pos em revista numero 8
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Revista do Centro Universitário Newton PaivaTRANSCRIPT
NÚMERO 82O SEMESTRE DE 2013
ISSN 2176 7785
NÚMERO 82O SEMESTRE DE 2013
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2 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785
Copyright©2013 by Núcleo de Publicações Acadêmicas do Centro Universitário Newton Paiva
Número 82/2013
Pós em Revista / Belo Horizonte: Centro Universitário Newton Paiva, 2013. Disponível na Internet: < http://npa.newtonpaiva.br/pos/> n.1.- Semestral ISSN 2176-7785
1. Periódicos. 2. Revista Científica. I. Centro Universitário Newton Paiva
CDU 001.891 (Ficha catalográfica elaborada pelo Núcleo de Bibliotecas do Centro Universitário Newton Paiva)
ComitÊ eDitoriaL
EDITORA GERALEliana de Faria Garcia Horta
EDITOR ADJUNTO Anderson Hollerbach Klier
ÁREA DE CONHECIMENTO- CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADASMaria do Carmo Resende Teixeira Guerra
Fernando Ferreira Dias FilhoMarcos Eugênio Vale leão
Iremar Nunes Lima
ÁREA DE CONHECIMENTO- CIÊNCIAS HUMANASBruno Luciano de Paiva Silva
ÁREA DE CONHECIMENTO- CIÊNCIAS DA SAÚDESérgio Fernando de Oliveira Gomes
Marta Marques Gontijo AguiarRoberta Dias Rodrigues Rocha
ÁREA DE CONHECIMENTO- CIÊNCIAS DA ENGENHARIAÉrika Silva Fabri
Luciano Emirich FariaTereza Cristina Magalhães
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estrutura FormaL Da instituição
PRESIDENTE DO GRUPO SPLICEAntônio Roberto Beldi
REITORJoão Paulo Beldi
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DIRETOR ADMINISTRATIVO E FINANCEIROMarcelo Vinicius Santos Chaves
SECRETÁRIA GERALDorian Gray Rodrigues Alves
SECRETÁRIA GERAL
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Dorian Gray Rodrigues AlvesSECRETÁRIA GERAL
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APOIO TÉCNICONÚCLEO DE PUBLICAÇÕES ACADÊMICAS DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA
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Cinthia Mara da Fonseca Pacheco
EDITORA DE ARTE E PROJETO GRÁFICOHelô Costa - RG127/MG
DIAGRAMAÇÃO: Laura Senra e Márcio Junio (estagiários do Curso de Jornalismo)
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APOIO TÉCNICO
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apresentação
Prezado Leitor,
Temos a satisfação de divulgar a OITAVA EDIÇÃO da “Pós em Revista”.
A cada edição, a Pós em Revista busca maturidade, indo ao encontro da qualificação de cada
publicação e do reconhecimento como meio de divulgação de qualidade entre os alunos, profes-
sores e profissionais do Centro Universitário Newton Paiva e de outras instituições.
Nesta oitava edição, por meio da mídia eletrônica, a revista traz dezenove artigos, resultantes
de trabalhos científicos, interdisciplinares, de conclusão de curso e de revisão da literatura que
possuem relevância em suas respectivas áreas do saber científico: ciências sociais e humanas,
ciências da saúde, engenharias e ciências exatas.
Aproveitamos a oportunidade para agradecer aos autores dos trabalhos que abrilhantaram
esta edição.
Nós, da Equipe Editorial estamos felizes por mais uma edição publicada e desejamos a par-
ticipação, interação e divulgação de nossos alunos, professores e leitores para seguirmos cres-
cendo no cenário da divulgação do conhecimento por meio da publicação desta revista.
Queremos ainda, convidar aos professores e alunos a enviarem seus artigos. Caso os traba-
lhos se enquadrem em nosso escopo editorial poderão compor a NONA EDIÇÃO da “Pós em
Revista”, NO MÊS DE JUNHO DE 2014.
Boa leitura!
Eliana de Faria Garcia Horta
EDITORA-GERAL
CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
ADMINISTRAÇÃOAVALIAÇÃO DE EFICÁCIA DO TREINAMENTO: O USO E A IMPORTâNCIA DA AVALIAÇÃO
DO APRENDIzADO PARA A APRENDIzAGEM ORGANIzACIONAL
Wilimar Junio Ruas .......................................................................................................................................................................12
GESTÃO DO CONHECIMENTO: APLICAÇÃO NAS ORGANIzAÇÕES NUMA PERSPECTIVA SISTÊMICA
Jeanne Cristina Martins Rodrigues, Maria Efigênia Nagem Moreira,
Sandra Helena Lopes Nogueira ..................................................................................................................................................19
A IMPORTâNCIA DO EMPREENDEDORISMO NAS ORGANIzAÇÕES ESTUDO
DE CASO DA EMPRESA EXPRESSO GLOBAL LTDA
Ana Maria Ribeiro Santiliano, Braulio Fernando Vieira,
Priscilla Evangelista de Oliveira, Raphael Nilton Santos, Thais Lílian Fagundes Lopes,
Helbert José de Goes, Laila Hamdan ..........................................................................................................................................24
A GESTÃO DO CONHECIMENTO COMO MECANISMOS DE MAXIMIzAÇÃO DE
RESULTADOS ORGANIzACIONAIS
Davson Mansur Irff Silva ...............................................................................................................................................................31
O PENSAMENTO ORIENTAL E A GESTÃO ESTRATÉGICA DO CONHECIMENTO:
EDUCAÇÃO FORMAL E NÃO FORMAL, INOVAÇÃO E CONDUTAS FILOSÓFICAS
Wallisson Nunes da Silva .............................................................................................................................................................41
GESTÃO OS DESAFIOS DA ÉTICA EMPRESARIAL E CIDADANIA NA ERA DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO
Inês de Carvalho Veloso, Mauro Elias Gebran ............................................................................................................................47
RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS ENGENHARIAS DAS FORÇAS ARMADAS:
O DISCURSO DA BOA CIDADANIA CORPORATIVA
Cristia Rodrigues Miranda, Marley Rosa Luciano, Osní Francisco Severino ...............................................................................53
RELAÇÕES INTERNACIONAISA SUBORDINAÇÃO DOS INDICADORES SOCIAIS E ECONÔMICOS: COMPARAÇÕES
ENTRE BRASIL E CHILE quANTO AO IDH, PIB, CORRuPçãO, EDuCAçãO.
Eduardo Bomfim Machado, Gabriel Chamone,
Gabriela Salomão de Barros, João Felipe Chamone, Laila Lucie Dias Guimarães,
Leonardo Vieira Babsky, Simone Gelmini Araújo .........................................................................................................................58
BRASIL E ÁFRICA DO SUL: COOPERAÇÃO SUL-SUL
Felipe Xavier Faria Alvarenga, Messias Borges dos Santos Júnior,
Renata Aparecida Pinto, Rodney de Souza Pereira .....................................................................................................................66
sumário
CIÊNCIAS HUMANAS
PEDAGOGIAASPECTOS DA RELAÇÃO FAMÍLIA X ESCOLA
Clarice Tolentino Barbosa, Joelma Lourdes Silva Rafacho, Sérgio Rafacho ..............................................................................73
CIÊNCIAS DA SAÚDE
FARMÁCIASÍNDROMES DEMENCIAIS, HOMOCISTEÍNA E VITAMINAS DO COMPLEXO B
Gisele Santos Gonçalves, Flávia Batista Pinto Coelho, Josianne Nicácio Silveira,
Maria das Graças Carvalho, Luci Maria Sant’Ana Dusse.............................................................................................................81
ATIVIDADE EDUCATIVA SOBRE A GRIPE EM UM CENTRO DE SAÚDE EM BELO HORIzONTE
Adelson Mizerani Siqueira, Juliana Cioletti,, Marina Botelho Silqueira, Wendel Amaral,
Paula Chiesa Guimarães, Wesley Peixoto Freitas, Renata Freitas Maletta ..................................................................................87
ODONTOLOGIA SÍNDROME DE DOWN: CARACTERÍSTICAS BUCAIS
Maria Luiza da Matta Felisberto Fernandes,
Lucas Costa Lopes, Paola Alves Farneze ...................................................................................................................................90
CATÁLAGO DE ÍNDICES E INDICADORES SOCIODEMOGRÁFICOS UTILIzADOS EM SAÚDE
Camila da Penha Marques Braga, Gabrielle Rios de Oliveira,
Maria Luiza da Matta Felisberto Fernandes, Veridiana Salles de Oliveira Furtado .......................................................................95
ENGENHARIAS
ENGENHARIA DE MATERIAISADIÇÃO DE REJEITOS DE EXTRAÇÃO DE ARDÓSIA EM CONCRETO
Claudio Gouvêa dos Santos, Luciana Boaventura Palhares,
Emerson Diego Carvalho Rosa, Ewerton Ferreira Cruz, Michele Mamedes da Costa ................................................................100
A UTILIzAÇÃO DOS EXTRATOS DE MATE E ROMÃ COMO INIBIDOR
DA CORROSÃO DO AÇO-CARBONO 1020
Claudio Gouvêa dos Santos, Luciana Boaventura Palhares,
Cely de Fátima Santos, Carlos Martins Viana, Cintia Priscile Andrade Jesus,
Lucas Alves Nascimento, Tatiane Gomes Santos........................................................................................................................104
O POLI (CLORETO DE POLIVINILA) NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Claudio Gouvêa dos Santos, Luciana Boaventura Palhares, Fellipe Braga Pacheco,
Fernando queiroz Carvalho, Glenda Marra Vidigal, Karen Christine Souza Sima,
Magna Gomes da Cruz, Pâmela Nascimento Dos Reis Rabelo .................................................................................................109
POLIESTIRENO EXPANDIDO NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Claudio Gouvêa dos Santos, Luciana Boaventura Palhares, Raphael de Oliveira Duarte,
Thiago Henrique Cardoso Gonçalves, Mariana de Melo Almeida Horta,
Wagner Agostinho dos Reis, Rafael Vinicius Silva Straelh ...........................................................................................................114
CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
CIÊNCIAS DA COMPUTAÇÃO
ESTUDO COMPARATIVO ENTRE AS FERRAMENTAS CACTI E MRTG
NO GERENCIAMENTO DE UMA REDE COMPUTACIONAL COM TRÁFEGO HETEROGÊNEO
Marcos Prado Amaral, Thiago de Freitas Faria ............................................................................................................................119
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aVaLiação De eFiCáCia Do treinamento: o uso e a importânCia Da aVaLiação Do
aprenDizaDo para a aprenDizagem organizaCionaLWilimar Junio Ruas1
RESUMO: Este artigo analisa os resultados obtidos no processo de avaliação da eficácia de um treinamento de padronização, especificamente na etapa de
avaliação do aprendizado, de acordo com sistema de avaliação de treinamento de Donald Kirkpatrick. A pesquisa realizada é do tipo descritiva, tendo como
métodos a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo. O instrumento de coleta utilizado foi um questionário estruturado, aplicado antes (pré-teste) e após
o treinamento (pós-teste). Foram obtidos os resultados do aprendizado de 31 empregados do setor operacional de uma empresa de saneamento, referente
ao conteúdo ministrado no treinamento. O treinamento ocorreu em setembro de 2012, visando disseminar os conceitos e aplicações de um sistema de
padronização de tarefas e procedimentos. Os resultados da pesquisa demonstram a importância da avaliação do aprendizado para identificação da assimilação
e retenção dos conteúdos repassados no treinamento, além de servir de instrumento de feedback para instrutores e organização. Conclui-se que a avaliação
da eficácia do treinamento, não se restringe somente à avaliação do aprendizado, e sim da composição dos quatro níveis propostos por Kirkpatric. A aplicação
dos quatro níveis serve de instrumento norteador para o desenvolvimento do processo de aprendizagem organizacional.
PAlAVRAS-ChAVE: Avaliação da Eficácia de Treinamento. Modelo de Kirkpatrick. Avaliação do Aprendizado.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo visa analisar a aplicabilidade da avaliação de
eficácia de treinamento no que tange a importância da avalia-
ção do aprendizado, tendo como base teórica o sistema de
avaliação de treinamento em níveis proposto por Kirkpatrick.
De acordo com Kanaane e Ortigoso (2001, p. 71), o modelo
de Donald L. Kirkpatrick foi um dos pioneiros na elaboração
de sistemas de avaliação de programas educacionais em
ambientes organizacionais.
Tendo como fio condutor o sistema de avaliação de Ki-
rkpatrick, a pesquisa justifica-se pela necessidade de obter
uma forma de mensuração da eficácia de um sistema de trei-
namento, do qual se permite extrair de maneira quantitativa
os resultados de assimilação e retenção de conteúdo, rela-
cionando-os de maneira prática com os conceitos de apren-
dizagem organizacional propostos por alguns autores. Neste
contexto, Senge (1999) define que a aprendizagem organiza-
cional é a capacidade das organizações em criar, adquirir e
transferir conhecimentos e em modificar seus comportamen-
tos para refletir estes novos conhecimentos e insights.
