presença da igreja na formação do território no brasil colônia
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PRESENÇA DA IGREJA NA FORMAÇÃO DO BRASIL COLÔNIA: Do descobrimento às Minas do Ouro
VASCONCELLOS, FÁBIO AZEVEDO
Centro de Formação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET MG CAMPUS TIMÓTEO. Departamento de Computação e Construção Civil
Rua 19 de Novembro, 121 – Centro Norte Timóteo
RESUMO: No processo de de ocupação do território brasileiro, tiveram vários atores que transformaram a sua paisagem numa mescla de Metrópole e Colônia .Num período onde as forças principais eram os reinados absolutistas, mais precisamente na península Ibérica, e a Igreja Católica, essas atores se transformaram nos principais agentes formadores do território. A Igreja Católica sempre esteve presente na ocupação do Brasil, desde a primeira incursão oficial no continente. Fazendo-se necessária em vários momentos da história brasileira com papeis de extrema importância, nas primeiras ocupações do litoral, servido como edificações de auxílio à proteção contra nativos e nações estrangeiras, passando por trabalhos de catequização do gentio e ensino, como também assumindo ações que a Coroa não queria se envolver, como ajuda aos desvalidos e construção de hospitais. Teve papel de grande importância na formação da paisagem das vilas do ouro, papel sempre secundário se comparado à presença da Coroa, nessas localidades, mas não de menor importância. Desenhando uma paisagem singular na ocupação de pontos estratégicos e criando perspectivas existentes somente na região das Minas, se comparado ao resto do Brasil. Palavra chave: Arquitetura; Igreja; Minas Gerais.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
1. Introdução
O presente trabalho tem o objetivo de levantar uma discussão a respeito do grau de
importância da igreja católica na organização do espaço no Brasil colônia mais
especificamente, nas Minas Setecentistas.
A percepção da questão foi iniciada ao longo da docência em história da arquitetura e
urbanismo durante alguns anos.
Durante o século XVI, época do descobrimento do Brasil, a Europa passava por um período
onde o absolutismo prevaleceu em grande parte do seu território. Neste período a Igreja
Católica, que havia se tornado extremamente forte e poderosa, estava com suas estruturas
abaladas pela Reforma Protestante que se alastrava pelo continente. Dividindo a Europa em
países protestantes e católicos.
Após o Concílio de Trento, várias medidas foram tomadas para barrar a expansão
protestante e reforçar a fé católica na Europa e no mundo. Portugal e Espanha países
católicos, se lançaram ao mar para conquista de novos territórios para expandir seus reinos
e aumentar recursos, fato que coincidiu com os desejos da Igreja Católica em conseguir
mais fiéis, a fim de compensar as perdas na Europa protestante. Esses dois desejos, o dos
Reis e o da Igreja, viabilizou uma parceria estratégica na conquista e colonização das terras
Americanas.
A presença da Igreja se fez presente em todos os momentos da colonização do Brasil, em
várias escalas e formas. Desde a presença das primeiras expedições ao continente até suas
incursões pelos sertões do Brasil, na busca de metais preciosos.
O trabalho tenta resgatar esse processo de inserção do poder da igreja no período colonial
brasileiro, focando um pouco mais nas na região das Minas no período setecentista. E sua
relação com a Coroa, como também como elemento formador de uma sociedade singular,
fazendo do Barroco mineiro, não somente um estilo arquitetônico, mas em uma sociedade
singular. Traça um histórico desde a presença dos jesuítas, como a primeira ordem religiosa
a fazer parceria com a coroa portuguesa, e a iniciar seus trabalhos de catequização no
Brasil, e se posicionando estrategicamente no sítio encontrado. Neste período com um
território inóspito, tinha grande necessidade de proteção, contra ataques tanto de nativos
como de nações inimigas. E a presença das Ordens Terceiras nas Minas setecentistas,
após a proibição das ordens seculares pelo Marques de Pombal.
