prÁticas corporais e suas relaÇÕes com o … · o trabalho com os documentos ... pois se...

26
1 PRÁTICAS CORPORAIS E SUAS RELAÇÕES COM O CONTEXTO ESCOLAR NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX Angélica Jesus de Santana Universidade Federal de Sergipe O estudo objetivou compreender a cultura escolar através das práticas educativas como: aulas de ginástica, festividades e desfiles cívicos, no intuito de perceber como tais práticas eram articuladas visando imprimir nos corpos dos educandos aspectos cívicos, morais e higiênicos disseminados durante período republicano através da instituição educacional, sob a forma dos grupos escolares nas primeiras décadas do século XX. O recorte temporal para esta pesquisa foi definido tendo em vista a inserção da Educação Física nos currículos das escolas sergipanas em 1917 até 1930 tendo em vista a mudança de método de ginástica sueca para a ginástica francesa, já que este último método não é contemplando aqui. Este estudo tem como categoria de análise a infância e utiliza como fontes principais os recursos iconográficos. Tais elementos constituintes da pesquisa estão respaldados por um referencial bibliográfico que aborda a história da educação brasileira e suas relações sócio-políticas. Os dados que compõem esta pesquisa abordam inicialmente a importância da utilização dos recursos iconográficos como fontes da História da Educação e às dificuldades de acesso a esse tipo de fonte. Já que segundo Dermeval Saviani 1 “...as fontes são o ponto de origem, a base e o ponto de apoio para a produção historiográfica que nos permite atingir o conhecimento da história da educação brasileira...”. Durante muito tempo às imagens foram utilizadas como ilustração sem explorar o conteúdo e as informações contidas nestas, principalmente quando se referem à cultura escolar registrando momentos do cotidiano educacional e especificidades das práticas educativas aqui elencadas para análise que muito influenciaram na formação da população brasileira. Desta forma o recurso iconográfico utilizado como fonte de pesquisa da cultura escolar que transcende a utilização das imagens apenas de maneira ilustrativa pode ser considerado como uma tendência recente. O trabalho com os documentos audiovisuais, em especial a fotografia, é importante no sentido de fazer falar esta fonte de pesquisa que no primeiro momento pode ser considerada como muda e estanque. Para tanto as fotografias precisam ser analisadas e trabalhadas não apenas no sentido de abordar ou decifrar a imagem pela imagem, mas sim contextualizando-a com a situação sócio-educacional do país e do Estado, levando em consideração a época em 1 SAVIANI, Dermeval. Breves Considerações sobre Fontes para a História da Educação. In: LOMBARDI, José Claudinei e NASCIMENTO, Maria Isabel Moura. Fontes, História e Historiografia da Educação. Paraná: Autores Associados. 2004. p. 09.

Upload: lyque

Post on 28-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

PRÁTICAS CORPORAIS E SUAS RELAÇÕES COM O CONTEXTO ESCOLAR NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX

Angélica Jesus de Santana

Universidade Federal de Sergipe

O estudo objetivou compreender a cultura escolar através das práticas educativas

como: aulas de ginástica, festividades e desfiles cívicos, no intuito de perceber como tais

práticas eram articuladas visando imprimir nos corpos dos educandos aspectos cívicos, morais

e higiênicos disseminados durante período republicano através da instituição educacional, sob

a forma dos grupos escolares nas primeiras décadas do século XX. O recorte temporal para

esta pesquisa foi definido tendo em vista a inserção da Educação Física nos currículos das

escolas sergipanas em 1917 até 1930 tendo em vista a mudança de método de ginástica sueca

para a ginástica francesa, já que este último método não é contemplando aqui. Este estudo tem

como categoria de análise a infância e utiliza como fontes principais os recursos

iconográficos. Tais elementos constituintes da pesquisa estão respaldados por um referencial

bibliográfico que aborda a história da educação brasileira e suas relações sócio-políticas.

Os dados que compõem esta pesquisa abordam inicialmente a importância da

utilização dos recursos iconográficos como fontes da História da Educação e às dificuldades

de acesso a esse tipo de fonte. Já que segundo Dermeval Saviani1 “...as fontes são o ponto de

origem, a base e o ponto de apoio para a produção historiográfica que nos permite atingir o

conhecimento da história da educação brasileira...”. Durante muito tempo às imagens foram

utilizadas como ilustração sem explorar o conteúdo e as informações contidas nestas,

principalmente quando se referem à cultura escolar registrando momentos do cotidiano

educacional e especificidades das práticas educativas aqui elencadas para análise que muito

influenciaram na formação da população brasileira. Desta forma o recurso iconográfico

utilizado como fonte de pesquisa da cultura escolar que transcende a utilização das imagens

apenas de maneira ilustrativa pode ser considerado como uma tendência recente.

O trabalho com os documentos audiovisuais, em especial a fotografia, é importante no

sentido de fazer falar esta fonte de pesquisa que no primeiro momento pode ser considerada

como muda e estanque. Para tanto as fotografias precisam ser analisadas e trabalhadas não

apenas no sentido de abordar ou decifrar a imagem pela imagem, mas sim contextualizando-a

com a situação sócio-educacional do país e do Estado, levando em consideração a época em 1 SAVIANI, Dermeval. Breves Considerações sobre Fontes para a História da Educação. In: LOMBARDI, José Claudinei e NASCIMENTO, Maria Isabel Moura. Fontes, História e Historiografia da Educação. Paraná: Autores Associados. 2004. p. 09.

2

que foram produzidas. No entanto, ao elencar os recursos iconográficos como principal fonte

de estudo o pesquisador encontra grandes dificuldades que segundo os integrantes do Cpdoc

(Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil) da Fundação

Getulio Vargas “advêm, principalmente, da dispersão das fontes, da ausência de instrumentos

de pesquisa que informem sobre sua localização e do reduzido número de estudos sobre a

história da fotografia, afora as péssimas condições de preservação em que se encontram tais

documentos, na maior parte das vezes fadadas ao desaparecimento”2.

A escassez dos recursos iconográficos foi uma das principais dificuldades encontradas

para a construção deste artigo, a busca por acesso a tais fontes representou um trabalho árduo,

pois se tratando especialmente de imagens escolares, no nosso Estado percebesse a falta de

interesse pela produção e conservação de tais imagens. Somando-se ainda o fator cronológico,

principalmente por conta do período elencado que diz respeito às primeiras décadas do século

XX, pois como se sabe a utilização das máquinas fotográficas ainda não era muito difundida

no Brasil, especialmente em Sergipe, o que nos leva a inferir ser este um dos motivos

responsáveis pela presença reduzida dos registros fotográficos dentro do ambiente escolar.

No entanto uma preliminar pesquisa em acervos públicos e particulares revelou

algumas imagens da cultura escolar que se enquadra na padronização dos tipos de fotografias

escolares citado por Rosa Fátima de Souza: “...o gênero mais difundido é a fotografia de

classe (...). As fotografias do corpo docente incluem uma outra modalidade de fotografias

escolares. Além dessas são comuns as imagens das fachadas dos edifícios escolar, de festas e

solenidades, de aulas de educação física, exposições escolares, entre outras”3.

Compondo assim a coleção 40 fotografias pertencentes ao acervo do Museu do

Homem Sergipano (acervo particular de Rosa Faria), ao Instituto Tobias Barreto de Educação

e Cultura e ao acervo particular da Dra. Maria Bernadete G. S. Figueiredo. É valido ressaltar

que apenas 7 destas imagens serão utilizadas como fontes para produção deste artigo.

