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Projecto Educativo de Escola Cooperativa de Ensino A Torre

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Projecto Educativo deEscola

Cooperativa de Ensino A Torre

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Nota Prévia:

O presente documento visa estabelecer um

conjunto de princípios norteadores da prática

educativa na Torre, estabelecendo assim uma matriz

de referência para todos quantos trabalham ou

venham trabalhar na Cooperativa, razão pela qual

não se estipula para ele uma data limite ou um

período de vigência.

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PROJECTO EDUCATIVO

Princípios Fundadores/Linhas de Orientação

1 – O olhar sobre as crianças

Há na Torre um princípio fundamental que é norteador detoda a prática pedagógica da escola: acreditar que todas ascrianças têm em si a capacidade vital para sedesenvolverem como seres humanos e para, como tal,aprenderem. Desenvolvimento e aprendizagem têm, naescola, o mesmo significado.

Quando vai para a escola, qualquer criança tem já adquiridoum conjunto amplo de importantes conhecimentos que aescola deve aproveitar e ajudar a ampliar.

Além disso, qualquer criança traz em si os apetrechosnecessários para o seu próprio desenvolvimento erealização. Basta aos educadores que a acolhem na escoladar-lhe a palavra e os meios necessários para que ela amanifeste – num clima de confiança e de profundaaceitação, qualquer criança saudável vai querermanifestar-se.

Os conhecimentos das crianças, ampliados pelas trocascom colegas, pelo jogo e pela cooperação mútua,constituem, por assim dizer, os pilares para a construção deuma escola viva.

As interacções que as crianças têm possibilidade deestabelecer com o meio físico e humano que as envolveconstituem a forma mais natural e proveitosa de iniciação

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escolar. É com base nelas que experimentam e praticam,desenvolvendo a par e passo capacidades de observação,comparação, cálculo, reflexão.

Numa primeira instância, as explicações para os factos efenómenos com que as crianças lidam só farão sentido, seligadas às suas experiências pessoais. É sobretudo partindoda actividade infantil e da curiosidade que a desencadeiaque se pode almejar chegar a outras aquisições.

Cada criança procura, investiga e experimenta porque estáinteressada em descobrir; é ela a primeira criadora eelaboradora dos seus próprios conhecimentos que depoispode trocar e confrontar com os dos colegas. Nesteprocesso, as crianças tornam-se o sujeito das suas própriasaprendizagens e o professor, sobretudo, um facilitador queas incentiva e orienta.

É de uma importância crucial olhar para os alunos quechegam à escola como seres activos, capazes de combinare reorientar as informações que recebem do meio porqueisso significa contar, à partida, com a participação pessoalde cada criança no seu próprio processo de aprendizagem edesenvolvimento.

Quando realmente empenhada numa actividade que arequisite física e psicologicamente, qualquer criança seauto-disciplina e concentra na tarefa que tem em mãos – erealiza-se pessoalmente, ao descobrir as suas particularespotencialidades de descoberta e de aprendizagem.

A capacidade de trabalho e de realização valoriza osindivíduos, transformando-os em actores eficazes eresponsáveis perante a comunidade de que fazem parte.

É por isso imperativo que a escola possa oferecer a cadaum dos seus alunos reais possibilidades de sucesso – se ofracasso for admitido como um ponto de chegada possível,muitas crianças desmotivarão, perderão a confiança em simesmas, enfraquecerão. Razão pela qual, nenhum

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educador na escola se pode ficar pela tarefa de corrigir edevolver às crianças a correcção dos seus erros. A tarefa decada educador é, acima de tudo, ajudar os seus alunos aaprender com os erros, de forma a superá-los, e aconquistarem por si mesmos as etapas seguintes deaprendizagem e conhecimento. Qualquer erro tem que serassumido como uma oportunidade óptima deesclarecimento e de reorientação do caminho a seguir,despertando nos alunos a vontade de experimentar de novoe alimentando-os na busca de novas soluções.

Cada nova tentativa, cada novo ensaio, cada novaexperiência, abre um leque de novas possibilidades namente dos estudantes. Já não é só o contributo daexperiência ou da actividade em curso, mas sobretudo ocontributo do poder construtivo e reconstrutivo da menteque conduz os alunos a novas descobertas e produz nelesconhecimento novo.

Cada criança tem o seu próprio tempo; algumasapropriam-se mais rapidamente de determinadasexperiências e conseguem integrá-las, outras levam maistempo e precisam de uma maior variedade de estímulos.Mas todas chegam lá, é apenas uma questão de tempo.

Basta que o trabalho escolar esteja alicerçado naexploração pessoal por parte dos alunos e na sua acçãoautónoma. O processo de aprendizagem, seja de quecriança for, não deve jamais ser apressado, mas antesestimulado. Se ligado à vida psíquica e social dos alunos, oprocesso de conquista de conhecimentos e aquisição decompetências na escola desenvolve-se com sentido total everdadeiro, apelando àquele que é, porventura, um dosmais poderosos e dinâmicos instrumentos deaprendizagem: a imaginação e criatividade infantis.

Uma escola que aposta no pensamento imaginativo dascrianças, a par do seu pensamento linguístico e

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lógico-matemático, é uma escola que se organiza, toda ela,à luz de uma imagem mais rica da infância.

Assim, a escola pode e deve proporcionar aos alunos que afrequentam experiências e objectos de reflexão queconstituam, simultaneamente, um desafio e um estímulo aopotencial de fantasia e imaginação que todos elestransportam e espontaneamente utilizam, tanto no seumodo de pensar, como no seu modo de se exprimir.

A imaginação e criatividade infantis, não só devemencontrar na escola um espaço privilegiado para semanifestarem, como devem igualmente ser alimentadas eestimuladas pelo contexto escolar.

É nesse sentido que, na Torre, entendemos ser da maiorimportância o tempo que na escola se passa a brincar.Quando brincam, as crianças entregam-se totalmente, decorpo e alma, ao que fazem, atingindo um estado óptimode experiência interior que lhes proporcionará a energianecessária para o esforço de concentração e atençãoexigidos na sala de aula.

