzem a transpiração, os caules
suculentos para armazenar água e com raízes espalhadas para capturar o máximo
de água durante as chuvas” (SILVA, 2006).
Sabe-se que o semiárido possui um ecossistema frágil, com baixa
capacidade de regeneração e que o processo erosivo remonta séculos, cerca de 80
anos, e tem suas origens no desmatamento da caatinga para fins econômicos, seja
7
a agricultura irrigada ou de sequeiro, a produção de carvão devido em grande parte
à expansão do setor siderúrgico, mineração, pecuária ou no “...sobrepastejo de
caprinos e ovinos”, (ACCIOLY, 2013).
Essas práticas, além da destruição da fauna e flora e de levar os solos à
exaustão, provocaram na região o esgotamento dos recursos hídricos, por seu uso
irracional, exigência desse modelo de agricultura e indústria, fatores agravantes para
a maior incidência da poluição hídrica, cheias, redução de áreas de produtivas, seca
mais prolongada. Como consequência, ocorre um alargamento dos impactos
ambientais e o surgimento do fenômeno da desertificação e do aumento de áreas
suscetíveis à desertificação de modo geral.
Um aspecto a considerar no conjunto de causas e consequências
operadoras na degradação do semiárido, diz respeito ao processo de salinização
dos solos3, fruto da pressão antrópica exercida com intensidade, principalmente, na
agricultura irrigada extensiva.
“Nesse contexto, a salinização é a principal causa da degradação dos solos
e consequente desertificação nas áreas de agricultura irrigada. A desertificação
associada à salinização dos solos ocorre em maior ou menor proporção em quase
todas as áreas irrigadas do Nordeste e, embora sua expressão em termos de área
seja consideravelmente menor, quando comparada às áreas de sequeiro afetadas
pelo problema, o seu custo socioeconômico é comparativamente, também, elevado.
Dos núcleos de desertificação, o de Cabrobró é o único onde a salinização,
mesmo sem se constituir na principal causa, apresenta alguma relevância no
processo de desertificação das suas áreas situadas às margens do rio São
Francisco” (ACCIOLY, sem data).
3 O processo de salinização dos solos e das águas subterrâneas e superficiais é um dos mais
importantes problemas de degradação ambiental, com seus efeitos prejudiciais sendo mais pronunciados nas áreas de regiões áridas e semiáridas, e que vem crescendo rapidamente em diversas partes do globo, causando problemas de grandes proporções na produtividade das culturas agrícolas. Numa escala mundial, existe uma área de aproximadamente 400 milhões de hectares de terras utilizada com agricultura, porém cuja produção vem sendo severamente restringida pela salinidade (Bot et al., 2000).
8
O entendimento da definição do que é clima semiárido e subúmido seco
utilizado internacionalmente, é dado pelo Índice de Aridez de Thorntwaite de 1941,
que é calculado como divisão entre a quantidade de chuva que cai no solo
(precipitação) e a quantidade de água que evapora (evapotranspiração). Ou seja,
conforme, Relatório Final Grupo de Trabalho Interministerial para a Redelimitação do
Semiárido Nordestino e Polígono das Secas4, "o cálculo desse índice utilizam-se
como indicadores as precipitações e as temperaturas, para calcular-se a
evapotranspiração potencial". Há uma proporcionalidade entre a menor quantidade
de água retida no solo e o maior é o Índice de Aridez". O Quadro 2, ilustra as cinco
Classes Climáticas existentes.
Quadro 2. Cinco Classes Climáticas
Hiperárido Menor que 0,03
Árido 0,03 a 0,20
Semiárido 0,21 a 0,50
Subúmido Seco 0,51 a 0,65
Subúmido Úmido Maior que 0,65
3. ÁREAS SUSCEPTÍVEIS À DESERTIFICAÇÃO - ASD5
3.1. Desertificação
Segundo JR & Pádua (2008), o termo "desertificação" foi criado em 1927
pelo cientista francês Louis Lavauden e posteriormente popularizado por André
4 Instituído para pelo governo federal para apresentar estudos e propostas de critérios para
redefinir a Região Semiárida do Nordeste e Polígono das Secas, para orientar políticas públicas de apoio ao desenvolvimento da região (em particular, do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste – FNE).
5 As condições ambientais das Áreas Susceptíveis à Desertificação - ASD (mormente as de
clima, solo, água e vegetação), associadas à pressão exercida sobre os recursos naturais, pela ação antrópica (pressão populacional, formas inadequadas de uso e ocupação do solo, entre outro s), vêm contribuindo para a deflagração de processos de desertificação em algumas de suas sub-regiões. .
9
Aubreville no final dos anos 1940, depois de uma década de experiências intensas
relacionadas com a degradação ambiental no centro-oeste americano, provocada
por desmatamentos e exploração intensa dos solos e agravada pela forte seca que
afetou a região entre os anos 1929 e 1936.
A questão da desertificação possui escala mundial, atingindo um sexto da
população. É uma questão afeta a todos os continentes, dos mais aos menos
desenvolvidos, passando pelos países em desenvolvimento onde os problemas
apresentam significativa gravidade, devido ao crescente apelo da nova ordem
mundial – a globalização – por intensa produção e consumo que empurra estes
países ao processo acelerado de degradação. Portanto, é uma questão complexa,
que envolve fatores ambientais, sociais, econômico e políticos, que demanda
relevante e irrestrita atenção e atitude por parte do poder público e da sociedade.
Para Sobrinho (1977), as evidências dos processos de desertificação no
semiárido brasileiro despontam a partir de 1970, embora, passam a ser objeto de
discussão e estudo a partir de 1977.
Nesse sentido, o Brasil participou da Conferência Internacional das Nações
Unidas para o Combate à Desertificação – UNCCD realizada em Nairobi, em 1977,
quando foi criado o Plano de Ação de Combate à Desertificação – PACD, com
objetivo de desenvolver ações em âmbito mundial, com a adesão voluntária dos
países que participaram da Conferência. Cabe ratificar que a Conferência, assumiu
um papel fundamental em todo o processo de luta contra a desertificação no mundo,
resultando:
a. na consolidação mundial do tema, levando muitos países a começarem a dar
maior importância a seus problemas ambientais em geral;
b. na introdução das regiões com climas áridos e semiáridos no cenário das
discussões, mostrando que os recorrentes problemas de pobreza e meio
ambiente necessitavam de um enfrentamento direto pela comunidade
internacional; e
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c. na criação do Plano de Ação Mundial contra a Desertificação.
Mais de uma década após Nairobi, sob a coordenação da Organização das
Nações Unidas - ONU, foi desencadeado processos de discussão em conferências,
que culminou na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Meio
Ambiente, realizada no Rio de Janeiro, em junho de 1992, a Rio-92. Nessa
Conferência, o assunto dominou a pauta, principalmente para os países com graves
problemas de desertificação, quando então, foi recomendada a elaboração da
Convenção Internacional de Combate à Desertificação, assinada por 100 países.
Entre os anos de 1993 e 1994, foi organizada e concluída a primeira
Convenção, em vigor desde 26 de dezembro de 1996. Destaca-se no artigo 1 da
Convenção Internacional das Nações Unidas de Combate à Desertificação, nos
países afetados por seca grave e/ou desertificação – UNCCD, a adoção do
conceito de que a desertificação deve ser compreendida como a degradação da
terra nas zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas, resultante de vários fatores,
incluindo as variações climáticas e as atividades humanas, que impliquem na perda
da capacidade produtiva da terra, esta uma vez degradada incide nos recursos
hídricos, na vegetação e na redução da qualidade de vida das populações.
