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LINGUAGEM JURÍDICA Prof. Luciana Fiamoncini Frainer 2019 Edição 1

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Linguagem Jurídica

Prof. Luciana Fiamoncini Frainer

2019Edição 1

Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:

Prof. Luciana Fiamoncini Frainer

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

UNIASSELVI – Indaial.

Impresso por:

F812l

Frainer, Luciana Fiamoncini

Linguagem jurídica. / Luciana Fiamoncini Frainer. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.

190 p.; il.

ISBN 978-85-515-0271-6

1. Direito - Brasil - Linguagem - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 340.14

III

apresentaçãoA Língua Portuguesa é um universo a ser explorado. Utilizada em

todas as situações do cotidiano, é ela que faz com que sejamos seres sociáveis. A linguagem é o que nos faz humanos. Este material, Linguagem Jurídica, trará para você, acadêmico, um pouco mais do que é a língua portuguesa e de que maneira ela deve ser utilizada no meio jurídico.

A linguagem jurídica possui muitas peculiaridades, como vocabulário específico, jargões e outras situações que fazem com que ela se torne objeto de estudos em inúmeras esferas do conhecimento.

Neste material, você estudará algumas das principais regras que pautam o uso da linguagem jurídica e também terá disponíveis algumas dicas importantes relacionadas ao uso da linguagem jurídica nos aspectos oral e escrito, adequados a inúmeras situações do cotidiano.

Espero que com este material você consiga aprimorar o uso da nossa Língua Portuguesa adequando-a às mais inusitadas situações da esfera jurídica. Aproveite-o ao máximo, realize as autoatividades disponíveis e acesse as referências utilizadas. Assim, você potencializará ainda mais seu aprendizado.

Tenha uma excelente jornada de estudos.

Cordialmente, Luciana Fiamoncini Frainer.

IV

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos!

NOTA

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

UNI

V

VI

VII

UNIDADE 1 - COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS................................1TÓPICO 1 - ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO ......................................................31 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................32 AFINAL, O QUE É COMUNICAR? ...............................................................................................3

2.1. O CONCEITO DE COMUNICAÇÃO ........................................................................................42.2. QUANDO E COMO SURGIU A COMUNICAÇÃO? .............................................................52.3. AS DIFERENTES MANEIRAS DE COMUNICAR ..................................................................7

2.3.1 Comunicação verbal .............................................................................................................72.3.2 Comunicação não verbal .....................................................................................................8

3 OS ELEMENTOS E AS CARACTERÍSTICAS DA (BOA) COMUNICAÇÃO .......................93.1. OS ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO .................................................................................93.2. CARACTERÍSTICAS DA BOA COMUNICAÇÃO E DO BOM COMUNICADOR ..........143.3. A EXCELÊNCIA NA COMUNICAÇÃO: COMO CONSEGUI-LA? ....................................17

4 A PALAVRA: MATÉRIA-PRIMA DA LINGUAGEM JURÍDICA ............................................194.1. O QUE É A PALAVRA, AFINAL? .............................................................................................204.2. O PODER DAS PALAVRAS ........................................................................................................21

RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................24AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................25

TÓPICO 2 - O ESTILO JURÍDICO DE COMUNICAR ..................................................................271 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................272 AS FIGURAS DE LINGUAGEM NO DISCURSO JURÍDICO .................................................27

2.1. AS FIGURAS DE PALAVRAS .....................................................................................................272.2. AS FIGURAS DE PENSAMENTO .............................................................................................292.3. AS FIGURAS DE SINTAXE ........................................................................................................30

3. A ESTILÍSTICA DO TEXTO JURÍDICO .....................................................................................323.1. O ESTILO JURÍDICO DE ESCREVER ......................................................................................323.2. A RETÓRICA .................................................................................................................................36

4. VÍCIOS DE LINGUAGEM: A CORREÇÃO DA LINGUAGEM JURÍDICA .........................384.1. CLASSIFICAÇÃO DOS VÍCIOS DE LINGUAGEM ...............................................................39

RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................40AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................42

TÓPICO 3 - REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO ...............................................................451 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................452 O CÓDIGO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA ..................................................45

2.1. REGRAS GERAIS .........................................................................................................................472.2. ACENTUAÇÃO ...........................................................................................................................482.3. HÍFEN ............................................................................................................................................49

3 ALGUNS TRATADOS SINTÁTICOS PARA A COMUNICAÇÃO .........................................493.1. CONCORDÂNCIA NOMINAL ................................................................................................503.2. CONCORDÂNCIA VERBAL .....................................................................................................533.3. REGÊNCIA NOMINAL ..............................................................................................................563.4. REGÊNCIA VERBAL ..................................................................................................................57

sumário

VIII

4 EXPRESSÃO CORPORAL: PARTE ESSENCIAL DA COMUNICAÇÃO ...............................604.1 SEU CORPO FALA ........................................................................................................................604.2 ENFRENTANDO O MEDO..........................................................................................................634.3 TÉCNICAS DE RELAXAMENTO ...............................................................................................644.4 DICAS PARA UMA BOA POSTURA NA HORA DE FALAR ................................................65

LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................67RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................72AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................73

UNIDADE 2 - PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES ..........................75

TÓPICO 1 - DECODIFICANDO E INTERPRETANDO TEXTOS ...............................................771 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................772 A PRÁTICA DE LEITURA ................................................................................................................77

2.1 A MOTIVAÇÃO PARA LER .......................................................................................................792.2 OS TIPOS DE LEITORES .............................................................................................................80

3 NOÇÕES METODOLÓGICAS DE LEITURA E INTERPRETAÇÃO .....................................823.1 É POSSÍVEL APRENDER A LER? ...............................................................................................863.2 VOCABULÁRIO TÉCNICO: COMO INTERPRETAR? ..........................................................873.3 A LEITURA DO PARÁGRAFO ...................................................................................................88

4 ESTRATÉGIAS DE LEITURA ..........................................................................................................894.1 SKIMMING E SCANNING .........................................................................................................89

RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................91AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................92

TÓPICO 2 - A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................952 LEITURA, ANÁLISE E PRODUÇÃO TEXTUAL: CONSIDERAÇÕES ..................................95

2.1 PARA ESCREVER É PRECISO ANTES APRENDER A LER ...................................................972.2 OS OBJETIVOS DA ESCRITA ......................................................................................................98

3 COESÃO E COERÊNCIA .................................................................................................................1003.1 CONCEITO DE COESÃO .............................................................................................................1003.2 A COESÃO NA PRÁTICA ...........................................................................................................1033.3. CONCEITO DE COERÊNCIA ....................................................................................................1063.4 A COERÊNCIA NA PRÁTICA ...................................................................................................107

3.4.1 Coerência semântica .............................................................................................................1083.4.2 Coerência sintática ................................................................................................................1093.4.3 Coerência estilística ..............................................................................................................1093.4.4 Coerência pragmática ...........................................................................................................109

RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................112AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................113

TÓPICO 3 - A PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS ..........................................................................1151 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1152 A ARGUMENTAÇÃO COMO RECURSO PERSUASIVO ........................................................115

2.1 A PERSUASÃO E A ARTE DO CONVENCIMENTO ..............................................................1162.2 OS TIPOS DE ARGUMENTOS ....................................................................................................1182.3 COMO SE DEVE FAZER UM DISCURSO ................................................................................119

3 A EXPRESSÃO ORAL COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO EFICAZ ....................................1203.1 OS RUÍDOS NA COMUNICAÇÃO ORAL ..............................................................................1203.2 DICAS PARA UMA COMUNICAÇÃO ORAL EFICAZ .........................................................1213.3 PRATICANDO O IMPROVISO ...................................................................................................122

IX

LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................124RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................126AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................127

UNIDADE 3 - A COMUNICAÇÃO JURÍDICA ...............................................................................129

TÓPICO 1 - INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO JURÍDICA ....................................................1311 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1312 O VOCABULÁRIO JURÍDICO .......................................................................................................131

2.1 OS JARGÕES JURÍDICOS ...........................................................................................................1352.2 DICAS PARA AUMENTAR O VOCABULÁRIO .....................................................................1362.3 A ESTRUTURA FRÁSICA: CLAREZA NAS IDEIAS ..............................................................137

3 LINGUAGEM JURÍDICA .................................................................................................................1393.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A LINGUAGEM JURÍDICA .......................................................140

3.1.1 Vocábulos unívocos ..............................................................................................................1403.1.2 Vocábulos equívocos ............................................................................................................1403.1.3 Vocábulos análogos ..............................................................................................................1403.1.4 Parônimos ..............................................................................................................................1403.1.5 Arcaísmo ................................................................................................................................1413.1.6 Estrangeirismos .....................................................................................................................1423.1.7 Latinismos ..............................................................................................................................143

3.2 A ELOQUÊNCIA ..........................................................................................................................1433.3 A SEMIÓTICA E SUA RELAÇÃO COM O DIREITO .............................................................144

RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................147AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................148

TÓPICO 2 - O DISCURSO JURÍDICO..............................................................................................1491 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1492 ENUNCIAÇÃO E DISCURSO JURÍDICO ....................................................................................149

2.1 O QUE É UM ENUNCIADO? ......................................................................................................1502.2 DISCURSO DE DEFESA E DISCURSO DE ACUSAÇÃO .......................................................1512.3 A TÉCNICA DA REFUTAÇÃO ..................................................................................................151

3 REDAÇÃO JURÍDICA ......................................................................................................................1533.1 A ESTRUTURA DO PARÁGRAFO .............................................................................................1533.2 COMO REDIGIR UM BOM TEXTO JURÍDICO ........................................................................1563.3 A ELABORAÇÃO DAS PEÇAS JURÍDICAS ............................................................................158

RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................162AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................163

TÓPICO 3 ORATÓRIA FORENSE .....................................................................................................1651 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1652 ASPECTOS LINGUÍSTICOS E REDACIONAIS DE PEÇAS JURÍDICAS ............................1653 A ORATÓRIA FORENSE ..................................................................................................................169

3.1 A FORMAÇÃO DO ORADOR ....................................................................................................1713.1.1 Modulação da voz ................................................................................................................1713.1.2 Autoconfiança ........................................................................................................................1723.1.3 Empatia ..................................................................................................................................1723.1.4 Capacidade de síntese ..........................................................................................................1723.1.5 Bom humor ............................................................................................................................1733.1.6 O orador na tribuna e o uso do microfone ........................................................................173

3.2 A VOZ, A DICÇÃO E A PRONÚNCIA .....................................................................................1763.3 INTENSIDADE, FLUTUAÇÃO, VELOCIDADE ......................................................................178

X

LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................180RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................183AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................184REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................187

1

UNIDADE 1

COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender o conceito de comunicação, bem como as diferentes maneiras de comunicar de acordo com a situação;

• conhecer os elementos da comunicação, reconhecendo as características da boa comunicação e do bom comunicador a partir da sua aplicação nas práticas co-tidianas;

• reconhecer as figuras de palavras, de pensamento e de sintaxe envolvidas na produção textual jurídica, seja ela oral ou escrita;

• conceituar a retórica, bem como os vícios de linguagem utilizados na lingua-gem jurídica;

• compreender o uso da acentuação, hifenização e demais regras da Língua Por-tuguesa de acordo com o código ortográfico brasileiro;

• aplicar concordância nominal, verbal e regência nominal e verbal quando no uso da Língua Portuguesa;

• saber portar-se quando num discurso, com a consciência de que seu corpo fala;

• utilizar técnicas de relaxamento, bem como dicas para perder o medo de falar e para ter uma boa postura na hora de falar publicamente.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

TÓPICO 2 – O ESTILO JURÍDICO DE COMUNICAR

TÓPICO 3 – REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

2

3

TÓPICO 1UNIDADE 1

ELEMENTOS BÁSICOS DA

COMUNICAÇÃO

1 INTRODUÇÃO

A comunicação não é algo desenvolvido há pouco tempo, nem menos novo para nós. Comunicar, mesmo que não através das palavras, é uma habilidade que já existe há milhares de anos, seja a partir de sinais, de grunhidos ou mesmo da arte rupestre.

A comunicação é, teoricamente, a maneira que temos para nos relacionar com a sociedade de maneira geral, mas é preciso consciência para saber que, para cada ocasião, é necessário um estilo diferente de comunicar. Para o ambiente jurídico, não seria diferente.

Quando num contexto jurídico, algumas são as regras essenciais para que a comunicação se estabeleça de maneira eficaz. Para tanto, neste tópico, trabalharemos o que é a comunicação, seu conceito, quando surgiu e o que é preciso fazer para tornar-se um bom comunicador. Está pronto? Então, vamos adiante.

2 AFINAL, O QUE É COMUNICAR?

Parece muito fácil conceituar a palavra comunicação, mas para que possamos refletir acerca dos múltiplos significados da palavra, vamos ao dicionário:

Comunicar (verbo transitivo)1. Ação de dar a conhecer, divulgar ou informar; expor, noticiar ou veicular. Por exemplo: Vou comunicar a informação relevante aos encarregados de educação.2. Colocar-se em contato ou relação com outrem; principiar comunicação com. Por exemplo: Vou comunicar com minha amiga. 3. Atribuir passagem ou possuir conexão entre dois ou mais locais; interligar ou dar para. Por exemplo: o quintal comunica com a cozinha da casa.4. Ato de transmitir ou contar alguma informação ou dado novo a alguém.5. Ficar ou estar em comunicação ou contato com. 6. Divulgar-se, espalhar-se ou transmitir-se. Por exemplo: comunique da mudança da data da reunião.Sinônimos de Comunicaradvertir, avisar, conversar, discursar, enviar, expedir, exprimir, falar, informar, inteirar, intimar, legar, notificar, orar, remeter, transmitir (LÉXICO, 2018).

UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

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A partir de todas estas explicações, podemos chegar à conclusão de que são muitos os significados para a palavra comunicar, mas que todos eles têm algo em comum: a conexão com a sociedade. Nenhuma comunicação se efetiva se não tem o propósito de estabelecer um relacionamento, seja ele amistoso, de alerta, de advertência, por necessidade ou apenas para deleite.

A seguir, trabalharemos mais aprofundadamente a temática que neste material queremos propor, que é a comunicação voltada ao aspecto jurídico. Vamos adiante.

2.1. O CONCEITO DE COMUNICAÇÃO

Conceituar a comunicação, conforme já mencionamos, não é uma tarefa simples. Nesta seção, trabalharemos o conceito de comunicação mais aplicado à realidade atual: a transmissão de informações. Também focaremos no aspecto jurídico, que é o objetivo deste material.

Observe a tirinha:

FIGURA 1 - ESTUDAR DIREITO – CAMILO E ARMANDINHO

FONTE: <https://goo.gl/GMYkvb>. Acesso em: 20 dez. 2018.

Aqui, percebemos que ocorre uma falha na comunicação, quando Armandinho não compreende o sentido da palavra “direito”, dita por Camilo. Camilo se refere ao curso de Direito, mas Armandinho compreende que “estudar direito” significa estudar da maneira correta.

Este é um dos muitos exemplos que poderíamos citar como problema na comunicação. De acordo com Berlo (1991), devemos pensar em todas as formas de comunicação, bem como em seus instrumentos de transmissão. Antes mesmo que possamos identificar todos eles, vários outros já serão criados neste espaço de tempo, tão rápida é a velocidade da comunicação.

Se analisarmos a tecnologia da comunicação, desde 1950 percebemos as inúmeras inovações que vêm ocorrendo. Basta que observemos a televisão e sua

TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

5

evolução. Também os aparelhos de telefones celulares, que hoje se apresentam acoplados à mini câmeras e transmissores altamente sofisticados, o que nos permite conversar em tempo real com pessoas de qualquer parte do mundo.

Berlo (1991) propõe que pensemos no tempo das cavernas. A comunicação de lá para cá mudou muito, pois mudou também a sociedade. Apesar de o objetivo principal permanecer o mesmo, a tecnologia que permeia este ambiente mudou de modo expoente. A sociedade precisa hoje da comunicação para tornar comum um conhecimento, divulgar uma informação, mostrar uma decisão, dar uma opinião, relatar um fato ou, em linhas gerais, passar uma mensagem.

Na época das cavernas, a comunicação era voltada ao relacionamento da tribo, para o mantimento das necessidades básicas, como a caça e a fuga dos predadores, entre outros. A comunicação, de acordo com Berlo (1991), afasta ou aproxima, provocando a reação do outro.

Mas, afinal, qual é o conceito da comunicação aplicado à atualidade? Nos dicionários, como você pôde observar na seção anterior, existem inúmeros significados. A palavra comunicar vem da etimologia latina, a partir do termo comunicativo, e significa ação de comunicar, partilhar, dividir.

A seguir, apresentamos o conceito que mais está de acordo com o que propomos neste material.

NOTA

A comunicação é o processo que envolve a transmissão e a recepção de mensagens que partem de um emissor (destinatário) a um receptor (remetente). As informações (mensagens) são transmitidas por intermédio de recursos físicos (fala, escrita, audição, visão, tato) ou de aparelhos tecnológicos (celulares, cartazes, e-mails). Estes são codificados pelo emissor e decodificados pelo receptor.

2.2. QUANDO E COMO SURGIU A COMUNICAÇÃO?

Definir quando e como surgiu a comunicação é uma tarefa delicada, pois desde que existe a humanidade, existe alguma forma de comunicar. É fato que a comunicação surgiu por conta da necessidade de interação com o mundo. O ser humano necessita comunicar-se com o mundo que o rodeia, trocando ideias, expressando sentimentos ou adquirindo conhecimentos.

Assim como foi evoluindo o homem, também evoluíram os meios de comunicação, e a partir da sua capacidade cerebral, eles foram ficando cada vez mais específicos para um determinado objetivo. Hoje em dia, além da comunicação

UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

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em tempo real, ainda temos a comunicação a partir de livros, e-mail, circulares, televisão, telefonia celular e inúmeros outros recursos.

Mas, voltemos às origens. De acordo com Tattersall (2006), os primeiros vestígios de comunicação surgiram há cerca de 20 mil anos, quando os homens faziam desenhos nas paredes das cavernas. Com os estudos posteriores, ficou comprovado que estes desenhos objetivavam retratar aspectos da vida cotidiana ou ainda retratar técnicas de caça. Este último registro tinha por intuito transmitir o conhecimento para as próximas gerações.

Você sabia que as tintas usadas nas pinturas rupestres eram feitas com plantas, flores coloridas, terra e carvão e tinham uma alta durabilidade? No Brasil, ainda é possível ver os registros em cavernas de vários estados, mas as mais visitadas são em Minas Gerais e no Piauí.

NOTA

Depois da pintura rupestre, surgiram outros meios tecnológicos mais eficientes para registrar a escrita e conservá-la, como o papiro, a tinta, o grafite, o papel e todas as demais maneiras de comunicar que conhecemos hoje e ainda preservamos. Com o advento da tecnologia, telefones e internet tornaram a comunicação ainda mais eficaz.

Observe a imagem a seguir:

FIGURA 2 - A EVOLUÇÃO DA COMUNICAÇÃO

FONTE: <https://goo.gl/N6E1yE>. Acesso em: 28 nov. 2018.

TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

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Assim como mostra a imagem, podemos perceber que a comunicação evolui ao passo que evolui a tecnologia. De uma era de símbolos, hoje temos a informação que facilmente pode ser acessada a qualquer momento. Na próxima seção trabalharemos um pouco mais especificamente cada uma das maneiras de comunicar.

2.3. AS DIFERENTES MANEIRAS DE COMUNICAR

Como já mencionamos anteriormente, existem inúmeras maneiras de comunicar. Nesta seção, trabalharemos com algumas características de cada uma delas.

Vamos lá?

2.3.1 Comunicação verbal

É a maneira mais convencional de comunicação entre pares, pois, por ser momentânea, pode transmitir ideias e pensamentos de qualquer nível de complexidade. A comunicação verbal é caracterizada pelo uso das palavras. Podemos classificar a linguagem verbal em dois tipos:

• Escrita: esta maneira de se comunicar verbalmente é determinada pelo fato de que o receptor não está presente na conversa. Mesmo que haja interação, esta, na maioria das vezes, não é momentânea. Para este tipo de comunicação, deve-se levar em consideração que o estilo da escrita deve estar alinhado ao objetivo da mensagem.

• Oral: a comunicação oral, diferente da escrita, em sua maioria apresenta a interação imediata. Ela pode ocorrer independente do fato de o interlocutor estar no mesmo local, como é o caso de uma conversa por telefone. Para uma boa comunicação oral, é preciso estar atento à naturalidade e à objetividade da mensagem.

FIGURA 3 - EXEMPLO DE LINGUAGEM VERBAL

FONTE: disponível em: <https://goo.gl/dAtn5x>. Acesso em: 28 nov. 2018.

UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

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A comunicação oral, por ser imediata (quando não se tratar de uma gravação, por exemplo), permite ao falante clarear a mensagem, esclarecendo certos mal-

entendidos que podem ocorrer no ato, diferente da escrita, que precisa ser muitíssimo clara para que o leitor não compreenda mal o que o escritor quis dizer.

NOTA

A comunicação verbal eficaz ocorre de maneira passiva e ativa, sendo que a primeira ocorre quando recebemos a mensagem (lemos ou ouvimos) e a segunda ocorre quando emitimos a mensagem (escrevemos ou falamos).

2.3.2 Comunicação não verbal

Ao contrário da comunicação verbal, a comunicação não verbal é feita a partir de cores, gestos, códigos, imagens ou sons. A comunicação não verbal está presente no nosso dia a dia a partir de inúmeras manifestações, como semáforos, buzinas, sinais de trânsito e a Língua Brasileira de Sinais (Libras).

FIGURA 4 - EXEMPLO DE LINGUAGEM NÃO VERBAL

FONTE: <https://goo.gl/ipEFd5>. Acesso em: 28 nov. 2018.

Caro acadêmico, independentemente da modalidade de comunicação escolhida, é primordial levar em consideração a assertividade da comunicação. Assim sendo, seja ela verbal ou não, é importante compreender que se não houver clareza, o objetivo não será cumprido. Na próxima seção, você conhecerá quais são os elementos da comunicação. Está pronto? Vamos lá.

TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

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3 OS ELEMENTOS E AS CARACTERÍSTICAS DA (BOA) COMUNICAÇÃO

A comunicação precisa de alguns elementos para ser efetivada. Nesta etapa dos seus estudos, conheceremos cada um destes elementos e a sua função dentro do processo da comunicação.

Vamos adiante.

3.1. OS ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO

De acordo com Vanoye (2003), temos alguns elementos que são primordiais para que o processo comunicativo se efetive. São eles o emissor, o receptor, o referente, o canal, o código e a mensagem.

A partir de agora faremos uma análise detalhada de cada um destes elementos e sua função dentro do processo comunicativo.

• EMISSOR: é aquele que codifica (ou transmite) a mensagem. Em um processo de escrita, por exemplo, o emissor é aquele que escreve. O emissor deve preocupar-se em transmitir a mensagem de uma maneira clara para facilitar o processo de interpretação do receptor. É representado no discurso pela primeira pessoa (eu/nós).

• RECEPTOR: é aquele que decodifica (ou recebe) a mensagem. No mesmo processo de escrita, ele seria, por exemplo, aquele que lê a mensagem. A percepção do receptor faz toda a diferença quando se trata da decodificação da mensagem, pois é ele quem interpreta, colocando na mensagem a sua emoção. É representado no discurso pela segunda pessoa (tu) ou ainda pelos pronomes de tratamento (Vossa Excelência, você, Sua Santidade etc.).

Você conhece os pronomes de tratamento? Preparamos uma tabela para que você possa relembrá-los.

PRONOMES DE TRATAMENTO.

DICAS

Vossa Alteza    V. A.   Duques e príncipes

Vossa Eminência V. Ema.(s) Cardeais

Vossa Reverendíssima V. Revma.(s) Bispos e sacerdotes

Vossa Excelência V. Ex.ª (s) Altas autoridades

Vossa Magnificência V. Mag.ª (s) Reitores de universidades

UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

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FONTE: A autora (2018).

Vossa Majestade V. M. Reis e rainhas

Vossa Majestade Imperial V. M. I. Imperadores

Vossa Santidade V. S. Papa

Vossa Senhoria V. S.ª (s) Autoridades em geral

Vossa Onipotência V. O. Deus

• REFERENTE: é o popular “assunto”, ou seja, o objeto (ou a pessoa) do qual o emissor está falando. É representado no discurso pela terceira pessoa (ele, ela, eles, elas ou ainda pelos pronomes demonstrativos este, esta, esse, essa, aquele, aquela, isso, isto).

• CANAL: é o meio que conecta o emissor ao receptor. O canal dependerá muito do código que for escolhido para a transmissão da mensagem. O canal pode ser físico ou psicológico, dependendo do tipo de comunicação efetivada. Como exemplo de canal físico indicamos o rádio, a televisão, o telefone, a carta, a internet. Como exemplo de canal psicológico indicamos as expressões corporais, as piscadas, os sorrisos.

• CÓDIGO: é o conjunto de signos que o emissor escolhe para transmitir a mensagem. O código tem estreita relação com o canal. Exemplos de códigos são o Morse, o alfabeto, as placas de trânsito, escrita braile e outros.

• MENSAGEM: é o que se transmite de fato. Pode ser um aviso, uma notificação, uma notícia, um lembrete ou uma informação.

Para que você possa compreender o processo que desencadeia a comunicação, observe a imagem a seguir (Figura 5), que conecta todos os elementos da comunicação em seu funcionamento.

Algo que deve ser enfatizado também é o fato de que há, no processo de comunicação, o uso das FUNÇÕES DA LINGUAGEM. As funções da linguagem são geradas por cada um dos elementos da comunicação.

Mas em que consistem estas funções de linguagem? De acordo com Bechara (2009), as funções são o foco da mensagem em um dos seis elementos da comunicação que trabalhamos anteriormente. Cada uma delas, de acordo com o autor, possui características bem particulares.

Agora que você já sabe o que são as funções de linguagem, vamos à explicação detalhada de cada uma delas:

• Função Referencial ou Denotativa: esta função traz informações reais, que trazem ao leitor os fatos como eles são. o Por exemplo: os jornais e documentários sempre utilizam esse tipo de

linguagem porque relatam situações que realmente ocorreram. o Foco: referente.

TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

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FIGURA 5 - FUNÇÃO REFERENCIAL

FONTE: <https://goo.gl/9iwpoG>. Acesso em: 20 nov. 2018.

• Função Emotiva ou Expressiva: essa função traz as emoções do emissor. É o tipo de função que explicita as opiniões e emoções de quem escreve a mensagem.o Por exemplo: poemas ou textos de cunho literário ou poético, canções. o Foco: emissor.

FIGURA 6 - FUNÇÃO EMOTIVA - AMOR ANTIGO, POEMA DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

FONTE: <https://goo.gl/zWmXBt>. Acesso em: 20 nov. 2018.

O Amor Antigo

O amor antigo vive de si mesmo, não de cultivo alheio ou de presença. Nada exige nem pede. Nada espera, mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas, feitas de sofrimento e de beleza. Por aquelas mergulha no infinito, e por estas suplanta a natureza.

Se em toda a parte o tempo desmorona aquilo que foi grande e deslumbrante, o antigo amor, porém, nunca fenece e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança. Mais triste? Não. Ele venceu a dor, e resplandece no seu canto obscuro, tanto mais velho quanto mais amor.

• Função Fática: tem por objetivo dar continuidade à conversa. Um dos seus principais detalhes é a repetição dos termos.

UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

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o Por exemplo: conversas ao telefone. o Foco: canal.

FIGURA 7 - FUNÇÃO FÁTICA

FONTE: <https://goo.gl/GjF8Fi>. Acesso em: 20 nov. 2018.

• Função Conativa ou Apelativa: tem por objetivo influenciar o receptor a partir do apelo. o Por exemplo: propagandas de modo geral.o Foco: receptor.

FIGURA 8 - FUNÇÃO CONATIVA

FONTE: <https://goo.gl/C78mdo>. Acesso em: 20 nov. 2018.

• Função Metalinguística: esta função de linguagem utiliza o código para explicar o próprio código.

TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

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o Por exemplo: dicionários da língua portuguesa, quando usamos palavras para explicar palavras.

o Foco: código

FIGURA 9 - FUNÇÃO METALINGUÍSTICA

FONTE: <https://www.dicio.com.br/conectar/>. Acesso em: 20 nov. 2018.

• Função Poética: esta função visa enfatizar a mensagem, ressaltando a maneira como ela é estruturada para dar ênfase ao seu significado. Quando o escritor escolhe a função poética, ele preocupa-se muito mais com as rimas, com a estrutura e com a imagem do que com as palavras em si. o Por exemplo: poemas. o Foco: mensagem.

FIGURA 10 - FUNÇÃO POÉTICA

FONTE: <https://goo.gl/pgygVD>. Acesso em: 20 nov. 2018.

Para compreender melhor esta estrutura, observe a figura a seguir:

UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

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FIGURA 11 - A COMUNICAÇÃO E SEUS ELEMENTOS

FONTE: <https://goo.gl/om3BUh>. Acesso em: 28 nov. 2018.

Agora que você já conhece todos os elementos da comunicação e já compreende as funções da linguagem que as cercam, vamos adiante. A partir de agora, estudaremos um pouco mais acerca das características da boa comunicação e do bom comunicador.

Adiante!

3.2. CARACTERÍSTICAS DA BOA COMUNICAÇÃO E DO BOM COMUNICADOR

Antes de iniciarmos nossa conversa, leia atentamente os dois recados a seguir:

• Recado 1: Amanhã vir uniformizados às 10h para a reunião no pátio da empresa com o diretor da ISO 9001.

• Recado 2: Amanhã todos os funcionários deverão vir uniformizados para a reunião que ocorrerá às 10h, no pátio da empresa, com o diretor da ISO 9001.

Ambos os recados trazem exatamente a mesma mensagem, mas se você notar, o recado de número 2 está mais claro, não é mesmo? Assim ocorre a comunicação. Quanto mais clara e organizada for a mensagem, menores são os possíveis problemas que isso pode causar.

Comunicar-se, conforme já mencionamos, é essencial em todas as esferas da vida, seja na família, com os amigos ou para negócios. Na área jurídica, que

TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

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é o foco deste material, também. Trocando em miúdos, para que tenhamos bons relacionamentos interpessoais, devemos aperfeiçoar nossa conversação, porque a partir dela podemos tudo ganhar ou tudo perder. Isso é sério, não é?

ATENCAO

Você sabia que de acordo com o site da revista Exame, 57% dos projetos fracassam por causa da má comunicação entre as partes?

Saber ouvir é tão importante (ou mais) do que saber falar. Buscar falar com espontaneidade traz um ambiente mais amigável e pode ser uma porta aberta para negociações ou amizades. Já uma conversa fechada, sem muita abertura, pode ser o desperdício de uma chance para quem sabe, futuros negócios.

Conforme Maciel (2016, s.p.), “conversar é também uma arte. O tom de voz, os gestos, uma linguagem bem falada, com conteúdo e palavras bem pronunciadas, são fatores importantes em uma conversação”. Para uma pessoa que trabalha na área jurídica, especificamente, o sucesso depende de saber usar as palavras.

Por mais que pareçam coisas sem importância, pequenos detalhes podem ser cruciais para causar uma boa impressão (ou não). Ainda de acordo com Maciel (2016), até mesmo o tom de voz que usamos revela nossa personalidade. Uma voz firme transmite muito mais confiança do que uma voz trêmula e insegura.

Você deve estar se perguntando, acadêmico, o que, de fato, se caracteriza como uma boa comunicação e o que faz um bom comunicador, correto? Para que a comunicação seja eficaz, é preciso que a mensagem seja corretamente entendida pelo receptor e que de certa forma cumpra o que se propõe a fazer.

Vamos a um exemplo: se um vendedor consegue convencer quem o está ouvindo a comprar um televisor em sua loja, a comunicação dele foi eficaz. Se os funcionários compareceram uniformizados e reuniram-se no pátio às 10h, a comunicação foi eficaz.

Lembre-se: a comunicação não depende somente do emissor, mas também do receptor.

IMPORTANTE

UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

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Maciel (2016, s.p.) nos apresenta algumas dicas para sermos bons comunicadores, listando o que não devemos fazer quando conversamos. Estas dicas podem ser usadas em todas as esferas da comunicação. Vamos conhecê-las?

O que devemos evitar durante a conversação, no que tange aos aspectos físicos:

• Falar baixo ou alto demais.• Falar rápido ou devagar demais.• Fazer caretas, gaguejar ou balbuciar.• Roer as unhas ou morder os lábios.• Arrumar a roupa de outras pessoas.• Bater nos ombros ou coçar a cabeça.• Mascar chiclete.

Devemos evitar também, no aspecto intelectual:

• Ser indiscretos ou curiosos.• Ser excessivamente francos. • Ser muito polidos ou muito descolados.• Ficar em silêncio (o popular “dar vácuo”).• Exibir nossas qualidades. • Interromper as pessoas no meio dos seus pensamentos. • Fazer fofocas ou comentários maldosos.

Ressaltamos que estas dicas são preciosas e se você conseguir evitá-las na hora da conversa, certamente será um bom comunicador. O excesso de franqueza, por exemplo, embora possa parecer politicamente correto, pode estar ligado à falta de educação e, de certa forma, afasta as pessoas de você. Já a sinceridade sim, esta é ligada ao raciocínio e ao bom caráter.

Ao conversar, seja mais sincero do que franco.

UNI

Outra observação que deve ser levada em consideração e que pode parecer inofensiva é prestar atenção somente ao que nos interessa. Ouça o que a pessoa está falando. É extremamente desagradável ouvir ao final da pergunta ou da frase as expressões “hum?” ou “desculpe?”. É claro que há casos em que realmente a audição possa ser prejudicada, como em uma festa, um local com muitas pessoas, mas não se justifica quando estiverem sentados no sofá de sua casa ou na mesa do escritório. Lembre-se de soltar o celular quando você conversa com as pessoas.

Outra dica importante que se soma às anteriores: não chame de “querido”, de “amado”, de “meu bem” pessoas com quem você não tenha muita intimidade. Isso pode passar a imagem de que você está querendo “forçar a barra”. Com

TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

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quem não conhece, evite também ser aquela pessoa que só fala de tragédias, más notícias ou piadas sem graça.

Maciel (2016) também ressalta que olhar nos olhos das pessoas com quem se fala demonstra consideração, e, assim como o saber ouvir, faz parte da regra de que é inaceitável deixar o interlocutor falando sozinho, e isso infelizmente ocorre muito. Se você olhar no olho, evita distrair-se.

Lembre-se sempre: para ser um bom comunicador, use a regra do OPA:

OUÇA quem está falando com PACIÊNCIA e preste ATENÇÃO no seu interlocutor. Assim, você não dará nenhuma bola fora.

ATENCAO

3.3. A EXCELÊNCIA NA COMUNICAÇÃO: COMO CONSEGUI-LA?

Conversamos bastante a respeito de como ser um bom comunicador, mas de que maneira conseguir a excelência? Ou seja, como podemos fazer para que nossa comunicação seja eficaz em mais de 90% das nossas empreitadas?

Gross (2013) elenca algumas dicas de ouro para que possamos ter sucesso nas negociações a partir da comunicação. A seguir, selecionamos para vocês, acadêmicos, cinco destas dicas criadas pelo autor. Você perceberá que algumas delas muito têm a ver com o que já estudamos até agora.

Está pronto? Vamos lá, então.

QUADRO 1 – DICAS DE OURO PARA TER SUCESSO NAS NEGOCIAÇÕES A PARTIR DA COMUNICAÇÃO

Dica número 1: Fique atento ao perfil de quem receberá a mensagem.

Isso quer dizer que você precisa observar se a pessoa para quem você está transmitindo a mensagem irá compreender o que você vai dizer. Gross (2013) ainda ressalta que por mais que isso pareça óbvio, nem todos os comunicadores estão atentos a isso. Quer ver um exemplo? Quando um técnico de informática chega à sua casa para resolver um problema com seu computador e usa termos específicos, você provavelmente terá dificuldades em entender o que ele quer dizer, não é mesmo? Gross (2013) destaca que

UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

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isso não está atrelado à falta de capacidade, mas sim, à falta de vocabulário específico ou mesmo de conhecimento técnico.

Dica número 2: Invista nas três esferas da comunicação

De acordo com pesquisas no laboratório de psicologia da UCLA (Universidade da Califórnia) citadas no livro de Gross (2013), a comunicação humana face a face é composta da seguinte maneira: 55% são mensagens não verbais, 38% acontecem pelo tom de voz e 7% são verbais. Desta maneira, muitos comunicadores acabam pecando por focarem em apenas uma pequena parte desta composição (geralmente apenas nos 7% que correspondem ao verbal). A postura, o olhar, a roupa que você usa, o aperto de mão e outros detalhes são extremamente importantes ao comunicar. De acordo com Gross (2013, p. 13), “explorar as três esferas da comunicação aumenta a possibilidade de sermos bem-sucedidos e compreendidos em nossas mensagens”.

Dica número 3: Saiba ouvir

Olha o que nos aparece novamente? Esta dica de ouro já foi mencionada anteriormente, em outra seção, não é mesmo? Assim, podemos ter ainda mais certeza de que a comunicação é eficaz quando o comunicador ouve com atenção. Ao afirmar que “durante uma conversa, quando você se silencia e escuta o outro de maneira focada, envia uma mensagem que é interpretada positivamente pelo receptor: ele me ouve, valoriza as minhas ideias, respeita e me considera como indivíduo” (GROSS, 2013, p. 44), o autor desconstrói a percepção comum que as pessoas têm de que quanto mais elas falarem e expuserem suas ideias, mais poder de influência elas terão. Resumindo: se você deseja ser um influenciador, deve interagir com as pessoas, e para isso é preciso fugir de monólogos. Lembre-se da regra do “OPA”: OUÇA quem está falando com PACIÊNCIA e preste ATENÇÃO no seu interlocutor.

Dica número 4: Aposte na assertividade

Ser claro, objetivo e agir com sinceridade são características de quem é assertivo. A transparência, por mais que não pareça, é sim percebida por quem ouve. Lembre-se do que mencionamos anteriormente: ser sincero é diferente do que ser franco. Olhar para quem fala, manter um tom de voz firme e moderado são, de acordo com Gross (2013), características raras em quem comunica. O autor ainda afirma que muitas pessoas não são sinceras por terem medo das retaliações, mas se omitir por este medo causa mal à saúde.

TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

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Dica número 5: Use técnicas para aumentar o impacto da mensagem

Quando a mensagem é impactante, ela marca muito mais, não é mesmo? Quem se lembra da série de propagandas relacionadas ao “Se beber, não dirija”? O impacto é causado a partir do uso de técnicas. Os publicitários são a classe que mais utiliza esta técnica, e não é para menos, pois eles têm por objetivo vender ou divulgar produtos ou serviços, na maioria das vezes, tentando “seduzir” o leitor ou telespectador. Gross (2013) cita como algumas das táticas usadas por ele o uso de textos, fotos, símbolos, cores, formas e imagens que despertem a atenção do receptor. Quebrar o padrão da rotina também é algo que chama a atenção. Não caia na mesmice. Seja autêntico. Depois, observe sua “plateia”. Adéque sua linguagem. Observe se são jovens, se são idosos, se são policiais, se são professores, se são médicos, se são funcionários públicos, se são vendedores etc. Estimulá-los para descobrir os motivos que os fariam mudar de atitude é a chave. “Ofereça algo que lhe traga satisfação ou que possa resolver um problema que o aflige” (GROSS, 2013, p. 48). Para finalizar, basta colher o que você plantou. Pode ser conquistar um cliente, vender um carro, convencer alguém a parar de fumar, vender um projeto.[...]

FONTE: Adaptado de Gross (2013)

Estas dicas foram valiosas, não é mesmo? Aproveite cada uma delas e não as deixe no papel. Coloque-as em prática. Você sentirá a diferença.

Chegamos ao fim da seção 3. Mas ainda temos muito pela frente. Vamos lá? Fique firme e você aprenderá muitas técnicas interessantes.

4 A PALAVRA: MATÉRIA-PRIMA DA LINGUAGEM JURÍDICA

Não é novidade afirmar que a palavra é a matéria-prima de quem trabalha na área jurídica, não é mesmo? Seja na escrita ou na fala, o bom uso delas é essencial para quem deseja ser bem-sucedido na carreira.

Nesta última seção do Tópico 1, estudaremos o conceito e o uso das palavras de maneira a retirar delas a sua melhor essência.

Vamos lá.

UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

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4.1. O QUE É A PALAVRA, AFINAL?

Para que possamos iniciar, vamos a um poema.

As Palavras

São como um cristal,as palavras.

