professor, posso usar o facebook em sala de aula

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Professor, posso usar o Facebook na aula? "PikiWiki Israel 32304 The Internet Messenger by Buky Schwartz" por Dr. Avishai Teicher Pikiwiki Israel. Licenciado sob CC BY 2.5, via Wikimedia Commons - Breno Deffanti Portuguese Teacher Brazilian Studies Graded - The American School of São Paulo

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Page 1: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

Professor, posso usar o Facebook na aula?

"PikiWiki Israel 32304 The Internet Messenger by Buky Schwartz" por Dr. Avishai Teicher Pikiwiki Israel. Licenciado sob CC BY 2.5, via Wikimedia Commons -

Breno Deffanti

Portuguese TeacherBrazilian StudiesGraded - The American School of São Paulo

http://brenodeffanti.blogspot.com/

Page 2: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

PropostaDesde de que a Internet foi incorporadas ao nosso cotidiano, uma

disputa paralela em condições desiguais pela atenção dos nossos

alunos estabeleceu-se em sala de aula. Além de ensinar e educar,

fomos impelidos a controlar o acesso dos estudantes aos sites e, agora,

às redes sociais. E, devemos concordar, é uma tarefa inglória, pois

como podemos competir com tantos links, memes, fotos e estímulos?

Entretanto, e se a resposta for: devemos, na verdade, incentivar nossos

alunos a usar a internet, e por que não o Facebook, em sala de aula. O

que você acha?

Page 3: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

O que é a sala de aula?

a sala de aula ainda

não é a arena das

ideias, das ideologias

e do inacabado, mas

sim o lugar do

acabado, do imposto

e do canônico

Page 4: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

No que tange ao uso da tecnologia, a sala de aula é o momento do

questionamento e da resignifcação. Seu uso não deve estar voltado

para a perpetuação do antigo, do solidificado. Ao contrário, as novas

tecnologias em sala de aula devem privilegiar as novas

possibilidades de uso dos gênero textuais.

Page 5: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

Anos 80:

● na realização de análises morfológica e sintática de palavras e de

frases isoladas;

● leitura de textos literários clássicos;

● leitura infanto-juvenil;

● textos escritos pelo próprio autor do livro didático;

● capacitação dos alunos para a escrita; (MARCUSCHI, B. 2010)

Os gêneros textuais em sala de aula: perspectiva histórica

Page 6: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

Anos 50:

● Composições livres,

a partir de gravuras,

de trechos

narrativos e cartas;

● Composições

elementares nos

primeiros anos,

reprodução e

imitação de

pequenos trechos;

● Produções “de lavra

própria”.

Page 7: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

Anos 60 - 70:

● Leis de Diretrizes e Bases da Educação;

● Comunicação de massa, deslumbramento tecnológico,

desenvolvimento industrial e econômico do país;

● Valorização da capacidade do indivíduo de se comunicar de modo

claro, lógico e fluente nas nas esferas sociais;

● Língua: um código claro e lógico, comunicação sem ruídos;

● Padrão de texto a ser obedecido, uma técnica de redação a ser

aplicada; Segui-los à risca garante a uniformidade e a clareza da

mensagem;

● Formação de um aluno capaz de se expressar com eficiência.(MARCUSCHI, B., 2010).

Page 8: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

Anos 80:

Geraldi (1984/1997): critica o trabalho com

textos nas escolas:

● Redações escolares: escreve-se para a

escola, um fim em si mesmo: é o que se

deve fazer nas escolas.

● Produção de texto: escreve-se na escola,

escrita como forma de posicionar-se: há

algo a dizer.

Page 9: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

Anos 90:

"Todos os diversos campos da

atividade humana estão ligados ao

uso da linguagem. Compreende-se

perfeitamente que o caráter e as

formas desse uso sejam tão

multiformes quanto os campos da

atividade humana, (...). O emprego da

língua efetua-se em forma de

enunciados (orais e escritos)

concretos e únicos, proferidos pelos

integrantes desse ou daquele campo

da atividade humana.

"Mikhail bakhtin" por Desconhecido - http://ec-dejavu.ru. Licenciado sob Domínio público, via Wikimedia Commons

Page 10: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

(...) Esses enunciados refletem as condições específicas e as

finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo (temático)

e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais,

fraseológicos e gramaticais da língua, mas, acima de tudo, por sua

construção composicional. Todos esses três elementos – o conteúdo

temático, o estilo, a construção composicional – estão

indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são igualmente

determinados pelas especificidades de um determinado campo da

comunicação. Evidentemente, cada enunciado particular é individual,

mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos

relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros

do discurso(BAKHTIN, 1929/2003).

