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6833 PRÁTICAS AVALIATIVAS EM PROCESSOS FORMATIVOS DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA NA MODALIDADE A DISTÂNCIA Universidade Federal do Pará (UFPA) Eixo 8 - Educação a distância na formação de professores [email protected] 1. Introdução Este relato de pesquisa faz parte da investigação realizada no doutorado, cujo objetivo é analisar e refletir sobre as práticas avaliativas na ação dos professores formadores e dos tutores presenciais no curso de Licenciatura em Matemática na Modalidade a Distância, no âmbito da Universidade Federal do Pará em consórcio com a Universidade Aberta do Brasil. O programa é mantido pelo governo federal que articula as instituições de ensino superior e os governos estaduais e municipais com vistas a atender às demandas locais por educação superior, por meio da modalidade da educação a distância. Além da UAB, a UFPA mantém um consórcio com o Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro (CEDERJ) para a produção do material didático utilizado no curso. Para melhor compreensão dos objetivos do relato da pesquisa, estruturei o texto na seguinte ordem: num primeiro momento faço a contextualização da pesquisa, para melhor compreensão da temática. Em segundo, faço uma síntese dos fundamentos teóricos de práxis e seus níveis, mediação didático-pedagógica e avaliação da aprendizagem. Em terceiro, trato dos fundamentos metodológicos da pesquisa; em quarto, apresento os resultados parciais da pesquisa e por último, as Considerações Aproximativas/Conclusões. Contextualização da pesquisa A pesquisa em foco está sendo desenvolvida com professores formadores e tutores presenciais que atuaram nas turmas que ingressaram em 2009, presentes em nove polos, o que representa uma presença significativa em várias microrregiões do Estado do Pará, cuja extensão territorial é de 1.247.954,32 Km². Inserido neste contexto, o curso tem ampliado as oportunidades de acesso à educação superior aos que residem em áreas centrais e remotas da Amazônia Paraense. Minha atuação no curso se deu a partir de 2007, após 25 anos na docência presencial, o que me motivou realizar a pesquisa doutoral, à medida que buscava respostas a algumas questões que foram se tornando inquietantes. Uma delas e foco deste relato é sobre quais referenciais estão presentes nas práticas avaliativas do curso. Mais objetivamente identificar como se constitui e como se revela a prática avaliativa de professores formadores e de tutores presenciais, sem

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PRÁTICAS AVALIATIVAS EM PROCESSOS FORMATIVOS DE PROFESSORES DE

MATEMÁTICA NA MODALIDADE A DISTÂNCIA

Universidade Federal do Pará (UFPA)

Eixo 8 - Educação a distância na formação de professores

[email protected]

1. Introdução

Este relato de pesquisa faz parte da investigação realizada no doutorado, cujo

objetivo é analisar e refletir sobre as práticas avaliativas na ação dos professores

formadores e dos tutores presenciais no curso de Licenciatura em Matemática na

Modalidade a Distância, no âmbito da Universidade Federal do Pará em consórcio com a

Universidade Aberta do Brasil. O programa é mantido pelo governo federal que articula

as instituições de ensino superior e os governos estaduais e municipais com vistas a

atender às demandas locais por educação superior, por meio da modalidade da

educação a distância. Além da UAB, a UFPA mantém um consórcio com o Centro de

Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro (CEDERJ) para a produção do

material didático utilizado no curso.

Para melhor compreensão dos objetivos do relato da pesquisa, estruturei o texto na

seguinte ordem: num primeiro momento faço a contextualização da pesquisa, para

melhor compreensão da temática. Em segundo, faço uma síntese dos fundamentos

teóricos de práxis e seus níveis, mediação didático-pedagógica e avaliação da

aprendizagem. Em terceiro, trato dos fundamentos metodológicos da pesquisa; em

quarto, apresento os resultados parciais da pesquisa e por último, as Considerações

Aproximativas/Conclusões.

