produÇÃo primÁria do fitoplÂncton e as ......a baía das pedras situa-se no pantanal do poconé...
TRANSCRIPT
-
1
PRODUÇÃO PRIMÁRIA DO FITOPLÂNCTON E AS RELACÕES COM AS
PRINCIPAIS VARIÁVEIS LIMNOLÓGICAS DA BAÍA DAS PEDRAS,
PIRIZAL, PANTANAL, MT1
PAULINO BAMBI2 e VANGIL PINTO SILVA3
RESUMO: O estudo teve como objetivo determinar a produção primária do fitoplâncton
e as relações com as principais variáveis limnológicas da baía, entre março/1999 a
fevereiro/2000, no município de Nossa Senhora de Livramento (16o24’S e 56o10’ W),
Pantanal Mato-Grossense.A produção primária foi determinada pelo método de
oxigênio dissolvido. As coletas foram feitas mensalmente, num ponto de amostragem
pré-estabelecido, na zona limnética. As variáveis limnológicas (pH, condutividade
elétrica, transparência da água e perfil térmico) foram determinadas em “in situ”, com
aparelhos específicos nas profundidades correspondentes a 100%, 15% e 1% de
penetração de luz, determinada a partir do desaparecimento visual do disco de Secchi.O
perfil térmico variou entre 33,3 oC (março) e 25oC (junho). Durante o estudo, o lago
permaneceu estratificado, com presença de termoclínas nos meses de junho/1999,
janeiro e fevereiro/2000.Houve correlação de flutuação entre a produção primária e as
variáveis limnológicas. Em outubro, setembro e novembro, a lagoa atingiu a maior
atividade, registrando os valores que seguem: Secchi (0,10 m) de profundidade em
setembro; condutividade elétrica (130,23 µS.C-1) em novembro; pH (9,55) em setembro;
alcalinidade total (57,3 mgCaC03.l-1) em maio; clorofila-a (8.956 µg.l-1) em agosto;
feofitina (16.891 µg1-1) em agosto; oxigênio dissolvido (181%) em novembro e, a
produtividade primária (4.530 mgC m3/hora), igualmente em outubro. O metabolismo
da lagoa sofreu decréscimo em função do aumento do volume da água que diluiu os
nutrientes e as comunidades fitoplanctônicas.
Palavras-chave: Produção primária, baía, variáveis limnológicas e fitoplâncton.
1 Projeto Ecologia do Pantanal - PEP 2a fase – (Convênio IB-UFMT/MPIL, Plön). Financiado peloPrograma SHIFT (CNPq-IBAMA-DLR), Cooperação Técnico-Científica Bilateral, Alemanha - Brasil.2 Bolsista de CNPq/UFMT.3 Orientador, docente do Instituto de Biociências/UFMT.
III Simpósio sobre Recursos Naturais e Sócio-econômicos do PantanalOs Desafios do Novo MilênioDe 27 a 30 de Novembro de 2000 - Corumbá-MS
-
2
PHYTOPLANKTON PRIMARY PRODUCTION AND ITS RELATIONS WITH
THE MAIN LIMNOLOGIC VARIABLES OF THE BAÍA DAS PEDRAS,
PIRIZAL, PANTANAL, MT
ABSTRACT: This study aimed at determining the phytoplankton primary production
and its relations with the main limnologic variables of Baia das Pedras, from March
1999 to February 2000, in Nossa Senhora de Livramento, MT (16o24’ S e 56o10’ W).
The primary production was determined by the dissolved oxygen method. The samples
were collected monthtly, in a pre-determined sampling place, in the limnetic area. The
limnologic variables (pH, eletric conductivity, water transparency and thermal profile)
were determined in situ, with specific equipment in the following depth: 100%, 15%
and 1% of light penetration, determined from the visual disappearence of Secchi disc.