A pesquisa prática para avaliação do aprendizado foi reali-
zada em um grupo de 31 empregados do setor operacional de
uma empresa de saneamento, por meio de dois questionários
denominados pré-teste (aplicado antes da atividade) e pós-
-teste (aplicado após a atividade), no qual objetivou averiguar
a assimilação e retenção do conteúdo ministrado em um treina-
mento sobre sistema de padronização de procedimentos.
Para exploração do campo, serão abordadas definições acer-
ca do conceito de treinamento e da necessidade de avaliação de
sua eficácia, com base no modelo de avaliação de treinamento em
quatro níveis de Kirkpatrick. Serão também apresentadas definições
acerca de aprendizagem organizacional e sua relação com a disse-
minação e utilização do conhecimento no âmbito das organizações.
2 DESENVOLVIMENTO
No desenvolvimento do artigo serão apresentadas as eta-
pas norteadoras da pesquisa, definidas como referencial teóri-
co, metodologia e exposição da pesquisa.
2.1 REFERENCIAL TEóRICO
O conceito de treinamento possui várias definições, sen-
do abordado em diversas literaturas da administração como
também da psicologia. Chiavenato (1994) define o treinamento
empresarial como um processo educacional que leva um indiví-
duo a adquirir competências para exercer um cargo ou função
em uma organização. Para Vieira (1999), o treinamento é uma
função de linha, onde os gerentes devem se preocupar com
a capacitação de sua equipe, atentos para a real necessida-
de de cada funcionário e que o treinamento seja adequado e
contínuo. Não se restringindo ao contexto empresarial, Vargas
(apud MOURÃO, 2004, p. 16) conceitua treinamento e desen-
volvimento como um processo único de “aquisição sistemática
de conhecimentos capazes de provocar, a curto ou longo pra-
zo, uma mudança na maneira de ser e de pensar do indivíduo”.
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De acordo com ABNT (2001, p. 3), a definição de treina-
mento é apresentada de maneira mais simples, sendo o “pro-
cesso para desenvolver e prover o conhecimento, habilida-
des e comportamentos para atender requisitos.” De maneira
mais sistêmica, Snell e Bohlander (2011, p. 250) apresenta
uma conceituação mais ampla de treinamento, combinando
também ao conceito de desenvolvimento:
O termo treinamento muita vezes é usado de forma ca-
sual a fim de descrever praticamente qualquer esforço
da empresa para estimular o aprendizado de seus mem-
bros. Muitos especialistas, entretanto, distinguem entre
treinamento (mais focalizado e orientado para questões
concernentes a desempenho de curto prazo) e desen-
volvimento (mais orientado para ampliar as habilidades
dos indivíduos para futuras responsabilidades). Os dois
termos tendem a combinar-se numa única frase – trei-
namento e desenvolvimento – para indicar a combina-
ção de atividades nas empresas que aumentam a base
de habilidades dos funcionários.
Neste contexto, dada a importância do processo de trei-
namento para desenvolvimento dos indivíduos e das organiza-
ções, traça-se a importância da avaliação dos resultados dos
esforços de treinamento, que conforme definido pela ABNT
(2001, p. 7), possui a finalidade “de confirmar que ambos, os
objetivos da organização e do treinamento, foram alcançados,
ou seja, o treinamento foi eficaz. [...] Os resultados do treina-
mento em geral não podem ser plenamente analisados e va-
lidados até que o treinando possa ser observado e avaliado
no trabalho.” Por isso, considerando a necessidade de obter
confirmação dos resultados de treinamento e se os objetivos
foram alcançados, a ABNT (2001, p. 7) apresenta critérios de
conveniência para realização de avaliações:
- a curto prazo: para verificar a opinião do treinando
sobre os métodos e recursos adotados e sobre os
conhecimentos e habilidades adquiridas como resul-
tado do treinamento; e
- a longo prazo: para verificar a melhoria da produtivi-
dade e do desempenho no trabalho.
Na abordagem de treinamento, a avaliação é a forma mais
utilizada pelas organizações para medir a eficácia e eficiência
dos esforços aplicados. Campos e Guimarães (2008, p. 54)
apresentam os conceitos de eficiência e eficácia, que podem
ser aplicados na avaliação de treinamentos:
- Eficiente e ineficaz: quando os procedimentos foram se-
guidos e os requisitos especificados não foram alcançados.
- Ineficiente e eficaz: quando os procedimentos não foram
seguidos e os requisitos especificados foram alcançados.
- Eficiente e eficaz: quando os procedimentos foram se-
guidos e os requisitos especificados foram alcançados.
Com base nestas definições, pode-se dizer que a eficiên-
cia significa realizar um treinamento de maneira correta, sem
erros e de boa qualidade e que eficácia é fazer um treina-
mento que atinja totalmente os resultados esperados. Tendo
como base o conceito de eficácia de treinamento e a neces-
sidade de avaliar resultados, Donald L. Kirkpatrick, desen-
volveu um sistema de avaliação de treinamento em quatro
níveis de medição. De acordo com Kirkpatrick (apud DUTRA,
1999, P. 1), existem quatro níveis em avaliação de treinamen-
to que, se aplicados em seqüência, são a única forma eficaz
de avaliação de resultados. Para o autor, cada nível tem sua
importância apesar de que a medida em que se passa de
um nível para o seguinte, o processo se torna cada vez mais
complexo e aumenta também o dispêndio de tempo, mas
em compensação provê informações cada vez mais valio-
sas. Conforme Lima (2007 p. 209), o modelo de Kirkpatrick
foi “apresentado, em sua primeira versão, em 1959 e prevê
a existência de quatro níveis em avaliação de programas de
educação em organizações, que, se aplicados todos em se-
qüência, constituem-se numa forma eficaz de avaliação [...]”.
Os níveis de avaliação do modelo são apresentados a seguir:
l Reação ou Satisfação: Rodrigues, Santos e Tadeucci
(2008, p. 90) apontam que a avaliação de reação “reflete
os sentimentos e opiniões dos treinandos sobre o trei-
namento. Essa avaliação é realizada logo após o treina-
mento e visa identificar as necessidades de melhoria dos
materiais e métodos de instrução adotados.” Kirkpatrick
(apud DUTRA, 1999, p. 1) define este nível como medida
de satisfação do cliente, justificando:
“Por muitos anos, conduzi seminários, cursos institu-
cionais e conferências na university of Wisconsin Ma-
nagement Institute. As empresas pagam uma taxa para
encaminhar seu pessoal para estes programas e fica
óbvio que a reação dos participantes é a mensuração
imediata da satisfação dos clientes. Também é óbvio
que a reação precisa ser favorável se quisermos per-
manecer no negócio, atrair novos alunos e ter o retorno
dos antigos para futuros programas.
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Nos programas internos das empresas a necessidade
de medir a satisfação do cliente já não parece tão ób-
via, pois muitas vezes os funcionários são convocados
a participar quer queiram quer não. De qualquer forma,
eles continuam sendo os clientes, mesmo que não pa-
guem pelo treinamento, e a reação deles pode levar ao
sucesso ou ao fracasso do programa, pois os comentá-
rios que fazem junto aos seus chefes chegará aos ouvi-
dos da alta direção, que é quem toma a decisão sobre
a continuidade dos programas.
Portanto, a reação positiva ao treinamento é importante
tanto para os instrutores de treinamento internos quanto
para os que oferecem programas abertos ao público,
pois o futuro do programa depende desta reação. Além
disso, se os participantes não reagem de forma favorá-
vel, provavelmente não estarão motivados a aprender.
Reação positiva e satisfação, pode não assegurar o
aprendizado, mas reação negativa, insatisfação, certa-
mente reduz a possibilidade de aprendizado.”
l Aprendizado: Snell e Bohlander (2011, p. 279) citam
que “além de saber o que os participantes pensam sobre
o treinamento, pode ser uma boa idéia ver se eles real-
mente aprenderam alguma coisa.” Rodrigues, Santos e
Tadeucci (2008, p. 90) citam que “este nível avalia a reten-
ção de conhecimento transmitido no treinamento pelos
treinandos. É normalmente realizada por meio de exames
no meio e no final dos treinamentos.” A aplicação de tes-
tes de conhecimentos e habilidades antes de iniciar um
programa de treinamento oferece uma linha de base so-
bre os treinandos, que pode ser medida novamente após
o treinamento para determinar se houve aproveitamento.
Kirkpatrick (apud DUTRA, 1999) define que o aprendiza-
do só ocorre quando acontece um ou mais dos seguin-
tes pontos: mudança na forma de perceber a realidade,
aumento dos conhecimentos, melhoria das habilidades.
l Comportamento ou Aplicação: Neste nível, confor-
me Lima (2007, p. 209), é investigada “a extensão da mu-
dança de conduta e de procedimentos que ocorre após
a participação em um programa.” Para ocorrer a mudan-
ça de comportamento, Kirkpatrick (apud DUTRA, 1999)
propõe que o participante do treinamento queira mudar,
saiba o quê e como mudar, trabalhe em um ambiente
com clima correto e seja premiado pela mudança. Neste
sentido, Kirkpatrick (apud DUTRA, 1999, p. 2-3) descreve
cinco possibilidades de clima gerado pela chefia:
- Reativo: é aquele chefe que proíbe a mudança. É
quando é vedado ao participante a utilização do que
foi aprendido no treinamento. Ou porque seu estilo de
liderança conflita com o que foi ensinado, ou porque
não acredita na evolução da cultura organizacional já
estabelecida, ou porque está influenciado pelo próprio
chefe na alta gerência.
- Desencorajador: é aquele chefe que não segue
o que foi ensinado e com seu exemplo negativo im-
possibilita ou desencoraja a mudança de comporta-
mento do subordinado. Ele não chega a dizer “Não
pode”, mas diz: “Isto tudo é besteira” deixando claro
que a mudança o deixa descontente.
- Neutro: é aquele chefe que “finge” ignorar o fato que
o participante esteja em treinamento. Se o subordinado
desejar muito mudar, o chefe não impede, mas também
não encoraja. É o que diz: “enquanto o trabalho estiver
no prazo...” No entanto, se acontecer algum resultado
negativo por causa da mudança de comportamento ou
aumento de custos, por exemplo, então o chefe muda o
clima para desencorajador ou até para reativo.
- Encorajador: é aquele chefe que realmente tenta
estimular o subordinado a aprender e a aplicar seu
aprendizado no trabalho. Idealmente, ele discute o
programa com o subordinado em primeira mão e
estabelece como os dois irão definir sua aplicação
quando o programa terminar. É o que diz: - “quero
saber o que você está conseguindo aprender para
ajudá-lo a trazer o que aprendeu para o seu trabalho.”
- Requisitante: É aquele chefe sabe o que o subor-
dinado está aprendendo e garante a transferência do
aprendizado para o trabalho. Normalmente participa da
elaboração do programa de treinamento, quando este
é realizado na empresa. Em alguns casos fica estabele-
cido na avaliação de desempenho do funcionário o que
o subordinado concorda que irá mudar. Ou um acordo
pode ser preparado ao final da seção de treinamento e
uma cópia é encaminhada ao chefe. E o chefe cria as
condições para que o contrato seja implementado.
l Resultados: Rodrigues, Santos e Tadeucci (2008,
p. 90) definem que este nível “enfatiza a contribuição
do treinamento para a realização da missão e objetivos
organizacionais.” Já para Kirkpatrick (apud DUTRA,
1999) este nível define-se como os resultados alcança-
dos devido à participação dos empregados no treina-
mento. Os resultados incluem aumento de produção,
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 15
melhoria da qualidade, redução de custo, redução
de acidentes, aumento de vendas, redução de rota-
tividade de pessoal, aumento do lucro ou do retorno
do investimento. É importante reconhecer que resul-
tados como estes são a razão de ser dos programas
de treinamento. De qualquer forma o objetivo final do
treinamento deve ser estabelecido nestes termos. Lima
(2007, p. 210) observa que “esta etapa da avaliação de
um programa apresenta-se ainda com maior grau de
complexidade, pois, assim como o nível três, também
insere a avaliação em conjunto de inúmeras variáveis.”