Algumas, um punhal,um incêndio.

Outras,orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.Inseguras navegam:

barcos ou beijos,as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,leves.

Tecidas são de luze são a noite.

E mesmo pálidasverdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quemas recolhe, assim,cruéis, desfeitas,

nas suas conchas puras?(ANDRADE, 1981, p. 89)

FONTE: ANDRADE, E. As palavras. In: ______. Poemas de Eugénio de Andrade: o homem, a terra, a palavra. Portugal: Seara Nova, 1981.

DICAS

Um poema não se explica, apenas se interpreta. A partir dele, você consegue perceber a complexidade das palavras, não é mesmo? Mas, afinal, qual é o conceito de palavra?

TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

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PA. LA. VRA (nome feminino)1. unidade linguística dotada de sentido, constituída por fonemas organizados numa determinada ordem, que pertence a uma (ou mais) categoria(s) sintática(s) e que, na escrita, é delimitada por espaços brancos; termo, vocábulo;2. faculdade de falar;3. doutrina, ensinamento;4. promessa verbal;5. sentença;6. expressão conceituosa;7. opinião, parecer;8. afirmação;9. recado, mensagem;10. exortação, discurso;11. permissão de falar.

FONTE: <https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/palavritas>. Acesso em: 20 nov. 2018.

NOTA

Palavras são elementos que, organizados, podem construir ou desconstruir, dependendo do ponto de vista de quem as emite e de quem as recebe. Basta ter o discernimento de que elas precisam ser bem escolhidas, sempre de acordo com o objetivo da comunicação. Definir palavra não é, portanto, algo que se possa fazer, mas, certamente, os resultados dos seus usos dependem das escolhas feitas.

4.2. O PODER DAS PALAVRAS

Nesta seção, acadêmico, focaremos no poder das palavras. Teremos, a partir de agora, a possibilidade de explorar um pouco mais a força que as palavras têm para construir ou desconstruir, conforme já mencionamos anteriormente.

Dizer coisas sem pensar é algo comum do ser humano. Quem nunca disse algo de que tenha se arrependido profundamente logo em seguida? As consequências geradas por palavras ou expressões mal formuladas podem ser devastadoras, dependendo da situação em que são proferidas. Além de ofender pessoas, elas podem afetar relacionamentos e até mesmo levar quem as disse ao fundo do poço com a perda de empregos ou, no caso da linguagem jurídica, de causas.

O momento da fala é por vezes muito mais rápido do que nossos pensamentos. Observe a tirinha:

UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

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FONTE: <https://goo.gl/UCaxgZ>. Acesso em: 29 nov. 2018.

Na tira, a resposta de Linus é dita sem pensar, situação que o próprio menino percebe quando sai correndo da irmã Lucy, que joga a almofada em cima dele. Quando ele afirma “a boca é mais rápida que o cérebro”, ele toma consciência de que sua resposta à irmã não foi conveniente para o momento. Para que situações como a de Linus não ocorram, alguns cuidados podem ser tomados.

Vamos conhecê-los?

• Pense antes de falar: Este é um dos maiores causadores de problemas, seja em família, entre

amigos, no trabalho ou mesmo em relacionamentos. A raiva, a emoção negativa ou mesmo o nervosismo, em determinados momentos, nos tomam conta e nos “sequestram” de nós mesmos, fazendo com que nosso sistema nervoso autônomo aja sem nosso consentimento e reflita isso nos atos e palavras que proferimos. Aquela velha regrinha de “conte até dez quando estiver nervoso” é preciosa, pois na verdade, é o tempo que precisamos para conseguirmos voltar à nossa consciência antes de proferirmos qualquer palavra sem que estejamos conscientes dela. Gerir as emoções é fundamental.

FIGURA 12 - PENSE ANTES DE FALAR

TÓPICO 1 | ELEMENTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO

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• Como você diz é tão importante quanto o que você diz: É muito comum ouvir a seguinte expressão: “você pode dizer tudo o que

quiser, mas depende da maneira como você fala”. Cuidar com a maneira como as coisas são ditas não quer dizer que você deva deixar de expressar suas opiniões, mas sim, que precisa saber como dizer sem magoar ou ofender a outra pessoa. Você pode fazer uma crítica, por exemplo, ajudando uma pessoa a melhorar ou colocá-la no fundo do poço apenas a partir da maneira como você diz a mesma coisa. Lembre-se: o que determina que uma crítica seja construtiva ou destrutiva é como você a faz. Aqui também entram o tom da voz e o saber silenciar. Nem sempre a pessoa com quem você vai falar está pronta para ouvir. Por vezes, o mais sábio a fazer é apenas calar-se.

• Corrija com calma:

Se a sua correção for necessária, seja discreto. Jamais corrija alguém em público ou em voz autoritária. Sempre se coloque na posição de igualdade para fazê-lo e certamente você será muito melhor ouvido. Ninguém gosta de críticas ou correções, lembre-se disso. Isso serve para filhos, cônjuge, um colega de trabalho, o chefe, um funcionário seu, pedestres, ciclistas ou motoristas irregulares, alunos, enfim. Use esta regra para toda e qualquer correção que precise ser aplicada.

Certamente a partir destas dicas, você conseguirá controlar a sua maneira de usar as palavras e fará com que elas tenham muito mais poder.

Chegamos ao fim da Unidade 1. Vamos agora ao resumo para relembrar o que você estudou neste tópico.

Até breve.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• A comunicação existe desde que existe a humanidade.

• São muitos os significados para a palavra comunicar, mas todos elas têm algo em comum: a conexão com a sociedade.

• A comunicação surgiu por conta da necessidade de interação com o mundo.

• Comunicação verbal é a maneira mais convencional de comunicação entre pares, e usa a palavra como matéria-prima. Divide-se em escrita e oral.

• Comunicação não verbal utiliza sinais, cores, buzinas, como em placas de trânsito, por exemplo.

• São elementos da comunicação o emissor, o receptor, o referente, o canal, o código e a mensagem.

• As funções de linguagem são a Referencial ou Denotativa; a Emotiva ou Expressiva; a Fática; a Conativa ou Apelativa; a Metalinguística e a Poética, e cada uma delas faz referência a um dos elementos da comunicação.

• O bom comunicador é aquele que sabe dosar bem as palavras e a postura.

• As dicas de ouro, quando seguidas, podem ajudá-lo a tornar-se um comunicador exemplar.

• Ao conversar, devemos ser mais sinceros do que francos.

• A palavra é a matéria-prima de todo comunicador.

RESUMO DO TÓPICO 1

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1 De acordo com o conceito de comunicação, assinale com V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.

( ) Comunicar é apenas colocar-se em contato ou em relação com outrem.( ) Comunicar não pode ser considerado sinônimo de avisar. ( ) Comunicar apresenta múltiplos significados. ( ) A comunicação eficaz depende tanto do emissor quanto do receptor.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) V – F – F – V. b) ( ) F – V – V – F. c) ( ) V – V – F – F. d) ( ) F – F – V – V.

2 Quanto aos elementos da comunicação, assinale de acordo com o código.

A – Emissor. B – Receptor.C – Canal. D – Código. E – Referente. F – Mensagem.

( ) é aquele que decodifica (ou recebe) a mensagem;( ) é o popular “assunto”;( ) é aquele que codifica (ou transmite) a mensagem;( ) é o meio que conecta o emissor ao receptor;( ) é o que se transmite de fato; ( ) é o conjunto de signos que o emissor escolhe para transmitir a mensagem.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) B – F – C – D – A – E. b) ( ) B – E – A – C – F – D. c) ( ) E – A – C – F – D – B. d) ( ) A – E – C – B – D – F.

3 Sobre as regras para tornar-se um bom comunicador, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Para o bem comunicar, falar muito e em tom alto é um elemento importante.

AUTOATIVIDADE

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b) ( ) Para o bem comunicar, não se deve usar imagens em sua apresentação. c) ( ) Para o bem comunicar, o que é mais importante é a roupa do comunicador. d) ( ) Para o bem comunicar, saber ouvir é um dos elementos mais importantes.

4 De acordo com as características da comunicação, analise as sentenças a seguir:

I- As placas de trânsito são todas verbais. II- Um semáforo é um exemplo de linguagem não verbal. III- Uma bula de remédios é um exemplo de linguagem verbal. IV- Braile é linguagem verbal.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas. b) ( ) As sentenças II e III estão corretas. c) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas. d ) ( ) Todas as sentenças estão corretas.

5 De acordo com o surgimento da comunicação, assinale com V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.

( ) A comunicação surgiu em 2000 a.C. ( ) Existe uma data exata para o surgimento da comunicação. ( ) A comunicação existe desde que existe a humanidade. ( ) Desde os primórdios a comunicação é baseada nas palavras.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) F – F – V – F. b) ( ) V – F – V – F. c) ( ) F – V – F – V. d) ( ) V – V – F – V.

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TÓPICO 2

O ESTILO JURÍDICO DE

COMUNICAR

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Acadêmico, seja bem-vindo ao novo tópico do seu material de Linguagem Jurídica. Você já deve ter percebido que nesta primeira unidade trabalharemos algumas regras gerais da comunicação, para que depois possamos entrar mais especificamente na linguagem jurídica.

Neste tópico, abordaremos as figuras de linguagem utilizadas na língua portuguesa e que são amplamente utilizadas na linguagem jurídica. Vamos conhecê-las?

2 AS FIGURAS DE LINGUAGEM NO DISCURSO JURÍDICO

As figuras de linguagem, como são chamadas no Brasil, são algumas estratégias aplicadas, pelo escritor, ao texto para conseguir diferentes efeitos na interpretação. Elas podem, de acordo com Bechara (2009), ser de ordem semântica, fonológica ou sintática, por isso, dividem-se em figuras de palavras, figuras de pensamento e figuras de sintaxe.

As figuras de linguagem são amplamente utilizadas no cotidiano das pessoas e na literatura. A seguir, estudaremos uma a uma, de acordo com a sua classificação. Vamos adiante.

2.1. AS FIGURAS DE PALAVRAS

Também chamadas de figuras de semântica, elas são oito: metáfora; me-tonímia; comparação ou símile; perífrase ou antonomásia; sinestesia; sinédoque; alegoria e catacrese. Vamos agora estudá-las e exemplificá-las uma a uma:

• Metáfora: ocorre quando há a comparação implícita de dois elementos que tenham características em comum. A comparação deve ser subentendida.

Exemplos de metáfora:− Aquela cena era um filme de guerra (Aquela cena era como um filme de guerra

– a comparação está subentendida).

UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

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− Mariana é uma flor. − Hoje ela acordou uma pimenta.

• Metonímia: ocorre quando há a substituição de uma palavra por uma de sentido próximo. Pode ser dito o efeito no lugar da causa, a parte no lugar do todo, a marca no lugar do produto, o autor no lugar da obra.

Exemplos de metonímia:− Ela comprou um Omo® (na verdade, ela comprou sabão em pó da marca

Omo®). − Ontem eu li Casimiro de Abreu (na verdade, eu li o livro escrito por Casimiro

de Abreu).

• Comparação: como o próprio nome já sugere, é a comparação explícita entre dois elementos. Sempre deve haver um conectivo comparativo (como, tal qual, que nem) para que esta figura de palavra ocorra.

Exemplos de comparação:− Paula é ágil como um foguete. − Ela é linda que nem a mãe. − Os garotos jogam tal qual o treinador orientou.

• Perífrase: ocorre quando aparece uma expressão simbólica que indique, de maneira indireta, algo que poderia ser diretamente dito com poucas palavras.

Exemplos de perífrase:− O rei da selva é feroz (rei da selva = leão).− Faz frio na terra da garoa (terra da garoa = São Paulo).

• Sinestesia: Ocorre quando do texto misturam-se as sensações expressas pelos sentidos humanos (tato, olfato, paladar, audição e visão).

Exemplo de sinestesia:− Ouvi os amargos gemidos de socorro (ouvir – audição; amargo – paladar). − Senti o cheiro doce do seu perfume (cheiro – olfato; doce – paladar). − Pude ver as macias nuvens no céu (ver – visão; macias – tato). • Sinédoque: é caracterizada pela substituição de um termo por outro que pode

ou ampliar ou reduzir seu sentido. O termo referido pode ser o singular ao invés do plural, a classe ao invés do indivíduo ou a parte no lugar do todo.

Exemplo de sinédoque:− A mulher é um ser delicado (generaliza as mulheres). − O baiano adora acarajé (generaliza os baianos). − Os professores gostam das férias (generaliza os professores). − O homem é um ser pensante (generaliza o homem).

• Alegoria: Trata-se de um conjunto criado para transmitir uma mensagem de maneira figurada.

TÓPICO 2 | O ESTILO JURÍDICO DE COMUNICAR

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Exemplo de alegoria:− Em terra de cego, quem tem um olho é rei.− Quem não tem cão, caça com gato.

• Catacrese: Ocorre quando se utiliza uma palavra para nomear outra coisa porque, para este, não há nome específico.

Exemplo de catacrese:− Machucou a batata da perna.− Queimou o céu da boca. − Quebrou o bico do bule.

2.2. AS FIGURAS DE PENSAMENTO

São construções usadas para que a expressividade da mensagem seja enfatizada. Elas são oito: antítese; apóstrofe; eufemismo; gradação; hipérbole; ironia; paradoxo e prosopopeia. Elas podem causar emoção a partir da alteração do sentido semântico da frase.

• Antítese: caracteriza-se pela aproximação de conceitos contrários.

Exemplo de antítese:− Prometo-te ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. − Dias e noites passo me martirizando.

• Apóstrofe: ocorre quando o emissor chama uma pessoa ou algo personificado, criando uma conexão.

Exemplo de apóstrofe:− Ei, senhor, aqui está seu chapéu. − Moça, não se apresse. Ainda está cedo. • Eufemismo: ocorre quando usamos uma palavra para suavizar um termo que

pode ser desagradável, polêmico ou impactante.

Exemplo de eufemismo:− Ele partiu desta para uma melhor (ao invés de falar a palavra “morreu”). − Ela não atingiu a média esperada (ao invés de usar a palavra “reprovou”).

• Gradação: ocorre quando há um encadeamento crescente ou decrescente de ideias que suaviza ou intensifica uma mensagem.

Exemplo de gradação:− Te darei a mão, um abraço, um beijo, minha vida. − Nós nascemos, crescemos, evoluímos e morremos.

UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

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• Hipérbole: ocorre quando há exagero na mensagem, propositalmente.

Exemplo de hipérbole:− Morri de rir com sua risada. − Já repeti um milhão de vezes.

• Ironia: ocorre quando se transmite intencionalmente o contrário do que se quer, satirizando uma pessoa ou situação.

Exemplo de ironia:− Que maravilha! Saiu a energia mais uma vez. − Parabéns, você conseguiu destruir a festa.

• Paradoxo: é também chamado de oximoro e ocorre quando há a associação de dois conceitos que se contradizem.

Exemplo de paradoxo:− Eu sonho acordada com esse momento. − Este fogo não me queima.

• Personificação: também chamada de prosopopeia, ela ocorre quando se dá características humanas a seres inanimados ou irracionais.

Exemplo de personificação:− O vento assobiava alegre. − As árvores choravam pelo calor intenso.

2.3. AS FIGURAS DE SINTAXE

Também são conhecidas como figuras de construção. As principais são nove: pleonasmo; anáfora; anacoluto; elipse; zeugma; assíndeto; polissíndeto; hipérbato e silepse. Elas enfatizam o aspecto sintático e provocam mudanças na estrutura da oração.

• Pleonasmo: também chamado de redundância, ocorre quando usamos excessivamente palavras que por vezes não são necessárias.

Exemplo de pleonasmo:− Ela gritou alto seu nome. − Ele morreu de morte natural. − O pássaro saiu pra fora assim que abrimos a janela.

• Anáfora: mais comum na linguagem literária, ocorre quando repetimos uma ou mais palavras no início de versos, orações ou períodos.

TÓPICO 2 | O ESTILO JURÍDICO DE COMUNICAR

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Exemplo de anáfora:− Eu te amo, eu te quero aqui; eu te odeio, eu quero que partas daqui. − Ela é guerreira, ela é uma deusa, ela é mulher de verdade.

• Anacoluto: ocorre mais na fala, quando ocorre uma interrupção para antecipar um termo que seria dito depois, desconectando-o da oração.

Exemplo de anacoluto:− Mulheres? Ame-as ou deixe-as. − Eu, quando chego, você me enche de carinho.

• Elipse: ocorre mais na fala e se caracteriza pela omissão de um termo da oração, mas isso não prejudica a compreensão da frase.

Exemplo de elipse do sujeito:− Na minha estante, livros de todos os tipos (termo omitido: havia). − Não fosse você, eu não teria conseguido (termo omitido: se).

• Zeugma: é a omissão de algum termo da oração já citado anteriormente sem prejudicar a compreensão da frase.

Exemplo de zeugma:− Meu pai gosta de Caetano Veloso, minha mãe, de Roberto Carlos. − Eu tomo açaí e meu marido, sorvete.

• Assíndeto: ocorre quando há ausência de conectores para ligar as palavras ou frases.

Exemplo de assíndeto:− Gosto de comer frutas: maçãs, bananas, laranjas, abacaxis, todas. − Ela dança, canta, desenha, pinta... que mais lhe falta?

• Polissíndeto: ocorre quando há uso excessivo de conectores para ligar as palavras ou frases.

Exemplo de polissíndeto:− Gosto de comer frutas: maçãs e bananas e laranjas e abacaxis e todas. − Ela dança e canta e desenha e pinta... que mais lhe falta?

• Hipérbato: ocorre quando há uma inversão brusca da colocação natural das palavras da sentença, trocando a ordem das mesmas.

Exemplo de hipérbato:− Cantavam ciranda meus filhos no parque (Meus filhos cantavam ciranda no

parque). − Tranquila dormia minha esposa (Minha esposa dormia tranquila).

UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

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• Silepse: ocorre quando há uma concordância ideológica e não uma concordância gramatical. A concordância se dá de acordo com a ideia que se pretende transmitir.

Exemplo de silepse:− São Paulo é cheia de mistérios. − A população chegou agitada e levavam cartazes.

3. A ESTILÍSTICA DO TEXTO JURÍDICO

Agora que você conhece as principais figuras de linguagem e como elas são utilizadas, vamos compreender um pouco mais acerca do estilo jurídico de escrever. Cada esfera de atuação utiliza-se de conhecimentos específicos para que sua comunicação seja mais assertiva.

Não é diferente quando se trata da linguagem jurídica. Nesta etapa de estudos, faremos a análise do estilo jurídico de escrever, fazendo da maneira mais prática possível para que você, acadêmico, possa absorver ao máximo deste conteúdo.

Vamos adiante?

3.1. O ESTILO JURÍDICO DE ESCREVER

Escrever textos é uma grande responsabilidade. Trabalhar com textos jurídicos mais ainda. Por ser uma área que não pode permitir ambiguidades, a responsabilidade ao escrever de maneira a ser bem compreendido é imensa. As pessoas que trabalham na área jurídica, como os juízes, promotores, procuradores e advogados, possuem importantes destinatários, por isso, tanto eles quanto a população necessitam compreender o que se quer dizer.

Na linguagem jurídica, há o que se costuma chamar de “juridiquês” ou “estilo jurídico”, que nada mais é do que o estilo de escrever mais rebuscado ou difícil de compreender. De acordo com Maciel (2007), isto é uma característica da linguagem jurídica no Brasil.

Ainda de acordo com o autor, são comuns, especificamente, três usos que não soam nada naturais na língua portuguesa. Estes galicismos (usos franceses trazidos para a língua portuguesa) poderiam ser substituídos por termos de mais fácil compreensão. São eles:

• o uso de “em se tratando”, “em havendo” e semelhantes. De acordo com Maciel (2007), os franceses escreveriam desta maneira, mas em língua portuguesa não é necessário usar o “em” antes de gerúndio;

TÓPICO 2 | O ESTILO JURÍDICO DE COMUNICAR

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• o uso do verbo restar nas seguintes construções: “restou provado”; “restou decidido” e semelhantes. Esta é uma tradução literal do francês “rester”, que para nós seria o mesmo que dizer “ficou” provado, “ficou” decidido;

• o uso de “parte integrante”, como em “o anexo é parte integrante do contrato”. De acordo com Maciel (2007), os franceses usavam esta formação. Não é necessário ser redundante. Na língua portuguesa, podemos usar “o anexo integra o contrato” ou “o anexo é parte do contrato”.

O autor trata do assunto de maneira descontraída (Figura 13), fazendo uma espécie de brincadeira com os exageros utilizados, mas de certa maneira chama a atenção para que, mesmo dentro do ambiente jurídico, a linguagem a ser utilizada seja o mais simples possível para atender ao que já mencionamos anteriormente: o que está escrito deve ser acessível a todos.

FIGURA 13 - PRESO OU SOLTO?

FONTE: <https://goo.gl/5WaAg4>. Acesso em: 20 nov. 2018.

Em algumas situações, o excesso de rigor formal pode ser considerado uma demonstração exagerada de respeito que, por vezes, não se faz necessária. Em 11 de agosto de 2005 a AMB - Associação dos Magistrados Brasileiros lançou a “Campanha pela Simplificação da Linguagem Jurídica”. Esta campanha tem por objetivo incentivar os profissionais do Direito a usarem uma linguagem mais objetiva e simples,

Junto à campanha lançou-se o livreto O Judiciário ao alcance de todos: noções básicas de juridiquês. O livreto traz como início um pequeno texto intitulado Entendeu? O objetivo do livreto é mostrar que a simplificação da linguagem jurídica é importante para que todos possam compreender.

UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

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Veja o texto:

Entendeu?

Diagnosticada a mazela, põe-se a querela a avocar o poliglotismo. A solvência, a nosso sentir, divorcia-se de qualquer iniciativa legiferante. Viceja na dialéti-ca meditabunda, ao inverso da almejada simplicidade teleológica, semiótica e sintática, a rabulegência tautológica, transfigurada em plurilinguismo ululante indecifrável. Na esteira trilhada, somam-se aberrantes neologismos insculpi-dos por arremedos do insigne Guimarães Rosa, espalmados com o latinismo vituperante. Afigura-se até mesmo ignominioso o emprego da liturgia instru-mental, especialmente por ocasião de solenidades presenciais, hipótese em que a incompreensão reina. A oitiva dos litigantes e das vestigiais por eles arroladas acarreta intransponível óbice à efetiva saga da obtenção da verdade real. Ad argumentandum tantum, os pleitos inaugurados pela Justiça pública, precei-tuando a estocástica que as imputações e defesas se escudem de forma ininteli-gível, gestando obstáculo à hermenêutica. Portanto, o hercúleo despendimento de esforços para o desaforamento do “juridiquês” deve contemplar igualmen-te a magistratura, o ínclito Parquet, os doutos patronos das partes, os corpos discentes e docentes do magistério das ciências jurídicas. (ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS, 2007, p. 4).

Percebeu a complexidade do texto? É claro, acadêmico, que aqui foi utilizada uma maneira exagerada justamente para enfatizar o que se pretende, que é o uso da linguagem prolixa. Não é difícil ler um texto da área jurídica e associá-lo ao arcaísmo.

O propósito principal da comunicação, como já mencionamos no tópico anterior, é transmitir uma mensagem a partir da sua matéria-prima, que é a palavra. Por este motivo, é necessário cuidar com o que escrevemos para que sejamos entendidos.

Maciel (2007, s.p.) aponta que a frase é um dos “galhos da árvore textual, cujo fruto é a comunicação”. Quanto mais longa, mais fácil de quebrar. Utilize esta analogia também para os textos. As frases curtas permitem melhor concatenação de ideias, facilitando o ato de escrever (e de ler, com certeza).

Não é preciso dizer que para que isso se concretize, a clareza e a objetividade devem ser grandes aliados na linguagem jurídica, não é mesmo? Elencamos, a seguir (Quadro 2), algumas dicas para aprimorar a escrita dos seus textos e não os deixar prolixos. Vamos a elas:

QUADRO 2 – DICAS DE ESCRITA

1. Dominar o português: o conhecimento gramatical deve ser o primeiro passo para quem deseja escrever textos jurídicos. Além de ser o mínimo que se espera em um texto jurídico, demonstra confiabilidade.

2. Ser objetivo: evite a repetição de ideias ou palavras. Ler peças de Direito é difícil, porque muitos operadores jurídicos acreditam que o tamanho importa, mas na verdade o ideal é que se entregue todas as informações necessárias no primeiro momento.

TÓPICO 2 | O ESTILO JURÍDICO DE COMUNICAR

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3. Ser claro: manter uma linha lógica de raciocínio é o que confere coesão ao texto. Na conclusão, retome brevemente o que foi debatido, assim, a coesão estará garantida do início ao final.

4. Escolher bem o vocabulário: usar verbos fortes quando o texto tiver o objetivo de convencer é a chave. Evitar adjetivos, advérbios e outras expressões vagas também é aconselhado.

5. Deixar a erudição de lado: utilize palavras conhecidas. Considerar o público-alvo quando for escrever um texto é o mais adequado. Em linhas gerais, deve-se atender desde o Ministério Público até a população.

6. Alternar a extensão das frases: Procure alternar as sentenças de tamanhos diferentes para dar mais fluidez à leitura. Em linhas gerais: a frase curta entrega a informação, e a longa a desenvolve.

7. Planejar a escrita do texto: faça um rascunho, crie tópicos com todos os pon-tos a serem abordados. Na hora de escrever, isso o ajudará a manter o raciocínio.

8. Destacar com moderação: destacar tudo é o mesmo que não destacar. Lembre-se de que apenas as partes realmente importantes devem ser realçadas. Apenas o que deve chamar a atenção.

9. Ser elegante: usar negrito, caixa alta e pontos de exclamação ou interrogação somente quando necessário. Quando usados sem medidas, eles poluem o texto e perdem sua função.

10. Utilizar o latim moderadamente: na linguagem jurídica, o latim é uma língua presente, mas seu uso deve acontecer apenas quando houver um conceito complexo por trás dela. Um uso interessante é utilizar o latim para destacar algo. Neste caso, a tradução virá no corpo do texto.

11. Usar um dicionário jurídico: na escrita técnica, como é o caso da linguagem jurídica, há uso de inúmeras palavras próprias de um campo de conhecimento, portanto, ter um bom dicionário é uma forma de evitar qualquer tipo de erro desnecessário.

12. Fundamentar o texto de maneiras variadas: usar argumentos variados sobre o tema ajuda a dar credibilidade ao texto. Pense sempre em doutrina, lei, jurisprudência e costumes na hora de unir ideias para escrever.

13. Utilizar as jurisprudências com moderação: seu uso é muito bem-vindo ao escrever textos jurídicos, mas não exagerar é importante.

14. Contextualizar a peça: o leitor deve entender do que se trata a peça quando ela for lida de maneira isolada. Portanto, ao escrever um texto jurídico, verifique se haverá necessidade de anexar algum documento para que a compreensão do seu texto seja completa.

UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

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15. Revisar: esta é a última, mas não menos importante das dicas. Ela é o fechamento das boas práticas de escrita jurídica. Deve ser feita depois de um tempo, para que a leitura não esteja mais tão viciada.

FONTE: Adaptado de CONAMP (2017). Disponível em: <http://blog.conamp.org.br/dicas-de-escrita-saiba-escrever-textos-juridicos-de-qualidade/>. Acesso em: 30 nov. 2018.

Agora que você já observou estas dicas, podemos ir adiante, pois se você conseguir levá-las em consideração na hora da escrita, certamente não cairá no “juridiquês”.

3.2. A RETÓRICA

Acadêmico, você sabe o que é retórica? Vamos iniciar nossa conversa a partir do que nos diz o próprio Aristóteles.

Entendamos por retórica a capacidade de descobrir o que é adequado a cada caso com o fim de persuadir. Esta não é seguramente a função de outra arte; pois cada uma das outras é apenas instrutiva e persuasiva nas áreas da sua competência; como, por exemplo, a medicina sobre a saúde e a doença, a geometria sobre as variações que afetam as grandezas, e a aritmética sobre os números; o mesmo se passando com todas as outras artes e ciências. Mas a retórica parece ter, por assim dizer, a faculdade de descobrir os meios de persuasão sobre qualquer questão dada. E por isso afirmamos que, como arte, as regras se não aplicam a qualquer gênero específico de coisas (ARISTÓTELES, 2000, p. 1).

Hoje em dia, o conceito de retórica toma maiores proporções, tanto dentro do aspecto político quanto no direito. Há hoje mais consciência na diferenciação dos conceitos científicos (ciências exatas) e dos conceitos controversos (ciências humanas) que nos proporcionam a discussão e a argumentação. Neste caso, a retórica é aliada. Podemos afirmar, portanto, que o uso moderno da retórica é exatamente este.

Pereira (2006) afirma que, se considerarmos o conceito moderno da retórica, ela é a lógica do discurso não formalizável. Esta é considerada a “Nova Retórica” e tem como objeto de estudo o discurso a partir da política, da ética e do direito (PEREIRA, 2006).

De acordo com Reboul (2000), a retórica surgiu na Grécia junto ao desenvolvimento do Direito, que, então, passou a ser objeto dos discursos no tribunal, local no qual se buscava o convencimento da razão das partes em juízo. Apesar de esta ser a teoria mais aceita, há autores que contestam que o surgimento da retórica tenha ocorrido mesmo na Grécia.

Os retores, pessoas que estudavam a persuasão, ofereciam seus serviços ao exercício dos direitos dos cidadãos nos discursos jurídicos. Desta maneira, o

TÓPICO 2 | O ESTILO JURÍDICO DE COMUNICAR

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autor afirma que “os retores, com seu agudo senso de publicidade, ofereceram aos litigantes e aos logógrafos um instrumento de persuasão que afirmavam ser invencível, capaz de convencer qualquer pessoa de qualquer coisa” (REBOUL, 2000, p. 2).

A partir de então, a retórica passou a ser um elemento necessário para a argumentação. Como é muito difícil saber a verdade plena sobre os fatos em sua complexidade, os discursos jurídicos, de acordo com Reboul (2000), partem de premissas, ou seja, daquilo que mais se aproxima dela.

A retórica, após sua consolidação, continuou evoluindo nos anos posteriores e Aristóteles (384-322 a.C.) foi o filósofo grego que a tornou uma arte altamente sofisticada. A partir dele, a retórica marcou, de acordo com Ross (1987), o universo helenístico e romano.

Meyer, Carrilho e Timmermans (2002) afirmam que a retórica continuou ainda sendo aprimorada no decorrer do período helenístico, com a incorporação de novas técnicas, o desenvolvimento de conceitos e de novos estilos de oratória mais especializados no discurso oral. No século I a.C. outra figura importante entra em destaque: Cícero (106-43 a.C.), o orador romano, professor e historiador visava reconectar a retórica à filosofia.

Na Idade Média, com o advento do Cristianismo, o pensamento cristão ganhou forças e a retórica foi jogada para o lado, ficando em segundo plano, pois as Escrituras Sagradas traziam, segundo eles, a verdade revelada.

Apenas a partir do Renascimento em meados do século XVI, quando os teólogos católicos retomam a filosofia dos antigos, a retórica volta a ser mencionada, passando a ser aplicada no cenário político da época, e de acordo com Meyer, Carrilho e Timmermans (et al., 2002), foi utilizada até pela aristocracia para reforçar o discurso.

Quando a ciência moderna se consolida, novamente as técnicas de retórica declinam, já que a ciência passou a ser a verdade. Quando no pós-guerra (séc. XX) o relativismo confronta a verdade absoluta da ciência, a filosofia volta a ocupar um lugar de destaque e a retórica ressurge mais uma vez.

Perceba, acadêmico, que a retórica passa por altos e baixos a todo momento. Mas, afinal, de que modo a retórica é usada na linguagem jurídica, que é nosso foco?

Os discursos jurídicos são intrinsecamente retóricos porque tratam de elaboração de teses dialéticas, ou seja, ambas as partes buscam estar com a razão. O foco da dialética jurídica é proferir o justo a partir de análises das estratégias utilizadas para a construção textual e das técnicas retóricas.

O juiz de Direito fundamentará a sentença a partir das premissas desenvolvidas verificando, de acordo com Pereira, se essas “foram verossímeis ou não, somente nesse ponto irá determinar quem venceu a batalha” (2006, p. 34).

UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

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Resumindo, podemos observar que o discurso jurídico tem muitas especificidades, o que faz com que seja, por vezes, chamado de doutrinador. A retórica, enquanto instrumento da argumentação, é estudada nos mais diferentes tipos de discursos e seu uso na teoria do Direito passou a fazer parte das defesas e acusações com a intenção de convencer os magistrados sobre a culpa ou a inocência das partes envolvidas.

Desta maneira, o discurso jurídico transformou-se em um instrumento poderoso na sociedade, a partir do qual todos podem buscar judicialmente seus direitos e deveres, acusar ou defender-se. A partir do discurso jurídico, embasado pela retórica, há a disciplina, os limites de atuação dos sujeitos e é a partir do discurso que se pode julgar suas infrações.

4. VÍCIOS DE LINGUAGEM: A CORREÇÃO DA LINGUAGEM JURÍDICA

Caro acadêmico. Já conversamos muito acerca do que não se deve fazer quando em um discurso jurídico, não é mesmo? Embora o linguajar da área seja mesmo de difícil compreensão, não é mais ou menos importante, por exemplo, do que a linguagem médica ou de informática.

Esta especificidade, por sua vez, pode dar à linguagem jurídica o título de prolixa. O que se deve evitar é que o tecnicismo necessário para a compreensão dos termos se transforme em excessivo requinte ou rebuscamento desnecessário. Lembre-se, acadêmico: falar muito nem sempre é falar tudo.

Quando na esfera lexical, por exemplo, podemos observar que o vocabulário pode ser:

• Extremamente arcaico, como: − Pretório Excelso, ao invés de usar “Supremo Tribunal Federal”, − Peça Exordial, ao invés de usar “petição inicial’, − Objurgatório ao invés de usar “censurável”

• Ou latinizado, por exemplo: − aquo (recorrido); − exvilegis (por força de lei); − bbinitio (desde o início); − quantumsatis (quanto baste, suficiente); − desideratumdecisum (pretendido pela decisão).

Para que usar estas palavras se há, na língua portuguesa, termos mais atuais e fáceis de compreender? Estes são os populares vícios da linguagem jurídica.

TÓPICO 2 | O ESTILO JURÍDICO DE COMUNICAR

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Já na esfera sintática, observamos a mudança na ordem natural da frase, com a anteposição de termos desnecessários, levando à incidência nos vícios linguísticos de prolixidade e verbosidade.

Há muitos teóricos que defendem com unhas e dentes o que chamamos de juridiquês. A estes, fica a sugestão de que utilizem do hermetismo apenas aos textos jurídicos que forem destinados à academia, como artigos científicos; ou doutrinária, como os manuais de Direito. Quando falamos do Direito na lavra forense, deve haver maior simplicidade para que o “público normal” possa ler e compreender o que está escrito sem ter que ficar com o dicionário aberto ao lado.

Para ler ainda mais sobre os vícios da linguagem, acesse o site <https://jus.com.br/artigos/13581/problemas-da-linguagem-juridica>. Lá você encontrará artigos interessantes para potencializar ainda mais seu conhecimento.

4.1. CLASSIFICAÇÃO DOS VÍCIOS DE LINGUAGEM

Classificamos os três principais vícios de linguagem em:

• Tecnicismo: trata-se do excesso de usos técnicos em um texto. O que fazer para evitar este vício de linguagem? Use-os apenas quando forem extremamente necessários.

• Rebuscamento: trata-se de usar palavras difíceis na elaboração do texto, bem como frases complexas. O que fazer para evitar este vício de linguagem? Use frases curtas e palavras de fácil compreensão. Tente achar sinônimos.

• Prolixidade: trata-se de escrever em excesso. Muitas vezes, é possível explicar o que se quer dizer com apenas uma sentença, sem a necessidade de muitos rodeios. O que fazer para evitar este vício de linguagem? Vá direto ao ponto. Não fique fazendo rodeios.

DICAS

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você estudou que:

• As figuras de linguagem são estratégias aplicadas pelo escritor ao texto para conseguir diferentes efeitos na interpretação feita pelo leitor.

• As figuras de linguagem estão presentes no dia a dia das pessoas.

• São figuras de palavras: metáfora; metonímia; comparação ou símile; perífrase ou antonomásia; sinestesia; sinédoque; alegoria e catacrese.

• São figuras de pensamento: antítese; apóstrofe; eufemismo; gradação; hipérbole; ironia; paradoxo e prosopopeia.

• São figuras de sintaxe: pleonasmo; anáfora; anacoluto; elipse; zeugma; assíndeto; polissíndeto; hipérbato e silepse.

• Escrever textos jurídicos é uma grande responsabilidade.

• Na linguagem jurídica há o que se costuma chamar de “juridiquês” ou “estilo jurídico”, que nada mais é do que o estilo de escrever mais rebuscado ou difícil de compreender.

• Textos complexos não são indicados na linguagem jurídica. Deixe-os para os artigos científicos.

• Clareza e objetividade ajudam a evitar a prolixidade. Vá direto ao ponto.

• A retórica é a arte do argumentar.

• Há diferença consciente entre as ciências exatas e as ciências humanas.

• A retórica surgiu na Grécia em V a.C., mas há controvérsias.

• Retores eram pessoas que estudavam a persuasão.

• Aristóteles e Cícero foram dois grandes nomes da arte retórica.

• Na Idade Média, com o advento do Cristianismo, o pensamento cristão ganhou forças e a retórica ficou em segundo plano.

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• No Renascimento, quando os teólogos católicos retomam a filosofia dos antigos, a retórica volta a ser mencionada.

• Quando a ciência moderna se consolida, as técnicas de retórica declinam novamente porque a ciência era inquestionável.

• No pós-guerra, já no século XX, o relativismo confronta a verdade absoluta da ciência, a retórica ganha forças.

• O excesso de arcaísmos e latinismos não é interessante, mesmo em textos jurídicos.

• Os principais vícios de linguagem classificam-se em tecnicismo, rebuscamento e prolixidade.

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1 Sobre o estilo jurídico de escrever, analise as sentenças a seguir:

I- Quanto mais acessíveis forem os textos jurídicos, mais credibilidade eles têm. II- Quanto mais prolixo for o texto jurídico, maior é a garantia de que ele será um texto bem-sucedido. III- O rebuscamento pode ser usado em artigos científicos, mas para os textos direcionados ao povo, a linguagem deve ser acessível. Agora, assinale a alternativa que apresenta a resposta CORRETA:

a) ( ) Apenas a sentença II está correta. b) ( ) Apenas a sentença III está correta. c) ( ) Apenas as sentenças I e III estão corretas. d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.

2 Assinale a alternativa na qual se conceitua corretamente retórica.

a) É a prolixidade dos textos. b) É a capacidade de convencimento a partir da linguagem difícil. c) É a capacidade de confundir o leitor. d) É a capacidade de usar argumentos com o fim de persuadir.

3 Assinale a alternativa que apresenta um exemplo de hipérbole.

a) ( ) Nunca mais falte com a verdade. b) ( ) Ela quase morreu de tanto que riu da piada. c) ( ) Parabéns por ter quebrado o copo novamente. d) ( ) Você é meu raio de luz todas as manhãs.

4 De acordo com a classificação das figuras de palavras, assinale de acordo com o código.

I- Tecnicismo. II- Rebuscamento. III- Prolixidade.

( ) trata-se de escrever em excesso.( ) trata-se do excesso de usos técnicos em um texto.( ) trata-se de usar palavras difíceis na elaboração do texto, bem como frases complexas.

AUTOATIVIDADE

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Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

a) ( ) I – II – III. b) ( ) II – III – I. c) ( ) I – III – II. d) ( ) III – I – II.

5 De acordo com a classificação das figuras de palavras, assinale de acordo com o código.

I- Perífrase. II- Metonímia. III- Metáfora.

( ) A rainha dos baixinhos visitou minha cidade ontem. ( ) Você é a luz que ilumina meus dias. ( ) Quando estou de folga, leio Casimiro de Abreu.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

a) ( ) I – II – III. b) ( ) II – III – I. c) ( ) I – III – II.d) ( ) III – I – II.

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TÓPICO 3

REGRAS PARA A BOA

COMUNICAÇÃO

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Olá, acadêmicos. Cá estamos novamente para aprendermos um pouco mais sobre a boa comunicação, não é mesmo?

A comunicação não depende apenas das habilidades referentes à coesão e à coerência. Ela depende também do bom uso da língua portuguesa. Não há nada mais desagradável para quem lê, e deselegante para quem escreve, do que ler um texto com erros gramaticais, ou ouvir uma pessoa palestrando com erros de concordância ou mesmo regência, não é mesmo?

