presos à vida - agência ecclesiasites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que...

42

Upload: others

Post on 18-Jan-2021

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas
Page 2: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

04 - Editorial: Paulo Rocha06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Internacional20 - Opinião: Irmão Alois de Taizé24 - Opinião: LOC/MTC26 - Semana de.. Luis Filipe Santos28 - Dossier Visitar os presos

30 - Entrevista Celso Manata60 - Multimédia62 - Estante64 - Concílio Vaticano II66 - Agenda68 - Por estes dias70 - Programação Religiosa71 - Minuto Positivo72 - Liturgia74 - Jubileu da Misericórdia78 - Fundação AIS80 - LusoFonias

Foto da capa: D.R.Foto da contracapa: Agência ECCLESIA

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

2

Opinião

A presença daIgreja nas prisões[ver+]

Ação social emPortalegre eCastelo Branco[ver+]

Políticos,corrupção econversão[ver+]

D. Joaquim Mendes | Paulo RochaIrmão Alois| LOC/MTC | FátimaMagalhães |Manuel Barbosa | PauloAido | Tony Neves | FernandoCassola Marques | Luis FilipeSantos

3

Page 3: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

Presos à vida

Paulo Rocha AgênciaECCLESIA

Num ambiente de tertúlia, aproximaram-se narrativasde percursos de vida que se viram obrigados a reunirtodas as forças para continuar “presos à vida”: odiagnóstico inesperado da inevitabilidade deamputação de mãos e pés, a cegueira congénita e aescravidão da droga que levou à prisão quem nuncadesistiu de encontrar um “tino” para a vida.

4

Três histórias de desgraças? Sim,elas existiram! Mas mostramsobretudo a determinação emdescobrir o gosto pela vida!É impensável, na meia-idade,reaprender a andar, a comer, avestir-se e tudo o mais compróteses no lugar de braços epernas e ferros no sítio das mãos edos dedos. Quem ultrapassou essasbarreiras diz que “renasce” em cadadia. E acrescenta, com gentileza eapós ter aberto o pequeno pacotede açúcar antes de o misturar nocafé com que termina a refeição, “seeu precisar de ajuda, peço!”.Outro caso. Infelizmente, há muitaspessoas que não conhecem a luz,vivem permanentemente numaescuridão. Mesmo assim, muitoscegos falam dos tons e das coresque o mundo tem com entusiasmo,com realismo, certos de que “Deuspode não ter dado luz para ver omundo, mas deu o coração para odescobrir com muito maissensibilidade”.A terceira situação. É partilhada porquem deixou casa e família ainda nainfância e saiu de um desseslugares “problemáticos” rumo aaventuras, todos os dias.

Facilmente se percebe o desfechode um itinerário de vida que cresceuneste ambiente e com referênciascompletamente frágeis, mesmo nafamília. Até ao dia em que “cai amáscara”, reaparece o sonho deuma vida com sentido e a decisãode uma mudança radical. Porqueesse horizonte é uma marcapermanente, mesmo em quempassa anos na vadiagem, na droga,rouba e acaba na prisão. “Nunca mesenti preso!”, garantia quem passoumuitos anos detido, diasconsecutivos na “solitária”. Mas aessa convicção acrescentava: “Nãojulguem nem gritem, apoiem”,porque “todo o ser humano ésempre mais do que o seu erro”. E,acrescento, mais do que o seusofrimento, o seu limite, a suadeficiência.Por momentos, pessoas e gruposparecem deixar-se afetar eentusiasmar por cartazes de maugosto ou leis que desconhecem odireito e têm por fundamentoapenas a ideologia da ocasião. Masa história confirma que sempre sefaz pelos que permanecem presos àvida.

5

Page 4: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

Orçamento de Estado ?de 2016 aprovado na generalidade pelaesquerda

6

OE2016“[Aprovação partidos de esquerda] demonstroua capacidade e vontade do Governo deinverter o rumo e definir um caminhoorçamental mais realista do que o que foiapresentado no primeiro esboço no início deFevereiro”. Agência de notação Moody’s, inPúblico 25/02/2016 "É um mau orçamento porque não está, comodeveria, ao serviço de uma estratégia sólida derecuperação da economia e do emprego”, líderdo PSD, Pedro Passos Coelho, aos jornalistas,na sede do partido. DN, 22/02/2016 Plano de reestruturação do Novo Banco implicasaída de mil funcionários já este ano. 500devem deixar a entidade no âmbito de umdespedimento coletivo, informou hoje acomissão de trabalhadores do banco, divulgaAgência Lusa. “O filme baseia-se na ideia, talvez ingénua, deque a ação pode levar a uma mudança deatitude”, refere o texto de apresentação dodocumentário ‘Balada de um Batráquio’, com oqual Leonor Teles, 23 anos, receber um Ursode Ouro, para Melhor Curta Metragem, no 66.ºFestival de Berlim. “Quando se perde a dimensão do serviço, opoder transforma-se em arrogância e torna-sedomínio e opressão”, Papa Francisco,audiência pública semanal, Praça de SãoPedro. AE 24/02/2016

7

Page 5: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

Respostas sociais com marcacatólicaem Portalegre e Castelo Branco

O bispo de Portalegre-CasteloBranco destacou a matriz cristã quedeve reger as respostas sociais daIgreja, que “não podem ser lugar deum certo ateísmo prático”. Ementrevista concedida à AgênciaECCLESIA, D. Antonino Dias realçouque as

instituições não podem ser espaçosonde “não se tem nada contraDeus, mas faz-se tudo sem Deus eele não é chamado a nada”.E se a maior parte das instituiçõesna diocese “exercem a sua missão,fazem oração com os crentes, têm

8

orações comunitárias, sabem falarde Deus às pessoas, mesmoindividualmente, haverá outras quenão farão nada e esse é o desafio,fazer com que façam alguma coisa”,apontou o prelado.D. Antonino Dias presidiu estesábado à 7.ª assembleia diocesanada Pastoral Social e MobilidadeHumana, que levou ao auditóriomunicipal de Vila Real cerca de 240pessoas, entre sacerdotes,membros das 40 Misericórdias eoutras instituições sociais, erepresentantes dos vários grupos emovimentos pastorais da região.Uma iniciativa subordinada ao tema“A Misericórdia, Coração daIdentidade Cristã”, tendo por base eo Jubileu da Misericórdia que aIgreja Católica está a viver.O bispo de Portalegre-CasteloBranco destacou à AgênciaECCLESIA a importância de “formar”quem participa no trabalho social daIgreja Católica, “para que percebamque estas instituições ligadas àIgreja têm sempre uma identidademuito própria e uma missão que nãopode ser esquecida”. “Portantoestas jornadas são sempre umaocasião para

fortalecer esta capacidade dedarmos as mãos e de caminharmosjuntos”, completou.Atualmente, o trabalho social naDiocese de Portalegre-CasteloBranco é assumido quase natotalidade pelas Misericórdias,havendo ainda “alguns centrossociais paroquiais”. “AsMisericórdias são a principalresposta social que temos, fazemaquilo que podem e há um esforçopara se fazer cada vez mais”,garantiu D. Antonino Dias.Para o diretor do SecretariadoDiocesano da Pastoral Social eMobilidade Humana, a 7.ªassembleia diocesana do setorpermitiu recolher "pistas para quenos diversos serviços, obras emovimentos as coisas não fiquemtodas na mesma". Elicidio Bilédestacou a importância de umamaior ligação entre o Secretariado,a Caritas Diocesana e os diversosgrupos paroquiais de pastoralsocial.Para que assim se possa "tentarque em cada comunidade, ouconjunto de paróquias com umpároco em comum, haja uma Cáritasinterparoquial ou um outro grupoorganizado que permita darresposta aos problemas", apontou.

9

Page 6: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

Eutanásia «fratura» pessoas esociedadesO cardeal-patriarca de Lisboa que alegislação tem de progredir noapoio à “viabilidade familiar” e que aeutanásia é um sinal de fratura nasociedade. “Estas questõesfraturantes fraturam-nos antes demais a nós próprios, porque nosdescartam”, disse D. ManuelClemente aos jornalistas à margemda do V Encontro de Jurisprudentesde Língua Portuguesa sobre aFamília, que decorreu hoje estasegunda-feira, na Faculdade deDireito da Universidade de Lisboa.“Uma pessoa por circunstâncias dasua vida, de doença, depressão ouisolamento, não tem vontade deviver. Uma maneira de nosfraturarmos dessa pessoa é dizer:‘se não queres viver, não vives’. Euvejo essas situações como apelo amais convivência, a mais presença,mais cuidados”, sublinhou opatriarca de Lisboa.Para D. Manuel Clemente, o debateem curso sobre a eutanásia e assituações que o otivam devem levara um compromisso maior “mais unscom os outros no sentido da vida enão no sentido da desistência dela”.Após ter apresentado na Faculdadede Direito os trabalhos do Sínodo

dos Bispos sobre a Família, quedecorreram no Vaticano nos mesesde outubro de 2014 e de 2015, ocardeal-patriarca de Lisboasustentou que o Estado, “tem deprogredir no apoio concreto àviabilidade familiar”.“Se entendemos – e não é precisoser cristão para o entender – que abase da sociabilidade, a escola ondeaprendemos a viver uns com osoutros e para os outros é porexcelência a família e a casa decada um, então é bom que o Estado,como primeiro órgão do bem comum,favoreça a estabilidade e aviabilidade dos núcleos familiares”,declarou.Para D. Manuel Clemente, a“estabilidade e viabilidade dosnúcleos familiares”, está relacionadocom “a habitação, o trabalho e todosos recursos que são necessáriosque para que tal sociabilidadeaconteça na família e a partir dafamília”.

10

Austeridade agravou pobreza eexclusãoA Cáritas revela no seu maisrecente relatório sobre Portugal queas medidas de austeridadeagravaram a pobreza e a exclusão,propondo medidas para “alcançar ainclusão ativa”. “Este é umdocumento que deixa algumasrecomendações para que osdecisores políticos possamultrapassar estes grandes desafios,provenientes das medidas deausteridade que enfraqueceram ospilares de inclusão ativa agravandoa pobreza e a exclusão social emPortugal”, explica a CáritasPortuguesa, em comunicado.O secretário-geral da CáritasEuropa vai participar naapresentação do documento sobreos desafios da pobreza e inclusãosocial, o ‘Caritas Cares CountryReport 2015’, a 3 de março, pelas11h00, no espaço Atmosfera M, emLisboa.O documento indica os três“principais desafios” de Portugalrelacionadas com a pobreza e aexclusão social: “Menos pessoastêm acesso a apoio adequado aorendimento; a reforma do mercadode trabalho piorou as condições detrabalho; a disponibilidade e aacessibilidade territorial limitamatualmente o acesso a serviços dequalidade”.

Neste contexto, a CáritasPortuguesa desenvolverecomendações ao Governo quepassam por “apoio adequado aorendimento”, “mercado de trabalhoinclusivo e “acesso a serviços dequalidade”.A organização católica revela aindaque “atingiu um total de 160 608beneficiários”, em 2014, e alerta queos problemas que “mais preocupam”são as “novas formas de pobreza,pobreza no trabalho e pobreza rural”.Neste âmbito, os grupos de riscocom “maior necessidade” de umaação política são as crianças, osdesempregados de longa duração,as pessoas com deficiência;pessoas com maior necessidade decuidados e os jovens.A Cáritas Portuguesa denúnciatambém que o acesso aos direitos“é limitado” para as pessoas emrisco de pobreza e exclusão socialem Portugal.