Não fugindo a regra da padronização citada acima, tais registros fotográficos referem-

se a fachadas dos grupos escolares, com ou sem alunos postados a sua frente e ao cotidiano

destes grupos, que podem ser aqui categorizadas como: fotos de atividades festivas dentro do

ambiente escolar; fotos de desfiles cívicos, geralmente ocupando as principais ruas e praças

2 LOBO, Lúcia Lahmeyer, BRANDÃO, Ana Maria de Lima e LISSOVSKY, Maurício. A fotografia como fonte histórica: a experiência do Cpdoc. Anais do V Congresso Brasileiro de Arquivologia. Rio de Janeiro. 1982. p. 43. 3 SOUZA, Rosa Fátima de. Um itinerário de pesquisa sobre a cultura escolar. In: CUNHA, Marcus Vinicius da (org). Ideário e Imagens da Educação Escolar. Campinas: Autores Associados; Araraquara, SP: Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, 2000. p. 20.

3

da cidade; fotos de práticas de ginástica e fotos de práticas esportivas dentro e fora do

ambiente escolar.

Este artigo encontra-se dividido em dois tópicos, o primeiro intitulado ‘Educar para

Civilizar: Praticas Educativas e Cultura Escolar nos Grupos Escolares de Aracaju” contempla

os principais aspectos da infância e da cultura escolar conduzida à luz da influência médico-

higienista, no sentido de olhar a escola por dentro através da monumentalidade dos prédios

escolares, das festas, desfiles e aulas de ginásticas; O segundo tópico: “Abrindo o álbum da

cultura escolar” aborda a análise das séries iconográficas da cultura escolar, priorizando as

imagens compostas por crianças, durante as festas, desfiles e aulas de ginásticas, as análises

das imagens serão contextualizadas através de informações de autores que se debruçam sobre

a história da educação e da cultura escolar. Neste tópico ainda é contemplada a influência da

arquitetura escolar no processo de estruturação sócio-educacional.

Por último, sem a intenção de esgotar o assunto explanado é feito um breve apanhado

sobre o trabalho e as relações que refletem os interesses políticos nas instituições

educacionais, considerando estas enquanto local de formação da infância brasileira.

No emaranhado das relações sociais reúnem-se fotografias, registram-se momentos

que representam a história de vidas e das instituições, deixando marcado para sempre

lembranças, amizades, emoções, encontros e desencontros, que à luz das inferências históricas

tornam-se mais claras.

Desta forma o primeiro tópico vislumbra fazer uma pequena contextualização acerca

da expansão das instituições educativas no país e as respectivas influências médico-

pedagógicas, percebendo como os desfiles cívicos, as festividades, as aulas de ginástica e a

monumentalidade dos prédios escolares foram utilizados pelo governo republicano para

inculcar nas pessoas os princípios higiênicos e morais que determinaram, durante muito

tempo, o modelo de conformação educacional brasileiro.

1. EDUCAR PARA CIVILIZAR: PRÁTICAS EDUCATIVAS E CULTURA ESCOLAR NOS GRUPOS ESCOLARES Antes de adentrarmos no cerne da questão ao analisar os elementos da cultura escolar

é importante que se faça uma breve explanação acerca da conjuntura sócio-político-

educacional do Brasil ainda no século XVIII, juntamente com a influência da medicina nos

corpos pueris. Pois advêm deste século às preocupações desta área da ciência, voltadas para

os assuntos de ordem social, transcendendo apenas os cuidados clínicos com os corpos

4

doentes, dedicando-se também aos espaços privados – religioso ou familiar4, debruçando-se

principalmente sobre a criança “...Todavia raramente um médico se atrevia a escrever sobre a

educação das crianças a partir dos dois ou três primeiros anos de idade e sobre aspectos que

não coincidiam com os cuidados inerentes ao desenvolvimento físico dos mais pequenos...”5.

Somente no final do século XIX é que ocorre um estreitamento das relações médico-

pedagógicas, através do emergente e amplo campo de intervenção: o higienismo que

vislumbrava uma mudança de hábitos relativa ao trato dos corpos infantis e adultos, e dos

espaços sejam estes privados como casas ou públicos como escolas e demais instituições e

vinham sendo disseminadas em vários países. Os médicos higienistas eram os principais

disseminadores da eugenia, porém para dar conta de civilizar e regenerar toda a nação não

estavam sozinhos nesta empreitada, contavam com apoio dos juristas, engenheiros,

antropólogos, escritores e intelectuais da educação e viam nas crianças o principal objeto de

atuação, já que quanto antes fosse debelado a praga da degenerescência nos corpos, nas

mentes e nos costumes, maiores eram as chances de formar uma nação de raça pura e

civilizada.

A palavra eugenia do grego eugéneia “ciência que estuda as condições mais propícias

à reprodução e melhoramento genético da espécie humana”6. Teve um significado bastante

forte e amplo na atuação dos médicos, que vislumbravam dar conta de todos os problemas

socias através das propostas e intervenções eugênicas. Segundo Cynthia Greive Veiga e

Luciano Mendes de Faria7 tais propostas eugenistas contemplavam desde a eliminação física

dos indivíduos com má formação biopsicológica, até a idéia de esterilização e o

encorajamento da reprodução apenas entre os indivíduos considerados superiores.

Todas estas intervenções da área médica frente ao contexto educacional, que vinham

sendo gestadas no século XVIII vão ter um amplo alcance social entre o final do século XIX

e início do século XX, época de institucionalização da escola pública brasileira, logo o ensino

deixava de ser ministrado no ambiente doméstico onde durante anos as primeiras escolas

foram instaladas ocupando o espaço da sala na residência dos próprios professores. Passando

agora a ocupar o ambiente dos Grupos Escolares, edifícios monumentais implantados

4 GONDRA, José. Medicina, higiene e educação escolar. In: LOPES, Eliane Marta Teixeira, FILHO, Luciano Mendes de Faria e VEIGA, Cynthia Greive. 500 anos de educação no Brasil. São Paulo: Autêntica. 2003. p. 527. 5 FERREIRA, Antonio Gomes Alves. Modernidade, Higiene e Controle Médico da Infância e da Escola. In: ALMEIDA,Maria de Lourdes Pinto de. Escola e Modernidade: saberes, instituições e práticas. São Paulo: Alínea, 2004. p. 108. 6 HOLANDA, Aurélio Buarque de. Dicionário Aurélio século XXI. Cd-rom. 2002. 7 VEIGA, Cynthia Greive e FARIA FILHO, Luciano Mendes de. Infância no Sótão. Belo Horizonte: Autêntica. 1999.

5

primeiramente no Estado de São Paulo em 18908 e gradativamente espalhados para os demais

Estados do país, no intuito de transmitir a população os ideais republicanos de educação,

ordem e civilização, tão propalados pelo novo regime. De acordo com Marta Maria Chagas de

Carvalho

Nessa estratégia republicana, o Grupo Escolar é a instituição que condensa a modernidade pedagógica pretendida e o “método intuitivo” a peça central na institucionalização do sistema de educação pública modelar. De sua conjunção, resulta o modelo paulista que será exportado para outros estados da federação. Ensino seriado, classes homogêneas e reunidas em um mesmo prédio, sob uma única direção, métodos pedagógicos modernos (...) e monumentalidade dos edifícios em que a Instrução Pública se faz signo do Progresso9

Ainda no tocante a educação ofertada pelos grupos escolares Saviani reforça a idéia de

que “Foi somente com o advento da República, ainda que na égide dos estados federados, que

a escola pública, entendida em sentido próprio (...) se fez presente na história da educação

brasileira. Com efeito, é a partir daí que o poder público assume a tarefa de organizar e manter

integralmente escolas tendo como objetivo a difusão do ensino a toda a população...”10

No intuito de legitimar o almejado projeto sócio-educacional investiu-se muitas cifras

no casamento dos principais ramos sociais: a educação e a medicina. Esta enquanto área do

conhecimento já definida e aceita socialmente utiliza os conceitos e princípios básicos da

higiene, que se referia às boas condições de limpeza e asseio, não só corporal como também

dos ambientes principalmente os domésticos e institucionais, atrelados aos já discutidos

princípios da eugenia, influenciando desde a arquitetura escolar até o comportamento corporal

dos indivíduos durante as práticas educativas. Desta forma os médicos adentraram no amplo

espectro de questões vinculadas à escola, além de assumir cargos importantes nos “negócios

da educação” como a Diretoria de Instrução Pública nos grandes centros urbanos a exemplo

de São Paulo, Rio de Janeiro e também em Sergipe.