The thermal profile varied from (33,3 oC) (March) and (25 oC) (June). During this
period, the lake remained stratified, presenting termoclines in June 1999, January and
February 2000. There was flotation correlation between the primary production and the
limnogic variables. In October, September, and November, the lake reached its highest
activity, having registered the following figures: Secchi (0,10 m) depth in September;
electric conductivity (130,23 µS.cm-1) in November, pH (9,55) in September; total
alcalinity (57.3 mgCaCO3.l-1)in May; Chlorophyll – a (8956 µg.l) in August; phyofitine
(16891 µg/l) in August, dissolved oxygen (181%) in November and primary
productivity (4530 mgC/m3/hora) in October. The lake metabolism decreased due to an
increase in the water volume that had diluted the nourishment and the phytoplankton
community.
Key words: Primary production, bay, limnologic variables, and phytoplankton.
-
3
INTRODUÇÃO
Em Mato Grosso, o estudo de ecossistemas aquáticos vem sendo desenvolvido,
embora ainda considerado insignificante perante a abundância desses ecossistemas na
região.
Estudos com abordagens limnológicas foram feitos por Morini (1995), Pinto
Silva (1980).
Na totalidade dos ecossistemas aquáticos, o fitoplâncton constitui o principal
corpo fotossintetizante, responsável pela maior parte da produção orgânica. Portanto,
considera-se a medida dessa produção como o ponto de partida para uma avaliação
sobre a produção orgânica total, o que leva, em última análise, à exploração racional do
ecossistema pelo homem (Tundisi, 1975), fornecendo o subsídio para o gerenciamento e
manejo dos recursos hídricos.
A baía das Pedras exerce um importante papel na manutenção da diversidade
biológica na área, servindo de refúgio e fonte de água para animais. Dela apenas se
conhecem estudos de: Lima e Pinto Silva (1990); Souza (1999); e (Da Silva (em
desenvolvimento). A determinação produção primária do fitoplâncton nesta baía é
pioneira e tem o objetivo de estimar a produção primária do fitoplâncton e as relações
com as principais variáveis limnológicas.
DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A baía das Pedras situa-se no Pantanal do Poconé (16o24’ Se 56o10’ W) no
município de Nossa Senhora de Livramento, MT (FIG. 1).
-
4
FIG. 1. Baía das Pedras, Pantanal de Mato Grosso, Brasil. A = surfance area (m2); V =
volume (m3); Io = shoreline (m); Vd = volume development; F = shoreline
development; Dmax = maximum depth (m); Dm - mean depth (m) Dr = relative
depth (m); Lc = maximum effectuve width (m); Le = maximum effective lenght
(m).
-
5
A lagoa apresenta características completamente diferentes comparadas as de
outros lagos no Pantanal. Na estação seca, ela se apresenta totalmente esverdeada. As
macrófitas aquáticas entram em declínio e ela é ocupada por densa população de
jacarés, numa média de 981 indivíduos Joel da Silva (em desenvolvimento). Observa-se,
também, intensa atividade de peixes subentendendo aumento de indivíduos nas
populações. Além da presença de jacarés (Ciman croocdilus yacare), ariranhas
(Peternuria brasiliensis), capivaras (Hidrocaeris hidrocaeris), são facilmente
observadas antas (Tapirus terrestris terrestis) ao entardecer.
A baía está delimitada por três formações vegetacionais: no oeste e sul, uma
densa mata ciliar; no norte, uma densa vegetação aquática que se estende ao brejo; a
leste, um imenso campo de pasto da fazenda Ponta das Pedras.
MATERIAL E MÉTODO
Selecionou-se uma estação de coleta na zona limnética da lagoa. A freqüência de
amostragem foi feita mensalmente durante um ano (março/1999 a fevereiro/2000).
A produção primária foi pelo método de oxigênio dissolvido ou de frasco claro e
escuro. As amostras foram coletadas nas profundidades correspondentes a 100%, 15%,
e 1% de penetração de luz, determinadas a partir do desaparecimento visual do disco de
Secchi.
A transparência da água foi estimada com o disco de Secchi de 30 cm de
diâmetro.
A temperatura da água, pH e condutividade elétrica foram determinadas in situ
com aparelhos específicos.