Sendo o aprendizado um dos fatores de avaliação do modelo
de Kirkpatrick, sua aplicação relaciona-se ao conceito de apren-
dizagem organizacional, que conforme Tsang (apud BASTOS,
GONDIM E LOYOLA, 2004, p. 222) “interessa-se pela descrição de
como a organização aprende, isto é, focaliza as habilidades e os
processo de construção e utilização do conhecimento [...]”. Neste
sentido, o segundo nível do modelo de Kirkpatrick, do qual trata da
avaliação do aprendizado, pode contribuir de maneira sistemática
para o processo de aprendizagem organizacional. A aprendiza-
gem organizacional possui uma variabilidade conceitual relaciona-
da aos três níveis de análise: individual, grupal e organizacional,
que conforme Bastos, Gondim e Loyola (2004, p. 222) decorrem
da ênfase dada pelos pesquisadores do campo:
Alguns autores falam de aprendizado de indivíduos nas
organizações, considerando ser esse um fenômeno no
plano individual. Há, no entanto, os que defendem que
as organizações, como entidades, também têm meca-
nismo de busca, acesso, estoque e uso do conheci-
mento gerado por seus membros, podendo-se falar em
uma aprendizagem da organização.
Com base no conceito de Bastos, Gondim e Loyola (2004),
a pesquisa em questão relaciona a importância da avaliação do
aprendizado do treinamento como um processo que parte do nível
individual para agregar ao coletivo, o que contribui para o acesso,
estoque e uso do conhecimento desenvolvido no processo de trei-
namento como fator de aprendizagem para a organização. Ainda
conceituando o processo de aprendizagem organizacional, Simon
(apud BASTOS, GONDIM E LOYOLA, 2004, p. 223) define que se
trata do “crescimento de insights e de reestruturações bem suce-
didas de problemas organizacionais, provenientes de indivíduos
que exercem papéis decisivos na estrutura e nos resultados da
organização.” Já Dibella, Nevis e Gould (apud BASTOS, GON-
DIM E LOYOLA, 2004, p. 223) propõem que a aprendizagem é
“[...] a capacidade, conjunto de processos internos que mantém
ou melhoram o desempenho baseado na experiência, cuja ope-
racionalização envolve a aquisição, a disseminação e a utilização
do conhecimento.” Neste contexto, o processo de avaliação do
aprendizado do treinamento corrobora para a mensuração da
aquisição e de retenção do conhecimento pelo treinando, prepa-
rando o espaço para eficiente disseminação deste conhecimento
e seu consequente uso pela organização.
2.2 METODOLOGIA
Com base nos objetivos propostos neste trabalho, quanto
ao seu fim, esta pesquisa tem caráter descritivo, pois de acordo
com Vergara (2000, p. 47) “expõe características de determi-
nada população ou de determinado fenômeno. Pode também
estabelecer correlações entre variáveis e definir sua natureza.
Não tem compromisso de explicar os fenômenos que descreve,
embora sirva de base para tal explicação.”
Quanto aos métodos, a pesquisa tem duas definições: pes-
quisa bibliográfica e pesquisa de campo. A pesquisa bibliográfi-
ca foi orientada para o levantamento de conceitos e enunciados
teóricos sobre avaliação da eficácia de treinamento e do mode-
lo de avaliação de Kirkpatrick. A pesquisa de campo foi utilizada
para a coleta dos dados da avaliação do aprendizado, tendo
como definição, conforme Vergara (2000, p. 47), como “[...] in-
vestigação empírica realizada no local onde ocorre ou ocorreu
um fenômeno ou que dispõe de elementos para explicá-lo.” Na
pesquisa de campo, o instrumento utilizado para a coleta de da-
dos foi o questionário estruturado, no qual foi aplicado no início
(denominado de pré-teste) e no final do treinamento (denomi-
nado pós-teste). Foram formuladas treze questões acerca dos
conteúdos que seriam abordados no treinamento de sistema de
padronização, objetivando avaliar o conhecimento prévio sobre
os conteúdos do treinamento e da retenção deste conteúdo ao
final do processo. Estes questionários foram aplicados em uma
amostra de 31 empregados do setor operacional de uma em-
presa de saneamento no período de setembro de 2012.
Após a coleta dos dados, foram tabulados e analisados os
questionários por meio da comparação do pré-teste com o pós-
-teste, verificando o nível de aquisição e de retenção do conteú-
do transmitido no treinamento. Os dados foram tabulados com
a utilização do software MS-Excel.
2.3 EXPOSIÇÃO DA PESqUISA
Com a tabulação dos dados dos questionários de pré-
-teste, foi possível identificar a base inicial de conhecimento
dos treinandos acerca do conteúdo ministrado no treinamen-
to. A tabela 1 apresenta os resultados do pré-teste.
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Inicialmente o pré-teste possibilitou identificar o grau de
conhecimento relativo ao conteúdo ministrado, sendo que a
marcação de resposta na opção Sim demonstra que o trei-
nando possui um conhecimento prévio do assunto tratado no
treinamento. Em termos percentuais, seis das treze questões
tiveram maior percentual de respostas na opção Sim, enquanto
que sete questões tiveram a opção Não com maior percentu-
al. De maneira geral, é possível perceber no pré-teste que na
maioria das questões (questão 3, 4, 5, 8, 10, 11 e 13) a opção
Não representa o maior percentual, sinalizando uma lacuna
de conhecimento nos assuntos pertinentes a essas questões.
Identificou-se ainda que 7% das questões foram deixadas em
branco ou foram marcadas as duas opções, o que pode sinali-
zar dúvida ou falta de conhecimento acerca do conteúdo abor-
dado na questão.
Já o pós-teste, aplicado logo após o treinamento, permite
identificar a assimilação e retenção do conteúdo apresentado.
O pós-teste permite ainda identificar lacunas que porventura
possam ter ocorrido na disseminação do conteúdo. A tabela 2
apresenta os resultados do pré-teste.
O pós-teste possibilitou apurar o grau de retenção do con-
teúdo abordado, sendo que em onze das treze questões a op-
ção Sim obteve maior percentual de resposta. Nas questões 8
e 13, apesar de terem maior percentual na opção Não, ocorreu
uma redução deste percentual em comparação com o pré-teste,
demonstrando uma evolução na assimilação do conteúdo per-
tinente as questões, embora indica ainda uma necessidade de
maior detalhamento na disseminação daquele assunto. Identifi-
cou-se ainda que 3% das questões foram deixadas em branco
ou foram marcadas as duas opções, que em comparação com
o pré-teste, representa uma redução do percentual anterior (de
7%). Em termos comparativos, o pré-teste e o pós-teste permi-
tem avaliar a eficácia do treinamento quanto aos objetivos de re-
passe do conteúdo pelo instrutor e de retenção deste conteúdo
pelos treinandos. Para isso, a tabela 3 apresenta a comparação
dos resultados dos testes aplicados.
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 17
A comparação dos testes permite analisar o grau de evolução
dos percentuais de cada questão. Para esta evolução considera-se
o aumento do percentual da opção Sim ou a redução do percen-
tual da opção Não. A tabela 3 demonstra que em doze das treze
questões ocorreram evolução percentual, que relacionando com a
análise de avaliação do aprendizado, permite contribuir para au-
mento da linha de eficácia, que conforme conceituação de Cam-
pos e Guimarães (2008) é o alcance dos requisitos especificados.
Neste caso, tem-se como requisito a disseminação e a consequen-
te retenção dos conteúdos apresentados no treinamento. Quanto
às questões sem resposta, observa-se uma redução percentual
de 48%, demonstrando uma evolução significativa neste quesito,
caracterizando também uma linha de eficácia positiva quanto aos
requisitos especificados no treinamento.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como objetivo analisar a aplicabilida-
de da avaliação de eficácia de treinamento no que tange a
importância da avaliação do aprendizado, tendo como base
teórica o sistema de avaliação de treinamento em níveis pro-
posto por Kirkpatrick. Nesse contexto, buscou-se, por meio
da pesquisa bibliográfica, um aprofundamento do conceito
de avaliação de treinamento e de sua importância, além da
sua relação com a aprendizagem organizacional.
Pautado na etapa específica da avaliação do aprendiza-
do, sendo esta etapa o segundo nível do modelo de avalia-
ção de treinamento de Kirkpatrick, os resultados obtidos na
pesquisa de campo demonstram a importância da avaliação
do aprendizado para avaliar a retenção de conhecimento
transmitido no treinamento pelos treinandos. Na compara-
ção dos resultados do pré-teste e do pós-teste, fica eviden-
te que há retenção e aumento do conhecimento por parte
dos treinandos, o que permite identificar o nível de eficá-
cia do repasse dos conteúdos propostos, bem como sua
contribuição para o desenvolvimento da aprendizagem or-
ganizacional. Por meio dos testes, pode-se também avaliar
a necessidade de aprofundamento de alguns conceitos que
não obtiveram um resultado expressivo em termos de assi-
milação e retenção, sendo ferramenta norteadora do instru-
tor para melhoria do processo de treinamento.
Para que se tenha uma adequada avaliação da eficácia do
treinamento, o modelo de Kirkpatrick orienta para a aplicação dos
quatro níveis (reação, aprendizado, comportamento e resultados),
sendo esta composição ideal para que as organizações possam
mensurar de maneira mais completa a eficácia de um programa de
treinamento. Atualmente as organizações fazem uso incompleto do
modelo, ou seja, utilizam somente um ou alguns dos níveis, e não
do sistema completo proposto pelo modelo de Kirkpatrick.
Portanto, esta pesquisa propõe incentivar a aplicação
completa do modelo de avaliação de Kirkpatrick nas organi-
zações, visando obter uma avaliação adequada da eficácia
do treinamento. Somente a avaliação do aprendizado não
garante obtenção total da eficácia de um treinamento. A ava-
liação do aprendizado é uma importante e complementar eta-
pa dentro dos quatro níveis propostos, podendo ser utilizada
como instrumento de feedback para instrutor e treinandos,
visando o desenvolvimento e melhoria dos programas de trei-
namento das organizações.
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NOTAS DE FIM1 Wilimar Junio Ruas. Administrador com habilitação em Marketing pelo Centro Universitário Newton Paiva; Especialista em Gestão Estratégica da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG; Es-pecialista em Gestão de Pessoas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Endereço eletrônico: [email protected]
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gestão Do ConHeCimento: apLiCação nas organizaçÕes em uma perspeCtiVa sistÊmiCa1
Jeanne Cristina Martins Rodrigues1
Maria Efigênia Nagem.Moreira2
Sandra Helena Lopes Nogueira3
RESUMO: O artigo aborda a aplicação do conhecimento nas organizações, numa perspectiva sistêmica, e destaca sua importância na atualidade como valor
agregado aos produtos e/ou serviços oferecidos pelas empresas. Inicialmente tem a conceituação de conhecimento e visão sistêmica e posteriormente o
enfoque da aplicação desse conhecimento nas empresas com essa visão. São caracterizados itens, como o conhecimento agregado aos inputs e outputs do
processo produtivo e a importância do estímulo ao capital intelectual. Foi utilizada a metodologia de pesquisa bibliográfica e observou-se que a relevância
desse tema se justifica no contexto de transformação da sociedade atual. Conclui-se que a aplicação da gestão do o conhecimento é fundamental nas organi-
zações com visão sistêmica.
PAlAVRAS-ChAVE: Aprendizagem organizacional. Capital humano. Capital intelectual. Gestão do conhecimento. Visão sistêmica.
INTRODUÇÃO
As organizações tem passado por grandes transforma-
ções na contemporaneidade e, com isso, buscam cada vez
mais a otimização de seus produtos, serviços, processos, re-
sultados e, consequentemente, a maior satisfação dos seus
clientes/consumidores.
Percebe-se a transição de uma visão tradicional, caracte-
rizada por métodos mecanicistas de trabalho, para uma visão
sistêmica dos negócios e para a eficácia na gestão, pautada no
desenvolvimento das competências, tanto individuais quanto or-
ganizacionais. Dessa forma, essa visão ampla está relacionada ao
capital e ao trabalho e considera fatores que interferem nos pro-
cessos produtivos, com destaque para a gestão do conhecimento.
Esses temas, conhecimento e perspectiva sistêmica, se
justificam pela relevância no contexto de transformação da
sociedade atual e foram trabalhados aqui com a utilização da
metodologia de pesquisa bibliográfica. São apresentadas con-
ceituações sobre os temas para depois fazer a associação de
gestão do conhecimento e perspectiva sistêmica.
CONHECIMENTO
Segundo SVEIBY (1998), “[...] a palavra conhecimento pa-
rece ter vários significados. Pode significar informação, cons-
cientização, saber, cognição, sapiência, percepção, ciência, ex-
periência, qualificação, discernimento, competência, habilidade
prática, capacidade, aprendizado, sabedoria, certeza [...] “
BEAL (2004) sintetiza a interação entre dados, informação e
conhecimento. Afirma que essa interação possibilita a compre-
ensão das relações e o entendimento de padrões e princípios,
conforme apresentado na figura 1 seguinte:
Para SILVEIRA (2004), o conhecimento é gerado a partir do
estabelecimento de relações entre diversos tipos de informa-
ções que o ser humano adquire durante a vida, e é construído
de diversas formas e meios, como conversas, experiências, im-
pressões, valores e crenças.
