prevenÇÃo À violÊncia: um convite - who | … nasce em um lar onde a violência é usada para...
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Propósito
Este documento é um convitepara mudarmos a maneiracomo pensamos sobre aviolência e como lidamoscom ela. Talvez este não sejaum convite tão fácil de seaceitar –acostumamo-nos atrabalhar de determinadasmaneiras, e mudá-las não será fácil –, mas mudanças éo que temos que fazer, se umdia quisermos progredir naredução da violência.
Muitos indivíduos e organizações pelo mundo já
deram esse passo. Eles perceberam que a chave
para alcançar a redução da violência em curto prazo
está em intervenções que reduzam com sucesso as
causas imediatas, tais como o abuso de bebidas
alcóolicas, porte de armas de fogo e facas em
público e violência retaliatória. Perceberam também
que reduções mais sustentáveis de longo prazo
exigem intervenções que cheguem às causas
primárias da violência dentro da sociedade, da
comunidade e das famílias. O fundamental para essa
percepção é o reconhecimento da necessidade de
que todas as agências envolvidas devem trabalhar
juntas e com mais eficiência. Acostumadas a
trabalhar dentro de suas respectivas áreas, a ideia de
colaboração e compartilhamento de informações de
maneira permanente pode parecer estranha.
Entretanto, enquanto essa mentalidade persistir,
nunca teremos um progresso significante na redução
da violência. O sucesso exige alianças significativas,
fundamentadas em resultados positivos e específicos,
tais como diminuição na taxa de homicídios, nas
taxas de ferimentos não fatais e em emergências
hospitalares decorrentes da violência nas
comunidades urbanas e rurais pelos nossos países.
Este convite, como qualqueroutro, pode ser recusado, mas,ao recusá-lo, nossas agênciasrecusarão a oportunidade defazer uma diferença de verdadeno problema da violência.
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Introdução
A violência é vista comfrequência como parteintrínseca e inevitável dacondição humana. A políciavê manifestações destapercepção todos os dias.
Usando tudo ao seu dispor – ciência forense,técnicas de investigação e sua própriaexperiência –, a polícia tenta combater a violência.Entretanto, sozinha, não consegue eliminá-la, apenastentar limitá-la, inclusive com a prisão dos perpetradores.A prisão, contudo, não resolve o problema. E osofensores, ao saírem da prisão e voltarem para osambientes que haviam deixado para trás, veem-senovamente cercados por pessoas, lugares ecircunstâncias nas quais surge a violência. Sem novasoportunidades para melhorar suas vidas, retornam aoque conhecem melhor, e isso inclui a violência.
O problema da violência começa cedo. Uma criançaque nasce em um lar onde a violência é usada pararesolver conflitos copiará tal comportamento. A criança carregará esse padrão de comportamentoviolento para sua adolescência e idade adulta,quando encontrará outros que cresceram nosmesmos locais de má influência e com a mesmapropensão a um comportamento violento eantissocial, ao abuso de bebidas alcóolicas ou ao usode drogas e porte de armas. Onde quer que tenhasido estudada, a verdadeira extensão da violência semostra muito maior do que o sugerido pelasestatísticas usadas pelos políticos para exigir quealgo seja feito.
Muitos casos de violência nunca chegam aoconhecimento da polícia ou dos serviços médicos,que poderiam atender os envolvidos e talvezdirecioná-los a serviços para mudar suas vidas.
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A violência em algumas comunidades é tãopredominante que se torna um modo de vida. Vítimas e perpetradores vêm, com frequência, dasmesmas comunidades, e uma família terminará nasala de visitas de uma prisão enquanto outra estaráao lado de um túmulo.