É por isso que o nosso Tópico 3 é voltado para os aspectos gramaticais da língua portuguesa. É claro, acadêmico, que passaremos por aqui apenas noções básicas, afinal de contas, a língua é complexa. Caso você queira aprofundar-se e conhecer um pouco mais do que foi apresentado aqui, segue uma sugestão:

Para conhecer um pouco mais da língua portuguesa, consulte o site <www.soportugues.com.br> ou <www.normaculta.com.br>. Além de serem de fácil compreensão, também são dinâmicos e abordam os assuntos de maneira bem completa.

DICAS

Iniciaremos nossos estudos falando um pouco acerca do código ortográfico da língua portuguesa. Fique ligado.

2 O CÓDIGO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA

A língua portuguesa, assim como todos os idiomas, é regida por regras. Como já é sabido, nossa língua foi estabelecida por Portugal, mas ao longo de tantos anos muita coisa mudou. Por mais que se busque unificar a língua portuguesa em todos os países que a têm como língua oficial, sabemos que isso não é possível.

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UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

Para simplificarmos os acordos ortográficos da nossa língua, vamos a um breve resumo (Quadro 3):

QUADRO 3 – HISTÓRIA DA ORTOGRAFIA DO PORTUGUÊS

• Séc. XVI até séc. XX - Em Portugal e no Brasil a escrita praticada era de cariz etimológico (a raiz latina ou grega determinava a forma de escrita das palavras com maior preponderância).

• 1885 – Até esta altura a grafia é essencialmente etimológica. Nesta data publica-se as Bases da Ortografia Portuguesa, de Gonçalves Viana.

• 1907 – A Academia Brasileira de Letras começa a simplificar a escrita nas suas publicações.

• 1910 – Implantação da República em Portugal – é nomeada uma Comissão para estabelecer uma ortografia simplificada e uniforme a ser usada nas publicações oficiais e no ensino.

• 1911 – Primeira Reforma Ortográfica – tentativa de uniformizar e simplificar a escrita, mas que não foi extensiva ao Brasil.

• 1915 – A Academia Brasileira de Letras resolve harmonizar a sua ortografia com a portuguesa.

• 1919 – A Academia Brasileira de Letras revoga a sua resolução de 1915.• 1924 – A Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras

começam a procurar uma grafia comum.• 1929 – A Academia Brasileira de Letras altera as regras de escrita.• 1931 – É aprovado o primeiro Acordo Ortográfico entre o Brasil e Portugal,

que visa suprimir as diferenças, unificar e simplificar a língua portuguesa. Contudo, este acordo não é posto em prática.

• 1938 – São sanadas algumas dúvidas quanto à acentuação de palavras.• 1943 – É redigido o Formulário Ortográfico de 1943, na primeira Convenção

Ortográfica entre Brasil e Portugal.• 1945 – Um novo Acordo Ortográfico torna-se lei em Portugal, mas não no

Brasil, por não ter sido ratificado pelo Governo; os brasileiros continuam a regular-se pela ortografia do Vocabulário de 1943.

• 1971 – São promulgadas alterações no Brasil, reduzindo as divergências ortográficas com Portugal.

• 1973 – São promulgadas alterações em Portugal, reduzindo as divergências ortográficas com o Brasil.

• 1975 – A Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras elaboram novo projeto de acordo, que não é aprovado oficialmente.

• 1986 – O presidente do Brasil, José Sarney, promove um encontro dos então sete países de língua oficial portuguesa - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe -, no Rio de Janeiro. É apresentado o Memorando Sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. O Acordo Ortográfico de 1986, que resulta deste encontro, é amplamente discutido e contestado pela comunidade linguística, nunca chegando a ser aprovado.

• 1990 – A Academia das Ciências de Lisboa convoca novo encontro, juntando uma Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

47

As duas Academias elaboram a base do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. O documento entraria em vigor, de acordo com o seu artigo 3º, no dia "1 de janeiro de 1994, após depositados todos os instrumentos de ratificação de todos os Estados junto do Governo português".

• 1995 – O Acordo Ortográfico de 1990 é apenas ratificado por Portugal, Brasil e Cabo Verde, embora o texto previsse a sua implementação em toda a Lusofonia no início de 1994.

• 1996 – O Acordo Ortográfico é apenas ratificado por Portugal, Brasil e Cabo Verde.

• 1998 – Na cidade da Praia é assinado o Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, retirando-se do texto a data de implementação. Mantém-se a condição de que todos os membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) devem ratificar as normas propostas no Acordo Ortográfico de 1990 para que este seja implementado.

• 2002 – Timor-Leste torna-se independente e passa a fazer parte da CPLP.• 2004 – Os ministros da Educação dos vários países da CPLP reúnem-se em

Fortaleza, no Brasil, para a aprovação do Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Fica assim determinado que basta a ratificação de três membros para que o Acordo Ortográfico possa entrar em vigor e Timor-Leste passa a integrar a CPLP.

• 2006 – Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe ratificam o documento, possibilitando a entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990.

• 2008 – O Acordo Ortográfico de 1990 é aprovado por Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Brasil e Portugal, sendo esperada a sua implementação no início de 2010.

• 2009 – Entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990 no Brasil e em Portugal. Além de Portugal e do Brasil, também São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Timor-Leste e Guiné-Bissau já ratificaram o Segundo Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico de 1990, embora estes últimos não o tenham ainda aplicado. Fica apenas a faltar a ratificação de Angola e Moçambique. A princípio, as medidas seriam aplicadas no Brasil de modo obrigatório a partir de janeiro de 2013, mas o governo brasileiro, após consultas a envolvidos no processo, preferiu dar mais tempo para a implantação e ele entrou em vigor apenas em 2016.

FONTE: <http://www.portaldalinguaportuguesa.org/?action=acordo-historia>. Acesso em: 1 dez. 2018.

Agora, vamos conhecer algumas regras gerais da língua? Adiante.

2.1. REGRAS GERAIS

O novo acordo ortográfico assinado em 2009, conforme mencionamos, veio com o objetivo de padronizar a língua portuguesa. Assim, temos alguns combinados. Vamos conhecer quais foram as principais adaptações.

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UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

A primeira delas diz respeito ao Alfabeto.

• Como era: A B C D E F G H I J L M N O P Q R S T U V X Z• Como ficou: A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z

O acréscimo das letras K, W e Y veio para totalizar as 26 letras que compõem o alfabeto. Essa mudança teve por objetivo incorporar as letras que já eram usadas em estrangeirismos e nomes próprios.

2.2. ACENTUAÇÃO

Quanto à acentuação, observe a tabela (Figura 14).

FIGURA 14 - ACENTUAÇÃO

FONTE: <https://goo.gl/osdAJe>. Acesso em: 01 dez. 2018.

TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

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2.3. HÍFEN

Quanto ao uso do hífen, observe a tabela a seguir (Figura 15).

FIGURA 15 - HÍFEN

FONTE: <https://goo.gl/cVXrbU>. Acesso em: 1 dez. 2018.

3 ALGUNS TRATADOS SINTÁTICOS PARA A COMUNICAÇÃO

Conforme já estudamos anteriormente, alguns tratados são importantes para que a língua portuguesa seja unificada e possa ser utilizada da melhor maneira por todos os seus falantes. Dentre elas, citamos as regras de concordância e regência, as quais estudaremos com detalhes nas seções a seguir.

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UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

Vamos adiante?

3.1. CONCORDÂNCIA NOMINAL

A concordância nominal ocorre quando há concordância no aspecto “número” (plural ou singular) e “gênero” (masculino e feminino) entre o substantivo e o adjetivo que dá características a ele.

A concordância nominal é dividida em regra geral e algumas regras específicas, as quais serão trabalhadas uma a uma para que você, acadêmico, possa compreendê-las.

Regra geral: o adjetivo que caracteriza um único substantivo concordará com ele em gênero e número.

Exemplos:

− O rapaz caprichoso arrumou seu quarto. − A moça caprichosa arrumou seu quarto. − Os rapazes caprichosos arrumaram seus quartos.− As moças caprichosas arrumaram seus quartos.

Regras específicas:

a) Quando um adjetivo caracteriza vários substantivos:

Neste caso, o adjetivo poderá concordar em gênero e número com o substantivo que está mais próximo.

− A menina e o menino pequeno correram pelo parque. − O menino e a menina pequena correram pelo parque. − As meninas e os meninos pequenos correram pelo parque. − Os meninos e as meninas pequenas correram pelo parque.

O adjetivo pode também assumir o masculino plural quando há um substantivo masculino e um feminino, podendo ocorrer a seguinte formação.

− A menina e o menino pequenos correram pelo parque. − O menino e a menina pequenos correram pelo parque.

Quando aparecerem na frase substantivos do mesmo gênero no singular, o adjetivo poderá permanecer no singular ou ir para o plural.

− Compraram uma casa e uma moto novas. − Compraram uma casa e uma moto nova.

TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

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Caso sejam substantivos próprios (que nomeiam seres) e que expressem graus de parentesco, o adjetivo deve ficar no plural.

− Meus queridos pais e tios visitaram meus avós. − Os amados Ana e Paulo casaram-se no ano passado.

b) Adjetivo caracterizando pronomes pessoais:

Neste caso, o adjetivo deve concordar com o pronome a que se refere em gênero e número.

− Ela ficou assustada com a notícia.− Ele ficou assustado com a notícia.− Elas ficaram assustadas com a notícia.− Eles ficaram assustados com a notícia.

c) Quando há vários adjetivos no singular caracterizando um único substantivo:

Neste caso, o substantivo deve permanecer no singular quando há presença de artigo entre os adjetivos, mas fica no plural caso os adjetivos se apresentem sem artigos.

− Aprendi a dançar com o bailarino russo e o alemão. − Aprendi a dançar com os bailarinos russo e alemão.

d) Quando houver uso do verbo ser + adjetivo:

Neste caso, o adjetivo deve concordar com o substantivo quando houver presença de artigos ou outros determinantes, mas deverá permanecer no masculino e no singular quando o substantivo se apresentar isolado.

− A fome é desesperadora para as pessoas. − Fome é desesperador para as pessoas. − A água é boa para a saúde. − Água é bom para a saúde.

e) Quando aparecer um pronome indefinido neutro + de + adjetivo:

Neste caso, com os pronomes indefinidos neutros nada, algo, muito, tanto + a preposição “de”, o adjetivo deve ficar no masculino e no singular.

− O filme não tem nada de bom.− A novela não tem nada de bom. − Os filmes não têm nada de bom.− As novelas não têm nada de bom.

f) Quando aparecer a palavra “só” com sentido de sozinho:

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UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

A palavra “só” quando significa “sozinho” tem função de adjetivo, por isso deve concordar em número com o substantivo que caracteriza.

− Ele está só na casa. − Eles estão sós na casa.

g) Com as expressões é necessário, é proibido, é preciso, é permitido e é bom:

Nestes casos o adjetivo deve permanecer no singular e no masculino, mantendo-se invariável, quando não há presença de artigos ou outros determinantes do substantivo.

− É necessário assinatura dos responsáveis por este local. − É proibido entrada de pessoas não autorizadas.

Já quando ocorre a presença de artigos ou outros determinantes do substantivo, o adjetivo varia em número e gênero.

− É necessária a assinatura dos responsáveis por este local. − É proibida a entrada de pessoas não autorizadas.

h) Com as palavras anexo, obrigado, mesmo, próprio, incluso e quite:

As palavras obrigado, mesmo, anexo, quite, próprio e incluso precisam concordar com o substantivo que caracterizam em gênero e número.

− A carta de recomendação está anexa. − As próprias enfermeiras reanimaram o paciente. − Nós estamos quites com a Receita Federal.

i) Com as palavras bastante, caro, barato, muito, pouco, longe e meio:

Estas palavras, mesmo que invariáveis quando advérbios, concordam em gênero e número com o substantivo que caracterizam quando sua função é de adjetivo.

− Há livros bastantes para a pesquisa. − Essas blusas são muito caras!− Você precisa aprender a usar sapatos baratos. − Elas picaram apenas meias frutas.

j) Com as palavras menos e alerta:

As palavras citadas, embora atuem como adjetivos, são advérbios, portanto, permanecem invariáveis.

− Os guardas perceberam movimentos estranhos e ficaram alerta.

TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

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− Quanto mais conversa na sala, menos concentração há.

k) Com as expressões um e outro, uma e outra, num e noutro, numa e noutra:

Com estas expressões, o adjetivo deve estar no plural, mesmo que o substantivo permaneça no singular.

− A polícia prendeu um e outro sujeito suspeitos. − O chefe confiou apenas num e noutro secretário dedicados.

Acadêmico, estas são as principais regras de concordância nominal. Agora, estudaremos as regras de concordância verbal. Vamos lá.

3.2. CONCORDÂNCIA VERBAL

A concordância verbal, assim como a nominal, possui algumas especificidades. Vamos a elas?

Regra geral: o verbo deve concordar com seu sujeito em pessoa e número.

− Mariana vive feliz. − Mariana e Paulo vivem felizes.

Agora, trabalharemos com as especificidades. Vamos a elas?

a) Com sujeito composto:

Anteposto: quando o sujeito composto aparecer antes do verbo, ele vai para o plural.

− A falta de energia e de água fizeram com que as lojas fechassem. − Os homens e as mulheres estavam muito felizes com a festa.

Posposto: quando o sujeito composto aparecer depois do verbo, ele poderá ficar no plural ou concordar com o elemento que estiver mais próximo.

− Passarão a moto e o carro. − Passará a moto e o carro.

Com elementos identificados semanticamente: quando os núcleos do sujeito forem sinônimos ou pertencerem ao mesmo grupo significativo, o verbo fica no singular.

− Alegria e felicidade acompanha a criança à escola. − Tristeza e angústia estava presente naquela noite.

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UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

Com elementos ligados por ou: caso a conjunção crie uma relação de exclusividade, o verbo fica no singular.

− Paulo ou Marcelo vencerá a competição. − O primeiro ou o segundo lugar será contratado.

Com elementos em gradação: aqui, o verbo concorda com o elemento mais próximo.

− O corpo, a alma, o coração está doente.

Com as expressões um e outro ou nem um nem outro: neste caso, o verbo poderá ficar tanto no singular quanto no plural.

− Nem um nem outro quis a sobremesa. − Nem um nem outro quiseram a sobremesa.

b) Verbo com o pronome apassivador “se”: neste caso o verbo concorda com o sujeito.

− Vendem-se casas de alvenaria. − Aluga-se casa na praia.

c) Verbo que indica indeterminação do sujeito: neste caso, o verbo deve ficar na terceira pessoa do singular. A indeterminação do sujeito ocorre quando não se sabe quem é o sujeito da oração.

− Assistiu-se ao espetáculo com emoção. − Contestou-se as contas que foram pagas.

d) Pronome de tratamento: quando o sujeito for um pronome de tratamento, o verbo vai para a 3ª pessoa (singular ou plural) concordando com o pronome.

− Vossa Excelência assinou o documento. − Vossas Excelências assinaram o documento.

e) Coletivo: neste caso, o verbo fica no singular.

− O arquipélago é lindo. − A alcateia atacou as galinhas.

f) Porcentagem:

Quando há um número expresso em porcentagem sem especificação, o verbo concorda com o sujeito.

− Um por cento não comprou as rifas. − Sessenta por cento estavam doentes.

TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

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Quando o sujeito está especificado o verbo concorda com ele:

− Um por cento dos alunos não compraram as rifas. − Sessenta por cento do corpo docente estava doente.

Casos especiais envolvendo porcentagem:

• O sujeito se apresenta antes da porcentagem:− Dos professores, sessenta por cento estão doentes.

• Quando o verbo se apresenta antes da porcentagem:− Não comprou a rifa um por cento dos alunos.

• Quando a porcentagem vem determinada:− Aqueles sessenta por cento dos professores não vieram.

g) Nomes usados somente no plural:

Neste caso, quando o sujeito for composto por nomes próprios, o verbo fica no plural quando esse nome vier precedido de artigo plural. Se não, fica no singular.

− Estados Unidos é um país de primeiro mundo. − Os Estados Unidos são um país de primeiro mundo.

Lembre-se de que a concordância nominal se refere aos sujeitos, adjetivos e advérbios, ao passo que a concordância verbal se refere ao verbo.

IMPORTANTE

Agora, mudaremos o foco da concordância para algumas regras básicas de regência nominal e verbal. Fique atento para não as confundir.

A regência verbal e a regência nominal ocorrem entre os diferentes termos de uma oração. Ela ocorre quando existe um termo regente que apresenta um sentido incompleto sem o termo regido, ou seja, sem o seu complemento. A regência nada mais é do que o complemento.

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UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

3.3. REGÊNCIA NOMINAL

Bechara (2009) afirma que a regência nominal indica a relação que um nome (termo regente) estabelece com o seu complemento (termo regido) através do uso de uma preposição.

Seria inviável para nós listarmos todos os nomes e suas regências, portanto, é de suma importância consultar um bom dicionário no caso de alguma dúvida.

ATENCAO

A seguir, algumas listas (Quadro 4) para que você compreenda a regência de alguns dos principais substantivos, adjetivos e advérbios.

QUADRO 4 – REGÊNCIA DE SUBSTANTIVOS, ADJETIVOS E ADVÉRBIOS

SUBSTANTIVOS

Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo de

Aversão a, para, por Doutor em Obediência a

Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por

Bacharel em Horror a Proeminência sobre

Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por

ADJETIVOS

Acessível a Entendido em Necessário aAcostumado a, com Equivalente a Nocivo aAgradável a Escasso de Paralelo aAlheio a, de Essencial a, para Passível deAnálogo a Fácil de Preferível aAnsioso de, para, por Fanático por Prejudicial aApto a, para Favorável a Prestes aÁvido de Generoso com Propício aBenéfico a Grato a, por Próximo a

TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

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Capaz de, para Hábil em Relacionado comCompatível com Habituado a Relativo a

Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por

Contíguo a Impróprio para Semelhante aContrário a Indeciso em Sensível aDescontente com Insensível a Sito emDesejoso de Liberal com Suspeito deDiferente de Natural de Vazio de

ADVÉRBIOS

Longe dePerto de

FONTE: <https://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint71.php>. Acesso em: 01 dez. 2018.

Os advérbios terminados em “mente” tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados: paralela a > paralelamente a; relativa a > relativamente a.

ATENCAO

3.4. REGÊNCIA VERBAL

De acordo com Bechara (2009), a regência verbal indica a relação que um verbo (termo regente) estabelece com o seu complemento (termo regido) através do uso ou não de uma preposição. Na regência verbal os termos regidos são o objeto direto (sem preposição) e o objeto indireto (preposicionado).

A regência verbal ocorre quando se faz relação entre os verbos e os termos que seguem a ele e completam o seu sentido. Os verbos são os termos regentes e os objetos (direto e indireto) e adjuntos adverbiais são os termos regidos.

Exemplificaremos a seguir com alguns verbos para que você possa compreender como eles são regidos.

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UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

Alguns verbos, dependendo do seu significado, podem ter mais de uma regência.

ATENCAO

a) Assistir:

Com o sentido de ver exige preposição: − Ele assistiu ao filme.

Com o sentido de dar assistência não exige preposição:− O mecânico assistiu o motorista.

b) Chegar:

O verbo chegar é regido pela preposição “a”: − Chegamos ao destino com segurança.

c) Custar:

Com o sentido de ser custoso exige preposição: − Aquela decisão custou ao pai.

Com o sentido de valor não exige preposição: − Aquele veículo custou caro.

d) Obedecer:

O verbo obedecer é transitivo indireto, logo, exige preposição: − Obedeça aos pais.

e) Proceder:

Com o sentido de fundamento é verbo intransitivo: − Essa sua explicação não procede.

Com o sentido de origem exige preposição: − Essa sua fama procede de situações passadas.

f) Visar:

Com o sentido de objetivo exige preposição: − Visamos ao cargo de gerente.

TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

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Com o sentido de mirar não exige preposição: − O pai visou o filho à distância.

g) Esquecer:

O verbo esquecer é transitivo direto, logo não exige preposição: − Esqueci o meu dinheiro.

h) Querer:

Com o sentido de desejar não exige preposição: − Quero ir embora.

Com o sentido de estimar exige preposição: − Queria muito aos meus pais.

i) Aspirar:

Com o sentido de respirar ou absorver não exige preposição: − Aspirou todo o pó do chão.

Com o sentido de pretender exige preposição:− Aspirou ao cargo de gerente.

j) Informar:

O verbo é transitivo direto e indireto, assim ele exige um complemento sem e outro com preposição:− Informei o acontecimento aos superiores.

k) Ir:

O verbo ir é regido pela preposição “a”: − Vou ao Egito.

l) Implicar:

Com o sentido de consequência, o verbo implicar é transitivo direto, logo não exige preposição: − O seu atraso implicará uma multa.

Com o sentido de embirrar, é transitivo indireto, logo exige preposição: − Ele implica com tudo.

m) Morar:

O verbo morar é regido pela preposição “em”: − Mora na quadra ao lado.

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UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

n) Preferir:

O verbo preferir é transitivo direto e indireto. Assim: − Prefiro arroz a feijão.

o) Simpatizar:

O verbo simpatizar é transitivo indireto e exige a preposição "com": − Simpatiza com as crianças.

p) Chamar:

Com o sentido de convocar não exige complemento com preposição:− Chame a polícia.

Com o sentido de apelidar exige complementos com e sem preposição: − Chamou ao menino de moleque. q) Pagar:

Quando informamos o que pagamos o complemento não tem preposição: − Você paga o boleto?

Quando informamos a quem pagamos o complemento exige preposição: − Pague o boleto ao vendedor.

4 EXPRESSÃO CORPORAL: PARTE ESSENCIAL DA COMUNICAÇÃO

Esta é nossa última etapa de estudos referentes às noções básicas de comunicação. Trabalharemos nestes tópicos algumas características acerca da expressão corporal e como trabalhá-la para uma boa comunicação. Vamos lá, porque ainda temos muito que aprender.

4.1 SEU CORPO FALA

Por mais que possamos pensar que não, sim, nosso corpo fala mais do que imaginamos. Tom de voz, movimentos, olhares, posição das mãos, o sorriso, o cruzar de pernas, o jogar os cabelos e até o suor são observados quando comunicamos. Isso ocorre quando lecionamos, palestramos, flertamos, entrevistamos ou somos entrevistados ou nos comunicamos de maneira despretensiosa.

TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

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Há profissionais especializados em observar nossos movimentos que, na maioria das vezes, são inconscientes. Você deve estar se perguntando o que isso tem a ver com a linguagem jurídica, não é mesmo? Absolutamente tudo. Vamos a alguns exemplos.

Quando são feitos os interrogatórios com presos e condenados, sempre há um profissional na sala apenas observando os movimentos do entrevistado. O posicionamento dos pés, das mãos etc. pode entregar, por exemplo, uma mentira ou uma resposta imprecisa.

Da mesma forma em um tribunal. Tanto o promotor quanto os advogados, escrivães e outros profissionais envolvidos observam atentamente a postura e a linguagem corporal dos réus. Lembre-se: os melhores mentirosos são os que sabem controlar muito bem seus movimentos corporais.

O site Universia lista 20 indicadores que podem ajudar você e devem ser observados quando você se comunicar. Vamos conhecê-los?

1. Proximidade: para saber se uma pessoa está confortável com você, basta reparar na proximidade física que ela mantém. Sente-se perto, esbarre levemente ou toque o braço despretensiosamente e observe como ela reage.

2. Olhar para baixo: quando uma pessoa olha constantemente para baixo quando

conversa, ela não está confortável: ou está com vergonha, ou desconfortável ou ainda triste. Atente: o olhar desviado para baixo em uma relação jurídica pode indicar que a pessoa não está sendo sincera ao falar.

3. Mãos inquietas: demonstra impaciência, especialmente quando os dedos tamborilam na mesa ou nas pernas. Quando em uma conversa isso ocorrer, é bem provável que a pessoa não esteja gostando da conversa ou que você esteja sendo inconveniente.

4. Pernas inquietas: da mesma maneira que as mãos, pernas se movendo, batendo o pé, cruzando e descruzando freneticamente também mostram impaciência (ou a pessoa está apurada para ir ao banheiro fazer suas necessidades fisiológicas). Pergunte se está tudo bem e se ela precisa ir ao toalete ou beber água antes de prosseguir com a conversa. Às vezes, o nervosismo pode fazer essas coisas.

5. Mãos na cintura: indica que a pessoa está ou muito brava ou realmente a paciência acabou. Este é um dos sinais para os quais se deve estar mais atento.

6. Coçar a cabeça: este ato é geralmente atribuído a dúvidas e confusão. Quando a pessoa coça muito a cabeça quando conversa, pode ser que ela não domine muito bem o que está falando ou não tenha certeza dos fatos.

7. Segurar as mãos atrás das costas: este é um dos mais difíceis sinais a serem lidos. Ele pode demonstrar respeito, poder ou ainda insubordinação. Neste caso, é preciso prestar atenção aos outros sinais para conseguir diferenciar o significado deste.

DICAS

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UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

8. Mãos fechadas como punhos: isso indica raiva, frustração. É um sinal violento e intimidador. Ao discutir ou confrontar com pessoas que estejam com os punhos cerrados, certifique-se de que você está seguro, pois a conversa pode não dar certo.

9. Tocar: significa, na maioria das vezes, que a pessoa está confortável com você.

10. Braços cruzados: este sinal demonstra irritação (especialmente quando acompanhado de pernas cruzadas) ou desconforto. Quando visto dessa maneira, geralmente é uma maneira de “abraçar-se” ou confortar-se.

11. Olhar para cima de felicidade: quando em um momento de felicidade, o ato de olhar para cima é atribuído a alívio, e demonstra felicidade por conquistar algo que os alivia. É uma forma de agradecer a Deus. Observe, por exemplo, um jogador após fazer um gol.

12. Levantar os olhos e as sobrancelhas: surpresa é a palavra que resume este movimento. Esta surpresa pode ser positiva, como uma notícia boa, por exemplo, ou negativa, quando a pessoa fica chocada com algum acidente, por exemplo.

13. Procurar em volta por algo melhor a fazer: isso claramente demonstra tédio. Olhar em volta, como se procurasse por algo para fazer, ou começar a rabiscar com uma caneta, nem sempre é uma ação consciente, mas demonstra que a pessoa não está interessada no assunto.

14. Pisotear: o popular “bater os pés” indica irritação. É mais comum nas crianças, mas adultos pisoteiam de uma maneira mais “discreta”, andando de um lado para o outro com firmeza, por exemplo.

15. Limpar a garganta: ansiedade ou nervosismo são os principais sinais de quem limpa a garganta em situações que não sejam uma faringite ou uma gripe. Vamos a um exemplo: quando um comediante faz uma piada e o público não ri, é comum que ele limpe a garganta, como se tentasse desviar a atenção do recente ocorrido.

16. Projetar o peito para frente: esta é uma característica inconsciente que copiamos dos animais. Os homens projetam o peito para frente como forma de intimidar o outro, parecendo mais fortes. Também na conquista, quando o homem projeta o peito para frente quando encontra uma mulher é porque ele se sentiu atraído por ela.

17. Observe como você anda: seu jeito de andar diz muito sobre você. Pessoas que andam com uma postura torta, curvada para baixo, mostram depressão. Pessoas que andam com o queixo reto são geralmente bem resolvidas e pessoas que caminham com o nariz levemente voltado para cima são, geralmente, arrogantes.

18. Fechar os olhos: pode demonstrar frustração, irritação e impaciência. Também pode ser um sinal de que a pessoa está analisando seus pensamentos para lidar com os problemas.

19. Esfregar os olhos: esta ação pode mandar mensagens misturadas. O cansaço é o principal deles, mas dependendo da situação, pode ser caracterizada como desgosto ou desconforto.

20. Encarar, há duas razões pelas quais as pessoas costumam encarar: atração ou dominância. Se você está encarando alguém e a pessoa responde ao olhar, o primeiro a quebrar o contato visual é o menos dominante.

FONTE: <http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2013/05/28/1026612/ilustraces-os-20-indicadores-mais-populares-da-linguagem-corporal.html>. Acesso em: 01 dez. 2018.

TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

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Estes são os principais movimentos ou ações corporais que permitem que possamos fazer uma pequena análise das ações de quem conversamos. Há muitas outras maneiras de o corpo mandar mensagens, mesmo que sem o nosso consentimento consciente. Enquanto comunicador, busque praticar seu autocontrole para não deixar que seu público leia seus movimentos.

Vamos agora a algumas dicas para enfrentar o medo de falar em público, afinal de contas, na área jurídica a coragem na hora de falar é um dos principais diferenciais.

4.2 ENFRENTANDO O MEDO

Por mais que possa parecer que não, muitas pessoas altamente desenvolvidas e descontraídas no palco podem ter crises de ansiedade ou pânico antes de falar. Este é um dos maiores medos das pessoas: falar publicamente. Nem sempre o medo de falar em público está relacionado somente a grandes públicos, mas também a situações do cotidiano.

Os medos relacionados à fala não estão somente relacionados ao psicológico, mas também podem refletir no físico, como dores de barriga, diarreia, garganta seca, tremedeira, coração acelerado, náuseas, rubor na face, aumento de pressão arterial e até perda de voz, dependendo da intensidade dos sintomas.

Ao iniciar-se este círculo de boicote da mente que acaba refletindo no corpo, as pessoas acabam duvidando da sua capacidade de lidar com a situação e a mente, assim que colocada à prova, ativa o medo que faz com que o corpo reaja imediatamente. Para uma pessoa com pavor de falar em público, basta apenas pedir que a pessoa agradecesse em voz alta e imediatamente o pânico vem à tona.

Felizmente, existem hoje muitas maneiras de controlar a ansiedade. A seguir, listamos algumas delas.

• Controle sua respiração: ela é um fator importante. Prender a respiração ou respirar ofegantemente faz com que seu corpo entenda que você está em uma emergência e imediatamente seu corpo começará a reagir para “salvá-lo” da situação. A técnica de respiração “inspire e expire” pode ajudar a salvar o seu discurso. Esteja consciente da sua respiração e concentre-se nela, mentalizando “eu estou calmo”, “minha respiração está normalizada”.

• Mantenha o foco: esta é uma das mais difíceis estratégias quando se está em pânico, mas quando dominada, é a mais eficaz. Quando estamos com medo, a mente se fixa no que é assustador, por exemplo, no coração disparado, na sensação de desmaio, na dor de barriga. Quando estas sensações são focalizadas, elas tendem a aumentar. Para acabar com isso, tente esquecer e repita para si mesmo: “eu estou indo muito bem, eu consigo fazer isso com sucesso”.

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UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

• Esteja bem consigo mesmo: o medo geralmente está relacionado à insegurança e esta, relacionada ao quão inflado está seu ego. Costumamos preocuparmo-nos com o que os outros irão pensar sobre nós, o que vão dizer, se vão gostar ou não. Estar seguro e bem consigo mesmo é uma das maneiras mais eficazes de vencer o medo.

• Desmistifique a ansiedade social: caso seja seu objetivo ser bem-sucedido na esfera social, você terá de aprender a conversar. Lembre-se de que a comunicação é a principal maneira de relacionar-se com as pessoas. Você terá de enfrentar pessoas com diferentes interesses e valores, de diferentes classes sociais, de diferentes culturas e escolaridades. Para isso, invista em si mesmo. Esteja sempre com os cabelos arrumados, com uma roupa apresentável, mesmo que seja para ir ao mercado, afinal de contas, você nunca sabe quem poderá encontrar por lá. Quebrar a barreira da ansiedade social é um dos primeiros passos para o sucesso.

4.3 TÉCNICAS DE RELAXAMENTO

Nesta seção, elencaremos algumas dicas breves de relaxamento para antes de entrar no ambiente que demandará suas habilidades comunicativas. Seja em um palco, em um auditório, em uma sala de aula, em uma delegacia ou em um tribunal, as habilidades a serem postas em prática são as mesmas, portanto, as técnicas podem ser aplicadas a todas as situações.

• Controle a respiração: conforme já mencionamos, a respiração é o mais importante. É ela que indica o pânico para o organismo caso esteja inconstante. Para relaxar a respiração, deixe-se ou recoste-se com um livro sobre a barriga. Inspire pelo nariz e expire pela boca tentando movimentar o menos possível o livro. Cheire a flor, sopre a vela. Esta deve ser a movimentação das suas narinas no ato do exercício.

• Aqueça sua voz: isso prepara as pregas vocais para melhor desempenho e previne que você as machuque. Para aquecer a voz, existem inúmeros exercícios, mas estes são os mais básicos e fáceis. Para fazê-los, mantenha-se com as costas eretas. Exercício 1: inspire e solte o ar lentamente, como uma baforada ou um “A” sussurrado, até o ar acabar. Exercício 2: Inspire e crie uma vibração com a língua, pronunciando o som “rrrrrrrr”. Solte o ar dos pulmões até que acabe. Exercício 3: Inspire e crie o som “zzzzzzzzzz”. Solte o ar dos pulmões até acabar. Estes exercícios podem ser repetidos quantas vezes forem necessárias.

• Beba água de preferência em temperatura ambiente, antes, durante e depois da apresentação. Hidrate sua garganta.

• Treine sua dicção: aqui, uma boa dica (e simples) é fazer leituras em voz alta em frente ao espelho e articular exageradamente os movimentos. Assim, os músculos trabalham em prol da articulação das palavras.

TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

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• Relaxe seu corpo: alongue-se, movimente a cabeça para os lados, para trás e para frente, faça caretas com os músculos do rosto, estique-se.

Prieto (2014) menciona alguns itens que precisam ser observados para que você possa potencializar ainda mais sua capacidade comunicativa:

• Hidrate-se.

• Boceje: diminui a tensão e é muito bom para dar aquela relaxada.

• Evite beber leite, comer chocolates e beber refrigerantes antes de falar por longos períodos. Essas bebidas aumentam a secreção da garganta.

• Durma: o sono regular permite que mente e corpo descansem e recarreguem as energias.

• Evite gritos e cochichos: Falar normalmente. Tanto o grito quanto o cochicho podem causar nódulos.

• Não fume: é o maior inimigo da voz e da laringe.

• Coma maçãs: ela é adstringente e serve para “limpar” a garganta, trazendo bem-estar.

4.4 DICAS PARA UMA BOA POSTURA NA HORA DE FALAR

Para que possamos finalizar nossa Unidade 1, terminaremos dando dicas acerca da postura. Agora que você já sabe como analisar a linguagem corporal, já sabe como aquecer a voz, como driblar o nervosismo e como relaxar, vamos às últimas dicas da unidade: como manter a postura na hora da comunicação.

De acordo com Prieto (2014), alguns são os detalhes que, quando observados, podem fazer toda a diferença. Vamos a eles?

• Solte papel e caneta: de acordo com os estudiosos de oratória, não há nada de errado com o rascunho, mas a comunicação oral é oral. Use o papel apenas para tomar notas.

• Observe-se. Lembre-se de que a linguagem corporal fala mais do que as palavras. A plateia é sensível a gestos. Caso não consiga controlar seus movimentos, segure um passador de slides ou mesmo uma caneta. Não faça movimentos bruscos.

• Fale com energia. A pior experiência de todas é ter de ouvir um palestrante sem vontade.

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UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

• Disfarce o tremor das suas mãos. Se não houver uma caneta ou um passador de slides para segurar, apoie as mãos na mesa, na cadeira ou no microfone.

• Pense antes de falar. Tenha clareza sobre o conteúdo a ser transmitido.

• Peça críticas construtivas. Peça para que um amigo de confiança assista sua apresentação e relate depois o que é preciso corrigir.

• Mulheres: evitem usar pulseiras que façam barulho quando mexer os braços. Isso, além de ser deselegante, tira a atenção dos ouvintes.

Com estas dicas de postura, certamente você se sairá muito bem enquanto comunicador, seja qual for a área de atuação. Nos vemos na Unidade 2.

TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

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COMO STEVE JOBS NOS ENSINA A SER UM BOM COMUNICADORElisa Weber Helfer

Steve Jobs, além de ser um exemplo de liderança, é conhecido como um comunicador cativante, que vende as suas ideias com talento, capaz de converter prováveis compradores em clientes e clientes em entusiastas

Comunicação é chave para convencer as pessoas, tanto clientes, funcionários e sócios, a acreditar num novo produto, num novo processo, no rumo da organização. Quando a comunicação é ineficaz, ela desfaz ideias, desafios e interrompe carreiras.

No processo de comunicação, as apresentações tornaram-se uma ferramenta essencial. Através dela é possível comunicar as qualidades de seu produto, serviço ou causa, fazendo com que as pessoas acreditem na ideia que a empresa está vendendo. As apresentações são a peça-chave e qualquer erro pode representar prejuízo e levar ao fracasso.

Como, então, elaborar uma apresentação de sucesso? Como ter uma

apresentação que possa cativar e convencer quem está assistindo a comprar o produto ou serviço?

Faça como Steve Jobs. Veja abaixo as 11 lições que ele ensina para fazer uma apresentação de sucesso, uma apresentação que seja a diferença, que atraia futuros consumidores e que faça com que os mesmos se tornem clientes da empresa.

1) Crie uma história

Elabore um enredo para vender as suas ideias com convicção e carisma. Muitos comunicadores criam mensagens e títulos cativantes, fazem uma narrativa leve e fácil de ser acompanhada.

Comece com um esboço da história, sem ajuda de computador ou Power Point, somente caneta e papel. O Microsoft Power Point é uma excelente ferramenta para as apresentações, permitindo diversos designs, animações, além de agilizar a tarefa. Porém, alguns recursos podem atrapalhar e tornar a apresentação tediosa.

Jobs se envolvia diretamente em cada detalhe da apresentação e seguia a forma como os principais designers de apresentação recomendam: começar no papel. Escrever no papel um esboço, pois ele proporciona mais clareza e resultados criativos e, após isso, apresentar as ideias de forma digital. A preparação de uma apresentação exige tempo para pensar, planejar, esboçar e escrever um roteiro.

LEITURA COMPLEMENTAR

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UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

É preciso lembrar que: é a história que mobilizará a imaginação e irá reter a atenção da plateia, não os slides.

2) Responda à pergunta mais importante

A plateia quer ser informada sobre o seu produto, ensinada sobre como ele funciona e entretida enquanto aprende sobre ele. As pessoas querem saber a resposta para a seguinte pergunta: “Por que eu devo me interessar?”.

No planejamento da apresentação, considere que ela não é para você, e sim para o público. Responder à pergunta de forma simples e direta chamará a atenção dos ouvintes.

3) Simplicidade

A simplicidade é um conceito muito importante para a Apple. Jobs tornava os produtos fáceis de usar, eliminando recursos. Da mesma forma o faz em suas apresentações. Enquanto muitos apresentadores preenchem os seus slides com bastante conteúdo, Jobs os retira.

Uma apresentação de Steve Jobs é muito simples, objetiva e visual. Ao remover informações irrelevantes dos produtos e apresentações, Steve consegue repassar com clareza todas as informações necessárias.

Os slides simples mantêm o foco no que interessa: em você, o palestrante. Se os seus slides tiverem muitas palavras, e palavras que não correspondem ao que você diz, os ouvintes terão dificuldades para se concentrar em você e em seus slides.

O seu discurso também tem que ser simples. Jobs escolhe cuidadosamente as suas palavras para descrever um produto. Ele substitui frases longas por citações, as quais facilmente poderiam ser inseridas em um post do Twitter. Desta forma, as frases são simples e fáceis de serem lembradas.

4) Use imagens

Suas ideias terão maior probabilidade de serem lembradas se forem apresentadas por imagens, em vez de palavras. As imagens funcionam melhor que o texto porque o cérebro enxerga as palavras como inúmeras imagens em miniaturas.

Quando Steve Jobs apresentou o lançamento do iPhone 3G ele utilizou 11 slides, sendo que somente um slide continha palavras.

Você precisa ter confiança para expor suas ideias utilizando imagens ao invés de palavras. Você deve, então, transmitir sua mensagem perfeitamente. Jobs transmite suas ideias de maneira simples, clara e confiante, e essa é a diferença entre Steve e milhões de comunicadores comuns.

TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

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5) Use palavras empolgantes

Como foi possível ver até agora, Jobs fala de uma maneira simples, clara e direta, isenta de jargão e complexidade. Ele escolhe palavras que são divertidas, tangíveis e incomuns.

Se as suas apresentações forem lotadas de jargões, enroladas e confusas, você perderá uma oportunidade de empolgar e envolver as pessoas que estão lhe ouvin-do. Você deve utilizar palavras que representam verdadeiramente seu produto, ser-viço ou marca. Não fique com receio de usar palavras simples e adjetivos descritivos. Se você considera o seu produto incrível, siga em frente e diga isso. Se você não ficar empolgado com o seu produto, como espera que os outros fiquem?