Portanto, um conceito adverso ao de seca, que resulta num fenômeno que
ocorre naturalmente quando a precipitação, quantidade de chuva registrada é
significativamente inferior aos valores normais, provocando um sério desequilíbrio
hídrico negativo nos sistemas de produção dependente dos recursos hídricos, a
exemplo da diminuição da água disponível às atividades produtivas, como a
agricultura e a pecuária.
Retomando a linha dos fatos, os estudos que se iniciaram em 19977,
conforme citou Sobrinho (1977), quase uma década depois, a partir de 1986, a
Secretaria de Meio do Estado do Piauí – SEMA/PI e a Universidade Federal do
Piauí – UFPI, iniciaram estudos para a elaboração da Proposta de Plano de Ação
para Estudo da Desertificação no Nordeste. Como resultado dos estudos foram
11
reveladas as grandes dificuldades de abordagem do problema no Brasil e foram
sugeridas como medidas de curto prazo: o treinamento de equipes multidisciplinares
e a realização de um seminário regional, onde seriam discutidas as questões
conceituais e o estabelecimento de metas a serem atingidas pelo governo brasileiro
no controle da desertificação (ICID,1992).
Como desdobramento desse documento, no ano de 1986, a SEMA/PI, o
Ministério da Agricultura e a SUDENE, realizaram Seminário sobre desertificação.
No ano seguinte, foi realizado o primeiro curso internacional sobre o tema, na cidade
de Petrolina-PE, com a participação de alunos brasileiros e de origem africana, uma
iniciativa da SEMA, PNUMA, e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –
EMBRAPA, por meio de seu Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semiárido
– CPATSA.
No âmbito da Agenda 21, em 1997, foi dado início à formulação da Agenda
21 Brasileira. Mais do que um documento, essa Agenda constitui um processo de
planejamento estratégico participativo. Esse processo é conduzido pela Comissão
de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional – CPDS do
Ministério do Meio Ambiente.
Seguiram-se outros processos de negociação para a elaboração de outras
três convenções: a Convenção Quadro sobre Mudança Climática, a Convenção
sobre Diversidade Biológica e a Convenção das Nações Unidas de Combate à
Desertificação nos Países Afetados por Seca Grave e/ou Desertificação,
particularmente na África (UNCCD).
Nessa direção, em 2004, o Brasil levou a efeito a elaboração do Programa
de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca
(PAN-Brasil)6, um documento considerado eixo para a implementação das ações
6 O PAN-Brasil assume maior significado na medida em que faz referência e busca criar
condições de prosperidade para uma região com grandes déficits sociais e produtivos, resultantes de uma história ambiental, social, econômica e política, que configuraram um quadro muitas vezes desolador de pobreza e miséria.
12
articuladas no controle e no combate à desertificação, além de ser significativo para
os acordos entre os mais diversos segmentos sociais. Suas ações, encontram-se,
majoritariamente, no Nordeste Brasileiro, devido à grande presença de espaços
climaticamente caracterizados como semiáridos e subúmidos secos,
compreendendo os Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia. Além dos Estados do Maranhão e do Espírito
Santo com tendências, também, ao enquadramento nesta categoria, devido ao
avançado estágio de degradação.
Para tanto, o PAN BRASIL propõe:
o desenvolvimento de sistemas de informação e monitoramento para as regiões;
propensas à desertificação e seca;
a integração de estratégias para proteção dos recursos naturais;
atividades de conservação do solo, florestamento e reflorestamento e proteção de ambientes que devem ser intocáveis, para que possam garantir a capacidade de suporte dos ambientes que permitem uso controlado, e assim conserva r a qualidade ambiental para as atividades humanas;
sistemas alternativos de subsistência em áreas propensas à desertificação.
O espaço objeto da atuação do PAN-Brasil, caracterizado como Áreas
Susceptíveis à Desertificação - ASD, são descritos a seguir:
i. Núcleos de Desertificação reconhecidos pelo Ministério do Meio Ambiente –
onde distinguem-se quatro áreas com alto risco à desertificação: 1) Núcleo do
Seridó, localizado na região centro-sul do Rio Grande do Norte e centro-norte
da Paraíba, abrangendo uma área de aproximadamente 2.341 Km2,
envolvendo vários municípios em torno do município de Parelhas; 2) Núcleo
de Irauçuba no noroeste do Estado do Ceará abrangendo uma área de 4.000
Km2 incluindo os municípios de Irauçuba, Forquilha e Sobral; 3) Núcleo de
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Gilbués no Piauí, com uma área de aproximada mente 6.131 Km² envolvendo
os municípios de Gilbués e Monte Alegre; 4) Núcleo de Cabrobó em
Pernambuco que totaliza uma área de 5.960 Km2 abrangendo os municípios
de Cabrobó, Belém de São Francisco e Floresta.
ii. Áreas Semiáridas e Subúmidas Secas;
iii. Áreas do Entorno das Áreas Semiáridas e Subúmidas; e
iv. Novas Áreas Sujeitas a Processos de Desertificação.
Fundamental foi a premência da delimitação das Áreas Susceptíveis à
Desertificação do Brasil (ASD). Assim, dois anos após a elaboração do Programa,
foi lançado o Atlas das Áreas Susceptíveis à Desertificação do Brasil7. Este
documento reúne as principais variáveis e alguns indicadores relacionados direta ou
indiretamente aos processos de desertificação, a exemplo dos socioeconômicos e
ambientais para a caracterização das áreas.
4. AS BACIAS HIDROGRÁFICAS E A DESERTIFICAÇÃO
As bacias hidrográficas são importantes para que haja a sistematização dos
ambientes. A bacia hidrográfica é usualmente definida como a área na qual ocorre
a captação de água (drenagem) para um rio principal e seus afluentes devido às
suas características geográficas e topográficas.
Os principais componentes que compõem as bacias hidrográficas são:
“divisores de água” – cristas das elevações que separam a drenagem de uma e
outra bacia; “fundos de vale” – áreas adjacentes a rios ou córregos e que geralmente
sofrem inundações; “sub-bacias” – bacias menores, geralmente de algum afluente
do rio principal; “nascentes” – local onde a água subterrânea brota para a superfície
7 Este Atlas constitui uma compilação das principais variáveis e de alguns indicadores
relacionados direta ou indiretamente aos processos de desertificação.
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formando um corpo d’água; “áreas de descarga” – locais onde a água escapa para a
superfície do terreno, o mesmo que vazão; “recarga” – local onde a água penetra no
solo recarregando o lençol freático; e “perfis hidrogeoquímicos” ou “hidroquímicos” –
características da água subterrânea no espaço litológico.
As bacias de regiões áridas e semiáridas, por exemplo, abrigam um
diversificado mosaico de sistemas ambientais que sofrem expressivas
transformações motivadas pelo processo histórico de uso e ocupação da terra.
Diante de uma relação conflituosa entre sociedade e natureza nos sertões de clima
semiárido, sobressai na bacia, a desertificação como consequência da degradação
ambiental.
A Influência do clima seco, a irregularidade pluviométrica, altas
temperaturas, a exploração da vegetação para utilização em diversas atividades, a
supressão da mata ciliar, as mais variadas formas de erosão, dentre outros fatores,
tem comprometido os recursos hídricos, principalmente pela exposição dos solos,
que os torna mais vulneráveis à ação do vento, do sol e da chuva, provocando o
assoreamento dos rios, riachos e açudes.