Esse período de uma formação urbana mais consistente no Brasil, em função da mineração,
teve a Igreja, que no caso das regiões mineradoras foi através das ordens terceiras,
confrarias e irmandades, como elemento atuante na organização das vilas e cidades.
Proporcionando vários elementos de destaque na paisagem e a ocupação de destaque nas
praças, juntamente com os edifícios oficiais da Coroa.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
Segundo LOBO e JÚNIOR no capítulo: As colinas de Vila Rica de Ouro Preto, do livro
Urbanismo de Colina – Uma tradição luso-brasileira, 2012, “As igrejas e capelas do Ouro
Preto são elementos relevantes na formação e qualificação do espeço urbano da cidade,
pois todas apresentam características similares em relação ao sítio, à paisagem à estrutura
urbana”...
O artigo não pretende colocar um ponto final ou uma definição final na discussão sobre a
presença da Igreja, mas sim iniciar um debate a respeito.
2. Contextualização século 16
Para iniciarmos o entendimento do de aconteceu no Brasil é de grande importância que entendamos
o contexto europeu no período, século 16.
Foi no Renascimento que se iniciaram as expansões ultramarinas e no fervor religioso da
Contra Reforma que deu início ao Barroco. Essas expansões encontraram um vasto
território para as realizações urbanísticas, sociais e religiosas. Isso se justifica pelo fato da
Europa já se encontrar com uma mancha urbana muito consolidada, criada ainda na Idade
Média, sendo apenas modificadas em parte para atender às necessidades da sociedade.
Nas Américas poderia se começar do zero.
A Europa passava por profundas transformações politico religiosas. Dentro dessas
transformações, a Reforma Protestante iniciada por Martin Lutero em 1517, divide o
continente em dois polos religiosos. De um lado a Santa Igreja Católica e de outro, os
Protestantes.
Foram três décadas de expressiva expansão do protestantismo, fazendo com que os
católicos, isso inclui e Santa Igreja e a nobreza, passassem a temer a perda de poderes, em
consequência da evasão de fieis.
Em 1545, o concílio de Trento, convocado pelo Papa Paulo III, teve como objetivo criar
mecanismos que impedissem a saída de fiéis e o arrebanhamento de outros. Surgindo aí,
uma nova fase da Igreja Católica, intitulada de Contra Reforma. Uma verdadeira jogada de
marketing para os dias de hoje. Dentre várias mudanças, temos novas propostas litúrgicas e
como consequência, novos edifícios religiosos com espaços destinados ao Novo e Velho
testamento.
Em 1500, ano do “descobrimento” do Brasil, a coroa portuguesa estava com Dom Manoel I,
O Venturoso, genro e rival dos Reis Católicos da Espanha. Sendo um homem muito
religioso, investiu uma boa parte da fortuna portuguesa na construção de mosteiros e
igrejas, assim como, o patrocínio da evangelização das novas colônias através dos
missionários católicos.
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3. As Missões Jesuítas
Com enormes dificuldades na ocupação do Brasil, no início do século 16 tais como, poucos
recursos financeiros, reduzido contingente de pessoas que estariam dispostas a vir para a
colônia, uma grande extensão territorial, e a evangelização do gentio a Coroa Portuguesa
acabou por fazer um acordo com a Igreja Católica para o processo de colonização. Assim, o
governo associa-se à Companhia de Jesus, que eram os preferidos da Coroa para a
evangelização, antes da Unificação Ibérica e sustentados pela Coroa, por ser integrante do
clero regular. Após a morte de D. Sebastião, sob a égide de Felipe II da Espanha, outras
ordens seculares começaram a se instalar na Colônia.
Chegando ao Brasil em 1549, os jesuítas, liderados por Manoel da Nóbrega, tiveram grande
importância na relação entre os portugueses e os nativos.
Ao mesmo tempo em que colaborava com o reino na evangelização, a Ordem Jesuíta
edificava seus conjuntos compostos por igreja e colégio, em algumas localidades, originava
núcleos de grande importância. Como podemos ver no mapa abaixo, entre os séculos 16 e
17, os jesuítas alcançaram praticamente toda a costa brasileira.