Mesmo assim, a violência não é inevitável. Um número crescente de estudos científicos mostraque ela pode ser evitada. Órgãos de imposição da leie de justiça criminal não podem alcançar tal objetivosozinhos. Eles não podem estar presentes em todasas residências onde uma criança é testemunha deviolência doméstica; não podem estar presentes emtodos os recintos onde alguém está se ferindo; nãopodem estar presentes em cada esquina paraimpedir um esfaqueamento ou um tiro. Para quemudanças reais aconteçam, precisamos aumentarnossos esforços proativos e combater as causasbásicas do problema, além dos problemas que fazemcom que uma criança se torne um adolescente ouadulto perpetrador, ou uma vítima.
Definição de prevenção àviolênciaA prevenção à violência refere-se à redução dafrequência de novos casos de vitimação ou perpetraçãoviolenta, com a redução ou remoção das causasfundamentais e fatores de risco. Refere-se também à utilização dos efeitos indiretos de outras políticas eprogramas que possam contribuir para a redução da exposição às causas fundamentais e aos riscos de violência.
A prevenção à violência só pode ser alcançada com aunião da polícia e de profissionais em segurança públicacom profissionais de serviços de saúde, educação,bem-estar, autoridades de licenciamento de bebidas eoutros setores, que podem tomar as ações necessáriaspara eliminar ou reduzir as causas fundamentais e osfatores de risco. Além de ações que tenham efeitosimediatos sobre a redução da violência, o compromissocom iniciativas de longo prazo é imperativo – iniciativasque mostrarão resultados em cinco, dez ou quinze anos.sus resultados en cinco, diez o quince años.
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Em 2002, a Organização Mundial de Saúde (OMS)publicou o Relatório mundial sobre a violência e
saúde, que descrevia a violência como questão desaúde pública. Tal relatório é uma ferramentapoderosa para mostrar o tamanho do desafiorepresentado pela violência para as comunidades e países de todo o mundo. Destaca tambémoportunidades para trabalho de prevenção queenvolva atividades de colaboração entre setoresdiferentes. O relatório é a base para a Aliança dePrevenção à Violência (Violence Prevention Alliance,VPA), liderada pela OMS e formada por uma rede deestados-membros da OMS, agências internacionais e organizações da sociedade civil, todas trabalhandojuntas para a prevenção à violência. Os membros daAliança são comprometidos com a promoção doentendimento e da implementação de umaabordagem de saúde pública baseada em evidênciasque combata os fatores de risco que levam àviolência e promova a cooperação por todas as áreas.
A VPA tem uma série de grupos de trabalho,incluindo o Grupo de Ligação da Justiça Criminal(Criminal Justice Liaison Group), composto pormembros da imposição da lei, justiça e saúde. Estegrupo alega que, em muitos setores, a violência édefinida apenas em termos de transgressão das leis,o que implica que a responsabilidade por lidar comela é apenas da justiça criminal, da polícia e desetores de segurança pública.
Contudo, juntamente com esses setores, aabordagem da saúde pública coloca em foco aperícia no desenvolvimento e avaliação de programasbaseados em evidências que lidam com as causasfundamentais da violência. Saúde pública, justiçacriminal, polícia e segurança pública são, portanto,parceiros naturais, e o Grupo de Ligação da JustiçaCriminal da VPA alega que:
• Os órgãos de imposição da lei eda justiça criminal devem trabalharem parceria com agências de saúde paraelaborar uma agenda compartilhadade prevenção à violência, valorescomuns e uma visão única.
• O foco deve estar na prevenção,com a criação de estratégias que lidemcom os fatores de risco imediatos daviolência e suas causas fundamentais.
• Deve haver um compromissocom políticas, estratégias, programas eações que sejam baseados em evidênciascientíficas para sua efetividade.
• São necessárias pesquisasadicionais para descobrir o quefunciona na prevenção à violência,desenvolvendo e avaliando novasintervenções e definindo prioridadesde ação.