Contextualização da pesquisa

A pesquisa em foco está sendo desenvolvida com professores formadores e tutores

presenciais que atuaram nas turmas que ingressaram em 2009, presentes em nove

polos, o que representa uma presença significativa em várias microrregiões do Estado do

Pará, cuja extensão territorial é de 1.247.954,32 Km². Inserido neste contexto, o curso

tem ampliado as oportunidades de acesso à educação superior aos que residem em

áreas centrais e remotas da Amazônia Paraense. Minha atuação no curso se deu a partir

de 2007, após 25 anos na docência presencial, o que me motivou realizar a pesquisa

doutoral, à medida que buscava respostas a algumas questões que foram se tornando

inquietantes. Uma delas e foco deste relato é sobre quais referenciais estão presentes

nas práticas avaliativas do curso. Mais objetivamente identificar como se constitui e como

se revela a prática avaliativa de professores formadores e de tutores presenciais, sem

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desconsiderar a inter-relação que a avaliação mantém com os demais elementos do

processo didático.

De acordo com o Projeto Pedagógico (PP), o enfoque do curso está baseado no

modelo construtivista proposto por Vygotsky (1987), que concebe o processo de aprender

como uma prática social na qual cada sujeito constrói significados e representações da

realidade de acordo com suas experiências em diferentes contextos. O papel das

Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s), contribuem para mediar a busca pelo

conhecimento que as linguagens e os signos possibilitam como ferramenta para

intensificar as interações e o aprendizado. Assim sendo, esta breve contextualização

aponta para as possibilidades e os desafios de formar professores de matemática na

modalidade a distância na Amazônia Paraense.

Fundamentos teóricos

As discussões teóricas da pesquisa estão baseadas nos conceitos de práxis e os

níveis da práxis em Vázquez (2011), Freire (1997); e mediação didático-pedagógica, em

Vygotsky (1987), Veiga (1994) e educação a distância; Moran (2000), e avaliação da

aprendizagem em Vasconcellos (1994); para identificar os referenciais aplicados aos

contextos da formação inicial de professores de Matemática na Modalidade a Distância.

O ponto de partida para analisar as práticas avaliativas do curso tem como

pressuposto que o trabalho do professor é constituído por uma práxis orientada pela

relação teoria e prática e pela reflexão. Nesse sentido, o conceito de atividade é de

fundamental importância pelo fato de ser parte integrante da dinâmica da práxis

pedagógica transformadora. Uma vez que o homem, para constituir-se como sujeito

histórico deve agir sobre a realidade, mediada por instrumentos e signos produzidos

culturalmente, a atividade, segundo Vázquez (2011), representa “um conjunto de atos em

virtude dos quais um sujeito ativo (agente) modifica uma matéria-prima dada” (p. 221).

Em termos da prática docente, significa que a idealização do trabalho está no plano

teórico, enquanto que, para a realidade ser transformada, é necessária a prática, no

sentido da ação que modifique, que produza uma nova realidade. Por esta razão, a

afirmativa do autor, de que, “toda práxis é atividade, mas nem toda atividade é práxis” faz

sentido em presença da ação-reflexão-ação permeando a práxis. Elas revelam

conhecimentos, pensamentos, desejos, intencionalidades e necessidades, por isso é

considerada teleológica, ao buscar os fins e o propósito das ações. Nesse sentido, “se a

práxis é ação do homem sobre a matéria e criação – através dela – de uma nova

realidade, podemos falar de diferentes níveis da práxis de acordo com o grau de

consciência do sujeito ativo no processo prático e com o grau de criação ou humanização

da matéria transformada destacado no produto de sua atividade prática” (op.cit.p.267).

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Aplicadas no contexto da formação de professores de Matemática na Modalidade a

distância, essas premissas possibilitam identificar elementos das práticas, nas acepções

formuladas pelo autor, que podem estar num nível e outro (práxis criadora; reiterativa ou

imitativa; espontânea e reflexiva) durante a experiência docente, se revezando, se

alternando e se modificando. De qualquer modo, o mais relevante na práxis docente, é a

necessidade da presença de um alto grau de consciência para uma ação

correspondente. Nesse sentido, a mediação didático-pedagógica no contexto da

educação a distância, adquire novas configurações e estabelece o modo como os níveis

das práticas se desenvolvem pelas ações definidoras dos professores e tutores.

Dentre as condições necessárias à realização dos processos formativos figuram as

questões didáticas da organização e da sistematização das situações pedagógicas (Altet,

1998) que se traduzem pelo planejamento dos conteúdos, dos recursos didáticos, dos

procedimentos e instrumentos de avaliação, para que a mediação ocorra num clima de

definições antecipadas, mas ao mesmo tempo flexíveis. Não se concebe a efetivação de

uma prática pedagógica à revelia de uma certa organização e sistematização, uma vez

que, segundo Veiga (1994) o trabalho na sala de aula não é um processo espontâneo,

natural, mas intencional e sistemático.