Assim, todo o tempo de jogo, simbólico ou com regras, é doponto de vista escolar um tempo ganho. Toda a brincadeiraexerce uma enorme influência no desenvolvimento infantil

Esse tempo livre de participação em situações de jogo enas mais variadas brincadeiras de faz-de-conta, é umtempo não dirigido em que as crianças, de formaespontânea, desenvolvem capacidades de representaçãosimbólica e de envolvimento em situações imaginárias.

A imaginação é um exercício mental caracteristicamentehumano. Ela consiste, basicamente, no poder de criarimagens mentais de realidades que não estãoefectivamente presentes, ou mesmo de realidades nuncaexperienciadas ou vividas anteriormente.

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Pelo acto de brincar, as crianças aprendem portanto aactuar numa esfera cognitiva que depende de motivaçõesinternas. O seu pensamento, antes determinado porobjectos exteriores, passa a ser regido por ideias e ascrianças podem então utilizar materiais e instrumentos queservem para representar realidades ausentes – nestassituações, elas são capazes de dar largas à imaginação,abstraindo-se das características dos objectos reais edetendo-se no significado que a brincadeira tiver definidopara cada um deles.

Por outro lado, brincando, as crianças acedem muitas vezesao mundo de referências mais amplo dos adultos, secomparado com o universo de objectos a que lhes é dadonormalmente acesso directo.

A brincadeira e o jogo infantis proporcionam justamente aosmais pequenos a possibilidade de solucionarem o impassecausado, de um lado, pela necessidade que têm de agircomo ‘gente grande’ e, de outro, pela impossibilidade quesentem de executar as operações exigidas para aconcretização dessas acções.

É através da brincadeira que as crianças começam por seprojectar nas actividades próprias dos adultos (tais como:cuidar dos filhos, tratar doentes, conduzir automóveis, daraulas, cozinhar…), procurando, a cada momento, sercoerentes com os papéis assumidos.

Na verdade, toda e qualquer situação imaginária criadacontém um conjunto de regras de comportamento que têmque condizer com o que está a ser representado. Ora, oesforço desenvolvido para desempenhar o mais fielmentepossível cada papel assumido a brincar faz com que ascrianças actuem num nível bastante superior ao nível derealização em que na realidade se encontram.

Sempre que brinca, cada criança assume papéis e condutasque estão para além do comportamento habitual da faixa

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etária em que se encontra; em situação de brincadeira, écomo se cada criança fosse ‘mais crescida’ do que aquiloque efectivamente é. E ainda que haja uma distânciasignificativa entre os comportamentos na vida real eaqueles que os mais pequenos encarnam nos jogos oubrincadeiras que criam, o facto de actuarem num mundoimaginário, estabelecendo para ele regras que têm que serseguidas, é suficiente para que um sem número deconceitos sejam impulsionados, desencadeando-se comisso inevitáveis processos de desenvolvimento.

Em contexto pré-escolar e escolar (sobretudo nos primeirosciclos de aprendizagem), a brincadeira e o jogo livre nãopodem ser entendidos apenas como actividadessecundárias ou como meros ‘passatempos’ das crianças;pelo contrário, devem ser valorizados e estimulados, já quedesempenham uma importante função pedagógica.

Cabe à escola contemplar nos seus horários defuncionamento e nas planificações do trabalho adesenvolver com as crianças, espaços e tempos específicospara o jogo livre e a brincadeira espontânea – é necessáriotempo suficiente para que as brincadeiras e jogos infantissurjam, se desenvolvam e encerrem.

A concepção de educação que abraçamos na Torrebaseia-se assim num suporte ecológico, adaptado à vidaquotidiana dos alunos na escola, que privilegia asnecessidades das crianças no que toca ao seu tempo debrincadeira e ao seu direito a brincar, a par da liberdade decorporalmente se exprimir e criar.

É, no fundo, uma pedagogia do movimento que caminha aoritmo da vida, abrindo caminhos de desenvolvimento paracada criança, de acordo com as suas aptidões, interesses epossibilidades pessoais de realização.

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2 - A missão da escola

A escola tem, não obstante o exposto, uma missão a queestá confinada. Em contexto escolar, e sobretudo a partirde uma certa fase do desenvolvimento infantil, brincar ébrincar e aprender é aprender. Aprende-se brincando,sempre, mas não se brinca para aprender. Aprender requeresforço e até alguma dose de resiliência.

Na Torre acredita-se profundamente nas potencialidades decada criança e na capacidade e poder que cada uma tempara cumprir um percurso de formação pessoal eacadémico com autonomia e sucesso.

Daí a necessidade de que seja contemplada e reforçada naescola a individualidade de cada criança.

Até porque a vida humana é eminentemente social. A suacontinuidade implica, por um lado, a reprodução decrenças, hábitos e ideias acerca do mundo de uma geraçãopara outra, mas, por outro, e simultaneamente, arenovação desse conjunto de elementos definido comocultura.

Toda a vida marcadamente humana segue, na sua evoluçãosocial, estes dois princípios: reprodução e adaptação.

No seu sentido mais lato, a educação é justamente oinstrumento privilegiado dessa continuidade social da vidahumana. Sem educação, nenhum grupo humano persisteenquanto tal, nem tão-pouco será capaz de superar assituações novas que se lhe deparem.

Entendemos portanto que a acção de educar não podeconfinar-se a um conjunto de procedimentos através dosquais se instruem as crianças de modo a que elas possam,ainda que eficazmente, reproduzir determinadosconhecimentos. No sentido de salvaguardar e respeitar aindividualidade de cada um, educar não pode ser um mero

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acumular de conhecimentos, garantido por treino ouqualquer outro tipo de condicionamento.

Educar é procurar e estimular o desenvolvimento tãocompleto quanto possível das potencialidades de cada umna dinâmica de construção do seu ser. E, no processo,colocar os indivíduos em contacto com a cultura a quepertencem, mas, mais ainda, prepará-los para discernirsituações que exijam reformulação e para agir emconformidade com essas necessidades de transformação.