5. CARACTERIZAÇÃO GERAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO
FRANCISCO
A Região Hidrográfica do São Francisco está entre as doze regiões
hidrográficas instituídas pela Resolução no 32, de 15 de outubro de 2003, do
Conselho Nacional de Recursos Hídricos, que definiu a Divisão Hidrográfica
Nacional, com a finalidade de orientar, fundamentar e implementar o Plano Nacional
de Recursos Hídricos (PNRH).
A região banhada pela Bacia do Rio São Francisco, mais conhecida como
“Velho Chico”, ou rio da integração nacional, é o retrato da nação brasileira – repleta
de desigualdades econômicas e sociais. Com 2.700 km de extensão e uma área de
drenagem de 634.781 km² (8% do território nacional), abrange 506 municípios (e
15
parte do Distrito Federal) em sete Unidades da Federação: Bahia, Minas Gerais,
Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Goiás e Distrito Federal, dentre os quais, 101 se
encontram na calha do rio. Possui uma população residente de 14 milhões - 30% da
população dos estados abrangidos pela bacia. (Figura 3)
Figura 3. Mapa com a divisão político-administrativa da bacia.
Fonte: Ministério da Integração Nacional – MI (2005).
O rio São Francisco tem 36 tributários de porte significativo, dos quais apenas
19 são perenes. Os principais contribuintes são os da margem esquerda, rios
Paracatu, Urucuia, Carinhanha, Corrente e Grande, que fornecem cerca de 70% das
águas em um percurso de apenas 700km. Na margem direita, os principais
tributários são os rios Paraopeba, das Velhas, Jequitaí e Verde Grande. A bacia do
São Francisco é dividida em quatro regiões: Alto São Francisco, das nascentes até
Pirapora-MG; Médio São Francisco, entre Pirapora e Remanso-BA; Submédio São
Francisco, de Remanso até a Cachoeira de Paulo Afonso; e, Baixo São Francisco,
16
de Paulo Afonso até a foz no oceano Atlântico (Figura 4).
Figura 4. Regiões Fisiográficas da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco.
Fonte: Plano da BHSF.
5.1. Alto São Francisco
O Alto São Francisco estende-se desde as cabeceiras na Serra da Canastra,
município de São Roque de Minas, até a foz do rio das Velhas, abaixo da cidade de
Pirapora, com cerca de 100.076 km2, ou 16% da área da bacia, tendo 702 km de
extensão e com uma população, segundo o censo de 2000, de cerca de 6,247
milhões de habitantes. Abrange as sub-bacias dos rios Pará, Paraopeba e das
Velhas na margem direita, e as sub-bacias do Indaiá, Borrachudo e Abaeté na
margem esquerda, que conformam seus limites, incluindo a usina hidrelétrica de
Três Marias.
Essa região, apresenta topografia acidentada, com serras e terrenos
ondulados e altitudes de 1.600 a 600m. O divisor leste é formado pela Serra do
Espinhaço, estreita e alongada na direção N-S, e com altitudes de 1.300 a 1.000m.
17
Do lado oeste, destaca-se a Serra da Mata da Corda, divisor com o rio Paranaíba,
com cotas em torno de 1.200m de altitude. Sobressaem-se, ainda, os
escalonamentos de superfícies de erosão que vai até a depressão São Franciscana
em direção à calha do rio e seus principais afluentes, cuja cota, em Pirapora, é de
cerca de 450 m.
5.2. Médio São Francisco
O Médio São Francisco compreende o trecho desde as imediações de
Pirapora (MG) até a cidade de Remanso (BA), com 402.531 km2, ou 63% da área da
bacia, tendo 1.230 km de extensão, com uma população de cerca de 3,23 milhões
de habitantes (Censo, 2000). Inclui as sub-bacias dos rios Paracatu, Urucuia,
Carinhanha, Corrente, Grande e Pilão Arcado a oeste, e as sub-bacias do Jequitaí,
Verde Grande, Paramirim, Jacaré e Verde a leste, situando-se nos estados de Minas
Gerais e Bahia.
5.3. Submédio São Francisco
O Submédio São Francisco abrange áreas dos estados da Bahia e
Pernambuco, estendendo-se de Remanso (BA) até a cidade de Paulo Afonso (BA),
com 110.446 km2, ou 17% da área da bacia, tendo 440 km de extensão e com uma
população de cerca de 1,94 milhão de habitantes (Censo, 2000). Inclui as sub-bacias
dos rios Pontal, Garças, Brígida Pajeú, e Moxotó à margem esquerda e Salitre,
Tourão e Vargem Grande à margem direita.
Nessa região, a altitude varia de 800 a 200m e se caracteriza por uma
topografia ondulada, com vales bem abertos devido a menor resistência à erosão
dos xistos e outras rochas de baixo grau de metamorfismo, onde sobressaem formas
abauladas esculpidas em rochas graníticas, gnáissicas e outros tipos de alto
metamorfismo. Destacam-se ainda nessa região fisiográfica as represas de
Sobradinho, Itaparica e Paulo Afonso.
18
Na extremidade oeste da fronteira norte tem-se a Chapada Cretácea do
Araripe com altitude de 800m, que se prolonga para leste através da Serra dos
Cariris esculpida em rochas graníticas e gnáissicas de idade pré-cambriana. Do lado
sul ressalta-se as formas tabulares do Raso da Catarina, esculpidas em sedimentos
da bacia do Tucano, com altitude de 300-200m.
A caatinga predomina em quase toda a área e a precipitação média anual
chega a 450mm na região de Juazeiro/Petrolina e a máxima é de 800mm, nas serras
divisórias com o Ceará. A temperatura média anual é de 27 ºC; a evaporação é da
ordem de 2.000mm anuais e o clima é tipicamente semiárido.
As principais cidades são: Juazeiro e Paulo Afonso, na Bahia; e Petrolina,
Ouricuri, Salgueiro, Serra Talhada e Arcoverde em Pernambuco.
5.4. Baixo São Francisco
O Baixo São Francisco estende-se de Paulo Afonso (BA) até a sua foz, entre
Sergipe e Alagoas, no Oceano Atlântico, com 25.523km2, ou 4% da área da bacia,
tendo 214 km de extensão e com uma população de cerca de 1,37 milhão de
habitantes (Censo, 2000). Compreende as sub-bacias dos rios Ipanema e Traipu na
margem esquerda e Curituba e Capivara na margem direita. Situa-se em áreas dos
estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas.
A altitude varia de 200m até o nível do mar, embora, nos divisores algumas
serras atinjam 500 m. Na região entre Paulo Afonso e Canindé do São Francisco
ressalta-se um grande trecho do rio encaixado em fraturas e profundas gargantas
denominadas de Canyons do São Francisco, onde se localiza a represa de Xingó.
As principais características hidroclimáticas da Bacia do rio São Francisco
para cada uma de suas regiões fisiográficas, estão sumarizadas no Quadro 3.
19
Quadro 3– Principais características hidroclimáticas da Bacia do São Francisco.
Característica Regiões Fisiográficas
Alto Médio Submédio Baixo
Clima
predominante
Tropical
úmido e
temperado de
altitude
Tropical
semiárido e
Subúmido e
seco
Semiárido e
árido
Subúmido
Precipitação anual
(mm)
2000 a 1.1000
(1.372)
1400 a 600
(1.052)
800 a 350
(693)
350 a 1.500
(957)
Temperatura
média ºC 23 24 27 25
Insolação média
anual (h) 2.4001 2.600 a 3.300 2.800 2.800
Evapotranspiração
média anual (mm) 1.000 1.300 1.550 1.500
Fonte: ANA/SPR e Programa de Ações Estratégicas – PAE (ANA/GEF/PNUMA/OEA).
