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Quem bebe

vive mais tempoOs benefícios foram encontrados entre consumidores decafé e de descafeinado. Ou seja, o mérito não será da cafeína.Falta agora descobrir os compostos que dão ao café umcomprovado efeito protector da saúde

Andrea Cunha Freitas

e é daquelas pessoasquejuramquenãoécapaz de funcionarsem café, temos bo-as notícias para si.Ontem foram publi-cados dois estudossobre os benefíciosdo café e, em traçosgerais, a conclusão é

que quem bebe à volta de três cafés

por dia vive mais tempo. Um dostrabalhos estudou a associação entreo café e a mortalidade em mais de521 mil pessoas de dez países euro-peus (Portugal não está incluído),a outra investigação quis confirmarse as vantagens associadas ao con-sumo de café existem para todasas populações, sobretudo as "nãobrancas" (japoneses americanos,

afro-americanos, latinos e havaia-nos) que são menos estudadas.

Não é a primeira vez que se pu-blica um estudo sobre café. Longedisso. Tal como o chocolate ou ovinho (que também contam com le-

giões imensas de fãs), os efeitos docafé têm sido alvo de várias inves-

tigações nos últimos anos. Dizemas estimativas que todos os dias sebebem mais de dois mil milhões de

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chávenas de café (nas suas mais di-ferentes formas) em todo o mundo.Números de lado, sabemos que ocafé é um elemento importante nanossa dieta e que, por isso, importaestudá-10. Apesar de ser difícil iso-lar os seus benefícios numa dieta e

estilo de vida que inclui múltiplasinfluências, já foram divulgados vá-rios estudos que provaram que oconsumo desta bebida pode ter umefeito protector em relação a algu-mas patologias, desde a diabetes do

tipo II a doenças cardiovasculares,Alzheimer, Parkinson e até algunstipos de cancro. Mas, atenção, es-tamos ainda na fase do "pode" terum efeito benéfico.

Desta vez, meteu-se quase tudono mesmo saco e tentou-se uma fo-

tografia global que quis mostrar se

o consumo de café está associadoà mortalidade. Está. E parece ser omelhor dos casamentos, contribuin-do para um menor risco de mortepor todas as causas. Essa é a prin-cipal conclusão de um estudo in-ternacional, publicado na AnnalsofInternai Medicine e financiado pelaComissão Europeia e pela AgênciaInternacional para a Investigação de

Cancro, que apresenta o resultadode uma análise à saúde de 521.330

pessoas de dez países europeus(Dinamarca, França, Alemanha,Grécia, Itália, Holanda, Noruega,Espanha, Suécia e Reino Unido).É o maior estudo feito até à datasobre este tema. Os participantesfazem parte de um grande projectoeuropeu conhecido pela sigla EPIC(European Prospective Investiga-tion into Câncer and Nutritiori) queacompanha (ao longo dos últimos 16

anos, em média) homens e mulhe-res de vários países, servindo para a

análise e monitorização de diversosindicadores de saúde.

"Percebemos que um elevadoconsumo de café está associado a

um menor risco de morte por qual-quer causa e especificamente pordoenças circulatórias e digestivas",refere Marc Gunter, principal autordo estudo e investigador na AgênciaInternacional para a Investigaçãodo Cancro, num comunicado doImperial College de Londres.

Surpreendentemente, o efeitoprotector também foi encontradoentre os consumidores de descafei-nado. Porém, avisam os investigado-res, a separação entre consumido-

res de cada uma das versões não é

fácil de fazer, porque não foi possí-vel excluir a hipótese de as pessoasque declararam beber descafeinado

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terem consumido café noutros pe-ríodos da sua vida. Além disso, háoutros produtos que têm cafeína,como chá ou refrigerantes.

Todos os dias se bebem mais dedois mil milhões de chávenas decafé (nas suas mais diferentesformas) em todo o mundoOs autores admitem ainda que o

facto de os hábitos de consumo decafé terem sido avaliados uma únicavez é uma limitação do estudo, mas

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notam que a associação do consu-mo de café a uma vida mais longafoi constatada em todos os países. O

trabalho também teve em conta as

diferentes formas que o café assumena Europa, desde o expresso italia-no ao cappuccino no Reino Unido,e outros hábitos dos participantes,tais como fumar.

Com a análise a biomarcadoresmetabólicos a um grupo mais pe-queno de 14 mil pessoas, foi possívelainda perceber que os consumido-res de café terão um fígado maissaudável e um melhor controlo dosníveis de glucose (açúcar). "Estesresultados, juntamente com os da-dos de outros estudos realizadosnos EUA e no Japão, dão-nos umamaior confiança para afirmar que ocafé pode ter efeitos benéficos nasaúde", conclui MarcGunter.