Page 11: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

Os gêneros textuais em sala de aula: a escolarização

● Desdobramento: colocar os alunos, ao mesmo tempo, em situações

de comunicação que estejam o quanto mais próximas de

verdadeiras situações de comunicação (...)

● O gênero trabalhado na escola é sempre uma variação do gênero

de referência, construída numa dinâmica de ensino/aprendizagem.

(DOLZ & SCHNEUWLY, 1999).

Page 12: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

Redação: Como articulista, o aluno deverá:● assinar o artigo, assumindo a

responsabilidade por suas opiniões;● definir o público alvo – a linguagem

deverá ser adequada ao perfil do público leitor - e o suporte midiático em que o artigo deverá erá veiculado.

As produções serão corrigidas pelo professor e selecionadas para serem publicadas, por exemplo, no jornalzinho da escola.

O aluno, na escola, se

encontra diante de uma

prática de linguagem

deslocada de seu

contexto enunciativo

original e inserida em

um contexto no qual ela

é um objeto de

aprendizagem.

Page 13: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

TIC: Tecnologia de Informação e Comunicação

A dinâmica associada

ao telefone na época

seria inimaginável para

os dias de hoje.

Page 14: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

O celular resignifica a questão do

espaço, pois as possibilidades de

trocas são tantas, que a

presença física muitas vezes não

é requerida. O lado nefasto da

tecnologia é a relação que

estabelecemos com o tempo,

pois não há mais a hora ou

contexto para se trocar

mensagem.

Page 15: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

Possibilitando a

incorporação de novos

elementos, os novos

gêneros permitidos pelas

TICs requerem estratégicas

multissemióticas.

Page 16: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

O site é um conjunto de

inúmeras possibilidades e

recursos textuais envolvendo

múltiplos elementos

semióticos

Page 17: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

O Facebook é quase

um registro do vivido

pela pessoa. É no

Facebook que as

pessoas

compartilham

opiniões políticas e

aspectos do

cotidiano.

Page 18: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

TIC: Posso usar o Facebook em sala de aula?Educação em cuja prática se perceba uma compreensão correta da

tecnologia, a que se recusa a entendê-la como obra diabólica

ameaçando sempre os seres humanos ou a que a perfila como

constantemente a serviço do seu bem-estar.

A compeensão crítca da tecnologia, da qual a educacão de que

precisamos deve estar infundida, e a que vê nela uma intervenção

crescentemente sofistica no mundo a ser necessariamente submetida a

crivo político e ético. Quanto maior vem sendo a importância da

tecnologia hoje tanto mais se afirma a necessidade de rigorosa vigilância

ética sobre ela. De uma ética a serviço das gentes, de sua vocação

ontológica, a do ser mais e não de uma ética estreita e malvada, como a

do lucro, a do mercado.

Page 19: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

Por isso mesmo, a formação técnico-científica de que

urgentemente precisamos é muito mais do que puro

treinamento ou adestramento para o uso de

procedimentos tecnológicos. (...). O convívio com as

técnicas a que não falte a vigilância ética implica uma

reflexão radical, jamais cavilosa, sobre o ser humano,

sobre sua presença no mundo e com o mundo.

(...) O exercício de pensar o tempo, de pensar a

técnica, de pensar o conhecimento enquanto se

conhece, de pensar o quê das coisas, o para quê, o

contra quem são exigências fundamentais de uma

educaçào democrática à altura dos desafios do nosso

tempo (Paulo Freire, Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros

escritos, Terra & Paz, 1997/2000/2014)

"Paulo Freire" por Slobodan Dimitrov - Obra do próprio. Licenciado sob CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons

Page 20: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

Incorporar as novas

tecnologias significa dar

um passo além, propor

ao aluno que extrapole

os muros da sala aula,

que se torne realmente

um autor do seus

textos, correndo os

riscos associados aos

seus enunciados.

Page 21: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

As TIC's em sala de aula

"pelo que eu vi na vida, dois iguais não fazem filho", afirmou o candidato. "Aparelho excretor não reproduz", (29/09/2015)

Compreendendo a sala de aula como o

momento para o questionamento do vivido e

para o questionamento das intricadas relações

exteriores às paredes da sala aula, foi

imperativo que a discussão chegasse à sala de

aula.

Page 22: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

O blog, no contexto dessas

novas possibilidades textuais,

nos permite notar com mais

clareza através dos

comentários e do número de

compartilhamento das

postagens os movimentos de

filiação, contraposição e

questionamento.