Enquanto a precipitação média anual na Bacia é de 1.036 mm,
espacialmente, a chuva anual pode variar desde menos de 600 mm, no Semiárido
nordestino, entre Sobradinho (BA) e Xingó (BA), até mais de 1.400 mm, nas
nascentes localizadas no Alto São Francisco, em Minas Gerais.
Ainda relacionado ao clima, cabe destacar uma área relevante, a qual
extrapola o âmbito da Bacia, que é o Semiárido. Este é um território vulnerável e
sujeito a períodos críticos de prolongadas estiagens, que apresenta várias zonas
geográficas e diferentes índices de aridez. As frequentes e prolongadas estiagens
da região têm sido responsáveis por êxodo de parte de sua população. A região
semiárida ocupa cerca de 57% da área da Bacia, abrange 218 municípios na região
e, apesar de situar-se majoritariamente na região Nordeste do país, alcança um
trecho importante do norte de Minas Gerais (PBHSF, 2004).
A cobertura vegetal da Bacia contempla fragmentos de diversos biomas
salientando-se a Floresta Atlântica em suas cabeceiras, o Cerrado (Alto e Médio São
20
Francisco) e a Caatinga (Médio e Submédio São Francisco). Ocorrem, ainda, áreas
de transição entre o Cerrado e a Caatinga, as florestas estacionais decídua e
semidecídua, os campos de altitude e as formações pioneiras (mangue e vegetação
litorânea), as últimas no Baixo São Francisco.
Característica digna de nota é a margem esquerda do São Francisco, bem
mais úmida, com rios permanentes e vegetação perenifólia. Na margem direita a
precipitação é menor, os rios são intermitentes e a vegetação é típica de caatinga.
Suas condições climáticas vão se tornando mais características de uma região
tropical semiárida.
A associação entre as condições naturais da região e as ações antrópicas ligadas à
forma como o homem ocupa o espaço e o utiliza é analisada sinteticamente a
seguir, destacando-se os pontos de vulnerabilidade ambiental com implicações na
gestão dos recursos hídricos da Bacia:
A degradação da vegetação natural é uma consequência da ocupação territorial,
sendo variável nas diversas áreas em função da dinâmica das atividades
econômicas. O desmatamento e as queimadas – com vistas à expansão das
atividades agrossilvopastoris, podem ser consideradas práticas históricas na
ocupação regional da Bacia, tornando-se acentuadas a partir do final da década
de 1960, quando a ocupação dos cerrados no Noroeste e Norte de Minas e no
Oeste Baiano tornou-se mais intensa.
As atividades mineradoras e de garimpo, no Alto São Francisco, que
provocam grandes impactos pelo desmatamento e geração de sedimentos,
comprometendo os recursos hídricos tanto de forma qualitativa como
quantitativa.
O extrativismo vegetal – praticado de forma difusa para atendimento às
necessidades domésticas (lenha, madeira, fibras) e para o atendimento das
necessidades energéticas de atividades industriais, com especial destaque
21
para o carvão vegetal. Produz efeitos sobre a geração de sedimentos e o
consequente assoreamento dos cursos d’água, na redução da qualidade da
água e na alteração de importantes áreas de recarga de aquíferos. Os
prejuízos à conservação da biodiversidade são também sérios, levando o
IBAMA e as Unidades da Federação a definirem áreas estratégicas para
instalação de unidades de conservação.
A remoção da cobertura vegetal e o uso do solo para agricultura, sem práticas
de conservação de água e do solo têm contribuído para o aumento do
assoreamento, dos processos erosivos, carreando sedimentos para a calha
dos rios da Bacia, alterando significativamente sua capacidade de retenção,
com efeitos inevitáveis nas planícies de inundação.
Esses processos de erosão ainda são mais preocupantes levando em
consideração que grande parte da bacia do Rio São Francisco está inclusa
nas áreas susceptíveis à desertificação, definidos pelo PAN-Brasil. No
Submédio e Baixo São Francisco, já estão identificadas regiões gravemente
ou muito gravemente afetadas com processos de desertificação. Na bacia de
modo geral, é preocupante a amplitude de áreas já afetadas por processos
erosivos (Figura 5).
A intensa ocupação das chapadas tem provocado a compactação
subsuperficial de extensas áreas, seja pela utilização intensiva de
motomecanização, seja pelo pastoreio Tem-se levantado questões quanto a redução
da capacidade de recarga dos aquíferos, o que precisa ser melhor estudado.
O mesmo ocorre com a exaustiva ocupação das margens dos rios, para
diversos fins, que tem sido uma das principais causas propulsoras da degradação da
Bacia, principalmente no que se refere à erosão e ao aumento de sedimentos no
leito dos rios. Em função dos tipos de sedimentos gerados pelos processos erosivos,
os efeitos têm sido diferenciados:
22
Os sedimentos arenosos têm formado grandes bancos de areia ao longo das
calhas dos rios que, em alguns casos, transformam-se em ilhas permanentes
em todo o Médio e Submédio São Francisco. Ao longo do Médio São
Francisco, são responsáveis pela formação de vazante, que corresponde
entre 1 a 3 km da margem do rio, de faixa de solos arenosos, que dificultam
seu aproveitamento sem grandes investimentos;
Os sedimentos siltosos têm sido os que efetivamente provocam o maior
volume de assoreamento, visto que são facilmente carreados pelo
escoamento superficial, porém não ficam em suspensão. Esse material é
totalmente depositado nos leitos dos rios, reduzindo a capacidade de
escoamento e provocando inundações frequentes nas planíciesaluviais,
característica mar cantes do Médio São Francisco;
Os sedimentos argilosos são facilmente carreados e geralmente ficam em
suspensão, promovendo a turbidez na água. Esse tipo de sedimento é
depositado quando encontra ambiente propício, como nos remansos dos
reservatórios.
A erosão é um fenômeno comum a três fortes impactos sofridos pela Bacia
do São Francisco: desmatamento, assoreamento e desertificação.
Com base em dados do IBGE (Censo Demográfico 2000), os seguintes
aspectos socioeconômicos podem ser evidenciados:
A população rural da Bacia corresponde a 25,6% do total;
A região do semiárido abrange 57% da área total da Bacia, com cerca de
361.825 km2, compreendendo 218 municípios e mais de 4.737.294
habitantes, sendo 52,4% população urbana e 47,6% rural;
No semiárido, apenas 3 municípios possuem população urbana com mais de
100.000 habitantes: Juazeiro (BA), Petrolina (PE) e Arapiraca (AL).
23
Figura 5. Áreas afetadas por processos de desertificação.
Fonte: Articulação Popular (2009).
6. PROGRAMA DE REVITALIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO
FRANCISCO
O Departamento de Revitalização de Bacias Hidrográficas (DRB), integrante da
estrutura da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano (SRHU) do Ministério do
Meio Ambiente (MMA), aprovado pelo Decreto nº 6.101, de 26 de abril de 2007, coordena
o programa de revitalização de bacias hidrográficas em situação de vulnerabilidade e
degradação ambiental, na qual se destaca a bacia do rio São Francisco.
O Programa foi concebido para superar, por meio de projetos e ações, as
deficiências socioambientais existentes, aprimorar os instrumentos e instâncias de gestão
com vista à revitalização e o desenvolvimento sustentável de bacias hidrográficas,
respaldado em documentos técnicos, na formulação de estratégia de planejamento e
gestão ambiental voltadas para a consolidação de políticas públicas articuladas e
24
permanentes.