Figura 1. Ocupações Jesuítas. Fonte: Mendes, Francisco Roberval, 1949 – Arquitetura no Brasil: de
Cabral a D. João VI / Chico Mendes, Francisco Veríssimo, William Bittar. – Rio de Janeiro Novo
Milénio, 2009
Com o tempo a Ordem se tornou um problema para a Coroa. Oposições à escravatura, e
uma grande influência sobre as tribos do Sul da Colônia, chegando até mesmo, a fundar
uma liga de cidades-estados, denominadas Missões, foram os motivos de sua expulsão da
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Colônia, por Marques de Pombal em 1759, que também proibira a presença de ordens
religiosas no interior, principalmente nas regiões de mineração.
Sendo as primeiras edificações na Colônia, as igrejas e colégios jesuítas, se destacaram
principalmente em sua localização. A escolha do sítio era, por muitas vezes definidas
usando critérios de segurança, contra as hostilidades encontradas, tanto por nativos como
por estrangeiros de outras nações europeias, como é o caso do Colégio jesuítico dos Reis
Magos em Nova Almeida, atual Serra no Espirito Santo (figura2).
Figura 2 (desenho do próprio autor).
4. Primeiras ocupações
As primeiras ocupações em território brasileiro foram os povoados de São Vicente ao sul,
Olinda ao Norte, e posteriormente Salvador, este, passando a ser sede do governo e
juntamente com o estabelecimento dos engenhos, marcou-se o progresso da colônia.
Antes de 1700, ou nos últimos cinco anos do século XVII, os arraiais nasciam
exclusivamente do trabalho dos aventureiros paulistas e baianos que se estabeleciam onde
existia a ocorrência do ouro. Como forma de estimular os descobertos, a coroa portuguesa
cedia as datas, 60 braças de frente por 30 de fundo e começavam a batear. O trabalho era
pesado, o clima rigoroso, a ausência de conforto total.
As dificuldades encontradas, foram muitas, entre elas podemos salientar a invasão
espanhola e holandesa, a dominação espanhola entre 1580 e 1640 em Portugal, e num
primeiro momento, a falta de recursos destinados à colônia.
Esses fatores, não impediram que a Igreja e os portugueses tomassem seu espaço junto às
terras conquistadas. Esses fatores causaram prejuízos à economia da Metrópole e foram
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significativos para a posterior utilização do Barroco como afirmação de glória e poder na
colônia. Se comparadas as construções barrocas que foram sendo difundidas na Europa,
durante o período do estilo em voga, as construções portuguesas se apresentam de forma
mais modesta e tímida.
A falta de autonomia do Vaticano em Portugal desfavoreceu ainda mais o desenvolvimento
de edificações de cunho religioso, ficando a cargo da coroa e das ordens religiosas
(jesuítas, carmelitas, dominicanos, franciscanos, entre outros) a continuidade das
construções de caráter religioso.
5. Organização das cidades da América Portuguesa
No Brasil Colônia, não existia uma regulamentação urbanística consolidada, apesar de
existir algumas normas para a organização das vilas medievais europeias.
Normalmente, se encontrava a igreja e o castelo em posições de destaque, muito por
questões de estratégia de defesa, e por outro lado, em vias sinuosas, os outros edifícios se
organizavam. Em alguns núcleos eram empregados as Leis das Índias, com a lógica das
ruas dispostas em quadras, que trazia uma influência romana. “Quando fizerem o plano do
lugar, distribuam em praças, ruas e parcelas, com cordão e régua, a partir da praça principal
em direção às entradas e caminhos principais, deixando território suficiente para o
crescimento da cidade.”
Na América espanhola essas determinações eram seguidas à risca, diferentemente do que
ocorria no Brasil. Muito em função do perfil dos colonizadores, que no caso da Espanha,
eram militares cumprindo ordens. E de Portugal, chegaram, camponeses, mercenários e
degredados.