Jargão se refere a uma linguagem incompreensível. Evite-a, pois o uso de jargões cria dificuldades para compartilhar ideias. Eles deixarão você menos compreensível e, por consequência, menos persuasivo.

Outra maneira de acrescentar vida à sua linguagem é por meio de analogias, comparando uma ideia ou produto com um conceito ou produto conhecido pela plateia. Quando você encontrar uma analogia que funcione, persista nela. Quanto mais repeti-la, maiores serão as chances de seus clientes se lembrarem.

6) Compartilhe o palco

Nosso cérebro não presta atenção em coisas chatas, ele deseja variedade. Divida o palco com convidados, com pessoas capazes de explicar de forma mais eficaz sobre uma etapa do funcionamento de um produto. Isso somará credibilidade e entusiasmo à apresentação.

Os testemunhos e avais são persuasivos. O boca a boca é a principal influência nas decisões de compras. Convidar um cliente para dividir o palco, tanto pessoalmente ou em vídeo, é uma importante estratégia. Demonstrar publicações que elogiam o produto também é uma tática que funciona. Essas ações influenciam os ouvintes, dando confiança de que comprando o produto, eles farão uma escolha sensata.

É importante, também, agradecer às pessoas que tornaram o produto possível, por exemplo, os funcionários. Isto revelará à plateia sinais de integridade e inspirará seus parceiros e colaboradores a trabalhar com você. Steve Jobs divide o palco com a sua plateia, seus clientes, na maioria das vezes, agradecendo-os. Deste modo, ele cria uma afinidade com os ouvintes, reconhecendo as pessoas que são importantes: as que compram e as que desenvolvem o produto.

7) Em suas apresentações utilize objetos cênicos

Jobs utilizava objetos cênicos nas demonstrações dos seus produtos. Uma boa demonstração tem o poder de informar a plateia sobre o seu produto, comunicando os seus benefícios e inspirando os ouvintes a comprá-lo.

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UNIDADE 1 | COMUNICAÇÃO: A BASE DAS PRÁTICAS JURÍDICAS

Apesar disto, as demonstrações devem ser:

Curtas: uma demonstração não pode entediar a plateia.Simples: deve ser compreensível e fácil de acompanhar. Informar somente o que é relevante, despertando nos ouvintes a vontade de adquiri-lo, porém sem desnorteá-los.Gratificantes: através de uma demonstração, apresente o diferencial de seu produto em comparação com o concorrente. Porém, você deve mostrar a funcionalidade real de seu produto.Substanciais: demonstrar claramente a forma como o seu produto oferece uma solução para um problema que seus ouvintes estão enfrentando.Prazerosas: ao realizar a apresentação do seu produto, você deve demonstrar prazer com isso. As demonstrações devem ser divertidas, com entusiasmo e atingir todos os presentes. Jobs revelava prazer demonstrando seus novos produtos e, exatamente por isso, suas apresentações faziam sucesso.Concentração: ao demonstrar um produto, apresente somente um dos muitos benefícios oferecidos por ele. Assim, você não sobrecarregará a plateia.

8) Surpreenda com um momento inesquecível

O primeiro passo para criar um momento inesquecível é identificar um único tema, uma única coisa, que você deseja que a sua plateia lembre depois de deixar o recinto. Os ouvintes esquecerão muitos detalhes da sua apresentação, dos seus slides, mas lembrarão do que sentiram. A apresentação deve ter o propósito de criar uma experiência e provocar uma conexão emocional com o ouvinte.

Quando Jobs apresentou o novo iPod, ele tinha uma única mensagem-chave: ele põe mil músicas em seu bolso.

9) Presença de palco

Steve Jobs possuía uma presença de palco impressionante. Sua voz, seus gestos e sua linguagem corporal comunicavam autoridade, confiança e energia. As palavras que ele empregava para descrever um produto são importantes de se observar, assim como a maneira como se expressava. Ele destacava as palavras-chave em cada parágrafo, fazia gestos expansivos para complementar sua expressão vocal.

Três técnicas para melhorar a linguagem corporal:

Contato visual: os grandes comunicadores, como Steve Jobs, costumam apresentar contato visual com a plateia. Eles raramente fazem alguma leitura de slides ou de anotações. Jobs costumava dar uma olhada no slide e logo voltava sua atenção novamente para a plateia.

Jobs era capaz de estabelecer um contato visual firme com seus espectadores porque ensaiava suas apresentações. Assim, ele sabia exatamente o que havia em cada slide e o que dizer no momento em que ele aparecia. Quanto mais ensaiava, mais incorporava o conteúdo e, assim, mais fácil e firme ficava a sua conexão com os ouvintes. Outro detalhe para manter o contato visual com a plateia é elaborar slides

TÓPICO 3 | REGRAS PARA A BOA COMUNICAÇÃO

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visuais, utilizando-se de imagens e poucas palavras. Slides com imagens e poucas palavras fazem o apresentador transmitir as informações oralmente para o público.

Postura aberta: evite estar de braços cruzados em uma apresentação, bem como ficar atrás de um púlpito. Jobs, em suas demonstrações, se senta em paralelo ao computador, e assim, nada bloqueia sua visão da plateia e vice-versa. Ele realiza uma atividade no computador e volta-se para os ouvintes explicando o que acabara de fazer, e assim, raramente quebra o contato visual por muito tempo.

Gestos com as mãos: enfatize uma palavra ou frase com algum gesto que as complemente. Evite permanecer com os braços parados ao lado do corpo, pois, desta forma, você parecerá rígido, formal e, até mesmo, um pouco esquisito. Utilizar gestos com a mão enfatiza um pensamento, esclarecendo-o. Utilize gestos com as mãos para enfatizar suas ideias, porém tenha cuidado para que os gestos não pareçam robotizados. Seja espontâneo e autêntico, evitando copiar gestos de outros comunicadores.

Expressão verbal: além da linguagem corporal, é necessário haver uma boa expressão verbal. Slides incríveis podem significar pouco se você não possuir uma grande expressão verbal. Uma expressão verbal ruim pode arruinar uma história incrível.

Com a expressão verbal o apresentador pode criar suspense, entusiasmo e emoção na plateia. Procure aplicar duas técnicas que Jobs utilizava para manter seus ouvintes envolvidos:

a) Inflexão: mude sua inflexão aumentando e diminuindo o tom de voz quando julgar necessário. Se todas as palavras forem expressas num mesmo tom, a apresentação e demonstração de um produto irão se tornar monótonos.

b) Pausas: utilize pausas para que não pareça que você está tentando despejar o conteúdo rapidamente na apresentação. Faça pausa para que a sua mensagem seja absorvida pela plateia.

10) Deixe de lado o roteiro

Faça uma apresentação sem recorrer a um bloco de anotações. Ao invés disso, utilize nos slides uma ideia-chave como incitador. Como já escrito diversas vezes, evite textos longos. Tenha um único tema em cada slide.

11) Não se preocupe com as coisas pequenas

Independente do quanto você se preparar para a apresentação, algo pode ocorrer de forma não desejada, diferente do que havia sido programado. Não se dei-xe perturbar no palco, reconheça o problema e continue a apresentação. Nesses casos, mantenha a calma e tente resolver o problema com tranquilidade. Não deixe que um empecilho acabe com o seu entusiasmo, e aí sim, acabe com a sua apresentação.

FONTE: <http://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/como-steve-jobs-nos-ensina-a-ser-um-bom-comunicador/92224/>. Acesso em: 29 nov. 2018.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• A comunicação depende, primordialmente, do bom uso da língua portuguesa.

• O novo acordo ortográfico foi assinado em 2009, mas entrou em vigor em 2016. As principais mudanças foram relacionadas especialmente ao número de letras, à acentuação e à hifenização das palavras.

• A concordância nominal ocorre quando há concordância no aspecto “número” (plural ou singular) e “gênero” (masculino e feminino) entre o substantivo e o adjetivo que dá características a ele.

• A concordância verbal ocorre quando o verbo concorda com seu sujeito em pessoa e número.

• A regência nominal indica a relação que um nome (termo regente) estabelece com o seu complemento (termo regido) através do uso de uma preposição.

• A regência verbal indica a relação que um verbo (termo regente) estabelece com o seu complemento (termo regido) através do uso ou não de uma preposição. Na regência verbal os termos regidos são o objeto direto (sem preposição) e o objeto indireto (preposicionado).

• O corpo comunica muito mais do que as palavras.

• Há profissionais especializados em observar nossos movimentos que, na maioria das vezes, são inconscientes.

• Há dicas interessantes para vencer o medo de falar em público.

• As técnicas de relaxamento antes da fala são tão importantes quanto a própria fala.

• Manter a postura na hora de falar em público faz toda a diferença.

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1 De acordo com o que estudamos acerca da língua portuguesa:

a) ( ) O último acordo ortográfico da Língua Portuguesa do Brasil foi assi-nado em 2008.

b) ( ) O último acordo ortográfico da Língua Portuguesa do Brasil foi assi-nado em 2009.

c) ( ) O último acordo ortográfico da Língua Portuguesa do Brasil foi assi-nado em 2010.

d) ( ) O último acordo ortográfico da Língua Portuguesa do Brasil foi assi-nado em 2011.

2 Referente ao código ortográfico da língua portuguesa:

a) ( ) As principais mudanças estão no número de letras do alfabeto, na acentuação e na hifenização.

b) ( ) As principais mudanças estão no número de letras e na separação das sílabas.

c) ( ) A principal mudança está na tonicidade das sílabas. d) ( ) As principais mudanças estão na esfera da formação das palavras por

hibridismo.

3 Assinale a alternativa que apresenta erro de concordância verbal.

a) ( ) A Esquadrilha da Fumaça fez um belo show. b) ( ) O rebanho saiu pela manhã. c) ( ) A multidão gritava por socorro. d) ( ) Mãe e filho compraram ingressos para o parque.

4 Assinale a alternativa na qual o verbo assistir signifique ver.

a) ( ) As crianças assistiam ao filme. b) ( ) O mecânico assistiu o motorista na rodovia. c) ( ) A enfermeira assistiu o paciente. d) ( ) Minha esposa foi assistida pelo médico.

5 Quanto ao medo de falar em público, é correto o que se afirma em:

a) ( ) Não é possível curar o medo de falar em público. b) ( ) O medo se intensifica quando estamos focados nele. c) ( ) Os sintomas físicos e psicológicos aparecem com a mesma intensidade. d) ( ) O relaxamento deve ser feito depois da fala, apenas.

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 2

PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você estará apto a:

• refletir sobre a importância da leitura na formação profissional;

• compreender a relação entre o autor, o leitor e o texto;

• reconhecer a coesão como fator que contribui para a manutenção da coe-rência;

• analisar os benefícios de uma boa oratória e aprender a utilizá-la.

Esta unidade de ensino está dividida em três tópicos. No decorrer da uni-dade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 - DECODIFICANDO E INTERPRETANDO TEXTOS

TÓPICO 2 - A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO

TÓPICO 3 - A PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS

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TÓPICO 1

DECODIFICANDO E INTERPRETANDO

TEXTOS

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

A leitura, a interpretação e, consequentemente, o entendimento de textos é uma atividade primordial no contexto do mundo atual. Ela faz com que os hábitos, pensamentos, conhecimentos e a dimensão lógica e racional se desenvolva.

Podemos dizer que o ato da leitura tende a desenvolver de maneira rápida e eficaz o espírito crítico, pois a sua prática modela, inclusive, a personalidade do indivíduo.

Isto significa dizer que a leitura tem a função imediata de ser mediadora do mundo, pois se lê “[...] para entender o mundo, para viver melhor” (LAJOLO, 1982, p. 7).

Ao ler, acadêmico, desencadeamos mecanismos de organização mental e de estrutura inerentes ao texto, o que nos faz compreender e interpretar de maneira correta. Mas, cuidado! A atividade de leitura não necessita restringir-se somente ao nível formal de apreensão do texto, ela deve ser entendida como uma atividade reflexiva, de experiência de vida que desenvolve uma racionalidade e uma concepção de mundo.

O indivíduo, ao ler o texto, constrói o significado. É como se ambos, texto e leitor, entrassem num diálogo em que o objetivo final é a comunicação e esta, só se faz, só acontece, pela interação.

Assim, nesta unidade, teremos a oportunidade de efetuar uma reflexão

acerca do processo de leitura e de seus elementos. E nada de franzir a testa! Pois, é muito importante que se tenha gosto pela leitura e que a compreenda como uma aliada num processo ativo de aprendizagem e desenvolvimento cognitivo.

Continue conosco! Não perca o foco!

2 A PRÁTICA DE LEITURA

Compreendemos, acadêmico, que o diálogo estabelecido entre o leitor e o texto, como estávamos discutindo anteriormente, enfatiza a linguagem em dois princípios: o interdiscurso e a alteridade.

UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

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O princípio do interdiscurso se constitui pelo diálogo entre os diferentes discursos e o princípio da alteridade se estabelece pela interação entre o eu e o outro (BAKHTIN, 1981).

O movimento do interdiscurso e da alteridade acontece pela interação no processo comunicativo que se dá pela ação recíproca entre os interlocutores, que se constitui no leitor e no texto. O leitor é um participante ativo na prática da leitura, ou seja, um ser eficaz que constrói o seu próprio conhecimento pela sua experiência cognitiva, cultural e linguística.

O texto, por sua vez, segundo Bakhtin (1997, p. 333), “[...] não é um objeto, sendo, por essa razão, impossível eliminar ou neutralizar nele a segunda consciência, a consciência de quem toma conhecimento dele”.

O leitor pode confirmar ou pode rejeitar as hipóteses e assimilar uma informação, adequando-a àquela que ele já possui internalizada. Nessa perspectiva, quanto maior a experiência cultural do indivíduo leitor, maior será a sua eficácia na prática de leitura, que, por sua vez, trará novas informações culturais, cognitivas e até linguísticas.

Essa ideia da construção dos sentidos está diretamente relacionada às atividades de leitura e às práticas sociais que os indivíduos têm acesso ao longo de sua vivência.

As atividades que envolvem leitura podem ser compreendidas como ações que concebem o assunto, que é objeto da interlocução e orientam a interação.

Assim, acadêmico, a prática da leitura e todos os elementos que a compõe representam um fenômeno social, ou seja, um trabalho realizado por meio da leitura e da produção textual e, também, da interpretação que se faz disso tudo que é muito mais que decodificação de signos linguísticos. A leitura engloba um processo de construção de significado que atribui sentidos, constitui nossas opiniões e verdades perante as coisas.

Assim, a leitura e sua prática adquirem um caráter sócio histórico do diálogo, ou seja, a linguagem, materializada através da palavra, constitui-se na representação social tendo sempre um sentido ideológico ou vivencial.

Portanto, o leitor constitui seu mundo e amplia seu horizonte de compreensão e interpretação dos mais variados textos, por meio da interação que faz com que leitores e autores se confrontem e se definam no contexto de discurso individual.

Finalizamos dizendo, acadêmico, que o indivíduo que não tem a prática

da leitura internalizada como um exercício está fadado ao fracasso social, cultural,

TÓPICO 1 | DECODIFICANDO E INTERPRETANDO TEXTOS

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intelectual, cognitivo e, também, político, pois, sem essa prática, teremos nossas atitudes pautadas apenas no que lemos, assim como nossas ações que serão submissas a uma elite dita dominante que está mais preparada para operar do que aqueles que não conseguem ler e interpretar com excelência.

Vamos adiante! Vamos nos motivar, pois a leitura abre caminhos, de repente, nunca por nós visitados.

2.1 A MOTIVAÇÃO PARA LER

A motivação para ler, acadêmico, é um elemento fundamental a ser levado em conta. Quando nos conscientizamos de que precisamos compreender algo, tanto a necessidade como a curiosidade nos instigam a abandonar a zona de conforto, que engloba o que já sabemos, e nos desafia a buscar o novo, o desconhecido.

Wigfield (1997) apresenta três grandes eixos acerca da motivação para a leitura: a motivação intrínseca e extrínseca, as percepções de competência e de eficácia e a motivação social.

Segundo Wigfield (1997), a motivação extrínseca e intrínseca permite melhor compreensão das razões implícitas ao desenvolvimento de práticas de leitura, podendo estar relacionadas com o prazer e interesse resultantes dessa prática ou com o ganhar alguma gratificação.

As percepções de competência e de eficácia envolvem a avaliação feita dos indivíduos em torno de sua capacidade de desenvolverem certas práticas de leitura, podendo facilitar ou bloquear um maior envolvimento com o ato de ler.

No que se refere a motivação social, a interação do autor e do leitor torna-se o centro da prática da leitura, pois ela é uma atividade social que pode desenvolver ideias e compreensões diferenciadas.

Baker e Wigfield (1999) tratam da motivação para a leitura em uma perspectiva de envolvimento e motivação para o sucesso. O termo envolvimento, do inglês engagement, é muito utilizado quando se trata de motivação para a leitura, tido como algo desejável e positivo. Os autores ainda apresentam outro elemento como essencial: o leitor envolvido, engaged reader, que se associa ao indivíduo que está motivado para ler por inúmeros motivos, buscando desenvolver novos conhecimentos com o objetivo de uma participação ativa na sociedade como bom leitor e entendedor de diversos assuntos.

Dessa maneira, “a motivação para a leitura é uma condição indispensável para que exista envolvimento na leitura” (MATA, 2006, p. 99).

UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

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Compreender a motivação para a leitura e seus processos motivacionais nos faz considerar que é um procedimento complexo, que implica na relação de fatores cognitivos, motivacionais e sociais que influenciarão, de maneira positiva ou negativa, o envolvimento por parte dos leitores.

Motive-se! Certamente você tem um bom motivo para estar aqui realizando esta leitura!

2.2 OS TIPOS DE LEITORES

Podemos dizer que o ato de ler não se configura mais com o intuito de tentar descobrir o conteúdo de um texto nu e cru, ou seja, a informação não se apre-senta mais no texto de maneira transparente.

Compreendia-se que o leitor desempenhava um papel secundário, apenas decodificava letras, vocábulos e sentenças para chegar à informação que o texto lhe oferecia.

Santaella (2004, p. 16) aponta três tipos de leitores: “o contemplativo ou me-ditativo, o leitor movente ou fragmentário e, por fim, o leitor imersivo ou virtual”.

O primeiro leitor, denominado contemplativo ou meditativo, não necessita da ajuda do outro. A leitura acontece de maneira isolada e, geralmente, silenciosa, pois depende do leitor e da postura dele na continuação ou não de sua leitura.

Ao apresentar esse tipo de leitor, Santaella (2004) traz em discussão a leitura que nasce da relação pessoal entre o leitor e o texto num espaço particular. Acredi-ta-se que, durante o ato do ler, a concentração é intensa para essa prática.

Manguel (1996, p. 49), postula que “[...] ler, então, não é um processo auto-mático de capturar um texto como um papel fotossensível captura a luz, mas um processo de reconstrução desconcertante, labiríntico, comum e, contudo, pessoal”.

Dessa maneira, um leitor contemplativo realiza a leitura utilizando uma dinâmica que o possibilita conduzir a captura do conteúdo acrescentando sua in-ferência, examinando, inclusive, textos afins. Enfim, o leitor contempla e medita à sua maneira.

O leitor fragmentário ou movente é o capaz de conceber várias maneiras de ler. Ele passou a existir com o surgimento do jornal impresso, com o advento tec-nológico, com a instantaneidade da televisão, a evolução do cinema entre outros. Surge um leitor que acumula características do contemplativo, mas, agora, moven-te, ou seja, um leitor de formas, interações, movimentos, direções, cores, sincroni-zando-se à rapidez insana da evolução do mundo (SANTAELLA, 2004).

TÓPICO 1 | DECODIFICANDO E INTERPRETANDO TEXTOS

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Segundo Santaella (2004, p. 29):

É nesse ambiente que surge o nosso segundo tipo de leitor, aquele que nasce com o advento do jornal e das multidões nos centros urbanos habitados de signos. É o leitor que foi se ajustando a novos ritmos da atenção, ritmos que passam com igual velocidade de um estado fixo para um móvel. É o leitor treinado nas distrações fugazes e sensações evanescentes cuja percepção se tornou uma atividade instável, de intensidades desiguais.

Compreendemos, dessa maneira, que as habilidades desse leitor são indiscutíveis, pois ele é capaz de conviver com a velocidade e com a intensidade ou superficialidade que as informações têm nesse universo.

Já o leitor imersivo ou virtual surge do advento da tecnologia e da multiplicidade dos ambientes virtuais de comunicação. Esse tipo de leitor nasce habituado com a linguagem efêmera e provido de uma sensibilidade instantânea. Ele se constitui da junção de características dos dois primeiros tipos de leitores adicionando a virtualidade, a leitura não linear, o hipertexto entre outros.

Afinal, o que significa ler e ser um leitor em pleno século XXI? Podemos dizer que ontem líamos apenas utilizando o papel; hoje, lemos no papel e no digital. Será que a utilização da internet mudou ou mudará nossa relação com a leitura? Vamos discutir um pouco sobre isso?

Acreditamos, acadêmico, que quem mais lê livros de maneira digital é também quem mais lê livros de maneira impressa. Porém, não podemos esquecer que, para muitos, a leitura digital restringir-se aos Tweets, e-mails, posts do Facebook, e-books, revistas em apps e blogs em páginas da web. Diante disso, será que estamos perante novas formas de leitura ou perante novos leitores?

Certamente estamos diante de novos leitores de livros em formato digital. Utilizamos o termo novos pois muitos leitores que liam em papel passaram a fazê-lo no digital, assim como outros tantos leitores que não liam ou não leriam em papel passaram a utilizar a tecnologia para leitura. Falar de leitura neste século é aceitar o ato de ler em formato digital e continuar, igualmente, a falar de leitura em papel.

Segundo Cardoso (2013, p. 281):

Falar de leitura [...] pressupõe igualmente aceitar a possibilidade de identificação de um novo tipo de leitor e de leituras, que moldarão tanto as políticas públicas de apoio à leitura como a valorização social e individual sobre o que pode ser considerado como leitura hoje.

Partindo dos escritos de Cardoso (2013), compreendemos que as inovações advindas com a tecnologia modificam as relações entre a leitura, o leitor, o texto e, também, entre a comunicação.

UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

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Há a necessidade de atualização, inclusive, acadêmico, das instituições de ensino, que necessitam adequar suas metodologias de modo a suprir essa necessidade de constituição de novas habilidades de leitura e escrita por meio das mídias digitais.

De acordo com Koch (2010, p. 7):

[...] o texto é lugar de interação de sujeitos sociais, os quais, dialogicamente, nesse se constituem e são constituídos; e que, por meio de ações linguísticas e sócio cognitivas, constroem objetos-de-discurso e propostas de sentido, ao operarem escolhas significativas entre as múltiplas formas de organização textual e as diversas possibilidades de seleção lexical que a língua lhes põe à disposição.

Dessa maneira, o texto vem adquirindo novas configurações que nos dão possibilidade de perceber que o texto, hoje, é algo multimodal. Guimarães (1990) define o texto multimodal como um processo de construção textual sucedido da mobilização de diferentes modos de representação. Podemos compreender como modos de representação elementos como imagem, entonação, efeitos visuais, gestos, cores, músicas, recursos semióticos entre outros.

A respeito do texto, ainda é importante deixar claro que as reflexões sobre a leitura no que se refere à importância na formação do sujeito, às possibilidades de organização textual, à interação entre o autor e o leitor, desencadeiam leituras e releituras, ampliando a visão de mundo daqueles que as realizam.

Acadêmico, agora que você já deve ter ideia de que tipo de leitor você é, aproveite ainda mais as ferramentas para leitura que você dispõe.

3 NOÇÕES METODOLÓGICAS DE LEITURA E INTERPRETAÇÃO

A leitura, segundo Orlandi (2000), é entendida como atribuição de sentidos, pois as palavras ultrapassam seus limites de significação e invadem novos espaços e possibilidades. O escritor escolhe as palavras para que produzam um efeito para além da uma significação objetiva, procurando aproximá-las ao imaginário. O autor dos textos explora as possibilidades linguísticas e as manipula no nível semântico, ou seja, ao sentido ou significado fonético das palavras, sendo que são as diferenças de pronúncia que acarretam alterações no sentido e sintático, isto é, na construção das frases. E tudo isso necessita ser absorvido pelo leitor.

Quando o autor utiliza o sentido literal em seus escritos, está empregando o sentido básico e usual da palavra ou da expressão. Isso pode ser compreendido sem auxílio do contexto, ou seja, quando uma palavra se apresenta em sua verdadeira definição, com valor denotativo. Na frase: “o homem estava morrendo de fome”, o sentido literal se constitui quando dizemos que o homem estava morrendo porque não se alimentava.

TÓPICO 1 | DECODIFICANDO E INTERPRETANDO TEXTOS

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Temos também o sentido figurado que se refere à utilização das palavras ou expressões em situações particulares de uso. Por vezes, a palavra pode ter um valor conotativo e seu significado ser ampliado. Neste caso, o contexto em que é empregada é de importância fundamental, pois sugere ideias que vão além de seu sentido básico. Na frase: “o vento afagava as espigas”, a palavra afagava está em sentido figurado, pois neste contexto significa que o vento passava muito devagar.

Como observamos, a compreensão das palavras é de extrema importância para a apreensão das mensagens e informações dispostas nos textos. Elas são articuladas de forma polissêmica, com muitos significados.

Partindo do pressuposto de que letrado é o indivíduo que realiza leitura e a compreende, há diversas dicas para se alcançar uma leitura proficiente, livre de quaisquer mal-entendidos de interpretação, veja:

• Interferências externas: A leitura deve acontecer em um ambiente livre de interferências externas, adequado para a leitura, que oferece silêncio e conforto, influenciando de maneira positiva. Ruídos e interferências reduzem a capacidade de concentração e, consequentemente, de interpretação.

• Dicionário: O texto pode possuir muitos vocábulos desconhecidos pois o léxico da língua portuguesa é grande. Desconhecer o significado de algumas palavras, especialmente, as que aparecem por repetidas vezes, pode conduzir a perda do foco da interpretação plena. O ideal é que, diante de um entrave linguístico, consulte-se um dicionário. Na impossibilidade, anote a palavra para uma consulta posterior.

• Leitura no papel: A tecnologia nos oferece suportes que facilitam a leitura, ou seja, os livros digitais são uma realidade. Contudo, sempre que possível leia livros ou documentos físicos. O papel oferece a oportunidade de ser rabiscado, fazer anotações, além de ser a melhor opção para quem tem dificuldades de interpretação textual e concentração.

• Paráfrase: É a explicação livre e desenvolvida de um fragmento do texto. Ao ler um parágrafo mais complexo, faça uma pausa para tentar explicá-lo com suas próprias palavras. Essa técnica facilitará a compreensão e a assimilação.

• Leitura cuidadosa: Ler de maneira rápida dificilmente transformará informação em conhecimento. O cérebro precisa de tempo para processar a leitura. Uma leitura feita com calma e devagar faz com que se retome parágrafos para que uma releitura seja realizada, o que auxilia o entendimento minucioso do texto.

FONTE: Adaptado de <https://portugues.uol.com.br/redacao/interpretacao-textos.html>. Acesso em: 4 nov. 2018.

IMPORTANTE

Ao contrariarmos a ideia de que a totalidade da informação está no texto, surge a leitura interativa que pressupõe que o leitor é participante do processo e que suas experiências de vida são tão importantes quanto aos dados do texto. Neste processo de interação é priorizado o papel do leitor uma vez que ele constrói o significado do texto, trazendo consigo certa quantidade de informações, ideias, conhecimento de mundo e inferências.

UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

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Na concepção de Coracini (1985, p. 14), nessa leitura:

[...] vista como interação entre os componentes do ato da comunicação escrita, o leitor, portador de esquemas (mentais) socialmente adquiridos acionaria seus conhecimentos prévios e os confrontaria com os dados do texto, ‘construindo’, assim, o sentido.

Neste contexto, a leitura implica em um processo cognitivo e social, cujo fluxo de informação está no texto e no seu leitor. O leitor antevê as informações do texto com base em seus conhecimentos prévios, muitas vezes, confirmando ou não suas previsões. Assim, o significado não se encontra somente no texto e nem na mente do leitor, mas é alcançado por meio da interação entre o leitor e o autor, através do texto.

Assim, a leitura envolve descobertas e a constituição de possibilidades de sentidos, ou seja, acontece uma relação do leitor com o texto, uma interpretação e, por consequência, uma interação. Nessa interação é necessário deixar que o texto sensibilize e fale. Há a existência do diálogo, ou seja, há uma conversa com o texto a partir do que se imagina e dele (texto) extrairmos o significado.

Se levarmos em conta toda reflexão, o mundo não será mais imposto ao leitor para que este se adapte, mas sim apresentado como um desafio pela ação transformadora e humanizadora do sujeito que lê.

Caro acadêmico!

Como complemento das informações e reflexões aqui apresentadas acerca do processo de leitura, tomemos parte do texto O ato de ler, de autoria de Irismar Oliveira Santos-Théo, o qual aborda a relação que se estabelece entre o autor e o leitor, bem como os tipos de leitura, como possibilidade de melhor compreensão e aproveitamento do ato de ler. Bom proveito!

TIPOS DE LEITURA

Segundo Calvino (2000), a primeira leitura que se faz de qualquer texto é a sensorial, isto é, o leitor, ao tomar em suas mãos uma publicação, trata-a como objeto em si, avaliando seu aspecto físico e a sensação tátil que desperta. Essa atitude é um elemento importante do nosso relacionamento com a realidade escrita. Observe o cuidado gráfico com que são apresentadas as revistas nas bancas: cores, formas e embalagens procuram atrair o interesse do comprador.

Com os livros acontece a mesma coisa: basta entrar numa livraria para perceber que todos aqueles volumes expostos e dispostos constituem uma mensagem apelativa aos nossos sentidos. Além disso, há quem sinta muito prazer em possuir livros, acariciando-os e exibindo-os como objetos artísticos: são os bibliófilos. Como exemplo de bibliófilo, podemos citar José Mindlin, um apaixonado pelo livro que, além de adquiri-los onde quer

DICAS

TÓPICO 1 | DECODIFICANDO E INTERPRETANDO TEXTOS

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que estejam, é um leitor que “ganha o dia” equilibrando desejo e mania; a mania saborosa de manusear e ler os livros que tem, numa relação de “amor incurável”. Segundo Mindlin (2002), o livro é “um mágico artefato [...] que nos abre portas, fantasias e mundos”. Isso reforça uma das muitas conclusões sobre o ato de ler, a ideia de que o fascínio pela leitura nos leva a entender que “a vida de toda pessoa é única, uniforme e compacta como um cobertor enfeltrado”. (CALVINO, 2000, p. 111).

A leitura sensorial do texto escrito é uma primeira etapa do nosso processo de descodificação. À leitura sensorial costuma-se seguir a chamada leitura emocional, a que se usa a sensibilidade. É quando passamos conhecimento do texto propriamente dito, percorrendo as páginas e travando contato com o conteúdo. Leitura, então, gera emoção.

A história pode ser emocionante ou tediosa, o artigo ou matéria pode fazer rir ou irritar, os poemas podem ser fáceis ou difíceis de ler, agradáveis ou complicados e aborrecidos. Normalmente, a leitura emocional conduz a apreciações do tipo “gostei”/“não gostei”, sem maiores pretensões analíticas. É uma experiência descompromissada, da qual participa nosso gosto e nossa formação.

A leitura emocional costuma ser criticada, sendo, muitas vezes, chamada de superficial. Essa avaliação tem muito de racionalismo e nem sempre é verdadeira.

Quando optamos por ler um romance de ficção científica, por exemplo, por pura distração, podemos entrar num universo cujas relações nos apresentam uma realidade diferente da nossa, capaz de nos levar, sem grandes floreios intelectuais, a pensar sobre o nosso mundo. O mesmo pode acontecer com revistas em quadrinhos e outros textos considerados “menos nobres” e que, na verdade, sugerem e possibilitam profundas reflexões. Isso não significa, no entanto, que não há publicações que investem na nossa vontade de descansar a cabeça, oferecendo-nos um elenco de informações e ideias que reforçam os valores sociais dominantes.

A leitura sensorial e a emocional fornecem subsídios importantes para a realização de um terceiro tipo de leitura, a intelectual. Essa leitura não deve ser vista como uma forma de abordar os textos, reduzindo-os a feixes de conceitos incapazes de despertar qualquer prazer. Ela começa por um processo de análise que procura detectar a organização do texto, percebendo como ele constitui uma unidade e como as partes a relacionam para formar essa unidade. É essa análise que temos praticado em nosso livro: ela é muito importante para facilitar sua compreensão dos mecanismos de funcionamento da língua escrita. E esse trabalho pode despertar muito prazer intelectual.

A leitura intelectual não se limita a analisar os textos. Na realidade, o que se fundamenta é a consciência permanente de que todo texto é um ato de comunicação, respondendo, portanto, a um projeto de quem o produz. Em outras palavras, a leitura é intelectual quando o leitor nunca perde de vista o fato de que aquilo que está lendo foi escrito por alguém que tinha propósitos determinados ao fazê-lo. Procurar detectar esses propósitos, juntamente com a informação transmitida e com a estrutura do texto, é fazer uma leitura intelectual satisfatória. Essa proposta de leitura intelectual refere-se principalmente a textos informativos, como os que encontramos em jornais, revistas, livros técnicos e didáticos. São textos que requerem uma abordagem crítica permanente, pois apresentam sempre traços que indicam as intenções de quem escreve e publica.

Também os textos publicitários devem ser incluídos nesse grupo, bem como aqueles escritos para apresentação oral (rádio ou audiovisual, televisão). É importante ressaltar que a leitura intelectual implica uma atitude crítica, voltada não só para a compreensão do “conteúdo” do texto, mas principalmente ligada à investigação dos procedimentos de quem o produziu.

FONTE: SANTOS-THÉO, I. O. Tipos de Leitura. Revista de Educação CEAP, Salvador ano 11, n. 41, p. 59-66, jun. 2003.

UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

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3.1 É POSSÍVEL APRENDER A LER?

Entre as décadas de 60 e 70, o saber ler foi confundido com a possibilidade de se atribuir um significado ao escrito, ou seja, a leitura e o entendimento foram confundidos com a decodificação.

Com o passar do tempo, com a expansão da comunicação e da tecnologia, o saber decifrar ou decodificar não foi mais o suficiente quando o assunto era a leitura. Os indivíduos conscientizaram-se de que saber decifrar e decodificar não podia ser confundido com saber ler, independentemente do modo de ensino a que foram submetidos. Foi necessário compreender e remodelar o ensino e a aprendizagem da leitura ou, ao menos, melhorá-lo. A expressão leitura crítica passou a ser muito utilizada, pois envolve a capacidade de entendimento das ideias contidas no texto e o leitor participa avaliando e questionando os argumentos e as evidências.

Para efetuar a leitura crítica é necessário que sejam desenvolvidas habilidades de interação proficientes no indivíduo com os mais variados tipos de texto.

Para tanto, a realização de uma leitura dessas necessita ir além da exceder a simples decodificação de sílabas ou palavras isoladamente, ela deve passar por etapas que envolvem decodificação, compreensão, interpretação e retenção. Sim, é possível aprender a ler! Vamos compreender melhor como isso acontece!

A primeira etapa, a decodificação, implica em uma leitura superficial,

sendo necessário efetuá-la várias vezes em um mesmo texto. O leitor deve anotar as palavras desconhecidas para encontrar sinônimos, podendo prosseguir na próxima etapa de leitura: a compreensão do que foi lido.

A compreensão está relacionada ao sentido do texto lido. Nesta etapa,

o leitor necessita saber do que trata o texto e qual a tipologia utilizada. Ele faz considerações acerca das intenções do autor e tenta resumir em duas ou três frases a essência do texto. Durante a compreensão, o leitor poderá encontrar as respostas no próprio texto através das pistas contidas e das inferências que são desencadeadas no ato da leitura (KLEIMAN, 2000).

Na terceira etapa de leitura, o sujeito interpreta uma série de ideias ou fatos explícitos ou implícitos. Uma boa interpretação garante a atribuição de sentidos, os quais dependem do leitor.

Na quarta e última etapa, o indivíduo detém as informações levantadas

nas fases anteriores. Com a retenção, o leitor é capaz de fazer analogias e comparações, reconhecer o sentido de linguagens figuradas assim como as entrelinhas. Ele reflete sobre a importância do que foi lido e estabelece conexão com o cotidiano aprendendo a fazer análises críticas. A habilidade de retenção do texto pressupõe o processo das etapas de leitura sem alterar a ordem, pois o

TÓPICO 1 | DECODIFICANDO E INTERPRETANDO TEXTOS

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sujeito primeiramente decodifica, depois compreende, interpreta e, finalmente, retém as informações.

3.2 VOCABULÁRIO TÉCNICO: COMO INTERPRETAR?

Vivemos em meio a um turbilhão de informações. Mas o que podemos fazer quando lemos e ouvimos palavras que são desconhecidas e não conseguimos entender seu significado?

Muitas vezes, esse tipo de vocabulário técnico e complexo acaba dificultando nosso entendimento e nossa performance no trabalho. Certos vocabulários técnicos ou termos específicos podem nos possibilitar a busca de mais conhecimentos relacionados a determinado assunto.

É comum, quando não dominamos um assunto ou termo, ficarmos sem compreender o que está sendo discutido. Os vocabulários técnicos advindos de textos relacionados à área da saúde, direito, política, são leituras cheias de palavras rebuscadas que estão longe de nosso cotidiano.

A melhor maneira de compreender e apreender um vocabulário técnico, o qual não conhecemos, é buscar o conhecimento. Recorrer aos dicionários, às fontes de pesquisas ou até conversar com profissionais da área, pois saber o significado dos termos técnicos melhorará o desempenho das tarefas além de economizar tempo na execução delas.

Criar um glossário para consulta é um bom hábito para se familiarizar com vocábulos novos. Você perceberá que logo não será mais necessário fazer a consulta, pois já saberá o significado do termo.

É importante ter em mente, acadêmico, que os vocábulos técnicos existem para facilitar a comunicação e não o contrário. Por exemplo, dizer que o paciente, para evitar acidentes, necessita estar em decúbito frontal é muito mais específico que dizer que o paciente necessita deitar de bruços.

Dependendo com quem a comunicação ou a interlocução está sendo feita, o vocabulário técnico pode mais atravancar do que facilitar a comunicação. Para tanto, existem dicas universais que podem ser eficazes na interpretação dos vocabulários técnicos. Acompanhe:

• Atente para seu interlocutor: você precisa saber o nível de conhecimento das pessoas sobre o assunto em questão para poder ajustar o vocabulário ao nível de conhecimento que você está supondo.

IMPORTANTE

UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

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• Para o grande público: procure ser claro, sem ser simplista, quando se comunica em público.

• Utilização de termo técnico:  quando houver a necessidade da utilização de um termo técnico não deixe de expor, posteriormente, o significado desse termo de uma maneira mais simples.

• Pergunte o significado: questione seu significado de uma expressão que você nunca ouviu. Além de fundamental para uma boa execução de seu trabalho, essa é a maneira mais eficaz de aprender termos desconhecidos.

• Vocabulário específico: se você está ingressando em um novo campo de trabalho saiba que há no mercado muitos dicionários especializados em termos técnicos que o ajudarão em seu período de adaptação.

FONTE: Adaptado de <https://www.scrittaonline.com.br/habilidades/usando-o-vocabulario-tecnico-na-medida-certa>. Acesso em: 04 nov. 2018.

Tenha sempre em mente, acadêmico, que o vocabulário técnico existe para facilitar a comunicação e não para complicá-la.

3.3 A LEITURA DO PARÁGRAFO

Compreender o conceito de parágrafo é uma importante etapa quando se trata de leitura e compreensão textual. Guimarães (1990, p. 53) postula que o parágrafo no texto é um “esquema de raciocínio” desenvolvido por quem elabora o texto.

Dessa maneira, o parágrafo visa alcançar um objetivo. Em cada parágrafo de um texto são apresentadas as etapas do raciocínio que o autor quer expressar para o leitor.

Os parágrafos têm uma sequência lógica e não podem ser dispostos de qualquer maneira sob pena de tornar o texto incoerente. Cada parágrafo carrega uma determinada ideia, logo, sua extensão e sua complexidade estão atreladas ao pensamento que o autor desenvolve.

Em relação ao entendimento dos parágrafos, de maneira geral, é preciso saber exatamente a finalidade de cada parte do texto, pois esse processo indica a articulação e a importância das ideias. No mesmo parágrafo devem estar as ideias afins, então, a abertura de um novo parágrafo indica o término de uma etapa e o começo da outra.