O Programa de Revitalização da Bacia Hidrográfica do rio São Francisco tem por
objetivo promover um processo de recuperação, conservação e preservação do meio
ambiente, implementando ações integradas e permanentes que promovam efetivamente o
uso sustentável dos recursos naturais, a melhoria das condições socioambientais e o
aumento da quantidade e a melhoria da qualidade das suas águas para usos múltiplos.
O Programa atua por meio de instâncias de gestão nos três níveis de governo
(Federal, Estadual e Municipal) e das cinco áreas temáticas e respectivos componentes.
Estas representam as várias dimensões relacionadas diretamente à gestão ambiental e
ao desenvolvimento sustentável, estando vinculadas tanto as diretrizes da Política
Nacional de Meio Ambiente, como as diretrizes da Política Nacional de Recursos Hídricos
– PNRH, expressas na Lei nº 9.433/97, conforme estruturado pelo Departamento de
Revitalização de Bacias Hidrográficas, disposta no Quadro 4.
Quadro 4 - Áreas Temáticas
Área Temática 1 Área Temática 2 Área Temática
3
Área Temática
4 Área Temática 5
Planejamento e Informação
Fortalecimento Institucional Socioambiental
Proteção e Uso Sustentável dos Recursos Naturais
Saneamento, Controle de Poluição e Obras Hídricas
Economias Sustentáveis
Componentes Componentes Componentes Componentes Componentes
1.1.Gestão da Informação
2.1. Educação Ambiental
3.1. Conservação do Solo e da Água
4.1. Esgotamento Sanitário
5.1. Turismo
Sustentável
1.2. Ordenamento Territorial
2.2. Fortalecimento Institucional
3.2. Recuperação da Cobertura Vegetal
4.2. Resíduos
Sólidos
5.2. Agricultura e Reforma Agrária Sustentável
1.3. Monitoramento
2.3. Articulação Interinstitucional
3.3. Unidades de
4.3. Controle da Poluição
5.3.
25
Hidroambiental Conservação Convivência
com o
Semiárido
1.4. Agenda 21 2.4. Cultura
3.4. Conservação e Uso da Biodiversidade
4.4. Obras Hídricas
5.4. Gestão
Sustentável dos
Recursos
Pesqueiros
2.5. Dimensão de Gênero e Comunidades Tradicionais
Dentre as ações das áreas temáticas e respectivos componentes do PRSF,
para este trabalho, especificamente, três (Agenda Socioambiental, Proteção e Uso
Sustentável de Recursos Naturais e Economias Sustentáveis) expressam
convergência com as ações do PAN - Brasil, por buscarem empreender o
fortalecimento das comunidades tradicionais, para a convivência com o semiárido.
7. COMUNIDADES TRADICIONAIS
Por comunidades tradicionais, de acordo com o Decreto Nº 6.040, de 7 de
Fevereiro de 2007, que institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável
dos Povos e Comunidades Tradicionais, Art. 3o,, compreende-se:
I. Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e que
se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização
social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para
sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando
conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição;
II. Territórios Tradicionais: os espaços necessários a reprodução cultural, social
e econômica dos povos e comunidades tradicionais, sejam eles utilizados de
forma permanente ou temporária, observado no que diz respeito aos povos
26
indígenas e quilombolas respectivamente, o que dispõem os arts. 231 da
Constituição e 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e
demais regulamentações.
São identificados como Povos e Comunidades Tradicionais:
1. Comunidades quilombolas certificadas pela Fundação Cultural Palmares;
2. Povos Indígenas;
3. Povo terreiro ou Comunidades de Matriz Africana;
4. Pescadores e Marisqueiras;
5. Povo Cigano;
6. Comunidades de Fundos e Fechos de Pasto
7. Comunidades Extrativistas (Resex);
8. Comunidades de Geraizeiros (Oeste da Bahia).
Nesse contexto, o Governo Federal lançou, em 2008, o Programa Territórios
da Cidadania, instituindo na Bacia do São Francisco 16 Territórios, dos quais 14
abrangem, aproximadamente, 180 municípios dos estados da Bahia, Pernambuco,
Sergipe e Alagoas, conforme anexo 1.
Os Territórios da Cidadania tem como objetivos promover o desenvolvimento
econômico e universalizar programas básicos de cidadania por meio de uma
estratégia de desenvolvimento territorial sustentável. A participação social e a
integração de ações entre Governo Federal, estados e municípios são fundamentais
para a construção dessa estratégia.
Muito presentes na Região Hidrográfica do São Francisco, as comunidades
quilombolas, segundo a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), podem ser
definidas como “grupos que desenvolveram práticas de resistência na manutenção e
reprodução de seus modos de vida característicos num determinado lugar” ou seja,
está além do senso comum de movimentos insurrecionais ou rebelados contra o
sistema de trabalho escravista.
27
A legislação brasileira já adota o conceito acima de comunidade quilombola e
para o reconhecimento destas é necessário somente a autoidentificação, uma vez
que a classificação de comunidade como quilombola não se baseia em provas de
um passado de rebelião e isolamento, mas depende antes de tudo de como aquele
grupo se compreende, se define.
Atualmente no Brasil existem 61 terras tituladas, contemplando 119
comunidades com um total de 7.635 famílias numa extensão de 904,489 hectares
titulados (Comissão Pro-Índio, 2004). Os quilombolas do século 21 se esforçam para
preservar – ou mesmo recriar – a cultura de seus antepassados e desenvolver a
economia de suas comunidades, em especial a agricultura, para ganharem a
dignidade de uma vida acima da pura subsistência.
Na bacia do São Francisco estão formalmente localizadas 5 comunidades
remanescentes de quilombos tituladas, correspondendo a 17% do total de
comunidades tituladas do Brasil.
Existem ainda comunidades quilombolas atendidas pelo Programa Fome Zero
em 12 municípios da bacia: São João da Ponte em Minas Gerais; Bom Jesus da
Lapa, Malhada, Rio de Contas, Muquém do São Francisco e Wanderley na Bahia;
Itacuruba e Salgueiro em Pernambuco; Batalha e Poço das Trincheiras em Alagoas;
e Amparo do São Francisco e Porto da Folha em Sergipe.
As condições climáticas, aliadas ao contundente processo de desertificação,
ocasionado pelo modelo de explotação, ao qual está submetida a região semiárida,
de maneira geral, e em particular as regiões afetas à Bacia Hidrográfica do Rio São
Francisco, que conta com mais de duzentos municípios caracterizados como tropical
semiárido, e subúmido seco, semiárido e árido, demandam das populações
tradicionais, que ali vivem, buscar na convivência com a semiaridez a resposta para
a melhoria das condições de vida e ambiental.
É necessário, portanto, que as comunidades tradicionais desenvolvam em
28
seus territórios, intensamente, práticas sustentáveis, de adaptação, como o manejo
sustentável dos recursos naturais, assim como, o desenvolvimento de tecnologias
socioambientais no enfrentamento de situações adversas.
Adaptado do SEBRAE (2008), neste caso, boas práticas são aquelas que
refletem a aplicação de técnicas e ações não amplamente conhecidas que
representa um diferencial no trato do meio ambiente, possíveis para contribuir para o
uso sustentável e conservação dos recursos naturais, mas ainda não estão
totalmente disseminadas. Também é importante ressaltar que um conjunto de boas
práticas poderá ajudar a construir melhores práticas, evidenciando o processo de
melhoria contínua nas relações comunidade – meio ambiente que podem conduzir
para uma boa gestão deste recursos.