Um dos elementos marcantes nos dois modelos de organização urbana foi a presença da
praça, que desde a ágora grega é um espaço inseparável do imaginário urbano. Local de
festas, quermesses, procissões, execuções, protestos e clamor popular.
Usados como elementos definidores de espaços a partir do século XVII, alguns modelos de
praças europeias, foram transpostos para o Brasil pombalino. E da mesma forma que os
engenheiros militares foram utilizados nos projetos das fortificações, foram também nas
remodelações urbanas, como o caso de Alpoim, que atuou no Rio de Janeiro, Vila Rica e
Mariana.
Vila Rica, atual Ouro Preto, possui uma praça central que conseguia sintetizar os aspectos
que simbolizavam esse espaço, com a presença da administração colonial da região. O
Palácio dos Governadores, misto de fortaleza e paço, projetado por Alpoim, ocupa a área
mais alta da praça. Do lado oposto, idealizada pelo governador Luiz da Cunha Menezes, a
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Casa de Câmara e Cadeia. Entre ambos, no centro do espaço publico, havia o pelourinho e
um chafariz.
Neste espaço, pela primeira vez a Coroa portuguesa revela seu caráter dominador, inclusive
em relação à igreja, que nesta praça desempenhava papel secundário, pois as duas
matrizes localizavam-se relativamente afastadas, nos núcleos dos antigos arraiais do Pilar e
Antônio Dias.
6. A Região das Minas
Em meados do século 16, exploradores portugueses já haviam chegado, às cabeceiras do
rio Jequitinhonha, na serra do Espinhaço, penetrando essa cadeia de montanhas, atingindo
a bacia do rio São Francisco. Encontraram ali, turmalinas que pensaram serem esmeraldas.
A esse período, pertence à lenda sobre a existência de uma cadeia de montanhas
rebrilhantes de metais preciosos, a serra do Sabarabuçu. Essa passou a exercer sobre os
primeiros exploradores do Brasil Central a mesma atração mágica.
Várias tentativas fracassadas na segunda metade do século XVI causou decepção e
desencorajou novas tentativas de descobrir esmeraldas e prata. Em busca de remediar a
falência econômica de Portugal, ocasionada por 40 anos de guerras com a Holanda e a
Espanha, em 1660, reiniciam-se as buscas por metais preciosos. Como a coroa não poderia
mais arcar com as expedições, ela confia essa tarefa aos exploradores brasileiros, os
paulistas.
Segundo Bury 2006, quando D. Afonso VI de Bragança escreveu aos paulistas para
conclamar sua ajuda, não poderia ter escolhido homens mais aptos para as explorações
propostas. Desde 1603, quando uma bandeira, ou seja, uma expedição em busca de
indígenas para escravizar, comandada por Nicolau Barreto, penetrou em Potosí, no vice-
reino espanhol do peru, os aventureiros paulistas vinham explorando os enormes sertões do
continente, atacando as aldeias dos missionários jesuítas pelo domínio das nações
indígenas do interior.
Os pontos culminantes da conquista das Minas se deram no Carmo, Ouro Preto e Sabará.
Desses pontos irradiou-se a ocupação do território. Ouro Preto foi o mais culminante deles,
cuja presença do Itacolomi representava o farol atraente e desejado dos bandeirantes
(Vasconcelos 1999). A região do Carmo fora descoberta por acaso, ou por engano,
acreditando-se ser Tripuí. Sabará, ou Sabará-buçu, não era desconhecida, tendo sido
conhecida por Borba Gato.
Logo a região estaria cheia de paulistas, como também de baianos reinóis, além de
brasileiros de todos os lugares. E nessa mistura, se fez a formação do povo da região das
Minas.
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Ninguém queria saber de outra atividade além da lavra. Fazendo da região extremamente
rica em metais preciosos, mas pobre em suprimentos. E adquirindo uma lei própria. “Como é
bem de se considerar aquela multidão entrou, invertendo a sociedade pela base, pois, visto
que o ouro não escolhia favoritos, criou mandões, que emergiram da ínfima camada,
perante os quais toda autoridade pública desapareceu para largar espaço a uma
demagogia, feroz e brutal.”(Vasconcelos 1999).