11

Page 7: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosemwww.agencia.ecclesia.pt

12

Peditório nacional da Cáritas

«A Missão de Francisco», Pastorinho de Fátima

13

Page 8: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

Que os políticos corruptos searrependam

O Papa apelou à conversão dospolíticos corruptos, deixando críticasa quem explora outras pessoas eexerce o poder sem “respeito pelavida” ou “justiça”. Francisco falavadurante a audiência públicasemanal, perante dezenas demilhares de pessoas reunidas naPraça de São Pedro, partindo de umepisódio bíblico: o rei Acab mandaassassinar Nabot para lhe roubaruma vinha.“Deus vê este crime e bate à portado coração de Acab; o rei,confrontado com o seu pecado,entende, humilha-se e pede perdão:que bom seria que

os poderosos exploradores de hojefizessem o mesmo”, declarou.O Papa assinalou que este episódiodo Antigo Testamento continua amanter atualidade e deixar liçõespara os dias de hoje. “Esta não éuma história de outros tempos. Éuma história atual, dos poderososque, para terem mais dinheiro,exploram os pobres, exploram aspessoas. É a história do tráfico depessoas, do trabalho escravo, daspobres pessoas que trabalham semdireitos e com o mínimo, paraenriquecer os poderosos. É ahistória dos políticos

14

corruptos, que querem sempre maise mais”, denunciou. “Eis até onde leva o exercício deuma autoridade sem respeito pelavida, sem justiça e misericórdia. Eisaté onde leva a sede de poder:transforma-se numa cobiça quenunca se sacia”, acrescentou.Francisco começou por dizer que ariqueza e o poder podem ser bons eúteis, quando são colocados aoserviço do “bem comum” e nãocomo “privilégio”. “Quando se perdea dimensão do serviço, o podertransforma-se em arrogância etorna-se domínio e opressão”,alertou.Continuando o ciclo de catequesessobre a misericórdia, no Ano Santoextraordinário (dezembro 2015-novembro 2016), o Papa sublinhouque “Deus é maior do que amaldade e os jogos sujos” dos sereshumanos.“Desejo que todos, neste Ano Santoda misericórdia, vivamqualquer forma de poder comoserviço a Deus e aos

irmãos, com critérios de amor e dejustiça, de serviço ao bem comum”,referiu.Francisco citou depois umapassagem do livro do profeta Isaías,com um alerta para os latifundiáriose os ricos: «Ai de vós, os que juntaiscasas e mais casas, e queacrescentais campos e maiscampos, até que não haja maisterreno, e até que fiqueis os únicosproprietários em todo o país». "E oprofeta Isaías não era comunista",acrescentou, de improviso.No final do encontro, o Papa saudouos peregrinos de várias línguas,incluindo os de língua portuguesa,incluindo fiéis de Leiria-Fátima, NovaOeiras e Lisboa. “Faço votos de quea vossa peregrinação quaresmal aRoma fortaleça em todos a fé econsolide, no amor divino, osvínculos de cada um com a suafamília, com a comunidade eclesial ecom a sociedade. Que NossaSenhora vos acompanhe e proteja”,desejou.

15

Page 9: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

Francisco responde a cartas decrianças, incluindo uma portuguesaAs respostas do Papa a cartas decrianças de todo o mundo, incluindoo português João, de 10 anos, vãoser lançadas em livro a 1 de março,com o título ‘Querido PapaFrancisco’. As cartas apresentadasno livro, remetidas por crianças dosseis aos 13 anos, dos cincocontinentes, pedem ajuda ao Papa,conselhos, respostas às suasdúvidas e explicações sobre osentido da fé e da existência, referea editora.“O Papa Francisco responde compalavras simples eextraordinariamente íntimas, comoum pai extremoso, acolhendo econfiando aos mais pequenos a suareflexão sobre a vida e sobre a fé”,adianta o texto de apresentação,citado pelo Secretariado Nacionalda Pastoral da Cultura.O título da edição italiana, ‘L’amoreprima del mondo’, evoca a perguntasobre o que fazia Deus antes decriar o mundo. “Amava”, respondeo Papa.A génese da obra remonta a maiode 2015, quando a Loyola Press,editora dos Jesuítas, propôs a ideiaa Francisco, que logo a aceitou,revela a Rádio Vaticano.

Desde então foram recolhidas 259cartas de 26 países, incluindo, alémde Portugal, Albânia, China, Nigéria,Filipinas e escolas provisórias queacolhem refugiados sírios.Francisco aborda, entre outrotemas, o sofrimento das crianças,em resposta a um rapaz norte-americano de sete anos.“Ainda não consegui entenderporque é que as crianças sofrem.Para mim é um mistério. Não sei daruma explicação. Interrogo-me sobreisso. Rezo sobre esta pergunta:porque é que as crianças sofrem? Éo meu coração que põe a pergunta.Jesus chorou, e chorandocompreendeu os nossos dramas. Euprocuro compreender”, escreve.

16

Ano da Misericórdia sem pena demorteO Papa Francisco apelou estedomingo à “abolição” da pena demorte em todo o mundo,enquadrando esta decisão nacelebração do ano santoextraordinário, o Jubileu damisericórdia, em defesa de umacultura de “respeito da vida”. “Apeloà consciência dos governantes,para que se chegue a um consensointernacional pela abolição da penade morte e proponho aos que entreeles são católicos que cumpram umgesto corajoso e exemplar: quenenhuma condenação sejaexecutada neste Ano Santo daMisericórdia”, declarou, perantemilhares de fiéis reunidos noVaticano para a recitação da oraçãodo ângelus.O Papa considerou como um “sinalde esperança” que a opinião públicaseja cada vez mais “contrária” àpena de morte, mesmo comoinstrumento de “legítima defesasocial”. “Com efeito, as sociedadesmodernas têm a possibilidade dereprimir eficazmente os crimes semeliminar definitivamente a quem osque cometeu a hipótese de redimir-se. Que o problema sejaenquadrado na ótica de uma justiçapenal que seja

cada vez conforme à dignidade dohomem e ao projeto de Deus parao homem e a sociedade”,acrescentou.Segundo o Papa, o mandamento de‘não matar’ tem um valor “absoluto”,tanto para o inocente como para oculpado. “O Jubileu extraordinárioda Misericórdia é uma ocasiãopropícia para promover no mundoformas cada vez mais maduras derespeito pela vida e pela dignidadede todas as pessoas: também ocriminoso mantém o direito inviolávelà vida, dom de Deus”, defendeu.Francisco convidou todos oscristãos e “homens de boa vontade”a trabalhar em conjunto pelaabolição da pena de morte e pelamelhoria das “condições prisionais,no respeito pela dignidade humanadas pessoas privadas da liberdade”.

17

Page 10: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

18

Procissão para a Porta Santa na Basílica de São Pedro, Jubileu da CúriaRomana

A viagem do Papa ao México

19

Page 11: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

Perante as migrações,ultrapassemos o medo!

Ir.Alois Prior da Comunidade Ecuménica de Taizé

No mundo inteiro, há homens, mulheres ecrianças que são obrigados a deixar a sua terra.A angústia que vivem cria neles a motivação departir. E esta motivação é mais forte que todas asbarreiras erguidas para lhes impedir o caminho.Posso dar testemunho disso por ter passadorecentemente alguns dias na Síria. Em Homs, aextensão das destruições causadas pelosbombardeamentos é inimaginável. Uma grandeparte da cidade está em ruínas. Vi uma cidadefantasma e ressenti o desespero dos habitantesdo país.Hoje são os Sírios que afluem à Europa, amanhãserão outros povos. Os grandes fluxosmigratórios a que assistimos são invencíveis. Nãonos apercebermos disso seria umademonstração de miopia. Procurar regular estesfluxos é legítimo e mesmo necessário, masquerer impedi-los construindo muros de aramefarpado é absolutamente inútil.Perante esta situação, o medo é compreensível.Resistir ao medo não significa que este devadesaparecer, mas sim que não devemos deixarque nos paralise. Não permitamos que a rejeiçãodo

20

estrangeiro se introduza nas nossasmentalidades, pois recusar o outro éo germe da barbárie.Numa primeira etapa, os paísesricos deveriam tomar umaconsciência mais clara de que têm asua parte de responsabilidade nasferidas da História que provocarame continuam a provocar imensasmigrações, nomeadamente de Áfricaou do Médio Oriente. E, hoje,algumas escolhas políticaspermanecem fonte de instabilidadenestas regiões. Uma segunda etapadeveria levar estes países a ir alémdo medo do estrangeiro e dasdiferenças de culturas, colocando-se corajosamente a moldar o novorosto que as migrações já dão àsnossas sociedades ocidentais.Em vez de ver no estrangeiro umaameaça para o nosso nível de vidaou a nossa cultura, acolhamo-locomo membro da mesma famíliahumana. E assim compreenderemosque, apesar

de criar certamente dificuldades, oafluxo de refugiados e de migrantestambém pode ser umaoportunidade. Estudos recentesmostram o impacto positivo dofenómeno migratório, tanto para ademografia como para a economia.Porque será que tantos discursossalientam as dificuldades sem darvalor ao que há de positivo? Os quebatem à porta dos países mais ricosque o seu levam estes países atornar-se solidários. Será que nãoos ajudam a tomar um novoimpulso?Gostaria de situar aqui a nossaexperiência de Taizé. É humilde elimitada, mas muito concreta. DesdeNovembro do ano passado, emcolaboração com as autoridades ealgumas associações locais,acolhemos em Taizé onze jovensmigrantes do Sudão – a maioriadeles do Darfur – e do Afeganistão,vindos da «selva»

21

Page 12: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

de Calais. A sua chegada despertouuma impressionante vaga desolidariedade na nossa região: hávoluntários que vêm ensinar-lhesfrancês, médicos que os tratamgratuitamente, vizinhos que oslevam a fazer passeios e a darvoltas de bicicleta… Rodeados portanta amizade, estes jovens, queatravessaram acontecimentostrágicos nas suas vidas, estão aospoucos a reconstruir-se. E estecontacto simples com muçulmanosmuda o olhar das pessoas que osencontram.Na nossa aldeia, os jovens tambémforam acolhidos por famílias devários países – Vietnam, Laos,Bósnia, Ruanda, Egipto, Iraque –que chegaram a Taizé ao longo dedécadas e que fazem hoje parteintegrante do nosso ambiente.Todos eles conheceram grandessofrimentos, mas trazem à nossaaldeia muita vitalidade graças àriqueza e à diversidade das suasculturas.Se uma experiência destas épossível numa pequena região,porque não haveria de ser numaescala muito mais ampla? É um erropensar que a xenofobia é osentimento mais partilhado, muitasvezes o que há é muita ignorância.Assim que os encontros pessoais setornam

possíveis, os medos dão lugar àfraternidade. Esta fraternidadeimplica pormo-nos no lugar do outro.A fraternidade é o único caminho defuturo para preparar a paz.Assumindo juntos asresponsabilidades exigidas pelavaga de migrações, em vez debrincarem com os medos, osresponsáveis políticos poderiamajudar a União Europeia areencontrar uma dinâmicaentorpecida.Há toda uma jovem geraçãoeuropeia que aspira a esta abertura.Nós, que acolhemos há muitos anos,na nossa colina de Taizé, dezenasde milhares de jovens de todo ocontinente para encontrosinternacionais de uma semana,podemos constatar isso mesmo. Aosolhos destes jovens, a construçãoeuropeia apenas encontra o seuverdadeiro sentido mostrando-sesolidária com os outros continentese com os povos mais pobres.Há muitos jovens europeus que nãoconseguem compreender os seusGovernos quando estes manifestamvontade de fechar as fronteiras.Pelo contrário, estes jovens pedemque a uma mundialização daeconomia seja associada umamundialização da solidariedade eque esta se expresse em particularatravés de um

22

acolhimento digno e responsáveldos migrantes. Muitos destesjovens estão dispostos acontribuir para esseacolhimento. Ousemosacreditar que agenerosidadetambém tem umpapel importantea desempenharna vida urbana.