Conforme DRUCKER (1993), os meios de produção não
serão mais o capital, nem os recursos naturais, nem a mão-de-
-obra. Eles serão o conhecimento.
As atividades centrais de criação de riqueza não se-
rão nem a alocação de capital para usos produtivos,
nem a “mão-de-obra”, os dois pólos da teoria eco-
nômica dos séculos XIX e XX, quer ela seja clássica,
marxista, keynesiana ou neoclássica. Hoje o valor é
criado pela “produtividade” e pela “inovação”, que
são aplicações do conhecimento ao trabalho. Os
Figura 1: Níveis Hierárquicos da Informação:
DADOS
iNFORMAÇÃO
CONHECIMENTO
Registros ou fatos em estado bruto:. Facilmente estruturados. Facilmente transversíveis. Facilmente armazenados
Dados dotados de relevância e propósito:. Exige consenso em relação ao seu significado
Combinação de informação, experiências, insights:. Inclui reflexão, síntese e contexto. De difícil estruturação. De difícil captura em máquinas. De difícil transferência
Fonte: adaptado de BEAL (2004)
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principais grupos sociais da sociedade do conhe-
cimento serão os “trabalhadores do conhecimento”
– executivos que sabem como alocar conhecimento
para usos produtivos (...) (DRuCKER, 1993).
Vivemos a era do conhecimento, e como tal o investimento
na inteligência é essencial. TERRA (2003) aborda que na era in-
dustrial os esforços eram voltados a melhorar os processos pro-
dutivos. Na era do conhecimento existe o desafio de influenciar
a condução desses processos. O autor acrescenta que a com-
petitividade é manifestada de forma crescente em função da ca-
pacidade do ser humano de agregar inteligência aos processos
de trabalho. Assim, dentro de um contexto amplo dos desafios
da competitividade, o significado da gestão do conhecimento
torna-se mais evidente e estratégico. “A gestão proativa do co-
nhecimento adquire um papel central para a competitividade,
tanto das empresas como dos países” (TERRA, 2005).
Para DAVENPORT e PRUzAK (1998, p. 23), “Conhecimento
não é dado nem informação, embora esteja relacionado com
ambos e as diferenças entre esses termos sejam, normalmente
uma questão de grau”.
MERLO (2005) afirma que é fundamental o repensar dos fato-
res críticos e competitivos, deparando-se com a valorização de um
ativo “intangível” como componente de um modelo emergente de
gerenciamento. Trata-se de um modelo que despreza a visão de
controle e poder ao passo em que prioriza e promove a criação de
uma cultura de interação, participação e transparência
Em complementação às conceituações mencionadas,
STEWART (1998) assinala que “a informação e o conhecimento
são as armas termonucleares competitivas de nossa era”.
CONHECIMENTO TÁCITO E EXPLíCITO
Para melhor caracterização do conhecimento é importante
a diferenciação do conhecimento tácito e explícito, conforme
NONAKA e TAKEUCHI (1997): o conhecimento tácito é a experi-
ência, o poder de inovação e habilidades para realizar as tarefas
do dia-a-dia. O conhecimento explícito são os procedimentos,
banco de dados, patentes, relacionamento com clientes (sof-
twares de última geração que conseguem realizar com rapidez
o que o ser humano levaria muito tempo para fazer: processar
grande massa de dados e tirar dela informações importantes
para o sucesso do negócio).
FLEURY (2001) caracteriza o conhecimento explícito como
um conhecimento transmissível em linguagem formal e siste-
mática e o conhecimento tácito com uma qualidade mais pes-
soal, tornando sua formalização e comunicação mais difícil.
Segundo BEAL (2004), conhecimentos explícitos são aqueles
que podem ser transformados em documentos, rotinas e treina-
mentos. O conhecimento tácito é mais difícil de registrar, docu-
mentar para ensinar a outras pessoas, como por exemplo, a ca-
pacidade de liderança que, embora seja claramente identificada
em determinadas pessoas, é de difícil transmissão ou descrição.
TERRA (2003) defende que o conhecimento tácito dos co-
laboradores é a principal forma de riqueza organizacional, que
é desenvolvido ao longo da vida e é influenciado pela cultura e
valores, acesso à informação e a experiências vivenciadas.
FLEURY e OLIVEIRA (2002) afirmam que devido ao papel
do conhecimento, que atualmente ocupa uma posição central
e estratégica nos processos econômicos, os investimentos em
ativos intangíveis crescem mais rápido que os investimentos em
ativos físicos ou tangíveis, de tal forma que as empresas e os
indivíduos que detém um maior conhecimento são mais bem
sucedidos, produtivos e reconhecidos.
PERSPECTIVA ORGANIZACIONAL TRADICIONAL X SISTÊMICA
De acordo com HAMMER (2003), as antigas as teorias da
organização abordam aspectos como divisão do trabalho, hie-
rarquia administrativa, controle minucioso, departamentos iso-
lados. A ótica é a de que cada executivo deve preocupar-se
exclusivamente com sua própria função e atividades derivadas,
não percebendo as demais. Desse modo, as responsabilidades
principais se perdem na lacuna entre departamentos funcionais
e os gestores não conseguem perceber a relevância e a inter-
face entre todas as áreas da organização e sua relação com o
ambiente no qual está inserida.
Já a visão sistêmica de uma organização, conforme HAMMER
(2003), retrata um enfoque exigido pela dinâmica da sociedade
atual, que impulsiona a melhoria do desempenho no atendimento
ao cliente, ao considerar um mercado competitivo, globalizado e
com variações no comportamento do consumidor.
A perspectiva sistêmica enfoca que as organizações traba-
lham com processos integrados e não fragmentados, de forma a
propiciar uma visão global e mais ampla do trabalho. Além disso,
parafraseando HAMMER (2003), a cultura deve ser baseada na
cooperação, no trabalho em equipe e com foco no cliente.
A teoria tradicional das organizações (o enfoque mecâni-
co), apresenta o caráter fechado das estruturas sociais. Por sua
vez, a teoria da visão sistêmica enfatiza a necessária dependên-
cia de organização em relação ao sistema de valores do meio
ambiente (interno e externo).
Nessa perspectiva sistêmica, OLIVEIRA (2002) define as
organizações como um sistema aberto, dinâmico e com um
continuo processo de entradas, transformações e saídas. As
entradas incluem pessoas, matérias-primas e energia; que são
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transformadas dentro da organização para gerar uma saída
com um produto ou um serviço de valor agregado para o clien-
te. O ambiente organizacional interno, por meio de feedback
externo, deve analisar permanentemente sua efetividade e diag-
nosticar os impactos externos e seus reflexos, que contribuirão
para as mudanças necessárias em atendimento ao mercado
externo. Esse é o ciclo vital das organizações.
MORGAN (1996) postula que muitas empresas são pla-
nejadas à imagem das máquinas, sendo esperado que seus
empregadores se comportem como se fossem partes delas. A
palavra de controle é a ordem, sendo o trabalho especializado,
simples e rotineiro. Essas organizações são chamadas de buro-
cracias. Enfatiza que, em contraposição, as organizações vistas
como organismos existem em um ambiente mais amplo, que
abrange o micro e o macroambiente (visão sistêmica).
Ainda segundo MORGAN (1996), a visão mecanicista levou
teóricos organizacionais a se inspirarem na biologia como fon-
te de idéias para a reflexão sobre as organizações. Psicólogos
organizacionais demonstraram que as estruturas burocráticas,
os estilos de liderança e a organização do trabalho podem ser
modificados com uma visão sistêmica e criar cargos motivado-
res que encorajam as pessoas no exercício de sua capacidade
de autocontrole e criatividade.
Enfim, a empresa com perspectiva sistêmica é aquela com
visão do todo, com suas interdependências e interfaces, que
buscam alternativas integradas para atingir as metas, por meio
da análise do ambiente interno e externo. Para isso, é preciso
trabalhar com o conhecimento.
A APLICAÇÃO DO CONHECIMENTO NA ORGANIZAÇÃO
COM PERSPECTIVA SISTÊMICA
Com a competitividade, as empresas precisam ser, dentre
outros fatores, altamente eficientes e eficazes e, para isso, a
visão sistêmica e a aplicação do conhecimento são fundamen-
tais, com a observação das etapas seguintes etapas:
CONHECIMENTO DOS inputs E outputs DO
PROCESSO PRODUTIVO
Em um processo produtivo existem inputs e outputs. Se-
gundo TERRA (2005) os inputs são matéria-prima, energia,
máquinas e mão-de-obra. Os outputs são os produtos gerados
pelos processos produtivos.
Então, deparando com os conceitos de TERRA (2003), Para
o adequado andamento desses processos produtivos as em-
presas precisam de pessoas capazes de tomar decisões para o
desenvolvimento dos trabalhos, com a analise das interfaces e
interdependências entre as áreas, reorganização, sequência de
produção, implementação de melhorias freqüentes, ou seja, é
preciso agregar inteligência como inputs nos processos produ-
tivos e outputs aos produtos e/ou serviços gerados, bem como
transformar o conhecimento tácito em explícito.
INVESTIMENTO NO CAPITAL INTELECTUAL
STEWART (1998), enfatiza que o conhecimento tornou-se
o principal ingrediente do que se produz, compra e vende e
administrá-lo tornou-se a tarefa econômica mais importante das
empresas. A indústria está se desmaterializando, sendo forçada
uma reconceituação do significado dos termos produção e pro-
duto. Assim, é preciso estimular o capital intelectual com uma
administração participativa que só é possível na organização
com visão sistêmica, que está atenta a um ambiente propício
à valorização e propagação do conhecimento. Por isso, cada
vez mais, boa parte dos investimentos e esforços em gestão
buscam melhorar a capacidade criativa, a tomada de decisão e
o emprego de melhores técnicas e métodos produtivos, já que
o resultado do trabalho intelectual passa a fazer a diferença.
A gestão do conhecimento deve apoiar-se em um quadro
referencial que inclui tecnologia, processos e pessoas. O am-
biente organizacional deve ser inspirador e a criatividade des-
pertada e estimulada. Para VASCONCELOS (2002), a criação
de um ambiente de confiança é hoje indispensável à gestão
empresarial e sem ele, o trabalho em equipes, a criatividade e o
compartilhamento do conhecimento ficam prejudicados.
Cabe ao gestor esse papel fundamental para a aplicação do
conhecimento nas organizações, com a responsabilidade de es-
timular a motivação e a criatividade das equipes com base nos
resultados finais do processo, além de trabalhar as habilidades
interpessoais, organizacionais e analíticas (HAMMER, 2003).
APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL
SENGE (1998) retrata a importância do aperfeiçoamento da
formação da estratégia empresarial em organizações que este-
jam atuando em ambientes hipercompetitivos ou vivenciando
novas realidades institucionais e regulatórias.
SENGE (1998) diz que é preciso “aprender e aprender”,
ou seja, incorporar novas formas de perceber, pensar e agir,
já que uma empresa que aprende é capaz de: obter van-
tagens competitivas; gerar comprometimento de seus cola-
boradores, conseguir sinergia, administrar a mudança; reco-
nhecer a sua rede de interdependências e criar a realidade
que seus membros desejam.
Ainda, segundo SENGE (1998), as empresas de sucesso
contam com pessoas inteligentes, que com o tempo aumenta-
ram sua capacidade de criar aquilo que normalmente desejam
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criar, que transformam o conhecimento individual em coletivo:
A figura 2 ilustra essa teoria, com a utilização das cinco
disciplinas caracterizadas por SENGE (1998), ao considerar
que os membros de uma empresa devem desenvolver as
seguintes capacidades que aprendizado: reflexão e diálogo;
aspirações e conceituação.
De acordo com as caracterizações de SENGE (1998), es-
sas disciplinas englobam:
l domínio pessoal: as organizações somente
aprenderão se possuir indivíduos com o desejo e a
capacidade de aprender, por meio do autoconheci-
mento, para expandir suas capacidades pessoais e
obter os resultados desejados;
l modelos mentais: é um sistema de valores base-
ado nas descobertas pessoais, influenciadas por ex-
periências familiares, sociais e culturais. Esclarecer e
melhorar continuamente os modelos mentais ajuda a
melhorar a imagem que cada um tem do mundo, com
o intuito de verificar idéias, atos e decisões que influen-
ciam o modo de como a organização será gerida;
l aprendizagem em equipe: a aprendizagem em equipe
une as aptidões coletivas ao pensamento e à comunicação.
Desenvolve no grupo inteligência, dialogo e proposição de
idéias para participar da elaboração de uma lógica comum;
l visão compartilhada: é função dos lideres tornar os
objetivos da organização concretos e legítimos, desenhar
imagens do futuro e estimular o engajamento do grupo.
As pessoas devem dedicar à esses objetivos não por
obrigação, mas por comprometimento e vontade própria;
l pensamento sistêmico: é a pedra fundamental das
organizações de aprendizagem, pois, o pensamento
sistêmico se integra as demais disciplinas por meio de
um modelo conceitual, com instrumentos que visam
melhorar continuamente os processos de aprendiza-
gem, tornando as ações de aprendizado e as demais
disciplinas inter-relacionadas.