Aos poucos os comerciantes se enriquecem, já que os paulistas não se inclinavam ao
comércio e os reinóis assumem a maioria das catas. De certa forma, fazendo os paulistas
perderem poder na região das Minas.
6.1. As Vilas do Ouro
Durante o século XVII, a Capitania de Minas Gerais fundou 14 vilas e uma cidade. Segundo
Oliveira 2003, a fundações ocorreram em dois ciclos. Não ocorrendo regularidade na
formação das vilas no período setecentista.
No início do século XVII, ocorreu o primeiro ciclo, onde as vilas foram criadas em
consequência da corrida que os descobertos auríferos provocaram, juntamente com as
confusões causadas pelas disputas das lavras. O segundo ciclo ocorreu na ultima década
do século XVII.
Ainda segundo Oliveira 2003, sabe-se que as vilas fundadas no primeiro ciclo, por
demandas superiores, de “cima para baixo”, não sendo por solicitações locais, mas sim, por
ordem e desejo da Coroa. No caso do segundo ciclo, ocorreu o inverso, foram fundadas de
“baixo para cima”, ou seja, por meio de solicitações ao Rei, pelos locais.
Nos primeiros anos de ocupação da região das Minas, a presença da igreja esteve sempre
presente, inicialmente em pequenas ermidas, erguidas juntamente com os primeiros
arraiais. Surgia dessa forma, a capela, na maioria das vezes em taipa e sapé, planta
quadrada, cumeeira e duas águas, sem torres e janelas. Posteriormente, cuidavam de
construir uma capela maior, com o quadrado ampliado, altar-mor ao fundo e uma torre
lateral ou central. Em alguns casos a torre destacada do corpo da igreja como na de Padre
Faria, em Ouro Preto e na capela do “O” de Sabará, cuja sineira central é posterior. (Figura
3)
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Figura 3: Igreja do Ó, Sabará (desenho do próprio autor)
Nesse processo, vários arraiais foram se formando com estradas interligando-os, que
posteriormente se tornariam ruas. Conforme as figuras 4 e 5 abaixo nas cidades de Sabará e
São João Del Rei.
Essa ocupação se deu no sentido ascendente, do leito dos rios, onde aconteceu a primeira
extração do ouro de aluvião, e posteriormente subindo para as áreas mais inclinadas atrás
do ouro que começara a se esgotar no leio dos rios.
Figura 5: Inicio da formação urbana de Sabará.
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Figura 4: Inicio da formação urbana de São João Del Rei
No auge do período aurífero, com a descoberta do ouro em terras mineiras, e a formação
das classes sociais, as grandes igrejas matrizes também se dissiparam nos centros urbanos
que cresciam rapidamente, como Mariana, Ouro Preto, São João Del Rei, Sabará, dentre
outros. Transformando a organização do território mais uma vez. Em função desses novos
edifícios representantes do poder.
Esses centros auríferos se transformaram em cidades compostas por uma sociedade
heterogênea, por volta de 1760, com sua igreja matriz. Essas surgem em centros urbanos
com uma estabilização já garantida.
7. A presença da Igreja
O papa Júlio III transfere para o rei de Portugal, Dom João III, em 1551, toda a competência
em relação à colônia, fazendo parte dessas, a nomeação de bispos, e o recebimento e
autorização de contribuições e despesas referentes à igreja.
A partir dai as ordens religiosas se estabelecem no litoral do Brasil, sendo os jesuítas os
primeiros a chegarem, como já foi mencionado. Até o final do século XVI, todas as ordens
religiosas que precederam os jesuítas, beneditinos, carmelitas e franciscanos, e os próprios
já estavam situados, e já haviam dado início às construções religiosas. É importante
lembrar, que as ordens religiosas atuavam de preferencia nas colônias, que eram locais de
possíveis expansões. Além das ordens religiosas, ordens terceiras, confrarias e irmandades,
ou seja, organizações religiosas laicas, também se estabeleceram junto aos povoados.