23

Page 13: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

A evangelização do mundo dotrabalho

LOC/MTC Movimento de trabalhadores Cristãos

A Pastoral Operária em Portugal, reconhecidaestatutariamente desde 1997 pela ComissãoEpiscopal para o Laicado e Família, congrega osmovimentos que fazem trabalho de Igreja nomundo operário: JOC - Juventude OperáriaCatólica, LOC/MTC - Liga Operária Católica/Movimento de trabalhadores Cristãos, MAAC -Movimento de Apostolado de Adolescentes eCrianças), o PEMO - Padres em Mundo Operárioe o REMO – Religiosas em Mundo Operário. Amissão central da Pastoral Operária é aevangelização do mundo do trabalho na Igreja ena sociedade, a partir da Revisão de Vida sobreas implicações do trabalho ou da sua inexistênciana vida pessoal, familiar, social e cultural eespiritual de cada pessoa. A Pastoral Operária,através dos seus movimentos especializados ede ações concertadas entre eles, procura darresposta às inúmeras dificuldades sentidas hojepelos trabalhadores: a precarização dascondições laborais; o desemprego crescente comespecial incidência nos jovens; a flexibilização dehorários e perda dos tempos para uma vidafamiliar e social estável; a pobreza aliada aodesemprego ou a baixas remunerações. Destemodo, procura contribuir para a defesa dadignidade de cada pessoa de um modo integral,para o respeito dos direitos (laborais, familiares esociais) dos trabalhadores, para o direito a umtrabalho digno, sustentável e acessível a todosque permita a realização pessoal e o bemcomum. Por outro lado, participa na construçãode uma

24

sociedade fraterna e solidária peloanúncio explícito de Jesus Cristo. APastoral Operária promove apartilha de experiências e açõesevangelizadoras no mundo dotrabalho e reflexões conjuntas entreos movimentos e as ComissõesDiocesanas, e também, estimula aformação humana e cristã demilitantes operários e o seuempenhamento pessoal ecomunitário em estruturas eatividades de formação eapostolado. Tem colaborado comoutras organizações detrabalhadores e de Pastoraloperária de outros países,

no âmbito do GEPO - GrupoEuropeu da Pastoral Operária, comas quais tem discutido eaprofundado algumas questõesmarcantes hoje na Europa, como asmigrações e a pobreza. Como nosalerta o Papa francisco é necessáriocontinuar a rejeitar a cultura dodescarte e do individualismo quedesumaniza o trabalho e a vidahumana. É pois missão da PastoralOperária sensibilizar e construir umaIgreja e sociedade onde setestemunham os valores de JesusCristo e onde o trabalho gere justiçae projetos de humanização de vidapessoal e coletiva.

25

Page 14: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

Misericórdia: Bulimia de palavrase anorexia de gestos

Luís Filipe Santos Agência ECCLESIA

A forma como a palavra misericórdia tem sidotratada faz parecê-la mais um fóssil do que umser vivo. Este conceito – que implica ação –serve para todo o tipo de conferências,palestras, cursos, simpósios e colóquios. Aoolhar para a programação pastoral, é notório aabundância de misericórdia na epígrafe.Com a proclamação deste jubileu, os peritos dapalavra foram à estante livresca e começaram adebitar sentenças sobre as 14 obras demisericórdia. Tudo serve para falar sobre estarealidade. Podia citar tantos exemplos eacrescentar mais alguns: «A eutanásia social e amisericórdia»; «Misericórdia: O pilar da Europa»;«Os lesados da banca à luz da misericórdia»; «Amisericórdia na obra de Umberto Eco» e «A bolada misericórdia nos relvados portugueses».Para tratar destes assuntos não faltavamoradores. Todavia, a essência da misericórdianão se conjuga com estaticismo oral. Ela é comoum vitral que se solta das amarras cromáticasdos vidros. As palavras voam com o vento, masas ações ficam tatuadas no corpo.As obras de misericórdia são remédio queatenuam as cicatrizes e eliminam as doenças dasociedade. Basta estar minimamente atento aoPapa Francisco para nos apercebermos dosgestos de misericórdia que ele cunha nasmoedas humanas. A misericórdia não é arcondicionado que coloca

26

a temperatura amena nas salas.Essa é artificial e desconhecidapara os desfavorecidos.O Papa argentino quando convocouo jubileu da misericórdia não pediuapenas palavras e estudos préviospara se «atacarem» as mazelascontemporâneas. Sem se arregaçaras mangas e retirar a indumentáriadomingueira, tudo ficará na mesma.A misericórdia implica movimento epro-atividade, ao bom estilo dooleiro que molda o barro e nasce otacho que dará de comer a quemtem fome.A misericórdia é uma escada com14 degraus e a força motriz docristianismo. Se ficamos apenas naoratória, corre-se o risco de termosum potente automóvel na garageme nunca o colocarmos ao serviço da

comunidade. Quando se aproxima oterceiro ano de pontificado do PapaFrancisco talvez fosse convenientedeixarmos os estudos e reflexõessobre tudo e mais alguma coisa esubirmos o primeiro degrau daescada.Olhando para a história da Igreja,recordo dois exemplos: MadreTeresa de Calcutá e o PadreAmérico. Não ficaram conhecidospelas conferências que proferiram,mas pelos gestos que tiveram comos cicatrizados do mundo. Elesforam rostos de misericórdia…Sei que ainda faltam alguns mesespara o encerramento deste jubileu,mas já é tempo de deixar asconferências de lado e dar início àamassadura do pão. Se talacontecer, no domingo de Cristo-Reitemos pão na mesa… Subimos oprimeiro degrau.

27

Page 15: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

A ação da Igreja Católica nas prisões, junto dos presos e dosprofissionais dos estabelecimentos, está no centro destaedição do Semanário ECCLESIA. Nas próximas páginaspode encontrar uma entrevista ao novo diretor-geral deReinserção e Serviços Prisionais, declarações docoordenador nacional da Pastoral Penitenciária, testemunhode sacerdotes e voluntários empenhados neste setor e doisprojetos, em Elvas e na Diocese de Leiria-Fátima, queprocuram acompanhar quem está na cadeia, para que tenhaum presente melhor e um futuro diferente.

“Porque estive na prisão e foste ter comigo…Senhor, quando Te vimos na prisão e fomos visitar-te?Sempre que fizeste isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim ofizeste” Mt 25,36-37

28

Em pleno Ano Santo Extraordinária, a Agência ECCLESIA continua aapresentar mensalmente um dossier sobre as Obras de Misericórdia, destafeita a sexta obra corporal: ‘Visitar os presos’.

29

Page 16: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

30

Católicos são «lufada de ar fresco»na visita às prisões portuguesasO novo diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais destacou o“importantíssimo apoio” da Igreja Católica e dos seus grupos e instituiçõescujas “pessoas de bem”, que visitam os reclusos, são uma “lufada de arfresco” para esses cidadãos que estão privados da liberdade e circunscritosnum espaço.Celso Manata falou à margem do 11.º encontro nacional da PastoralPenitenciária de Portugal

Entrevista realizada por Inês Leitão para a Agência ECCLESIA Agência ECCLESIA (AE) – Como vêo trabalho realizado pela IgrejaCatólica nas prisões portuguesas?Celso Manata (CM) – A IgrejaCatólica acompanha o mundo dasprisões, dos presos, há séculos.Aliás um dos grupos-alvos da IgrejaCatólica, desde sempre, foi o grupoda população reclusa. E, este apoiotem sido importantíssimo para nósde vários tipos. Desde logo, porqueestas pessoas de bem que visitamos nosso reclusos, obviamente, sãouma lufada de ar fresco para elesque estão privados da liberdade eestão circunscritos num espaço. Vir alguém de fora é sempre bome ainda melhor quando é alguém de bem. Depois, porque,sobretudo, em determinadas fases as pessoas estãopreventivas, por exemplo, estãonuma grande ansiedade,numa

grande indefinição, numa grandepreocupação com o que contínua aacontecer cá, fora com as suasfamílias – mulheres, filhos, maridos–, e uma palavra de conforto,palavra humana é tanto ou maisimportante que qualquer abordagemtécnica que possamos ter.É algo que qualquer pessoa podefazer e que estas pessoas de bem,ligadas à Igreja Católica, fazem deuma forma superior, dar-lhes essapalavra de conforto.Já numa fase diferente, depois deter vivido uma condenação, épreciso que haja uma interiorizaçãodo que aconteceu de menospositivo, as pessoas recolhidas têmde fazer esse percurso para passarpara outra etapa. Nesta realidadenão é possível queimar etapas. E,mais uma vez aqui, os visitadores,os capelães, as pessoas que nosprestam este apoio podem dar umcontributo fundamental.

31

Page 17: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

CM - Finalmente, numa fase maisadiantada de reinserção, ou em queapostamos na reinserção em maiolivre, porque esta também se fazdurante o tempo em que as pessoasestão na cadeia, também estamosgratos pelo apoio que temosrecebido, quer da Igreja em simesma, quer de um conjunto deorganizações que lhe estão dealguma forma associadas. AsMisericórdias, a

Cáritas, grupos católicos com açãosocial, que para nós são tambémimportantes nessa outra fase.Agora, essa fase também nospertence. A Direção de Reinserçãoe Serviços Prisionais há uns anosalargou o seu âmbito de intervençãoà reinserção social e menores e,também ai, quer de formaorganizada, através das instituiçõesde inspiração cristã, quer de umaforma não tão organizada,

32

mais espontânea, esse apoio éfundamental.Não menos importante, diria que anossa relação com a Igreja, e comestas pessoas, é tambémimportante na medida em que elessão o testemunho vivo do queacontece dentro das cadeias. Umtestemunho credível porque nãovinculado, em termos contratuais,ao Estado, aos serviços, sãopessoas que, normalmente, têmimportância na comunidade que nãoé de desmerecer. Pelo contrário,podem ajudar a contribuir para umamelhor informação das suascomunidades sobre o que é areclusão.Por vezes, algum cidadão comumainda tem o entendimento que aspenas são sempre longas para osoutros e curtas para nós. O temponão é sentido da mesma maneiraquando se trata de nós em relaçãoaos outros.Mas, sobre o trabalho que se faz nomundo prisional, esse testemunhopode realmente dar um contributodecisivo, tanto mais, quando oproblema em Portugal que é desobrelotação prisional, não deve serequacionado dessa forma mas de

população prisional. Isso muda tudoe encarando a questão destamaneira esse contributo é essencial.Devíamos ter menos presos maspara isso precisamos de melhorinformação. Se a comunidade nãoaceitar a diminuição da populaçãoprisional obviamente que quem temresponsabilidades nesse domínio –magistrados; Assembleia daRepública – também fica muitocondicionada.

33

Page 18: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

AE – Com um católico no lugar dedireção podemos esperar um futurode mais esperança e misericórdia?CM – Não vou dizer que essaqualidade seja decisiva, porquetodas as pessoas que passarampela Direção Geral de Reinserção eServiços Prisionais pugnaram,lutaram, fizeram seguramente o seumelhor para haver essa vontade dereinserir, compreender. Agora, nomeu caso as coisas são ainda maissublinhadas, não apenas por isso,mas porque já cá estive. Soureincidente.Já vivi sete anos nesta realidade,com estas pessoas, e tenhoparticular sensibilidade em funçãodesta minha experiência de vida,não porque tenha particularesqualidades, quer do período quepassei como diretor-geral, quer deuma atividade intensa,enriquecedora, que tive enquantomembro do Comité de Estudos doConselho da Europa. Tive

oportunidade de verificar realidadeseuropeias, neste nível e noutros,mas designadamente neste domíniopenitenciário. AE – Existem muitos capelães eassistentes religiosos que sequeixam de dificuldades quandoquerem promover iniciativas, não háespaços para as fazer. Por exemplo,quando querem levar os presos acelebrações não há guardasprisionais para assegurar asdeslocações fora das prisões. Estassituações de alguma forma colocamem causa o decreto queregulamenta a assistência espiritual.Que resposta tem, está disponívelpara facilitar, abrir mais as portas aestes assistentes?CM – Tenho de dar respostassobretudo honestas e realistas etêm de ser ouvidas no lado positivocomo no negativo. Relativamente aessas matérias não possoesconder,

34

escamotear, que vivemos numafase, em Portugal e nas prisões,que é particular, que é marcada porvicissitudes que todos conhecemose foram marcantes nesta área,como em muitas outras.Portugal sofreu nestes últimos anosgrandes restrições, esteve

condicionado por circunstâncias quetodos conhecemos e isso tambémacontece nas cadeias. Portanto, afalta de espaço é uma realidadeindesmentível, não é possívelescamotear, e a falta de pessoal,quer de reeducação, de reinserção,quer pessoal de vigilância, é outrarealidade.