FLEURY (2001) descreve alguns pontos essenciais para
gerar a dinâmica da aprendizagem na empresa:
l O processo de inovação e de busca continua da capa-
citação e qualificação das pessoas e das organizações
deve ser um processo permanente, jamais esgotado;
l O processo de aprendizagem deve ser um proces-
so coletivo, partilhado por todos e não privilégio de
uma minoria pensante;
l A comunicação deve fluir entre pessoas, áreas, níveis,
visando à criação de competências interdisciplinares.
CONCLUSÃO
Uma empresa com visão tradicional trabalha basicamen-
te com o conhecimento individual e considera que cada ges-
tor é responsável e limitado à sua área específica de atuação.
A visão sistêmica em uma organização, com a quebra de
velhos paradigmas é importantíssima para enfrentar as mudan-
ças de mercado geradas pela competitividade. Para se sobres-
saírem e por uma questão de sobrevivência, as empresas pre-
cisam trabalhar com essa visão sistêmica e atentarem-se para
as interfaces e as interdependências entre suas diversas áreas,
com a análise do ambiente interno e externo.
Na empresa com visão sistêmica a transformação do co-
nhecimento tácito em explícito torna-se mais evidente, pois os
inter-relacionamentos entre as áreas possibilitam a criação do
conhecimento e a geração do conhecimento coletivo, transfor-
mados em procedimentos, normas e critérios, dentre outros fa-
tores, que irão nortear a empresa rumo a seus objetivos.
Face ao exposto, as influências oriundas de fatores inter-
nos e externos (visão sistêmica) e a gestão do conhecimento
tem sido percebidas como resultado de um novo paradigma
organizacional que prevê maior valorização do indivíduo e sua
capacidade em gerar inovação, produtividade e inteligência.
Figura 2: As cinco disciplinas
PENSAMENTOSISTÊMICO
VISÃOCOMPARTILHA-
DA
DOMÍNIOPESSOAL
APRENDIZAGEMEM EQUIPE
MODELOSMENTAIS
Fonte: adaptado de SENGE (2003)
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NOTAS1 Professora do Centro Universitário Newton Paiva - Disciplinas Em-preendedorismo e Projetos Empresariais, Gestão de Vendas e Ne-gociação, Administração Mercadológica, Administração de Confli-tos e Negociação, Gestão de Relacionamento com Fornecedores e Clientes, Gestão de Pessoas, Estratégia de Vendas e Negociação. E--mail:[email protected]
2 Professora do Centro Universitário Newton Paiva - Disciplina de Ges-tão de Processos
3 Professora do Centro Universitário Newton Paiva - Disciplinas Com-portamento Organizacional, Comportamento do Consumidor, Desen-volvimento Organizacional, Gestão de Pessoas, Mudança e Negocia-ção, Psicologia Organizacional, Psicologia do Consumidor.
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a importânCia Do empreenDeDorismo nas organizaçÕes: estuDo De Caso Da empresa eXpresso gLoBaL LtDa
Ana Maria Ribeiro Santiliano
Priscilla Evangelista de Oliveira1
Raphael Nilton Santos1
Thais Lílian Fagundes Lopes1
Herbert José de Goes
Laila Maria Hamdan Alvim
RESUMO: Toda organização que visa alcançar seus objetivos, buscando a eficiência na utilização de seus recursos, e eficácia no atendimento das necessida-
des de seus clientes, deve prezar pela organização de seus processos e na clareza de suas informações. A empresa planejada e estruturada a partir de seus
processos tende a maximização de seus resultados e desperdício mínimo. Esse artigo expõe a realidade empresarial de uma organização voltada para o ramo
do motofrete e traz a principal dificuldade de se trabalhar com esse nicho do mercado.
PAlAVRAS-ChAVE: Eficiência. Eficácia. Realidade empresarial. Motofrete.
INTRODUÇÃO
No Brasil, existem vários tipos de transportes de cargas
e pessoas, sendo fundamental para o processo de gestão
de qualquer empresa. Este ramo auxilia as organizações do
mercado a concluírem seus processos, desde a entrega de
documentos que precisam ser assinados com urgência, até o
transporte da matéria-prima para dar início à produção de gran-
des indústrias. Estes processos são diferenciados, variando de
acordo com os tipos de cargas e as formas de transporte. A Ex-
presso Global Ltda., empresa abordada nesse artigo científico,
surgiu visando, o atual crescimento da atividade moto frete, que
é formado por motoboys autônomos e empresas especializa-
das. Existe atualmente cerca de um milhão de pessoas atuando
nesse nicho do mercado.
Os chamados “motoboys” estão presentes nas cidades
brasileiras há muitos anos, trabalhando como mensageiros,
moto-taxistas, dentre outros. Especificamente em Belo Hori-
zonte/ MG, é notável que o número de motocicletas aumenta
mensalmente. Segundo a BHTRANS (Empresa de Transpor-
tes e Trânsito de Belo Horizonte) houve um crescimento de
20,2% entre janeiro de 2008 e maio de 2009 e mais de 6% em
2011. Hoje existem aproximadamente 174.365 motocicletas
circulando na capital.
Um fato que confirma o crescimento desse mercado é a
regularização do serviço. Antes, para trabalhar como motoboy,
bastava ter no mínimo 21 anos, habilitação tipo A e uma motoci-
cleta, sem a necessidade de nenhuma especialização, apenas
conhecer bem a cidade em que estaria circulando.
Devido essa rotina estressante e corrida, as exigências de
prazos e horários e o desrespeito às normas e leis de trânsito
é alarmante o número de acidentes envolvendo motoboys. Por
isso, hoje, o Código Brasileiro de Trânsito exige equipamentos
obrigatórios de segurança. A motocicleta deve estar matricu-
lada na categoria “aluguel”, equipada com “corta-pipa” e um
motor “mata-cachorro”. Durante o trabalho, é necessário usar
o colete de segurança e o capacete devidamente sinalizados
com adesivos refletores. Caso deixe de cumprir uma dessas
normas, corre o risco de ser multado. O profissional que traba-
lha com transportes de mercadorias deve ter instalado na moto
um baú que seja autorizado pelo Conselho Nacional de Trânsito
(CONTRAN). As novas leis entram em vigor a partir de agosto
de 2012 com intuito de filtrar os profissionais, adequando-os às
leis de trânsito.
O moto frete é um ramo que altera conforme a globalização
e a necessidade do mercado, enfrentando vários problemas ex-
ternos como a clandestinidade, o alto número de concorrentes
e o crescente número de acidentes no trânsito.
DESCRIÇÃO DA EMPRESA EXPRESSO GLOBAL LTDA
A Expresso Global Ltda. foi fundada no dia 11 de feve-
reiro de 2001 por Walisson Alvin, único dono. Localizada na
Rua Ouro Preto, 137 - 1° andar no Bairro Barro Preto em Belo
Horizonte/ MG, conta com 62 funcionários, dentre ao quais
estão uma contadora, dois auxiliares administrativos, um di-
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retor que é o responsável pelas demais áreas da empresa
incluindo desde a logística até recursos humanos e mais de
50 motoristas. Os serviços oferecidos vão desde o transporte
executivo de passageiros, transporte de pequenas cargas e
moto frete, que é o forte da empresa.
Todos os motoboys trabalham com carteira assinada
e possuem o veículo próprio, recebendo um salário fixo de
R$1.332,00 (Hum mil trezentos e trinta e dois reais). O sistema
de informação adotado pela empresa é o Triax, que possibilita
o cadastro de clientes pessoa física ou jurídica, a entrada das
Ordens de Serviços (OS), a administração dos processos e o
faturamento mensal (notas fiscais e boletos bancários).
Além da prestação de serviços temporários, a empre-
sa trabalha com o aluguel de motoboys. Ou seja, o cliente paga
uma mensalidade de R$2.480,00 (Dois mil quatrocentos e oiten-
ta reais) para ter o motoboy fixo à sua disposição na empresa.
A Expresso Global é referência no mercado de moto frete pela
sua estrutura organizada e voltada para a satisfação do cliente,
porém enfrenta problemas com o seu capital humano. A falta
de compromisso dos motoboys com a empresa é um fator pre-
ocupante e denegri a imagem da mesma perante a sociedade,
gerando um marketing negativo. Por ser uma organização de
pequeno porte, ela não dispõe de um setor de Recursos Huma-
nos, o que talvez seja a razão principal desse problema.
OBJETIVO
Mostrar a importância das ferramentas empreendedoras na
resolução de problemas de uma empresa de transportes de pe-
queno porte, qualificando-a para a eficiência empresarial.
METODOLOGIA
O trabalho foi realizado por meio de pesquisas e visitas à
empresa Expresso Global Ltda. A pesquisa pode ser classifi-
cada quanto aos fins como pesquisa descritiva e explicativa
e quanto aos meios como pesquisa de campo, bibliográfica
e estudo de caso.
DIAGRAMA DE ISHIKAWA
De acordo com Takakura Junior o Diagrama de Ishikawa é
uma ferramenta gráfica proficiente, utilizada nas empresas visando
à melhoria no controle de qualidade nos processos e tem como
fundamento reunir as causas que estão na origem do problema.
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DESCRIÇÃO DO DIAGRAMA
A análise de custos baseia-se, fundamentalmente, na
identificação dos custos e despesas gerados pelos processos
diários. O planejamento empresarial envolve a seleção de ob-
jetivos, bem como a definição dos meios para atingi-los. Neste
âmbito, cabe assinalar que a maximização dos lucros constitui
o objetivo mais relevante e clássico de qualquer organização
empresarial (organizações que exercem atividade econômica
organizada, para a produção de bens ou serviços com fins lu-
crativos). Visando direcionar estratégias efetivas para maximizar
a receita e minimizar os custos, ou seja, manter o lucro sem-
pre maior que a despesa, é imprescindível ter pleno controle e
conhecimento das estruturas de custos e as formas de rateio
mais adequadas para encontrar o ponto de equilíbrio e atingir
as metas estipuladas.
Todos os motoboys recebem um salário em carteira com
o valor de R$1.332,00 (Hum mil trezentos e trinta e dois reais),
distribuídos categoricamente como:
l Salário fixo: R$600,00 (Seiscentos reais).
l Aluguel da moto: R$500,00 (Quinhentos reais).
l Vale alimentação: R$232,00 (Duzentos e trinta e
dois reais).
*Dados fornecidos pela empresa Expresso Global Ltda.
Ela tem parceria com um restaurante da região, que oferece
alimentação aos empregados, ou seja, além do vale alimentação,
os funcionários podem almoçar sem custo nas proximidades.
O principal objetivo da Expresso Global nesse momento é re-
duzir desmotivação dos motoboys. Dentre as principais causas do
problema, estão:
l Remuneração fixa: independente do esforço e
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 27
número de atendimentos, os motoboys continuarão
recebendo o mesmo salário. Outra causa ligada à re-
muneração é a acomodação dos funcionários, por re-
ceberem um salário acima da média do mercado.
l Falta de expectativas: os motoboys não são esti-
mulados, não têm horários específicos, não prestam
outros serviços enquanto permanecem dentro da em-
presa, falta espírito de equipe e cultura organizacional.
l Falha na Comunicação: os motoboys não têm credi-
bilidade, portanto não dão sugestões. As expectativas
e metas da empresa não são compartilhadas entre lí-
deres e liderados.
l Desorganização: os bons motoboys trabalham em
excesso para compensar o descompromisso dos outros.
Possíveis reajustes para alcançar melhores resultados:
l Definir metas e bonificações (monetárias ou em folgas
de horas trabalhadas), de acordo com o tempo e, quanti-
dade de clientes atendidos num período definido.
l Equipar as motos com aparelhos que não deixem a
velocidade ultrapassar de 80km/h, para que acidentes
sejam evitados devido à competitividade.
l Apresentar planos de carreira estimulando os mo-
toboys a desenvolver suas funções crescendo junto à
empresa. Oferecer oportunidades de convivência entre
os funcionários gerando o espírito de equipe.
l Abrir espaço para que os motoboys manifestem
suas opiniões sobre as decisões que serão cabíveis a
eles mesmos.
l Estabelecer critérios de avaliação para que os mo-
toboys não sejam sobrecarregados e sejam remunera-
dos de acordo com suas funções.
Após estudar os custos fixos e variáveis de todos os seto-
res da Expresso Global e identificar a margem de contribuição
de cada funcionário. Foi feito um levantamento de alguns cus-
tos, detectando quais as melhores maneiras de evitá-los. De
acordo com a análise foram oferecidos a Expresso Global os
seguintes recursos, visando o custo e o benefício:
Fonte: Quadro desenvolvido pelos integrantes do grupo.