Outra parte fundamental que compõe o parágrafo e necessária para o bom entendimento do texto é a manutenção da coerência. Veremos a respeito, detalhadamente, adiante.

Continue conosco!

TÓPICO 1 | DECODIFICANDO E INTERPRETANDO TEXTOS

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4 ESTRATÉGIAS DE LEITURA

Torna-se essencial utilizar as estratégias de leitura a seu favor na compreensão textual, as técnicas para realizar uma leitura competente dos mais variados gêneros e tipos textuais, bem como dominar os termos técnicos que envolvem a sua área de atuação.

Já discutimos que o ato de ler e compreender é complexo. A leitura envolve elementos de decodificação, conhecimento prévio, vivências e, se adicionarmos a utilização de estratégias, o entendimento tende a aumentar. Muitas delas fazem com que o leitor possa avaliar e melhorar a sua própria leitura, tornando-a um verdadeiro processo de construção de significado.

As estratégias de leitura servem, justamente, para desenvolver habilidades de leitura. Ler é fundamental para adquirir conhecimento e informação, enriquecendo o vocabulário e facilitando a interpretação independentemente de sua área de atuação.

A leitura não se baseia apenas na decodificação símbolos e, por isso, utilizar o dicionário a todo o momento quando não se sabe o significado de uma palavra torna-se cansativo e improdutivo. Ler significa extrair conhecimento de determinado texto. Para isso, quando se faz a leitura de um texto técnico não é necessário saber o significado de todas as palavras, mas sim, compreender a ideia que está sendo transmitida.

Partindo disso, vamos conhecer duas estratégias que, se utilizadas de maneira eficaz, fazem toda a diferença na compreensão textual: o skimming e o scanning.

4.1 SKIMMING E SCANNING

Iniciaremos com a estratégia de leitura skimming. Mas, afinal, o que é skimming?

Skimming significa justamente fazer uma leitura rápida de um texto com o objetivo de se ter uma ideia geral, identificando e extraindo dele os pontos principais. Se pensar bem, você já deve ter utilizado deste método de leitura em outras situações e talvez não tenha se dado conta disto. Por exemplo: quando você abre o jornal e confere a manchete da notícia e “passa os olhos” pela matéria, você está aplicando a estratégia de leitura skimming. Se o texto lhe interessar, você fará uma leitura com mais atenção. Ao aplicar esta estratégia você percorre o texto sem parar em nenhuma palavra que você não tenha entendido.

O uso eficiente da estratégia skimming permitirá você decidir se determinado texto é ou não relevante para os seus objetivos de leitura, otimizando seu tempo de estudo ou trabalho e direcionando de forma adequada as suas leituras.

UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

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Já o scanning é uma estratégia de leitura que lhe permitirá buscar e identificar informações específicas contidas em um texto, tais como: datas, nomes, números, sem que você necessite realizar a leitura linear.

Ao fazer o scanning, seus olhos o percorrerão seletivamente o conteúdo em busca de informações não verbais, de modo a localizar os pontos que de fato lhe interessam. É muito provável que você já tenha também feito leituras empregando a estratégia scanning.

Você lembra o que é linguagem verbal e não verbal? A linguagem verbal é expressa por meio de palavra escrita ou falada, ou seja, a linguagem verbalizada. Já a linguagem não verbal utiliza signos visuais, como por exemplo as imagens e as cores nas placas de sinalização de trânsito. A linguagem pode ser, ainda, verbal e não verbal ao mesmo tempo, utilizando palavras escritas e figuras.

ATENCAO

Ao retomar a leitura em busca por informações a respeito de um texto que leu, você estará aplicando a técnica de scanning.

Utilizamos essa técnica como um scanner, “varremos” o texto por inteiro. Mas, como varrer um texto? Na varredura de um texto devemos nos ater às palavras que são importantes para o sentido ou para a informação que queremos buscar. Ao varrer o texto necessitamos antes analisar o que estamos procurando. Todas as palavras, termos técnicos e frases importantes para a obtenção da resposta deverão ser entendidas. Caso desconhecidas, o uso do dicionário se faz obrigatório. Porém, lembre-se: não se deve traduzir todas as palavras de forma desconectada a não ser que o termo apareça no texto inúmeras vezes e você não conseguiu entendê-lo pela contextualização apresentada.

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RESUMO DO TÓPICO 1Neste tópico, você aprendeu que:

• Ao ler desencadeamos mecanismos de organização mental e de estrutura inerentes ao texto, o que nos faz compreender e interpretar de maneira correta.

• O movimento do interdiscurso e da alteridade acontece pela interação no processo comunicativo que se dá pela ação recíproca entre os interlocutores, que se constituem no leitor e no texto. O leitor é um participante ativo na prática da leitura, ou seja, um ser eficaz que constrói o seu próprio conhecimento pela sua experiência cognitiva, cultural e linguística.

• A motivação pela leitura extrínseca e intrínseca permite melhor compreensão das razões implícitas ao desenvolvimento de práticas de leitura, podendo estarem relacionadas com o prazer e interesse resultante dessa prática ou com o ganhar alguma gratificação externa.

• Há três tipos de leitores: o contemplativo ou meditativo, o movente ou fragmentário e, por fim, o leitor imersivo ou virtual.

• A leitura é entendida como atribuição de sentidos, pois as palavras ultrapassam seus limites de significação e invadem novos espaços e possibilidades. O escritor escolhe as palavras para que produzam um efeito para além da uma significação objetiva, procurando aproximá-las ao imaginário. O autor dos textos explora as possibilidades linguísticas e as manipula no nível semântico, fonético e sintático.

• Para efetuar a leitura crítica, é necessário que sejam desenvolvidas habilidades de interação proficientes no indivíduo, com os mais variados tipos de texto.

• O parágrafo no texto é um “esquema de raciocínio” desenvolvido por quem elabora o texto.

• Skimming significa fazer uma leitura rápida de um texto com o objetivo de se ter uma ideia geral, identificando e extraindo dele os pontos principais.

• Scanning é uma leitura que lhe permitirá buscar e identificar informações específicas contidas em um texto, tais como: datas, nomes, números, sem que você necessite valer-se da leitura linear.

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AUTOATIVIDADE

1 Vamos interpretar a história em quadrinhos O vendedor:

FONTE: <http://www.educarx.com/2013/09/interpretacao-de-historia-em-quadrinhos.html>. Acesso em: 21 jun. 2016.

1.1 Nos dois primeiros quadros da tirinha, podemos perceber que o menino:

a) ( ) Aceita logo a oferta do homem.b) ( ) Discute o preço das balas com o homem.c) ( ) Negocia o preço da sua mercadoria.d) ( ) Oferece a sua mercadoria aos gritos.

1.2 A tirinha utiliza um recurso para apresentar a fala dos personagens. Este recurso é:

a) ( ) O gesto.b) ( ) A cor.c) ( ) O tipo de letra.d) ( ) O balão.

1.3 Ao analisarmos com mais atenção a fala do menino no último quadro da tirinha, sugere:

a) ( ) Aborrecimento.b) ( ) Bondade.c) ( ) Preconceito.d) ( ) Inveja.

1.4 No segundo quadro da tirinha, a fala do menino é marcada com um duplo ponto de exclamação. Isso reforça:

a) ( ) A irritação com o trabalho.b) ( ) O desinteresse pela venda.

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c) ( ) O apelo para vender.d) ( ) A pressa em vender.

1.5 Na fala em que o menino diz: “Não trabalho com pedestre”, o termo destacado refere-se a pessoas que:

a) ( ) Andam de ônibus.b) ( ) Caminham a pé.c) ( ) Passeiam de bicicleta.d) ( ) Viajam de carro.

2 Leia a tirinha da Mafalda, criação do cartunista argentino Quino, muito conhecida por suas opiniões ácidas e críticas sobre os mais variados assuntos, e assinale a alternativa que melhor expresse o efeito de humor:

FONTE: <http://exercicios.mundoeducacao.bol.uol.com.br/exercicios-redacao/exercicios-sobre-interpretacao-charges-tirinhas.htm>. Acesso em: 19 jun. 2016.

a) ( ) O discurso de Susanita é responsável pelo efeito de humor, já que o tema feminismo é tratado de maneira engraçada e, porque não dizer de forma irônica, denotando certo machismo por parte do autor da tirinha.

b) ( ) A amiga Mafalda em todos os quadrinhos opõe-se ao discurso da amiga Susanita e, por meio de suas feições, percebe-se que ela não está nada contente.

c) ( ) A linguagem verbal não auxiliou muito para o entendimento da tirinha, pois todo efeito de humor está expresso na linguagem não verbal por meio da expressão exibida por Mafalda, especialmente, no último quadrinho.

d) ( ) Susanita expressa um discurso de acordo com as teorias feministas que preconizam pela libertação das práticas tradicionalmente atribuídas à mulher. Contudo, no último quadrinho, ela defende o uso de uma tecnologia que reforça os padrões tradicionais os quais vivemos.

1) Assinale a alternativa que melhor expresse o efeito de humor contido na tirinha:

a) O discurso feminista de Susanita é responsável pelo efeito de humor, já que o tema é tratado de forma irônica, denotando certo machismo por parte do autor da tirinha.

b) Mafalda opõe-se ao discurso da amiga Susanita e, através de suas feições em todos os quadrinhos, percebe-se nitidamente seu descontentamento.

c) A linguagem verbal não contribui para o melhor entendimento da tirinha, pois todo efeito de humor está contido na linguagem não verbal através da expressão exibida por Mafalda no último quadrinho.

d) Susanita apresenta um discurso de acordo com as teorias feministas que pregam a libertação das práticas tradicionalmente atribuídas à mulher. Contudo, no último quadrinho, a personagem defende o uso de uma tecnologia que apenas reforça os padrões tradicionais.

Pela análise das alternativas, conclui-se que está correta apenas a:

A ( ) B ( ) C ( ) D ( )

2) Ainda em relação a atividade 5.

a) A que classe pertence a palavra uma, empregada no primeiro quadrinho? Explique.

b) Susanita começa com um discurso a respeito das mulheres que agrada muito Mafalda, porém no último quadrinho seu semblante muda em relação ao outros. Que elementos não verbais justificam essa afirmação? Por que ela comportou-se dessa maneira?

ATIVIDADE 6

94

95

TÓPICO 2

A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR

ESCRITO

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Olá, acadêmico! Iniciaremos, a partir de agora, um estudo especificamente acerca de questões relacionadas à argumentação, ao raciocínio e sua aplicabilidade na produção textual.

Porém, lembre-se: aqui você não encontrará respostas ou receitas de como escrever bem e com certa qualidade, apenas aprenderá a refletir sobre perguntas, buscando você mesmo a resolução para elas, pois a interpretação e a produção de textos, neste caso, é individual.

Quando nos propomos a produzir um texto escrito, temos a consciência de que ele será lido por alguém, em um determinado lugar e em determinado momento. O texto, para que possa ser compreendido, necessita de coerência e coesão, importantes temáticas que abordaremos neste tópico.

Mesmo que o autor do texto não saiba exatamente o que estas palavras significam, intuitivamente ele as utiliza, aplicando-as ao escrever textos que serão compreendidos ao serem lidos.

A pesquisa, acadêmico, é de fundamental importância para que você possa aprofundar seus conhecimentos acerca dos temas aqui abordados.

Então, vá sempre além! Busque pesquisar em diversas fontes e seja curioso!

2 LEITURA, ANÁLISE E PRODUÇÃO TEXTUAL: CONSIDERAÇÕES

Ao produzirmos um texto, devemos ter em mente um objetivo bem determinado. De acordo com o que se pretende, o texto ganha sua forma, enquadrando-se, assim, em um determinado gênero textual. Muitas são as dúvidas que surgem quando nos referimos ao termo gênero textual, especialmente quando se trata dos diferentes tipos de gênero.

UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

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É necessário salientar que gênero textual é diferente de tipo textual. Os tipos textuais são a narração, a descrição, a dissertação, a injunção e a exposição. E, dentro os tipos textuais encaixam-se os gêneros textuais: como a receita, o bilhete, uma peça processual, entre outros.

ATENCAO

Você já se deu conta, acadêmico, que em todas as situações que utilizamos a comunicação, encontraremos textos classificados dentro de um determinado gênero textual?

Podemos citar muitos exemplos de gêneros, como já mencionamos anteriormente: a piada, a carta, a receita, o manual de instruções, o artigo científico, o bilhete, o poema, o anúncio publicitário, o ofício, a anedota, uma peça processual, um relatório acerca de uma investigação, fábula e inúmeros outros. Com o advento da tecnologia, muitos gêneros surgiram e, certamente, ainda surgirão, como o e-mail, por exemplo.

Cada gênero textual, acadêmico, apresenta em sua estrutura características dos tipos textuais. Fique atento!

DICAS

Marcuschi (2010) postula que o gênero textual compõe textos que são empiricamente realizados para cumprir determinadas funções em situações comunicativas específicas, ou seja, o número de gêneros é praticamente ilimitado, organizados por sua função, estilo, composição e canal de comunicação que ele é veiculado.

Como nos ensina Marcuschi (2010, p. 83), “os gêneros textuais funcionam como paradigmas porque nos oferecem modelos de comunicação para que esta seja eficaz, não só verbalmente como também através da produção escrita”. Já o tipo textual possui características mais restritas.

Quando decidimos produzir um texto, necessitamos escolher de que forma vamos transmitir a mensagem, por exemplo, se decidirmos comunicar algo a alguém que mora em outro país, podemos enviar um e-mail ou uma carta. Suponhamos que decidimos escrever uma carta. Para que seja classificada como

TÓPICO 2 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO

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uma carta, ela terá uma estrutura, que no caso é o tipo textual, que se apresentará em forma de gênero, que no caso seria a carta em si.

Marcuschi (2010) nos diz que, mesmo que essa carta não fosse assinada ou datada, ela não deixará de ser uma carta, pois cumpre sua função dentro da comunicação, segue um padrão, um modelo com características bem definidas.

Com base no exposto, podemos afirmar que o gênero é a aplicação do tipo textual, ou seja, o gênero textual pode ser desenvolvido de muitos modos dentro dos objetivos que o autor pretende alcançar por meio da comunicação.

2.1 PARA ESCREVER É PRECISO ANTES APRENDER A LER

Uma das maneiras mais eficazes para se tornar um bom escritor é ser um bom leitor, ou seja, um leitor assíduo.

Podemos dizer que em nosso país a leitura é uma prática apreciada por poucos. De acordo com Alencastro (2012), pesquisas indicam que apenas 4,7 livros por ano são lidos pelos brasileiros, sendo que 3,4 desses são obrigatórios. Assim, concluímos, em amplas linhas, que a leitura é tida por algumas pessoas como algo secundário.

Embora não se saiba exatamente o motivo, inferimos que, atualmente, com o advento da tecnologia, há maneiras e métodos muito mais rápidos de adquirir informação do que pela leitura realizada em livros e em longos textos. Assistir a um programa de televisão, por exemplo, parece muito mais atraente do que ler algo em livros.

Não podemos deixar de mencionar que a leitura é um método eficiente

para adquirirmos um bom e diversificado vocabulário, pois estamos em contato direto com a norma formal da língua e com um linguajar que nem sempre é comum.

Ler textos nos auxilia muito na hora de escrever, contribuindo para que nossa produção também seja coerente ao objetivo que ela se propõe. Logo, é necessário que a leitura aconteça desde cedo para que a escrita ocorra de forma natural, pois ela, a leitura, caracteriza-se por certa individualidade, já que o leitor se envolve mais com alguns tipos específicos de texto.

Então, acadêmico, escrever bem não é tão fácil quanto parece. Seguir as regras que dizem que devemos ser claros ou escrever frases coesas e coerentes não nos levam a ser um bom escritor de fato.

Apropriar-se da escrita vai muito além do ato de escrever. Ela é uma construção que envolve técnicas de leitura de livros, de textos diversificados e, ainda, leituras realizadas por meio de instrumentos diferentes.

UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

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Podemos afirmar que só se aprende a escrever, escrevendo. Assim, se estivermos cientes acerca da finalidade da nossa escrita e a quem o nosso texto se destinará, ele, o texto, será estruturado de maneira muito mais coerente.

Partimos da ideia de que quando um texto é lido e interpretado com plenitude, acontece o envolvimento de quem o lê e isso se dá a partir do conhecimento linguístico que o leitor possui. O processo da comunicação e, consequentemente, da leitura não é só constituído a partir do contato do leitor com o texto, mas com a intenção, a linguagem e a natureza que o texto utiliza. De tal modo, não é possível compreendermos um texto se não soubermos um pouco acerca do que ele aborda.

Existem alguns fatores que interferem no entendimento da mensagem que o texto quer transmitir, pois um texto que parece simples para determinados leitores pode ser de extrema complexidade para outros. Tudo dependerá da época na qual foi escrito, para qual público, com qual intenção, a partir de que cultura, com que finalidade etc.

Podemos perceber e compreender, acadêmico, que há vários fatores que formam um texto e que sua compreensão pode variar de leitor para leitor. Deve o leitor, no ato da leitura, trazer à tona as informações que já tem sobre o assunto e aplicá-las ao que está sendo lido. Então, diversificar as leituras é um caminho para compreender e escrever melhor.

Salientamos, acadêmico, que muitas das ideias e opiniões que nos constituem são frutos do conhecimento advindo da leitura de livros, revistas, jornais, blogs e outros meios de comunicação. Quando lemos pouco a nossa visão crítica fica restrita, tornando-se complicado organizar nosso pensamento e transferi-lo com clareza para o papel.

Além de nos levar a um estágio prazeroso, a leitura nos faz assimilar a grafia correta das palavras, conhecer termos específicos na área de nossa atuação, compreender e, também, internalizar regras gramaticais para que nosso discernimento se amplie, efetivando-se em uma boa escrita.

2.2 OS OBJETIVOS DA ESCRITA

Apropriar-se da linguagem escrita é um processo complexo, pois compreendemos que somente o processo de alfabetização não é o suficiente para formar leitores e escritores eficientes e críticos.

Devemos partir do fato de que a escrita se torna dependente da fala, ou seja, a escrita passa a ser vista como uma transcrição da fala, e não um processo separado dela.

TÓPICO 2 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO

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Assim, a escrita envolve muito mais do que codificar e combinar símbolos. É necessário organizar os pensamentos e compreender o seu real objetivo.

Partindo disso, acadêmico, compreendemos que a linguagem escrita é um processo que vai além do mecanismo de produzir palavras e frases. Para Vygotsky (1988, p. 143), aprender a escrever começa “[...] muito antes da primeira vez que o professor coloca um lápis na mão da criança e mostra como formar letras”.

Apropriar-se da escrita não significa apenas saber escrever, juntar símbolos e formar sentenças. A apropriação da escrita, de maneira plena, envolve treino, uso de estratégias ou métodos e uma exaustiva prática de leitura, pois só aprendemos a escrever bem quando nos tornamos leitores assíduos.

Outro método que auxilia a boa produção de textos é a prática de reescrevê-los, ou seja, o que é escrito precisa ser revisto e revisitado sempre. Mais uma vez ressaltamos a importância da leitura. Se você pretende escrever um texto sobre determinada matéria, leia, pesquise em diversas fontes, junte dados, organize ideias para que o processo de escrita seja feito com propriedade.

Acadêmico, assista ao material desenvolvido em formato de Prezi, intitulado: O objetivo da escrita é comunicar e o objetivo da leitura é entender. Acesse o link: https://prezi.com/wyijl4n3oozf/o-objetivo-da-escrita-e-comunicar-e-o-objetivo-da-leitura-e/.

DICAS

FONTE: <https://prezi.com/wyijl4n3oozf/o-objetivo-da-escrita-e-.comunicar-e-o-objetivo-da-leitura-e/>. Acesso em: 10 nov. 2018.

UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

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3 COESÃO E COERÊNCIA

Acadêmico, o assunto coesão e coerência não deve ser novidade para você. Dessa maneira, vamos compreender ou, melhor, revisitar esses dois importantes termos? Observe a figura que segue:

FIGURA 1 – COESÃO E COERÊNCIA

FONTE: Adaptado de <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAglQkAH/tecido-que-tecido>. Acesso em: 08 nov. 2018.

O que vemos é a figura de um tecido. A partir dele podemos fazer uma analogia com a estrutura de um texto, pois temos as linhas que descem e/ou sobem, isto é, a coerência e as linhas que entrelaçam o tecido, que podem representar a coesão.

Podemos compreender, com essa analogia, que a coerência traz a lógica ao texto, ou seja, ela faz com que as ideias do texto se complementem umas às outras, não se contrariem ao mesmo tempo que formam um todo significativo que, em outras palavras, é o texto. Ao focarmos na coesão, percebemos que a figura nos transmite ideia de sequência, de conexão, ou seja, de ligação entre as palavras e sentenças.

Mas, sem cara feia! Daqui em diante vamos estudar e detalhar cada uma delas.

3.1 CONCEITO DE COESÃO

A coesão faz parte dos fatores de textualidade que fazem o texto ser um texto, ou seja, um conjunto de palavras organizadas e com sentido.

TÓPICO 2 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO

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São fatores de textualidade: coesão, coerência, intencionalidade, informatividade, aceitabilidade, situacionalidade e intertextualidade. Leia o artigo: A textualidade e seus fatores, acessando: http://www.gelne.com.br/arquivos/anais/gelne-2014/anexos/778.pdf.

DICAS

Você se lembra da figura apresentada anteriormente (Figura 1), quando antecipamos uma pequena conversa sobre a coesão e a coerência? Elas formam o “texto”, que já o mencionamos muito nos tópicos anteriores. Ele, o texto, tem sua origem do latim textum e que significa “tecido”, daí vem a inspiração da analogia com a figura.

Observe a figura novamente e vamos relembrar a analogia que traçamos. Conforme mencionamos, a junção de pequenos fios que, costurados até um determinado limite de extensão, resultam em um tecido; já acerca de um texto, temos informações que precisam, também, estar conectadas ou “costuradas” para que construam um determinado sentido (KOCH, 2004).

Dessa maneira, podemos dizer que para um texto ser coeso é necessário que suas ideias sejam integradas e conexas. Para que essa concatenação aconteça ou para que essas ideias se interliguem, é fundamental utilizarmos diversos mecanismos linguísticos em um texto como as conjunções, os sinônimos, os pronomes, os numerais entre outros.

Observe a figura a seguir:

FIGURA 2 – COESÃO

FONTE: <https://pt-static.z-dn.net/files/de1/ea1e869f841211d128660857195f4793.jpg>. Acesso em: 17 nov. 2018.

UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

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Você conseguiu compreender, acadêmico, que na sentença: “Senhor, o índice de violência cresceu tanto, que já não há mais espaço no gráfico para apontá-lo”, há dois mecanismos coesivos? O conectivo “que”, que estabelece uma consequência entre as frases e a forma verbal do pronome oblíquo “apontá-lo”, que substitui o “índice de violência”.

Mas, não se preocupe! Fazemos isso sem pensar tanto em verbetes gramaticais. A leitura diversificada e diária, por exemplo, oferece-nos essas noções caso não tenhamos domínio sobre esses termos.

Vamos analisar a oração que segue. Ela se utiliza de períodos compostos, que além de qualificar o texto, deixam-no coeso.

A sociedade que aguarda uma atitude do governo brasileiro que nada faz para amenizar o desemprego e a criminalidade no país.

Na oração temos algumas ideias subordinadas ou dependentes umas das outras. Acompanhe:

1) A sociedade.2) Que aguarda uma atitude do governo brasileiro.3) Que nada faz.4) Para amenizar o desemprego e a criminalidade no país.

Veja que a segunda frase está subordinada à primeira frase, que é a primeira oração e, que ela está apresentada de maneira truncada. A terceira frase também segue essa relação de dependência e, a quarta, tem o sentido de finalidade em relação à terceira frase.

A grande dificuldade de entendermos essa oração plenamente está na primeira parte, apresentada de maneira  incompleta, ou seja, houve uma continuação de inserções e a ideia inicial não foi desenvolvida.

Se reescrevêssemos a oração, poderíamos ter:

A sociedade aguarda uma atitude do governo brasileiro que nada faz para amenizar o desemprego e a criminalidade no país.

Essa reconstrução ofereceu uma vinculação, um elo, uma conexão entre as orações, ou seja, ela é uma sentença coesa agora. Acompanhe:

1) A sociedade aguarda uma atitude do governo brasileiro.2) Que nada faz.3) Para amenizar o desemprego e a criminalidade no país.

A segunda oração, que iniciou com o pronome relativo “que”, está subordinada à primeira parte, que é a oração principal, adjetivando-a. Já a terceira parte acrescenta a finalidade à segunda oração. A segunda e a terceira oração pressupõem a presença de uma oração principal.

IMPORTANTE

TÓPICO 2 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO

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Assim, concluímos que, para um bom entendimento e progressão textual, é necessário que as ideias estejam bem entrelaçadas e conectadas, ou seja, que a oração esteja coesa.

FONTE: <https://descomplica.com.br/blog/redacao/questoes-comentadas-coesao-textual-2/>. Acesso em: 12 nov. 2018.

E agora, você consegue conceituar a coesão?

A coesão, segundo Koch (2004, p. 16), “[...] ocorre quando a interpretação de algum elemento no discurso é dependente da de outro. Um pressupõe o outro, no sentido de que não pode ser efetivamente decodificado a não ser por recurso ao outro”.

De maneira bem simples podemos dizer que a coesão é a ligação entre uma sentença e outra anterior, objetivando constituir textos. A coesão fornece as pistas para guiar o leitor na constituição do sentido, ela explicita as relações estabelecidas entre os elementos linguísticos que formam o texto.

Vamos conhecer mais exemplos!

3.2 A COESÃO NA PRÁTICA

Aqui, acadêmico, como o título sugere, vamos desenvolver e compreender a coesão na prática, através de exemplos e pequenas situações.

Iniciamos com o emprego correto dos pronomes, uma temática importante quando se lida com a coesão, pois eles evitam repetições, permitem a conexão de ideias e podem substituir os termos a que remetem.

Os pronomes pertencem à coesão referencial que é constituída por meio de expressões que retomam ou antecipam ideias referidas no texto, relacionada com as normas de repetição e de progressão.

Observe o uso do pronome na figura seguinte:

FIGURA 3 – PRONOME

FONTE: VERÍSSIMO, L. F. As cobras em: se deus existe que eu seja atingido por um raio. Porto Alegre: L&PM, 1997.

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Você percebeu o humor acerca da reação de uma das cobras ao uso de pronome pessoal reto ao invés do pronome oblíquo? De acordo com as regras da Língua Portuguesa, o uso é inadequado, pois contraria a marcação das funções sintáticas de sujeito e de objeto.

Parece difícil, acadêmico? Vamos em partes:

Na sentença “Vamos arrasar eles”, o pronome pessoal do caso reto “eles”, foi empregado como objeto direto da locução verbal: vamos arrasar, contrariando as regras da norma culta. Esse caso do pronome (eu, tu, ele/ela, nós, vós, eles/elas) serve para marcar a função sintática de sujeito, ou seja, na norma culta, a fala da cobra do segundo quadro deveria ser: Vamos arrasá-los.

Outro item que necessita de cuidado na aplicação textual são os conectivos. A coesão sequencial tem relação com o desenvolvimento textual através de manutenção e progressão temática. Na prática, a coesão sequencial é aquela que se constitui por intermédio de conectivos e objetiva ligar as frases e propor sentido entre elas.

FIGURA 4 – CONECTIVOS

FONTE: <https://goo.gl/M64Yxb>. Acesso em: 12 nov. 2018.

TÓPICO 2 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO

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Acadêmico, perceba que a tirinha da figura anterior é uma sequência textual, pois as frases apresentadas e transcritas são formadas com o uso de conectivos que constituem relações de sentido diferentes. Assim, nunca deixe de levar o contexto em consideração.

Acompanhe:

• Vou ao mercado e já volto. (conectivo de adição).

• Não abra a porta para ninguém mesmo que a pessoa insista. (conectivo de concessão).

• E se for a felicidade? (conectivo de condição).

AUTOATIVIDADE

1 Como indagamos no início deste tópico, iríamos abordar a coesão na prática. Que tal ler sentenças e reescrevê-las apontando o erro de coesão?

a) “Conheci Júlia, onde me amarrei.”

b) “Ela sempre foi boa, porém honesta.”

c) “Os estudantes não entenderam todos os conteúdos. Conteúdos estes que foram aprofundados.”

d) “Todos querem trabalhar na Uniasselvi, mesmo sabendo que a Uniasselvi faz testes rigorosos.”

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3.3. CONCEITO DE COERÊNCIA

Observe a figura a seguir:

FIGURA 5 – MARIO

FONTE: <https://goo.gl/MLmRM1>. Acesso em: 8 nov. 2018.

Esse é o Mario, você se lembra dele, acadêmico? É um personagem fictício de uma famosa franquia e série de jogos eletrônicos que, neste momento, necessita escolher a roupa adequada para um determinado compromisso. Logo, ele deverá ajustar seu traje à situação.

Mas, onde chegaremos com isso?

Bem, isso é o que acontece também com a língua, com os textos que escrevemos. Eles devem adequar-se com a situação comunicativa, nós devemos escolher o que utilizar. Lembrando que língua é um instrumento de comunicação composto por regras gramaticais que possibilitam que determinado grupo de falantes consiga produzir enunciados permitindo, assim, comunicar-se fazendo-se compreender, sendo o texto a transcrição de tudo isso.

TÓPICO 2 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO

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Partindo disso, podemos nos remeter ao conceito de texto que envolve alguns elementos, como: um sujeito autor, que elabora o texto conforme sua intenção, ou seja, ele manifesta suas escolhas, adequadas a sua intenção e, um sujeito leitor, a quem compete a tarefa de compreender o texto.

Para que um texto seja um texto e não uma porção de palavras soltas e sem sentido, necessitamos de alguns fatores como a coesão, já estudada, e a coerência, entre os outros de textualidade.

Dessa maneira, a coerência engloba a reunião de ideias e informações compatíveis, isto é, lógica e sentido do texto. Segundo Koch (2006), a coerência envolve tudo que influencia, auxilia, possibilita, bloqueia ou impede a interpretação do texto.

Considerar um texto coerente, acadêmico, significa compreender, a par-

tir dos conhecimentos e das habilidades de interpretação, que possuímos, as relações entre as ideias e considerá-las compatíveis com nossos conhecimentos (KOCH, 2006).

Compreendemos, caro acadêmico, que a coerência, portanto, depende

expressivamente dos conhecimentos do leitor. Apesar de todo o cuidado que o produtor do texto possa dedicar-lhe, o leitor pode não ter os conhecimentos necessários para considerar o texto como coerente (KOCH, 2006).

Venha conosco praticar o uso da coerência!

3.4 A COERÊNCIA NA PRÁTICA

Partimos do pressuposto de que a coerência foi assimilada e constituire-mos esta parte do Livro de Estudos analisando frases, ou melhor, as incoerências.

Avalie a frase a seguir:

Foram observadas "primeiras propagações" do vírus na população de países situados fora do continente americano, assinalou o diretor-geral adjunto da OMS, citando o Reino Unido, o Japão e a Austrália, além do Chile, na América do Sul. 

ATENCAO

UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

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Você consegue, acadêmico, nos dizer onde está a INCOERÊNCIA do texto apresentado anteriormente? Parece difícil? Então, vamos visualizar o mapa a seguir e reler o texto e ler o texto novamente:

FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/q1koa1>. Acesso em: 8 nov. 2018.

A incoerência, acadêmico, está na informação que diz que “A América do Sul está situada fora do continente americano”, não é mesmo?

Assim, a coerência engloba a reunião de ideias e informações combinadas, logo, coerência é lógica, traz sentido ao texto. Você pode estar pensando, acadêmico, que a falta de coerência em um texto é facilmente detectada. Mas, não é tão simples notá-la quando você é quem está escrevendo o texto.

Vamos adentrar um pouco mais no conceito da coerência e, também, compreender a incoerência em algumas situações:

3.4.1 Coerência semântica

A coerência semântica faz referência à relação entre os significados dos elementos das frases em sequência. Ela é estabelecida entre os significados dos elementos do texto através de uma afinidade logicamente possível.

TÓPICO 2 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO

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Observe uma incoerência semântica, ou seja, uma incoerência de significado, na frase: O carro que desejo comprar é bastante jovem.

Essa frase torna-se incoerente quando observamos o significado da palavra jovem. Apesar do termo ter o sentido de algo novo, jovem deve ser utilizado quando nos referimos a seres humanos e não seres inanimados, como é o caso do carro.

Nesta frase, a palavra “novo”, teria uma aplicabilidade mais apropriada e coerente.

3.4.2 Coerência sintática

A coerência sintática se refere aos meios sintáticos utilizados para expressar a coerência semântica, ou seja, o uso dos conectivos, pronomes etc. Ela versa acerca da adequação entre os elementos que compõem a sentença, o que inclui a atenção às regras de concordância e de regência. O exemplo que segue apresentará uma incoerência sintática. Acompanhe: Os pais que têm condições procuram o ensino privado, onde há métodos, equipamentos e até professores melhores.

A coerência poderia ser retornada se fosse feita uma mudança na troca do pronome relativo “onde”, específico de lugar, para “no qual” ou “em que”. Apesar de compreendermos a mensagem, a frase está estruturada de maneira incoerente.

3.4.3 Coerência estilística

A coerência estilística refere-se à utilização de linguagem apropriada às possíveis variações que o contexto pode apresentar, ou seja, é aconselhável que quem escreve ou lê, mantenha um estilo relativamente uniforme, seja ele formal ou informal, por exemplo. O exemplo que segue apresentará uma incoerência estilística. Observe: O brioso advogado notou que sua petição não progrediria, haja vista seu cliente ter enfiado o pé na jaca.

O contexto formal utilizado no início da sentença misturado com uma linguagem popular, demostra uma incoerência estilística que, além de parecer uma brincadeira, modifica todo o sentido que o autor desejava transmitir.

3.4.4 Coerência pragmática

A coerência pragmática tem relação com o conhecimento que temos da realidade sociocultural, isto é, ela prega por um comportamento adequado às conversas.

UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

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Observe um exemplo de incoerência pragmática:

Conversa entre amigos: ― Mariana, sabes me dizer se há algum taxi por aqui? ― Eu entendo, Pedro. Mas, hoje faz um mês que minha cachorra morreu.

A incoerência está na parte em que Mariana não responde à pergunta feita por Pedro, pois uma sequência na conversa não aconteceu.

Finalizamos este tópico com o poema de Luzia Fialho, Leandro Rangel e Paola Teodoro, intitulado: Trânsito. Observe a escrita e a combinação das palavras.

Trânsito Porta, banco, cinto chave, afogador. Ufa! Acelera, engata, foi! 2ª, 3º, 4ª, sinaleira, freio. Laranja, jornal, esmola, acelera, engata, foi! Salvador França, Ipiranga. Acelera, engata, foi! Ôpa! ficou Congestionamento Liga rádio - Voz do Brasil... Desliga. Calor, cigarro, estacionamento lotado! FilaEspera.Vaga.8 horas...Atrasado.

FONTE: <https://goo.gl/d1G3Rs>. Acesso em: 4 nov. 2018.

TÓPICO 2 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO

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O poema, acadêmico, mesmo sem os elementos de coesão que fazem as ligações entre as frases, é um texto coerente. Mas, isso acontece somente em alguns tipos de texto.

A Coerência engloba a reunião de ideias compatíveis, ou seja, apresenta lógica e sentido ao texto. A Coesão faz referência e relação no interior do texto, onde os elementos linguísticos a constroem.

ATENCAO

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RESUMO DO TÓPICO 2Neste tópico, você aprendeu que:

• O gênero textual é diferente de tipo textual.

• Os tipos textuais são a narração, a descrição, a dissertação, a injunção e a exposição.

• O gênero textual compõe textos que são empiricamente realizados para cumprir determinadas funções em situações comunicativas específicas, como: carta, receita, bilhete, entre outros.

• A leitura é um método eficiente para adquirirmos um bom e diversificado vocabulário, pelo contato direto com a norma formal da língua e com um linguajar que nem sempre é comum.

• Apropriar-se da escrita não significa apenas saber escrever, mas também juntar símbolos e formar sentenças.

• A apropriação da escrita de maneira plena envolve treino, uso de estratégias ou métodos e uma exaustiva prática leitora, pois só aprendemos a escrever bem quando nos tornamos leitores assíduos.

• A coesão é a ligação entre uma sentença e outra anterior, objetivando constituir textos.

• A coesão fornece as pistas para guiar o leitor na constituição do sentido, ela explicita as relações estabelecidas entre os elementos linguísticos que formam o texto.

• A coerência engloba a reunião de ideias e informações compatíveis. Lógica e sentido do texto.

• A coerência envolve tudo que influencia, auxilia, possibilita, dificulta ou impede a interpretação do texto.

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AUTOATIVIDADE

Leia os fragmentos que seguem e identifique as INCOERÊNCIAS neles existentes: Encontrando um milhão de dólares na rua, eu procuraria o cara que perdeu e, se ele fosse pobre, devolveria” (Yogi Berra).

“Cuidado! Tocar nesses fios provoca morte instantânea. Quem for flagrado fazendo isso será processado” (Tabuleta numa estação ferroviária).

“Devo confessar que morria de inveja de minha coleguinha por causa daquela boneca que o pai lhe trouxera da Suécia: ria, chorava, balbuciava palavras, tomava mamadeira e fazia xixi. Ela me alucinava. Sonhei com ela noites a fio. Queria dormir com ela uma noite que fosse. Um dia, minha vizinha esqueceu-a em minha casa. Fui dormir e, no dia seguinte, quando acordei, lá estava a boneca no mesmo lugar em que minha amiguinha havia deixado. Imaginando que ela estivesse preocupada, telefonei-lhe e ela mais do que depressa veio buscá-la.”

d) “Conheci Sheng no primeiro colegial e aí começou um namoro apaixonado que dura até hoje e talvez para sempre. Mas não gosto da sua família: repressora, preconceituosa, preocupada em manter as milenares tradições chinesas. O pior é que sou brasileira, detesto comida chinesa e não sei comer com pauzinhos. Em casa, só falam chinês e de chinês eu só sei o nome do Sheng. No dia do seu aniversário, já fazia dois anos de namoro, ele ganhou coragem e me convidou para jantar em sua casa. Eu não podia recusar e fui. Fiquei conhecendo os velhos, conversei com eles, ouvi muitas histórias da família e da China, comi tantas coisas diferentes que nem sei. Depois fomos ao cinema eu e o Sheng.”

e) Era meia-noite. Oswaldo preparou o despertador para acordar às seis da manhã e encarar mais um dia de trabalho. Ouvindo o rádio, deu conta de que fizera sozinho a quina na loteria. Fora de si, acordou toda a família e bebeu durante a noite inteira. Às quinze para às seis, sem forças sequer para erguer-se da cadeira, o filho mais velho teve de carregá-lo para a cama. Não tinha mais força nem para erguer o braço. Quando o despertador tocou, Oswaldo, esquecido da loteria, pôs-se imediatamente de pé e ia preparar-se para ir trabalhar. Mas o filho, rindo, disse: “Pai, você não precisa trabalhar nunca mais na vida.”

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TÓPICO 3

A PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Este tópico, acadêmico, abordará a produção de textos orais, ou seja, a argumentação e a opinião. Estudaremos uma estrutura um tanto delicada a ser construída, pois o convencimento e a fala espontânea devem persuadir o outro de uma determinada ideia, influenciando-o.

Nesta perspectiva, transformar ou até modificar a ideia do outro é um tanto complexo, já que o assunto sobre o qual se constrói o texto argumentativo geralmente é controverso, pode gerar polêmica em determinados círculos sociais.

Os textos orais determinam uma seleção de argumentos convincentes, elaborados a partir de dados consistentes que o orador domina e acredita.

Esta é uma temática importantíssima a ser desenvolvida visto que, em diversas áreas de atuação profissional, saber expor pontos de vista com coerência, torna-se imprescindível em tomadas de decisões, assim como para sermos capazes, enquanto cidadãos, de exigir e lutar por nossos direitos.

Vamos começar!

2 A ARGUMENTAÇÃO COMO RECURSO PERSUASIVO

A argumentação, acadêmico, certamente é uma das habilidades mais difíceis de se de se desenvolver ou aprimorar. Ela é um instrumento importante para a aquisição e produção de conhecimento.

Segundo Costa (2008, p. 3), a argumentação é uma atividade “social, intelectual, verbal e não verbal, utilizada para justificar ou refutar uma opinião; engloba um conjunto específico de declarações dirigidas para obter a aprovação de um ponto de vista particular por um ou mais interlocutores”.