Histórico
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Os cenários descritos na caixa 2, ou eventos muitosimilares a eles, se repetem em comunidades portodo o mundo, todos os dias, a cada segundo –diferentes protagonistas, diferentes locais, resultadosidênticos. Os envolvidos fazem suas escolhas antesque a violência ocorra. Eles escolhem abusar debebidas alcoólicas, escolhem agir agressivamente,escolhem carregar armas. Estas não são boasescolhas, e não foram bem analisadas e nemconsideradas com cuidado. Foram feitas devido àsexperiências e lições aprendidas em ambientes nosquais a violência é aceita e a posse, o porte e o usode armas, além do consumo abusivo de bebidasalcóolicas, são considerados normais.
Tanto a polícia quanto os serviços médicosrespondem aos resultados desses incidentesrepetidamente, todos os dias. Ambos os órgãos seesforçam e possuem habilidades e conhecimentosque podem ajudá-los a serem bem sucedidos. Mas, ao apenas responder a esses incidentes,ambos são quase que totalmente atores passivosnesses cenários, exercendo pouca influência sobreos comportamentos e escolhas que levam osindivíduos a recorrer à violência ou sobre ascircunstâncias que estimulam tais comportamentos.
2Histórias familiares? Quando uma mulher é agredida fisicamente, a violência
acontece normalmente pelas mãos de alguém de quem
ela é intimamente próxima ou alguém que ela conhece
bem, como marido, amante ou amigo. Em Johanesburgo,
na África do Sul, por exemplo, uma mulher contou a sua
história: “Era época de festas, e eu estava muito feliz,
então fui até um bar local para me divertir e bebi
bastante. Estava sentada com outro rapaz, que era meu
amigo, quando meu namorado, com quem tenho um filho,
chegou e não fez nenhuma pergunta. Ele presumiu que eu
estava sentada com um outro namorado, tirou-me de lá e
me levou de volta para nossa casa. Então, começou a me
bater com o cabo de uma enxada”. Provavelmente, essa
não é a primeira vez que ela foi agredida, e não será a
última. Ela depende financeiramente do namorado e
também para ter onde morar, e nem pensa em
denunciá-lo à polícia. Pelo contrário, ela disse à
enfermeira da clínica local onde foi pedir ajuda que foi
atacada por um estranho e espera que ninguém nunca
saiba da verdade.
O assassinato “característico” das ruas de Glasgow, na
Escócia, será cometido por um homem jovem. A arma será
um canivete automático, que ele carrega por achar que
precisa de proteção pessoal. Ele acha que a maioria dos
homens da sua idade também carregam esses canivetes.
Ele já deixou a escola e está provavelmente
desempregado. Ele se encontrará com amigos e, juntos,
consumirão bebidas alcoólicas. Nesse momento, ele
encontrará outro jovem, com uma história similar. Haverá
uma discussão, um insulto, uma quebra de limite
territorial. Começa uma briga que, se não fosse pelas
armas, não passaria de murros. Contudo, os canivetes são
puxados e ocorre o esfaqueamento. Um desses jovens
torna-se vítima, e o outro um criminoso que tirou uma
vida e será condenado à prisão perpétua.
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A ciência já provou que a violência pode ser evitada.Portanto, em vez de esperar que algo aconteça,podemos começar a construir estratégias robustaspara a prevenção da violência antes que ela ocorra,aumentando, desta maneira, o bem-estar e asegurança das pessoas, comunidades e sociedades.Ainda assim, na maioria dos países, órgãos comosaúde, justiça criminal, de imposição da lei e gruposvoluntários continuam a gastar seus orçamentoslimitados na resposta à violência, após ela terocorrido. Não obstante, apesar desses programas,que são com frequência bastante caros, em muitasáreas os níveis de violência continuaminaceitavelmente altos, a assistência médica ruim, onível de instrução baixo e as prisões cheias decriminosos violentos. A persistência da violência,apesar desses investimentos, tem levado cada vezmais profissionais das áreas de justiça criminal e deimposição da lei a questionar a contínua confiançaem sistemas de justiça fundamentadosprincipalmente no princípio da reação punitiva aocomportamento do indivíduo.