Tal como a assumimos, a educação é uma constantereconstrução ou reorganização da experiência –reconstrução aplicável a cada experiência em curso e queesclarece as suas potencialidades, amplia os seus limites eorienta o curso das experiências que ainda estão por dar-se.

Do ponto de vista educativo, uma actividade seráconstrutiva quando possibilitar o estabelecimento derelações antes não percebidas entre os fenómenos com queos alunos lidam a cada momento: este é o tipo deexperiência que permitirá regular, orientar e dirigir um semnúmero de experiências futuras.

Todo e qualquer procedimento educativo deve ter comofinalidade a continuidade da experiência humana domundo; como tal, a educação não pode acontecer sepermanecer encerrada no interior de qualquer instituiçãoformalmente criada com o objectivo de instruir; a educaçãosó acontece quando enraizada na vida humana tomadacomo um todo e na possibilidade tão ampla quanto possívelde exploração do mundo para a construção do sentido.

‘A Torre’ procura assim inserir os alunos que acolhe numacultura por eles vivida e aberta sobre todos os planospossíveis e imaginários. Visa mais o indivíduo culto do queo indivíduo instruído.

Através dos conteúdos que oferece à exploração e dasexperiências e modalidades de pensamento que estimula, a

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escola deve possibilitar aos seus alunos a apropriação daexperiência humana culturalmente acumulada.

Nesse processo, as crianças são desafiadas, não só acompreender as bases dos sistemas de concepçõescientíficas e filosóficas que nos regem, como a tomargradualmente consciência dos seus próprios processosmentais.

Ora, o conhecimento é válido quando nos permiteestabelecer qualquer conexão com o mundo em quevivemos; expandindo os seus conhecimentos, as criançasmodificam a sua relação cognitiva com o mundo.

Mas os estudantes só desenvolvem ideias se se debaterempessoalmente com as condições de cada problema oudesafio que tenham em mãos, procurando os seus próprioscaminhos até chegarem a uma solução que pode não serfinal, dado que, resultante do tacteamento experimentalinfantil, ela apresenta-se muitas vezes como provisória.

A experiência é, por isso, um elemento fundamental dapedagogia na ‘Torre’. A experimentação livre, a tentativa eo erro, são vias excepcionais para a aquisição deconhecimento.

Mais do que a simples comunicação de saberes, importaproporcionar às crianças a possibilidade de realizaremtentativas nos mais variados domínios. E depois, estarsempre pronto para secundá-las através de uma atitudedecidida de estudo, de preparação para ultrapassarobstáculos e de construção, passo a passo, de um percursoque dê sentido às suas experiências.

Respeitar o impulso experimental infantil (que envolve,além da experiência, a possibilidade de pesquisa e dereflexão) é respeitar, a limite, o ritmo próprio de cada aluno,os seus ensaios e erros.

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Em rigor, qualquer experiência possui uma dimensão lógicae uma dimensão psicológica. Daí a importância de fazer aadequação entre os saberes estabelecidos e a experiênciadas crianças; saber traduzir os conhecimentos formalmenteestabelecidos pelas diversas disciplinas do conhecimentonuma linguagem compreensível para o nível em que seencontre a consciência infantil; em suma, tornar a aquisiçãode conhecimentos uma experiência viva e pessoal.

A conquista de cada aprendizagem estimula nas criançasprocessos internos que constituem uma base emocional eintelectual possibilitadora de novas aprendizagens.

O que se deve aprender (conteúdos de aprendizagem) e omodo como se aprende (métodos de aprendizagem) devemestabelecer entre si a mais perfeita cooperação possível nointerior da escola e constituir um só processo. A tónica dotrabalho escolar não deve nunca ser posta na quantidadede conhecimentos, mas no processo e na construçãoindividual levados a cabo para os adquirir.

Qualquer criança, na escola, precisa de brincar, correr,explorar, arriscar…

A educação tem que seguir os passos da vida, adaptar-se aela, no sentido de desenvolver os seus valores maisprofundos e ricos – os valores capazes de formar o carácterdas crianças, preparando-as para o futuro.

A qualidade do trabalho pedagógico está indelevelmenteassociada à capacidade de promoção de avanços nodesenvolvimento dos alunos.

Tomando como ponto de partida o que as crianças já sabem(o conhecimento que trazem do seu quotidiano, as suasideias acerca dos objectos, das pessoas, dos factos e dosfenómenos com que lidam, as suas ‘teorias’ acerca do queobservam no mundo), a escola deverá ser capaz de ampliaresses conhecimentos e desafiar os seus alunos à

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construção de novos conhecimentos. Só nessa medida terácumprido o seu papel.

Na Torre, o principal fim do modelo educacional quepropomos é o crescimento pessoal e social dos indivíduos; énesse sentido que procuramos sempre, ao longo do cadapercurso escolar autónomo, elevar o conjunto de criançasque nos são confiadas ao máximo de humanidade possível.

Uma proposta desta natureza só é passível de ser levada acabo se se atender à importância de implicar os pais numaadesão tão completa quanto possível ao projectopedagógico da escola.

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3 – O ambiente escolar

A Torre tem procurado, desde a sua origem, ser um lugar deafecto, segurança e bem-estar, oferecendo aos seus alunosum ambiente estimulante.

Para isso, a escola tem que proporcionar a todos quantos afrequentam uma boa adaptação; tem que se comprometersimultaneamente com a vida íntima de cada criança, a suaindividualidade, e com o conjunto dos alunos da escola, ocolectivo.

A todos deve permitir dar conta, pela livre expressão, dassuas descobertas, oferecendo-lhes um máximo de aberturapara a abordagem dos conteúdos especificamenteacadémicos, como para todas as riquezas do mundo.

Para permitir um crescimento e um desenvolvimentosaudáveis, a escola tem que procurar captar toda asensibilidade infantil. É fundamental que a escola enquadreas crianças que acolhe num ambiente securizante, ondesejam absolutamente respeitadas as suas necessidadesbásicas.

Qualquer criança precisa de um clima de liberdade econfiança, onde a simpatia e a disponibilidade por parte dosadultos sejam constantes e vão, tanto quanto possível, aoencontro das suas iniciativas mais pessoais.