No que tange a arquitetura escolar era necessário à passagem do espaço escolar

doméstico para um lugar11 pré-definido com arquitetura arrojada, como podemos constatar

nas palavras de Agustín Escolano

8 SOUZA, Rosa Fátima de. Op. Cit. p. 6. 9 CARVALHO, Marta Maria Chagas de. Reformas da Instrução Pública. In: LOPES, Eliane Marta Teixeira, FILHO, Luciano Mendes de Faria e VEIGA, Cynthia Greive. Op. Cit.. p. 226. 10 LOMBARDI, José Claudinei. SAVIANI, Dermeval. NASCIMENTO, Maria Isabel Moura (orgs.). A Escola Pública no Brasil: História e Historiografia. Campinas, SP: Autores Associados. 2005. p. 10. 11 Segundo FRAGO, Antonio Vinão e ESCOLANO, Agustín. Currículo, espaço e subjetividade: a arquitetura como programa. Rio de Janeiro: DP&A, 1998. “... o ‘salto quantitativo’ que leva do espaço ao lugar é, pois, uma construção. O espaço se projeta ou se imagina; o lugar se constrói...” p. 61.

6

o espaço- escola também foi se regionalizando, emancipando-se primeiro da casa e de outros lugares nos quais se localizou, constituindo-se depois como habitação ad hoc especializada nas funções de instrução, inclusive com anexos complementares (reservados higiênicos, pátios, átrios, closets, bibliotecas e outras dependências), e diferenciando-se finalmente em salas de aula separadas por grau ou ciclos e sexos.12

Atrelada a arquitetura escolar, as intervenções médico-higienista ocupam-se também

“...do tempo e dos saberes escolares, da alimentação, do sono, do banho, das roupas, dos

recreios, da ginástica, das recepções, da inteligência, da moral, e inclusive das excreções

corporais...”13. As questões educacionais vêm imbuída de fatores que irão determinar os

comportamentos corporais e sociais, através das práticas educativas como aulas de ginástica

que visavam principalmente à correção postural e os exercícios militares através das

evoluções como evoluções que serviam para enquadrar o corpo na disciplina e ordem escolar.

Pretendia-se com isso formar um novo modelo de homem, condizentes com a

emergente necessidade do mercado capitalista, já que segundo Margarida Neves “Novas

engrenagens internacionais transformam a economia mundial, as grandes potencias

hegemônicas descobrem, nas áreas periféricas – inclusive no Brasil – , um mercado lucrativo

para aplicações financeiras (...) onde a mão-de-obra é barata, os direitos sociais estão longe de

serem conquistados e a matéria-prima é farta e disponível...”14. Portanto além de formar o

homem trabalhador, as práticas educativas também visavam cooperar com a modernização do

país e de suas cidades, ensinando bons habitus.

No tocante ao aspecto local, por volta das primeiras décadas do século XX, a cidade

de Aracaju começava a respirar os ares da “modernidade pedagógica”, já propalada por todo o

país, dando assim continuidade ao projeto de imponência arquitetônica com a construção dos

grupos escolares. Percebesse em Sergipe um aumento considerável das vagas e a edificação

de novos prédios para abrigar as instituições já existentes, a exemplo do Ateneu Sergipense,

tradicional estabelecimento de ensino criado ainda no Império (1870) e da Escola Normal

(1871), instituição educacional destinada à formação de professores, procurada

principalmente pelas moças que queriam continuar os estudos para além do primário – as

normalistas. Para os menos abastados foram criadas instituições voltadas para o ensino

profissional: Escola de Aprendizes e Artífices (1911), Liceu Profissional Coelho e Campos 12 Idem. p. 46. 13 GONDRA José. In: LOPES, Eliane Marta Teixeira, FILHO, Luciano Mendes de Faria e VEIGA, Cynthia Greive. Op. Cit. p. 527. 14 NEVES, Margarida de Souza. Os Cenários da República. O Brasil na virada do século XIX para o século XX. In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (orgs.). O Brasil Republicano: O tempo do liberalismo excludente – da proclamação da república à revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2003.p. 20.

7

(1923), Instituto de Química (1923), Escola do Comercio Conselheiro Orlando (1926)15. Com

o objetivo de propalar o ensino profissionalizante, bem como atender aos menores que

apresentavam problemas de ajustamento social e emocional foi criada em São Cristóvão a

escola agrícola denominada Patronato São Mauricio (1924) e também a Cidade de Menores

Getúlio Vargas (1924). Já que as escolas públicas cobravam altas taxas de matrícula e exigiam

fardamento completo. Despesas estas que muitas vezes fugiam ao orçamento da grande

maioria da população.

A expansão do ensino em Aracaju também contou com a iniciativa privada, visando

atender a demanda das vagas, foram criados o Colégio Nossa Senhora de Lourdes (1903),

Grêmio Escolar (1909), Colégio Salesiano (1911) , Colégio Tobias Barreto (1913), dentre

outros. No interior foram fundados ainda colégios confessionais para meninas: Colégio Nossa

Senhora das Graças (Própria - 1915) e Colégio Imaculada Conceição (Capela - 1929).

É importante salientar que existe uma diferenciação terminológica no que tange as

instituições de ensino do inicio de século XX, sendo que a denominação Grupos Escolares era

destinada às instituições mantidas pelo serviço público e funcionavam em prédios suntuosos

que atendiam aos parâmetros de higiene e salubridade, ao contrario das Escolas Isoladas,

também mantidas pelo serviço público, que geralmente funcionavam na própria casa dos

professores e quase sempre se encontravam destituídas dos aparatos essenciais de uma escola,

a exemplo dos bancos e cadeiras, como mostra o trecho do relatório apresentado ao Presidente

do Estado em 30 de julho de 1915 pelo Diretor Geral da Instrução Publica, Helvécio de

Andrade

“...Salas acanhadas, escuras impróprias higienicamente, atravancadas de bancos grosseiros, enormes, promíscuos, construídos sem medida, em geral muito altos para crianças de baixa idade, cujos pés suspensos do solo chegam a inchar por compressão circulatória dos membros inferiores; crianças pálidas, tristes, curvadas sobre os joelhos onde depõem o livro, desgraciosas, sem atitude, candidatas à miopia, ás curvaturas da espinha, às moléstias da nutrição por deficiência de respiração e de exercícios; tal o aspecto das nossas escolas no interior e na capital, em sua grande maioria...”16

Já a instituição de ensino denominada Colégio encontrava-se sobre a tutela da iniciativa

privada.

15 DANTAS, Ibarê. História de Sergipe: República (1889 - 2000). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro. 2004. p. 58. 16 Relatório apresentado ao Presidente do Estado em 30 de julho de 1915 pelo Diretor Geral da Instrução Pública Helvécio de Andrade. p. 6. In: OLIVEIRA. Dilma Maria Andrade de. Legislação e Educação: O Ideário Reformista do Ensino Primário em Sergipe na Primeira República – 1889/1930. 2004. 245 f. Tese (Doutorado) Universidade Federal de São Carlos – São Carlos/SP. p. 131.

8

Especificamente sobre o atendimento das crianças pequenas em instituições públicas,

Aracaju foi palco de um cenário estritamente carente durante as duas primeiras décadas do

século XX, contando apenas com creches e casas maternais que segundo Rita de Cássia Dias

Leal “... ofereciam um atendimento voltado à assistência social, cuidando da alimentação,

saúde e higiene da criança, promovendo ensinamento religioso e atenção às necessidades da

família...”17.