Compreendemos que a pesquisa e produção científicas são processos de construção que sugerem a constituição de teorias abertas à argumentação e, se não forem coerentes, podem ser refutadas pelos pesquisadores.

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UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

Assim, a ciência não acontece pelo acúmulo de fatos e ideias fixas e determinadas, mas sim, pela discussão, argumentação e pelo confronto de hipóteses (COSTA, 2008).

Construímos o conhecimento lendo, inferindo, pesquisando e argumentando, pois não aprendemos sozinhos. Sempre estamos em troca com nossos pares, sejam eles professores, colegas, tutores, familiares ou mesmo o autor da obra que estamos lendo.

A argumentação e as opiniões só se desenvolvem sendo praticadas. Dessa maneira, não podemos apenas receber o conteúdo ou ler um texto e aceitá-los sem questioná-los. Para termos argumentos e termos propriedade para refutar tal conteúdo é necessário praticarmos a argumentação, analisarmos as vertentes e inferirmos sobre o texto.

Sabemos que com o advento da tecnologia tornou-se difícil saber diferenciar a informação válida da duvidosa, por isso há necessidade de debate e investigação.

Argumentar cientificamente, conforme postula Costa (2008), envolve indicar, criticar, avaliar, propor e sustentar ideias. A partir desse exercício seremos capazes de justificar nossas ideias, argumentar o porquê de estarmos aceitando ou refutando determinado fato mesmo diante de um confronto com pessoas que tenham ideias antagônicas.

Porém, acadêmico, lembre-se de que o desenvolvimento da argumentação não acontece isoladamente. Ele advém em consonância com o interesse e com o contexto no qual cada um de nós está inserido. Aprender a argumentar é, de fato, uma tarefa árdua, haja vista a importância de melhorar o nosso desempenho, especialmente, quando se trata da argumentação oral (COSTA, 2008).

2.1 A PERSUASÃO E A ARTE DO CONVENCIMENTO

Persuadir, acadêmico, segundo Houaiss e Villar (2001), é o ato de determinar a sua vontade sobre algo, induzir, aconselhar, ou ainda fazer levar a crer. Para que consigamos desenvolver tal habilidade, necessitamos de alguns elementos que complementem nossa forma de ver e sentir as informações que, cotidianamente, circulam no nosso meio.

TÓPICO 3 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS

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FIGURA 6 - PERSUASÃO

FONTE:<https://goo.gl/iFWEmV>. Acesso em: 5 fev. 2019.

Além de termos uma boa produção oral, necessitamos aperfeiçoar a capacidade de argumentar e persuadir. A seguir, apresentaremos dicas para desenvolver uma boa argumentação e persuasão. Este modelo serve para compreendermos qual é a função da argumentação na construção do conhecimento (TOULMIN, 2001, p. 64):

• O argumento só é coerente se a pessoa conhece sobre o que está falando. Para que o entendimento de seu raciocínio esteja correto, deve-se apresentar no início da fala, o assunto que será discutido.

• Fazer com que o ouvinte antecipe a conclusão, o facilita a concordar com o que está sendo dito.

• Eliminar as ideias que não sejam reais.• Ser persuasivo, induzir o ouvinte a aceitar a ideia, sem ser insistente. • Tomar cuidado com o conceito de verdade. A verdade é diferente

da opinião, do ponto de vista ou experiências pessoais. • Não insistir em convencer o ouvinte de que a opinião apresentada

está absolutamente correta.• Usar a argumentação como um processo discursivo, ou seja, dispor

o assunto metodicamente, de forma que as ideias influenciem o raciocínio de quem ouve.

Assista ao vídeo A arte de influenciar pessoas, acessando o link: https://www.youtube.com/watch?v=1VXe3oQaAJk. Acesso em: 15 nov. 2018.

DICAS

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UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

2.2 OS TIPOS DE ARGUMENTOS

Partindo do princípio de que a fala é um dos contatos mais próximos do ser humano em sociedade, há nela, assim como na comunicação, alguns elementos específicos que não ocorrem na escrita. São esses elementos que nos auxiliam na formulação de argumentos e no ato do convencimento. Vamos conhecê-los mais de perto:

O primeiro elemento é o marcador conversacional, que trata dos elementos que não fazem parte do conteúdo, mas que estão presentes na fala. Como exemplos, temos:

• Bem, eu acho que...• Entende?• Pode ser que...

Outro elemento é o da marca de prosódia, que significa entonar mais uma sílaba que se quer destacar dentro da palavra ou até mesmo uma palavra inteira. Por exemplo:

• Eu não faLEI que seria inútil? • BEM que eu DiSSE...

Temos também a repetição de itens, que, como o nome já diz, ocorre quando o falante repete alguma informação, como em:

• Eu chamei a menina e a menina, ela não veio.

Além desses elementos que auxiliam o convencimento, podemos ainda citar: os gestos corporais e as expressões faciais.

Dessa maneira, o evento de fala e de argumentação pode ocorrer sempre em um tempo e em uma situação social, seja ela cara a cara, por telefone ou pelos meios virtuais.

Embora ela aconteça em meios diferentes há uma interatividade entre todos o que caracteriza esse evento como um acontecimento. E, desse acontecimento é que ocorre a constituição de um avanço de produção oral organizada.

A produção de um texto oral exige esforços de ambos os participantes da conversa para alinhar os objetivos. Portanto, a fala não é individual. A organização dela, de certa forma, é imprevisível. Por este motivo podemos prever sua estrutura, porém não exatamente como ela ocorrerá e que tipo de argumentos serão apresentados.

Sobre a classificação dos tipos de argumentos, temos, segundo Chibeni (20--, p. 1), “os que podem ser classificados em diferentes tipos, de acordo com a

TÓPICO 3 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS

119

natureza da regra que leva das premissas à conclusão. Os tipos fundamentais são: argumentos dedutivos, indutivos e abdutivos.”

Chibeni (20--, p. 2), nos ensina que

Em um argumento dedutivo, a regra de inferência é de natureza lógica: é impossível que a conclusão seja falsa quando se assume que as premissas são verdadeiras. Em um argumento indutivo, a conclusão representa uma extensão dos fatos enunciados nas premissas para um novo caso, ou para todos os casos (generalização). Em um argumento abdutivo, a conclusão é inferida por representar a melhor explicação para os fatos enunciados nas premissas (CHIBENI, 20--, p. 2).

2.3 COMO SE DEVE FAZER UM DISCURSO

Por meio do discurso, a ação verbal, ou a fala, é dotada de intencionalidade e tenta influir sobre o comportamento de outro ou, ainda, tenta fazer com que o outro compartilhe de suas opiniões.

Para tanto, um discurso argumentativo objetiva intervir diretamente so-bre as opiniões, atitudes ou comportamentos de um interlocutor tornando acei-tável o que é expresso e aguardando o apoio, segundo modalidades diversas, de um outro.

Para elaborarmos um bom discurso é necessário ter em mente e pôr em prática algumas ações, como:

A escolha do assunto: um bom discurso tem como mote normalmente um assunto. Caso tenha mais, um deles deverá ser o relevante. Ele é caracterizado com os seus argumentos, mas, também, deve ser fundamentado com a apresentação de argumentos advindos de outros autores ou pessoas renomeadas que também pensam como você.

O encontro de um propósito: tente refletir por que está fazendo um discurso sobre esse assunto. Utilize essa razão no decorrer de sua fala. O propósito necessita ser sua defesa. Tenha em mente que um discurso é feito sempre por um bom motivo, seja para inspirar, instruir, conseguir apoio, incentivar boas ações entre outros.

Organização: um discurso não pode ser constituído com ideias misturadas. Todos os discursos são compostos por introdução, corpo e conclusão.

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UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

• Introdução: Informe o público sobre o tema. • Corpo: Discorra sobre o assunto. Crie pelo menos três argumentos que sustentem a

tese.• Conclusão: Converse sobre o que foi dito.

ATENCAO

Persuasão: os argumentos precisam convencer o ouvinte ou, pelo menos, devem deixá-los interessados no que se tem a dizer.

Leve sempre em consideração seus estudos acerca da escrita e suas funções, pois antes de realizar um discurso oral você precisará escrevê-lo com cautela.

3 A EXPRESSÃO ORAL COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO EFICAZ

O ato da expressão oral executado com neutralidade, racionalidade e em ambiente formal, tende a ser mais eficaz do que quando realizado em ambientes em que há pessoas próximas, com laços afetivos, pois há uma tendência de dispensar paciência, tolerância e cuidado com o que vai ser falado.

Em muitas situações comunicativas os deslizes, que suscitam problemas, são involuntários e podem ocorrer. O falante comete erros sem perceber, ocasionados por uma questão de hábitos adquiridos ou por referências culturais e familiares.

Dessa maneira, é imprescindível pensar bem antes de falar, agir e ter sempre em mente que, no discurso ou na fala, as opiniões e percepções serão sempre suscetíveis a discussões e que confusões poderão acontecer, principalmente quando se trabalha com grupos heterogêneos.

Vamos discutir um pouco mais sobre isso. Continue conosco!

3.1 OS RUÍDOS NA COMUNICAÇÃO ORAL

O ruído na comunicação oral é uma interferência que pode ocorrer em qualquer uma das etapas da comunicação, ou seja, ele pode ocorrer tanto ao se emitir quanto ao se receber a mensagem. Em outras palavras, o ruído ou a

TÓPICO 3 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS

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interferência é tudo o que afeta a transmissão da mensagem. São fatores que surgem ou que se colocam entre o emissor e o receptor no processo de comunicação.

FIGURA 7 – RUÍDOS

FONTE: <https://goo.gl/2yA24L>. Acesso em: 15 nov. 2018

Essa interferência pode ocorrer com o uso inadequado do linguajar do fa-lante, em uma falha em uma ligação telefônica. O ouvinte pode não compreender uma mensagem ou compreendê-la de forma errada, ocorrendo ambiguidade. En-fim, inúmeros outros ruídos podem acontecer e prejudicar a compreensão plena.

Falar em voz muito baixa, estar nervoso ou com pouco ânimo, faltar com a atenção, se faltar energia elétrica ou, até mesmo, se manchar o papel que contém a informação que você está lendo, certamente ocorrerão ruídos na comunicação.

Sendo assim, o bom senso é uma palavra muito importante nas relações comunicativas profissionais e cabe a cada um a avaliação de sua atuação com relação ao comportamento e à postura diante do grupo e das situações comunicativas que exerce.

Assim, quando você se comunicar, discursar ou falar formal ou informalmente, tente tornar mínimas as barreiras para que uma comunicação eficaz aconteça.

3.2 DICAS PARA UMA COMUNICAÇÃO ORAL EFICAZ

Partindo do fato de que a comunicação oral não é apenas a transmissão de uma mensagem, mas sim a transmissão de uma mensagem com um fim de suscitar, persuadir e entreter quem a ouve, torna-se necessário preparar-se para explanar o que se quer com excelência. Para tanto, observe algumas dicas:

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UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

• utilize uma linguagem apropriada e direta, preste atenção em seu público, procure saber quem são, de onde vem;

• forneça informações claras e completas, ou seja, pense antes de falar;• use canais múltiplos para estimular os sentidos de quem está ouvindo: canais

tecnológicos, emocionais, entonação; • comunique-se face a face, isto é, olhe para as pessoas;• ouça ativamente e valorize a opinião do outro; • tenha empatia.

Você pode estar pensando, acadêmico, que tudo isso é muito simples e que a comunicação oral não necessita de tantos cuidados. Porém, tire suas próprias conclusões analisando a figura que segue:

FIGURA 8 - COMUNICAÇÃO

FONTE: <https://goo.gl/5bjbXJ>. Acesso em: 15 nov. 2018.

3.3 PRATICANDO O IMPROVISO

Suponha que em seu ambiente de trabalho, independentemente de sua atuação, alguém tem a ideia de convidá-lo a se pronunciar acerca de um determinado assunto, de improviso.

Você, diante de uma circunstância tão adversa, necessita ter e estar em condições de expor com destreza, organizar o pensamento, concatenar as ideias com tranquilidade e competência para, finalmente, pronunciar-se.

Bem, mas você sabe o que é improvisar? Falar de improviso, acadêmico, não significa falar sem conhecer e ter certo domínio sobre o assunto. Quem fala sem conhecimento do tema põe em risco sua imagem. Assim, caso não tenha nenhuma ciência acerca da matéria a ser explanada, recuse o convite. Pois, de

TÓPICO 3 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS

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todos os recursos que podem auxiliá-lo no improviso, o preparo e o domínio do que se irá falar são os mais importantes.

Para se falar bem de maneira improvisada, é importante:

Falar antes sobre um assunto de seu domínio, ou seja, ao ser convidado a se pronunciar, primeiro fale sobre um assunto que você domina e depois relacione ele ao tema que, talvez, você não conheça tanto, e que é o objetivo da sua exposição.

Relacionar temas recentes do cotidiano. Além dos assuntos de seu conhecimento, que você poderá utilizar como recurso para as falas de improviso, é possível enfatizar fatos que você tenha observado momentos antes da sua explanação e utilizá-los para que a argumentação aconteça com convicção.

Caro acadêmico, saiba que quanto mais conhecimento você tiver a respeito do assunto da sua apresentação mais você se sentirá seguro diante do público o que tornará a sua comunicação oral mais eficiente. Por isso, mantenha-se constantemente atualizado para que, mesmo em situações adversas e de improviso, sinta-se seguro para avançar na comunicação.

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UNIDADE 2 | PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES

LEITURA COMPLEMENTAR

Que leitores somos

A leitura do texto literário é, pois, um acontecimento que provoca reações, estímulos, experiências múltiplas e variadas, dependendo da história de cada indivíduo. Não só a leitura resulta em interações diferentes para cada um, como cada um poderá interagir de modo diferente com a obra em outro momento de leitura do mesmo texto. Isso fica muito evidente quando assistimos a um filme ou a uma peça de teatro, por exemplo, pois assim que saímos da sala em geral perguntamos ao acompanhante: “E aí, gostou?” É comum termos opiniões de imediato diferentes, ou termos nos detido em aspectos às vezes ignorados pelo outro. É da troca de impressões, de comentários partilhados, que vamos descobrindo muito outros elementos da obra; às vezes, nesse diálogo mudamos de opinião, descobrimos uma outra dimensão que não havia ficado visível num primeiro momento. No cinema ou no teatro, esse dialogismo, essa polifonia que captamos na obra, são mais observados pelos expectadores, pois esses gêneros implicam uma recepção coletiva, há uma plateia que num mesmo momento assiste a uma mesma obra.

Por outro lado, a arte verbal pede hoje um outro tipo de leitura, individual, silenciosa (ela já foi coletiva em outros tempos e feita em voz alta), exigindo no mais das vezes uma disponibilidade maior de tempo. Também não é comum estarmos, dois ou três amigos ou conhecidos, lendo o mesmo livro no mesmo momento (a não ser que se trate desses best sellers que provocam uma febre coletiva de leitura). Entretanto, quando é possível compartilhar impressões sobre o texto lido (a escola também poderia propiciar essas oportunidades), agimos do mesmo modo como quando acabamos de assistir a um filme: evidenciamos a particularidade de nossas leituras com apreciações individualizadas sobre personagens, narradores, enredo, valores etc., emitimos o nosso ponto de vista, nossas impressões sobre vários aspectos da leitura – todas elas legítimas, portanto.

É claro que podemos generalizar essas observações à recepção de qualquer outro tipo de manifestação artística. Nossa fruição de uma obra de arte é sempre única e não se repete. Seremos outros num outro momento, e com certeza nossa leitura também será diferente: tudo flui. Fatores linguísticos, culturais, ideológicos, por exemplo, contribuem para modular a relação do leitor com o texto, num arco extenso que pode ir desde a rejeição ou incompreensão mais absoluta até a adesão incondicional. Também conta a familiaridade que o leitor tem com o gênero literário, que igualmente pode regular o grau de exigência e de ingenuidade, de afastamento ou aproximação.

Umberto Eco identifica dois tipos básicos de leitores. “O primeiro é a vítima, designada pelas próprias estratégias enunciativas, o segundo é o leitor crítico, que ri do modo pelo qual foi levado a ser vítima designada”. (ECO, 1989, p. 101). Quer dizer, leitor vítima em princípio seria aquele mais interessado em “o que”

TÓPICO 3 | A PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS

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o texto conta, uma vítima do enunciado, e o leitor crítico em “como” o texto narra, também interessado no modo de enunciação. Entretanto, podemos ser simultaneamente tanto um tipo quanto o outro, e ainda muitos outros dentro do arco, dependendo das situações e das finalidades da leitura. Às vezes queremos mesmo um tipo de obra que nos faça esquecer as mazelas do dia a dia, e para isso recorremos a leituras mais leves, a um policial ou a um livro de suspense, gêneros mais propensos a “capturar” o leitor, que os percorre avidamente até o final para descobrir o culpado, sem se preocupar muito – ainda que as possa perceber – com as inconsistências da narrativa e todos os seus problemas de construção. Assim como, mesmo apreciando filmes de arte, pode-se ficar preso ao folhetim televisivo ou perder o sono com os “enlatados” da madrugada. Ou seja, mesmo sendo leitor crítico e conhecendo as artimanhas da arte de narrar, não quer dizer que se desfrute apenas da “alta literatura” – em inúmeras situações cotidianas e psíquicas recorremos a níveis diversos de fruição.

Não obstante a multiplicidade e os diferentes níveis de leitura, um leitor crítico pode ser, pois, também um leitor vítima. Entretanto, pode um leitor predominantemente vítima ser um leitor crítico? Sobretudo, poderá ele ser um leitor de obras mais complexas e mais elaboradas esteticamente? Como leitores críticos, adquirimos a enorme liberdade de percorrer um arco maior de leituras, o que faz toda a diferença. Qual o perigo de sermos apenas leitores vítimas? O perigo é consumirmos obras que busquem agradar a um maior número de leitores, oferecer ao leitor uma gama já consumida de elementos, aquela literatura voltada para o consumo de que falamos, desprovida de potencial de reflexão, que apenas confirma o que já sabemos, e que por isso nos entretém, sacia nossa necessidade mais imediata de fantasia.

FONTE: BRASIL. Orientações curriculares para o ensino médio: linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006, p. 67-69.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• A argumentação é um instrumento importante para a aquisição e produção de conhecimento.

• A persuasão é o ato de determinar a sua vontade sobre algo, induzir, aconselhar ou ainda fazer levar a crer.

• Um discurso argumentativo objetiva intervir diretamente sobre as opiniões, atitudes ou comportamentos de um interlocutor tornando aceitável o que é expresso e aguardando o apoio, segundo modalidades diversas, de um outro.

• Ruído ou interferência é tudo o que afeta a transmissão da mensagem. São fatores que surgem ou que se colocam entre o emissor e o receptor no processo de comunicação.

• A comunicação oral não é apenas a transmissão de uma mensagem, mas sim a transmissão de uma mensagem com um fim de suscitar, persuadir e entreter a quem ouve, tornando-se necessário preparar-se para explanar o que se quer com excelência.

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1 Observe a imagem e escreva um pequeno texto acerca de seu entendimento dos elementos que compõe a teoria da comunicação:

AUTOATIVIDADE

FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/TA2k2w>. Acesso em 15 nov. 2018.

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UNIDADE 3

A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você será capaz de:

• refletir acerca da linguagem e do vocabulário jurídico;

• conhecer e aplicar técnicas de redação e de discurso jurídico;

• analisar aspectos linguísticos acerca da oratória forense;

• compreender os principais usos da linguagem jurídica no cotidiano.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você en-contrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO JURÍDICA

TÓPICO 2 – O DISCURSO JURÍDICO

TÓPICO 3 – ORATÓRIA FORENSE

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TÓPICO 1

INTRODUÇÃO À

COMUNICAÇÃO JURÍDICA

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

O ser humano, acadêmico, desde o início de sua história sempre quis se comunicar, para tanto, criou e desenvolveu diversos meios para partilhar suas ideias, pensamentos, conhecimentos e experiências de mundo.

Podemos dizer que a comunicação envolve três elementos básicos: emissor, mensagem e receptor, independentemente da área profissional em que estamos atuando, é a partir deles que a comunicação se efetiva.

Segundo Oliveira (2009), a troca de informações entre duas ou mais pessoas chama-se comunicação interpessoal, e esta troca objetiva motivar ou influenciar um determinado comportamento.

Para que a comunicação seja bem-sucedida é necessário que, além de uma boa transmissão, também haja uma boa aceitação da mensagem. A grande diversidade cultural na qual vivemos, muitas vezes, nos deixa tão alienados, que o que parece estar óbvio para nós pode não ser tão claro assim para o interlocutor que recebe a mensagem.

Partindo do exposto, compreendemos que há muitos meios para a veiculação de uma mensagem, no entanto, sem dúvida alguma, a linguagem humana se sobrepõe a qualquer outro meio de comunicação.

Assim, acadêmico, nesta etapa da unidade, abordaremos a compreensão da comunicação jurídica, que engloba o uso de um vocabulário diferenciado, jargões e peculiaridades acerca da clareza de ideias em relação com o linguajar utilizado no Direito, porém, não podemos nos esquecer de que a comunicação é o ato de tornar algum acontecimento comum a outras pessoas, logo, ela necessita acontecer de maneira plena e eficaz.

Vamos em frente!

2 O VOCABULÁRIO JURÍDICO

Sabemos que quem lida com áreas específicas, como a do Direito, a da informática, entre outras, necessita expressar-se adequadamente, pois é por meio das palavras que profissionais desses campos passam, por exemplo, para o papel

UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

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o que seus clientes desejam, ou conseguem argumentar e explicar o que seria possível fazer, dependendo do que eles procuram esclarecer.

Para esses profissionais da área do Direito ou de áreas afins, por vezes, é imprescindível utilizar um termo diferenciado, também conhecido como vocábulo ou vocabulário jurídico.

Saber empregar uma palavra jurídica corretamente, levando em conta o contexto e, ainda, fazer-se compreender, é uma arte, ou seja, o operador do Direito e das áreas afins, mais que qualquer outro profissional, necessita aprender a dominar os termos e fazer uso deles adequadamente.

Dessa maneira, voltamos a dizer que uma das maneiras mais utilizadas pelo ser humano para se comunicar é por meio da palavra, e é por meio dela que a linguagem se estabelece com sucesso e eficácia.

Xavier (2003, p. 9) postula que:

Seja como for, o homem, animal falante que é, em seus três níveis de manifestação - como humanidade, como comunidade e como indivíduo - está indissoluvelmente ligado ao fenômeno da linguagem. Ignorar-lhe a importância é não querer ver. O pensamento e seu veículo, a palavra, privilegiam o homem na escala zoológica e o fazem exceler entre todos os seres vivos. Oxalá saiba ele usar proficiente e dignamente esse dom da evolução criadora, pois o poder da palavra é a força mais conservadora que atua em nossa vida.

Compreendemos, acadêmico, a partir das palavras de Xavier, que a comunicação e, neste caso, a maneira da fala dos operadores do Direito estão conectadas, pois a palavra, ou seja, a comunicação, é o instrumento com que eles efetuam suas atividades, como as de peticionar, contestar, apelar, inquirir, persuadir, provar, julgar, absolver, condenar, analisar, entre outras.

Sendo assim, pessoas que atuam em áreas específicas, como a do Direito, necessitam ter cautela com o vocabulário que utilizam.

Xavier (2003, p. 11) nos diz que há exemplos dos usos diferenciados dos vocábulos jurídicos, nos quais se percebe:

[...] diferenças semânticas para um profissional do direito, onde o emprego comum não consegue perceber as diferenças, tais como: domicílio, residência e habitação diferem juridicamente entre si, tal como posse, domínio ou propriedade; e, ainda, que decadência, prescrição, preclusão e perempção, embora assemelhadas no sentido, não querem dizer a mesma coisa.

Partindo disso, acadêmico, a linguagem jurídica é um linguajar técnico e, por vezes, os termos não são entendidos pelo público envolvido e interessado nas decisões e/ou investigações do Poder Judiciário.

TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO JURÍDICA

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Você, acadêmico, que atuará ou atua em áreas afins do Direito, certamente, percebe que certos vocábulos já fazem parte do nosso cotidiano, mesmo que muitas pessoas à nossa volta não notem. Quando lidamos com um nascimento, quando alguém compra em um estabelecimento, quando fazemos o pagamento de impostos, quando há alguma confusão entre amigos e/ou vizinhos, quando há a morte de alguém, o Direito e seu vocabulário jurídico peculiar sempre existiram e existirão.

Esses termos jurídicos acabam se comunicando e se fazendo entender, devido à sua interdisciplinaridade com outros ramos, de outras áreas com que convivemos, como a sociologia, a filosofia, linguagem, ética, entre outras. Como profissionais dessa área, necessitamos apresentar sabedoria e postura para fazer o uso e a aplicação adequada desses termos, auxiliando os sujeitos que, de repente, não os dominam, mas necessitam compreendê-los.

Assim, é primordial que, para você, futuro ou já atuante dessa área, que faz uso da linguagem jurídica e, consequentemente, que utiliza a comunicação como ferramenta de trabalho, esteja articulado, pois necessita aplicar todo o conhecimento aprendido e, também, se comunicar com clientes e com outros operadores da área jurídica, com clareza e exatidão.

Essa comunicação ou linguagem jurídica, geralmente, é sempre técnica e, por vezes, não é compreendida adequadamente, pois seus clientes ou envolvidos em alguma questão (i)lícita não têm nenhum tipo de conhecimento jurídico e você precisa fomentar o fato de que haja uma comunicação de sucesso entre os operadores de direito e clientes.

Para tanto, os operadores de Direito são os responsáveis, enquanto

profissionais, acerca da linguagem utilizada, portanto, mesmo sendo técnica, ela, a linguagem, necessita ser acessível a todos para que a comunicação seja compreendida por todos os envolvidos.

Daí a importância da leitura, de uma boa escrita, de uma oratória articulada, pois os operadores da área jurídica devem se expressar de maneira clara, coesa e coerente, promovendo uma comunicação correta e eficaz ao público que os ouvem (XAVIER, 2003).

Aqui, necessitamos revisitar e elucidar alguns conceitos que são sempre úteis para a compreensão de como ocorre uma linguagem plena. Medeiros e Tomasi (2004, p. 17) postulam que a linguagem “é um sistema de signos utilizados para estabelecer uma comunicação. A linguagem humana seria, de todos os sistemas de signos, o mais complexo”.

Podemos inferir que o aparecimento e o desenvolvimento da linguagem aconteceram da necessidade de comunicação entre os seres humanos, advinda de uma necessidade social e de um reflexo da cultura que esse grupo inventou. A linguagem veio como uma inserção do sujeito nesta sociedade organizada.

UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

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Medeiros e Tomasi (2004, p. 17-21) ainda nos ensinam que:

[...] a linguagem verbal é uma faculdade que o homem utiliza para exprimir seus estados mentais por meio de um sistema de sons vocais denominado língua. Esse sistema organiza os signos e estabelece regras para seu uso. Assim, pode-se afirmar que qualquer tipo de linguagem se desenvolve com base no uso de um sistema ou código de comunicação, a língua. A linguagem é uma característica humana universal, enquanto a língua é a linguagem particular de uma comunidade, um grupo, um povo. Sistema é uma organização que rege a estrutura de uma língua. [...] Língua é um código que permite a comunicação, um sistema de signos e combinações. Ela tem caráter abstrato e dispõe de um sistema de sons, e concretiza-se por meio de atos de fala, que são individuais. Assim, enquanto a língua é um conjunto de potencialidades dos atos de fala, esta (ou discurso) é um ato de concretização da língua. [...] A fala é anterior à escrita, mas tem, através dos tempos, sido relegada a uma condição de inferioridade por causa das circunstâncias modernas em que informações e documentos escritos constituem o mundo das relações humanas e de produção. [...]. As características diferenciadoras entre língua e fala são: a língua é sistemática, tem certa regularidade, é potencial, coletiva; a fala é assistemática, nela se observa certa variedade, é concreta, real, individual. [...] A norma varia segundo a influência do tempo, espaço geográfico, classe social ou profissional, nível cultural do falante. A diversidade das normas, visto que há tantas quanto os indivíduos, não afeta a unidade da língua, que contém a soma de todas as normas. [...] A língua portuguesa, portanto, é um sistema linguístico que abrange o conjunto das normas que se concretiza por meio dos atos individuais de fala. Ela é um dos sistemas linguísticos existentes dentro do conceito geral de língua e compreende variações diversas devidas a locais, fatores históricos e socioculturais que levam à criação de variados modos de usar a língua. [...] Norma é um conjunto de regras que regulam as relações linguísticas. A norma sofre afrontas ou é contrariada devido a vários fatores: alterações devidas às classes sociais diferentes, alterações devidas aos vários indivíduos que utilizam a língua.

Revisitando esses conceitos, acadêmico, compreendemos que o homem pode se comunicar de duas maneiras, a verbal e/ou não verbal. Quando a forma é verbal, a linguagem oral é utilizada como instrumento, já a não verbal acontece pela linguagem corporal ou linguagem do vestuário, entre outros exemplos.

Concluímos dizendo que, conforme abordado, quando o operador do direito está perante seu público, todas as formas de linguagem abordadas anteriormente ocorrem juntas, em alguns minutos de conversação, somando a situação cultural, econômica e social que cada um possui e carrega consigo.

Logo, prezemos pela clareza e pelo uso adequado dos termos jurídicos que compõem nosso dia a dia, e façamos com que os que não têm acesso a estes os compreendam de forma simples e coerente.

TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO JURÍDICA

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Que tal acessar o link https://www.youtube.com/watch?v=qkkszcAcr_Q, e revisitar alguns termos jurídicos?

DICAS

2.1 OS JARGÕES JURÍDICOS

O jargão, acadêmico, é um estilo de aplicar certos termos, ou de falar, utilizado por pequenos grupos, ou seja, grupos particulares que são unidos por alguma profissão específica.

Podemos dizer que jargão é uma linguagem científica, de alguns profissionais de certas áreas, trazida para o dia a dia. Não precisamos pensar muito e afirmar, por exemplo, que existe o jargão dos médicos, dos advogados, dos técnicos em informática, entre outros.

Observe a figura que segue:

FIGURA 1 – JARGÃO JURÍDICO

FONTE: <http://alunosdafdv.blogspot.com/>. Acesso em: 18 nov. 2018.

Assim como a imagem apresentada anteriormente nos sugere, por vezes, é complicado compreender o jargão quando não fazemos parte do grupo que o utiliza e, neste caso, até entre colegas de profissão.

Certamente, acadêmico, que você conseguiu compreender um pouco do que ele (personagem da tirinha) quis dizer. Mas muitos que não fazem parte do meio jurídico podem não entender e nos dizer que a compreensão é difícil.

UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

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Assim sendo, como um operador do direito em processo de formação, você compreendeu que devemos saber utilizar um linguajar mais simples para que a mensagem possa ser compreendida, dependendo de quem nos ouve e, se de maneira informal, até entre colegas de profissão.

O jargão jurídico, acadêmico, faz com que o entendimento de procedimentos e de documentos seja complexo, por apresentar termos e palavras, incluindo vocábulos em latim, cujos significados são incompreensíveis para leigos.

São exemplos de jargões relacionados ao Direito:

QUADRO 1 – JARGÕES JURÍDICOS

Com fincas no artigo: com base no artigo.Consorte supérstite: viúvo ou viúva.

Digesto obreiro: Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).Diploma provisório: medida provisória.

Ergástulo público: cadeia.Estipêndio funcional: salário.

FONTE: <https://www.significadosbr.com.br/jargao>. Acesso em: 18 nov. 2018.

2.2 DICAS PARA AUMENTAR O VOCABULÁRIO

Conseguir expressar-se com um discurso envolvente, compreender o perfil do ouvinte e, consequentemente, utilizar o melhor vocabulário para que ele o compreenda, saber ouvir para, então, conseguir se comunicar com mais clareza, são algumas das características que constituem um bom comunicador e um bom profissional.

Para que você, acadêmico, consiga desenvolver estas e outras habilidades relacionadas ao falar bem, que é um importante caminho para o êxito na carreira e na vida pessoal, apresentaremos algumas dicas de ampliação de vocabulário.

A primeira delas é aprender palavras novas regularmente, logo, crie esse hábito para ter um resultado eficaz e rápido. Parece difícil? Vamos descobrir como fazer isso:

• Leia: a leitura o faz aprender. E, quando lemos, acadêmico, não estamos apenas visualizando uma palavra e lendo o que ela significa, lemos uma palavra nova dentro de um contexto, isto é, nosso cérebro realmente vai compreender como utilizar essa palavra, dificilmente esquecendo-a.

• Mantenha um dicionário por perto: a tecnologia e, consequentemente, a internet, facilitou a nossa vida e disponibiliza vários dicionários gratuitos, mas ter um dicionário físico é indispensável. Ter um ao seu lado vai transformar a

TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO JURÍDICA

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atitude da busca em um hábito e seu cérebro vai memorizar as palavras com maior fluidez.

• Mantenha um diário: anote as novas palavras aprendidas. Isso mesmo, essa atitude é importante para fixá-las e, ainda, podemos consultá-las sempre que quisermos.

• Tente aprender uma palavra nova todos os dias: Devemos criar o nosso próprio método e segui-lo diariamente. Ao ler uma notícia, um capítulo de um romance ou algo na internet, procure pelas palavras desconhecidas e anote-as com seus significados em um tipo de diário.

• Volte para suas raízes: estudar uma língua antiga nos faz aprender e compreender muitos dos vocábulos utilizados no dia a dia. Quando você estuda latim ou grego, compreende a etimologia de várias palavras que utilizamos até hoje, e entende a composição delas através da origem dos prefixos e sufixos advindos dessas línguas. Faça isso através de aplicativos gratuitos.

• Jogue: jogos de palavras nos desafiam e ampliam o vocabulário de um jeito divertido e eficaz. O Letrix, por exemplo, é um ótimo jogo (disponível para Android e iOS) que combina Tetris e Palavras Cruzadas em uma dinâmica bem interessante.

• Converse: conversar com os outros nos ajuda a descobrir e utilizar palavras novas e, quando aprender alguma palavra diferente, anote-a.

• Escreva mais: escreva no computador, no papel, no seu diário, o importante é treinar a construção de frases e utilizar as novas palavras que você aprendeu na última semana ou no dia. Isso vai ajudar a construir conversas mais ricas.

O Duolingo é um aplicativo para aprender e reforçar idiomas, disponível, de graça e sem propagandas, para iOS e Android. Diferente dos sites que oferecem cursos, ele utiliza como método de ensino a gameficação ao transformar as questões em desafios e os acertos em recompensas. Baixe-o <https://pt.duolingo.com/> e aprenda brincando!

DICAS

2.3 A ESTRUTURA FRÁSICA: CLAREZA NAS IDEIAS

A estrutura frásica envolve a clareza das ideias. Para tanto, estudamos e compreendemos anteriormente o texto, a comunicação e os elementos necessários para que isso aconteça de maneira eficaz.

FONTE: <https://cdn0.tnwcdn.com/wp-content/blogs.dir/1/files/2018/02/duolingo-796x419.jpg>. Acesso em: 2 dez. 2018.

UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

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Antes de continuarmos nossos estudos, é interessante revisitarmos o conceito de PALAVRA, já que é através dela que tudo o que envolve discurso se consolida.

A palavra é constituída por sons, grafemas que, em conjunto, formam o vocabulário. Elas, as palavras, tanto exteriorizam ideias, quanto apreendem conceitos.

Gold e Segal (2007) exemplificam que muitas das palavras jurídicas necessitam ser compreendidas através das expressões. Por exemplo: as expressões Ad Referendum ou Data Venia são palavras ou expressões que não podem ser apenas traduzidas para a língua portuguesa, elas necessitam de uma compreensão maior devido a certas significações que lhes cabem.

A primeira, por exemplo, significa “para apreciação”. Esse termo é uma expressão utilizada em atos de autoridades públicas, quando as decisões, por eles tomadas, precisam ser levadas ao conhecimento de algum órgão colegiado.

A segunda expressão é correspondente à Concessa Venia. A palavra venia quer dizer permissão, licença. Já “data” advém do verbo dare, que significa dar e concessa vem de concedere, conceder.

Assim, saber utilizar as palavras com competência exige treino e técnica. Desta maneira, quando você escrever ou discursar, deve seguir alguns passos, como:

a) Seleção Vocabular – CLAREZA – a escolha de palavras adequadas depende do leitor que se presume ter. Para se ter a clareza é necessário escrever de maneira simples e concisa. Períodos curtos e diretos, logo, cuidado com a linguagem rebuscada.

b) Seleção Vocabular – SENTIDO – o profissional do direito necessita de uma só interpretação, e convive com um número expressivo de palavras polissêmicas. Gold e Segal (2007, p. 46) relembram um exemplo: “O inquilino locou o imóvel há exatos cinco anos e vinha pagando seus alugueres à proprietária regularmente...”. Você notou, acadêmico, quem loca oferece em aluguel, mas não toma de aluguel. O locador loca, o locatário aluga.

c) Seleção Vocabular – VOCABULÁRIO JURÍDICO – a leitura de peças processuais, manuais e obras jurídicas, entre outros, nos faz incorporar um universo vocabular jurídico. Exemplo: “O advogado mostrou que o homicídio simples não constitui crime hediondo e defendeu, em excelente tese, que mesmo o homicídio qualificado, por vezes, não deve ser visto como tal” (GOLD; SEGAL, 2007, p. 48).

d) Seleção Vocabular – SELEÇÃO DE PALAVRAS E SUSTENTABILIDADE – qualquer termo utilizado necessita ter sustentabilidade, isto é, deve ser harmônico

TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO JURÍDICA

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com o contexto. Logo, evitar o preciosismo, como PretórioExcelso no lugar de Supremo Tribunal Federal, peçaexordial no de petição inicial, entre outros.

e) Seleção Vocabular – FORMAS DE TRATAMENTO – são termos utilizados para manter um nível respeitoso nas relações do Poder Judiciário. Como: Juiz – Vossa Excelência (Meritíssimo).

f) Seleção Vocabular – EXPRESSÕES LATINAS – o latim só deve ser utilizado em peças forenses que têm por destinatários outros profissionais jurídicos. Nos contratos deve ser evitado, porque estes servirão para lidar com as relações entre leigos que não estão adaptados às expressões latinas. Observe algumas expressões latinas no quadro que segue:

QUADRO 2 – EXEMPLOS DE EXPRESSÕES LATINAS

ADHUC SUB JUDICE LIS EST – a causa está sob julgamento.IPSIS LITTERIS – com as próprias palavras.

RES JUDICATA PRO VERITATE HABETUR – A coisa julgada é considerada verdade.

RES, NON VERBA – fatos, não palavras.

FONTE: Adaptado de <https://goo.gl/gU4khC>. Acesso em: 30 nov. 2018.

3 LINGUAGEM JURÍDICA

O Direito e a linguagem, acadêmico, têm uma importante relação, pois o direito se consolida por meio da linguagem. Neste sentido, Passos (2001, p. 63) assegura que:

[...] o Direito, mais que qualquer outro saber, é servo da linguagem. [...] Também linguagem é o Direito aplicado ao caso concreto, sob a forma de decisão judicial ou administrativa. Dissociar o Direito da Linguagem será privá-lo de sua própria existência, porque, ontologicamente, ele é linguagem e somente linguagem.

Dessa maneira, o texto jurídico evidencia-se por construções complexas e por um elevado grau de intelectualidade da língua.

Tanto a formação da estrutura textual como o conhecimento das regras gramaticais da norma padrão da Língua Portuguesa se entrelaçam nos discursos jurídicos. É por isso que o profissional da área jurídica produz textos bem escritos, e é reconhecido por ter amplo domínio da norma culta.

Vamos, a partir daqui, tecer algumas considerações acerca dessa linguagem.

Continue estudando!

UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

140

3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A LINGUAGEM JURÍDICA

Como já estávamos discutindo, a escrita, levando em conta o sentido das palavras na linguagem jurídica, necessita de cautela. Vamos conhecer alguns importantes termos jurídicos:

3.1.1 Vocábulos unívocos

Os vocábulos unívocos são os que contêm um só sentido. A codificação auxilia para descrever delitos e assegurar direitos:

• Furto: art. 155 CP - subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel. • Roubo: art. 157 CP - subtrair, para si ou para outrem, coisa móvel alheia

mediante grave ameaça ou violência. • Mútuo: art. 586 CC - empréstimo oneroso de coisas fungíveis. • Comodato: art. 579 CC - empréstimo gratuito de coisas não fungíveis.