A auto-disciplina é a única forma de disciplina que interessacultivar na escola; só ela tem verdadeiro sentidopedagógico e só ela pode contribuir para a criação de umbom ambiente escolar.

Ao entrarem na escola, as crianças precisam de encontrarum ambiente que lhes permita dar continuidade à sua vidapessoal. A educação não é apenas uma fórmula de escola;é uma obra que deve gravar-se nos indivíduos para toda avida, produzir marcas permanentes.

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Cabe à escola e aos educadores que nela trabalham – etodos os adultos que exercem na escola o seu trabalho são,por inerência, educadores – oferecer modelos, estimularexperiências, criar uma atmosfera de trabalho, acompanhare interpretar as hipóteses pessoais dos alunos, sem nuncareduzir a sua acção a um ensino estreito e de carácterexclusivamente académico.

Na escola, cada aluno deve ter à sua disposição meios paraorganizar, sistematizar, enriquecer ou ampliar as suasexperiências. O ambiente escolar deve criar situaçõesdesafiantes que, despertando a curiosidade dos alunos, oslevem a pensar e a procurar resoluções; acentuando aglobalização da vida anímica, deve proporcionar uma amplagama de actividades, passíveis de serem livrementeescolhidas pelos alunos, individualmente ou em grupo, eonde deve estar incluída toda a programação escolar, semrompimento com o meio, com os interesses das crianças oucom a vida. O importante é permitir a cada criança que falena sua linguagem, por muito frustre que seja ainda, eencorajá-la a seguir o seu próprio caminho.

Por seu turno, as salas de aula são o espelho da vida quecada grupo de alunos prolonga na escola. É imperioso quecada criança se sinta bem e se identifique com o espaçoonde trabalha, dado que o ambiente físico das salasinfluencia profundamente todo o acto educativo. Asparedes, através da exposição dos trabalhos que os alunosrealizam, ‘falam’ da vida do grupo, evidenciando evalorizando as diversas formas de expressão simbólica queas crianças foram aprendendo e conquistando na sua formaparticular de relação com o mundo. Todo o ambiente físicoda escola reflecte a riqueza da vida que ocorre no seu seio.

Expor as produções infantis pelas paredes é dar-lhesimportância; é assumi-las como suficientementeinteressantes para serem usufruídas por todos, colegas eprofessores; é reforçar o que os alunos são capazes de

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aprender e de fazer, sozinhos ou entre si; é impregnar oambiente colectivo da relevância do contributo de cada ume fazer sentir que tão importante como conhecer e sercapaz de fazer é dar a conhecer, partilhando o que se fez eaprendeu.

Num ambiente que se pretende a um tempo protector,afectuoso e estimulante, é no estabelecimento de umadialéctica constante entre aproximação e afastamento dasfiguras adultas que as crianças encontram chão para a suaautonomização progressiva e equilibrada. Ou seja, dependeem larga medida do investimento inicial que se for capaz defazer nelas, o posterior investimento das crianças nodomínio da aprendizagem e do conhecimento.

Centrada acima de tudo nas crianças, a Torre é assim umaescola cujos professores têm como principal função darapoio aos seus alunos (desempenhando o papel decatalisadores, sem abandonarem a ideia de que são adultoscom mais experiência de vida) e, simultaneamente,ajudá-los a ter iniciativa, a vencer os obstáculos que se lhesdeparem e a conservar o entusiasmo pelas tarefas emcurso, proporcionando a cada um maiores oportunidades desucesso.

É fundamental colocar os alunos diante de situações quelhes exijam criatividade e iniciativa, uma vez que este tipode desafio carrega em si mesmo a possibilidade depromover e estimular as potencialidades de cada aluno.

Para todo o processo educativo dos alunos que nosfrequentam, preconizamos uma escola viva, feliz, ondecada um se realize e construa, dando verdadeirasignificação social ao trabalho que desenvolve. Para isso, énecessário potenciar continuamente o desejo de conhecer ea disposição para realizar, de forma concreta, numaestrutura aberta e num clima de liberdade, afectividade eco-responsabilidade.

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Em meio escolar, a possibilidade do agir livre é, em simesma, promotora de felicidade; um indivíduo é livre e felizquando, em contacto com os outros, aprende e, ao mesmotempo, sente que ensina – razão pela qual entendemos acooperação como um aspecto fundamental e incontornávelna educação e elevação de qualquer ser humano, enquantoser no mundo.

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4 – Democracia/Cooperativismo

Sendo a escola, nas sociedades letradas e escolarizadas, olugar privilegiado para aprender a viver com os outros, aque propomos e defendemos é uma escola essencialmentedemocrática.

A vida democrática pressupõe a revisão contínua de formasde vida padronizadas e a preocupação constante, não coma simples perpetuação de hábitos e costumes, mas antescom a permanente reconstrução do já estabelecido, embenefício de uma maior equidade entre os indivíduos.

Esta reconstrução dos valores correntes só pode servir atodos se for um processo compartilhado por todos; ou seja,só por meio da acção cooperativa, sob orientação dainteligência e reflexão conjunta, se pode controlar oambiente físico e social, tendo em vista a sua melhoradequação à vida humana.

A essência da democracia reside no seu carácter de vidacompartilhada: as necessidades individuais, tantas vezesdivergentes, encontram o seu ponto de convergência nospropósitos e fins do trabalho cooperativo; os interessesindividuais e as exigências colectivas constituem aspectoscomplementares que dão significado e orientação, tanto aocomportamento de cada indivíduo, como à vida docolectivo.

A experiência escolar é, a um tempo, um fenómenoindividual e cultural; cada sujeito contribui individualmentepara a cultura da escola e a cultura escolar, por sua vez,fornece o chão sobre o qual a experiência de cada indivíduose desenvolve e ganha significado.

Em contexto escolar e democrático, a individualidade contacomo dado psicológico e como dado cultural.

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Mais do que pela vivência isolada dos sujeitos, aindividualidade é reforçada pela prática de vida em comumque conta com cada um na sua marca particular e única.