Em vez disso, muitos agora acreditam que asenergias e os recursos coletivos devam serdedicados muito mais à prevenção, nos moldes doprograma de prevenção a homicídios em prática emDiadema, no Brasil (ver caixa 3). O foco está seampliando, com ênfase crescente em políticas eprogramas capazes de lidar com as causasfundamentais da violência. No combate bemsucedido à violência, a prevenção será muito maisabrangente: melhorará a imagem nacional,aumentará o bem-estar das comunidades e reduzirásignificantemente os seus custos, que podem esgotaros recursos públicos. Evidências científicasproporcionam algumas lições importantes sobre comoprevenir a violência e diminuir suas consequências.
O caso de fazer diferente
3Prevenção de homicídios com aredução do horário de vendas debebidas alcoólicas em Diadema,Brasil Dados criminais da cidade de Diadema, no Brasil,indicavam que 60% dos assassinatos e 45% das queixasde violência contra a mulher ocorriam entre as 11 da noitee 6 da manhã. Muitos assassinatos aconteciam em áreascom grande concentração de estabelecimentos queserviam bebidas alcoólicas, e a violência contra a mulherestava frequentemente ligada ao consumo de álcool. Emresposta a esses dados, foi criada uma lei municipal em2002, impedindo que os comerciantes de bebidasalcoólicas as vendessem após as 11 da noite. A adoção da lei foi acompanhada de uma campanha de informaçãopública, que comunicava a lei aos residentes. Os comerciantes de bebidas alcoólicas receberam duasvisitas da guarda civil municipal, uma seis meses e outratrês meses antes da implementação da lei, durante asquais a lei e suas implicações foram discutidas e oscomerciantes, solicitados a assinar uma declaraçãoconfirmando que tinham conhecimento da lei e das suasconsequências. Após sua implementação, a lei foi impostacom rigor por uma unidade pluriagencial especial, emapoio à guarda civil municipal. Essas medidas levaram àredução dos homicídios em 44%, com a estimativa de que319 mortes foram evitadas em um período de três anos.estimado de 319 muertes en tres años.
TAXA
S D
E HO
MIC
ÍDIO
S, P
OR 1
000
TAXAS MENSAIS DE HOMICÍDIOS POR 1000 RESIDENTES, ANTES E DEPOIS DA NOVA REGULAMENTAÇÃODE FECHAMENTO DE BARES EM DIADEMA, BRASIL. JANEIRO DE 1995 A JULHO DE 2005.
1995
0.02
0.00
0.04
0.06
0.08
0.10
0.12
0.14
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 20051996
APLICAÇÃO DO HORÁRIO DEFECHAMENTO
De Dualibi Sot al., O efeito da restrição no horário de abertura sobre
a violência relacionada ao álcool. Am J Public Health. 2007; 97:2276-2280
OBS.:a taxa de homicídios do mês de julho de 2005 é baseada em dados de metade do mês
Fig.1
Fig.1
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Em primeiro lugar, a ciência mostra que a violência é altamente previsível quando vista ao nível da população de todas as comunidades,cidades e países. Embora seja improvável que umdia sejamos capazes de prever quais indivíduos secomportarão de maneira violenta, estudosestatísticos mostram que ocorrências de quasetodas as formas de violência seguem um padrãobem definido com relação ao local e momento emque ocorrem, envolvimento de armas, álcool edrogas, idade e sexo dos grupos com maisprobabilidade de estarem envolvidos, e indicadorescomo renda, taxa de emprego e educação. Porserem tão previsíveis, todas as formas de violênciasão, portanto, facilmente evitáveis.
Em segundo lugar, o investimento nascausas impacta nos resultados finais. Já foidemonstrado que o investimento em prevenção –especialmente atividades de prevenção primáriasque operam nas causas, antes que os problemasocorram – é mais eficaz em termos de custo do que responder aos problemas após eles teremocorrido, além de proporcionarem benefíciosmaiores e mais sustentáveis.