3.1.2 Vocábulos equívocos

Os vocábulos equívocos são os plurissignificantes, ou seja, eles têm mais de um significado, geralmente consegue-se identificá-los pelo contexto. Como em:

• Sequestrar:o Direito Processual: apreender judicialmente bem em litígio. o Direito Penal: privar alguém de sua liberdade de locomoção.

3.1.3 Vocábulos análogos

Os vocábulos análogos são os que não têm um radical comum, logo, pertencem a uma mesma linhagem ideológica ou são apresentados como sinônimos. Exemplo:

• Resolução (dissolução de um contrato, acordo, ato jurídico).• Resilição (dissolução pela vontade dos contraentes). • Rescisão (dissolução por lesão do contrato).

3.1.4 Parônimos

Os parônimos são os termos de sentido distinto, porém semelhantes na escrita e na pronúncia. Exemplos:

TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO JURÍDICA

141

• Absolver (perdoar); absorver (assimilar). • Deferimento (concessão); diferimento (adiamento).• Delatar (acusar); dilatar (ampliar). • Destratar (ofender); distratar (romper o trato). • Elidir (suprimir); ilidir (refutar, anular). • Emenda (correção); ementa (resumo). • Emitir (mandar para fora); imitir (investir em). • Flagrante (evidente); fragrante (perfumado). • Mandato (procuração); mandado (ordem, determinação). • Prescrever (ordenar); proscrever (banir). • Ratificar (confirmar); retificar (corrigir). • Tráfico (comércio ilegal); tráfego (trânsito).

3.1.5 Arcaísmo

O arcaísmo é um termo que não é mais utilizado, por exemplo, coita para dizer dor; ou, ainda, podemos dizer que o arcaísmo é um vício que versa em empregar expressões antiquadas. Vamos conhecer os dois tipos de arcaísmo:

Arcaísmos léxicos são as palavras em desuso por força de substituição e arcaísmos semânticos são as palavras que sobrevivem com sentido alterado no uso atual.

Conheça alguns arcaísmos semânticos:

QUADRO 3 – EXEMPLOS DE ARCAÍSMOS SEMÂNTICOS

Palavra Significado arcaico Significado atualTratante Que trata CuidaFormidável Formidável ExcelenteParvo Pequeno de estatura Pequeno de cabeça

FONTE: A autora (2018)

Agora, conheça palavras com arcaização do primitivo e permanência do composto:

• mundo (limpo) – imundo; • dita (sorte) – desdita; • victo - invicto, evicto; • dene (prejuízo, dano) – indene; • voluto (ocupado) – devoluto.

Apesar de afirmarmos que a linguagem jurídica arcaica está em desuso, ainda há termos que os conservadores utilizam, como:

UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

142

• Teúda e manteúda: no português arcaico, os verbos da segunda conjugação tinham o particípio passado em udo (conhoçudo, vençudo, manteúdo, conteúdo). Teúda e manteúda continuam no Direito para indicar a concubina tida e mantida às expensas do parceiro.

• Lídimo: legítimo, em se tratando do filho procedente do legítimo casamento. Hoje, ninguém mais diria "filho lídimo, prole lídima, sucessão lídima".

• Pertenças: substantivo usado no plural cujo sentido é benfeitorias. • Peitar: o significado é subornar; o substantivo é peita, suborno oferecido, não

exigido. • Avença: acordo, contrato, ajuste. • Usança: equivale a uso; termo frequente no Direito Comercial.

3.1.6 Estrangeirismos

O estrangeirismo nada mais é do que a influência de uma língua em outra. Quando as palavras estrangeiras tiverem equivalência na língua portuguesa, daremos preferência ao uso das nossas palavras, salvo se houver alguma justificativa para usar a forma estrangeira. Na área jurídica temos muitos estrangeirismos, observe os exemplos que seguem:

QUADRO 4 – EXEMPLOS DE ESTRANGEIRISMOS

• drawback (ingl.): restituição de impostos aduaneiros pagos sobre a importação de matérias-primas no momento da exportação dos produtos que elas serviram para fabricar;

• apartheid (ingl.): sistema oficial de segregação racial praticada na África do Sul para proteger a minoria branca;

• best-seller (ingl.): o livro que se vende melhor; obra que é grande êxito de livraria;

• commodity (ingl.): produto (pl.: commodities);• expert (ingl.): experto, perito;• freelancer (ingl.): pessoa que executa serviços profissionais sem vínculo

empregatício;• free-shop (ingl.): local de venda de produtos sem taxa de importação;• impeachment (ingl.): impedimento;• leasing (ingl.): contrato de uso de coisa mediante pagamento mensal; ao

final do prazo, pode tornar-se proprietário; arrendamento mercantil; • lobby (ingl.): pessoa ou grupo que, nas antessalas de órgãos decisórios,

procura influenciar os representantes do povo no sentido de fazê-los votar segundo os próprios interesses ou dos grupos que representam;

• marketing (ingl.): conjunto de estudos e medidas que proveem estrategicamente o lançamento e a sustentação de um produto ou serviço no mercado consumidor;

• mise en scène (fr.): organização material de evento; encenação; • overdose (ingl.): superdose.

FONTE: Adaptado de <https://goo.gl/85NAqc>. Acesso em: 7 fev. 2019.

TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO JURÍDICA

143

3.1.7 Latinismos

O latinismo é a utilização de expressões latinas na linguagem forense. O latim traz ao texto brevidade e clareza. Há várias expressões latinas ligadas ao direito, veja:

• Ab absurdo: a partir do absurdo, pelo absurdo. Fala-se em argumento ab absurdo e não ab absurdum, como se vê em livros de autores renomados.

• Aberratio delicti: desvio do delito; erro na execução de um crime com resultado diferente do pretendido: corresponde ao que diz o povo: "Atirou no que viu e acertou o que não viu."

• Ab initio: desde o início, a partir do início, de início. • Ab irato: num impulso de cólera. • Ad arbitrium: arbitrariamente. • Ad cautelam: para efeito de cautela, de prevenção. • Ad corpus: para o corpo; usa-se na venda de um imóvel sem especificação

de área.• Ad judicia: para o juízo; procuração válida apenas para o juízo. • Ad libitum: segundo a deliberação, vontade, arbítrio.• Ad litem: para a lide. • Ad literam: literalmente. • Ad locum: sem demora, de imediato. • Ad nauseam: exaustivo; diz-se de algo muito pormenorizado. • Ad nutum: sem justificativa. • Ad probatíonem: para prova, determinada formalidade legal exigida só

para prova do ato. • Ad quem: para quem, para o qual.• A fortíori: com maior razão. • Animus: intenção, vontade, propósito. • A quo: procedência (de quem, do qual). A quo designa a primeira

instância judicial, de onde parte um processo ou um pleito, para seguir os seus trâmites; e ad quem designa uma instância superior, a que sobe o processo.

• Bis in idem: duas vezes sobre a mesma coisa; incidência de um mesmo imposto sobre o mesmo contribuinte ou sobre a matéria já tributada.

• Bonafide: boa-fé. • Capito deminutío: perda total ou parcial dos direitos. • Concessa vênia: concedida, suposta a vénia, a permissão, a licença; o

mesmo que data vénia. • Currente calamo: ao correr da pena, elaborado às pressas. • De cujus: o falecido, o testador falecido; a expressão completa é de

cujus successione agitar. • De facto: de fato, segundo o fato. • Dies ad quem: último dia de um prazo.• Ipsis verbis: com as mesmas palavras. • Iter criminis: atos praticados pelo criminoso, necessários à realização

do delito (MEDEIROS; TOMASI, 2004, p. 90).

3.2 A ELOQUÊNCIA

A eloquência, na área do direito, pode ser entendida, e resumida, como sendo a arte de se expressar bem e com clareza.

UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

144

Podemos ainda dizer que a eloquência produz uma comunicação coesa e coerente, com palavras que impactam, atraem e convencem o receptor.

Assim, uma pessoa que possui eloquência é chamada de eloquente, ou seja, esse adjetivo considera que o indivíduo possui grande poder de expressão e persuasão, quer dizer, alguém que possui as qualidades de uma pessoa eloquente, agradável.

Muitas ocupações exigem profissionais eloquentes e ela é uma qualidade, atualmente, necessária em qualquer área do conhecimento humano, mas ela é fundamental desde a antiguidade clássica, no direito.

Finalizamos dizendo que a oratória jurídica é um elemento ativo para o discurso de um bom advogado, juiz, desembargador e demais atuantes na área jurídica, pois essas profissões são baseadas no convencimento de outras pessoas.

Dessa maneira, a eloquência é essencial para passar a mensagem de maneira a entreter o ouvinte, tendo por objetivo a aprovação e a concordância com o discurso pronunciado (GOLD; SEGAL, 2007).

3.3 A SEMIÓTICA E SUA RELAÇÃO COM O DIREITO

Antes de correlacionarmos a semiótica com o direito, devemos compreender que a semiótica lida com os signos, sinais e linguagens. Já mencionamos na Unidade 1 que é necessário reconhecermos que o processo comunicativo possui seis componentes que realizam seis respectivas funções, que são:

QUADRO 5 – COMPONENTES DO PROCESSO COMUNICATIVO

Emissor → Função Referencial ou Denotativa.Receptor → Função Conativa ou Apelativa.

Código → Função metalinguística.Mensagem → Função Referencial ou Denotativa.

Contexto → Função poética.Canal → Função fática.

FONTE: <https://jus.com.br/artigos/58757/algumas-consideracoes-sobre-semiotica-e-o-direito>. Acesso em: 9 dez. 2018.

Dessa maneira, acadêmico, quando a linguagem está no sentido denotativo, significa que está em seu sentido literal, como já tínhamos estudado, ou seja, o sentido denotativo é o sentido real das palavras.

TÓPICO 1 | INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO JURÍDICA

145

Quando a linguagem está no sentido conotativo, significa que ela está sendo utilizada em seu sentido figurado, isto é, os enunciados ganham um novo significado em situações e contextos particulares de uso.

A norma jurídica é uma comunicação que pertence ao discurso normativo e podemos dizer que sua relação está fundamentada nas três áreas de estudo da semiótica.

A semiótica engloba:

QUADRO 6 - ÁREAS DE ESTUDO DA SEMIÓTICA

a) A sintaxe, a parte da semiótica que abrange os problemas preliminares da transmissão da informação, como código, canais, capacidade etc. Ela estuda as relações dos signos entre si. Dentro da perspectiva jurídico-linguística, visará as relações das normas entre si. b) A semântica, que é porção da semiótica que se interessa pela significação dos símbolos da mensagem, de modo a estudar as relações entre os signos e os objetos extralinguísticos. Na visão jurídico-linguística, irá investigar as relações entre a norma e a realidade. c) A pragmática, área da semiótica que cuida dos efeitos dos comportamentos da comunicação, das relações entre os signos e os seus intérpretes e usuários, do discurso e seus agentes. No campo jurídico os estudiosos expõem que ela visará ao discurso normativo e seus usuários; o editor da norma (órgão competente) e o destinatário dela.

FONTE: <https://jus.com.br/artigos/58757/algumas-consideracoes-sobre-semiotica-e-o-direito>. Acesso em: 9 dez. 2018.

Assim, acadêmico, a semiótica tem relação com o campo do direito no que se refere ao relato e cometimento (é uma informação sobre a informação), sob uma visão pragmática, que são duas esferas de comunicação.

Sob o ângulo da semiótica a norma jurídica pode ser vista da seguinte forma:

UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

146

Validade sintática: expressa uma relação das normas entre si.

Validade semântica: exprime uma relação entre a norma e os fatos sociais, que são objetos extralinguísticos.

Validade pragmática: revela a relação entre a norma e seus usuários.

FONTE: <https://jus.com.br/artigos/58757/algumas-consideracoes-sobre-semiotica-e-o-direito>. Acesso em: 9 dez. 2018.

QUADRO 7 – NORMA JURÍDICA SOB O ÂNGULO DA SEMIÓTICA

Você sabe, acadêmico, o que é um objeto extralinguístico? Pois bem, ele está relacionado ao conhecimento de mundo, ou seja, às vivências e a todas as experiências dos envolvidos em uma situação comunicativa.

DICAS

147

Neste tópico, você aprendeu que:

• A troca de informações entre duas ou mais pessoas chama-se comunicação interpessoal, e esta troca objetiva motivar ou influenciar um determinado comportamento.

• A linguagem jurídica é um linguajar técnico e, por vezes, os termos não são entendidos pelo público envolvido e interessado nas decisões e/ou investigações do Poder Judiciário.

• O jargão é um estilo de utilizar certos termos, ou de falar, utilizados por pequenos grupos, ou seja, grupos particulares, que são unidos por alguma profissão específica.

• A estrutura frásica envolve a clareza das ideias.

• O texto jurídico evidencia-se por construções complexas e por um elevado grau de intelectualidade da língua.

• Os vocábulos unívocos são os que contêm um só sentido.

• Os vocábulos equívocos são os plurissignificantes, ou seja, eles têm mais de um significado, geralmente consegue-se identificá-los pelo contexto.

• Os vocábulos análogos são os que não têm um radical comum, logo pertencem a uma mesma linhagem ideológica ou são apresentados como sinônimos.

• Os parônimos são os termos de sentido distinto, porém semelhantes na escrita e na pronúncia.

• O arcaísmo é um termo que não é mais utilizado, por exemplo, coita para dizer dor; ou, ainda, podemos dizer que o arcaísmo é um vício que versa em empregar expressões antiquadas.

• O estrangeirismo é a influência de uma língua em outra.

• O latinismo é a utilização de expressões latinas na linguagem forense.

• A eloquência, na área do direito, pode ser entendida e resumida como sendo a arte de se expressar bem e com clareza.

• A semiótica tem relação com o campo do direito no que se refere ao relato e cometimento.

RESUMO DO TÓPICO 1

148

1 Revisite suas anotações e escreva o conceito e um exemplo de:

a) ESTRANGEIRISMO: Exemplo: b) ARCAÍSMO: Exemplo:

c) LATINISMO: Exemplo: d) PARÔNIMOS: Exemplo:

AUTOATIVIDADE

149

TÓPICO 2

O DISCURSO JURÍDICO

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Compreendemos, acadêmico, que o Direito, e o mundo que o engloba, tem como função controlar os comportamentos da nossa sociedade. Ele se apresenta por meio de uma linguagem: a linguagem jurídica.

Além disso, o Direito, através da linguagem jurídica, foca-se em compreender a realidade social, seja ela geral ou específica, para ordenar os comportamentos dos indivíduos, em dado momento histórico, por meio de normas jurídicas.

Segundo o que nos ensina Maria Helena Diniz,

[...] o fundamento das normas está na exigência da natureza humana de viver em sociedade, dispondo sobre o comportamento de seus membros. [...] as normas são fenômenos necessários para a estrutura ôntica do homem, ou seja, as normas jurídicas nada mais são que os elementos indispensáveis à composição da própria vida humana, com a intenção de estabelecer padrões de conduta social aceitável (DINIZ, 2009, p. 301).

Assim, a linguagem muito diz respeito à relação com o homem e a sua cultura, pois a linguagem une o grau de desenvolvimento de uma sociedade e o conhecimento das particularidades de determinada sociedade.

Partindo disso, vamos explorar mais um tópico de ensino, intitulado o discurso jurídico, que deve ter uma linguagem organizada e dirigida a um fim, ele tem como propósito a maior persuasão possível.

Vamos em frente! Continue estudando!

2 ENUNCIAÇÃO E DISCURSO JURÍDICO

Conforme já conversamos, o pensamento sob uma ótica jurídica tem como aliada a linguagem. E, de certa maneira, o Direito também se constitui pela linguagem.

É claro que a linguagem e, também, a enunciação e o discurso, não são os únicos instrumentos que compõem o universo jurídico, mas fazem com que a comunicação do conhecimento jurídico aconteça de maneira clara e eficaz.

150

UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

O pensamento jurídico, acadêmico, encontra na linguagem a exteriorização, pois ele necessita da articulação linguística para que todos os elementos que o compõem possam ser entendidos. Assim, o Direito depende do emprego adequado da palavra. Em virtude disso, estudar a linguagem jurídica torna-se essencial aos futuros operadores do Direito.

Sobre o discurso jurídico podemos dizer que ele faz a ligação entre o homem, a lei e as instituições. É através do discurso jurídico que se convence e angaria opiniões. É por esse motivo que esse discurso necessita apresentar uma linguagem de aceitação simples e organizada, para que o orador alcance maior poder social.

Desta maneira, na medida em que o discurso jurídico cumpre sua finalidade, ocorre uma construção de eloquência e os participantes, estejam eles envolvidos como produtores ou coprodutores da matéria em questão, farão uma leitura envolvente, que resultará êxito.

Percebemos, acadêmico, que a argumentação jurídica está curvada ao direito positivo. Por exemplo, em um julgamento, a pessoa ré vai contra sua vontade, há nesse espaço de tempo o discurso e, para as partes, não interessa se a decisão é justa, cada parte quer ver o seu lado satisfeito e vencedor. Já na academia tem-se mais liberdade de expressão e pensamento para que se possa explorar essa questão.

2.1 O QUE É UM ENUNCIADO?

De maneira geral, podemos dizer que o enunciado é a maneira de comunicação verbal real, na qual as mais variadas formas de expressividade linguística se encontram. Eles podem ser considerados acontecimentos discursivos, ou seja, os enunciados são as unidades de comunicação e de interação entre os indivíduos.

Assim, todos os enunciados provocam efeitos de sentido que só podem ser analisados no contexto de enunciação, e estão sempre relacionados a outros enunciados anteriores e àqueles que ainda estão por vir (DAMIÃO, 2000).

Em termos jurídicos, o enunciado se parece com uma súmula. Sim, acadêmico, a súmula de um Tribunal. Você se lembra que ela consiste no enunciado que registra ou resume o entendimento sobre questões que apresentem polêmicas ou controvérsias na jurisprudência?

Na verdade, o enunciado serve, então, acadêmico, para expressar a direção que determinados julgadores têm acerca de um tema controvertido e/ou contestável, objetivando anunciar a jurisprudência.

TÓPICO 2 | O DISCURSO JURÍDICO

151

Você sabe o que é jurisprudência, acadêmico? Ela é um termo jurídico, que significa o conjunto das decisões, interpretações e aplicações das leis.

DICAS

Partindo disso, compreendemos que os enunciados não possuem o poder da lei, eles não têm uma aplicação obrigatória. Os enunciados têm como objetivo orientar, pois eles apresentam o entendimento do tribunal sobre determinado conteúdo de direito em questão.

2.2 DISCURSO DE DEFESA E DISCURSO DE ACUSAÇÃO

O discurso de defesa e o de acusação, acadêmico, visam entusiasmar o(s) indivíduo(s) que o(s) ouve(m) para influenciar no seu raciocínio, com o objetivo de potencializar o convencimento.

Temos várias maneiras de fazer com que esses discursos aconteçam. Por vezes, são utilizados alguns elementos ou métodos, como a vestimenta, a gesticulação e o convencimento verbal.

O mais importante dos elementos é a fala, e todos os artifícios que a compõem, de modo que se for bem-sucedida e realizada com persuasão, a versão em questão não será confundida e será aceita.

Assim, acadêmico, é através dos discursos da acusação e defesa que as questões, e/ou teses, são apresentadas aos jurados, os quais, após ouvir todas as partes (interrogatório do réu, leitura de peças, oitiva de testemunhas, argumentações sobre as teses da acusação e da defesa, entre outras), têm a função de julgar o réu em culpado ou inocente.

Desta maneira, tanto os discursos de acusação como os de defesa necessitam levar em conta a argumentação, a eloquência, a linguagem e, também, a teatralização.

2.3 A TÉCNICA DA REFUTAÇÃO

Uma refutação, acadêmico, é um motivo que vai contra uma premissa, decisão ou uma conclusão. A refutação de uma refutação é também conhecida e chamada como retribuição.

152

UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

Para que uma refutação aconteça, há diversos mecanismos de aplicação, por exemplo:

• Deve-se estabelecer o método para que a refutação seja empregada, ou seja, uma estrutura lógica necessita ser desenvolvida para que uma conclusão razoável adversa seja explanada. Assim, para efetuar uma boa refutação, determinar os termos, propor significados a uma nova compreensão fazem-se necessários para que se possa alcançar algo satisfatório.

• Quando há mais de uma pergunta, dividi-las em duas é uma boa técnica a ser aplicada, como em: Já golpeou seu vizinho? Ainda continua fazendo?

• Apresenta-se argumentos de que tal questão é uma generalização um tanto duvidosa e perigosa por não se conhecer todos os juízos.

Agora, vamos ler e conhecer um exemplo na prática:

QUADRO 8 – COMO REFUTAR UM ARGUMENTO

“A reforma previdenciária diminui os custos estatais. Diminuir os cus-tos estatais é bom para a sociedade em geral. Por isso, a reforma é algo bom”.

O que há de errado nesse argumento?

O primeiro ponto é destacar o que cada termo significa. Por exemplo: “Reforma Previdenciária”. Qual reforma? O que é Reforma Previdenciária? Em que país, em que contexto?

Segundo ponto é: “Diminui os custos estatais”. Será? Quais custos?

Analisamos também a segunda premissa:

Diminuir os custos estatais é bom para a sociedade em geral. Será? Quando se tem uma população pobre, será que a diminuição de investimento em educação e saúde seria interessante para a sociedade em geral?

“A reforma é algo bom”

A conclusão que se seguiu é terrível em todos os gêneros. Primeiro, não se sabe qual reforma e em que país se diz; depois, que não necessariamente diminuir custos é algo bom (Custo pode ser um investimento que retornaria em longo prazo, por exemplo). O argumento, em si, pode até ser válido, mas é fraco, inconsistente.

Experimente trocar a palavra reforma previdenciária por algo “semelhante”. Veja se faz sentido com outras palavras.

TÓPICO 2 | O DISCURSO JURÍDICO

153

Basicamente, refutar argumentos é uma tarefa que aos tempos se torna mais consistente e mais natural. Vale lembrar que um bom diálogo é construtivo e os recursos de refutação não servem apenas para “destronar” os outros, mas sim para se chegar em uma conclusão melhor.

FONTE: <https://medium.com/@wolflars/como-refutar-um-argumento-d731acd6a6ab>. Acesso em: 9 dez. 2018.

3 REDAÇÃO JURÍDICA

A redação jurídica, acadêmico, é tão importante quanto a fala. Há quem diga que até mais, pois como fica registrada, tudo o que é dito precisa ser cuidadosamente revisado.

Nesta seção, trataremos da escrita jurídica, bem como seus macetes. Vamos adiante.

3.1 A ESTRUTURA DO PARÁGRAFO

O parágrafo é a estrutura que mantém o texto além da palavra e da frase. Ele nada mais é do que o bloco que alavanca as ideias. O parágrafo deve ser muito bem planejado, pois é ele que compõe toda a redação jurídica e é responsável, além da qualidade do texto, pela sua estética.

Sobre a estrutura do parágrafo, Petri (2016) cita Othon M. Garcia em seu livro Comunicação em Prosa Moderna (1988, p. 206):

Em geral, o parágrafo-padrão, aquele de estrutura mais comum e mais eficaz - o que justifica seja ensinado aos principiantes -, consta, sobretudo na dissertação e na descrição, de duas e, ocasionalmente, de três partes: a introdução, representada na maioria dos casos por um ou dois períodos curtos iniciais, em que se expressa de maneira sumária e sucinta a ideia-núcleo (é o que passaremos a chamar daqui por diante de tópico frasal); o desenvolvimento, isto é, a explanação mesma dessa ideia-núcleo; e a conclusão, mais rara, mormente nos parágrafos pouco extensos ou naqueles em que a ideia central não apresenta maior complexidade.

O tópico frasal é, portanto, a ideia que o parágrafo busca transmitir em sua essência. De acordo com Garcia, 60% dos parágrafos trazem em sua introdução o tópico frasal, ou seja, a introdução do que será desenvolvido ao longo da tessitura do restante do texto.

Mas, afinal, por que é importante expor o tópico frasal do parágrafo logo no início do desenvolvimento da ideia? Justamente pelo fato de que o tópico

154

UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

frasal é a garantia de que o texto terá objetividade, clareza e coerência necessárias para seguir adiante. A apresentação do tópico frasal permite ao leitor saber por onde ele andará fazendo com que, desta maneira, as digressões impertinentes não ocorram (PETRI, 2016).

Vamos, agora, descrever o que é o tópico frasal. Ainda de acordo com Petri (2016), trata-se de apresentar a ideia sintetizada no início do parágrafo para depois desenvolvê-la. Neste parágrafo, apenas as ideias coerentes com o que foi apresentado no tópico deverão fluir, caso contrário, será fuga do tema. A cada nova ideia, deverá ser escrito um novo parágrafo.

A partir desta técnica, a organização será mais consistente, sendo a dispersão evitada. Esta dispersão é comum, haja vista a quantidade de ideias que vêm à nossa cabeça quando estamos escrevendo sobre determinado tema. Além do mais, esta técnica ainda auxilia o autor a fazer com que o texto flua.

Vamos ver um modelo de parágrafo bem estruturado?

FIGURA 2 - PARÁGRAFO

FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/12570028/>. Acesso em: 7 dez. 2018.

Observe que a primeira sentença se trata da apresentação do tópico frasal: “Até fins da década passada, possuir um tapete oriental no Brasil era privilégio de alguns poucos colecionadores particulares”. Aí está o assunto que será discutido no parágrafo.

TÓPICO 2 | O DISCURSO JURÍDICO

155

Na sentença seguinte, ele explica por que o assunto passou a ser pauta de discussão: “Com a abertura das importações e consequentemente diminuição das taxas, a oferta dessas peças aumentou significativamente nos anos 90, provocando uma crescente curiosidade sobre o assunto”.

Por fim, ele conclui a ideia justificando o motivo pelo qual o trabalho será escrito: “Por isso, e pelo quase total desconhecimento dos consumidores brasileiros sobre a matéria, nos sentimos compelidos a elaborar este trabalho”.

Perceba que se o autor quiser prosseguir com sua ideia, ele, certamente, fará uma continuação do texto em outro parágrafo. Este, teoricamente, está concluído. Assim, o leitor conseguiu compreender a ideia que o autor quis transmitir a partir deste tópico frasal, que consiste em explicar por que ele se sentiu na obrigação de escrever o texto.

Resumindo, escrever um texto coerente é como embalar peças delicadas para a viagem: cada uma das peças (palavras) deve ser cuidadosamente embrulhada e colocada em um lugar adequando, no qual se encaixe perfeitamente (frase) sem que haja a possibilidade de batidas (incoerência). Já dentro da caixa (texto), as peças precisam chegar perfeitas ao destino (receptor).

Para que a embalagem seja a adequada para cada tipo de peça, são necessárias técnicas básicas, como esta que acabamos de ensinar. Se você conseguir identificar qual é o ponto mais fraco da peça (ambiguidade, por exemplo) e conseguir embalá-la para que não quebre durante o trajeto, você certamente terá feito um excelente trabalho.

Quando tratamos de textos com teor jurídico, devemos, conforme já foi mencionado na Unidade 1, evitar os exageros e os excessos, usar palavras fáceis, de compreensão descomplicada, elaborar frases curtas e, quando na elaboração do parágrafo, ser fiel ao tópico frasal. Desta maneira, você estará aplicando técnicas simples, mas que possuem a eficácia suficiente para que seu texto jurídico seja perfeito.

DICAS

Um profissional que tenha uma maior desenvoltura na elaboração do seu trabalho, certamente será melhor renomado porque sempre conseguirá melhores resultados.

Os textos jurídicos, portanto, precisam ser mais bem escritos para que a sociedade em geral consiga compreendê-los.

156

UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

3.2 COMO REDIGIR UM BOM TEXTO JURÍDICO

Já conversamos muito acerca de como escrever bons textos jurídicos, não é mesmo, acadêmico? Mas vamos ainda tratar mais um pouco deste assunto, porque ele realmente é de extrema importância.

Na Unidade 1 demos algumas dicas importantes para a elaboração dos textos jurídicos, você lembra? Vamos retomá-las de maneira mais pontual agora. Primeiramente, gostaria de lembrá-los de uma das regras de ouro que tratamos:

QUADRO 9 - DICA DE OURO PARA TER SUCESSO NAS NEGOCIAÇÕES A PARTIR DA COMUNICAÇÃO

ANTES DE ESCREVER É PRECISO PENSAR

O pensamento sobre o que você pretende escrever deve estar estruturado na sua mente antes que você o escreva. Coloque no rascunho. Esta é uma das maneiras mais eficazes de desenvolver bons textos.

Sabe-se que na correria do cotidiano é difícil conseguir sentar para que possamos organizar nossa escrita, até porque existe uma grande dificuldade em organizar esse pensamento em nossa própria mente. Isso ocorre porque muitas são as informações que circulam no dia a dia e contaminam nossas ideias, fazendo com que se torne difícil organizá-las.

Esta contaminação que sofremos a partir de outras ideias nos leva a escrever de maneira impulsiva, fazendo com que o texto, para o leitor, se torne desconexo e por vezes até confuso. Lembre-se, acadêmico, em um texto escrito isso não pode acontecer, pois não temos o recurso da fala para suprir essa lacuna, ou seja, não é possível pedir ao escritor esclarecimentos sobre o que ele quis dizer (pelo menos não imediatamente).

Assim, a dica é: coloque no rascunho suas ideias e depois, organize-as. Divida sua ideia principal em várias mini-ideias. Estas mini-ideias seriam, na teoria, seus tópicos frasais. Cada uma delas poderá, depois de organizadas, compor um parágrafo. Esta estratégia certamente fará com que o leitor perceba que sua ideia tem uma sequência lógica de raciocínio, e que não se trata de um emaranhado de ideias desconexas.

FONTE: Adaptado de Gross (2013)

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Sempre antes de veicular seu texto para onde quer que ele seja publicado, leia-o e pergunte-se: este texto está claro para meu leitor? Outra dica é dar o texto para que outra pessoa o leia. Se a resposta for: “sim, está claro”, prossiga. Agora, caso a resposta seja “não consegui entender” ou “fiquei com algumas dúvidas”, retome e verifique onde foi que seu texto se perdeu.

IMPORTANTE

Além destas dicas para a elaboração de um texto coerente, ainda há outras questões que precisam ser observadas antes da veiculação de um texto jurídico. Damião e Henriques (2000) trazem algumas dicas importantes para a elaboração de textos bem-sucedidos.

Vamos a elas?

• Correção: Um texto bem escrito, além de ter um conteúdo com informações relevantes, precisa também ser corretamente escrito. Obedecer às normas gramaticais da língua portuguesa é elegante e demonstra responsabilidade.

• Concisão: este item nada mais é do que não encher linguiça. Diga o que é preciso sem rodeios e tudo se tornará mais fácil, pois a concisão e a objetividade caminham juntas.

• Clareza: esta habilidade consiste em não obscurecer as ideias quando postas no papel. Deixe claras as suas intenções.

• Precisão: cada palavra deve encontrar-se no lugar certo. Lembre-se da embalagem das peças.

• Naturalidade: não force a barra. Seja espontâneo ou seu texto não passará de um amontoado de palavras chatas que ninguém gostará de ler.

• Originalidade: use seu próprio estilo ao escrever. Não seja um mero repetidor de ideias.

• Nobreza: não use gírias, termos chulos ou excessos de jargões em seu texto. Seja nobre em suas palavras, afinal, a língua portuguesa nos fornece muitas riquezas.

• Harmonia: equilibre o texto em informação + leitura prazerosa + diversão.

Acadêmico, escrever não é uma tarefa simples, mas certamente é muito gratificante. Cada minuto dedicado à escrita vale a pena. Quanto mais prática, melhores serão seus resultados na busca da escrita perfeita.

Leia, aprimore-se, esforce-se. Seja o melhor.

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UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

3.3 A ELABORAÇÃO DAS PEÇAS JURÍDICAS

Caro acadêmico. A escrita jurídica, em sua grande maioria, resume-se à elaboração de peças processuais (ou peças jurídicas). Em linhas gerais, elas são o texto que embasará o processo. As peças devem ser escritas, sempre em observância à correção, concisão, clareza, precisão, naturalidade, originalidade, nobreza e harmonia (vimos cada um deles anteriormente).

A linguagem na elaboração das peças jurídicas deve ser positiva e sem muitos adornos, tendo como foco descrever exatamente o seu objetivo. Uma dica que pode ser valiosa na hora de escrever a peça jurídica e que ainda não foi mencionada por aqui é: não opine em demasia. Esteja atento e mantenha-se focado a estas técnicas de redação, pois elas devem ter foco em normas estabelecidas pelo direito.

O estilo de escrever um texto pessoal, como um artigo, por exemplo, não deve ser confundido com a técnica. Vamos conhecer uma peça jurídica?

QUADRO 10 – MODELO DE PEÇA JURÍDICA

Modelo de peça jurídica referente a Pedido de Realização de Perícia em Veículo Envolvido em Acidente

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA .........ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE .........

AUTOS:

Fulano de Tal, já qualificado nos Autos de AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS em epígrafe, que lhe move ...., através de seu advogado ao final firmado, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, expor e re-querer o que segue:

Causou-nos espécie que o procurador do autor, em sua manifestação acer-ca da peça contestatória, tenha usado termos como: "alegações infantis" "dignas de discussões entre pessoas que não podem ser levadas a sério", "desonestidade".

O nobre profissional, então procurador do autor, com décadas e décadas de exercício profissional, parece nunca ter ouvido falar em ética profissional e respeito, bastante comum entre aqueles que militam não só na advocacia, mas no âmbito em geral.

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As impugnações e as alegações procedidas à peça contestatória não procedem. Note-se que, o autor ao manifestar-se acerca do demonstrativo, menciona que a média lá apresentada alcança o valor de R$ 35.000,00, maior que o orçamento. Mais uma vez demonstrada está a impossibilidade dos valores pleiteados, pois os demonstrativos de preços efetuados pelo requerido referem-se à aquisição de veículos, não podendo sequer de longe serem comparados com os valores exorbitantes apresentados pelo autor para conserto.

Novamente repita-se que os orçamentos anexados pelo autor à peça inicial não constam da autorização para a execução dos serviços, não podendo servirem os mesmos de base de cálculo para os gastos havidos, inobstante as ementas transcritas na manifestação.

O valor pretendido para conserto ultrapassa o valor de um carro que está à venda no mercado.

No que se refere ao valor de R$ 35.000,00, apresentado pelo autor, trata-se do custo de um automóvel Uno zero KM, com ágio.

Vale lembrar ao autor que estamos tratando de um Fiat Uno ano 2010 e não um Fiat Uno ano 2018, cujo modelo e características são totalmente diversos.

Desta forma, o parâmetro usado nas argumentações do autor parece estar um pouco distante da realidade fática.

O próprio autor no final de sua manifestação assim admite:

"A Autora mantém uma pequena oficina para resolver problemas mecânicos dos veículos táxi e para efetuar pequenos reparos."

Para que se possa esclarecer de uma vez por todas quais foram os reais e efetivos gastos que o autor possuiu para com o conserto de seu veículo, requer o requerido que o MM. Juiz determine a autorização para a execução dos serviços e a juntada da Nota Fiscal, onde discrimina as peças efetivamente substituídas, assim como o valor da mão de obra necessária à época.

Segundo o autor, em sua manifestação, não houve necessidade de troca de (descrição dos materiais).

Desta forma, tendo em vista que o abalroamento aconteceu na parte traseira do veículo, imprescindível se faz que Vossa Excelência determine uma perícia no automóvel objeto da ação a fim de que se verifique se as

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UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

peças trocadas foram as necessárias e devidas, não obstante o veículo já se apresentar consertado.

Diante do exposto, espera o requerido seja deferida a perícia e a juntada dos documentos pleiteados, sob pena de acarretar cerceamento de defesa.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Local, 00 de fevereiro de 0000Fulano de Tal, Advogado OAB/00000000

FONTE: <https://www.centraljuridica.com/modelo/298/peticao/pedido_de_realizacao_de_pericia_em_veiculo_envolvido_em_acidente.html>. Acesso em: 6 fev. 2019.

Perceba que a peça está explicando o que ocorreu e, mesmo em uso de inúmeros termos técnicos, é possível compreender do que se trata, não é mesmo? Há alguns sites, como o <http://www.jusbrasil.com.br>, por exemplo, que trazem inúmeros modelos de peças para cada ocasião.

Damião e Henriques (2000) mostram o uso de alguns verbos que podem auxiliar na redação das peças. Vamos a eles:

VERBO QUANDO USAR

Propor ou requerer

Deve ser utilizado na Petição Inicial, reconvenção, oposição e embargos à execução.

Apresentar ou oferecer

Deve ser utilizado na contestação, na apresentação do rol de testemunhas, na apresentação de quesitos e nas contrarrazões.

Arguir Deve ser utilizado nas exceções e preliminares.

Interpor Deve ser utilizado para os Recursos.

Impetrar Deve ser utilizado exclusivamente em: mandado de segurança; habeas datas; habeas corpus, mandado de injunção, que são ações mandamentais.

Opor Deve ser usado para os Embargos, nos quais não há mudança de hierarquia do grau de jurisdição.

FONTE: Adaptado de Damião e Henriques (2000)

ATENCAO

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Outro cuidado que deve ser tomado ao escrever peças é para que não haja a contradição nas alegações, pois caso isso seja comprovado, o pedido poderá ser anulado antes mesmo de ir a julgamento. Desta maneira, ao elaborar uma peça processual, tenha em mente o seguinte silogismo: “a partir de determinados fatos (premissa menor), há uma dada situação jurídica (premissa maior), razão pela qual quero determinada providência jurisdicional e o pedido (conclusão)” (DAMIÃO; HENRIQUES, 2000).

Resumindo, para um bom texto jurídico, é preciso que o advogado (ou profissional do direito) tenha em mente que deve usar linguagem clara, delinear apenas os fatos que são importantes, usar uma ideia para cada parágrafo (lembre-se do tópico frasal) e lembrar-se de consultar um manual para conferir a legislação, a doutrina e a jurisprudência corretas.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• O discurso jurídico faz a ligação entre o homem, a lei e as instituições. É através do discurso jurídico que se convence e angaria opiniões.

• O enunciado é a maneira de comunicação verbal real, na qual as mais variadas formas de expressividade linguística se encontram.

• O discurso de defesa e o de acusação visam entusiasmar o(s) indivíduo(s) que o(s) ouve(m) para influenciar no seu raciocínio, com o objetivo de potencializar o convencimento.

• A redação jurídica é muito importante porque ela fica registrada.

• O parágrafo é a estrutura que mantém o texto além da palavra e da frase.

• O parágrafo é o bloco que alavanca as ideias e deve ser muito bem planejado.

• O tópico frasal é a ideia que o parágrafo busca transmitir em sua essência.

• Cada parágrafo deve trazer apenas um tópico frasal.

• É preciso pensar e organizar antes de escrever.

• Coloque no rascunho suas ideias antes de escrevê-las.

• A escrita jurídica resume-se à elaboração de peças processuais (ou peças jurídicas).

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AUTOATIVIDADE

1 Assinale a alternativa correta quanto à linguagem jurídica:

a) ( ) É através dela que se visa compreender a realidade social para ordenar os comportamentos dos indivíduos por meio de normas jurídicas.

b) ( ) É através dela que se visa compreender a realidade individual das pessoas para ordenar os comportamentos sociais por meio de normas empresariais.

c) ( ) É através dela que se visa respeitar a realidade social para liberar os comportamentos dos indivíduos por meio de normas jurídicas.

d) ( ) É através dela que se visa impor uma realidade social para classificar os comportamentos dos indivíduos por meio de normas jurídicas.

2 Sobre discurso de defesa e o de acusação, analise as sentenças e marque V para as verdadeiras e F para as falsas:

( ) A partir do discurso de defesa e acusação ocorre o julgamento. ( ) O discurso de defesa e o de acusação devem ser entusiasmados. ( ) A argumentação não é necessária para o discurso de defesa. ( ) Teatralização não se aplica aos discursos de defesa e acusação.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a resposta correta:

a) ( ) V – F – F – V. b) ( ) F – V – V – F. c) ( ) V – V – F – F. d) ( ) F – F – V – V.

3 A técnica de refutação consiste em:

a) ( ) Rejeitar uma pessoa. b) ( ) Não aceitar um advogado.c) ( ) Desrespeitar o magistrado. d) ( ) Ir contra uma premissa, decisão ou conclusão.

4 Um parágrafo bem estruturado consiste no desenvolvimento de:

a) ( ) Uma introdução. b) ( ) Um tópico frasal. c) ( ) Uma conclusão. d) ( ) Um relatório.