A alcalinidade total foi determinada por titulação potenciométrica até pH 4,35,
através do pHmetro Miccronal modelo B374, usando como titulante o ácido sulfúrico
(0,01N), segundo Golteman at al. (1978) e Mackereth et al. (1978) em Pinto Silva
(1997).
A determinação da clorofila-a e feofitina foi feita segundo procedimento
descrito em Pinto Silva (1997).
-
6
RESULTADOS
A FIG. 2 mostra o perfil térmico da água no período de estudo. A temperatura
diminui com o aumento da profundidade, portanto, os maiores valores obtidos
ocorreram na superfície e, os menores, nas camadas inferiores da lagoa. No mês mais
quente (março/1999), a temperatura atingiu (33,3oC) e, no menos quente (junho/1999), a
temperatura foi de (25oC). A amplitude de variação foi de 8,3oC. Houve evidências de
estratificação com presenças de termoclínes nos meses de junho/1999, janeiro e
fevereiro/2000.
A transparência da água mostrada na FIG. 3 permaneceu fraca em quase todo o
ano, exceto nos meses de abril e março, pico de enchente na região.
O pH variou entre (5,27) em maio a 1% de penetração de luz e, 9,55 em
setembro, a 100% de penetração de luz (FIG. 4). A alcalinidade total teve as seguintes
variações:
a) maior valor – (57,3 mgCaC03/l) a 15% de penetração de luz, em maio;
b) menor valor – (9,53 mgCaC03/l) a 15% de penetração de luz, em
setembro (FIG. 5).
A variação mensal da condutividade elétrica está ilustrada na (FIG. 6). Os
valores oscilaram entre (2,04 µS.cm-1), menor valor obtido em maio a 1% de penetração
de luz a (130,23 µS.cm-1), obtido em novembro igualmente a 1% de penetração de luz.
A FIG. 7 ilustra a variação mensal de oxigênio dissolvido nas profundidades de
100%, 15%, e 1% de penetração de luz. As maiores percentagens de saturação de
oxigênio foram praticamente obtidas na superfície. O pico de saturação de oxigênio foi
de 181% a 100% de penetração de luz e 140,8% a 15%, ambos em novembro. Fevereiro
foi o mês em que o teor de oxigênio foi deficitário (31,9%, 16,7% e 8,4%) nas três
profundidades.
-
7
0 ,0 0
0 ,5 0
1 ,0 0
1 ,5 0
2 ,0 0
2 ,5 0
3 ,0 0
2 9 3 0 3 1 3 2 3 3 3 4
T e m p e r a t u r a ( º C )
Prof
undi
dade
(m)
Mar/99
0 ,0 00 ,5 01 ,0 01 ,5 02 ,0 02 ,5 03 ,0 03 ,5 04 ,0 04 ,5 0
2 5 2 6 2 7 2 8 2 9 3 0 3 1 3 2 3 3 3 4 3 5
T e m p e r a t u r a ( º C )
Prof
undi
dade
(m)
Abr/99
0 ,0 0
0 ,5 0
1 ,0 0
1 ,5 0
2 ,0 0
2 ,5 0
3 ,0 0
3 ,5 0
4 ,0 0
2 3 2 4 2 5 2 6 2 7 2 8 2 9 3 0
t e m p e r a t u r a ( ºC )
Prof
undi
dade
(m)
Maio/99
0 ,0 00 ,2 00 ,4 00 ,6 00 ,8 01 ,0 01 ,2 01 ,4 01 ,6 01 ,8 0
2 1 2 2 2 3 2 4 2 5 2 6
T e m p e r a t u r a ( º C )
Prof
undi
dade
(m)
Jun/99
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
23 24 25 26 27 28
T e m p e r atu r a (ºC )
Prof
undi
dade
(m)
Jul/99
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
27 28 29 30 31
T e m p e r atu r a (ºc)
Prof
undi
dade
(m)
Set/99
0,000,501,001,502,002,503,003,504,00
28 28,5 29 29,5 30 30,5 31
Te m pe ratura (ºc)
Prof
undi
dade
(m)
Out/99
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
26,0 27,0 28,0 29,0 30,0 31,0 32,0
Term peratura (ºc)
Prof
undi
dade
(m)
Nov/99
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
29,5 30 30,5 31 31,5 32
Te m pe ratura( ºc)
Prof
undi
dade
(m)
Dez/99
0,000,501,001,502,002,503,003,504,004,50
27 28 29 30 31 32
Te m pe ratur a (ºc)
Prof
undi
dade
(m)
Jan/00
0,000,501,001,502,002,503,003,504,004,50
28,6 28,8 29 29,2 29,4 29,6 29,8
Temperatua (ºc)
Porf
undi
dade
(m)
Fev/00
FIG. 2. Perfil da temperatura da água da baía das pedras obtido nos meses de Out/99 a fev/00.