Em terceiro lugar, os recursos devem serfocados nos grupos mais vulneráveis, nos lugaresmais vulneráveis. Embora haja violência em todas asclasses sociais, pesquisas mostram que as pessoascom o status socioeconômico mais baixo e asparcelas da população com maiores taxas dedesemprego correm o maior risco.
Em quarto lugar, o comprometimentopolítico com a prevenção da violência é vital. Emboramuito possa ser feito por organizações de grupos,indivíduos e instituições de base, o sucesso dosesforços de saúde pública depende, em última análise,do comprometimento político, inclusive nacionalmente.
Essas e outras lições importantes sobre a prevençãoda violência são captadas no modelo de saúdepública que a VPA e o seu Grupo de Ligação daJustiça Criminal o convidam a adotar.
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4321O foco da saúde pública está em lidar com
problemas que afetem a saúde. Todavia, pordefinição, não se trata apenas de pessoas, mas depopulações.A saúde pública almeja proporcionar obenefício máximo para o maior número de pessoas, o que não quer dizer que ignore o cuidado com osindivíduos. Mais propriamente, a preocupação éprevenir problemas de saúde e expandir melhorescuidados e segurança para populações inteiras.
A abordagem da saúde pública é interdisciplinar efundamentada na ciência. Ela utiliza conhecimentosde várias disciplinas, incluindo medicina,epidemiologia, sociologia, psicologia, criminologia,educação e economia. Isso tem permitido que ocampo da saúde pública seja inovador e responsivo a uma ampla gama de doenças e comportamentosproblemáticos por todo o mundo.
A abordagem da saúde pública também enfatiza aação coletiva. Ela tem provado repetidas vezes queesforços de cooperação de setores tão diversosquanto saúde, educação, serviços sociais, justiça e política são necessários para solucionar o que sesupõe normalmente ser puramente problemas“criminais”. Cada setor tem um papel importante adesempenhar na solução do problema da violência e, coletivamente, as abordagens adotadas por cadaum têm o potencial de produzir importantes reduçõesna violência.
Ao se mover do problema da violência para suasolução, a abordagem da saúde pública compreendequatro etapas principais:
Primeiro, adquirir o máximo possível de
conhecimentos básicos sobre todos os
aspectos da violência, através da coleta
sistemática de dados sobre magnitude, escopo,
características e consequências da violência
local, nacional e internacionalmente.
Segundo, investigar por que a violência
ocorre, isto é, fazer pesquisas para determinar as
causas e os motivos relacionados à violência, os
fatores que aumentam ou diminuem o risco de
violência e os fatores que podem ser modificados
através de intervenções.
Terceiro, explorar maneiras de prevenir a
violência usando as informações acima, com o
projeto, a implementação, o monitoramento e a
avaliação de intervenções.
Quarto, implementar intervenções que
pareçam promissoras, disseminar amplamente
as informações e determinar a relação entre
custo e benefício dos programas.
Qual é aabordagem dasaúde pública?
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Acima de tudo, a saúde pública é caracterizada porsua ênfase na prevenção. Em vez de simplesmentereagir à violência, seu ponto de partida é o fatocientífico que o comportamento violento e as suasconsequências podem ser prevenidos. A saúdepública identifica três níveis de prevenção:
Prevenção primária – Busca, acimade tudo, evitar que os comportamentos violentosocorram. As atividades podem ser focadas emcrianças a partir do pré-nascimento, passando pelaidade escolar, chegando até a adolescência, e seuspais ou responsáveis. As intervenções podem incluiriniciativas com os pais, treinamento de habilidadessociais e de vida para as crianças, e esforços paraaproveitar os efeitos de políticas redutoras deviolência que lidam com fatores causais mais amplos,como desigualdade socioeconômica, normassocioculturais que apoiam o uso da violência eacesso a armas de fogo, álcool e drogas ilícitas.