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5 Sobre as peças jurídicas, analise as sentenças e marque V para as verdadeiras e F para as falsas:

( ) Elas podem ser chamadas de peças processuais. ( ) Palavras em latim tornam a peça mais convincente. ( ) Elas precisam ser rebuscadas e usar de juridiquês. ( ) É necessário clareza e concisão para elaborá-las.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a resposta correta:

a) ( ) V – F – F – V. b) ( ) F – V – V – F. c) ( ) V – V – F – F. d) ( ) F – F – V – V.

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TÓPICO 3

ORATÓRIA FORENSE

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Conforme é do seu conhecimento, acadêmico, já estamos trabalhando com a redação de peças jurídicas há algumas seções desta Unidade 3, correto? Assim sendo, vamos agora a mais um tópico que trabalhará algumas questões relacionadas a este assunto.

Vamos relembrar o que são as peças jurídicas? São os textos utilizados para atividades do cotidiano jurídico, como processos, autuações, embargos e outros. As peças jurídicas são específicas, portanto, muitas vezes será necessário da ajuda de um bom dicionário para compreendê-las na íntegra.

Para que você possa compreender o que as peças jurídicas querem, quando escritas, é necessário que você sempre leia bons textos da área e mantenha-se sempre informado, afinal de contas, a leitura é uma das principais maneiras de adquirir vocabulário.

Iniciaremos com os aspectos linguísticos e redacionais das peças jurídicas. Vamos adiante.

2 ASPECTOS LINGUÍSTICOS E REDACIONAIS DE PEÇAS JURÍDICAS

Acadêmico, muitas são as dicas que você já leu acerca de como escrever bons textos jurídicos, não é mesmo? Aqui, focaremos nos textos (tanto orais quanto escritos) de cunho forense. Trouxemos o conteúdo disposto em tópicos porque acreditamos que é uma maneira mais tranquila de ler, não é mesmo?

Para esta seção, selecionamos para você um texto em forma de manual desenvolvido pelos procuradores da República Gustavo Torres Soares e Bruno Costa Magalhães. São 23 tópicos importantes que você deve atentar para a elaboração de textos forenses. Vamos conhecê-los e, ao longo da escrita, conversaremos sobre cada um deles.

UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

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QUADRO 11 – DICAS PARA MELHORAR A QUALIDADE DE ESCRITA DE PEÇAS JURÍDICAS

Dica número 1: um bom texto é simples, claro, objetivo e gramaticalmente correto.

Simplicidade: embora obediente à língua culta, seu texto deve ser acessível, com o mínimo de erudição possível, por exemplo, ao invés de outrossim, use também.

Esta dica já estudamos, mas vale ressaltar. Seja simples e evite os vícios de linguagem jurídica (lembra do juridiquês?)

Dica número 2: fuja da ambiguidade para não correr o risco de apresentar dupla interpretação no seu texto, não seja irônico e não use meias-palavras.

Dica número 3: os juízes e tribunais não têm muito tempo, por isso, opte por textos curtos e certeiros.

Aqui, é a dica da concisão: não encha linguiça.

Dica número 4: a correção gramatical é o ideal a todos os textos e, infelizmente (ou felizmente), a única maneira de aprender é lendo.

Dica número 5: na margem esquerda, o espaço deve ser de quatro centímetros para facilitar a leitura na hora de virar a página.

Dica número 6: qualquer destaque no texto, seja ele CAIXA ALTA, negrito, sublinhado, itálico ou texto recuado, deve ser usado com moderação. Você lembra do que dissemos na Unidade 1?

Destacar tudo é o mesmo que não destacar nada. Mas afinal, o que é necessário destacar na peça jurídica? O cabeçalho (nº do processo etc.), os itens e subitens da petição, a(s) palavra(s)-chave na conclusão de tese desenvolvida na petição, o nome da demanda proposta ou ato processual praticado (ação civil pública, denúncia, promoção de arquivamento etc.), o nome das partes envolvidas; não necessitam de destaque os nomes de testemunhas, juízes, tribunais ou autores.

Cuide também quando for usar as aspas. Elas podem evidenciar ironia, trocadilho, citação, ambiguidade proposital, grande excepcionalidade, ditado popular, frase-feita ou estrutura rígida de palavras. Caso não seja nenhum dos casos anteriores, o uso é inadequado.

Dica número 7: Já no início da manifestação, seja direto. “Trata-se de requerimento de devolução de valor indevido...” ou “O acusado requer, na f. 35, autorização judicial para visitar o filho...”. No final, não é preciso escrever “Nestes termos, pede deferimento”, pois é lógico que se há uma petição, o desejo é de deferimento.

TÓPICO 3 | ORATÓRIA FORENSE

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Dica número 8: Nos textos jurídicos, imediatamente após qualificar o(s) acusado(s), narre com base nas informações já obtidas a(s) conduta(s) penalmente típica(s) imputada(s) a ele(s), citando as causas de aumento e as circunstâncias agravantes, respondendo: quem, quando, onde, como, o que, por que, com que, com quem, para que, contra quem... e tudo o mais que puder ajudar.

Dica número 9: contextualizar a peça é fundamental, pois ela é única. Mesmo que de maneira sucinta, contextualize. Caso a pessoa que for ler sua peça precisar consultar outro documento para entendê-la é porque não ficou clara. O site citado traz o seguinte exemplo:

Evite usar: “O Ministério Público Federal, em atendimento ao despacho de f. 145 e considerando o ofício de f. 143, reitera sua manifestação de f. 141, para que seja reiterado o ofício de f. 139”. Este tipo de fala apenas fará com que o leitor tenha que procurar leis e mais leis para compreender.

Prefira uma fala assim: “O Ministério Público Federal, em atendimento ao despacho de f. 145, informa que, segundo o ofício de f. 143, emitido pela Receita Federal do Brasil em Guarulhos, o parcelamento da dívida consolidada no procedimento administrativo nº 10830.005902/2006-10, em nome da sociedade empresária PREGOS & BROCAS LTDA. está sendo regularmente cumprido. Por isso, o MPF aguarda a vinda de novas informações sobre o cumprimento do parcelamento; caso elas não sejam trazidas aos autos em três meses, requer, desde já, para esse fim, a expedição de ofício requisitório à Receita Federal do Brasil em Guarulhos. Com a resposta, aguarda-se nova vista, para manifestação”.

Você deve estar se perguntando: mas e a concisão? Não é para escrever textos curtos? Sim, mas neste caso, tudo o que precisava ser dito foi dito, sem meias-palavras. Neste caso, não é “encher linguiça”, mas sim, facilitar o texto para quem o lê. Não ser conciso quer dizer escrever coisas sem a necessidade, o que não é o caso aqui.

Dica número 10: A abreviação para a palavra “folha” é “f.”, não importa se no singular ou no plural. Não use “fl.” ou “fls.”. Quanto ao intervalo entre folhas, separe-o por hífen (-), não pela barra (/).Use: Na f. 10; nas f. 10-12.

Dica número 11: A abreviação de “número” é n. ou nº, não “n.º”.Use: o pedido n. 10.

Dica número 12: Não use adjetivos desnecessários, por exemplo, “o nobre Carlos de Sá”, “o supremo ensinamento do mestre Paulo Miranda”.

UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

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Exceções: quando se fizer referência ao juiz ou tribunal da causa, é comum que, para amenizar a crítica a ser proferida, se use elogio moderado, por exemplo: Digno juiz”, “nobre magistrado”, “douto juízo”, “egrégio tribunal” etc.

Dica número 13: O adjetivo “anexo” concorda com o termo que o rege. As folhas estão anexas. A folha está anexa. O documento está anexo.Os documentos estão anexos.

Dica número 14: A expressão “sendo que” é uma maneira de prolongar uma frase que poderia ter sido encurtada com um ponto. Em vez de dizer “duas vítimas foram mortas no local, sendo que os bandidos fugiram” poderia ter sido dita “duas vítimas foram mortas no local. Os bandidos fugiram”.

Dica número 15: A sigla “etc.” significa “e outros”. Quando, portanto, for usar “etc.”, não use “e” ou vírgula. Use: eles usaram máscaras, toucas, luvas etc.

Dica número 16: Não use nos seus textos o termo “menor”, mas sim “criança” (até 11 anos) ou “adolescente” (entre 12 e 17 anos).

Dica número 17: Use números por extenso, por exemplo, a ligação caiu duas vezes.

Exceções:- Expressões de valores em moeda: R$ 350,00.- Datas: 28/12/2018. - Quantidades superiores a vinte: a ligação caiu 26 vezes.

Dica número 18: Mesmo não sendo necessário escrever valores monetários, quando lhe for exigido, a maneira correta de escrever “R$ 1200,00” é “mil e duzentos Reais”. O uso “um mil e duzentos reais” ou ainda “hum mil e duzentos reais” são formas adotadas para preenchimento de cheques para evitar alterações e estão erradas.

Dica número 19: No caso de medidas precisas de massa, espaço, tempo etc., embora não seja obrigatório, costuma ser útil a redação do numeral arábico e por extenso: “1,254 g (mil, duzentos e cinquenta e quatro gramas)”, “28 m2 (vinte e oito metros quadrados)”, 19h36min (dezenove horas e trinta e seis minutos).

Dica número 20: quando citar passagens do processo, fatos e documentos importantes, mencione sempre as folhas em que está a informação. Isso facilita enormemente o trabalho. Pode ocorrer que, depois do oferecimento

TÓPICO 3 | ORATÓRIA FORENSE

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das denúncias e de outras petições iniciais os números das páginas mudem, portanto, é importante dizer entre parênteses, logo no cabeçalho da denúncia: “Os números de página aqui mencionados se referem à ordenação dada pela Polícia, de modo que poderão ser alterados após eventual repaginação judicial”.

Dica número 21: Preste atenção a esta impropriedade linguística: costuma-se dizer que “o laudo foi anexado/acostado/apensado nas f. 13-17 dos autos”. “Anexar” significa “reunir (o que era independente) a outra coisa, considerada principal”; “acostar” remete a “costas”; e apensar é “juntar como apenso (de outra coisa, considerada principal)”, ou seja: salvo nas situações em que haja realmente a junção de feito principal e feito acessório (de modo que este foi/será anexado/acostado/apensado naquele), prefira dizer que “o laudo foi juntado/inserido/encartado/aposto/alocado nas f. 13-17 dos autos”.

Dica número 22: Segundo a ABNT, a forma correta de se mencionar o município e a unidade da federação é a seguinte: Itajaí, SC (seguida ou não de vírgula), dependendo do contexto, portanto, não use “Itajaí/SC”, “Itajaí/S.C.” ou “Itajaí, Santa Catarina”.

Dica número 23: Todas as páginas das manifestações deverão ser numeradas como o exemplo: “1/5”, “2/5”, “3/5”, “4/5” e “5/5”. Lembre-se: “f. 1/5” significa “página 1, dentro do total de 5”. Já “f. 1-5” significa “da folha 1 à folha 5”.

FONTE: Adaptado de Soares e Magalhães (2015)

Acadêmico, desejamos que você tenha aproveitado ao máximo estas dicas de escrita forense. Agora, iremos ao tópico dedicado à oratória. Vamos adiante que o aprendizado não para.

3 A ORATÓRIA FORENSE

Já sabemos que para a escrita forense, muitas são as dicas, conforme você já estudou, mas, e para a oratória? Quais são as técnicas que devem ser utilizadas para que o advogado convença o tribunal a partir da sua fala? Vamos lá.

Nascimento (2013) traz em seus escritos quais são os principais atributos para que se domine a oratória. Há quem acredite que para ser um bom orador basta dominar o que se está falando, não é mesmo? Ledo engano. Credibilidade, uso da voz, uso do vocabulário, a expressão corporal e a aparência são grandes aliados para que o orador seja bem-sucedido.

UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

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Pode-se dizer que convencer é uma das principais missões do advogado, portanto, fazer com que sua informação seja aceita é uma das metas. É necessário, para tal, estar preparado, caso contrário, corre-se o risco de não convencer ou de ficar “falando sozinho”, sem que ninguém esteja, de fato, ouvindo o que a pessoa que fala tem a dizer.

A fala com naturalidade também é comprovadamente mais bem aceita do que a fala forçada, cheia de floreios. Para que esta técnica dê certo, é preciso, segundo Nascimento (2013), envolver a emoção e demonstrar conhecimento sobre o assunto em pauta.

Observe:

FIGURA 3 - O ADVOGADO

FONTE: <https://www.oversodoinverso.com.br/o-advogado-do-diabo/>. Acesso em: 7 dez. 2018.

A imagem nos faz refletir sobre o fato de que para falar com naturalidade e demonstrar autoridade e conhecimento sobre o assunto, é preciso estudar antecipadamente, treinando, inclusive. O bom orador não pode inventar o conteúdo ou falar sobre o que não conhece, bem como não pode fingir ser o que não é. Caso qualquer uma destas afirmações ocorra, ele estará dando “um tiro no próprio pé”.

O conhecimento é a ferramenta, portanto, para fazer valer a palavra do advogado, assim como sua credibilidade. Caso o júri ou a plateia, quando em uma palestra, perceber insegurança nas suas palavras, haverá descrédito e sua tarefa será descumprida, correndo até o risco de perder clientes (e se for o caso, até o emprego).

TÓPICO 3 | ORATÓRIA FORENSE

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Conversar naturalmente sobre o assunto é, portanto, a principal estratégia para o bem convencer. Ninguém conversa naturalmente sobre algo que o deixa desconfortável, não é mesmo?

Além da segurança e da naturalidade, outro lembrete importante, segundo Nascimento (2013), é a coerência profissional. Mesmo que ainda estagiando, não haverá crédito se você não mantiver dentro e fora do local de trabalho certa postura. A conduta respeitosa, organizada e educada, bem como a responsabilidade com prazos são essenciais para que você constitua a solidez de sua imagem e aumente a credibilidade do seu discurso.

No cotidiano forense a oratória é algo praticável praticamente todos os dias, mesmo quando não se tratar de algum julgamento. Exemplo disso é quando o advogado vai ao gabinete do juiz para despachar um pedido ou petição urgente. Quando chegar ao gabinete, lhe serão dados alguns minutinhos de atenção. Para isso, é preciso dominar a oratória e comunicar exatamente qual é o problema e o pedido, assim como destacar o motivo da urgência do caso.

A arrogância também não é um aliado favorável aos oradores forenses. Se ao entrar na sala de audiências ele deixar transparecer arrogância, a impressão inicial será prejudicial. Desorganização também não é uma aliada favorável. Ao chegar com papéis caindo, amassados, com a gravata mal colocada, solta ou o terno amassado, a impressão que passa é de uma pessoa sem responsabilidade e sem cuidado. Lembre-se: a primeira impressão é a que fica.

Neste próximo tópico, trabalharemos com a formação do orador, a partir de itens que auxiliarão você a trabalhar suas habilidades. Todos nós temos a capacidade de sermos os melhores. Basta querer, se dedicar e ir além. Lembre-se de que enquanto você está descansando, há alguém lutando para ser o melhor.

3.1 A FORMAÇÃO DO ORADOR

“Uma coisa bela persuade por si mesma, sem necessidade de um orador”, já dizia William Shakespeare. Muitas são as características que o bom orador precisa ter para se tornar bem-sucedido, já que é por meio delas que mesmo o mais inexperiente é capaz de discursar bem diante da plateia.

Para além do já tão mencionado conhecimento de causa, ainda há algumas características importantes das quais vale a pena lembrarmos. Vamos a elas?

3.1.1 Modulação da voz

Não há nada mais chato do que uma voz robótica falando ao microfone, não é mesmo? Para ser um bom orador, evite este tom de voz ensaiado. A velocidade e o ritmo constantes também precisam ser observados.

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Uma excelente maneira de ver como você está se saindo é gravar-se falando. Com a facilidade que temos a partir do uso dos celulares, por exemplo, é muito tranquilo falar sobre um assunto e gravar sua própria voz. Depois, é possível identificar os possíveis erros e ver se sua voz está monótona.

Pergunte-se: você gostaria de se ouvir? Por mais feliz que a mensagem seja, por mais conteúdo que ela traga, um tom inadequado pode estragar completamente a mensagem do seu discurso.

3.1.2 Autoconfiança

Confie em si mesmo. Se você foi chamado a palestrar é porque você é bom. O medo da plateia é bem comum, mas pode ser evitado com algumas dicas simples. Uma dessas dicas é conhecer sua plateia. Saiba se estará falando com professores, com médicos, com administradores.

Outro item importante é: treine seu discurso previamente para que não haja inconvenientes. Algumas pessoas, porém, ainda precisam de uma ajuda extra. Há alguns cursos, inclusive on-line, que ajudam a perder o medo e a insegurança na hora de falar ao público.

Uma dica que parece boba, mas que funciona: imagine que você está sozinho no palco. Mentalize que está sozinho, falando com as paredes. Outra dica é imaginar que, naquele momento, você está usando uma máscara e ninguém pode ver seu rosto. Esta é uma dica que ajuda o pânico a ir embora rapidinho.

3.1.3 Empatia

Goste daquilo que você está falando e mostre que gosta. Acredite naquilo que está falando e mostre que acredita. Ao falar sobre um assunto pelo qual é apaixonado, você apaixonará sua plateia por ele. Imagine-se falando sobre seu primeiro amor no auge da sua paixão. Deixe que seus olhos brilhem e você encantará a todos.

Quando você não está seguro sobre o que realmente sabe sobre um assunto, aprofunde-se. Encontre a essência. Somente assim você fará uma apresentação memorável que valerá cada segundo gasto estudando.

3.1.4 Capacidade de síntese

Seja sucinto. Ao fazer isso, seu discurso será bem aceito pelo público. Caso você não saiba como direcionar suas ideias, sua apresentação poderá ficar sem rumo, entediante e confusa.

TÓPICO 3 | ORATÓRIA FORENSE

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Certamente você já ouviu alguma palestra na qual o orador “falou, falou, falou e não disse nada”, não é mesmo? Não deixe que as pessoas tenham essa imagem de você. Prepare-se e seja o melhor.

3.1.5 Bom humor

O bom orador não é mal-humorado. A reação ao bom humor é natural do ser humano, portanto, use-a a seu favor. Quando precisar inserir frases e situações engraçadas em seu discurso, faça-as com entrega e perceba a reação do público.

Não esqueça, porém, de tomar cuidado quando o assunto for delicado, pois o público pode entender de maneira equivocada e enxergar o bom humor como deboche.

3.1.6 O orador na tribuna e o uso do microfone

Além de todas estas dicas, há ainda o tão temido microfone. Muitas pessoas, ao receber em mãos um microfone, simplesmente travam. Quando o uso do microfone é rotineiro esta situação não ocorre, mas quando é algo esporádico, geralmente é isso que acontece.

Seja em situações relacionadas a trabalho ou a eventos particulares, todos nós estamos sujeitos a, algum dia, encarar uma plateia. E junto a ela, o microfone. Você sabe como usar o microfone corretamente? Antes de qualquer orientação, faremos uma breve apresentação de cada um dos microfones existentes, ou pelo menos dos mais comuns quando se trata de apresentações a público.

FIGURA 4 - MICROFONE DE PEDESTAL

FONTE: <https://goo.gl/M7KQzz>. Acesso em: 29 dez. 2018.

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Este microfone fica apoiado em uma base fixa. Geralmente ele pode ser retirado para dar maior mobilidade ao orador.

Cuidado: cuidado ao se aproximar do retorno, pois este é um dos microfones mais suscetíveis à microfonia. Também tome cuidado caso o microfone seja com fio, para não tropeçar.

FIGURA 5 - MICROFONE DE LAPELA

FONTE: <https://goo.gl/vD26TZ>. Acesso em: 29 dez. 2018.

Este tipo de microfone é usado preso à roupa por uma presilha.

Cuidado: ao usar cabelo solto, cuidado para não deixar com que ele fique batendo insistentemente no microfone, causando ruídos desagradáveis.

FIGURA 6 - MICROFONE DE MESA

FONTE: <https://goo.gl/avFrz2>. Acesso em: 29 dez. 2018.

TÓPICO 3 | ORATÓRIA FORENSE

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Este microfone fica sobre a mesa, apoiado em haste flexível.

Cuidado: antes de começar a falar, certifique-se de que o microfone é ajustável, para não ter que ficar esticando o pescoço na hora de falar.

FIGURA 7 - MICROFONE AURICULAR (HEADSET)

FONTE: <https://www.keepsound.com.br/produto/2937/microfone-headset-condensador-cardioide-sem-fio-sm35-tqg-shure.html>. Acesso em: 29 dez. 2018.

Este microfone é ligado a uma caixa presa à cintura, fixado à orelha, de onde sai a haste que vai até a boca e capta o som.

Cuidado: não encoste muito a boca no headset, para que sua voz saia naturalmente.

Dicas gerais para uso do microfone:

• Mantenha uma distância adequada: antes de iniciar sua fala, procure ajustar o microfone a uma altura adequada, para que você não precise se esticar para falar. Também é aconselhável que o microfone não cubra seu rosto. Sua voz não deve sair muito estridente nem muito baixa. Caso seja microfone de lapela, cuide com os cabelos.

• Tenha cuidado com os ruídos emitidos por você: mexer as mãos, mexer em papéis, palmas, bater no peito, estalar a língua, soprar ou respirar com muita intensidade ficam muito evidentes quando no microfone e são absurdamente desagradáveis para o público. Para testar o microfone, diga em voz alta “teste” ou “som”. Jamais dê palminhas no microfone ou assopre.

• Cuidado redobrado com os comentários próximos ao microfone. Já houve casos extremamente constrangedores nos quais o palestrante fez um comentário sobre a roupa de uma mulher pensando que o microfone estava desligado e na verdade não estava. Não é preciso relatar quão constrangedora foi a situação.

• Crie um vínculo com seu público olhando para eles, fazendo brincadeiras, estabelecendo uma conversa. Não fique olhando fixamente para um ponto apenas.

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• Não enrole o fio do microfone enquanto fala. Isso pode causar problemas, também não fique caminhando freneticamente de um lado para outro do palco. As pessoas ficarão cansadas de acompanhá-lo.

• Por fim, evite a microfonia. Como ela ocorre? Quando você envolve com a mão o globo do microfone como se quisesse tapá-lo ou quando você passa na frente das caixas de retorno (caixa de som). A microfonia é extremamente desagradável para quem ouve e pode tirar sua concentração.

3.2 A VOZ, A DICÇÃO E A PRONÚNCIA

Nesta etapa do seu material, estudaremos um pouco mais sobre a voz, a dicção e a pronúncia das palavras. Estas são as matérias-primas do orador, você concorda? Sem palavra, não há discurso.

O entendimento também faz parte do discurso, pois sem entendimento não há compreensão. Para tal, cada palavra que está sendo pronunciada por você precisa ser compreendida pelo seu público. Para que esta compreensão ocorra, é preciso uma boa combinação entre voz, dicção e pronúncia. Vamos aos conceitos:

• Voz: A voz do ser humano é mais do que uma produção de som. Ela é a principal forma de comunicação utilizada, por ser rápida e natural. A voz faz parte da nossa personalidade e é um meio essencial de atingir o outro. Ela é produzida quando as pregas vocais vibram pela passagem do ar. Ao falar ou cantar, nosso cérebro envia mensagens aos músculos que controlam as pregas vocais para que haja o controle da aproximação e do afastamento das pregas vocais, fazendo com que diferentes entonações saiam.

FIGURA 8 - AS PREGAS VOCAIS

FONTE: Adaptado de <https://goo.gl/5fuwPT>. Acesso em: 7 dez. 2018.

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• Dicção: consiste na maneira de falar com a articulação e modulação corretas. Para aqueles que desejam se expressar melhor, é algo que deve ser observado. Quando o orador alcança a dicção, sua expressão oral torna-se mais compreensível, aumentando a eficácia da fala pelo fato de ele ser melhor compreendido.

• Pronúncia: é a maneira que utilizamos para pronunciar os sons.

Percebe-se claramente que estes três conceitos caminham juntos, não é mesmo? Porém, o bom uso da voz, da dicção e da pronúncia só será posto à prova quando você tiver de encarar grandes desafios, como plateias maiores e pronúncia de palavras difíceis.

Em diversas ocasiões, a pronúncia correta das palavras é tão importante quanto a própria palestra em si. Para conseguir convencer ou persuadir alguém, erros não são aceitos. Dependendo da ocasião, um erro na pronúncia pode por tudo a perder.

Para aprender a falar com técnica, não existe nenhum milagre. Existem sim o treino, o estudo e a dedicação. A nossa voz é nosso principal instrumento na hora de nos comunicarmos. Quando a ideia da fala é persuadir, que é o caso da linguagem jurídica, isso se reafirma ainda mais: um discurso claro e com a dicção perfeita é meio caminho andado para o sucesso.

O ideal é que não ocorram erros na fala, mas podemos afirmar que quanto menores forem os escorregões na hora da fala, maior será sua credibilidade. Imagine-se monitorado por uma buzina: cada vez que você pronunciasse uma palavra errada, a buzina soasse. Quantas vezes você seria surpreendido?

Uma dica para começar a sua fala sem problemas com a dicção é o relaxamento. Na Unidade 1, nós passamos a você algumas dicas para relaxar a voz. Elas serão, em parte, retomadas aqui. Para que seu discurso esteja relaxado e bem articulado, sua voz precisa estar sem tremores e sua boca (língua e lábios) devem estar relaxados.

Volte à Unidade 1 e veja quais são as técnicas usadas para o relaxamento da voz. É importante.

IMPORTANTE

Os trava-línguas, por exemplo (aquelas brincadeiras cheias de palavras difíceis), são boas ferramentas para você repetir e trabalhar os músculos da boca. Esses exercícios ajudam a articular a língua e os maxilares.

UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

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Recite trava-línguas para que você possa soltar a mandíbula e relaxar.

UNI

UNI

Outra dica para treinar a dicção é fazer algumas caretas. Os movimentos exagerados costumam relaxar a face. Passar a língua de forma circular dentro da boca, repetir a palavra “muá” com movimentos intensos e repetir sons como “trrrrr” ou “vrrrrr” auxiliam (e muito) a ter melhor dicção. Uma dica é fazer seu próprio cronograma.

Estes exercícios tonificam os músculos, o que é importante, porque nosso corpo é esperto e sempre busca o caminho mais curto na hora de terminar a frase, por exemplo. Isso faz com que nossa pronúncia de final de frase fique com menos ênfase. Exercite a musculatura.

Pouco mais de meia hora por dia fazendo exercícios já é suficiente para que os resultados sejam visíveis na hora da apresentação.

Tenha sempre em mente, acadêmico, que não adianta ter o conteúdo na ponta da língua se você não consegue passar a mensagem que deseja. A voz, a dicção e a pronúncia correta das palavras são fundamentais para se tornar um bom orador, por isso treine, estude, faça os exercícios que forem precisos.

3.3 INTENSIDADE, FLUTUAÇÃO, VELOCIDADE

Nosso último tópico acerca da oratória forense trata-se da intensidade, da flutuação e da velocidade com que você pronuncia suas palavras. De certa forma, isso tem a ver com o tópico anterior, que trata de dicção, porém, podem existir pessoas amplamente articuladas, mas que são oradores “mono tom”, ou seja, falam sempre na mesma intensidade. Ou que falam corretamente, mas que pronunciam tão rápido que as pessoas não conseguirão entender.

Equilíbrio é a chave. A pior sensação para o orador, acreditem, é perceber que você fala, mas não é ouvido. Quem nunca passou por isso em casa? É desagradável, não é mesmo? Quando nos propomos a falar, é porque há algo

TÓPICO 3 | ORATÓRIA FORENSE

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importante que precisa ser dito. Por este motivo, queremos que o outro nos ouça e preste atenção.

Treasure (2014), em sua obra Sound Business, apresenta algumas técnicas para quem deseja comunicar melhor. Qualquer um de nós pode aplicá-las, não só para sermos oradores profissionais, mas para o dia a dia.

A primeira trata-se de encontrar uma frequência confortável para a sua voz. Isto quer dizer que não adianta você falar mais alto do que costuma comumente, ou muito baixo. Você até poderá sustentar esse tom por alguns minutos, mas logo estará com a garganta irritada e com a voz aparentemente cansada.

Seu discurso, quando você fala confortavelmente, soará natural e você evitará a possibilidade de ficar sem voz ou rouco no meio da apresentação. Lembre-se: você tem microfone. Não precisa gritar ou falar cinco tons mais altos que o seu normal. Não abuse dos graves e agudos e respeite seu intervalo vocal, que é o seu máximo tanto para o grave (grosso) quanto para o agudo (fino).

A segunda dica trata-se da escolha do timbre ideal. Há pesquisas que, segundo Treasure (2014), comprovam que as pessoas com voz suave são melhores ouvidas do que as que têm voz mais áspera. Mas não se preocupe. Ter voz suave é questão de prática.

Quanto ao ritmo da sua fala, fique atento para não engatar a primeira marcha e sair correndo. Brincadeiras à parte, pessoas que falam muito rápido transmitem ansiedade ou nervosismo e pessoas que falam muito devagar transmitem moleza e preguiça. Assim sendo, fique atento e fale devagar e constantemente.

A última e mais preciosa das dicas, por incrível que pareça, é: saiba silenciar quando for necessário. Parece paradoxal quando falamos em discurso, em oratória. Mas o silêncio faz parte da comunicação e saber usá-lo é muito importante. Durante uma apresentação, as pausas são muito importantes.

Além de permitirem que os ouvintes assimilem o que ouviram e consigam concentrar-se para o próximo bloco de ideias. Não tenha medo de silenciar. Excelentes comunicadores usam esse recurso para que seus discursos fiquem mais interessantes. Lembre-se sempre: o segredo é manter o foco dos ouvintes. Bons oradores não dispersam o público.

Acadêmico, agora você já tem em mãos todas as ferramentas para ser um excelente comunicador forense, desejamos que tenha todo o sucesso do mundo. Faça leituras, leia os links indicados nos UNI e acesse a bibliografia básica e complementar da disciplina. Aprimore sempre mais seus conhecimentos.

Desejo que tenha uma excelente jornada!

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Kelly Graziely da Cruz

Linguagem: qual sua importância no mundo jurídico?

A sociedade depende fundamentalmente da linguagem. O que é a linguagem, porém? Em qualquer dicionário de língua portuguesa significa “o uso da palavra articulada ou escrita como meio de expressão e de comunicação entre pessoas”, isto é, a linguagem é a forma de comunicação entre os seres humanos e para isso utiliza-se da ferramenta palavra e seus respectivos significados.

O Direito, por sua vez, é um conjunto de normas, ou seja, um dever ser expressado por meio de textos escritos e transmissão oral que nada mais são do que uma linguagem. A linguagem é um conjunto de signos naturais e artificiais. Os signos artificiais são elaborados pelo homem e possuem uma base (dicionário) e um contexto (da base retira-se um significado que seja mais coerente com o contexto em análise). A linguagem tem três aspectos relevantes: a sintática (signo + signo); a semântica (signo + referente – a imagem convencionada culturalmente); e a pragmática (signo + contexto e usuário). Logo, o mundo jurídico tem como principal instrumento de labor a linguagem.

Atualmente o mundo jurídico busca soluções para os casos concretos ou conflitos da sociedade na hermenêutica, com seus métodos interpretativos, principalmente averiguando a linguagem das normas. Deve-se salientar, entretanto, que ainda hoje se dá pouca importância à parte teórica do Direito, preferindo-se mais o Direito substancial que o material, ação totalmente errônea, pois a prática para ser boa necessita muito da formação teórica do profissional, ou seja, de sua argumentação. Assim, é extremamente importante analisar a interpretação e, consequentemente, a linguagem do Direito.

Em vista disso, percebe-se que o Direito instrumental não pode ser visto como uma lógica matemática, em que dois mais dois são quatro, e sim interligado ao Direito material, estudando os dois conjuntamente. Com isso vem à tona o problema da linguagem e até onde o Direito tem uma linguagem extremamente técnica? Será que o mundo jurídico se “aliena” da linguagem vulgar?

Para saber se o Direito tem linguagem técnica ou natural é preciso conhecer as duas divisões. A linguagem natural se caracteriza por ser o instrumento de comunicação por excelência entre os seres humanos, não se preocupando com rigor científico ou técnico, enfim, é a linguagem espontânea. Por outro lado, a linguagem técnica tem um caráter mais científico, com signos determinados, embora encontre sua base na linguagem natural.

É fundamental destacar que a linguagem ordinária não é suprimida pela jurídica, sendo que a vulgar possui pressupostos e elementos constitutivos do

LEITURA COMPLEMENTAR

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Direito. O Direito, muitas vezes, se afasta da realidade reduzindo as pessoas à condição institucional. Várias vezes, se não em todas, o discurso da argumentação jurídica alega posições que não aquela que nos convém naquele momento, sendo este um discurso puramente institucional.

Em vista disso, para ser um jurisconsulto renomado, não se pode esquecer a linguagem comum, visto que o cliente é afeito apenas à linguagem diária e o advogado terá de lhe responder na mesma linguagem, caso contrário não será entendido. A autora Joana Aguiar e Silva, citando o ilustre jurista White, aborda o seguinte: “E uma vez que a história tanto começa como acaba na linguagem e experiência vulgares, o essencial do Direito é o processo de tradução através do qual tem que trabalhar da linguagem vulgar para a jurídica e outra vez para a vulgar”.

A legislação não é imutável, uma vez que a sociedade se modifica a cada minuto. O legislador se refere à mulher honesta, mas o que é honestidade hoje? É o mesmo que significava quando a regra foi elaborada, em 1940?

É dizer que a linguagem possui vários segmentos no âmbito da sociedade, como a dos médicos, dos juristas e da população em geral, que é universal e todos a entendem. O Direito tem sua própria linguagem e é através das palavras ou signos que se exterioriza a lei, que por sua vez deve ser interpretada e aplicada ao caso concreto. Então, a arte das palavras faz com que o jurista descubra a solução mais adequada. Salienta-se que o jurista com vocabulário pobre não terá sucesso profissional. De outro lado, o Direito não pode esquecer da linguagem comum, visto que tudo começa com a linguagem vulgar e com esta também termina. Na verdade, o que ocorre é uma tradução, assim como traduzir uma língua estrangeira desconhecida.

A linguagem, além disso, não é extremamente clara e objetiva, havendo imprecisão em seus signos, entrando em cena as figuras da vagueza e da ambiguidade. A vagueza tem uma dimensão denotativa (o que é?), por exemplo, a palavra “careca” tem vários significados e deve-se averiguar no caso concreto a qual deles a palavra está sendo aplicada. A ambiguidade, dimensão conotativa (qual dos sentidos?), por exemplo, “manga”, pode ser de uma blusa ou uma fruta. O Direito também contém em suas normas as figuras da vagueza e da ambiguidade, tendo inúmeros casos de imprecisão ou de dúvidas de interpretação acerca da significação de algum termo contido na lei.

O Direito, deste modo, é interligado à linguagem, quem sabe até mais que o próprio curso de Letras, por isso a importância de aprofundar os estudos com um vocabulário enriquecido e ao mesmo tempo conseguir a tradução desta linguagem técnica para a comum, para ser entendida por todos indistintamente.

O mundo jurídico, com o uso da retórica, procura solucionar os conflitos da sociedade e é por meio da linguagem que as leis se exteriorizam, sejam elas escritas ou verbais. Daí a preocupação dos mestres em ensinar um palavreado

UNIDADE 3 | A COMUNICAÇÃO JURÍDICA

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mais rebuscado aos acadêmicos para que tenham uma formação mais aberta e não sejam simples formalistas, quer dizer, aplicar a lei tal qual é, estritamente formal, devendo aplicá-la, mas sob o aspecto social e atual, em que o fato se concretizou, utilizando as palavras para obter o resultado almejado. De tal modo, no âmbito jurídico a comunicação é o fator que viabiliza a existência do Direito.

Assim, a linguagem do Direito é técnica, porém é a vulgar que o torna entendido pelos leigos. Por isso tal importância da linguagem na vida do jurista, e até se deve conhecer mais a fundo as palavras e seus significados para construir uma interpretação criativa com embasamento forte e convincente.

É necessário ainda inferir que a linguagem, sendo uma forma de comunicação entre as pessoas, busca construir signos com significados para uma relação clara e objetiva. A linguagem técnica, por ter um caráter de cientificidade, deixa muitas pessoas confusas e por isso a importância de operadores jurídicos para sanar essas dúvidas, esclarecendo os termos técnicos que a ciência do Direito possui.

Conclui-se nessa pequena e rápida análise que o Direito não deve reduzir-se a uma só linguagem, apesar de não poder se afastar da tecnicidade de suas normas. Ou seja, a linguagem do Direito não é exclusivamente natural ou exclusivamente técnica, mas composta de ambas as espécies, podendo-se denominar a linguagem jurídica como mista. Afinal, em decorrência da necessidade de se cumprir as normas, a linguagem empregada nas normas jurídicas, ou melhor, na tradução destas, deve se basear na linguagem natural para que o Direito cumpra o seu papel de controle social e resolução de conflitos.

Linguagem e Direito são, portanto, como “a panela e a tampa”, e o Direito nada seria sem a linguagem. Logo, o Direito não é e não pode ser uma linguagem estritamente técnica nem especificamente vulgar, bem como o acadêmico ou operador jurídico não deve se ater apenas ao Direito instrumental, “esquecendo-se” do Direito material, devendo haver um equilíbrio entre ambos para obter um bom desempenho jurídico e social, traduzindo os termos jurídicos e esclarecendo as pessoas em geral.

FONTE: <https://goo.gl/pG7QQf> Acesso em: 29 nov. 2018.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• A escrita de peças jurídicas é bastante delicada, por isso requer muita atenção.

• Ser simples e objetivo são grandes ferramentas para poder alcançar o sucesso nas peças jurídicas.

• A ambiguidade deve ser evitada nos textos jurídicos.

• É importante ficar atento para a correção gramatical do texto. Não há nada pior do que textos com erros gramaticais.

• Credibilidade, uso da voz, uso do vocabulário, a expressão corporal e a aparência são grandes aliados para que o orador seja bem-sucedido.

• Falar com naturalidade surte melhores efeitos no discurso jurídico.

• Nada de arrogância na sua fala!

• Ser bem-humorado e sintetizar a fala é importante para conseguir melhores resultados.

• Quando usar microfone, ajuste-o antes de começar a falar.

• Deve-se tomar cuidado com a microfonia: evite passar na frente das caixas de som e envolver o globo do microfone.

• Aquecer sua voz antes de entrar no palco é fundamental, bem como relaxar a mandíbula.

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AUTOATIVIDADE

1 Assinale a alternativa correta quanto ao aquecimento da voz:

a) ( ) Aquecer a voz é imprescindível para qualquer atividade de fala. b) ( ) Aquecer a voz é imprescindível quando a voz será usada por um

longo tempo. c) ( ) Aquecer a voz não é necessário quando a palestra for curta. d) ( ) Aquecer a voz provoca calos nas pregas vocais.

2 Sobre as peças jurídicas, analise as sentenças e marque V para as verdadeiras e F para as falsas:

( ) As peças jurídicas devem ser escritas com rebuscamento. ( ) As peças jurídicas devem ser difíceis de compreender. ( ) A concisão é um dos elementos fundamentais para a elaboração das peças jurídicas. ( ) Numerar as páginas é importante para o acompanhamento da peça.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a resposta correta:

a) ( ) V – F – F – V. b) ( ) F – V – V – F. c) ( ) V – V – F – F. d) ( ) F – F – V – V.

3 A formação do orador deve ser para, exceto:

a) ( ) Um discurso fechado e monótono. b) ( ) Uma fala natural e confiante. c) ( ) Convencer e persuadir o ouvinte. d) ( ) Manter a plateia atenta ao que está sendo dito.

4 É importante o profissional de direito manter a postura, mesmo fora do ambiente de trabalho, porque:

a) ( ) Não é interessante entrar em desavenças. b) ( ) A imagem do orador traz credibilidade ao discurso. c) ( ) Há maiores chances de ser bem-sucedido. d) ( ) Ninguém confia em pessoas que não têm postura.

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5 Sobre os cuidados que se deve ter quando se está no palco, analise as sentenças e marque V para as verdadeiras e F para as falsas:

( ) Para testar o microfone deve-se dar leves tapas no globo ou assoprar. ( ) Não é interessante caminhar freneticamente de um lado para outro. ( ) Balançar os braços excessivamente pode demonstrar despreparo. ( ) Manter um tom de voz mais alto do que o seu, no ato da fala, demonstra segurança.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a resposta correta:

a) ( ) V – F – F – V. b) ( ) F – V – V – F. c) ( ) V – V – F – F. d) ( ) F – F – V – V.

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