Essa premissa da organização, da sistematização e dos compromissos assumidos por

cada um no contexto de curso na Modalidade a Distância, são cruciais, uma vez que se

desenvolvem em tempos, espaços e recursos que mesclam encontros presenciais, o uso

de tecnologias digitais para a comunicação e a informação entre alunos, tutores

presenciais e professores formadores, com diferentes histórias de vida, material impresso

– de tal modo que se torna um processo mais complexo que demanda a orientação das

práticas em novas bases conceituais. No que diz respeito ao modo de condução dos

processos formativos, Gomes (2009, p. 84) nos adverte sobre “o paradigma de cursos a

distância serem pautados em requisitos tais como a ” flexibilidade de gestão espacial e

temporal”[...], modelos pedagógicos diversificados”, “situações de aprendizagem

colaborativa e cooperativa” [...] “desenvolvimento de “competências e “adoção de

comportamentos de aprendizagem ao longo da vida.”

Os processos de ensino e aprendizagem a distância, segundo a autora, pressupõem

uma diversidade de contextos, recursos e pessoas, conforme foi abordado anteriormente,

mas sobretudo que, as realidades de cada polo ou salas de aula onde se realizam as

tutorias, requerem olhares diversificados, em que pese o planejamento ter sido pensado

para todos os polos. Para o atendimento adequado, serão necessários rituais que reflitam

as demandas daquela comunidade de estudantes.

Coerente com o referencial adotado nessa investigação, que considera os processos

de ensinar e aprender como práticas sociais e a mediação didático-pedagógica na

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perspectiva da lógica dialética, a avaliação é parte integrante da “mobilização,

construção e a elaboração da síntese do conhecimento,” a partir do movimento do

pensamento abstrato ao concreto em relação com o contexto social mais abrangente

( Vasconcellos, 1994, p. 46,47). Esse processo ocorre em presença da problematização,

que estimula o pensamento crítico do aluno, tornando os conteúdos e os recursos como

meios para proporcionar experiências significativas, à elaboração de soluções e a

estabelecer novas relações a cada contradição colocada nas situações de aprendizagem.

Nesse sentido, a avaliação cumpre um papel substancial de conceber uma postura

reflexiva e crítica, emancipatória, em presença de um ensino passivo, repetitivo e

alienante. (Vasconcellos, 1994, p. 55). Complementarmente às pretensões de ensinar, os

mediadores devem se preocupar com a aprendizagem que seja guiada pelo diálogo

(Freire, 1997), para instaurar a comunicação e a objetivação daquilo que se pretende na

prática pedagógica.

Por “processo de ensino”, compreendo a prática educativa do professor permeada por

um referencial que orienta a tomada de decisões sobre a organização e a condução das

atividades e as experiências de aprendizagem dos alunos. Nesse “processo de ensino”

entram em ação os procedimentos avaliativos que viabilizam e colocam em operação os

referenciais do método de ensino adotado.

Posto que aprender é um processo inalienável, em que participam conjuntamente

alunos e professores, tal como disse Freire (1981), ninguém educa ninguém, como

tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão,

mediatizados pelo mundo. Da mesma forma, Perez e Castillo (1999, p. 10) acentuam

que:

A mediação pedagógica busca abrir um caminho a novas relaçõesdo estudante: com os materiais, com o próprio contexto, comoutros textos, com seus companheiros de aprendizagem, incluídoo professor, consigo mesmo e com seu futuro.

Na perspectiva das interfaces dos sujeitos com as tecnologias, os conceitos e os

objetivos da mediação acontecem na maneira de agir do professor, na forma de abordar

os conteúdos da formação, na colocação do papel da avaliação como um processo de

feedback ou de retroalimentação contínuos (Moran, 2000), que põe em evidência não

apenas as informações e os conhecimentos adquiridos ou não, mas também os

desempenhos qualitativos de ambos, alunos e professores; no modo de estabelecer

relacionamento entre os alunos, e deste com o contexto maior.