Prevenção secundária – Visa ainterromper a progressão da violência quando ela jáestá estabelecida. Isso é alcançado com a detecçãono estágio inicial, seguida de tratamento imediato eefetivo. Pode ter foco em crianças e jovens com idadeentre 10 e 21 anos. As atividades podem incluirdiversão e oportunidades positivas para jovens,programas de orientação e educação social outratamento contra o consumo abusivo de álcool.
Prevenção terciária – Envolve areabilitação de pessoas com comportamento violentoestabelecido, ou afetadas como vítimas. As atividadespodem incluir programas para criminosos violentosdentro de prisões e com vítimas na comunidade, demodo a minimizar o impacto da violência sobre elas.
4Dez estratégias confiáveis,baseadas em evidências, paraprevenir a violência:
1. Aumentar os relacionamentos seguros, estáveis eprotetores entre crianças e seus pais ou responsáveis;
2. Reduzir a disponibilidade e o consumo abusivo do álcool;
3. Reduzir o acesso a meios letais, como armas de fogo, facas e pesticidas (frequentemente usados paracometer suicídio, especialmente em países de renda baixa e média);
4. Melhorar as habilidades necessárias ao dia a dia e aumentar as oportunidades para crianças e jovens;
5. Promover a igualdade entre os sexos e dar mais poder às mulheres;
6. Mudar as normas culturais que apoiam a violência;
7. Melhorar os sistemas de justiça criminal;
8. Melhorar sistemas de bem-estar social;
9. Reduzir a distância social entre os grupos conflitantes;
10. Reduzir a desigualdade econômica e a pobrezaconcentrada.
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Ao projetar e implementar programas de prevenção àviolência, a abordagem da saúde pública organiza ascausas da violência em quatro níveis de influência,sendo cada um deles também um ponto de entradapara as intervenções.
As influências individuais são fatores
biológicos e pessoais que aumentam a probabilidade
de um indivíduo se tornar vítima ou perpetrador da
violência. Entre eles estão fatores como consumo
abusivo de álcool e o uso drogas, comportamento
impulsivo e histórico infantil de maus tratos ou
testemunho de violência doméstica. Entre as
estratégias comprovadas de prevenção individual
encontram-se programas pré-escolares enriquecidos
durante a segunda infância (idades entre 3 e 5 anos),
treinamento de habilidades necessárias ao dia a dia e
programas de desenvolvimento social para crianças
entre 6 e 18 anos.
As influências de relacionamentosão fatores dentro da família e em redes de amigos e
colegas que aumentam o risco de violência. Entre as
estratégias comprovadas de prevenção de violência
familiar estão o treinamento sobre desenvolvimento
infantil para pais, disciplina não violenta e habilidades
de solução de problemas. Programas de orientação
que ajudam a desenvolver ligações entre jovens de
alto risco e adultos atenciosos também podem
ajudar, com a construção de habilidades sociais e
construção de relacionamentos sustentáveis.
As influências na comunidadeincluem fatores na escola, nas vizinhanças e em
locais de trabalho que aumentam o risco. Entre eles
estão a falta de educação, a falta de oportunidades
profissionais e as normas culturais que legitimam a
violência. Entre as estratégias comprovadas e
promissoras de prevenção nas comunidades estão o
aumento da disponibilidade e da qualidade das
instalações de assistência infantil e o aumento da
disponibilidade e qualidade de programas de
enriquecimento pré-escolar.
As influências de nível social são os
fatores mais importantes e de impacto mais amplo
que influenciam a violência, como igualdade entre os
sexos, normas sociais e condições econômicas ou
sociais que apoiam as desigualdades em geral. Na
sociedade, dentre as estratégias comprovadas e
promissoras, encontram-se a redução da
disponibilidade e do consumo excessivo do álcool,
através da promulgação e imposição de leis de
licenciamento, tributação e precificação de bebidas
alcoólicas; redução do acesso a meios letais, incluindo
armas de fogo, sedativos e pesticidas; e a promoção
da igualdade entre os sexos, através de estratégias
como o apoio à emancipação econômica da mulher.