-
8
0123456789
Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev
Prof
undi
dade
(m) e
Sec
chi (
m)
Secchi (m ) Prof. (m )
FIG. 3. Variação mensal da transparência da água a 15% de penetração de luz.
0
10
20
30
40
50
60
70
Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev
Alc
alin
idad
e(m
gCaC
03.L
-1)
100% 15% 1%
FIG. 4. Variação mensal de alcalinidade total (CaC03.l-1) a 100%, 15%, e 1% de
penetração de luz.
-
9
0
2
4
6
8
10
12
Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev
pH
100% 15% 1%
FIG. 5. Variação mensal do pH a 100%, 15%, e 1% de penetração de luz.
020406080
100120140
Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev
Con
dutiv
idad
e el
étric
a( u
S/cm
-1)
100% 15% 1%
FIG. 6. Variação mensal da condutividade elétrica (µS.cm-1) a 100%, 15% e 1% de
penetração de luz.
-
10
020406080
100120140160180200
Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev
Oxi
gêni
o (%
sat.)
100% 15% 1%
FIG. 7. Variação mensal do oxigênio dissolvido (%sat.) a 100%, 15% e 1% de
penetração de luz.
O maior valor da produtividade primária do fitoplâncton (4.530 mgC.m-3/hora),
mostrado na FIG. 8, ocorreu no mês de outubro na zona de 100% de penetração de luz.
Houve fotoinibição em abril, registrando-se a maior produtividade (180,7 mgC.m3/hora)
a 1% de penetração de luz.
Em agosto, a clorofila-a e feofitina apresentaram os seus valores máximos:
8.956 µg.l-1 e 16.891 µg.l-1, respetivamente.
-1000
0
1000
2000
3000
4000
5000
Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev
PPL
(mgC
/m3/
hora
)
100% 15% 1%
FIG. 8. Variação mensal da produção primária líquida (mgC. m3/hora) a 100%, 15%, e
1% de penetração de luz.
-
11
DISCUSSÃO
O lago em estudo é um corpo de água com altas temperaturas na maior parte do
ano e pH variando entre valores neutro a alcalino. A temperatura dos meses mais frios
(25oC), geralmente obtidos na superfície, aproxima-se dos valores dos meses mais
quentes em lagos temperados e áridos.
Segundo Esteves at al. (1985), em Morini (1995), as diferenças térmicas entre o
epilímnio e o hipolímnio, embora pequenas, são mais do que suficientes para produzir
grandes diferenças de densidade entre as massas da água e, conseqüentemente, produzir
estratificações estáveis na coluna da água. Tal diferença de temperatura deve-se à forte
radiação de comprimento de ondas maior (740 nm) absorvidas pelas camadas superiores
da lagoa.
Semelhantes variações térmicas foram obtidas por Morini (1995), no lago
Buritizal, Barão de Melgaço; Henry et al. (1988), na represa Jurumirim do rio
Paranapanema, São Paulo, e Lopes (1999), na baía Sinhá Mariana, Barão de Melgaço.