Fundamentos metodológicos da pesquisa

Para o desenvolvimento da pesquisa adotei os fundamentos teórico-metodológicos da

abordagem histórico-dialética, cujos pressupostos auxiliam na compreensão da realidade

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e na interpretação dos significados dos fenômenos formativos. Para tanto, busquei na

modalidade qualitativa (Bogdan & Biklen, 1994) os referenciais para realizar a

investigação em educação matemática (Bicudo, 2010) e no curso ofertado na modalidade

a distância sem desconsiderar a realidade social mais ampla na captura das múltiplas

determinações

Utilizei a entrevista semiestruturada e a análise documental para o processo de coleta

de dados por considerá-los importantes parâmetros para a compreensão da prática

avaliativa a partir das falas dos professores e dos tutores presenciais e das fontes

documentais que compõem o arcabouço legal e pedagógico do curso. O procedimento

utilizado para a categorização e interpretação dos dados foi a técnica de análise de

conteúdo, a partir do que propôs Bardin (2011) e Franco (2008) a partir de três polos

cronológicos: a pré-análise, a exploração do material para definição das categorias e o

tratamento dos resultados.

A abordagem histórico-dialética, compreende o processo educacional inserido na

realidade social, política, econômica e cultural, condicionando-o de um lado, em razão

dos processos históricos da formação da sociedade em bases capitalistas, mas de outro,

promovendo sua transformação ao protagonizar intervenções individual e coletivamente,

fazendo frente aos desafios impostos, produzindo novas sínteses no devir humano.

O contexto histórico é, portanto, o núcleo central para a compreensão do conflito de

interesses envolvidos na realidade investigada, indo do empírico real – caótica e

sincrética – ao concreto – crítica e orgânica na enunciação e nas discussões das

categorias e abstrações a serem analisadas em face da tensão dialética presente nesta

modalidade. Segundo Cheptulin (2004, p. 338) “a realidade é o que existe realmente e a

possibilidade é o que pode produzir-se quando as condições são propícias.” Para isso, a

busca por compreender as práticas avaliativas do curso perpassa pelo par dialético

realidade/possibilidade de transformá-las rumo a emancipação.

Os sujeitos da pesquisa formam dois grupos: cinco professores formadores -

vinculados ao quadro de servidores efetivos da UFPA, e cinco tutores presenciais que

atuam nos municípios polos para o período de duração do curso, nas áreas específica e

pedagógica do curso. Em todo o percurso da investigação tomei os cuidados éticos de

acordo com a Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) nº 196/96 (Brasil, 1996),

que trata dos procedimentos utilizados com pesquisas que envolvem seres humanos. Os

sujeitos foram selecionados intencionalmente por constituírem casos ricos em

informações pelo fato de estarem inseridos no maior número de disciplinas e polos onde

o curso é ofertado.

Resultados (parciais) da pesquisa

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Nos termos deste relato, apresento os resultados parciais da pesquisa que enfatizam

as principais características das práticas avaliativas no contexto da EAD, isto é, como os

professores formadores e os tutores presenciais perceberam os traços próprios e

específicos dos referenciais no desenvolvimento do seu trabalho no curso em que

atuaram. A categoria trabalho na perspectiva dialética (Marx, 1983; Enguita, 1989; Arroyo,

1991) é determinante na explicitação dos processos formativos, posto que atua como

princípio articulador em todas as práticas do curso ao “possibilitar a produção de

conhecimento, e em tal movimento, cria possibilidades de transformação das condições

em que se realiza”, conforme Freitas (1996, p.19).

Nesse sentido, a avaliação é um componente do trabalho pedagógico de grande

relevância para o acompanhamento acadêmico-pedagógico dos processos de

aprendizagem dos alunos e a aferição da qualidade do curso. A dinâmica da avaliação,

conforme está previsto no PPC (2004, p. 21, 22) são de várias ordens: “ser contínua,

dinâmica e coletiva”; deve ocorrer em “cada disciplina”; ser flexível e contextualizada.

Estes requisitos inferem que a avaliação pode ser configurada como recurso

metodológico de reorientação do processo de ensino e aprendizagem (Vasconcellos,

1994).

Entretanto, o PPC (2004, p. 21, 22) estabelece o número mínimo e a forma de

avaliação: exercícios avaliativos, duas avaliações a distância e uma presencial. Esta

determinação dos instrumentos e procedimentos a serem utilizados, acaba por se tornar

contraditória com a perspectiva metodológica dialética de construção de conhecimento

para o ensino baseada no protagonismo do aluno como autodidata e construtor do seu

percurso formativo.