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Com essas modificações os motoboys terão mais entusias-
mo ao trabalhar, visto que a empresa transparecerá maior credi-
bilidade e segurança ao agir.
A Gestão de Processos trata da organização por métodos,
garantindo a qualidade nos meios de produção para atingir um re-
sultado eficaz. Ter um amplo conhecimento dos processos incen-
tiva a criatividade, facilitando o atendimento aos clientes e dando
ênfase nos esforços dos colaboradores da organização.
Na Expresso Global o processo de moto frete é prepa-
rado de acordo com a necessidade e expectativa do cliente,
baseando-se nas seguintes etapas:
l Cliente entra em contato via telefone e solicita o serviço.
l Atendente anota a solicitação e entra em contato
com o motoboy mais próximo.
l Motoboy gera a Ordem de Serviço e inicia a transi-
ção da mercadoria.
l Cliente faz a conferência e assina a Ordem de Serviço.
l Motoboy recolhe Ordem de Serviço, deixa a 1ª via
com o cliente e encaminha a 2ª via assinada para o
setor administrativo.
l Auxiliar administrativo cadastra a Ordem de Ser-
viço no sistema.
l Setor financeiro emite a Nota Fiscal e o boleto ban-
cário no final do mês, constando todos os serviços
prestados no período.
As atividades citadas acima estão logicamente inter-
-relacionadas e, quando são encadeadas adequada-
mente, passam a compor um processo, como repre-
sentado na Figura 2.
FIGURA 2 - FLUXOGRAMA DO PROCESSO DE ATENDIMENTO DO MOTO FRETE DA EMPRESA EXPRESSO GLOBAL LTDA.
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A comunicação e redação empresarial é fundamental
dentro de uma organização, tanto para a eficácia de seus
processos, quanto para manter um clima organizacional
agradável. Como diz Medeiros (2010), favorecem a efetividade
da comunicação:
l Ter um objetivo em mente.
l Ter informações suficientes sobre o fato.
l Planejar a estrutura da comunicação a ser feita.
l Conhecer o significado de todas as palavras ne-
cessárias.
l Tratar do assunto com propriedade.
A sobrevivência de qualquer organização depende da boa
comunicação, pois é através dela que existe o entendimento do
processo de trabalho. “O sucesso empresarial também depende
de um sistema de comunicação eficaz, tanto interna, quanto exter-
namente. A comunicação imprecisa, ambígua e insuficiente tem
gerado a ruína de muitos empresários” (MEDEIROS, 2010, p. 3).
O planejamento e controle dos processos de uma orga-
nização ajuda na tomada de decisões, na otimização dos recur-
sos para a minimização do desperdício e na fiscalização da ca-
pacidade de serviços a serem prestados. Segundo Rebouças
(2004), o planejamento é um processo contínuo, que envolve
um conjunto complexo de várias decisões inter-relacionadas. “A
partir de um objetivo, esperam-se alguns resultados, que serão
consequências de atividades e recursos disponíveis, baseados
em ações padronizadas, de acordo com a política e filosofia da
organização, que gerarão informações para controle” (SERRA-
VITE / NUNAN, 2010, p. 9).
O controle dos processos de uma organização preocupa-
-se também com a perspectiva de aprendizado e de crescimen-
to de seus colaboradores, oferecendo infraestrutura e treina-
mentos que, consequentemente, possibilitarão a consecução
de objetivos ambiciosos e metas lucrativas. O planejamento
dos processos voltado para pessoas preocupa-se em garantir
resultados a longo prazo monitorando três capacidades prin-
cipais: capacidade dos funcionários; capacidades dos siste-
mas de informação; motivação, empowerment e alinhamento.
O empowerment trata da delegação de autoridade, baseia-se
na distribuição de tarefas e responsabilidades, com o intuito de
aumentar a autonomia e participação dos funcionários. Está li-
gado à Gestão de Recursos Humanos e busca a excelência na
prestação de serviços.
SUGESTÃO PROPOSTA
Após um mês de análise sugeriu-se que a Expresso Global
contratasse um consultor de RH para auxiliar na gestão da em-
presa, pois não é viável a instalação de um setor de Recursos
Humanos numa empresa de pequeno porte. Outra sugestão foi
a contratação de uma empresa especializada na captação de
pessoas, aperfeiçoando o processo de recrutamento e seleção
de motoboys capacitados, o que evitaria o sobrecarregamento
da organização na feitura do processo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que, apesar da atividade de moto frete ser hoje
imprescindível para a economia e atividades comerciais, ainda
há muito que se desenvolver nessa área. Com base na visita re-
alizada na empresa Expresso Global, percebe-se que os profis-
sionais não recebem treinamentos específicos e não possuem
a capacitação adequada para o desempenho da função, fato
que contribui para o alto índice de acidentes envolvendo os mo-
toboys gerando desmotivação no exercício da profissão.
Com as novas leis em vigor a partir de agosto de 2012,
estarão presentes no mercado de trabalho profissionais mais
qualificados, tratando os demais motoristas e pedestres com
o respeito que todos reivindicam. Somente com educação e
conscientização teremos um trânsito digno e um melhor de-
sempenho no trabalho, concretizando os objetivos almejados
pela empresa. Investir em pessoas é primordial para qualquer
organização.
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NOTAS1 Alunos do 4° período do curso de Administração de Empresas do Centro Universitário Newton Paiva. Contatos: ana.santiliano@hotmail.
com, [email protected], [email protected], raphaelnilton-
[email protected], [email protected],
2 Especialista, professor da disciplina Planejamento e Controle de Pro-cessos do Centro Universitário Newton Paiva. Coordenador do MBA Gestão Estratégica de Negócios Coordenação do Curso de Bachare-lato em Administração e do Curso de Tecnologia em Processos Geren-ciais – EaD. Atuação docente no curso de Administração Empresas do Centro Universitário Newton Paiva,
3 Doutora em Letras, Orientadora, professora da disciplina Comunica-ção e Redação Empresarial.
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 31
gestão Do ConHeCimento: um meCanismo De maXimização De resuLtaDos organizaCionais
Davson Mansur Irff Silva1
RESUMO: Este artigo pretende demonstrar a importância da Gestão do Conhecimento no modelo de estrutura utilizado pela empresa favorece aos resultados
que esta quer apresentar ao mercado, em função da aplicabilidade do conhecimento tácito e explícito que os colaboradores possuem e podem adquirir no
desempenho de suas atividades. Demonstrar que os gestores promovem os resultados em função da expertise de seus colaboradores na cadeia produtiva,
correlacionando a estrutura organizacional, enquanto ferramenta estratégica de apoio para gestores no seu desempenho gerencial, de acordo com o propósito
empresarial da organização: visão, missão e valores institucionais. Sendo que, os resultados apresentam-se em função do modelo utilizado, promovendo
melhores resultados, na razão de um planejamento realizado com indicadores de desempenho para alcançar os resultados desejados.
PAlAVRAS ChAVE: Conhecimento. Competitividade. Estratégia.
INTRODUÇÃO
Promover a gestão do conhecimento nas organizações
é um desafio para a maioria dos gerentes de recursos hu-
manos e empresários. Direcionar as ações do funcionário,
na busca de alcançar uma meta ou realizar um objetivo fun-
cional, é uma tarefa que cada gestor exerce no desempenho
das atividades do seu cargo.
Uma série de ações que ocorrem simultaneamente na
empresa, e essas visam os resultados de um setor, de uma
área funcional ou organizacional. É possível ressaltar um
atendimento diferenciado, um padrão de qualidade e, mais
holisticamente, o alcance da missão organizacional. Kotler
(1998, p. 24) considera que “a declaração de missão é uma
definição do propósito da organização – o que ela deseja
atingir em um ambiente maior”.
A convergência das ações em resultados torna-se ainda
muito mais complexa, em razão dos agentes internos e exter-
nos à empresa não se alinharem às estratégias organizacio-
nais. Em alguns casos, esses agentes demandam análises e
interpretações que necessitam de pessoas que sejam capa-
citadas a estabelecer as relações de causa e consequências
das ações endógenas e exógenas à empresa.
Fleury & Fleury (1999, p.38) ressaltam:
A organização, situada em um ambiente institucional,
define a sua estratégia e as competências necessárias
para implementá-las, num processo aprendizagem per-
manente, não existe uma ordem de precedência neste
processo, mas antes um círculo virtuoso, em que um
alimenta a outra através do processo de aprendizagem.
Santos (2001, p. 35) corrobora:
[...] a competência não é um estado ou um conheci-
mento que se tem e nem é resultado de treinamento.
Competência é, na verdade, colocar em prática o que
se sabe em um determinado contexto. Há competência
apenas quando há competência em ação. Do ponto
de vista empresarial, é a prática que interessa: é o co-
nhecimento aplicado que gera capacidade de produzir
resultados, ou seja, competência.
Promover alinhamentos no planejamento estratégico da em-
presa, redefinindo objetivos e metas é um exercício quase que di-
ário dos gestores que buscam atender às demandas do mercado
com prontidão, mas para que esse acontecimento não retarde as
necessidades organizacionais, verifica-se que o gestor precisa se
manter focado em quais são as reais prioridades da empresa.
Kotler (1998, p. 23) defini Planejamento Estratégico “como
o processo de desenvolvimento e manutenção de uma referên-
cia estratégica entre os objetivos e capacidades da empresa e
as mudanças de suas oportunidades de mercado”.
Segundo Cury (2005, p.285):
O processo de análise administrativa deve ser iniciado
com um planejamento cuidadoso, prevendo o envolvi-
mento positivo do público interno da organização, pos-
sibilitando sua conscientização no sentido de aprender a
ver o problema por si próprio, participando ativamente do
diagnóstico, antevendo, sua co-responsabilidade na ma-
nipulação da solução final.
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Neste contexto, ressalta-se a importância de alocar cada
funcionário em seu respectivo campo de atuação. Posicioná-
-lo onde possui a expertise necessária para a solução de pro-
blemas e a criação e melhorias de novos processos. Essa
tomada de decisão é importantíssima para que a empresa se
coloque em lugar de destaque no mercado.
Gerir o conhecimento dos funcionários de uma empresa,
não se relaciona apenas a colocá-lo em uma área e esperar
dele resultados. É preciso que este funcionário tenha o co-
nhecimento, as habilidades, as atitudes e promova a sua en-
trega para a realização de uma tarefa específica. Dutra (2009,
p. 102) destaca: “a competência de uma pessoa pode ser
compreendida como sua capacidade de entrega”.
Santos (2001, p. 30) ressalta:
O conhecimento não é puro nem simples, mas é uma
mistura de elementos; é fluido e formalmente estrutu-
rado; é intuitivo e, portanto, difícil de ser colocado em
palavras ou de ser plenamente entendido em termos
lógicos. Ele existe dentro das pessoas e por isso é
complexo e imprevisível.
O posicionamento do colaborador na estrutura orga-
nizacional tem uma razão. Seu cargo demanda por ações
que podem ser específicas e complementares ou de rotina,
mas todas devem se relacionar a elaboração do produto ou
a prestação de serviços. Cada profissional tem a sua impor-
tância identificada no processo. Seja um trabalho de rotina
ou um trabalho especializado, as etapas não se concretizam
caso uma das partes não finalize a sua etapa ou simplesmen-
te não execute suas ações em conjunto.
Dutra (2009, p. 65-66) pondera:
As pessoas influenciam a estratégia da empresa: a
estratégia organizacional é pensada com base na
percepção que a empresa tem do contexto em que
se insere, de sua capacidade para interagir com esse
contexto e dos propósitos relativos a sua sobrevivên-
cia, seu desenvolvimento e sua perenidade. [...] a ca-
pacidade de resposta da empresa está relacionada
a seu patrimônio de conhecimentos, está em cons-
tante desenvolvimento e se apóia na capacidade das
pessoas com as quais se relaciona.
Cada funcionário tem uma importância no processo pro-
dutivo, tem um motivo, uma razão para ocupar o cargo que
foi designado. A finalização da tarefa de cada colaborador
pode ser identificada com o seu envolvimento na realização
da mesma, ou seja, com o término da tarefa propriamente
dita. A soma de todas as etapas de um processo pode ser
representada pela Gestão Estratégica de Pessoas, ainda nas
considerações propostas por Dutra (2009, p. 65): “A gestão
estratégica de pessoas está intimamente ligada à estratégia
da empresa ou do negócio”.
Dutra (2009), Albuquerque (1987, p. 51) e Wood (1992,
p. 35) ressaltam:
[...] argumentam que a gestão estratégica de pes-
soas não deve ser excludente, considerando apenas
uma parte das pessoas do negócio ou da empresa,
mas abrangente, envolvendo a todos. Ao olharmos
para o futuro, podemos dizer que a gestão estraté-
gica de pessoa deve contemplar todas as pessoas
da empresa que mantêm qualquer tipo de relação
de trabalho com a empresa, não importando seu
vínculo contratual.