35

Page 19: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

CM - Quando queremos abrir aporta a iniciativas relacionadas comreinserção para mim é uma marcade gestão muito marcante, passo opleonasmo, mas, obviamente, todoscompreenderão que tem de ser feitosem prejuízo da segurança, daordem que deve existir, sem prejuízodo que a sociedade espera de nósque é ver os seus bens defendidos,os seus interesses protegidos. Épreciso estabelecer um equilíbrioentre estas vertentes, que nãoposso escamotear nenhuma delas,e que eu acho que é possível fazer.Já fizemos noutras vezes, é possívelperfeitamente fazer reinserção eatividades desse género semquebrar essas outras vertentes.Agora, por ventura, vamos ter de ascalendarizar e, daqui a algumtempo, podemos fazer mais do queas que fazemos hoje. Ou, hoje nãopodemos fazer tudo o que podemosfazer amanhã.A vida não se regula por decreto,que é um importante, fundamental,mas depois é preciso que existamcondições para que se implemente.Muitas vezes, aqui, como noutraslatitudes e longitudes, é importanteque exista da parte de quemlegisla,

da parte dos nossos governantes,uma posição que pode assumir essaveste de decreto mas, obviamente,que eles serão os primeiros acompreender que para ele serimplementado é necessário queexistam condições.E, ele será implementado à medidaque existam condições e é o queposso dizer, de forma honesta mastambém esperançada porque estoucrente, que o pior já passou. Achoque vamos ter a possibilidade degradualmente irmos avançando eminiciativas de cada vez maisabertura, ressocialização mas temde ser feito, repito, sem prejuízo deoutros valores, de outros princípiosque temos que respeitar e faz parteda nossa missão. AE – Que mensagem como diretor-geral de Reinserção e ServiçosPrisionais quer deixar aosvoluntários católicos presentes denorte a sul do país?CM – Se pudesse dizer uma palavraseria “obrigado”. Podendo dizerduas são “obrigado” e “vou apoiar”.

36

37

Page 20: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

Pastoral penitenciáriaA Igreja desde os seus inícios teveuma permanente presença nasprisões. A preocupação pelos quesofrem faz parte da identidade cristãdesde as origens. Os presos foramobjeto de uma especial atenção porparte das comunidades cristãs. NaCarta aos Hebreus há umareferência explícita destapreocupação e desta solicitude. Oautor sagrado recomenda aoscristãos: “lembrai-vos dos presos,porque também vós tendes umcorpo” (He 13,3).O fundamento desta preocupaçãoencontra-se em Jesus, na suaidentificação com os presos: “Estivepreso e fostes ter Comigo” (Mt25,37).Desde sempre os cristãos tiverammuito presente que os «benditos doPai» são aqueles que amaramsofreram e serviram a Cristo nospobres, nos pequenos, nosperseguidos e nos presos.Por isso a cadeia não é só um lugarde detenção, mas é, antes de tudoum lugar «teológico» ondeencontramos Cristo que aí habita napessoa de cada recluso.Para a Igreja, as cadeias são umacondição humana que chama, lugarde anúncio e apelo à conversão do

coração, à confiança na misericórdiade Deus e à possibilidade derenascer para uma vida nova,mediante a reconciliação.A Igreja está nas cadeias porqueacredita na conversão dos reclusos,e vê aí um campo prioritário da suamissão, não somente do ponto devista religioso, mas também doponto de vista psicológico, deacompanhamento do recluso aoencontro com Jesus Cristo levando-o à reconciliação.O encontro com Jesus Cristo e aexperiência da misericórdia de Deusliberta, cura as feridas do coração,dá a capacidade de se levantar, demudar, de compreender osignificado da pena, e de olhar comconfiança o futuro.O remorso e a culpa pelos próprioserros, se não são superados com oabraço de Deus que perdoa toda aculpa e abre horizontes deesperança, pode desencadear umaespiral de desespero e a conduzir aum fim trágico, como aconteceu comJudas.A pastoral penitenciária tem a tarefaimportante de fazer compreenderque a misericórdia de Deus não temlimites, que Deus não deixa de amar,

38

apesar dos nossos pecados e doscrimes que porventura tivermoscometido, e que o arrependimento eo perdão destroem o pecado erestituem ao pecador a suadignidade de filho de Deus.Na ótica do amor de Deus pelohomem nada está definitivamenteperdido durante a nossa vidaterrena. A reclusão assim como todaa experiência humana negativa,não

separa, nem exclui do amor deDeus, por isso a Igreja sente odever e reclama o direito de poderlevar aos reclusos a Boa Nova doEvangelho.A Comissão Internacional daPastoral Penitenciária Católicareafirmou o direito à assistênciareligiosa, afirmando que aprevenção da liberdade deve incluiro direito do recluso de receber oEvangelho, de viver a sua fé e deobservar as

39

Page 21: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

práticas e os ritos da própriareligião.A Direção os EstabelecimentosPrisionais deve garantir ascondições para que os presostenham oportunidade de rezar, teracesso a textos religiosos e àformação religiosa, e poderemsatisfazer os preceitos vinculados àsua própria religião. A assistência religiosa deveser colocada ao mesmo nível deoutros tipos de assistência a que osreclusos têm direito, como aassistência social, psicológica,jurídica e de saúde.A assistência religiosa é um direitodos reclusos e um dever da Igreja. Apastoral penitenciária deve serconsiderada como “uma dasprincipais e mais importantespastorais da Igreja” e, embora tenhaum ambiente particular, deve sersempre uma pastoral de toda aIgreja e deve interpelar todos oscristãos.A condição dos reclusos nas nossascadeias deve suscitar o empenhode todos os cristãos e dascomunidades cristãs na prevenção,no seu acompanhamento, norespeito pela sua dignidade, napreocupação com sua reabilitação ereintegração social e laboral, etambém na proximidade,

acompanhamento e apoio às suasfamílias.É importante favorecer a reinserção,dar-lhes acesso ao trabalho, mastambém promover uma justiçareconciliadora, capaz de restauraras relações de convivênciaharmoniosa rompidas pelo crimecometido.O Ano jubilar da Misericórdia desafiatoda a Igreja a voltar o seu olharpara estas «periferias», e a pastoralpenitenciária deve ajudar osreclusos a descobrir a misericórdiade Deus que “perdoa sempre, quenão se cansa de perdoar” comorepete o Papa Francisco.

40

Os reclusos necessitam daMisericordia divina e os Capelães,Colaboradores, Voluntários, são osrostos e os canais destaMisericórdia.O Ano da Misericórdia é umaoportunidade para ajudar osreclusos na reconciliação com Deus,descobrindo o seu amor que perdoae recebendo o seu abraço; nareconciliação consigo mesmo,assumindo o passado e olhandocom confiança o futuro; nareconciliação com a sociedade ecom as vítimas do

crime, que não se podem esquecere com os quais todos também nosdevemos sentir solidários.Como disse há dias o PapaFrancisco na prisão de Júarez, noMéxico, procuremos “manter viva aesperança do Evangelho daMisericórdia na prisão”. † Joaquim Mendes Bispo Auxiliar deLisboa e Vogal da Comissão Episcopal daPastoral Social

41

Page 22: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

Grande desafio é uma «sociedademais acolhedora»O coordenador Nacional da PastoralPrisional indica que o grandedesafio hoje é em relação aos que“cuidam” dos reclusos, dosvoluntários e da própria sociedadetendo esta maior responsabilidadepara que “não seja tão vindicativamas mais acolhedora”.Neste contexto, o padre JoãoGonçalves, “visitador” há mais de 40anos, sublinha que se o recluso fizer“uma boa reinserção social” quandosair da prisão evita-se “areincidência”.No 11.º Encontro Nacional daPastoral Penitenciária, que teve como tema ‘O rosto da Misericórdia napessoa presa’, o responsável desteserviço da Igreja Católica salientouque a articulação com o sistemaprisional é “fácil”, sobretudo com aspessoas que “estão mais próximas”,o ministro da Justiça e o diretorgeral dos Serviços Prisionais.“A nossa esperança é ótima, poraquilo que eles dizem, queconhecemos e penso que, esteperíodo, pode ser uma boa ocasiãonão só para esta melhor acolaboração como mesmo emrelação ao voluntariado e estaspessoasl igadas aos capelães”,desenvolveu.O coordenador Nacional da Pastoral

Prisional considera que estadimensão, esta relação pode “serreforçada”, bem como a formaçãocomum que vai ser bom para “osreclusos, o sistema e a sociedade”.“Estamos muito esperançados”,destacou ainda o padre JoãoGonçalves, à margem do encontro,para o qual revelou ter levado o“sublinhado que é o Ano daMisericórdia”.“Queremos não só que toda a genteperceba que Deus é misericordioso,que Deus é misericórdia, é perdão,é acolhimento. Que Deus é abraço equeremos também que este abraçoe acolhimento se dê uns com osoutros”, exemplificou o sacerdote daDiocese de Aveiro.O desejo do padre João Gonçalvesé um a sociedade “mais perdoadora,mais misericordiosa, mais próxima”,para que de facto haja mais pazporque se as pessoas forem “maismisericordiosos as coisasmelhorarão”.“Mesmo de tudo quanto possapassar para o exterior, que asociedade possa ter um coraçãomais aberto, mais misericordioso esaiba perdoar mais e melhor”,concluiu o coordenador Nacional daPastoral Prisional.

42

«Mudar o rosto» da pessoa presaO diretor do Departamento da Pastoral Penitenciária de Espanhadestacou que o Ano Santo extraordinário “é especial” e não pode passar“ao largo”, sendo o “momento” para mudar o rosto do preso. “Mudar deum rosto triste para um rosto de esperança e a Igreja e a pastoralpenitenciária têm um trabalho fundamental porque somos os mediadoresentre Deus e o recluso para que compreenda que Deus o quer”,desenvolveu o padre Florencio Roselló Avellanas diretor doDepartamento da Pastoral Penitenciária de Espanha.