Melhores práticas são aquelas que refletem uma implementação de técnicas
e ações com alto grau de excelência, resultando, portanto, em uma diferenciação
significativa na implementação da atividade ou ação relacionada ao meio ambiente.
Importante ressaltar que a prática de excelência pode modificar o grau de exaustão
a que é submetido os recursos naturais, essencial para a convivência com o
semiárido.
No campo da agricultura familiar, tem-se como exemplos de convivência
com o semiárido, as práticas agrícolas que se preocupam com o manejo e
conservação do solo, uso racional dos recursos hídricos, entre outras ações que
estão voltadas para o equilíbrio ambiental, estas são realizadas por famílias que
compartilham dos preceitos da agroecologia. O cultivo agroecológico vem sendo
praticado pelos pequenos agricultores e agricultoras, sendo um grande aliado da
agricultura familiar(Figuras 6 e 7). Essa metodologia fortalece as técnicas do
cooperativismo, associativismo e vai de encontro à prática do agronegócio, que
persiste na produção de monoculturas e no uso de agrotóxicos degradando o meio
ambiente.
29
A filosofia da agroecologia é uma das alternativas de Convivência com
Semiárido. Moacir dos Santos, coordenador do Eixo Produção do Irpaa8, ressalta
que é necessário “pensar a agroecologia no Semiárido, de forma que possa
produzir usando o mínimo de água, ou preservando, potencializando a capacidade
que a natureza já tem de armazenar água”. Assim, esse método resgata tradições
rurais, como a de troca de sementes entre agricultores/as, cooperação com a
natureza e com a população, criação coletiva.
A agroecologia trabalha voltada para ações de sustentabilidade e respeitando
as riquezas ambientais e as características de cada região. Com isso os agricultores
e agricultoras precisam conhecer o clima, a fauna e flora da sua comunidade para
implantar o cultivo e criação de animais que são adaptados ao meio ambiente no
qual estão inseridos. Tem-se como exemplo a criação de bovinos como uma prática
não ecológica para a região do Semiárido, pois o boi bebe muita água, enquanto as
criações de caprinos e ovinos são mais apropriadas para a região (Irpaa).
Figura 6. Agroecologia, elemento importante para a Convivência com o Semiárido
Fonte: Irpaa
8 O IRPAA - Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada é uma organização não
governamental sediada em Juazeiro, na Bahia. A convivência com o Semiárido é a sua maior e mais importante meta. Soluções eficazes, que respeitam as características do povo e das terras desta região, são as alternativas que o instituto oferece a todos, através de seus diversos projetos. Para o IRPAA, há quase 20 anos, viver com o Semiárido é saber reconhecer o seu valor.
30
Figura 7. Caatinga em processo de recuperação/PE.
Fonte: Irpaa
8. CAMINHO A PERCORRER
A atual situação socioambiental no semiárido, desafia a preservação e
conservação dos recursos naturais, bem como o surgimento de condições dignas
para as populações desta região. Isso, suscita a construção de alternativas
sustentáveis de uso desses recursos, a partir do conhecimento da complexidade e
das potencialidades ambientais.
Tendo em vista identificar e conhecer, prioritariamente, na Bacia do rio São
Francisco, as estratégias condutoras de saberes tradicionais e boas práticas,
significativas e contribuintes na conservação dos recursos naturais, se faz
necessário a aproximação junto aos atores que tem seu modo de vida baseado na
convivência com a semiaridez, e na mesma linha, às instituições que se dedicam ao
desenvolvimento de melhores práticas, apoio técnico, capacitação, pesquisa e
outras ações para tanto.
O enfoque territorial dado pelo governo federal, para a atuação por meio de
políticas e programas de convivência com o semiárido, no conjunto dos Territórios
da Cidadania da Bacia Hidrográfica do São Francisco, constituídos nos 177
31
municípios dos estados (BA, PE, SE, AL), indica caminhos a serem trilhados neste
trabalho, não isoladamente, mas compartilhado, complementado com outras
iniciativas originadas tanto do governo federal, quanto dos estados, municípios,
iniciativa privada sem fins lucrativos, por exemplo. É nesse movimento que se
pretende navegar em terras semiáridas para a consecução das atividades.
Nesse contexto, o estudo contém o referencial de Territórios com
abrangência nas três regiões fisiográficas da Bacia do São Francisco: Médio (Bahia);
Submédio (Pernambuco); e Baixo (Sergipe e Alagoas), conforme apresentado no
quadro 7. Seguindo a sequência acima, foram identificados os municípios de Santa
Maria da Vitória que embora não esteja no semiárido, é um ponto de aproximação
com comunidades em situação de semiaridez no entorno; Juazeiro, Paulo Afonso,
por possuírem instituições com atuação consolidada junto às comunidades, do
ponto de vista de formação e práticas, contextualizada para a convivência
sustentável; na mesma linha, estão os municípios de Ouricuri e Araripe e os contidos
no Território do Pajeú, que congregam iniciativas de prefeituras, universidades e
ONGs; Palmeira dos Índios, a prefeitura vem desenvolvendo pequenos projetos de
recuperação de nascentes, já em Maravilha, as ONGs, despontam com atuação no
campo da agricultura familiar; Os municípios de Porto da Folha, Canindé, e Poço
Redondo, reúne iniciativas de associações e da prefeitura para aproveitamento de
água para diversos fins.
Para tanto, deverão ser realizadas no mínimo uma visita técnica em
comunidade por município, podendo ser sugerida pela instituição contatada, desde
que em acordo com o objetivo proposto nesta consultoria.
As etapas para a consecução desse estudo estão previstas em dois
momentos. O primeiro momento consiste do planejamento, para o qual, procedeu-
se: a identificação e seleção dos municípios objeto do levantamento; a identificação
dos atores institucionais com atuação na região semiárida, especialmente, na bacia
hidrográfica do São Francisco, tais como: associações, organizações da sociedade
civil, governo, instituições de ensino e pesquisa; e , quando possível, a identificação
32
de projetos e ações, modos de subsistência conduzidos por comunidades.
O segundo momento refere-se às atividades em campo, quando serão
realizadas reuniões com as instituições parceiras, articuladas com visitas técnicas
em comunidades, para conhecimento e coleta de informações dos saberes e
práticas em ASD. Para as visitas nas comunidades serão realizadas dinâmicas de
sensibilização que promovam a aproximação necessária, que possibilitem o diálogo
sobre as atividades praticadas/desenvolvidas, as questões socioambientais,
culturais quanto á convivência com a semiaridez e conservação dos recursos
naturais.
Também estão inseridos nesse momento a análise das informações
acessadas, tanto em documentos quanto junto às instituições e comunidades,
identificando as lacunas e necessidades para o fortalecimento socioambiental das
populações contatadas. Complementa - se, com a identificação de programas e
ações socioambientais do governo federal em implementação nos municípios
selecionados da bacia do São Francisco.