Decorrente dessa realidade, analisarei como tem ocorrido os processos avaliativos

para que se tenha uma compreensão da sua extensão e profundidade em relação ao

proposto no PPC e à perspectiva dialética do trabalho como princípio educativo do

professor formador e do tutor presencial.

As concepções de avaliação, uma das categorias explicativas surgidas durante as

entrevistas, foram explicitadas pelos professores formadores (PF) e os tutores

presenciais (TP),quando assumiram modos de ver o que realizaram no curso. A primeira

delas é vista como “processo de acompanhamento dos alunos” anunciados (sujeitos PF1,

Pf2, PF3, PF4 PF5; TP1; TP3, TP5); a segunda como “realização de atividades para

comprovação do conhecimento adquirido” (sujeitos. PF1; PF2; PF3; PF4; PF5; TP1; TP2;

TP3; TP5); a terceira como “mecanismo para identificar se o aluno aprendeu ou não”

(sujeitos PF1; PF2; PF4; TP1;TP3; TP5); e por fim, avaliação como “momento de reflexão

sobre sua prática” (sujeitos PF2;PF4 TP3; TP5).

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A categoria explicativa “procedimentos e instrumentos avaliativos para atribuição de

notas” se divide em avaliação presencial e a distância. Na presencial, a prova figura

como a mais frequente em todos os polos e disciplinas (sujeitos PF1, Pf2, PF3, PF4 PF5;

TP3, TP5; TP1; TP2; TP3; TP4; TP5); seguida pelo seminário (nas disciplinas de

Matemática o seminário acontece quando os alunos vão à lousa resolver exercícios e nas

pedagógicas são grupos de alunos que pesquisam e apresentam a partir de critérios

estabelecidos pelo professor formador)(sujeitos PF2; TP1;TP3; TP5); e em terceiro,

foram mencionados os debates, painéis, júri simulado e pôster( sujeitos PF2; TP3; TP5),

mais predominantes nas disciplinas pedagógicas. A Avaliação a distância teve na “lista

de exercícios” o mais proeminente instrumento avaliativo (sujeitos PF1, PF3, PF4 PF5;

TP1; TP2; TP4), seguido pela “pesquisa bibliográfica, roteiros de estudo, resenhas;

pesquisa de campo, entrevistas, visitas; relatórios e elaboração de projetos” (sujeitos

PF2; TP3; TP5).

Os professores formadores e os tutores presenciais foram unânimes em confirmar os

valores atribuídos de 30% da nota para a realização de atividades a distância, e de 70%

para as presenciais, confirmando o que consta no PPC (2004). Nas avaliações

realizadas a distância e presencialmente, dentro dos 30%, o tutor, em alguns casos

(polos), têm autonomia para elaborar, aplicar e corrigir as atividades.

Aparentemente, o fato de terem sido fixadas no mínimo duas avaliações que vou

denominar de “intervalares”, pelo fato de ocorrerem entre as provas, faz crer que a

avaliação é contínua e sistemática, não fossem sua ênfase recair na repetição, na

memorização e no automatismo.

O PF2 enumerou as práticas avaliativas que considera tradicionais, como: prova,

teste, exercícios, e à par dessa reflexão, mencionou outras alternativas como portfólios,

seminários, pôster e atividades extensionistas que não tradicionais, mas diante das

dificuldades dos alunos, não é possível avançar. Destacou ainda que por essa razão

“coexistem outras práticas com as tradicionais que estão um pouco mais à frente, como o

uso da plataforma, o uso de trabalho colaborativo pela plataforma, de grupos de estudo

dentro de plataformas de salas de aulas virtuais, uso de fóruns, de chats.”

A perspectiva apontada pelo PF2 está coerente com o PPC de que as avaliações a

distância, “sempre que possível, devem conter trabalhos ou questões a serem resolvidas

por grupos de alunos, estimulando o processo autoral cooperativo”, mas a precariedade

de conexão de internet; as distâncias geográficas entre os alunos, e destes com o

professor formador e o tutor presencial, somadas a cultura instalada no curso de “avaliar”

para fins de memorização e atribuição de nota, contradiz com a característica da

avaliação a distância de ser “essencialmente de caráter formativo” (p.21)como apregoa o

PPC. Em relação aos outros 70% da nota, advém predominantemente da realização de

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provas escritas presenciais, cuja elaboração é de responsabilidade do professor

formador, tomando como base os conteúdos distribuídos no cronograma da disciplina.