43

Page 23: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

A «experiência fascinante» dosacerdote visitador que defende os«direitos» da pessoa presa

O padre João Torres, doDepartamento Diocesano daPastoral Penitenciária de Braga,destaca que ser visitador é “umaexperiência fascinante” masconsidera que trabalhar nas prisõesportuguesas

podia “ser mais fácil” se existisseuma “articulação muito séria” doDecreto de Lei 252/2009 e oGoverno “assumisse as suasresponsabilidades”.“Não faz sentido que o

44

estabelecimento prisional tenhapessoas detidas porque nãocumpriram a lei e aqueles querecebem estes reclusos tambémnão respeitam a lei”, acrescentou osacerdote, alertando para um“assunto muito sério.O sacerdote visitador revela queeste serviço é “um trabalhoaliciante” no qual têm de “sercriativos”, colocarem-se no “papeldo outro” e, essencialmente, serem“muito humildes”.“Estamos com pessoas que têmuma biblioteca dentro delas edemora muito tempo a ler todos oslivros”, observa.O padre João Torres conta que esta“experiência fascinante” faz-se comuma equipa que visita oestabelecimento prisional ondeestão com os guardas prisionais,com os técnicos e depois com osreclusos.“Tentamos fazer um caminho quenão leve a que o recluso sejaconsiderado um número. Acho queo sistema prisional português temde abandonar

esses processos e ser maishumano ao encontro do recluso,alguém que cometeu um crime masé uma pessoa que tem direitos”,desenvolveu o sacerdote de Braga.O entrevistado, que no encontronacional da pastoral prisionalparticipou na conferência ‘O Rostoda Misericórdia na Pessoa Presa’,sublinha que o recluso ficou privadode liberdade mas “tem direito depensar, tem direitos humanos”, porisso, considera “importante” que aIgreja Católica possa “lutar com elespor esses direitos”.“Levamos essencialmente o rosto deJesus, como estava no meio daspessoas, com ternura, carinho, masacima de tudo muita misericórdia”,acrescentou.Segundo o sacerdote, doDepartamento Diocesano daPastoral Penitenciária de Braga,para que este serviço possa serbem desenvolvido “é necessário”que colaboradores e voluntáriostambém “olhem para as suasmisérias”.

O guarda prisional Hélder Sousa destaca que, enquanto elemento devigilância, os voluntários têm um “papel importante” nos sistemasprisionais onde “são uma mais-valia”. “Sem a ajuda deles não seconsigam fazer alguns projetos e são pessoas externas aos serviços queganham muito mais facilmente a confiança dos reclusos”, acrescentou àAgência ECCLESIA, observando que conversa “muito mais” e, às vezes,“minimiza alguns problemas”.Para Hélder Sousa os voluntários são uma“lufada de ar fresco”, tanto para os reclusos como para os guardasprisionais e quem lá trabalha. “Nem sempre são reconhecidos pelo seutrabalho mas acho que é mesmo muito importante”, comentou ainda.

45

Page 24: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

Projeto: Mateus 25“Estava preso e visitaste-Me”

1-Começo este artigo com estafoto de cruzes e a frase de Mt 25,que dá títuto a esta reflexão:”Estava preso e visitaste-Me”Estas cruzes trouxe-as eu deJerusalém para oferecer aosreclusos de Elvas, quando fiz umaperegrinação à Terra Santa.Sempre que entro na cadeia e olhopara aqueles homens de rostomarcado pela dor e sofrimento,recordo Cristo na Cruz a assumir ea remir a vida daqueles irmãos e adizer-lhes o que disse ao bomladrão: “Hoje estarás

comigo no Paraíso”. Sim, porquea redenção de Cristo no Calvário épara todos os homens e a suamisericórdia infinita deve chegar atodos os cantos do mundo onde háhomens sedentos de de Deus,insatisfeitos com o seu passado,carregados com o peso dos seuscrimes e desejosos de uma vozamiga que lhes sussure ao ouvido:“Cometeste erros mas não és umerro. Cristo do alto da cruz dá-teuma nova oportunidade. Ele veiopara ti. Ama-te assim como tu és ecomo estás.

46

Volta-te para Ele com todo o teucoração”É esta a grande mensagem que ogrupo de voluntárioscristãos, “Mateus 25”, leva devárias maneiras aos irmãos reclusosdo Estabelecimento Prisional deElvas, procurando ser umapresença da Igreja junto dosreclusos, e a presença de Cristoque disse; “estava preso evisitaste-me”. Isto acontece todosos sábados, sem interrupções, hámais de 20 anos, das 9.30h até às11.30h mais ou menos. Cadasábado depois de sermos muitobem recebidos pelos guardasprisionais, entramos no pátio derecreio, na sala de convívio e vamosfalando com cada um,pessoalmente, procurando criarlaços de amizade e confiança demodo que espontãneamente, semforçar nada, cada um vai-se abrindoe contando,apenas o que quiser dasua história de vida, da pena queestá a cumprir, da família, dosamigos que deixou fora e do queestá a ser difícil dentro. Depoisdeste primeiro contacto, os quequerem, e é sempre um grandegrupo, passam para a sala dereuniões onde tem lugar acelebração da Palavra com asleituras do domingo, reflexão eoração, tempo de silêncio, partilhado que lhes vai na alma e convite àvivência de uma nova semana comesperança e dignidade.

2- É urgente dignificar a pessoapresao primeiro capital a preserverar evalorizar é o ser humano, a pessoa,na sua integridade.Tal comoqualquer pastoral, a pastoralpenitenciária tem que convidarsempre à esperança, à confiançae à convicção que só a verdadeliberta e é assumindo os erros comresponsabilidade e dignidade que amudança acontece e que, depois dapena cumprida a vida pode mudarpara melhor.Não vamos à cadeia para recordaraos reclusos os seus delitos, nemdesculpar os mesmos. Cometeramcrimes, fizeram vítimas eobjectivamente devem serpunidos.Vamos porque acreditamosque é possível a sua transformaçãopessoal Vamos para os ajudar a “Antes de cometer o meucrime pedi ajuda à políciapara me escutar e contaro que se estava a passarentre mim e a minhaesposa… No dia em que amatei e telefonei à políciapara me entregar,apareceram 2ambulâncias e 4 carros dapolícia”Recluso do estabelecimentoprisional de Elvas

47

Page 25: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

descobrir a misericórdia.o Amor ecompaixão de Deus que sempre nosoferece areconciliação Vamos, para sermosuma presença evangelizadora daIgreja. Vamos, para ajudar no seuprocesso de liberdade interior.Quando entra numa prisão orecluso/a vem marcado por muitosfactores extermos quecondicionaram a sua trajetória devida. Vem "preso" dos seus próprioscondicionamentos, das suas máscondutas, do seu pecado. O papelda pastoral penitenciária eportanto o nosso, é ajudar estesirmãos, homens e

mulheres, a fazer do tempo daprisão um tempo de reflexão interior,de encontro consigo próprios, comprofundidade e verdade acreditandoque é possível a renovação interior. 3-Ações e actividades do projetoMateus 25Para além da ação evangelizadorajunto dos reclusos, em cada sábado,o projeto Mateus 25, procura estaratento a outras necessidades dosreclusos, como entrega de roupas ecalçado, de material de higienepessoal, de credifones paracontactar

48

as famílias, de material escolar,livros, revistas, jornais, etc. Comomuitos são de Elvas conhecemos asfamílias e procuramos também estaratentos às suas carências sociais,visitá-las em suas casas eprocurando ajudar a solucionar osmuitos problemas que têm. Vivências dos tempos litúrgicos:No Natal, no dia 24 celebra-se aEucaristia, preparada pelos própriosreclusos que juntamente com osvoluntários dão à celebração adignidade que esta merece. No finalentregam-se prendas aos reclusose também se oferecem prendaspara que entreguem aos filhos. NaSexta feira Santa temos a via-sacrae vários sacerdotes da cidadeoferecem a sua disponibilidade paraconfessar. No final há sempre aentrega das amêndoas e outrossímbolos da Pascoa. Entre aPáscoa e o Pentecostes celebra-sesempre a festa da Páscoa com apresença do Bispo da Diocese. Nofinal há sempre um lanche fraternooferecido pelos voluntários.Na altura dos santos populares têmlugar a sardinhada, o teatro e asfestas convívio. Sempre que há umacelebração importante na cidadeprocuramos fazer também essa

“ Aqui na cadeia tenhoproblemas mas lá foratambém tinhas muitos…pedi ajuda e ninguémme deu a mão”Recluso do ?estabelecimentoprisional de Elvas celebração na cadeia como é o casoda festa de S. Mateus com oprojeto, “ O S. Mateus na cadeia” O Ano da Misericórdia também vaiser celebrado na cadeia com ochamado Jubileu do Recluso. Seránuma data em que o senhorarcebispo, D. José Alves estejadisponível e os sacerdotes estejamlivres para a confissão pois como dizo papa Francisco, “O Jubileuconstituiu sempre a oportunidade deuma grande amnistia, destinada aenvolver muitas pessoas que,mesmo merecedoras de punição,todavia tomaram consciência dainjustiça perpetrada e desejam

49

Page 26: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

sinceramente inserir-se de novo nasociedade, oferecendo o seucontributo honesto”. E diz ainda: “Atodos eles chegue concretamente amisericórdia do Pai que quer estarpróximo de quem mais necessita doseu perdão”. O Papa destaca aindaque os presos “poderão obter aindulgência, e todas as vezes quepassarem pela porta da sua cela,

dirigindo o pensamento e a oraçãoao Pai, que este gesto signifiquepara eles a passagem pela PortaSanta, porque a misericórdia deDeus, capaz de mudar os corações,consegue também transformar asgrades em experiência deliberdade”. É este pensamento dopapa que queremos concretizar aorealizar o Jubileu dos reclusos noEstabelecimento prisional de Elvas.

50

4-A Pastoral penitenciária exigeo envolvimento de toda acomunidadeO projeto “Mateus 25” deElvas tem o apoio de toda acomunidade local sobretudo aparóquia. Se já levamos 3 vezes osreclusos a Fátima deve-se àCâmara municipal que nos ofereceos transportes, se oferecemosbrinquedos aos filhos é devido àscrianças da catequese e dasescolas

51

Page 27: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

que no-los oferecem. Se as festassão animadas é graças ao grupo dejovens que as animam com violas ecantares. Os lanches, as roupas, oscredifones, as prendas sãooferecidas por vários pessoasvoluntárias que se sentem tambémchamadas a esta pastoral mesmoque não entrem dentro doEstabelecimento.

Assim o nosso trabalho não éisolado. A comunidade conhece oprojeto “Mateus 25” e colaboraconnosco. Os reclusos conhecemesta colaboração de toda acomunidade e também eles, com asindicações e regras doestabelecimento, nos ajudam emactividades de transportes,

52

limpezas, pinturas, etc. sempre quelhe pedimos colaboração. 5- E depois de cumprida a pena?O projeto “Mateus 25” procuraacompanhar os reclusos na suareinserção social procurando ajudarna integração familiar, na procurade emprego e na resolução deproblemas judiciais ainda em aberto.São muitos os que nos escrevem ede “visitados” passam a servisitadores noutros estabelecimento.

No meu caso pessoal já fui madrinhade crisma e de casamento depessoas que cumpriram penas emestabelecimento prisionais e tenhona minha lista de amigos muitospessoas que passaram pelaexperiência da reclusão. Telefonam,escrevem, visitam-me e a minhaalegria é saber que estão bem eintegrados na sociedade. E tenho acerteza que um dia ouvirei: “ Vemporque estava preso e visitaste-Me.

Maria de Fátima Magalhães stj

insira a foto aqui

53

Page 28: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

Voluntariado cristão nas prisões

Um dia a Irmã Fátima desafiou-mepara ser voluntária na cadeia deElvas.Aceitei e já lá vão 13 anos. Tem sidoum tempo de enorme aprendizagemhumana e espiritual, descobrir queos nossos irmãos reclusos fazemparte daquele grupo dos “maispequeninos” de que Jesus fala.Ir ter com os que estão presos, falarcom eles, ouvi-los, acolhê-los temsido uma escola de tolerância, dealargar o espaço do meu coração,de aprender a ouvir e a escutar semjulgar.Como fazendo parte de um grupo

“Entramos a saberpraticar um crime –Saímos a saber cometer20 crimes, que nemsabíamos que se podiamfazer”Recluso do estabelecimentoprisional de Elvas de voluntariado católico tenho apreocupação de lhes levarmosJesus, um Amigo que muitos jáesqueceram e outros nunca ouviramfalar.