As flutuações do pH (ácidos, neutro e ou alcalino) estão relacionadas com os
processos de decomposição e atividades fotossintéticas. Ambas as situações estão
condicionadas à densidade de comunidade e às atividades de algas e macrófitas
aquáticas. A assimilação do C02 eleva os valores do pH, enquanto que os organismos
heterotróficos (bactérias e animais aquáticos) interferem sobre o pH do meio, via de
regra, abaixando-o. Isso ocorre porque intensos processos de decomposição e respiração
liberam C02, consequentemente, a formação de ácidos carbônicos e íons de hidrogênio
(Esteves, 1988).
C02 + H20 ⇔ H2C02⇔H++(H2C03)
Correlação negativa entre pH e alcalinidade total foi também obtida por Morini
(1995) e Lopes (1999), nas baías Buritizal e Sinhá Mariana, respectivamente, ambas no
Barão de Melgaço.
Para Esteves (1988), a condutividade elétrica constitui uma das variáveis mais
importantes em limnologia, visto que pode fornecer importantes informações, por
exemplo: a respeito de processos importantes no ecossistema aquático, como produção
(redução dos valores) e decomposição (aumento dos valores). É cada vez mais evidente
-
12
a influência das variáveis limnológicas nessas flutuações (FIG. 4 e 6). Assim, é
facilmente compreensível que a zona de maior produtividade primária seja aquela em
que se registraram maiores valores de condutividade elétrica.
Pinto Silva (1991) observou maiores valores de condutividade elétrica no lago
Buritizal, nos meses de janeiro, fevereiro e março, enquanto Morini (1995), no mesmo
lago, obteve os maiores valores no período da seca e, os menores, no período de
enchente e cheia. Neste trabalho, os resultados obtidos são semelhantes aos obtidos por
Morini (1995) em termos de periodicidade de obtenção, porque, em termos
quantitativos, os valores máximos já obtidos na região não passam de (80 µS.cm-1)
(Pinto Silva, comunicação pessoal). Quanto à baía das Pedras, registraram-se 130,23
µS.Cm-1 como valor máximo do período de estudo.
O prolongamento da estiagem deixou o lago cada vez mais raso, concentrando
os íons vindo do rio e da área alagável durante a cheia. Isso provavelmente, teria
aumentado também a concentração de matéria orgânica, ocasionando o aumento da
decomposição e conseqüente elevação da condutividade elétrica.
Dentre as variáveis limnológicas que apresentam maiores variações diárias,
destaca-se o oxigênio dissolvido. Essas variações ocorrem por estar esse gás
diretamente envolvido com os processos de fotossíntese, respiração e/ou decomposição,
que, por sua vez, estão diretamente acopladas a essas variáveis. No entanto, outros
fatores como o vento e as chuvas podem ter importância eventual (Esteves, 1988).
A solubilidade de oxigênio vê-se afetada de maneira linear pela temperatura,
aumentando consideravelmente quando esta diminui. Essa tendência não foi constatada
na baía das Pedras, porque o mês mais frio, junho (25oC), no período de estudo, apenas
registrou 58% de saturação de oxigênio dissolvido, provavelmente, porque nas regiões
tropicais a solubilidade de oxigênio depende, principalmente, da atividade
fotossintética. Por isso, as altas concentrações de oxigênio foram obtidas quase sempre
na camada superficial, enquanto que a inferior quase sempre registrou baixíssimas
percentagens de saturação de oxigênio, pela escassez, talvez, da radiação solar e intenso
processo de decomposição e consumo de oxigênio.
A produção primária do fitoplâncton de um ecossistema aquático é realizada por
produtores primários (algas, macrófitas e algumas espécies de bactérias), localizados,
-
13
principalmente, na zona iluminada do lago (Esteves, 1988). Da produção total desses
organismos, uma parte é revertida para a manutenção metabólica dos próprios
produtores e, a outra parte, é transformada em biomassa (produção primária líquida),
fonte de energia para cadeias alimentares do ecossistema.
Um dos fatores que influencia a produtividade do fitoplâncton é a transparência
da água e luminosidade.