Numa escola que promove, pelo seu modo defuncionamento, uma vida democrática para todos os que afrequentam, é a inteligência, marca distintiva do humano,nascida do social e socialmente articulada, que permite acada sujeito desenvolver em si mesmo o espírito deintegração que o une ao todo. A plena satisfação e o plenodesenvolvimento individuais dão-se, portanto, nacooperação e não no isolamento.

De resto, a vida em comunidade é, em si, educativa, se osseus membros forem capazes de comunicar entre sisentimentos, desejos, ideias e objectivos, com o intuito dealcançar e compartilhar um clima de empatia entre todos osindivíduos.

A participação individual nas experiências vividas em grupoproduz aprendizagem, sempre que a acção de cada um éassumida como uma experiência particular a sercompartilhada colectivamente.

É por isso fundamental que a escola coloque à disposiçãodos seus alunos instrumentos e contextos propiciadores daactividade conjunta e cooperativa, pois é esse tipo deexperiência que importa quando se trata de conhecer: todae qualquer aprendizagem daí resultante será eficaz por sedar num clima de interacção entre crianças que sãoencaradas como os principais agentes do seu próprioprocesso de construção do sentido e apropriação deconhecimentos.

Mas para que exista apropriação, é preciso que existainteriorização, o que implica a transformação dos processosexternos (concretizados nas actividades desenvolvidaspelos alunos, no seu conjunto) em processos

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intrapsicológicos (onde as actividades são reconstruídasinteriormente).

O desenvolvimento dos alunos e a sua capacidade de,pessoalmente, construirem conhecimentos implica umaacção partilhada, pelo que se torna crucial, no planopedagógico, o valor das interacções (dos alunos com o seuprofessor e dos alunos entre si) em contexto escolar.

É assim que, na Torre, se entendem as interacções e otrabalho interactivo como necessário para a produção deconhecimentos por parte dos alunos; em particular, asinteracções que permitam o diálogo, a cooperação, a trocade informações, o confronto de pontos de vista diferentes ea divisão de tarefas, onde a cada um cabe umaresponsabilidade que, somada à dos colegas, permitiráestabelecer metas comuns e alcançá-las. Ao professorcaberá, neste contexto, não só permitir que as interacçõesocorram, como promovê-las, dia a dia, na escola.

A heterogeneidade, característica presente em qualquergrupo humano, é deste modo assumida como umamais-valia para as interacções na sala de aula. Odiversificado património pessoal dos alunos (seja emtermos de ritmo, comportamento, experiência, trajectóriapessoal, contexto familiar, valores ou níveis deconhecimento), bem como o dos professores, traz para oquotidiano escolar a possibilidade de troca de repertórios, oconfronto de diferentes visões do mundo e a oportunidadede ajuda mútua, tendo como consequência directa aampliação das capacidades individuais de todos.

Um modelo de funcionamento cooperativo, assente emrelações de inter-ajuda, não acarreta portanto comoconsequência a abolição da individualidade de cada um;antes reclama uma pedagogia que circula entre o individuale o colectivo, na busca de um sentido de colaboração paraum projecto de crescimento e desenvolvimento comum.

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O trabalho cooperativo, se exige a cada um auto-disciplina,desperta e estimula por outro lado o interesse e aparticipação da generalidade dos alunos. Os grupos-turmatransformam-se em verdadeiras comunidades deindivíduos, nas quais todos (incluindo os educadores) estãoenvolvidos na gestão da vida e do trabalho escolar,participando activamente da elaboração de regras para omelhor desenvolvimento possível dos seus projectos eactividades.

A cooperação implica um trabalho comum que aliadiferenças sem conflito e faz da comunicação entre ossujeitos uma experiência compartilhada; cada aluno é, faceàs tarefas em curso, simultaneamente participante eresponsável, promovendo através do confronto dos seuspontos de vista com os dos colegas, não só o seucrescimento individual, como o crescimento colectivo.

A prática pedagógica da Torre pode assim ser vista comouma prática essencialmente colectiva que tem por objectivoúltimo o desenvolvimento nos alunos de uma compreensãocrítica da realidade; é também, na sua essência, umaprática libertadora, uma vez que os problemas da vida e daprática escolar são discutidos em grupo e avaliadoscooperativamente para a constante realimentação ereorganização do trabalho em conjunto.

É absolutamente fundamental, do ponto de vista educativo,que cada criança seja capaz de se organizar e dirigir,procurando, por si própria, formas de orientação passíveisde lhe servir, bem como ao seu grupo e, mais tarde, àsociedade.

Mas para tal, é fundamental também o tempo que naescola é consagrado ao trabalho individual de cada aluno. Éele que permite a cada indivíduo desenvolver as marcasmais pessoais e distintivas no seu processo de tomada deconhecimento e construção do sentido para as coisas.

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Depois, em contexto cooperativo, os alunos são convidadosa pesquisar, no sentido de encontrarem uma postura útil atoda a acção colectiva, a toda a vida escolar. Realizamexperiências, trocam o resultado das suas investigaçõescom os colegas e tomam consciência de abordagensdiferenciadas para um mesmo problema, crescendo ao ladouns dos outros, através do diálogo e do confronto de ideias.Adquirem verdadeira cultura, na medida em que aprendema reflectir, a fazer escolhas, a tomar decisões e a formar osseus próprios juízos.

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5 – Perfil de saída dos alunos

Para a promoção do desenvolvimento global de todos osalunos que acorrem à Torre, foi concebido por Ana MariaVieira de Almeida, fundadora da escola, um roteiro circularque contempla cada criança nas suas capacidades,necessidades e apetências específicas, para que, inseridano grupo que a acolhe, bem como no colectivo da escola,possa manter e desenvolver as suas característicaspessoais e únicas, a sua singularidade e a sua identidadepróprias.

Tratando-se de um roteiro para o desenvolvimento pessoale social dos alunos, a sua forma circular pretende mostrar aglobalidade do desenvolvimento humano, artificialmentecompartimentado apenas por razões de ordem prática.