O estado Absolutista português era ligado à igreja e esta polarizava a vida social na colônia
desde os primeiros anos. Assim que surgia um arruado e os simples aglomerado de
casebres, cuidava-se da igrejinha. Em geral, o próprio descobridor da região encarregava-se
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da construção dessas capelas iniciais, pois a coroa portuguesa absorvia as rendas, mas não
queria investir. De acordo com a concepção da coroa portuguesa, administrar significava
espoliar.
8. As Ordens Terceiras
Em Minas Gerais, a inexistência de ordens religiosas e congregações caracterizou o
desenvolvimento da arquitetura religiosa pela formação de grupos, que geraram
irmandades, confrarias e ordens terceiras. Segundo Sylvio de Vasconcellos (2004), na
sociedade urbana mineira, faz-se a distinção de duas fases da civilização que formaram a
arquitetura mineira. A primeira foi de influência dos imigrantes, que estavam se acomodando
na região; e a segunda seria a expansão dos naturais da região.
As Ordens terceiras, irmandades e confrarias, eram instituições compostas por leigos que
participavam da vida religiosa, em busca de cultuar seus santos, tantos homens como
mulheres, de todas as camadas da sociedade se agrupavam nessas irmandades,
oferecendo serviços de ajuda aos seus membros e aos desvalidos. Como descreve Boschi
(1986):
As irmandades ofereceram para a Igreja uma dupla vantagem: foram simultaneamente gestoras e sedes de devoção, além de serem eficientes instrumentos de sustentação material do culto (...) substituíram o papel precípuo do clero, como agentes e intermediarias da religião. No segundo momento, arcando com os onerosos encargos dos ofícios religiosos, eximiram esse mesmo clero de combater a instituição do Padroado régio (..) além de aliviar o Estado do compromisso de aplicação dos dízimos eclesiásticos recolhidos na implementação do culto religioso, os irmão leigos acabaram por absorver a responsabilidade dos serviços de toda a população colonial .
O século XVII não apresentou edificações com grande significado nem das Ordens
Seculares e nem das Terceiras. Estas ocupavam capelas inseridas no corpo das igrejas
primeiras ou segundas, optando pela construção de edifícios próprios e independentes do
conjunto principal somente depois da valoração das cidades, principalmente após o ciclo do
ouro. E transformando a paisagem. E perspectivas. Conforme figura abaixo.
As irmandades religiosas foram estimuladas desde os primeiros anos, pela Coroa, com o
objetivo de transferir para o povo as despesas da construção de templos, e hospitais. Tais
irmandades promoveram a construção de matrizes e capelas, por toda Minas Gerais. Sendo
assim, diferentemente do que aconteceu no litoral, as igrejas não foram construídas por
grandes ordens religiosas.
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No final do ciclo do ouro, ocorre o declínio das ordens terceiras e suas capelas, ocasionando
o retorno da população às matrizes. Algumas capelas, foram construídas já no período de
decadência como a de São Francisco de Paula em Ouro Preto.
9. Conclusão
Pode-se perceber que a Igreja esteve em todos os momentos da colonização brasileira
desde os primórdios.
Fato aliado ao momento vivido na Europa com a Contra Reforma aliada aos governos
absolutistas na Península Ibérica, fizeram com que a Igreja se transformasse em um
importante instrumento de ocupação do território.
Inicialmente transformou e marcou a paisagem no litoral com construções ao mesmo tempo
de caráter religioso e militar, ocupando pontos estratégicos na orla.
Posteriormente tivemos complexos núcleos urbanos erguidos pelos jesuítas (as Missões),
um pouco precários tecnologicamente, mas de uma complexidade organizacional importante
para a formação do território. Os conventos, mosteiros e colégios erguidos, principalmente
nas cidades litorâneas marcaram também de forma significativa a paisagem reforçando o
poder e a parceria Coroa/Igreja, em terras brasileiras.