As informações relativas às etapas dos dois momentos, estados, regiões
fisiográficas, municípios, instituições, encontram-se indicadas nos quadros abaixo
(Quadros 5, 6 7 e 8):
Quadro 5 – Momento 1
Planejamento
Etapa 1 2 3
Atividade Identificar e selecionar os
municípios objetos do
levantamento
Identificar os atores
sociais para a tomada de
informações
Organizar
reuniões
Quadro 6 - Momento 2
Atividade em Campo
Etapa 1 2 3 4 5
33
Atividade Participar
das
reuniões
Realizar
pesquisa
Analisar as
informações
colhidas
Identificar ações
socioambientais
Identificar
programas
de governo
Quadro 7 - Regiões Fisiográficas/Territórios
Estado Região Municípios Territórios
BA Médio Santa Maria Corrente
BA Submédio Juazeiro Uauá
Sertão do São Francisco
BA
Submédio
Paulo Afonso Itaparica
PE Araripe Ouricuri
Serão do Araripe
PE
Pajeú Sertão do Pajeú
AL Baixo
Palmeira dos Índios
Agreste
Maravilha Médio Sertão
SE Baixo Porto da Folha Canindé Porto da Folha
Alto Sertão
Quadro 8 - Municípios/ Instituições Parceiras
Estado Município Instituição Comunidade
Visita
Técnica
(Nº)
Bahia
Juazeiro IRPAA A definir 1
Paulo
Afonso Agendha A definir 1
Sta. Maria
da Vitória Inema A definir 1
Salitre Ufba A definir 1
Pernambuco Araripe Fundação Araripe A definir 1
Araripe ADUA A definir 1
34
Território
Pajeú Sabiá A definir 1
Ouricuri INSA A definir 1
Alagoas
Palmeira do
Índios
Coop. Agropecuária de
Palmeira dos Índios A definir 1
Maravilha Movimento Minha Terra A definir 1
Sergipe
Porto da
Folha
Centro de Assessoria e
Serviço da Terra "Dom
José de Castro"
A definir 1
Canindé Prefeitura Municipal A definir 1
Poço
Redondo Associação A definir 1
8. CONCLUSÕES
De acordo com os últimos estudos, o semiárido brasileiro apresenta
peculiaridades climáticas discrepantes, o que ocasiona um regime de chuva com
acentuada irregularidade e com precária distribuição. Soma-se a esta constatação,
o histórico de degradação ambiental, sofrido pela região semiárida, a partir do
desmatamento avassalador, para fins de expansão econômica, sem a devida
racionalidade quanto ao uso dos recursos naturais. O resultado do fenômeno da
seca, e da ação antrópica pode ser constatado no processo de desgaste da terra,
desuda, atingida pela monocultura; pecuária; exploração de mineração, são do
fatores pelo processo erosivo e de desertificação instalado no semiárido e pelo
empobrecimento da população, que sem condições mínimas de sobrevivência, vem
sendo condenada às condições degradantes, do ponto de vista dos direitos
humanos.
A partir desse novo paradigma, vem sendo apoiadas e estimuladas ações
que valorizem os saberes tradicionais e as boas práticas, que incidam na
conservação dos recursos naturais conciliadas à convivência da população sertaneja
na região semiárida. Por esse motivo se faz mister, buscando interface, quando
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possível, com os arranjos territoriais e regiões fisiograficas propostos pelo governo
federal, identificar e conhecer como as comunidades tradicionais, na prática, vem,
ao longo dos tempos desenvolvendo meios para a sua sobrevivência,
prioritariamente, nas regiões de influência da bacia hidrográfica do rio São
Francisco, por meio das ações desenvolvidas por municípios, ONGs, associações e
pela própria comunidade, que colaborem na valoração e conservação desses
recursos, visando a disseminação e aplicação dessas práticas como ferramenta para
a revitalização da Bacia Hidrográfica e para o Combate à Desertificação.
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
____________________. Atlas de áreas susceptíveis à desertificação do Brasil. Brasília : MMA/SRH, Universidade Federal da Paraíba, 2007. _____________________. Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca. Brasília : MMA/SRH, 2005. _________REFLEXOS DA DESERTIFICAÇÃO NO NORDEST DO BRASIL.
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http://www.diadecampo.com.br/zpublisher/materias/Materia.asp. Colunas Assinadas. Acesso em abril de 2013. BAHIA. Coordenação de Políticas para Comunidades Tradicionais. Disponível
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Disponível em sítio eletrônico.
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http://www.territoriosdacidadania.gov.br/dotlrn/clubs/territriosrurais/one-community. Acesso em abril 2013. BRASIL. Programa de Revitalização do Rio São Francisco. Disponível em meio eletrônico. http://www.mma.gov.br/agua/bacias-hidrograficas/revitalizacaorio-saofrancisco. Acesso em março de 2013. BRASIL. Relatório Final do Grupo de Trabalho Interministerial para Redelimitação do Semiárido Nordestino e Polígono da Seca. Disponível em sítio
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5. A Questão da Água no Semiárido Brasileiro. Disponível em sítio eletrônico. http://www.abc.org.br/IMG/pdf/doc-811.pdf. Acesso em: maio de 2013. GALVÍNCIO, J. D. ; MOURA, M. S. B. de, apud (Galvíncio e Ribeiro, 2005). Semiárido. Disponível em meio eletrônico. http://www.mma.gov.br/estruturas/sedr_desertif/_arquivos/panorama_piaui.pdf http://www.revista.ufpe.br/revistageografia/index.php/revista/article/viewFile/51/18. Acesso em abril de 2013. http://www2.ufersa.edu.br/portal/view/uploads/setores/241/Dualismo.pdf. Acesso em Março 2013. http://www2.ufersa.edu.br/portal/view/uploads/setores/241/Dualismo.pdf. Acesso em abril de 2013. JUNIOR, Heitor Matallo. 1. Complexidade e Meio Ambiente: Um estudo sobre a contribuição de Edgar Morin Elisabete Matallo Marchesini de Pádua.
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1. Bahia
Território de Identidade - Irecê
O Território Irecê- BA abrange uma área de 27.490,80 Km² e é composto por
20 municípios: América Dourada, Barra do Mendes, Barro Alto, Cafarnaum,
Canarana, Ibipeba, Ibititá, Ipupiara, Irecê, Jussara, Lapão, Mulungu do Morro,
Presidente Dutra, São Gabriel, Uibaí, Central, Gentio do Ouro, Itaguaçu da Bahia,
João Dourado e Xique-Xique.
A população total do território é de 403.070 habitantes, dos quais 155.392
vivem na área rural, o que corresponde a 38,55% do total. Possui 41.011
agricultores familiares, 1.532 famílias assentadas e 26 comunidades quilombolas.
Seu IDH médio é 0,61.
Território Sertão do São Francisco
O Território Sertão do São Francisco - BA abrange uma área de 61.750,70
Km² e é composto por 10 municípios: Uauá, Campo Alegre de Lourdes, Canudos,
Casa Nova, Curaçá, Juazeiro, Pilão Arcado, Remanso, Sento Sé e Sobradinho.
A população total do território é de 494.624 habitantes, dos quais 178.664
vivem na área rural, o que corresponde a 36,12% do total. Possui 31.768
agricultores familiares, 2.371 famílias assentadas, 1 comunidades quilombolas e 1
terras indígenas. Seu IDH médio é 0,64.
Território Velho Chico
Território Velho Chico - BA abrange uma área de 46.334,80 Km² e é
composto por 16 municípios: Brotas de Macaúbas, Matina, Oliveira dos Brejinhos,
Barra, Bom Jesus da Lapa, Carinhanha, Feira da Mata, Ibotirama, Igaporã, Malhada,
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Morpará, Muquém de São Francisco, Paratinga, Riacho de Santana, Serra do
Ramalho e Sítio do Mato.
A população total do território é de 370.102 habitantes, dos quais 197.622
vivem na área rural, o que corresponde a 53,40% do total. Possui 31.256
agricultores familiares, 9.227 famílias assentadas, 30 comunidades quilombolas e 4
terras indígenas. Seu IDH médio é 0,62.