A transparência é afetada pelas partículas suspensas (compostos orgânicos,
inorgânicos, bactérias, fitoplâncton). Nos lagos, com alta concentração de partícula e
compostos dissolvidos, ocorre forte dispersão da radiação. Portanto, o desvio desta
enfraquece a incidência das radiações às camadas inferiores da coluna da água. A
ocorrência desse fenômeno foi constatada no período da estiagem, época em que a
entrada de material alotóne diminui, consideravelmente, porque o volume reduzido da
água na baía faz com que a ação do vento e os animais (bioturvação) consigam
facilmente ressuspender o sedimento. Desse modo, a concentração de nutrientes e a
intensidade luminosa na camada superior da lagoa são os responsáveis pelos valores
elevados da produtividade na superfície.
A elevada temperatura da água proporciona a emigração verticalmente da
comunidade do fitoplâncton, provocando a fotoinibição, que, como conseqüência, reduz
a eficiência fotossintética na camada superficial da água com a produtividade,
registrando os maiores valores a 1% de luminosidade ao invés de 100%.
Muito ainda tem de ser feito para que se possa entender o funcionamento
uniforme das baías da região em relação à produtividade do fitoplâncton. Alguns desses
poucos trabalhos foram feitos por Pinto Silva (1991), no lago Buritizal e Recreio, e
Morini (1995), no lago Buritizal, mostrando a dinâmica das atividades fotossintéticas
CONCLUSÕES
> A baía das Pedras permaneceu estratificada em todo o período de
amostragens, com termoclínas evidentes nos meses de junho, janeiro e fevereiro.
-
14
> A transparência da baía foi baixa em todo o período de estudo, exceto nos
meses de e março e abril, pico de enchente na região.
> Os maiores valores da condutividade elétrica foram obtidos nos meses de
outubro a fevereiro, coincidindo com período das chuvas na região.
> As altas concentrações de oxigênio foram obtidas sempre na camada
superficial, enquanto a inferior sempre mostrou baixíssimos valores.
> Os maiores valores da produção primária foram obtidos na superfície e nos
meses de setembro, outubro e dezembro.
> A baía das Pedras é um lago permanentemente túrbido, com as suas águas
esverdeadas e elevadas concentrações de clorofila.
-
15
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ESTEVES, F. A Fundamentos de limnologia. Rio de Janeiro: Interciências/FINP.,
1988. p.575.
HENRY, R. , NUNES, M.A. MITSUK, P.M. , LIMA, N.E. de ; CASANOVA, S.M.C.
Variação espacial e temporal da produtividade primária pelo fitoplâncton na represa
de Juramirim.(Rio Paranapanema, SP). São Paulo: Academia Brasileira de
Ciências, 1998. p.715 e. p974. e Revista Brasileira de Biologia, v.58, n.4, nov.
1998.
LOPES, A.A.E.T.M.. Condições limnológicas e composição zooplantônica da Baía
Sinhá-Mariana, Barão de Melgaço. Cuiabá, 1999. p.98.
MORINI, A.A.E.T. Produção primária do fitoplâncton e as variáveis limnológicas
do Lago Buritizal Barão de Melgaço, Pantanal Mato-grossense.. 1995. p.52.
PINTO SILVA, V.. Variações diurnas de fatores ecológicos em quatro lagos
naturais do Pantanal Mato-grossense e seu estudo comparativo com dois lagos
da Amazônia Central e um lago artificial (Represa do lobo broa). São Carlos:
UFSCar, 1980. 281p. Dissertação Mestrado.
PINTO SILVA, V. Variação diurna dos porincipais parâmetros limnológicas nos
lagos Recreio e Buritial Pantanal Matogrossense, Barão de Melgaço. São
Carlos: UFSCar, 1991 322p. Tese Doutorado.
PINTO SILVA, V. Manual de análise limnológica: métodos e técnicas. Cuiabá,
1997. p.35.
SOUZA, M. D. de. Influência do pulso de inundação sobre as características
Limnológicas da Baía das Pedras, Pantanal Mato-grossense, MT. 1999 p.26.
TUNDISI, J ; TUNDISI, T. M. Produção orgânica em ecossistema aquáticos. Ciência
e Cultura, v.28, n.8, p. 864-887, agos., 1975.