Sim, pode ter. "Ten-do em conta as limita-

ções da investigação,ainda não estamos nafase de recomendaràs pessoas para bebermais ou menos café.Dito isto, os nossos re-sultados sugerem queum consumo moderado - atécerca de três chávenas por dia

não prejudica a sua saúde e que in-

corporar o café na sua dieta podeser benéfico para a saúde."

Mas o que é que falta saber pa-ra afirmar que o café é benéfico?Falta esclarecer como é que istoacontece. Qual é o composto queo café tem que consegue alcançareste efeito protector no nosso orga-nismo e como funciona esse meca-

nismo.Portu-

gal nãoestá re-

presentado neste vas-to estudo, mas há vá-rias equipas de inves-

tigação no país que jáfizeram descobertas

relacionadas com o ca-fé. Por exemplo, Luísa

Lopes, investigadora doInstituto de Medicina Mole-

cular da Universidade de Lisboa,

examinou a relação do café com a

doença de Parkinson e demonstrou

que a cafeína conseguia interferirna agregação tóxica de uma prote-ína que está muito associada aosdoentes de Parkinson, que é a alfa-sinucleína. Ou seja, tinha um efeito

protector numa doença neurode-generativa.

Para a cientista, os resultados doestudo publicado ontem são entu-siasmantes, mas não são surpreen-dentes. "Não me surpreende, por-que já tínhamos algumas pistas de

que o café era protector em várias

doenças associadas ao envelhe-cimento da população e doençascrónicas: diabetes, doenças cardio-vasculares e neurodegenerativas",explica, deixando também a grandequestão no ar: "Ainda não sabemosé porquê."

No entanto, a associação com a

longevidade e o número de pessoasestudadas fazem deste estudo "umponto de partida muito interessante

para tentar saber mais".Falta agora "dissecar" os resulta-

dos estudando pequenos grupos,comparar grupos de pessoas quebebem café com pessoas que nãobebem café, identificar os compos-tos e mecanismos que são respon-sáveis por este benefício. "O queprovavelmente se segue são estudosmuito mais focados, em modelosanimais e estudos humanos comgrupos mais pequenos, para con-seguir dissecar estas conclusões,dar os compostos a cada grupo ever o que acontece", prevê a inves-

tigadora.Mas, tal como já referimos, a edi-

ção da Annals of Internai Medicinetem dois estudos sobre café. Numoutro artigo, os investigadores daUniversidade de Califórnia do Sul

(nos EUA) tentaram perceber comoo consumo desta bebida afectava a

saúde em diferentes populações. 0estudo (Multiethinc Cohort) acom-panhou mais de 185 mil pessoasdurante uma média de 16 anos.Neste grupo encontravam-se afro-americanos, nativos americanos,havaianos, japoneses americanos,latinos e brancos. Mais uma vez, os

investigadores confirmaram que o

consumo de café estava associado

a um menor risco de morte pordoença cardíaca, cancro, AVC (aci-dente vascular cerebral), diabetes e

doenças respiratórias e do fígado,mas, desta vez, também nas popu-lações não brancas que são menosestudadas.

E concluíram que quanto maismelhor. Até um certo ponto, claro."As pessoas que consomem umachávena por dia têm menos 12% de

probabilidade de morrer mais cedo

quando as comparamos com as quenão bebem café. A associação é ain-da mais forte para os que bebem du-

as a três chávenas por dia, que têmuma redução na ordem dos 18%",refere um comunicado sobre esteestudo, que também não encontroudiferenças entre os consumidoresde café e descafeinado.

O segredo do café pode até nãoser a cafeína, mas outros dos seusmuitos e variados compostos, desdeantioxidantes a vitaminas. E pode-mos não saber por que faz bem, massabemos por que sabe tão bem e é

fácil perceber o fenómeno à escalamundial.

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Luísa Lopes admite que também é

fã de café - "nunca mais de dois pordia"- e explica o seu sucesso. "É na-

tural, é uma das bebidas psicoacti-vas mais populares no mundo. Tema vantagem enorme de ter poucosefeitos secundários (eventualmen-te, cefaleias em caso de privação) e

pode ser consumida durante muitos

anos sem que o efeito se perca como tempo e sem que o consumidor

sinta a necessidade de aumentar a

dose. É digestivo. É diurético. De-pois, tem aquele efeito de alerta queé muito rápido e é o seu principaltrunfo. É quase a droga ou fármacoideal para aumentar o desempenhocognitivo. E, ainda por cima, é ba-rato." Hoje, juntando estes velhos

argumentos às boas notícias, o seucafé vai saber ainda [email protected]