Vasconcellos (1994, p.43) chama atenção para a necessidade de distinguir ‘avaliação

e nota’: Avaliação é um processo abrangente da existência humana, que implica uma

reflexão crítica sobre a prática, no sentido de captar seus avanços, suas resistências,

suas dificuldades e possibilitar uma tomada de decisões sobre o que fazer para superar

os obstáculos. A nota, seja na forma de número, conceito, ou menção, é uma exigência

formal do sistema educacional.

À par da exacerbação com os mecanismos de avaliação que toma a nota como

métrica para aprovar e reprovar, o rigor com a segurança da prova até o seu destino final,

o polo, é cercado de cuidados para evitar “vazamento de informações”, chegando a

envolver os professores formadores em viagens até os polos para fazer a aplicação das

provas de conhecimento Matemático e áreas afins, de modo a garantir a “lisura” do

processo. Nesse processo o tutor presencial fica relegado a assistir o movimento de idas

e vindas das provas sem que ao menos soubesse a ênfase e o grau de dificuldades

colocadas nas questões, em total desvinculação com o que foi trabalhado por ele durante

as tutorias.

A constatação desse modus operandi em relação à prova, faz crer que pode haver

certa hierarquização na práxis que separa de um lado os que pensam e os que executam

a atividade docente. Ao professor formador cabe “pensar” o planejamento, a metodologia,

os recursos, a avaliação, e ao tutor presencial cabe o papel de executar, mediar, facilitar,

orientar e acompanhar o processo de ensino e aprendizagem dos alunos. O tutor é

diretamente afetado pela divisão das funções didático-pedagógicas do curso, uma vez

que a execução do trabalho pensado por outrem, pode não haver coincidência de

enfoque como gostaria o professor formador e por ser culpabilizado pelo baixo

rendimento do aluno Essa fragmentação do trabalho docente na EaD, remete ao

taylorismo e ao fordismo, que tem seu nascedouro no sistema de produção capitalista e

aplicado à educação, ocorre quando um professor-autor pensa a disciplina, e os demais

da “linha de produção” executam a tarefa até chegar ao aluno.

Essa forma de controle excessivo com o aparato de segurança com as provas, do meu

ponto de vista, secundariza sua finalidade como recurso metodológico de (re)orientação

do processo de aprendizagem dos alunos, em relação à decisão do que (conteúdos) e

como (abordagem) incluir na prova. Ao final da disciplina o aluno deverá acumular três

notas oriundas da realização de atividades a distância e presenciais, que vai resultar

numa média aritmética que corresponderá a um conceito ( Excelente, Bom, Regular,

Insuficiente ) segundo a métrica da UFPA para a avaliação, previsto pelo Regimento em

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seu Cap. IV, Art. 178 e pelo Regulamento de Graduação ( Resol. N. 4.399, de 14/05/013)

para os cursos presenciais e na modalidade a Distância.

O tema da avaliação do desempenho dos alunos, tem sido recorrente nas reuniões do

colegiado do curso, em especial por ocasião da proximidade dos períodos de avaliação

agendados nos cronogramas das disciplinas. Uma tônica das manifestações dos

professores formadores era a “cola”, que segundo eles ocorria, quando as provas eram

aplicadas pelos tutores presenciais, hipotetizada pelas “boas notas” obtidas pelos alunos.

No outro extremo, quando as notas eram sofríveis, havia a responsabilização do

fracasso, motivado pela falta de “domínio dos conteúdos” do tutor presencial e dos

alunos. Este cenário tem se configurado mais fortemente nas disciplinas de Matemática e

denota que nessa ótica a baixa remuneração do tutor, pode ser justificada pela falta de

vínculo institucional e a parcelarização do trabalho docente. Em todo o percurso dessa

investigação, as questões avaliativas da aprendizagem me possibilitaram muitas

reflexões sobre práxis reiterativas ( equivalentes a práticas tradicionais que valorizam a

memorização por meio de provas e listas de exercícios para quantificar o conhecimento e

classificar o aluno), presentes em uma parcela significativa do corpo docente que

convivem com práxis criativas e reflexivas ( valorizam os saberes dos alunos e

possibilitam formas alternativas de expressar o conhecimento, na busca por sua

autonomia e auto-confiança do aluno).