54

Vamos à Prisão de Elvas todos ossábados. Preparamos uma reflexãosobre o Evangelho de Domingo demaneira a ser fácil para elesentrarem na Palavra. Depois há umtempo de partilha, onde todos osque estão na reunião participam epõem dúvidas, contam experiênciasde desamores, de sofrimento, desolidão, sempre com uma atitude detotal respeito e sinceridade.O tempo da nossa reunião semanalé um tempo forte de troca devivências humanas e da certeza queDeus não desiste deles. É um tempode se confiarem, de falaremporquesabem que os queremosajudar a viver melhor aquele tempode reclusão.

Acabamos sempre a reunião comuma oração – muitos não sabem aspalavras, mas ficam em silêncio,rezam à sua maneira…Deus amamuito estes “seus mais pequeninos”. Olhamos para eles quando saemda sala e é já a hora de almoço…Nos seus rostos há um pouco maisde paz, de confiança.Nós, que lá vamos, agradecemosmuito ao Senhor que nos chamou enos ajuda a ser a Sua presença nomeio daqueles nossosirmãos reclusos.

Joana Teixeira

Voluntária cristã no EstabelecimentoPrisional de Elvas

55

Page 29: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

Um padre cúmplice na prisão…

A imagem que mais me aflora àmente quando falo ou mequestionam sobre o trabalhopastoral no ambiente prisional éesta “sinto-me a dar de comer auma criança que está cheia de fomee quer mesmo comer”. De facto, amaioria dos reclusos está afastadada fé e da vida da Igreja há jámuitos anos, isto no caso dos quealguma vez tiveram contato comestas realidades. Por isso, toda aforma de estar, falar e celebrarescapa aos formalismos das normaslitúrgicas e por vezes até aoregulamentado civismo.Como padre, chego a sentir-me

recluso no meio dos reclusos ebusco formas de os fazer sentirem-se verdadeiros cristãos, por vezesaté comprometidos e tocados (pelomenos amados) pela Igreja. Sempermitir faltas de respeito ou“avanços “exagerados, procuroestabelecer um contato tanto maispróximo quanto mais amigo ecúmplice. Assim funcionam osgrupos que naturalmente se formamnaquele mundo que é a prisão. Acumplicidade é a marca de pertençae aceitação.A presença do padre, assim seespera, é essencialmentesacramental, no sentido de que alideveria estar para

56

presidir à celebração da Eucaristiaou outros momentos de oração. Masquando se atravessam as paredes,sentimos de imediato que apresença passa por outros camposmais vastos e mais abrangentes.Por isso, os formalismos, osritualismos, e sobretudo osesquemas previamente estudadoscorrem sempre o risco de seremesquecidos e abandonados. Oimproviso toma conta de nós e semnos apercebermos estamos noutromundo, com outras medições detempo e com outros espaços. Naverdade, um mundo diferente dohabitual.Na passada semana senti issomesmo de forma física: entrei naprisão fazia sol, e quando saí, semque me tivesse apercebido, tinhachovido e estava a chover. Foi comosair de uma realidade diferente.Vinha de um outro mundo e voltavaao meu mundo de cada dia. Equase fiquei sem saber onde queriaverdadeiramente estar”.Passar umas horas naqueleambiente com os “irmãos reclusos”transforma a minha forma de estarjunto dos “irmãos de cada dia”. Àsvezes chego a ter dúvidas onde mesinto melhor, porque venho sempretocado e

transformado. Saber ouvir, saberescutar é uma virtude tãonecessária nos nossos dias e ali étão natural e normal. Habituado a terque falar, aprendo a saber calar-mee ouvir. E ouço lamentos, einterrogações que tocam cá bem nofundo de mim mesmo.Desde que iniciei este trabalho juntodos reclusos, a minha oraçãopassou a ser diferente. Não soucapaz de rezar sem que à minhamente não surjam rostos depessoas concretas, situações devida que me inquietam etransformam por isso a minhaoração. Pouco a pouco, sinto quepara lá da ajuda que posso levar,sou eu o primeiro a ser ajudado.

Padre Rui Acácio Ribeiro,Capelão dos estabelecimentos

prisionais de Leiria

57

Page 30: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

Quem são “os Samaritanos”?

Trata-se de uma associação devisitadores dos estabelecimentosprisionais de Leiria, composta porvoluntários. O objetivo é “assistirhumana e cristãmente a todosquantos se encontram privados deliberdade”. A associação prestaapoio aos presos, “assistindo-osmoral e materialmente, trabalhandopara a sua reintegração na vidasocial e amparando-os, quandolibertados”.Todas as semanas as portas dasprisões abrem-se para este grupode “amigos” que não apenas sãoansiosamente esperados pelos

reclusos, como também são já parteda “família” dos que trabalham nasprisões. Os Samaritanos trazemconsigo a boa disposição, a amizadee a presença de um afeto e de umasaudação. Quando é permitido, dá--se também lugar à assistênciamaterial e lá vem mais um saco decal- çado, roupas, pasta de dentes epor vezes um simples “mimo” emforma de chocolate.Os Samaritanos são, nas palavrasde alguns dos reclusos, “a voz quenos faz falar para podermos serouvidos, e a mão que nem sempretemos para

58

sentirmos que ainda estamos vivos”.Uma presença amiga que, semanaapós semana, procura trazer àlembrança aqueles quenormalmente são esquecidos eignorados. Mas no fim quem acabapor se sentir enriquecido na suavida são os próprios voluntários,que acabam por “aprenderautênticas lições de vida” juntodaqueles que parecem ter erradona vida.

Testemunho de um recluso“A presença amiga de quem me visita e me ouve, ainda que seja porpouco tempo e de forma por vezes ritual é tão importante para mim edesperta em mim um sentimento único: o da unidade. Quando me visitampessoas que não me conhecem e não têm qualquer ligação comigo,sinto- -me pequeno e pergunto-me que força é essa que torna aspessoas capazes destes gestos?!Tenho pensado muito nisso e tenho uma resposta que encontrei aqui naminha cela: terá que ser um forte sentimento de unidade aquele queexplica esta “teimosia” de quem me visita. Não quero que me visitem porpena, mas é muito bom sentir que somos respeitados na nossadignidade. E isso só é possível porque nos sentimos unidos na mesma fée na mesma condição. Obrigado por seres meu visitador.”Zacarias

59

Page 31: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

Pastorinhos onlinehttp://www.pastorinhos.com/

No passado dia 20 de fevereirocelebrou-se mais um Dia dosPastorinhos que é assinalado porocasião da data da morte de JacintaMarto. Assim esta semana proponhouma visita ao sítio criado para apostulação do Francisco e daJacinta Marto.Ao digitarmos o endereçowww.pastorinhos.com entramos numespaço virtual eminentementeinformativo, onde a causa daPostulação está bem presente,como não poderia deixar de ser. Napágina inicial temos as últimasnotícias relativas aos pastorinhosbeatos de Fátima, bem como umconjunto de opções que passamosagora sucintamente a descrever.Na opção “postulação”, ficamos aconhecer um pouco mais sobre acomponente organizativa dapostulação do Francisco e JacintaMarto. Que se divide em duasgrandes área de atuação o “dar aconhecer a vida e a santidade dosPastorinhos, e da difusão do seuculto entre o povo de Deus,estimulando também a que aspessoas peçam graças através

da intercessão dos Pastorinhos”.Por outro lado é também possívelconhecermos a postuladora e umpouco da história desta causa quejá iniciou em 1952.Em “Francisco” e “Jacinta”, somosconvidados a conhecer os principaisdados históricos da vida dos beatosde Fátima.No item “biblioteca”, encontramosum conjunto de registos nos maisvariados formatos, nomeadamente,imagens sobre a atualidade ehistória dos pastorinhos, textosredigidos na altura da beatificação evídeos promocionais relacionadoscom a história da Cova de Iria.Existe também uma áreainteiramente dedicada àcomponente litúrgica que estáassociada ao processo debeatificação, designadamente, aliturgia das horas, a ladainhaaprovada a 20 de fevereiro por D.António Marto e ainda a oração parapedir a canonização.Caso pretenda saber quais são aspublicações do secretariado dospastorinhos e efetuar algumaencomenda, basta aceder a“edições”. Aí pode ler brevesresenhas dos livros editados e aindadescarregar

60

gratuitamente o primeiro volume dolivro de memórias da Irmã Lúcia.Neste espaço, pode ainda consultartodos os boletins informativos edescarrega-los para o seucomputador.Mesmo tendo em conta que estesítio não é atualizado com aregularidade necessária, consideroque as informações contidas sãomerecedoras da nossa visita, paraque possamos acompanhar deperto todo o processo depostulação.

Fernando Cassola Marques

61

Page 32: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

Novas homilias em Santa Marta

A Paulinas Editora lançou estasemana o livro "A felicidade treina-se em cada dia", segundo volumedas homilias matinais do papaFrancisco na Casa de Santa Marta,no Vaticano, onde reside.As homilias de Santa Martarecolhidas neste volumeaprofundam um tema muito caro aopapa Francisco, a misericórdia, aoqual ele dedicou um Ano Santoextraordinário. A misericórdia não éuma coisa, não é um objeto. Não éum ato legal, uma amnistia ou umjuízo sobre o

comportamento ao qual se segue operdão dos pecados. A misericórdiaé uma relação, um envolvimento. Aoexercitá-la, há que compreender ooutro e interceder em seu favor. Amisericórdia tem, portanto, umalógica esmagadora que só se tornaclara quando se compreende amiséria humana sem a desprezar. Aobra inclui 155 homilias, proferidasentre 21 de março de 2014 e 26 dejunho de 2015, que «talvezrepresentem o novo "género decomunicação" mais típico e

62

consolidado» do pontificado,sublinha o padre italiano FedericoLombardi, antigo diretor-geral daRádio Vaticano, em cuja página ostextos foram originalmentepublicados.«A homilia não é uma emissão deconteúdos religiosos, mas sim aforça da Palavra de Deus que semanifesta na presença de umpastor que toma a seu cargo o seurebanho. A universalidade dodestinatário já não é apenas geral,imaginada; tornou-se visível eencarnou numa pequena porção dopovo de Deus, que tem à suafrente: cerca de quarenta pessoas.A homilia será menos ainda umtratado de bela ou «elevada»teologia. O Papa não é um emissorde informações religiosas:comunica naturalmente, pela suasimples presença», assinala porseu lado o padre jesuíta AntonioSpadaro, que coordena o livro.As intervenções de Francisco nãosão fruto «de uma preparaçãoacadémica, portanto, nem de umaespontaneidade ingénua, mas deuma preparação que nasce de umprofundo discernimento interior,que lhe permite escolher o que háde dizer e encontrar as palavrascertas», salienta o religioso.

À semelhança do primeiro volume,«a chave temática não é a melhor»para abordar as homilias, que«devem ser lidas uma após outra porordem cronológica». O quesobressai das palavras de Franciscoé um «acolhimento misericordioso». Paulinas/SNPC

63

Page 33: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

II Concílio do Vaticano:A quebra de sigilo durante as sessões

Durante as IV sessões do II Concílio do Vaticano(1962-65) muitos bispos participantes nestaassembleia magna enviavam para as suas diocesestextos sobre os trabalhos que decorriam na Basílicade São Pedro.O bispo da Beira (Moçambique), D. Sebastião Soaresde Resende, (1906-67), foi um deles. Só o fez nastrês primeiras sessões. “Não enviei este ano [1965],ao contrário do que fiz em todos os anos conciliarespassados, para o Jornal da Beira cartas semanaissobre matérias debatidas em Concílio, porque o nãopodia fazer com dignidade devido a uma questãopendente que ficará histórica”, confessou ao Boletimde Informação Pastoral (BIP), nº 44-45, página 10.Perante a questão se o clero e o laicado maisresponsável daquela diocese ultramarina podeacompanhar com suficiente profundidade os trabalhosconciliares e aprender as grandes linhas de força queo II Concílio do Vaticano definiu para a renovaçãopastoral, D. Sebastião Soares de Resende sublinhouque as diretivas desta assembleia não chegavam aosvários territórios (incluindo os países da Europa) “porfalta de uma informação completa, justa e profunda arespeito dos trabalhos conciliares”.O concílio convocado pelo Papa João XXIII econtinuado pelo Papa Paulo VI criou um “novo métodode ação”, diferente do de outros concílios, “o qual,vago e indeciso a princípio”, mas depois “concreto edefinitivo, concorreu de forma evidente para melhorarsensivelmente a infraestrutura de serviçosinformativos”.