Page 23: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

Breno Deffanti: Em qualquer aspecto da vida, a nossa atuação gera consequências. O simples ato de estar no mundo, o simples fato de existir já gera consequências e, portanto, responsabilidades. Não podemos, sob hipótese alguma, acreditar que os discursos materializem-se em enunciados apenas e não em associações. Tudo aquilo que falamos entra em uma cadeia de enunciados que modificam o mundo como o percebemos. Além do mais, devemos sempre levar a posição que o candidato ocupa, que gera responsabilidades extras. Um comentário postado em blog requer responsabilidades diferentes daquele dito em um debate em rede nacional. Infelizmente, nossas leis carecem de instrumentos que cobrem das pessoas as responsabilidades sobre seus discursos!

As TIC's em sala de aula

Page 24: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

Aluno: Sim, todas as pessoas têm o direito de expressar suas

opiniões, porém deve existir a questão da ética. Ocorre que em

muitos casos um sujeito não a leva em consideração, como o

Levy Fidelix. Na visão de muitas pessoas ele simplesmente

expressou a sua opinião. Porém, para um sujeito expressar sua

opinião, não é necessário expressar ódio e agressão. Há limites;

não podemos agredir o outro, estaríamos cometendo algo

imoral. E sim, foi o que o Fidelix cometeu. Ele expressou um

discurso de ódio em uma rede nacional. Alguns vão falar que foi

apenas um “discurso” e que não incitará violência. Mas

precisamos lembrar que para todas as nossas ações, há

consequências.

As TIC's em sala de aula

Page 25: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

Pedagogicamente falando, os alunos não fizeram uso de um pastiche

do gênero alvo. Ao contrário, o uso das TIC's possibilitou aos alunos a

apropriação do gênero em sua plenitude. De instrumentalizador de

gêneros textuais, o aluno passou para autor. É interessante observar

que a atividade em questão não se constituiu da instrução "escreva um

comentário em um blog". Houve uma modalização do ensino, uma

sequência didática que possibilitou ao aluno a apropriação por

completa do gênero textual.

As TIC's em sala de aula

Page 26: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

Sobre a pergunta inicial: "posso usar o Facebook em sala de aula?" A

reposta é "claro!", ou melhor, "deve!". Mas, seu uso deve estar

associado à ampliação das possibilidades pedagógicas e não para sua

manutenção. Diante de vários questionamentos sobre o futuro da

escola e do professor, o uso das novas tecnologias só terá sentido

como um instrumento para a rompimento com as práticas arcaicas e

elitizantes. Afinal, novos instrumentos, novas possibilidades, novos

sentidos. Parafraseando Gilberto Gil, façamos dos gigabytes, das home

pages e dos web sites uma jangada, um barco que veleje.

Page 27: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

As TIC's em sala de aula

● BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal - Trad. Paulo Bezerra, São Paulo, Martins

Fontes: 1992/2003.

● ___________ Para uma filosofia do ato responsável – Trad. Valdemir Miotello & Carlos

Alberto Faracco, São Carlos, Pedro & João Editores: 2010.

● DEFFANTI, Breno L. Produção escrita e inclusão escolar : um estudo neurolinguístico

-- Campinas, SP : [s.n.], 2011.

● BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e

quarto ciclos do ensino fundamental, Brasília, DF: 1998.

Page 28: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

● ______ MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Documento Orientador do Programa de Educação

Inclusiva, Brasília, DF: 2006.

● ______ MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Orientações Curriculares para o Ensino Médio:

Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Brasília, DF: 2006.

● DOLZ, J. & SCHNEUWLY, B. Os gêneros escolares – das praticas de linguagem ao

objeto de ensino - Trad. Glaís Sales Cordeiro In: Revista Brasileira de Educação /

Maio, Jun, Jul, Ago, 1999.

● FREIRE, M.F., Enunciação e Discurso: A Linguagem de Programação Logo no Discurso

do Afásico, Campinas, Mercado das Letras: 2006.

Page 29: Professor, posso usar o facebook em sala de aula

● FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia – Saberes Necessários à Prática Educativa, Paz e

Terra, Rio de Janeiro: 1996.

● _________ Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos, Terra &

Paz, 1997/2000/2014

● GERALDI, J.W. , A aula como acontecimento, São Carlos, Pedro & João Editores: 2010.

● ___________. Portos de Passagem, São Paulo, Martins Fontes: 1997.

● MARCUSCHI, B., Escrevendo na escola para a vida, no prelo, 2010

● SÃO PAULO. SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, Proposta Curricular do Estado

de São Paulo: Língua Portuguesa, São Paulo: 2008.

● SILVA, J. Q. G., Gênero Discursivo e tipo textual. In: Scripta,v. 2, n. 2, 1999.