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A sua divisão em sectores (marcados a tracejado)corresponde à tentativa de articulação entre um conjuntode necessidades básicas e os domínios de desenvolvimentoque concorrem para a formação pessoal e social dascrianças. Temos assim:

SECTORESNECESSIDADES

BÁSICAS

DOMINIOS DEDESENVOLVIMENTO

Sector A“EU SOU”

Sector B“EU SINTO”

Sector C“EU SOU CAPAZ de FAZER”

Sector D“EE PENSO”

Sector E“EU CRESÇO”

PertençaIdentidade

Afecto, Bem-estar.Harmonia/Beleza

ActividadeAutonomia

AutonomiaCompreensão do Mundo

Saúde, Bem-estarSegurança

AfectivoCognitivo

Afectivo

Físico

Autonomia

Físico

Dado que as crianças crescem, desenvolvem-se e formam oseu carácter a partir de um conjunto de experiências davida e do mundo com carácter holístico, é necessário queos diversos domínios do desenvolvimento se articulem eintegrem, através da interacção e do diálogo permanentes,num projecto global e uno.

É assim que cada um dos 5 sectores do roteiro apresenta nocírculo interno o enunciado ‘Eu’, seguido dos enunciadosrelativos aos círculos mais amplos e exteriores: ‘Eu e osOutros’ e ‘Eu e o Mundo’.

Para cada enunciado foi definido um leque de atitudes econdutas a desenvolver ao longo dos primeiros ciclos deaprendizagem, com vista à articulação das necessidades ecompetências básicas definidas para os alunos da Torre com

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os diferentes domínios que, na escola, concorrem para asua formação pessoal e social.

Por referência a cada um dos sectores estabelecidos noroteiro circular de desenvolvimento, prevê-se então que, àsaída da Torre, cada criança tenha, a seu modo, adquirido acapacidade de:

SECTOR A

- aceitar a sua individualidade e respeitar as diferençasindividuais;

- tornar-se sensível às mudanças, aceitando-as de formapositiva;

- desenvolver o sentimento de pertença a um grupofamiliar, bem como o sentimento de pertença a outrosgrupos;

- apreciar a boa convivência, a entreajuda, a cooperação ea solidariedade nos grupos em que se integra;

- considerar-se como um ser que partilha a Terra com outrosseres;

- respeitar a diversidade das estruturas familiares;

- estimar os bens comuns, o ambiente e a Natureza;

SECTOR B

- valorizar as experiências positivas diárias, desenvolvendoa capacidade de utilizar os sentidos para sentir e percebermelhor a Natureza e as obras realizadas por outros;

- dar-se conta de que gostar ou não gostar pode muitasvezes depender do desconhecimento ou de preconceitos;

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- aperceber-se de que as emoções perturbadoras sãonaturais e comuns a toda a gente;

- valorizar as amizades e tentar pôr-se no lugar dos outrospara perceber as causas das suas reacções emotivas;

- dar-se conta dos diferentes modos de comunicar emoções;

- cultivar o bom humor valorizando os aspectos positivos eengraçados dos acontecimentos;

- apreciar a importância de se mostrar bem disposto ecolaborante nas actividades de grupo;

- aperceber-se de que ajudar os outros pode dar satisfação;

- contribuir para o bem-estar de todos na manutenção deum ambiente limpo, arrumado e aprazível;

- ser sensível aos problemas que perturbam a harmonia naTerra apercebendo-se de que a sua resolução depende doesforço, boa vontade e solidariedade de todos;

SECTOR C

- realizar autonomamente tarefas simples do quotidiano eser responsável por elas;

- esforçar-se por desenvolver as suas capacidades eprocurar conhecer os seus limites;

- procurar adequar o comportamento a cada situação;

- aproveitar os erros para progredir;

- conseguir cooperar e esforçar-se por cumprir as regras dosgrupos em que se integra;

- prestar ajuda aos outros;

- partilhar objectos respeitando as coisas dos outros;

- encarar o futuro com optimismo;

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SECTOR D

- procurar conhecer-se melhor desenvolvendo aauto-reflexão;

- dar-se conta de como uma boa comunicação é importantenas relações com os outros;

- interessar-se pelos outros e aperceber-se de que saberalgumas coisas das pessoas próximas pode ser importante;

- respeitar a privacidade dos outros;

- desenvolver o sentido crítico e evitar juízos apressados;

- aperceber-se da diferença entre factos e opiniões;

- dar-se conta de que todos aprendemos uns com os outros;

- respeitar a opinião dos outros e apreciar a partilha deideias;

- aceitar, aproveitar e fazer críticas construtivas;

- valorizar os conhecimentos que já possui acerca darealidade envolvente encarando com confiança eentusiasmo as futuras aquisições;

- desenvolver a sua curiosidade e aperceber-se dosaspectos positivos e negativos de informação ecomunicação;

SECTOR E

- apreciar a maravilha que é o corpo;

- atender aos sinais que o corpo emite para sua protecção;

- preocupar-se em manter a integridade e a saúde do corpo;

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- dar-se conta da responsabilidade que cabe a cadaindivíduo na prevenção da doença e aperceber-se de queter saúde não é apenas o contrário de estar doente;

- analisar os ambientes de que participa à luz de algumasnormas básicas de segurança;

- ser capaz de pedir ajuda e contribuir para a saúde esegurança de todos na manutenção do seu ambientepróximo;

- aperceber-se de que a saúde e segurança de todos osseres vivos, hoje e no futuro, dependem da manutenção econservação do ambiente.

Em contexto formativo, é sempre bom lembrar que oscomportamentos sociais e o quadro de valores de umindivíduo não se adquirem por aceitação passiva de normasditadas do exterior, mas são fruto de um trabalho interiorde auto-construção dependente das relações que cada umé capaz de estabelecer com os outros e com o ambiente emque tais relações decorrem.

Deste facto se deduz a enorme responsabilidade de cadaprofessor relativamente à organização de um ambientepropício para o seu grupo, à escolha de estratégias eactividades para os seus alunos e, sobretudo, relativamenteao papel que lhe compete como modelo de referência –fornecer bons modelos às crianças no seu contexto escolarassume um papel estruturante, pois amplia a sensibilidadede cada uma e a sua capacidade cognitiva individual.