64

E continua, o prelado nascido emMilheirós de Poiares (Diocese doPorto): “por um lado reduziu aomínimo, a partir do meio do primeiroperíodo conciliar, e em seguidaanulou quase completamente odever do sigilo sobre quanto sepassava na aula conciliar e nassalas de estudo das comissões”.A presença ativa de peritos, deauditores leigos de ambos os sexos,de párocos e de observadores demuitas confissões religiosas, emtodos os atos oficiais do concílio,“consolidou e alargou imensamentea objetividade dos instrumentos

noticiosos do concílio”, disse ao BIP.Todavia, não obstante a novaorgânica conciliar, D. SebastiãoSoares de Resende lamenta que as“grandes agências internacionaisdeem a conhecer ao mundo todocomunicados inexatos, incompletose até insidiosos sobre assuntostantas vezes de máxima importância,donde não pode resultar a verdadetal qual ela é”. Assim, à diocese daBeira chegaram, durante a últimatemporada conciliar, apenas asnotícias da grande imprensa devidoà “questão pendente que ficaráhistórica”.

65

Page 34: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

fevereiro 2016 27 de fevereiro. Lisboa - Alcobaça (Mosteiro deAlcobaça - Sala do Capítulo) -Conferências sobre «Ciclos depintura no Mosteiro e CoutosAlcobacenses durante os séculosXVI a XVIII» por Vítor Serrão e «Aescultura de barro em Alcobaça e obarroco monástico. Significadoestético e programático» por CarlosMoura . Algarve - Jubileu do CorpoNacional de Escutas no qual serácelebrado o Dia de Baden-Powell . Beja - Almodôvar (Igreja Matriz deSanto Ildefonso ) - Sessão doFestival Terras Sem Sombra com oconcerto «Como as Árvores naPrimavera» e atividade debiodiversidade do Baixo Alentejo(termina a 28 de fevereiro) . Viana do castelo - Ponte de Lima - Dia diocesano da Cáritas presididapor D. Anacleto Oliveira . Lisboa – Queijas - Lançamento doprojeto «MusiCristo» do grupo dejovens da Paróquia de São José deAlgueirão

. Lisboa – Queijas - Jornada diocesana de comunicaçãocom o tema «Comunicar parachegar a todos» . Porto - Santa Maria da Feira(Seminário dos Passionistas) - Festada Juventude Passionista com umareflexão sobre o exorcismo feita pelopadre José Fortea que falará sobre«A luta do bem contra o mal»(termina a 28 de fevereiro) . Leiria - Sede da Cáritas - A CáritasDiocesana de Leiria-Fátima promove uma feira solidáriaintegrada na Semana NacionalCáritas . Aveiro – Sé, 09h30 - EncontroDiocesano de Liturgia com o tema«Misericordiosos como o Pai» . Setúbal - Cúria Diocesana, 10h00 - Jornadas Diocesanas da Pastoralda Saúde sobre «O cuidar e ocuidador» . Porto - Paróquia da Senhora doPorto – 15h30 - Conferênciaquaresmal sobre «A misericórdianas estruturas sociais» por JacintoJardim promovida pela Paróquia daSenhora do Porto

66

. Coimbra - Instalações da Confrariada Rainha Santa Isabel (Mosteirode Santa Clara-a-Nova), 17h30 - Conferência quaresmal sobre «Consolar os aflitos - Perdoar asinjúrias - Sofrer com paciência asfraquezas do nosso próximo» porHenrique Vilaça Ramos e promovidapela Confraria da Rainha SantaIsabel em colaboração com aParóquia de Santa Clara . Aveiro – Sé, 21h00 - Concerto «ViaCrucis» com a Banda Amizade e oseu Coro de Câmara queapresentam um repertório alusivo àépoca quaresmal . Lisboa - Igreja dos Paulistas,21h30 - Apresentação da RevistaInvenire nº 11 por Anísio Franco,historiador de arte e conservador doMuseu Nacional de Arte Antiga,seguido de concerto por TeresaSalgueiro, que interpretará«Cânticos da Tarde e da Manhã» 28 de fevereiro. Porto - Igreja da Trindade - Celebração do Dia Nacional Cáritas . Setúbal - Centros Paroquiais doMontijo e de Alhos Vedros - Colheitabenévola de sangue integrada naSemana Cáritas

. Braga - Fafe (Igreja de José),15h00 - Conferência quaresmal«Confissão - porquê e para quê?»pelo padre Rui Alberto SDB . Setúbal – Sé, 15h30 - Catequese Quaresmal de D. JoséOrnelas, bispo de Setúbal . Porto - Carvalhos (Santuário doCoração de Maria), 17h30 - Conferência quaresmal sobre«Economia - Misericórdia» porAntónio Bagão Félix e organizadapelos Missionários Claretianos . Lisboa - Estoril (Auditório da BoaNova), 18h00 - Concerto solidáriopara o Centro Comunitário Senhorada Barra 29 de fevereiro. Portalegre - Encontro Diocesanode Pastoral Litúrgica . Roma - Palácio da Chancelaria -Curso sobre «Foro Interno»(diferentes aspetos da celebraçãodo sacramento da reconciliação)promovido pela PenitenciariaApostólica da Santa Sé (termina a04 de Março de 2016) . Guarda – Sé - Lançamento do livro«Catedrais de Portugal» da autoriado arquiteto António Saraiva

67

Page 35: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

O comentador Luís Marques Mendes vai moderar estasexta-feira um debate organizado pela Arquidiocese deBraga que reúne o ministro da Economia, ManuelCaldeira Cabral, e o ex-sindicalista Carvalho da Silva.A iniciativa, que decorre no Auditório Vita (Braga), apartir das 21h00, marca o arranque do II Ciclo deConferências “Olhares Sobre...”. O N.º 11 da ‘Invenire: Revista de Bens Culturais daIgreja’, será apresentado no próximo sábado, pelas21h30, na Igreja dos Paulistas (Santa Catarina,Lisboa), por Anísio Franco, seguindo-se um concertopor Teresa Salgueiro, que interpretará “Cânticos daTarde e da Manhã”, oratória que tem por base oregisto discográfico de 17 hinos de Vésperas eLaudes, apresentando cânticos intercalados comleituras da Bíblia, a culminar no prólogo do Evangelhosegundo S. João. O Departamento da Comunicação, do Patriarcado deLisboa, desafiou gestores e profissionais a ‘Projetar acomunicação de uma paróquia, com apenas 5 euros’ ea resposta é apresentada na Jornada Diocesana daComunicação, dia 27 de fevereiro, em Queijas. A Equipa de Jovens de Nossa Senhora (EJNS) vairealizar, de sexta a domingo, um encontro, na cidadedo Porto, sobre «Maria Invicta VI – Felizes à moda doPorto». Na iniciativa deste movimento de formaçãoespiritual, o bispo do Porto, D. António Francisco dosSantos, vai proferir uma reflexão sobre «Bem-aventurados sois vós» e celebra para os membros doEJNS na Igreja dos clérigos.

68

69

Page 36: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

10h30 - Oitavo Dia 11h00 -Transmissão missa

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 13h30Domingo, 28 de fevereiro -Entre Deus e os homens.Uma exposição em Viseu. RTP2, 15h30Segunda-feira, dia 29 - Entrevista a Sofia Reimão eCarlos Alberto da Rochasobre a eutanásia.Terça-feira, dia 01 -Informação e entrevista aPedro Vaz Patto sobre areflexão da ComissãoNacional Justiça e Paz para a Quaresma.Quarta-feira, dia 02 - Informação e entrevista à irmãLúcia Soares sobre os 150 anos das Irmãs Doroteiasem Portugal.Quinta-feira, dia 03 - Informação e entrevista sobre otorneio de futebol "Papa Francisco"Sexta-feira, dia 04 - Entrevista de análise à liturgiado II domingo da Quaresma pelo frei José Nunes. Antena 1Domingo, dia 28 de fevereiro - 06h00 - Cáritas:uma história de pessoas e para pessoas Segunda a sexta-feira, 29 de fevereiro a 04 demarço - 22h45 - Quaresma; Misericórdia, com D. JoséCordeiro; as parábolas com o padre Paulo Coelho; ViaSacra com Maria, com Isabel Figueiredo; campanha daFundação AIS, com Catarina Martins Bettencourt e operdão com o padre Igor Oliveira.

70

71

Page 37: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

Ano C – 3.º Domingo da Quaresma Se não vosarrependerdes…Convertei-vos!

Conversão é o dinamismo que marca a liturgia daPalavra deste terceiro domingo da Quaresma.No monte Horeb, Deus revela-Se a Moisés, chama-oe envia-o em missão para conduzir o povo àsalvação, em permanente peregrinação deconversão. São Paulo, aludindo a esta caminhada,avisa-nos que o mais importante não é ocumprimento de ritos externos e vazios, mas aadesão verdadeira a Deus, a vontade de aceitar asua proposta de salvação e de viver com Ele numacomunhão íntima.No Evangelho, Jesus convida-nos a umatransformação radical da existência, a uma mudançade mentalidade, a um recentrar a vida de forma queDeus e os seus valores passem a ser a nossaprioridade fundamental. Se isso não acontecer, anossa vida será cada vez mais controlada peloegoísmo que leva à morte.Se não vos arrependerdes… é interpelaçãoinsistente e constante que Jesus faz às nossas vidas,desde o início da sua pregação. Ele apela àconversão radical a partir das profundas raízes donosso ser, onde habita o Coração de Deus. Aconversão é fonte de vida, pois faz voltar para Deus.A pessoa é como a figueira plantada no meio davinha: pode ser que, durante anos, não dê frutos.Mas Deus, como o vinhateiro, tem paciência econtinua a esperar. Deus vai ainda mais longe: dá-nos os meios para a conversão. Jesus não apelasomente à conversão, mas propõe-nos o caminho aempreender para amar a Deus e amar os irmãos. Apaciência de Deus não é uma atitude passiva, masuma solicitude para que vivamos. Paciência econfiança estão profundamente interligadas: Deuscrê em nós, crê que podemos mudar a nossaconduta

72

passada, voltando-nos para Aquelede quem por vezes nos afastámos.Convertei-vos! Um monge doOriente compara o crente a umacasa. Se sou um batizado, generosoe comprometido, então dou a Cristoa chave da porta de trás para queEle entre na minha casa comoíntimo, como Ele quer. Se O deixarentrar pela porta da frente, quandooutros estão na casa, entãoficaremos por gestos de delicadezae conversas de rotina. Nestaimagem, é à porta de trás da nossacasa que Cristo vem bater.Sobretudo durante os quarenta diasda Quaresma e nesta terceira etapada caminhada para a Páscoa,somos

chamados a continuar a repensar anossa existência e a acolher o domda conversão. Deus propõe-nos alibertação da escravidão dosegoísmos e dos pecados, para queem nós se manifeste a vida emplenitude, que só pode ser vida deDeus em nós.E tudo isto em plena vivência do Anoda Misericórdia, em que de modomais insistente pomos o nossocoração no Coração de Deus e nosabrimos aos outros, sempre nafecundidade do amor que émisericórdia.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