Somente em 1932 foi criada a “Casa da Criança de Sergipe”, composta por um Jardim

de Infância e uma Inspetoria de Higiene Infantil, transformando-se em Jardim de Infância

Augusto Maynard apenas em 196318.

Com a efetivação dos grupos escolares e jardins de infância em todo o país houve a

necessidade de levar para além dos muros escolares a instituição de ensino através dos

desfiles cívicos bem como das festividades tão presentes no calendário escolar, com intuito de

constituir em toda nação brasileira uma identidade republicana, tais momentos festivos tinham

o poder de transmitir coletivamente o mesmo sentimento de civilidade e patriotismo através

da solenidade do evento, pomposidade dos trajes e da boa aparência dos corpos,

principalmente os infantis.

As comemorações festivas, os desfiles cívicos, as aulas de ginástica, a arquitetura dos

prédios escolares eram elementos da cultura escolar utilizados para disseminar nas crianças os

ideais republicanos. Os interesses políticos aliados a estas práticas escolares serão melhores

visualizados no próximo tópico através da análise das imagens que compõem o cenário da

cultura escolar nas primeiras décadas do século XX, tais análises priorizarão a infância

Sergipana.

2. ABRINDO O ÀLBUM DA CULTURA ESCOLAR

Festividades, desfiles cívicos e aulas de ginásticas, práticas educativas que a princípio

refletem um ar de ludicidade e descompromisso pedagógico, do ensinar e aprender através de

livros e lições são tidas nas primeiras décadas do século XX como o principal meio de para

disseminar os elementos que compunham o projeto político do país: civilidade, ordem e

progresso. As crianças eram vistas como disseminadoras dos princípios de higiene e

17 LEAL, Rita de Cássia Dias. O Primeiro Jardim de Infância de Sergipe: contribuição ao estudo da educação infantil (1932 - 1942). São Cristóvão. NPGED/UFS. 2004. (dissertação de mestrado). p. 21. 18 Idem. p. 14.

9

civilidade para os familiares, e conseqüentemente para a população, abrangendo assim o ideal

patriótico para a formação da nação brasileira.

Ao abordarmos as práticas educativas escolares, partimos da categoria cultura escolar

que segundo Dominique Julia, significa

Um conjunto de normas que definem os saberes a ensinar e as condutas a inculcar e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses saberes e a incorporação desses comportamentos, saberes e práticas estão ordenadas de acordo com as finalidades que podem variar segundo as épocas, as finalidades religiosas, sociopolíticas ou simplesmente de socialização. Normas e práticas não podem ser analisadas sem levar em conta o corpo profissional, os agentes que são obrigados a obedecer a essas normas e, portanto, a pôr em obra os dispositivos pedagógicos encarregados de facilitar a sua aplicação, a saber, os professores19

Adentrando este emaranhado da cultura escolar, as práticas educativas que se

inscrevem nos corpos desde a arquitetura dos edifícios escolares até as práticas corporais

através de exercícios físicos ou a formação moral com a participação em desfiles cívicos e

festividades, serão analisadas a partir das fontes iconográficas levantadas. Assim partiremos

do entendimento de Milton José de Almeida, para o qual “a forma imagem, com suas linhas,

superfícies, perspectivas, manchas, é também a forma de pensar o que a imagem mostra. Os

significados das imagens são também os significados de como elas se mostram. E aí as

imagens tornam-se signos. Então, também se lê uma imagem. Uma imagem é um texto”20.

Cabe então interagir com as fotografias de forma a fazê-las falar através dos seus

cantos, arestas e sombras, traremos a tona o texto que não foi escrito, mas sim impresso em

papel fotográfico.

2.1 ARQUITETURA ESCOLAR Juntamente com a proclamação da República o cenário sócio-político do Brasil sofre

alterações significativas, trata-se agora de um país “independente” que vislumbra reconstruir

uma identidade nacional própria. Já que de acordo com Mônica Pimenta ‘...a nacionalidade

passa a ser compreendida como matéria-prima, uma espécie de pedra bruta a ser trabalhada

pelo saber cientifico das elites intelectuais...”21. Com o intuito de massificar o ideário

nacionalista os governantes que se sucederam na presidência do Brasil especialmente durante

19 Dominique Julia apud SOUZA, Rosa Fátima de. Op. Cit. p. 04. 20 Milton José de Almeida apud SOARES, Carmem Lúcia. Imagens da Educação no Corpo. Campinas. SP: Autores Associados. 2002. (in prefácio). 21 VELOSSO, Mônica Pimenta. O Modernismo e a questão nacional. In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (orgs.). Op Cit. p. 356.

10

a primeira metade do século XX apostaram na estruturação da instituição escolar, entendendo

este lócus educativo como panacéia para as agruras sociais. Portanto cabia a escola de alguma

maneira por ordem no que estava “desestruturado”, sendo a solução mais cabível aplicar

imediatamente os, já vistos, princípios da eugenia e higiene atrelados à pedagogia da Escola

Nova, proposta educacional pautada no método cientifico deweyano, divulgada no Brasil por

Anísio Teixeira quando da sua atuação como diretor geral da instrução pública na cidade da

Bahia e posteriormente no Rio de Janeiro.

A pedagogia da Escola Nova ao ser incorporada por Anísio e implementada nos

grupos escolares trouxe uma contribuição bastante rica a educação brasileira, já que, em parte,

o renomado educador soube dar uma outra roupagem aos ensinamentos que tivera em terras

Norte-americanas, resignificando-os e adequando-os a realidade brasileira. No tocante a

educação da infância percebesse na pedagogia da Escola Nova “valorização da experiência

infantil por meio da investigação e da experimentação (...) defende também uma “...renovação

espiritual” na escola primária”22.

Paralelo a estas preocupações de ordem metodológica emergia com bastante enfoque

social o aspecto estrutural das instituições de ensino. Pautado no discurso médico higienista

de saneamento urbano-social e corporal. Tais preocupações refletiam o projeto de

modernidade pelo qual passava a sociedade brasileira, no intuito de copiar os paises europeus,

as cidades estavam sendo urbanizadas, praças edificadas, prédios sendo construídos, é o que

nos mostra Jaime Benchimol ao abordar a reforma urbana no Rio de Janeiro

Independentemente das razões invocadas para justificar cada um desses atos (o autor refere-se a alguns decretos implantados na capital que proibia por exemplo urinar e cuspir nas ruas; as crianças foram proibidas de soltar pipas para não embaraçar cabos elétrico, dentro outros), eles traduzem um discurso, uma mentalidade, um projeto moralizador e autoritário ao extremo: ao Estado cabia transformar na marra, a multidão indisciplinada de ‘pés descalços’ em cidadãos talhados segundo os estereótipos que serviam a burguesia européia para o exercício de sua dominação23

Para tanto o Governo Republicano começa a construir novos edifícios escolares, de

arquitetura monumental, transmitindo para a população a imponência e importância do seu

poder. Cabendo apenas a esta população, na sua grande maioria pobre e desfavorecida

22 NUNES, Clarice. Anísio Teixeira: a poesia da ação. Bragança Paulista: EDUSF, 2000. p. 168-169. 23 BENCHIMOL, Jaime. Rfeorma urbana e Revolta da Vacina na cidade do Rio de Janeiro. In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (orgs.). Op. Cit. p. 264.