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6 – Perfil dos educadores/professores

A principal responsabilidade de qualquer professor oueducador é nortear o processo de desenvolvimento eaprendizagem dos seus alunos; desempenhará bem a suafunção se planear antecipadamente as actividades do seugrupo de crianças, criando para elas um ambiente quedesenvolva as suas potencialidades e favoreça experiênciaso mais satisfatórias possível à construção do conhecimento.

Tal planeamento deve, contudo, ser flexível ao ponto depermitir a expansão das diferentes capacidades individuaisdos alunos.

No decorrer das actividades previamente estruturadas, oprofessor ou educador deve posicionar-se como ummembro do grupo, tendo em vista que a educação é umprocesso social em que todos devem ser envolvidos; apostura de quem quer aprender – sobre o mundo, sobre simesmo e a sua própria prática – constitui o primeiro passona criação de percurso pedagógico pessoal, onde cadaprofessor é verdadeiramente autor de todo o acto educativoque leve a cabo. É fundamental portanto que cadaelemento da equipa pedagógica seja capaz de se colocar asi próprio em situação de auto-aprendizagem, como éesperado que procedam com as crianças.

A postura do educador deve ser a de alguém que possui umdeterminado leque de conhecimentos, mas sabe que todoseles são relativos. Com a noção de que há vários caminhospossíveis a seguir, estará sempre atento aos seus alunos,acompanhando as suas conquistas e aquisições,participando da organização do trabalho em sala de aula,como membro do grupo e parceiro/orientador dos alunosnas suas investigações.

Esta participação e envolvimento directo do professor nasactividades escolares faz delas actividades compartilhadas,

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onde o aluno aprende com o seu professor e, ao mesmotempo, estimula-o a ampliar os seus própriosconhecimentos.

O adulto, na sala de aula, deixa assim de ser visto como oagente exclusivo de informação e formação dos alunos,uma vez que as interacções estabelecidas entre um eoutros, bem como as interacções das crianças entre si, têmtambém um papel incontornável na promoção de avançosno desenvolvimento individual de cada um - as criançastornam-se, também elas, agentes activos na aquisição deconhecimentos.

Mas este preceito em nada sugere que um professor possaabster-se daquilo que realmente é: um membro do grupo,sim, porém com mais maturidade, a quem cabe coordenaras interacções entre os seus alunos e destes com osobjectos de conhecimento a serem explorados.

O professor é sempre um guia dos seus alunos e não devenunca prescindir da autoridade que essa qualidade lheconfere.

Se é possível e até desejável que se crie um plano deequidade nas relações entre cada professor e os seusalunos, é completamente desadequado que o professor sejavisto pelos seus alunos como um igual, colocado ao mesmonível e em nada se diferenciando deles. São iguais,professores e alunos, enquanto seres humanos que vivemnum ambiente democrático onde partilham experiênciasenriquecedoras para ambos; encontram-se ao mesmo nívelna humanidade que partilham e na capacidade quecomungam de pensar autonomamente e construir por simesmos conhecimento. Diferem, no entanto, porque cabeao professor controlar as experiências construtoras denovos conhecimentos e projectar as condições ideais para opleno desenvolvimento dos seus alunos.

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Através da sua prática, educadores e professores devemsempre desafiar os seus alunos a chegarem mais longe nassuas aprendizagens, estimulando assim o seudesenvolvimento.

Nesta perspectiva, todas as demonstrações, explicações,justificações, abstracções ou perguntas por parte doprofessor, não deixam de ser fundamentais no processoeducativo dos alunos; o que o professor deve é abster-se deter sempre resposta pronta. Deve antes organizar osinteresses dos mais pequenos, estimular neles acapacidade de descoberta e aguçar a sua curiosidade. Tãoimportante como fornecer pistas aos alunos, é promoversituações que despertem a sua vontade de saber e osincentivem a perguntar, a trocar informações entre si e aaceder às fontes de informação e conhecimento.

Para tal, é necessário que cada professor ou educador, naescola, saiba propor às suas crianças, ou ser receptivo apropostas de trabalho feitas por elas, que envolvamobservação, resolução de problemas (a ser tentadaindividualmente, a pares ou em grupo), ou mesmo estudose preparação de conferências e exposições.

Promover estratégias de trabalho que permitam avanços,reestruturação e ampliação dos conhecimentos jáestabelecidos por qualquer grupo de crianças, implica daparte do professor que conheça bem o nível dedesenvolvimento em que os seus alunos se encontram, istoé, as suas descobertas, hipóteses, pontos de vista…, enfim,o conjunto de ‘teorias’ que foram capazes de criar acercado mundo que os cerca.

Este é, na Torre, considerado o ponto de partida.

Para tanto, é condição sine qua non que, no quotidianoescolar, cada educador ou professor estabeleça umarelação de diálogo aberto com as crianças e crie situaçõesem que elas possam expressar o que sentem e aquilo que

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já sabem. É necessário, enfim, que, no trabalho quedesenvolvem com os seus grupos de alunos, professores eeducadores se disponham a ouvir e a tomar nota de todo otipo de manifestações infantis.

Mas não só. É igualmente necessário que educadores eprofessores se organizem e mobilizem, no sentido de, emconjunto, fazerem uso da sua formação teórica, massempre a partir de uma reflexão crítica diária sobre a suaprópria prática.

Na Torre é visto como aspecto essencial de toda a práticaeducativa que nenhum educador ou professor se isole ouencerre nos limites da sua sala de aula.

É absolutamente fundamental que cada um seja capaz detrocar com os restantes colegas as suas dúvidas eincertezas, mas também os seus sucessos – as formas queencontrou para solucionar determinado problema, paraajudar um aluno, para precisar um conceito ou parasimplesmente complementar e enriquecer o processo deformação e desenvolvimento das crianças, numa atitude derespeito profundo pelo pensamento infantil e sem imprimirnele qualquer rumo específico, de carácter endoutrinadorou pré-determinado.

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7 – A avaliação escolar

A aprendizagem, na Torre, é essencialmente uma actividadede exploração pessoal que permite aos alunos tecer ereorganizar de forma sistemática uma rede de significadosacerca da realidade que os cerca.