Por fim, a Igreja se fez presente na expansão para o interior do Brasil, desde oratórios,
carregados pelos bandeirantes, passando a capelas inseridas no corpo das casas
bandeiristas, até se fixaram nos primeiros núcleos urbanos no interior. Impulsionados pela
descoberta de ouro, mais precisamente em Minas Gerais.
Passando a representar todo o esplendor do barroco, causando espanto tanto em quem
circulava pelas vilas como que adentrava nas edificações.
Além das visadas e os espaços criados na inserção dos edifícios, as cidades foram se
organizando em função das irmandades, nas cidades do ciclo do ouro. Cada núcleo/arraial
que surgia, erguia-se uma capela, posteriormente essas capelas cresceram em função da
necessidade de ampliações, já que a quantidade de imigrantes que chegavam às terras
mineiras não parava de crescer. Esses arraiais se interligaram formando vilas e
posteriormente cidades. A religião tinha papel importante na aglutinação das pessoas, com
missas, procissões, festas, e os sinos, que com seu badalar anunciavam desde casamentos
até falecimentos.
O governo nem sempre dedicava-se às melhorias urbanas, cabendo à população e nesse
caso, os ordens religiosas e confrarias, boa parte dos serviços públicos.
Conforme descrito por Righi (2012):
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“As igrejas e capelas de Ouro Preto são elementos relevantes na formação e qualificação do
espaço urbano da cidade pois todas apresentam características similares em relação ao
sítio, à paisagem, e à estrutura urbana. Essas características são:
Em geral, estão em posição dominante na paisagem (figura 5 e 6), formando esplanadas, a
cavaleiro, no divisor de águas; localizam-se na Rua Direita, ou no máximo próximas, ligadas
por travessas; abrigam equipamentos públicos essenciais à vida urbana, tais como
chafarizes e cemitérios; quando no tecido urbano, com pouco destaque, formam conjuntos
urbanísticos sofisticados e articulados, definindo praças e largos”. Como ilustra a figura 7. A
igreja de São Francisco de Assis em ouro Preto e seu largo à frente. E a perspectiva criada
pela Igreja do Pilar, também em Ouro Preto (figura 8)
Sendo assim, podemos verificar que Igreja foi um dos principais agentes conformadores do
território brasileiro.
Figura 5: Capela de Santa Rita – Serro/MG (Desenho do próprio autor)
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Figura 6: Matriz de Santo Antônio – Tiradentes/MG (Desenho do próprio autor)
Figura 7: Igreja de São Francisco de Assis – Ouro Preto/MG (Desenho do próprio autor)
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Figura 8: Desenho do próprio autor
10. Bibliografia
BOSCHI, Caio César. Os Leigos e o Poder. Irmandades Leigas e Política colonizadora em
Minas Gerais. São Paulo: Ática, 1986, p. 93.
BURY, John. A arquitetura e a arte do Brasil colonial. In: Arquitetura e Arte no
Brasil Colonial. São Paulo: Nobel, 1991ª
VASCONCELLOS, Sylvio de. Sylvio de Vasconcellos: arquitetura, arte e cidade; textos
reunidos. Organização de Celina Borges de Lemos. Belo Horizonte: BDMG Cultural, 2004.
p119.
OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de. O Rococó religioso no Brasil e seus antecedentes
europeus. São Paulo: Cosac e Naify, 2003. 343p.
LOBO e JÚNIOR, Manuel Leal da Costa e José Geraldo Simôes (org) . Urbanismo de Colina: Uma
tradição luso-brasileira. Cap 5: As Colinas de Vila Rica de Ouro Preto
MENDES, Francisco Roberval, 1949 – Arquitetura no Brasil: de Cabral a D. João VI / Chico
Mendes, Francisco Veríssimo, William Bittar. – Rio de Janeiro Novo Milénio, 2009.