11

aplaudir e disciplinar-se contendo modos e costumes para que estes não viessem a trair a

elegância de tal instituição. Segundo Agustín Escolano

A arquitetura escolar é também por si mesma um programa, uma espécie de discurso que institui na sua materialidade um sistema de valores, como os de ordem, disciplina e vigilância, marcos para a aprendizagem sensorial e moral e toda uma semiologia que cobre diferentes símbolos estéticos, culturais e também ideológicos. Ao mesmo tempo, o espaço educativo refletiu obviamente as inovações pedagógicas, tanto em suas concepções gerais como nos aspectos mais técnicos...24

É o que mostra a imagem da fachada da Escola Normal construída em Aracaju,

inaugurada em 1911.

Figura 1 – Fachada da Escola Normal Rui Barbosa. Aracaju. s/d. Fonte: Acervo do Memorial de Sergipe. Autoria não identificada.

Desta forma fica evidente que o “novo” governo republicano pretendia contar a sua

História social através da História da Educação brasileira, atrelando educação à civilidade

vislumbrava uma nação forte, porém obediente. Consoante Rita de Cássia Dias Leal

24 FRAGO, Antonio Viñao e ESCOLANO, Agustín. Op. Cit. p. 26.

12

Às reformas educacionais, com vistas ás noções de civilidade, sociabilidade, justiça, asseio, higiene, amor à família e à pátria estavam presentes no projeto civilizador do país. (...) um país com comportamentos uniformes, com a infância e a juventude com comportamentos padrões físicos e morais, favorecia a preparação de um povo sadio e com boas condutas de respeito, obediência.25

A construção monumental deveria representar a suntuosidade da República, era

preciso falar através da arquitetura, logo a monumentalidade dos grupos escolares transmitiam

os princípios de grandiosidade, civilidade e higiene. Tal instituição foi idealizada desde a sua

arquitetura até suas práticas pedagógicas com objetivo de educar e civilizar a população

brasileira.

2.2 AULAS DE GINÁSTICA A influência médico-higienista se fez presente tanto na Diretoria da Instrução Pública

atrelada às inspeções técnico-escolares, onde eram averiguados dentre outras coisas os

programas e horários de ensino, bem como na Inspeção Médico-Sanitária Escolar, criada

através do Decreto nº 867 do Regulamento da Instrução Pública com função de estabelecer a

inspeção médica dos alunos e do pessoal administrativo; vigilância higiênica das escolas e do seu material, especialmente sob ponto de vista ortopédico; a profilaxia das moléstias transmissíveis e evitáveis; ministrar preceitos elementares de higiene aos alunos, guiando os professores nesses misteres; superintender e ensinar educação física nas escolas; estudar as condições locais, topográficas e higiênicas das escolas, cuidando da sua localização; pedir ao diretor geral o fechamento das escolas por medida de higiene e decretar suspenso o funcionamento das mesmas em casos urgentes, dando comunicação àquela autoridade; prestar ao Governo e às demais autoridades superiores do ensino informes que fossem solicitados, a respeito de suas vistas ou inspeções (art. 47)26

Era comum a Inspetoria Escolar ser comandada por um médico a exemplo de

Helvécio de Andrade que durante a década de 1930 assumiu este órgão em Sergipe. A

presença de médicos em vez de professores para tratar diretamente de assuntos educacionais

demonstra a relação existente entre saúde e educação, no intuito de prevenir as moléstias

dentro do ambiente escolar. Algumas instituições de ensino exigiam inclusive atestados que

comprovassem o perfeito estado de saúde para que o aluno tivesse ingresso na mesma, a

exemplo do Ginásio Tobias Barreto: “(...) b) prova de sanidade física e mental, constituída por

25 LEAL, Rita de Cássia Dias. Op. Cit. p. 80. 26 OLIVEIRA, Dilma Maria Andrade de. Op. Cit. p. 162.

13

atestados médicos firmados por autoridades sanitárias competentes com firma reconhecida; c)

certificado de vacinação anti-variólica recente com firma reconhecida”27.

Visando atender tal preceito de saúde através da educação, coube então a Ginástica

adestrar e moldar os corpos para que se enquadrassem da melhor forma possível nos espaços e

tempos escolares. Como afirma Carmem Lúcia Soares

A instituição escolar, desde sua arquitetura, sua organização espacial, seus tempos, conforme tão bem estabelece Comenius com suas metáforas, como por exemplo a da tipografia, é expressão material da idéia de educação do corpo e da constituição de um projeto político da ordem. No espaço escolar, gestos, sentidos também são incorporados. Tornam-se parte dos corpos. ‘Ali se aprende a olhar e a se olhar, se aprende a ouvir, a falar e a calar; aprende-se a preferir’. Ali a Educação Física28, como conteúdo escolar, conquista lugar privilegiado para ensinar modos de olhar e de preferir29.

As práticas corporais dentro do ambiente escolar foram marcadas pela ginástica sueca,

exercícios militares com suas formações e evoluções, jogos e atividades recreativas, estas

últimas na sua maioria estavam destinadas à primeira infância, no entanto todas estas práticas

convergiam para obtenção de um só corpo: limpo, branco, saudável que segundo os princípios

higiênicos da medicina e as influências disciplinadoras do exército deveria se exercitar.

A importância da prática dos exercícios físicos já tinha sido contemplada por Rui

Barbosa desde o século XIX nos seus escritos sobre “Lições de Coisas”

“A primeira necessidade experimentada, na infância do indivíduo e na humanidade, é a da mais plena satisfação da vida física. A par das funções nutritivas, o apetite do movimento, a mais invencível tendência à atividade corpórea domina o homem neste período da vida. Daí a importância fundamental da ginástica, da música, do canto, no programa escolar” (X,II,62) Quanto ao sexo masculino, porém, a vossa comissão teve que ir mais longe, acrescentando à ginástica os exercícios militares (X,II,91)30

27 Edital n. 3 do Ginásio “Tobias Barreto”. Diário de Sergipe. Aracaju, 19 nov. 1951, p. 2. apud GRAÇA, Tereza Cristina Cerqueira da. Pés-de-anjo e letreiros de néon: ginasianos na Aracaju dos anos dourados. Sergipe: UFS. 1998. p. 66. 28 Segundo VAGO, Tarcísio Mauro. Cultura Escolar, Cultivo de Corpos: educação physica e gymnastica como práticas constitutivas dos corpos de crianças no ensino público primário de Belo Horizonte: EDUSF. 2002. “ É importante registrar uma transição que vai ocorrendo ao longo da década de 20 em torno do termo que designa essa disciplina, empregando-se cada vez mais o termo ‘educação física’. Não parece tratar-se de uma simples e mecânica mudança de nomes, mas de uma paulatina especialização de tarefas: se antes esperava-se que um conjunto de práticas presentes em várias cadeiras resultasse na ‘educação physica’ das crianças, o movimento parece ter sido o de atribuir a uma disciplina especifica do programa a responsabilidade por realizá-la, a ponto de assumir tal designação que vai perdendo seu sentido alargado, como antes, e assumindo um sentido restrito...” p. 351 29 SOARES, Carmem Lucia. Corpo e História. São Paulo: Autores Associados. 2004. p. 113. (a). 30 LOUREÇO FILHO, Manoel Bergstrom. A pedagogia de Rui Barbosa. Brasília: INEP/MEC. 2001. p. 140.