A esse respeito, Melo (2006, p. 60) contribui denominando esse modelo de

“Frankstein” de avaliação por abrigar posturas da pedagogia tradicional,

concomitantemente com novas abordagens, a exemplo da avaliação contínua. Segundo

o autor, esse modelo decorre muitas vezes, “em decorrência do modelo tradicional que

permeou a formação do professor.”

Considero que a avaliação mal orientada, figura entre as causas da evasão e da

reprovação em massa no curso de Matemática na Modalidade a Distância da UFPA,

razão pela qual concluem o curso, em torno de 20% dos alunos em relação aos

ingressantes. Nesse sentido, o papel do professor formador como mediador na

organização do trabalho pedagógico, é incentivar o aluno a buscar informações, dados e

materiais; a selecioná-los, problematizá-los, organizá-los, compará-los de modo a

aprender a fazer suas próprias sínteses e aplicações, contextualizando-as com o

conhecimento adquirido.

Tal orientação possibilita o favorecimento da compreensão dos conceitos e princípios

matemáticos, a raciocinar claramente e comunicar ideias matemáticas, reconhecendo

suas aplicações no mundo. Isto é, a mediação bem orientada favorece o aparecimento de

novas zonas de desenvolvimento proximal em que o aluno não é deixado sozinho no

processo de aprender.

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Conclusões Aproximativas

Identifiquei nos conteúdos das entrevistas transcritas, algumas características nas

práticas avaliativas no curso de Licenciatura em Matemática na Modalidade a Distância

da UFPA que possibilitaram aproximações conceituais com dois níveis de práxis

(Vázquez, 2011) no processo avaliativo do curso: a práxis reflexiva e a reiterativa ou

imitativa. O que as diferencia (ou o que as complementam) é o grau de consciência do

sujeito ativo no processo prático.

A avaliação reiterativa ou tradicional, tende a ser somativa, com ênfase na valorização

da nota e na classificação do aluno, em detrimento da aprendizagem. Enquanto que, na

perspectiva da avaliação formativa, as informações servem de base para a tomada de

decisão para rever os processos e considerar o erro na perspectiva construtivista. Esses

processos incidiram nas mediações didático-pedagógicas desenvolvidas em diferentes

momentos do curso e adquiriram características nem sempre condizentes com as

perspectivas do sociointeracionismo (Vygotsky, 1987), conforme anuncia o Projeto

Pedagógico do Curso.

Além dessas características, compreendo que a presença de diversos e diversificados

instrumentos de avaliação não expressam necessariamente uma concepção

emancipatória na maneira de (re)olhar e analisar a prática educativa. Nesse sentido,

tenho observado que podem ocorrer práticas avaliativas com características

predominantemente prescritivas e mecânicas a partir de orientações técnicas, reduzidas

a rituais esvaziados de significados sociais que ultrapassem a neutralidade e a

fragmentação dos conteúdos.

A aparente contradição entre a práxis vivida por professores formadores e tutores

presenciais, e as concepções anunciadas no PPC, revelam a existência de complexas

relações de sentido que possibilitam o processo de (re)construção de suas próprias

experiências e de uma leitura de mundo que tenha a teoria e a prática como pontos de

partida e de chegada da formação do educador matemático.

Os dados proporcionaram a compreensão dos processos formativos do curso por meio

de diferentes níveis de práxis na avaliação, o que do meu ponto de vista, abrem espaços

para a práxis criativa, protagonizada por tutores e alunos na busca pela superação dos

desafios que enfrentaram cotidianamente nos polos onde viveram e estudaram os alunos.

As possibilidades metodológicas da avaliação na EaD, permitem reconhecê-la como

meio para instigar a capacidade autoral e criativa dos alunos, e para o professor, a

reflexão crítica sobre a prática e o acompanhamento dos avanços e das dificuldades do

ato de aprender. Neste sentido, concluímos que uma formação que objetive a práxis

emancipatória, perpassa pela ressignificação dos procedimentos habituais de avaliação

que obstaculizam as mudanças rumo à libertação.

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