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Reconhecendo que uma complementa a outra, háalgum tempo, as abordagens da justiça criminal e dasaúde pública para lidar com a violência vêmconvergindo. Por exemplo, o interesse do sistema dejustiça criminal na prevenção da violência, antes queela ocorra, tem aumentado. Grande parte dopoliciamento da comunidade e do policiamentofocado em problemas busca reduzir o crime e aviolência alterando as condições que os alimentam, e não aumentando o número de prisões. Sistemas dejustiça de menores – um componente importante dossistemas de justiça criminal – baseiam-seprincipalmente na crença na reabilitação e prevenção.
Esses dois setores também convergem na importânciacada vez maior que dão a programas baseados emevidências e intervenções. Desde o seu início, aprática baseada em evidências vem sendo o dogmafundamental da abordagem da saúde pública àprevenção da violência. No sistema de justiçacriminal, abordagens baseadas em evidências têmaumentado rapidamente sua proeminência na últimadécada. Policiamento e prevenção ao crimebaseados em evidências estão crescendo rapidamentena Austrália, Nova Zelândia, América do Norte,Escandinávia e no Reino Unido. Seu objetivo sãoesforços mais eficazes para a redução de crimes nacomunidade – inclusive crimes violentos – com o usode evidências científicas sobre o que funciona, o quenão funciona, e o que é promissor.
Para melhorar a colaboração entre justiça criminal,saúde e outros setores com um papel adesempenhar na prevenção da violência, e para fazercom que estes setores entrem em convergência, asestratégias a seguir mostraram-se úteis naconstrução dos exemplos existentes de programaçãoda prevenção colaborativa:
Trabalhando juntos para prevenir aviolência – o que podemos fazer agora
5O modelo de Cardiff
Desenvolvido pelo Professor Jonathan Shepherd, em Cardiff, no País de Gales, o modelo de Cardiff mostrou que osdepartamentos de emergência podem contribuir com distinçãoe eficácia para a prevenção da violência ao trabalharem comParcerias para a Redução de Crimes e Desordem (Crime andDisorder Reduction Partnerships, CDRPs), e ao compartilharem,eletronicamente sempre que possível, dados simples eanônimos sobre locais específicos de violência, uso de armas,agressores e dia/hora da violência. Esses dados, e ascontribuições de médicos nas reuniões das CDRPs, têmmelhorado significantemente a eficácia do policiamentodirecionado, o que resultou na redução da violência emestabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas, nasruas e em atendimentos de emergência relacionados aacidentes em geral e a violência em Cardiff em 40% desde 2002.A cidade subiu do meio para o topo da lista das cidades maisseguras, na classificação entre cidades similares, posição quemantém por mais de três anos.
O setor de saúde foi incluído em legislação do Reino Unido queobriga a formação de CDRPs, visto que pesquisas revelaram quegrande parte da violência que resultava em tratamento nosdepartamentos de emergência não tinha o conhecimento dapolícia (principalmente porque não havia denúncia ou não haviaimagens captadas por câmeras de circuito interno em espaçospúblicos). Por esta razão, há vários benefícios na fusão entre osdados dos departamentos de emergência e da polícia para seobter o quadro real de toda a violência que resulta emferimentos sérios e, o mais importante, para preveni-la, combase neste quadro mais completo.
11
3 5Aumentar a cooperação entresetores com o encorajamento,facilitação e/ou organização de:
. Reuniões conjuntas de organizações deprofissionais dos órgãos de saúde pública e deimposição da lei / justiça criminal;. Questões temáticas de periódicosespecializados sobre a colaboração entre os setoresda saúde pública e da imposição da lei / justiça criminal;. Treinamento conjunto e cruzado, isto é,incorporação das abordagens dos órgãos de saúdepública à prevenção da violência ao currículo dasacademias de polícia, e inclusão das abordagens dosórgãos de imposição da lei / justiça criminal, como opoliciamento com base em evidências e correçõescom base em evidências, ao treinamento dos órgãosde saúde pública.