14

Logo a pratica dos exercícios físicos presentes nas instituições de ensino brasileiras

desde o início do século XX, sendo inserido nos currículos das Escolas sergipanas em 191731

principalmente através da ginástica sueca que consoante Tarcisio Mauro Vago contribuiria

para “...educar o corpo das crianças na escola, com a racionalidade desejada, por suas

múltiplas propriedades, pedagógica, higiênica, educativa, social, corretiva, ortopédica,

enérgica, viril, social, patriótica, disciplinadora e formadora do caráter”32

Cabia aos exercícios físicos através da ginástica sueca corrigir e moldar não só o

corpo, mas também o caráter, desejava-se agora cidadãos com personalidade

indubitavelmente patriótica, dispostos a defender, a qualquer custo, o seu país e acima de tudo

o seu governo. O mesmo autor, nós lembra que os “Exercicios Physicos” através da

“Gymnastica” integraria os currículos dos grupos escolares do Brasil, tornando-se obrigatória

reservando-se, dentre outras coisas, tempo na grade de horário, construção de locais

apropriados para sua realização, separação por sexo e designação de uma pessoa responsável

pelo seu ensinamento, que na maioria das vezes era um general do quartel ou a própria

professora responsável pela sala de aula. É importante colocarmos aqui que os exercícios

físicos ministrados na grande parte dos referidos grupos escolares eram compostos por

exercícios calistênicos, que de acordo com Marinho

O Grande e Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa, de Laudelino Freire (s. d.), ... registra... o significado de Calistenia: “coleção de preceitos ginásticos para uso das crianças”. ... a calistenia tem suas origens na Ginástica Sueca e (compõem) ... os exercícios organizados em grupos, como, por exemplo: marchas; exercícios de braços e pernas; exercícios para a região póstero-superior do corpo; exercícios para a região póstero-inferior do corpo; exercícios laterais do tronco; exercícios de equilíbrio; exercícios abdominais; exercícios gerais de ombro e costas; pequenos saltos; corridas33

Desta forma fica claro que corpos infantis sejam eles femininos ou masculinos

deveriam ser moldados através das atividades físicas corretiva, voltadas para uma boa postura,

bom funcionamento dos aparelhos respiratório e circulatório. Segundo Tarcísio Mauro Vago

“os exercícios de gymnastica sueca comprehendem movimentos simples ou compostos de

cabeça, tronco e membros, que tornam o tronco flexível, corrigem os defeitos de posição,

31 GRUNENNVALDT, Ana Carrilho Romero. A educação física, as normalistas e as professoras: a educação física na Escola Normal de Sergipe. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho, 1999. (Dissertação de mestrado). p. 37. 32 VAGO, Tarcísio Mauro. Op. Cit. p. 247. 33 MARINHO, Inezil Penna apud VAGO, Tarcísio Mauro. Op. Cit. p. 263-264.

15

augmentam a força de resistência, educam o systema nervos, fortificam os orgãos da

respiração e circulação”34. Como podemos perceber na imagem abaixo

Figura 2 – Aula de Ginástica, Grupo escolar General Siqueira. Aracaju. 1917. Fonte: Acervo do Memorial de Sergipe. Autoria não Identificada.

Segundo Carmem Lúcia Soares “os registros escritos e iconográficos sobre ginástica e

sua inserção na escola traduzem uma compreensão do corpo como objeto de intervenção da

ciência, como máquina a ser manipulada...”35 esta posição pode ser verificada nas imagens

fotográficas dos alunos do Grupo Escolar General Siqueira e da Escola de Menores Getúlio

Vargas em seção de Ginástica sueca, onde é importante atentarmos para a divisão de gênero,

logo os sexos não deveriam se misturar e tal separação simbolizava um dispositivo cuja

intenção era a ‘construção escolar das diferenças’36. Mesmo separadas por gênero as

fotografias ainda nos mostram distinções com relação ao posicionamento dos alunos, nas

34 VAGO, Tarciso Mauro. Op. Cit. p. 353. 35 SOARES, Carmem Lucia. Op. Cit. p. 113. (a). 36 LOURO, Guacira Lopes apud VAGO, Tarcísio Mauro.Op. Cit. p 103.

16

primeiras fileiras encontram-se sempre alunos ou alunas brancos e de corpos esguios,

enquanto para as crianças negras e as mais robustas ficam reservadas as últimas fileiras.

Um outro questionamento levantado aqui é a similaridade destas imagens quando são

comparadas a outras seções de ginástica ministradas em outros Estados do Brasil37, tais fotos

vem carregadas de um significado simbólico, onde o corpo é registrado quase sempre na

mesma posição analítica – corpo ereto e braços na posição de envergadura. Atentemos ainda

para o local onde as práticas ginásticas estavam sendo ministradas, os alunos estavam

dispostos em uma área aberta sem cobertura ou calçamento, provavelmente nos fundos da

escola, o que vai de encontro às normas de salubridade tão divulgas pelos médicos higienistas.

Figura 3 – Aula de Ginástica Grupo Escolar General Siqueira. Aracaju. 1917. Fonte: Acervo do Memorial de Sergipe. Autoria não Identificada.

37 VAGO, Tarcísio Mauro. Op. Cit. Tal livro traz pelo menos 2 fotografias que representam sessões de ginástica sueca dos grupos escolares de Minas Gerais semelhantes a estas encontradas nos grupos escolares em Aracaju. p. 265.

17

Outra informação que as referidas imagens propõem diz respeito aos trajes,

principalmente quando comparamos as duas primeiras fotografias que se referem ao grupo

escolar General Siqueira com a última da Escola da Cidade de Menores “Getúlio Vargas”.

Esta última imagem expressa nitidamente, que por se tratar de menores desvalidos, ou com

menor condição financeira, o fardamento não expressava a pomposidade dos uniformes

utilizados na grande maioria dos grupos escolares do Brasil e conseqüentemente de Sergipe

que procuravam aludir o respeito e a servidão a pátria. Principalmente no tocante as crianças

do sexo masculino que mesmo em sessões de exercícios físicos, onde se espera um uniforme

mais leve, apresenta-se em trajes mirim do exército ou marinha, a observação dos uniformes

nos leva a inferir sobre a influência dos militares dentro do ambiente escolar.

Figura 4 – Aula de Ginástica. Cidade de Menores “Getúlio Vargas”. Aracaju. s/d. Fonte: Acervo do Memorial de Sergipe. Autoria: Tosca Bahia.

Percebesse desta forma uma ordem interna estabelecida através da disciplina escolar e

refletida nos corpos das crianças, tal ordem se tornava cada vez mais passível de ser

disseminada a toda a população, já que de acordo com Cynthia Greive Veiga e Maria Cristina

Soares Goveia “...o tempo republicano brasileiro, ainda por ser consolidado, precisaria

constituir uma mentalidade cívica, pois a população, para viver a república e legitimá-la,

18

deveria compreendê-la...”38 Perceberemos a partir do próximo sub-tópico como as

festividades e desfiles cívicos foram utilizados dentro do ambiente escolar para incutir na

população o amor e respeito à pátria, sendo as crianças os principais agentes disseminadores

de tais princípios.

2.3 FESTIVIDADES E DESFILES CÍVICOS

O Estado republicano valia-se das práticas educativas para disseminar nas pessoas, ou

seja, alunos e seus familiares os princípios da higiene e eugenia bem como os ideários cívicos

tão disseminados pela República, aulas de ginástica, aulas de religião, aulas de canto

orfeônico, festas cívicas tornaram-se medidas profiláticas para combater as eventuais idéias

comunistas tão presentes naquele período.

Logo houve a necessidade de levar para além dos muros escolares a instituição de

ensino através dos desfiles cívicos bem como das festividades presentes no calendário escolar,

com intuito de constituir em toda nação brasileira uma identidade republicana, já que tais

momentos festivos tinham o poder de transmitir coletivamente o mesmo sentimento de

civilidade e patriotismo através da solenidade do evento, pomposidade dos trajes e da boa

aparência dos corpos. Consoante Chamon

no momento em que a festa se realiza, os homens criam sentidos e significados para a vida em sociedade, eles imaginam simbolicamente o seu mundo (...) Por meio da elaboração de valores vitais, uma sociedade se pensa e se faz como essa sociedade e não outra, ou seja, é por meio deles que uma sociedade atribui significado ao mundo e aos seus atos e cria para si uma identidade39

As festividades escolares, além de todas as características citadas acima também

contavam com a presença de pessoas ilustres da sociedade, a exemplo de políticos e dirigentes

de órgão públicos. É o que se observa na fotografia abaixo, do Jardim de Infância, onde além

da boa aparência das crianças e professoras com trajes pomposos percebesse ao fundo,

formando algo similar a uma banca, pessoas que não deviam integrar o corpo docente ou

administrativo da escola, estando ali presente na condição de convidados para homenagear a

comemoração festiva do ambiente escolar.