2. Pernambuco
Território Sertão do Pajeú
O Território Sertão do Pajeú - PE abrange uma área de 13.350,30 Km² e é
composto por 20 municípios: Brejinho, Calumbi, Carnaíba, Flores, Itapetim,
Mirandiba, Santa Cruz da Baixa Verde, São José do Belmonte, Solidão, Triunfo,
Tuparetama, Ingazeira, Afogados da Ingazeira, Iguaraci, Quixaba, Santa Terezinha,
São José do Egito, Serra Talhada, Sertânia e Tabira.
A população total do território é de 395.293 habitantes, dos quais 153.673
vivem na área rural, o que corresponde a 38,88% do total. Possui 33.804
agricultores familiares, 1.810 famílias assentadas, 16 comunidades quilombolas e 1
terras indígenas. Seu IDH médio é 0,65.
Território Sertão do Araripe
O Território Sertão do Araripe - PE abrange uma área de 12.020,30 Km² e é
composto por 10 municípios: Bodocó, Exu, Moreilândia, Santa Cruz, Santa
Filomena, Araripina, Granito, Ipubi, Ouricuri e Trindade.
A população total do território é de 307.658 habitantes, dos quais
142.520 vivem na área rural, o que corresponde a 46,32% do total. Possui 25.908
agricultores familiares, 423 famílias assentadas. Seu IDH médio é 0,62.
41
Território do São Francisco
O Território Sertão do São Francisco - PE abrange uma área de
14.682,20 Km² e é composto por 7 municípios: Afrânio, Dormentes, Cabrobó, Lagoa
Grande, Orocó, Petrolina e Santa Maria da Boa Vista.
A população total do território é de 434.835 habitantes, dos quais
154.008 vivem na área rural, o que corresponde a 35,42% do total. Possui 17.717
agricultores familiares, 4.694 famílias assentadas, 11 comunidades quilombolas e 2
terras indígenas. Seu IDH médio é 0,72.
Território Itaparica - BA/PE
O Território Itaparica - BA/PE abrange uma área de 21.806,30 Km² e é
composto por 13 municípios: Carnaubeira da Penha, Tacaratu, Abaré, Chorrochó,
Glória, Macururé, Paulo Afonso, Rodelas, Belém de São Francisco, Floresta,
Itacuruba, Jatobá e Petrolândia.
A população total do território é de 301.355 habitantes, dos quais
106.851 vivem na área rural, o que corresponde a 35,46% do total. Possui 16.494
agricultores familiares, 2.564 famílias assentadas, 9 comunidades quilombolas e 17
terras indígenas. Seu IDH médio é 0,67.
3. Alagoas
Território do Agreste
O Território do Agreste - AL abrange uma área de 4.579,40 Km² e é
composto por 16 municípios: Campo Grande, Coité do Nóia, Craíbas, Estrela de
Alagoas, Feira Grande, Girau do Ponciano, Junqueiro, Lagoa da Canoa, Taquarana,
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Arapiraca, Igaci, Limoeiro de Anadia, Olho d Água Grande, Palmeira dos Índios, São
Sebastião e Traipu.
A população total do território é de 578.296 habitantes, dos quais 256.791
vivem na área rural, o que corresponde a 44,40% do total. Possui 48.183
agricultores familiares, 986 famílias assentadas, 8 comunidades quilombolas e 6
terras indígenas. Seu IDH médio é 0,60.
Território do Alto sertão
O Território do Alto Sertão - AL abrange uma área de 3.935,20 Km² e é
composto por 8 municípios: Inhapi, Canapi, Mata Grande, Água Branca, Delmiro
Gouveia, Olho d Água do Casado, Pariconha e Piranhas.
A população total do território é de 169.107 habitantes, dos quais 91.231
vivem na área rural, o que corresponde a 53,95% do total. Possui 12.225
agricultores familiares, 1.038 famílias assentadas, 6 comunidades quilombolas e 1
terras indígenas. Seu IDH médio é 0,58.
Território do Médio Sertão
O Território do Médio Sertão - AL abrange uma área de 2.542,40 Km² e é
composto por 9 municípios: Senador Rui Palmeira, Carneiros, Dois Riachos,
Olivença, Ouro Branco, Poço das Trincheiras, Santana do Ipanema, Maravilha e São
José da Tapera.
A população total do território é de 153.422 habitantes, dos quais 83.638
vivem na área rural, o que corresponde a 54,51% do total. Possui 16.144
agricultores familiares, 0 famílias assentadas e 6 comunidades quilombolas. Seu
IDH médio é 0,56.
Território da Bacia Leiteira
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O Território da Bacia Leiteira - AL abrange uma área de 2.782,90 Km² e é
composto por 11 municípios: Jacaré dos Homens, Minador do Negrão, Batalha,
Cacimbinhas, Monteirópolis, Palestina, Major Isidoro, Belo Monte, Jaramataia, Olho
d Água das Flores e Pão de Açúcar.
A população total do território é de 125.693 habitantes, dos quais 59.046
vivem na área rural, o que corresponde a 46,98% do total. Possui 8.657 agricultores
familiares, 357 famílias assentadas e 12 comunidades quilombolas. Seu IDH médio
é 0,58.
Território Mata Alagoana
O Território Mata Alagoana - AL abrange uma área de 4.053,20 Km² e é
composto por 16 municípios: Atalaia, Branquinha, Cajueiro, Capela, Chã Preta,
Ibateguara, Mar Vermelho, Pindoba, Quebrangulo, União dos Palmares, Viçosa,
Murici, Paulo Jacinto, Pilar, Santana do Mundaú e São José da Laje.
A população total do território é de 321.674 habitantes, dos quais 93.947
vivem na área rural, o que corresponde a 29,21% do total. Possui 8.647 agricultores
familiares, 2.678 famílias assentadas e 6 comunidades quilombolas. Seu IDH médio
é 0,59.
4. Sergipe
Território do Alto Sertão Sergipano
O Território Alto Sertão - SE abrange uma área de 4.908,20 Km² e é
composto por 7 municípios: Monte Alegre de Sergipe, Nossa Senhora da Glória,
Canindé de São Francisco, Gararu, Nossa Senhora de Lourdes, Poço Redondo e
Porto da Folha.
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A população total do território é de 146.529 habitantes, dos quais 78.198
vivem na área rural, o que corresponde a 53,37% do total. Possui 12.833
agricultores familiares, 3.564 famílias assentadas, 2 comunidades quilombolas e 1
terras indígenas. Seu IDH médio é 0,58.
O território do Alto Sertão Sergipano, correspondente à Microrregião
Sergipana do Sertão do São Francisco, que corresponde à uma área geográfica de
490.068,6 ha. É formada pelos municípios de Canindé de São Francisco, Nossa
Senhora da Glória, Poço Redondo, Monte Alegre de Sergipe, Nossa Senhora de
Lourdes e Porto da Folha. Região que de acordo com o PAN – BRASIL, é área do
estado mais afetada pelo processo de desertificação, sendo classificada de acordo
com os indicadores adotados como Muito Grave;
Território do Baixo São Francisco
O Território Baixo São Francisco - SE abrange uma área de 1.967,10 Km² e é
composto por 14 municípios: Muribeca, Amparo de São Francisco, Brejo Grande,
Canhoba, Cedro de São João, Ilha das Flores, Japoatã, Malhada dos Bois, Neópolis,
Pacatuba, Propriá, Santana do São Francisco, São Francisco e Telha.
A população total do território é de 125.193 habitantes, dos quais 52.536
vivem na área rural, o que corresponde a 41,96% do total. Possui 6.900 agricultores
familiares, 907 famílias assentadas e 4 comunidades quilombolas. Seu IDH médio é
0,61.