Dependente do processo de ensino, a aprendizagem não seconfunde com ele porque é profundamente determinadapelas características pessoais de cada aluno – não é tanto acapacidade de um estudante estabelecer correspondênciasentre os seus esquemas conceptuais e uma qualquerrealidade externa que, no contexto educativo da escola,valida o seu conhecimento, mas mais a coerência internados seus esquemas mentais e a capacidade de os articulare fazer dialogar com cada novo estímulo de aprendizagem.

É neste sentido que cabe aos professores o papel defacilitadores e orientadores dos alunos nos seus processosde organização e reorganização conceptual, a partir deexperiências de aprendizagem que estimulem o constante eprogressivo reequacionamento das suas redes designificado.

Nesta óptica, que privilegia os processos sobre os produtosde aprendizagem dos alunos, a avaliação assume umcarácter marcadamente formativo.

Importa sobretudo perceber os alunos nos seus actosmentais de estruturação e organização dos conhecimentos,de modo a desenvolver estratégias o mais adequadaspossível para que cada aprendizagem ecoe neles de formasignificativa; isto é, importa abordar os conteúdosacadémicos e conduzir as respectivas aprendizagens comalguma flexibilidade, para que cada assunto possa produzirsentido para cada estudante e assim legitimar caminhosmais pessoais, particulares, quiçá inéditos, de acesso eordenação mental dos conhecimentos. Só assim,verdadeiramente, um aluno progride.

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Mas só é possível cumprir cabalmente a função formativada avaliação se, a par de uma grande diversificação deactividades e experiências educativas, houver uma igualdiversificação de instrumentos de avaliação. É necessárioportanto que a escola proporcione aos seus alunosinstrumentos de avaliação múltiplos e suficientementesimples e flexíveis para, a cada momento, poderdeterminar, não só o que é que as crianças sabem econseguem fazer, mas também como é que sabem econseguem fazer melhor.

Um modelo formativo de avaliação é um poderosoorientador das aprendizagens – nele, as tarefas deavaliação coincidem com as tarefas de aprendizagem, ouseja, o processo de trabalho e o produto que dele resultasão vistos como uma e a mesma coisa, surgindo aavaliação, os conteúdos curriculares e as metodologiasutilizadas como partes integrantes e articuladas do mesmoprocesso.

Neste contexto, os ‘erros’ são elementos vitais para aproblematização e redireccionamento das actividades deaprendizagem com que os alunos se confrontam; qualquerdimensão sancionadora ou punitiva está ausente doprocesso de avaliação dos alunos.

Por outro lado, se as crianças interiorizarem que todos osmomentos de trabalho na escola são, ao mesmo tempo,potenciais momentos de avaliação, o ‘medo’ de seravaliado vai sendo eliminado porque deixa de fazer sentido– na verdade, quanto mais avaliação, sobretudo sediversificada, mais oportunidade de sucesso.

Na Torre, a avaliação é indissociável das múltiplas situaçõesem que as aprendizagens se desenvolvem; e sendo ascrianças constantemente estimuladas a reflectirem sobre oseu próprio trabalho, há uma participação activa dos alunosno próprio processo de avaliação.

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A regulação das aprendizagens, no âmbito de umaavaliação formativa, é em grande parte assegurada pelospróprios alunos que deverão, ao longo do seu processo deformação escolar, criar e desenvolver competências deauto-avaliação.

De facto, ninguém se pode fazer substituir na construção dopróprio conhecimento e percepção da realidade. Se, ao ladodos seus professores, os alunos assumirem igualresponsabilidade pelo seu próprio processo de avaliação,serão capazes de desenvolver mecanismos de autonomiaque decorrem da tomada de consciência progressiva do tipode aprendizes que são.

Dado que a avaliação com carácter formativo assentasobretudo na diversificação de processos de aprendizageme objectos de avaliação, não é possível organizá-la em tornode um modelo didáctico único ou a partir de um conjuntopré-estabelecido de critérios que cada professor fornece aoseu grupo de alunos.

Assim, cabe ao professor ‘negociar’ com os seus alunos e,posteriormente, definir e seleccionar, para cada um deles,os materiais que mais lhes convêm. Só com uma ideia clarados fins a atingir e conhecendo bem os critérios a cumprirnuma determinada actividade de aprendizagem, cada alunopode apropriar-se eficazmente (o mesmo é dizer, de formasignificativa) dos conceitos que ela encerra e, então sim,estarão criadas as condições para que um indivíduodesenvolva autonomamente as suas actividades deaprendizagem com capacidade de reflexão, auto-avaliaçãoe gestão dos próprios erros.

A limite, a construção pessoal de esquemas mentais acercada vida e do mundo é sempre, em contexto educativo, umaco-construção, uma construção partilhada.

Um exercício constante da função formativa da avaliação,tal como preconizamos na Torre, não retira aos professores

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o papel de promotores do contexto e das condições deaprendizagem o mais adequadas possível para cada um dosseus alunos.

Uma avaliação formativa é, em última instância, umaavaliação do processo de aprendizagem dos alunos, bemcomo uma avaliação do processo de desempenho dosprofessores.

Nesta lógica, quando um professor da Torre avalia, avalia-setambém.

Sem contrariar o exposto – que deve nortear toda a práticaavaliativa dos professores e educadores da Torre – éimportante, no entanto, estabelecer um conjunto mínimode critérios que deverão orientar e reger os momentos maisformais de avaliação.

Deverão ser contemplados como critérios de análise paraefeitos de avaliação dos alunos os seguintes itens:

1 – Participação oral/discussão colectiva/partilha deconhecimentos;

2 – Atenção/concentração/ interesse manifesto;

3 – Empenho/ brio no trabalho individual;

4 – Desempenho autónomo das tarefas escolares;

5 – Análise critica dos resultados e capacidadeauto-correctiva;

6 – Correcção na relação com colegas e professores;

7 – Criatividade/imaginação/ mobilização deconhecimentos;

8 – Espírito cooperativo/atitude democrática/ capacidade deentreajuda;

9 – Conhecimento explícito.