38 VEIGA, Cynthia Greive. GOUVEIA, Maria Cristina Soares. Comemorar a infância, celebrar qual criança? Festejos comemorativos nas primeiras décadas republicanas. Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 26, n. 1, jan/jun. 2000. p. 138. 39 CHAMON, Carla Simone apud MELO, Cristiana Ferreira de. Festa na Escola: As Formaturas da Escola Normal como Espaço da Memória e da História da Educação (1912-1945) São-Cristóvão/SE, 2004(monografia) p. 17

19

Figura 5 – Alunos em Festividades. Jardim de Infância Augusto Maynard. Aracaju. s/d. Fonte: Acervo do Instituto Tobias Barreto de Educação e Cultura. Autoria não Identificada.

As comemorações escolares não eram poucas em Aracaju segundo Tereza Cristina

Cerqueira da Graça40 as festividades como: Festa da Paz, Sete de Setembro, Quinze de

Novembro, Páscoa, Festas de Férias, Formatura, Primeira Comunhão, Natal, São João,

Carnaval, Semana Santa, integravam o calendário escolar e provavelmente eram

comemoradas através de algum tipo de solenidade.

Além de datas específicas presentes no calendário da primeira infância como:

comemorações ao início da primavera, dia da árvore, aniversário da Revolução em Sergipe,

dia do soldado. Esta última encontra-se presente no calendário das comemorações escolares

atualmente e representa como a influência militarista com os seus vultos heróicos, que na

maioria das vezes eram ex-soldados do exército brasileiro, a exemplo de Duque de Caxias foi

incorporado pela escola sendo festejada até hoje. Estas e outras festividades integraram e

continuam integrando o calendário escolar da nossa cidade e geralmente eram noticiadas

40 GRAÇA, Tereza Cristina Cerqueira da. Op. Cit. p. 178.

20

pelos meios de comunicação de massa com objetivo de chamar ao dever cívico toda a

população. De acordo com Cristiana Ferreira

As escolas sergipanas comemoravam ao longo do ano letivo inúmeras festividades, enfatizando através delas os principais ideais e virtudes que norteavam o Brasil e, conseqüentemente, a sociedade sergipana. As festas era amplamente divulgadas pela imprensa local, que tornava público a programação das mesmas, descrevendo detalhadamente todas as atividades desenvolvidas ao logo de sua duração. Muitas eram as palavras elogiosas ao ato festivo, aos professores e alunos41.

Assim como as festividades cívicas os desfiles infantis já aconteciam desde a mais

terna idade como nós mostra as imagens abaixo, das crianças do Jardim de Infância Augusto

Maynard, pois o desejo de civilidade deveria ser impresso nos corpos e nas mentes o quanto

antes, ainda de acordo com Cynthia Greive e Maria Cristina

Produzia-se para isso todo um ritual que ia da preparação à apresentação, tendo a festa neste contexto pedagógico, um significado de educação integral e permanente. Estes momentos, estiveram contidos numa perspectiva energética de mobilização em torno da necessidade do convencimento de que as pessoas, no caso, as crianças, eram atores do novo espetáculo - a república.42

41 MELO, Cristiana Ferreira de. Op. Cit. p. 19. 42 VEIGA, Cynthia Greive. GOUVEA, Maria Cristina Soares. Op. Cit. p. 142.

21

Figura 6 – Desfile Cívico. Jardim de Infância Augusto Maynard. Aracaju. s/d.Fonte: Acervo do Instituto Tobias Barreto de Educação e Cultura. Autoria não Identificada

Percebemos desse modo que a obrigação cívica era também destinada às crianças e

vinha acompanhado dos ideários eugênicos. Assim como nas demais fotos, já apresentadas,

também era visível à presença de crianças brancas e belas à frente do pelotão. De acordo com

Cynthia Greive e Maria Cristina

A infância é também chamada a ocupar o seu papel numa sociedade eugênica. Ela deve se espelhar, em seu corpo belo e robusto, uma raça saudável, aprimorada pela prática constante de exercícios físicos. O corpo infantil deixa de pertencer a criança e passa a ser patrimônio da espécie43

Figura 7 – Alunos do Jardim de Infância Augusto Maynard. Aracaju. s/d. Fonte: Acervo do Instituto Tobias Barreto de Educação e Cultura. Autoria não Identificada.

Chamando atenção especialmente aos desfiles o dever cívico era considerado tarefa

importante para pais e alunos, não eram medidos esforços para comprar o uniforme, pois de

43 Idem. p. 152.

22

acordo com Graça44 “os preparativos começavam dois ou três meses antes com os ensaios

dentro e fora da escola. Era preciso esmerar-se para não errar o passo, não desalinhar o

pelotão, mostrar garbo, elegância e ‘amor à pátria’!”. A referida autora relata ainda que aos

alunos sem condições financeiras de adquirir o uniforme eram dadas colaborações das

próprias escolas ou grêmios escolares, já que a suspensão as aulas era o castigo destinado aos

alunos que faltavam com esse compromisso cívico.

Através dos “flashes” localizados que retratam aspectos da cultura escolar é possível

perceber desde a monumentalidade dos edifícios dos grupos escolares até cultura escolar onde

se inserem as festividades e desfiles cívicos, as aulas de ginástica e as práticas esportivas.

As fontes fotográficas nos permitem revelações ímpares, pois registram o todo, algo

que não pode ser descrito ou lembrado, já que as lembranças memoriais, estão passíveis de

esquecimentos que as imagens jamais se negarão a registrar, principalmente quando se trata

de corpos intencionalmente redefinidos para atender os anseios de uma sociedade que se

desejava estruturar nos moldes cívicos, higiênicos e eugênicos. Pois se pretendia formar um

Estado forte que respondesse aos anseios internacionais, principalmente os Norte-americanos

e os europeus, não podemos esquecer o fato de que tais paises vislumbravam no povo

brasileiro mão-de-obra barata e disciplinada a fim de engrossar as cifras do capital

estrangeiro. A análise de algumas práticas educativas: aulas de ginástica, desfiles cívicos e

festividades, além da arquitetura escolar através das fontes iconográficas não teve a pretensão

de resumir a cultura escolar em tais momentos. Pois como foi mostrado neste trabalho a

categoria cultura escolar é formada por um emaranhado de relações, saberes e práticas

dispostas de acordo com as finalidades ou de acordo com as épocas.

Ao elencar tais grupos de praticas educativas vislumbrou-se abordar às finalidades

sócio-políticas e seus interesses na educação brasileira, inscritos em uma determinada época:

primeiras décadas do século XX.

Tais práticas educativas foram utilizadas pelo governo republicano para disseminar

nas pessoas o respeito e o amor à pátria visando um consenso social e político além de manter

uma estabilidade governamental. Utilizando-se da educação e conseqüentemente da

instituição escolar, desde a sua materialidade, com a construção de prédios monumentais,

lançou mão dos educandos, principalmente das crianças para disseminar os preceitos de

higiene, civilidade e patriotismo, que na maioria das vezes eram inscritos nos corpos e mentes

pueris através das práticas de ginástica, que a despeito do que afirmam pesquisadores do

44 GRAÇA, Tereza Cristina Cerqueira da. Op. Cit. p. 186.

23

campo da Educação Física como Mauro Betti e Lino Castelani Filho o método utilizado nas

aulas não era o francês, mas sim o sueco, que segundo Tarcísio Mauro Vago visava à correção

postural, o aumento da força e o bom funcionamento dos órgãos da respiração e circulação.