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1Identificar
áreas existentes e potenciais de colaboração entreesses setores, local, nacional, regional einternacionalmente, e chamar a atenção a elesatravés de conferências, debates, mídia, artigos emjornais, escolas e sistemas de apoio aos pais;
Estabelecer parcerias
entre órgãos de saúde e órgãos internacionais deimposição da lei / justiça criminal e organizações, demodo que cada grupo de órgãos possa aprender umcom o outro;
Estabelecer projetos dedemonstração
os quais exibirão exemplos bem sucedidos dacolaboração entre órgãos de imposição da lei /justiça criminal, saúde e outros setores, em umacidade ou país;
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Envolver-se com os principaistomadores de decisões ecriadores de políticas para:. Aumentar a conscientização sobre a agendacompartilhada existente entre as abordagens dosórgãos de saúde pública e de imposição da lei /justiça criminal para a prevenção da violência;. Aumentar a conscientização sobreabordagens com base em evidências para prevenir aviolência e reduzir suas consequências;. Conseguir o comprometimento dostomadores de decisões e criadores de políticas paraformular políticas conjuntas em áreas de prevençãoda violência nas quais os órgãos de saúde pública ede imposição da lei / justiça criminal possam colaborar.
A violência não é um problema social intratável, nem é umaparte inevitável da condição humana. Podemos fazer muitopara lidar com ela e evitá-la. A maior parte do ônus daviolência recai sobre os órgãos de imposição da lei/justiçacriminal e setores de saúde. Uma maior colaboração entreesses setores pode fazer uma contribuição muitoimportante para a redução do ônus relacionado à violênciasobre as comunidades e para a redução do número de suasvítimas, melhorando a vida de indivíduos e famílias, além defortalecer comunidades e sociedades.
Uma abordagem baseada em evidências e multisetorial, naqual órgãos de imposição da lei / justiça criminal e setoresde saúde pública têm os papéis principais, pode ir longe naprevenção de todas as formas de violência e mitigação desuas consequências. Portanto, pedimos que aceite esteconvite para participar de uma abordagem nova ecolaborativa para a prevenção da violência. A mudança docaminho da reação para a estrada da prevenção não seráfácil, mas temos que fazer a mudança se quisermos um diaprogredir na redução da violência.
Conclusão
14
Autores
Informações adicionais
Agradecimentos
16
Detetive Superintendente Chefe John Carnochan QPM FFPH
Co-diretor, Unidade Escocesa de Redução da Violência
Alexander Butchart
Organização Mundial de Saúde
Thom Feucht
Instituto Nacional de Justiça dos Estados Unidos
Christopher Mikton
Organização Mundial da Saúde
Professor Jonathan Shepherd, CBE FMedSci,
Diretor, Grupo de Pesquisa sobre a Violência e a Sociedade, Universidade de Cardiff
Relatório Mundial sobre Violência e Saúde (OMS, 2002)
http://www.who.int/violence_injury_prevention/publications/violence/en/index.html
Unidade de Redução da Violência, , www.actiononviolence.org.uk
Parceria de Redução do Crime e da Desordem de Cardiff (CDRP)
www.cardiff.ac.uk/dent1/contactsandpeople/academicstaff/shepherd-jonathan-prof.html
Dr Marsha Liss (Departamento de Justiça dos Estados Unidos), Mark Bellis (Centro para a Saúde Pública, Universidade
John Moores, Liverpool), Arturo Cervantes (Ministro da Saúde, México), Gene Guerrero (Instituto de Sociedade Aberta),
Richard Matzopoulos (Conselho de Pesquisas Médicas, África do Sul) e Margaret Shaw (Centro Internacional para a
Prevenção do Crime)