73

Page 38: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

Jubileu da Cúria Romana

O Papa presidiu na segunda-feira àMissa pelo Jubileu da Cúria Romanae das Instituições ligadas à SantaSé, que começou com umameditação do padre jesuíta MarkoIvan Rupnik.Francisco desafiou os membros daCúria Romana a ser "comunidadede serviço" e a rejeitar as"tentações". “Deixemos que oSenhor nos livre de qualquertentação que nos afaste doessencial da nossa missão eredescubramos a beleza deprofessar a fé no Senhor Jesus”,disse, na

Basílica de São Pedro.Na homilia, assinalou que estesresponsáveis são chamados a seros “colaboradores de Deus” numatarefa “tão fundamental e única”como a de testemunhar com aprópria existência a “força da graçaque transforma e o poder doEspírito que renova”. “A fidelidadeao ministério conjuga-se bem com amisericórdia que queremosexperimentar. Na Sagrada

74

Escritura, fidelidade e misericórdiasão um binómio inseparável”,acrescentou.“Aos pastores, acima de tudo, épedido que tenham como modelo opróprio Deus, que toma conta doseu rebanho. O profeta Ezequieldescreveu o modo de agir de Deus:Ele vai à procura da ovelha perdida,reconduz ao redil a que se afastou,trata da ferida e cuida da doente”,desenvolveu.Segundo Francisco, esse

comportamento é sinal do amor que“não conhece limites”, uma“dedicação fiel, constante,incondicional” para que a todos osfracos possam “chegar a Suamisericórdia”.“Que, também, nos nossosambientes pastorais possamossentir, cultivar e praticar um fortesentido pastoral, sobretudo paracom as pessoas que encontramostodos os dias”, incentivou, pedindoque “ninguém” se sinta “descuradoou maltratado”.

Misericordina PlusO Papa surpreendeu este domingo os peregrinos reunidos na Praça deSão Pedro com a oferta de um “remédio espiritual”, a ‘misericordina’,distribuindo simbolicamente pequenas embalagens, como as dosmedicamentos. “Já o fizemos uma vez, mas esta é de melhor qualidade, éa Misericordina Plus”, gracejou Francisco, evocando o gesto similar quetinha sido efetuado no mesmo local, em novembro de 2013.“Recebam este presente como uma ajuda espiritual para difundir,especialmente neste Ano da Misericórdia, o amor, o perdão e afraternidade”, acrescentou.A caixa foi distribuída por pobres, refugiados e sem-abrigo, contendo umterço e uma imagem de Jesus Misericordioso. O objetivo é propor aosfiéis católicos a recitação do chamado ‘terço da Divina Misericórdia’, umadevoção católica baseada nas visões de Santa Faustina Kowalska (1905-1938), canonizada por João Paulo II em 2000.

75

Page 39: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

Transformação que gera alegria

No ano da Misericórdia a Ecclesiafoi ao encontro de sacerdotes quedisponibilizam do seu tempo para osacramento da reconciliação.O padre Paulo Coelho é sacerdotedo Coração de Jesus, há 11 anos, eatualmente é formador na casa dacongregação em Alfragide, Lisboa.Nestes anos de sacerdote muitasforam as horas que “se sentou” aconfessar.“O convite é feito a cada um de nós,batizados que somos, é um convitea um exame de consciência que sedeixa iluminar pela palavra de Deuse se deixa fazer pela consciênciareta”, explica.“Descobrir que o pecado tem o seu

peso destrói a relação e perturba arelação de paz com Deus, connoscoe com os outros; por isso o perdão ea paz são os frutos destesacramento, ou seja, o queremosalcançar depois de nos afastarmospelo pecado”.O sacerdote entende que seja difícilcada batizado se aproximar destesacramento e por isso haver cadavez menos pessoas a confessarem-se. “Há uma falta de consciência dopecado e, até de fé, diria; o pecadoé uma fé afetada e a confissão dá oconvite em profissão de fé, naMisericórdia de Deus.”O padre Paulo Coelho citou aindaBula da Misericórdia escrita peloPapa Francisco e o recado quedeixa aos

76

sacerdotes, uma forma simples detornar “leve o sacramento”.“(Francisco) pede aos confessoresque não façam questõesimpertinentes e isso tem um grandevalor, tem de existir um diálogo naconfissão e, ao mesmo tempo, nãopodemos cair na tentação de quereraveriguar tudo nem correr o risco defazer juízos”.Muitas são as horas que estesacerdote dehoniano já passou aconfessar e refere que tem de haveruma preparação prévia. “A melhorpreparação do sacerdote que sedisponibiliza para confessar é, elepróprio, também fazer a experiênciade penitente, de se confessar, creioque é a melhor porque ao mesmotempo há a consciência da suapequenez…”, diz de olhosarregalados.O tempo é um fator chave para aconfissão e às vezes os minutos

são escassos (para o sacerdote epenitente) para este sacramento.Além do diálogo durante aconfissão, passa-se à absolvição ealguma penitência “que não étarifada”. O padre Paulo Coelhodepois sente a alegria, como explicade sorriso aberto. “A maior alegrianão são as horas que confesso,mas sobretudo oferecer a graça deDeus a quem chega. Não são horasperdidas mas de graça… julgo esinto que são graça para openitente e para o própriosacerdote”.Um testemunho do padre dehonianoPaulo Coelho, que já passou muitashoras a ouvir os outros nosacramento da reconciliação, e querevelou que a transformação gera aalegria. Para ouvir hoje, às 22h45,no Programa ECCLESIA na Antena1 da rádio pública.

77

Page 40: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

O bispo chinês que já perdeu a conta às vezes em quefoi detido…

“Confiamos no Papa”Aos 81 anos, Julius Jia Zhi Guo,bispo de Zhengding, fiel aoVaticano e, como muitos naChina, não reconhecido pelogoverno de Pequim, continua aexercer o seu ministério apesardas ameaças das autoridades,das constantes detenções deque tem sido alvo… Este homem de aspecto frágil jáconheceu as tenebrosas prisões doregime comunista da China. Notempo da Revolução Cultural, deMao tsé-Tung, foi mesmocondenado a trabalhos forçados.“Os problemas começaram quandoera seminarista” – recorda. “De1963 a 1978 fui condenado atrabalhos forçados em lugaresperdidos, frios e inóspitos.” Nosúltimos anos, a repressão do regimetornou-se mais branda. Mas, apesardisso, Zhi Guo não deixou de serpreso – tantas vezes que já lhesperdeu a conta - sempre com omesmo argumento: ser um bispo fielao Papa.Desses tempos, Zhi Guo nunca maisesqueceu a fórmula que o mantevevivo sem perder a fé, conquistando

a coragem para enfrentar osalgozes do regime. “Era suficienteter Deus no coração. Foi isso queme sustentou e protegeu ao longode toda a minha vida.”Quando terminaram os trabalhosforçados, foi ordenado Bispo deZhengding. Foi uma ordenaçãoclandestina, que o governo dePequim não reconhecia econsiderava uma afronta. Apesardisso, dirigiu-se ao departamentolocal dos assuntos religiosos eapresentou-se como sendo o novobispo. “Riram-se na minha cara,dizendo que, na China,ninguém pode servir como bispo anão ser que seja reconhecido pelogoverno.” As gargalhadas dosfuncionários não esfriaram a suavontade e continuou o seu trabalhojunto do povo de Deus. Afinal, eleera o verdadeiro bispo, unido aoPapa.“Estamos tranquilos”Nos últimos tempos, apesar daaparente maior brandura demétodos, as autoridades continuamvigilantes sobre a chamada “IgrejaClandestina”. Ainda em Maio do anopassado, Zhi Guo foi preso uma vezmais. Culpa?

78

A ordenação de alguns sacerdotespara a sua diocese. “Expliquei-lhesque essa era a minha vida, o meutrabalho. Os sacerdotes sãoordenados pelo bispo e eu sou obispo. Não há nada que eu possafazer acerca disso…” Aos 81 anos,Zhi Guo acompanha com“entusiasmo” o ministério do PapaFrancisco e a vontade de seencontrar com o presidente chinês.“Confiamos no Papa porqueconfiamos no Senhor que sustentae guia a Sua Igreja e nosencomendamos a Ele. Fala-se, hámuitos anos, de como resolver esteproblema. É uma questão complexa,porém está tudo nas mãos de Deus e nós estamos tranquilos. Não nos preocupamos.”O que preocupa mesmo Zhi Guo éo orfanato que dirige na suadiocese há já duas décadas. Por lávivem cerca de 70 órfãos, numtrabalho que mobiliza 26 irmãs.Vivem apenas da caridade. “Assim,todos podem ver o amor gratuito deJesus por cada um e por todos nós.E podem reconhecer que a Igrejaestá presente em todo o mundo, aténa China, para o bem de todos.”

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

79

Page 41: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

Caritas, com coração

Tony Neves Espiritano

Há imagens de marca que imprimem carácter. Ada Caritas é uma delas. Ninguém consegue olharpara a solidariedade da Igreja católica sem onome desta instituição saltar logo à cabeça e aosolhos.Nascida como braço solidário da Igreja, a Caritasfoi-se espalhando pelo mundo. Hoje estápresente em todas as linhas da frente daintervenção católica e é uma instituiçãorespeitada e reclamada.Quando cheguei a Lisboa nos anos 80 e comeceia fazer trabalho pastoral nas periferias pobres dacapital, lá encontrei a Caritas no bairro de lataonde eu passava boa parte das minhas horasdedicadas à pastoral. Uma Assistente Social daCaritas passava no bairro os seus dias, visitandoas famílias, dando formação, alertando paraperigos, inculcando valores, denunciandosituações irregulares, prevenindo crimes,apoiando os mais carenciados. Tudo em nomeda Fé e como Missão de opção pelos maispobres.Depois, eu parti para Angola. Num contexto deguerra civil, a Caritas era, como escrevi então, o‘quase tudo dos sem nada’. Ela recebia ajudahumanitária da Europa e dos EUA e distribuíacom muita competência e humanidade. Emborafosse uma organização da Igreja católica, nuncafazia acepção de pessoas e distribuía por todosos pobres, sem olhar às convicções religiosas decada um.Nos tempos duríssimos dos combates quearrasaram a cidade do Huambo, foram os restos

80

de armazém da Caritas quem maisvidas salvou da morte á fome.Quando pararam os combates e ocerco estrangulou os sobreviventesna cidade, só a Caritas teveautorização de voar e, por isso, sóela socorreu as pessoas comcomida, roupa e medicamentos.Caritas ali rimou com vida, comsobrevivência, com humanidade.Aqui em Portugal como noutrasparagens, a intervenção da Caritascontinua decisiva. Não só paradistribuir pão e roupa, mas paracriar condições de vida digna àspessoas, preferindo dar cana eanzol do que oferecer sempre e sóo peixe preparado para a mesa dospobres.

Há todo um trabalhode sensibilização, formação eintervenção para que as pessoassejam autónomas e independentesna gestão quotidiana das suasvidas.Celebrar o Dia da Caritas é umaenorme responsabilidade para aIgreja católica. A Caridade tem deser uma palavra que traduz vida. Afraternidade tem de corresponder áforma de viver de quem se senteseguidor de Cristo. Se Ele andoupelas periferias e margens dahistória á procura de gente a fim dea trazer para o centro, essa tem deser hoje a nossa Missão. Comcoração, com entranhas demisericórdia, como pede o PapaFrancisco.

Your browser does not support the audio tag.

81

Page 42: Presos à vida - Agência ECCLESIAsites.ecclesia.pt/semanario/netimages/pdf/ecclesia... · que “atingiu um total de 160 608 beneficiários”, em 2014, e alerta que os problemas

82