Aos meninos ainda era ministrada a instrução militar também chamada de evoluções

militares, onde se ensinava as marchas militares. Qual o objetivo de ensinar especificamente

aos alunos do sexo masculino exercícios físicos militares? Senão ensinar a preferir desde cedo

uma carreira profissional que aludisse o amor, o respeito e a defesa a pátria. Tal

questionamento nos remete a também inquirir qual o objetivo de se comemorar o dia do

soldado principalmente na primeira infância? E porque não é comemorado também o dia do

médico, do engenheiro, do advogado e até mesmo em algumas instituições de ensino o dia do

professor? Tal reflexão nos leva a crer que as influências advindas da instituição militar se

faziam presente desde cedo moldando corpos e gostos.

As festividades e desfiles cívicos foram o meio encontrado para disseminar os

ensinamentos que ocorriam dentro da instituição escolar para toda a população. Era necessário

aceitar e incorporar a República, sem questioná-la e para tanto se utilizou de comemorações e

datas festivas para inscrever nos corpos o amor a pátria.

Tendo as crianças como atores principais do cenário de regeneração social e sob a

influência médica com os princípios da higiene e da eugenia a escolarização se

institucionalizou passando agora a integrar monumentais edifícios escolares, denominados de

grupos escolares, deixando a insalubridade do ambiente doméstico, sem espaço, sem

luminosidade, sem mobília adequada. A escola agora era um espaço definido de dependências

higiênicas e previamente pensado, pois era necessário educar os corpos não só com exercícios

ginásticos e comemorações, mas também levando em conta o espaço e o tempo.

Somadas a arquitetura e aos princípios médicos as influências pedagógicas, através das

práticas educativas foram muitas, principalmente aquelas que se inscreveram diretamente nos

corpos infantis como práticas de exercícios físicos e comemorações festivas e cívicas.

Este breve trabalho trouxe um pouco dos espaços e tempos, das festividades, das aulas

de ginástica que foram registradas em papel fotográfico, traduzindo interesses político e

revelando práticas educativas que moldaram corpos e gostos. Tenho clareza das limitações

quanto às fontes utilizadas e a superficialidade de algumas questões abordadas, bem como a

ausência de algumas abordagens. Porém acredito ter contribuído para a compreensão das

praticas educativas que permeiam a cultura escolar nos grupos escolares de Aracaju.

24

BIBLIOGRAFIA

BENCHIMOL, Jaime. Reforma urbana e Revolta da Vacina na cidade do Rio de Janeiro. In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (orgs.) O Brasil Republicano: O tempo do liberalismo excludente – da proclamação da república à revolução de 1930. rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2003. CARVALHO, Marta Maria Chagas de. Reformas da Instrução Pública. In: LOPES, Eliane Marta Teixeira, FARIA FILHO, Luciano Mendes de e VEIGA, Cynthia Greive. 500 anos de educação no Brasil. São Paulo: Autêntica. 2003. p. 225-251. DANTAS, Ibarê. História de Sergipe: República (1889 – 2000). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro. 2004. FERREIRA, Antonio Gomes Alves. Modernidade, Higiene e Controle Médico da Infância e da Escola. In: ALMEIDA, Maria de Lourdes Pinto de. Escola e Modernidade: saberes, instituições e práticas. São Paulo: Alínea, 2004. p. 97 – 111. FRAGO, Antonio Vinão e ESCOLANO, Agustín. Currículo, espaço e subjetividade: a arquitetura como programa. Rio de Janeiro: DP & A, 1998. GONDRA, José Gonçalves. Medicina, higiene e educação escolar. In: LOPES, Eliane Marta Teixeira, FARIA FILHO, Luciano Mendes de e VEIGA, Cynthia Greive. 500 anos de educação no Brasil. São Paulo: Autêntica. 2003. p. 519 - 550. GRAÇA, Tereza Cristina Cerqueira da. Pés-de-anjo e letreiros de néon: ginasianos na Aracaju dos anos dourados. Sergipe: UFS. 1998. GRUNENNVALDT, Ana Carrilho Romero. A educação física, as normalistas e as professoras: a educação física na Escola Normal de Sergipe. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho. 1999 (Dissertação de mestrado). HOLANDA, Aurélio Buarque de. Dicionário Aurélio século XXI. Cd-rom. 2002. LEAL, Rita de Cássia Dias. O Primeiro Jardim de Infância de Sergipe: contribuição ao estudo da Educação Infantil (1932 – 1942). São Cristóvão, NPGED/UFS. 2004. (Dissertação de mestrado). LOBO, Lúcia Lahmeyer, BRANDÃO, Ana Maria e LISSOVSKY, Maurício. A fotografia como fonte histórica: a experiência do Cpdoc. Anais do V Congresso Brasileiro de Arquivologia. Rio de Janeiro. 1982. p. 40 – 52. LOMBARDI, José Claudinei. SAVIANI, Dermeval. NASCIMENTO, Maria Isabel Moura (orgs.). A Escola Pública no Brasil: História e Historiografia. Campinas, SP: Autores Associados. 2005. LOURENÇO FILHO, Manoel Bergstrom. A pedagogia de Rui Barbosa. Brasília: INEP/MEC. 2001.

25

MELO, Cristiana Ferreira de. Festa na Escola: As formaturas da Escola Normal como Espaço da Memória e da História da Educação (1912 – 1945). São Cristóvão/SE, 2004. (Monografia). NEVES, Margarida de Souza. Os Cenários da República. O Brasil na virada do século XIX para o século XX. In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (orgs.). O Brasil Republicano: O tempo do liberalismo excludente – da proclamação da república à revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2003. NUNES, Clarice. Anísio Teixeira: a poesia da ação. Bragança Paulista: EDUSF. 2000. OLIVEIRA. Dilma Maria Andrade de Oliveira. Legislação e Educação: O Ideário Reformista do Ensino Primário em Sergipe na Primeira República – 1889/1930. 2004. Tese (Doutorado) Universidade Federal de São Carlos – São Carlos/SP. SAVIANI, Dermeval. Breves Considerações sobre Fontes para a História da Educação. In: LOMBARDI, José Claudinei e NASCIMENTO, Maria Isabel Moura. Fontes, História e Historiografia da Educação. Paraná: Autores Associados. 2004. SOUZA, Rosa Fátima de. “Um Itinerário de Pesquisa sobre a Cultura Escolar”. In: CUNHA, Marcus Vinicius da. (org.). Ideário de Imagens da educação escolar. Campinas: Editora Autores Associados Programa de Pós-graduação em Educação Escolar da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP. 2000. p. 03 – 27. SOARES, Carmem Lúcia. Corpo e História. São Paulo:Autores Associados. 2004. (a). SOARES, Carmem Lúcia. Imagens da Educação no Corpo. Campinas-SP:Autores Associados. 2002. (b). VAGO, Tarcisio Mauro. Cultura Escolar, Cultivo de Corpos: educação physica e gymnastica como práticas constitutivas dos corpos de crianças no ensino público primário de Belo Horizonte. Bragança Paulista: EDUSF. 2002. VEIGA, Cynthia Greive. GOUVEA, Maria Cristina Soares. Comemorar a infância, celebrar qual criança? Festejos comemorativos nas primeiras décadas republicanas. Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 26, n. 1, jan/jun. 2000. p. 135 – 160. VEIGA, Cynthia Greive e FARIA FILHO, Luciano Mendes de. Infância no Sótão. Belo Horizonte: Autêntica. 1999. VELOSSO, Mônica Pimenta. O Modernismo e a questão nacional. In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (orgs.) O Brasil Republicano: O tempo do liberalismo excludente – da proclamação da república à revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2003.

26