A busca das empresas no aperfeiçoamento de seus sistemas
operacionais é uma constante, mas gerir o conhecimento pode ser
um desafio para conduzir aos melhores resultados. Neste contex-
to, a gestão do conhecimento é uma estratégia que favorece aos
resultados organizacionais? A proposta deste artigo é realizar uma
pesquisa bibliográfica do tema a Gestão do Conhecimento como
mecanismo de maximização de resultados.
O tema tem relevância no contexto organizacional e edu-
cacional, pois é de interesse primário dos empresários terem
uma empresa eficiente e voltada para resultados; é de interesse
do meio acadêmico, pois oferece a possibilidade de integrar as
ações em busca de um objetivo comum, que apresente eficiên-
cia na administração de seus recursos humanos, no tocante à
gestão do conhecimento, como instrumento que proporciona
um diferencial competitivo na gestão dos funcionários.
A GESTÃO DO CONHECIMENTO
Davenport e Prusak (1998) consideram que o conheci-
mento não é dado nem informação, embora esteja relacio-
nado com ambos e as diferenças entre esses termos sejam
normalmente um questão de grau. Segundo Davenport e Pru-
sak (1998, p. 1): “é importante frisar que dado, informação
e conhecimento não são sinônimos”. Ressaltam que: “[...]
o sucesso ou fracasso organizacional muitas vezes pode
depender de se saber de qual deles precisamos, com qual
deles contamos e o que podemos ou não fazer com cada um
deles” (DAVENPORT e PRUSAK, 1998, p. 1).
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 33
Davenport e Prusak (1998, p. 6) conceituam:
Conhecimento é uma mistura fluida da experiência con-
densada, valores, informação contextual e insight experi-
mentado, a qual proporciona uma estrutura para a avalia-
ção e incorporação de novas experiências e informações.
Ele tem origem e é aplicado na mente dos conhecedores.
Nas organizações, ele costuma estar embutido não só
em documentos de repositórios, mas também em rotinas,
processos, práticas e normas organizacionais.
A gestão do conhecimento nas organizações tem conquis-
tado gradativamente o seu espaço devido no interesse de ges-
tores e empresários.
Dutra (2009, p. 23) ressalta:
Ao colocarmos organização e pessoas lado a lado,
podemos verificar um processo continuo de troca de
competências. A organização transfere seu patrimônio
de conhecimento para as pessoas, enriquecendo-as e
preparando-as para enfrentar novas situações profissio-
nais e pessoais, quer na organização, quer fora dela.
Dutra (2009, p. 23) conclui: “as pessoas, ao desenvolverem
a sua capacidade individual, transferem para a organização seu
aprendizado, capacitando a organização para enfrentar novos
desafios”. A troca de informações entre empresa e as pessoas
que nela trabalham é uma simbiose, na qual ambos ganham.
A empresa enquanto “laboratório de testes” de uma realidade
o indivíduo como pesquisador de suas ações e atos. Os resul-
tados gerados são benéficos tanto a empresa, quanto às pes-
soas, pois o cenário que favorece ao aprendizado é essencial
para o desenvolvimento.
Terra (2000, p. 70) pondera:
A Gestão do Conhecimento está desta maneira, in-
trinsecamente ligada à capacidade das empresas em
utilizarem e combinarem as várias fontes e tipos de co-
nhecimento organizacional para desenvolverem com-
petências específicas e capacidade inovadora, que se
traduzem, permanentemente, em novos produtos, pro-
cessos, sistemas gerenciais e liderança de mercado.
Para Senge (1990), o processo de aprendizagem na or-
ganização ocorre mediante condições concretas para que as
pessoas aprendam a criar sua própria realidade, auxiliando-as
a compreender o contexto em que vivem e a com ele interagir.
“A organização acaba por ser entendida como um sistema
de conjuntos de papeis, mediante os quais as pessoas se man-
têm inter-relacionadas” (MOTTA, 1979, p. 74). Essa abordagem
promove o entendimento de que “a gestão de pessoas é vista
como um sistema inserido em um sistema maior com o qual
interage” (DUTRA, 2009, p. 18). A gestão de pessoas é constitu-
ída por subsistemas que interagem entre si e modificam o todo
em razão das suas interdependências e inter-relações.
Davenport e Prusak (1998, p. 108) ressaltam:
A transferência espontânea e não estruturada do co-
nhecimento é vital para o sucesso de uma empresa.
Embora o termo gestão do conhecimento implique
a transferência formalizada, um de seus elementos
essenciais é o desenvolvimento de estratégias espe-
cificas para incentivar essas trocas espontâneas.
Um sistema externa à empresa pode ser considerado um
dos principais percursores de um processo de mudança: a
variável tecnológica. Esse agente possibilita ganhos em pro-
dutividade devido ao volume de informações em tempo real.
Esse sistema oferece a possibilidade de troca de informa-
ções entre áreas funcionais e seus respectivos funcionários,
fato que aumenta a eficiência dos operadores funcionais.
Araújo e Garcia (2009, p. 154) consideram que: “identifi-
car o valor das pessoas para a organização de forma extre-
mamente objetiva que esta é a finalidade que visa mensurar
qualitativamente o impacto de cada pessoa nos resultados
organizacionais”. Para Chiavenato (1999) julgar ou estimar
o valor, a excelência e as qualidades de uma pessoa e, so-
bretudo, a sua contribuição para o negócio da organização.
O aumento da eficiência cria maiores possibilidades de
evitar perdas de matérias-primas, retrabalhos e favorece ao
desenvolvimento de novos processos que podem aumentar
a eficiência do processo produtivo. Fleury, Wanke e Figuei-
redo (2006, p. 184) consideram que as ações direcionadas
podem reduzir os custos unitários no processo e salientam:
“as empresa que possuem o know-how, economias de es-
cale e foco em diversas operações logísticas relacionadas
com a movimentação de materiais e o transporte” podem
ser mais competitivas.
Esses fatores e outros contribuem e reforçam o rom-
pimento do paradigma de que o maior patrimônio das em-
presas são as pessoas. Não basta somente ter a informa-
ção em mãos, é preciso interpretá-la e dar um resultado
para a empresa.
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Nonaka (1997, p. 185) consideram que:
À medida que o conhecimento e a inovação tornam-se
mais importantes para o sucesso competitivo, a crescente
insatisfação com as estruturas tradicionais não deve ser
surpresa. Durante grande parte deste século, a estrutura
organizacional oscilou entre dois tipos básicos: burocracia
e força-tarefa. Mas, quando se trata de criação do conhe-
cimento, nenhuma dessas estruturas é adequada. É pre-
ciso uma combinação ou síntese de ambas.
O relacionamento entre o homem e a máquina tornou-se mais
estreito em função da interpretação de informações e no gerencia-
mento de dados. Em um dado momento histórico as organizações
detinham um volume enorme de dados e informações que os com-
putadores não transformavam em resultados. Esse momento culmi-
nou em um momento em que as empresas não somente busca o
capital intelectual no mercado, como faz de tudo para mantê-lo em
seu quadro de colaboradores para obter a vantagem competitiva.
“Peter Drucker disse certa vez que informações são “da-
dos dotados de relevância e propósito”, o que decerto suge-
re que dados, por si só, têm pouco relevância ou propósito”
(DAVENPORT e PRUSAK, 1998, p. 2).
Davenport e Prusak (1998, p. 3) conceituam:
Dados descrevem apenas parte daquilo que aconteceu;
não fornecem julgamento nem interpretação e nem qual-
quer base sustentável para a tomada de ação. Embora a
matéria-prima do processo decisório possa incluir dados,
eles não podem dizer o que fazer. Dados nada dizem so-
bre a própria importância ou irrelevância. Porem, os dados
são importantes para as organizações – em grande medi-
da, certamente, porque são matéria-prima essencial para
a criação da informação.
Essa procura desenfreada por colaboradores qualifica-
dos e amplamente desenvolvidos direciona a organização
a encontrar meios para reter os talentos que possui, mas,
também, em aprimora-los e desenvolvê-los. Nos dias atuais,
uma nova geração de pessoas vem se ofertando ao mercado
de trabalho. Essa geração é conhecida como Geração Y.
O mercado de trabalho desperta a atenção para a parti-
cularidade dessa nova geração. Rezende (2012, p.4) destaca:
O mercado de trabalho já atentou para esse perfil dife-
renciado do jovem da geração Y. As empresas estão
aumentando a cada ano o investimento em processos
de trainee para atrair e tentar reter esse público. Com
programas bem-estruturados, as organizações ofere-
cem aos profissionais dessa geração salários atraen-
tes e acima da media de mercado, planos de carreira
com possibilidades de ascensão mais rápida que por
modelos tradicionais e a oportunidade de conhecer e
trabalhar em diversos setores.
Essa transformação desencadeou uma corrente no sentido
de desenvolver e capacitar os colaboradores, fornecendo-lhes
ferramentas para promover o desenvolvimento pessoal e, conse-
cutivamente, o profissional. Seria a formalização do saber, como
diferencial competitivo, para a retenção de talentos nas empresas.
Davenport e Prusak (1998), Sidney Winter (1994, p. 189)
consideram:
uma empresa é um conjunto de pessoas organizadas
para produzir algo, sejam produtos, serviços ou algu-
ma combinação de ambos, sua capacidade de produ-
zir depende daquilo que ela sabe e do conhecimento
subjacente nas rotinas e equipamentos de produção.
O ativo material de uma empresa só terá valor real se
as pessoas souberem o que fazer com ele. Se “saber
fazer” define o que a empresa é, então o conhecimento
realmente é a empresa num sentido importante.
A Era do Conhecimento cria uma nova mentalidade na
sociedade no intuito de desenvolver práticas em comuni-
dades do conhecimento humano. Essa ação direciona as
pessoas a trabalharem em equipe na busca de solução para
problemas. A utilização da criatividade como ferramenta para
criar, desenvolver, inovar, ampliar e minimizar a utilização de
recursos e insumos da natureza é um mecanismo que ofere-
ce condições de ampliar os ganhos empresariais. Fato que é
valorizado por essa nova força de trabalho.
Santana e Gazola (2011) complementam dizendo que a Gera-
ção Y também apresenta como características um perfil inovador
com tendências a mudanças e adaptações comportamentais e de
liderança baseadas em confiança e resultados. Além disso, de-
monstram a necessidade de dominar seu próprio estilo de vida,
gostam de independência e são aliados da tecnologia.
De acordo com Lipkin e Perrymore (2010), a Geração Y
tem por desejos a vontade de inovar, de pertencer, de ter
significado, de conciliar o trabalho com uma boa qualidade
de vida, o desejo de poder ter um trabalho que faça sentido,
um ambiente que seja alegre, em que haja respeito, afeto e
um senso de importância.
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 35
A Geração Y prefere empresas que desenvolvem ações para
criar o moderno. Seu perfil é para consultores que estão voltados à
inovação, ao empreendedorismo de novas ideias. A criação é um
fator positivo dessa geração, adoram a competitividade. As com-
panhias que realizam a terceirização de serviços se beneficiam
desse perfil, uma vez que medidas/ações voltadas para esse tipo
de necessidade empresarial pode-se valer de seus benefícios na
detenção desses talentos em seu quadro de colaboradores.
A gestão de conhecimento dessa geração tornou-se um
novo desafio para as empresas. Elas precisam entender, as-
similar e compreender todos os pontos relevantes e prepon-
derantes para que eles possam produzir resultados relevan-
tes para as organizações.
CONHECIMENTO TÁCITO E EXPLíCITO
Nonaka e Takeushi (1997, p. 63) observam que “o conheci-
mento, diferentemente da informação, refere-se a crenças e com-
promisso”. Esses autores classificaram o conhecimento humano
em dois tipos: conhecimento tácito e conhecimento explícito.
Conhecimento explícito é o que pode ser articulado na
linguagem formal, inclusive em afirmações gramaticais,
expressões matemáticas, especificações, manuais
etc., facilmente transmitido, sistematizado e comunica-
do. Ele pode ser transmitido formal e facilmente entre os
indivíduos. Esse foi o modo dominante de conhecimen-
to na tradição filosófica ocidental.
O conhecimento tácito é difícil de ser articulado na lingua-
gem formal, é um tipo de conhecimento mais importante.
É o conhecimento pessoal incorporado à experiência in-
dividual e envolve fatores intangíveis como, por exemplo,
crenças pessoais, perspectivas, sistema de valor, insights,
intuições, emoções, habilidades É considerado como
uma fonte importante de competitividade entre as organi-
zações. Só pode ser avaliado por meio da ação.
A definição dos conhecimentos: tácito e explícito são con-
ceitos que se complementam e se integram. Na dinâmica do
conhecimento organizacional, estes são necessariamente im-
portantes, pois, os dois podem ser essenciais no que se refere
ao desenvolvimento e aprimoramentos das atividades laborais.
Segundo Nonaka & Takeuchi (1997, p. 79) consideram que
para se tornar uma empresa que gera conhecimento (Knowledge
Creating Company) a organização deve completar uma espiral do
conhecimento, espiral esta que vai de tácito para tácito, de explíci-
to a explícito, de tácito a explícito, e finalmente, de explícito a tácito.
Logo, o conhecimento deve ser articulado e então internalizado
para tornar-se parte da base de conhecimento de cada pessoa.
Nonaka & Takeuchi (1997) consideram que o conheci-
mento explícito pode ser expresso em palavras e números, e
facilmente comunicado e compartilhado sob a forma de dados
brutos, fórmulas científicas, procedimentos codificados ou prin-
cípios universais. O conhecimento explícito pode ser cataloga-
do em livros, anotações, revistas, reuniões e de outras formas
a explicitá-lo ao funcionário. Considera-se que o conhecimento
quando não é registrado, ele se perde no tempo.
Nonaka e Takeuchi (1997) descrevem que as empresas ja-
ponesas veem o conhecimento como sendo basicamente “táci-
to” – algo dificilmente visível e exprimível. O conhecimento tácito
é altamente pessoal e difícil de formalizar, o que dificulta sua
transmissão e compartilhamento com outros. Ressaltam que
esse conhecimento está profundamente enraizado nas ações
e experiências de um indivíduo, bem como em suas emoções,
valores ou ideias.
Logo, o conhecimento explícito é aquele conhecimento
organizado e acessível às pessoas, enquanto o conhecimento
tácito está na mente das pessoas e é difícil de ser mencionado
formalmente, todavia é de extrema importância para as organi-
zações.
Segundo Nonaka & Takeuchi (1997) o conhecimento tácito,
para ser formalizado nas organizações, tem que ser transforma-
do em palavras ou números para que todos possam compre-
ender. É nesse processo que ocorre a conversão de tácito em
explícito e, novamente em tácito, onde é criado o conhecimento
organizacional.
A Figura 1 representa a espiral do conhecimento de No-
naka & Takeuchi (1997, p.80). Ela demonstra que a empresa
pode utilizar do modelo para promover o conhecimento e a sua
devida utilização junto aos colaboradores.
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Diante do exposto, verifica-se a real dificuldade no geren-
ciamento do saber tácito. Todavia, distinguir o conhecimento tá-
cito do explícito é primordial, uma vez que a interação de ambos
para o processo de criação do conhecimento organizacional é
de extrema importância. O aprendizado que as organizações
valorizam é aquele que pode ser utilizado para obter resultados,
que pode ser utilizado de forma sistemática para conduzi-la
para um nível elevado de competitividade. A inteligência huma-
na torna-se um recurso estratégico e é movido pela necessida-
de de buscar e aplicar novas técnicas de aprendizado.
Os quatro modos de conversão apresentados por Nonaka
& Takeuchi (1997) são:
- A socialização do conhecimento (tácito em tácito) é o pro-
cesso de compartilhamento das experiências e pode acontecer
sem o uso da linguagem;
- A externalização (tácito em explícito) é um processo dinâ-
mico, onde se utilizam de metáforas, conceitos, analogias ou
modelos;
- A combinação (explícito em explícito) é a combinação de
conjuntos diferenciados de conhecimento explícito como, por
exemplo, a construção científica do conhecimento;
- Internalização (explícito em tácito) é o aprender fazendo,
manuais de instruções são exemplos típicos deste modo de
conversão do conhecimento.
A associação dos saberes proporcionada não somente
pelo registro, mas pela sua combinação conduz o indivíduo
ao desenvolvimento profissional e pessoal. Essa situação se
torna possível, dada circunstância de que o homem é um
sistema aberto e sujeito às mudanças.
Davenport e Prusak (1998, p. 6) corroboram:
[...] o conhecimento pode ser comparado a um sis-
tema vivo, que cresce e se modifica a medida que
interage com o meio ambiente. Os valores e as cren-
ças integram o conhecimento, pois determinam, em
grande parte, o que o conhecedor vê, absorve e con-
clui a partir das suas observações.
Em função das considerações expostas, o conhecimento
é um recurso intangível para as empresas, que, uma vez apli-
cados pelos colaboradores, podem demonstrar a eficiência de
toda uma equipe no desempenho de tarefas do dia-a-dia. Os
conhecimentos adquiridos e compartilhados podem maximizar
ganhos nas cadeias produtivas operacionais, em cadeias de
gerenciamento táticos e ações estratégicas voltadas para o pro-
pósito empresarial: missão, visão e os valores.
Esses conhecimentos (tácito e explícito) que pode ser con-
quistado ao longo dos anos no desempenho das tarefas pelo co-
nhecimento compartilhado ou pelo conhecimento adquirido. Res-
salta-se que a utilização de ambos os conhecimentos promove o
desenvolvimento pessoal e profissional do colaborador, e, para a
empresa, na maximização dos resultados apresentados.
AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO
A gestão do desempenho de cada colaborador prevê a men-
suração de resultados por meio de ferramentas e metodologias
específicas, utilizada de acordo com a atividade estipulada ao
colaborador. A Figura 2 demonstra o esquema de mapeamento
da gestão de desempenho, relacionado ao momento de avaliação
FIGURA 1 – ESPIRAL DO CONHECIMENTO
Fonte: Nonaka & Takeuchi (1997, p.80).
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de resultados de um colaborador, que inicia com um processo de
sensibilização e finaliza com a Gestão do Conhecimento.
Gramigna (2007) argumenta que é por meio da avaliação
das performances individuais que o gerente verifica a evolução
ou involução no desempenho das pessoas de sua equipe, ob-
tendo uma nova base de informações. A autora considera que
a verificação do desempenho mantém o foco nas competências
definidas nos perfis, agregadas a atitudes e comportamentos
que só podem ser observados no desempenho do colaborador
em suas atividades laborais.
Um indicador de medida de desempenho, que se torna
uma ferramenta gerencial e estratégica importantíssima para
acompanhamento, controle e para efeito comparativo é o
BSC – Balanced Scorecard.
Kaplan e Norton (1997, p. 19) definem o BSC da seguinte
forma:
O Balanced Scorecard é um novo instrumento que inte-
gra as medidas derivadas da estratégia. Sem menosprezar as
medidas financeiras do desempenho passado, ele incorpora
os vetores do desempenho financeiro futuro. Esses vetores,
que abrangem as perspectivas do cliente, dos processos in-
ternos, e do aprendizado e crescimento, nascem de um es-
forço consciente e rigoroso de tradução da estratégia organi-
zacional em objetivos e medidas tangíveis.
O BSC é uma ferramenta de gestão estratégica que comple-
mentam as medidas financeiras do desempenho passado com as
medidas dos vetores que impulsionam o desempenho futuro. Um
dos objetivos e medidas do scorecard deriva da visão e da estraté-
gia da empresa. Os objetivos e medidas focalizam o desempenho
organizacional sob quatro perspectivas: financeira, do cliente, dos
processos internos e de aprendizado e crescimento.
Para Gomes (2001), a melhoria da qualidade dos proces-
sos decisórios é possível somente na medida em que se tem
um melhor conhecimento da realidade da empresa, incluindo
o seu ambiente interno e externo. No que tange o ambiente in-
terno, dentre as diversas técnicas com foco no conhecimento e
desenvolvimento do negócio, destaca-se o controle gerencial,
que facilita a obtenção da informação necessária para a análise
contínua dos resultados pretendidos pela organização, o plane-
jamento de ações e eventuais correções de rumo. O controle
gerencial gera ainda a informação para formulação e validação
da estratégia, e adequação de sua implantação.
Kaplan e Norton (1997, p. 9) apresentam a seguinte validação:
Os objetivos e as medidas utilizadas no Balanced Score-
card não se limitam a um conjunto aleatório de medidas
de desempenho financeiro e não financeiro, pois, deri-
vam de um processo hierárquico (top-down) norteado
pela missão e pela estratégia da unidade de negócios.
Kaplan e Norton (1997, p. 2) afirmam que o Balanced
Scorecard oferece a esses executivos os instrumentos de que
necessitam para alcançar o sucesso no futuro “[...] é funda-
mental que exista uma perfeita compreensão das suas metas
e dos métodos para alcançá-las”. Conforme Campos (1998,
p. 59), o Balanced Scorecard possibilita aos executivos inter-
FIGURA 2 - ESqUEMA DE MAPEAMENTO DA GESTÃO DE DESEMPENHO
Fonte: Gramigna (2007, p. 33).
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pretar os objetivos estratégicos de uma empresa num con-
junto coerente de medidores de desempenho, inseridos nas
quatro perspectivas.
As unidades de medida estabelecidas em função das
metas e objetivos, previamente definidos no planejamento es-
tratégico, é uma forma de controle e avaliação de resultados
individuais pelos gestores das áreas correlacionadas. É um me-
canismo de avaliação e desempenho que quantifica ações, ex-
pressando a utilização de dados e informações nos resultados
apresentados em números.
Essa quantificação de resultados é uma ferramenta de
análise que possibilita a verificação de resultados, em um
comparativo de números desejados e realizados, em con-
formidade com o que foi planejado pela empresa. O BSC vai
além de interpretações de resultados, essa ferramenta pos-
sibilita uma interpretação focada no desempenho de cada
colaborador. Como o funcionário de uma área qualquer está
se comportando em relação à visão do negócio. Visão essa
que a empresa pretende alcançar no mercado junto aos for-
necedores, concorrentes e clientes.
Sob as quadro perspectivas do BSC: financeira, do cliente,
dos processos internos e de aprendizado e crescimento. Far-
-se-á foco a essa última: do aprendizado e crescimento. O pro-
cesso de aprendizado considera-se que esteja relacionado ao
desenvolvimento do colaborador, que, somada as suas ações,
verifica-se que o mesmo pode crescer profissionalmente dentro
da equipe de trabalho.
Esse aprendizado pode ser representado pelos conheci-
mentos tácito e explicito. Relacionado aos ensinamentos pas-
sados, dado o conhecimento empírico adquirido ao longo dos
anos, e os ensinamentos repassados pela literatura.
Dentre as vantagens proporcionadas pelo processo Avalia-
ção de Desempenho (AD) (FIG 3) faz-se destaque para: situam
as pessoas na estrutura organizacional.
FIGURA 3 – ALGUMAS VANTAGENS PROPORCIONADAS PELO PROCESSO DE AD – AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO.
Fonte: Araújo e Garcia (2009, p. 157).
Araújo e Garcia (2009) consideram que o ponto central
deste item é que, pelo fato de subsidiar as demais atividades,
deve-se admitir que sua utilidade não se esgotasse em ape-
nas “apreciar o desempenho do indivíduo no exercício das
funções inerentes ao seu cargo, mas também o situa na es-
cala impessoal de salários criada por aquela administração”
(TACHIzAWA; FERREIRA; FORTUNA, 2001).
Portanto, Araújo e Garcia (2009) consideram que ava-
liar o desempenho não se restringe em apenas identificar a
performance das pessoas, mas, concomitantemente, é uma
maneira de identificá-la em um processo e situá-las na es-
trutura organizacional. É relevante que o gestor de pessoas
entenda essa vantagem como algo que vai diferenciar a sua
atuação de perante aos olhos de outros gestores. Uma “sim-
plória” avaliação de desempenho pode desencadear ações
que culminem com alterações significativas na estrutura da
organização.
A interação entre os membros da equipe é essencial para
que os colaboradores se sintam engajados de qual a sua im-
portância no processo. Trata-se da identificação do profissio-
nal na cadeia produtiva. Ele se posiciona, se encontra e se
realiza enquanto ser humano produtivo de ações que contri-
buem para um propósito. Essa forma de promover a inserção
do colaborador no cerne empresarial possibilita a formação
da sua consciência profissional. Essa consciência oferece ao
trabalhador, “meios de identificar” seus atos no processo.
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 39
O envolvimento com o resultado configura que o mesmo
tem consciência do que ele representa para a empresa num
sentido mais amplo, e para a equipe em um sentido mais
funcional. Esse comportamento requer que as atribuições se-
jam claramente identificadas e que possam promover a sa-
tisfação de cada colaborador no sentido de se motivar para
executar a sua tarefa, de acordo com a importância.
A CORE COMPETENCE
A escolha do profissional para um cargo é uma tarefa com-
plexa. Requer o envolvimento de colaboradores dos mesmos
níveis, uma vez que são os níveis que se encontram engajados
para alcançar os resultados maiores para a empresa.
A triagem dos candidatos é uma das responsabilidades
da Área de Recursos Humanos (ARH), pois, na escolha do
profissional é imprescindível que esteja ciente de todas as
reais necessidades da empresa (Dutra, 2009). A gestão de
pessoas alinhada aos objetivos organizacionais é uma estra-
tégia que visa, em tempo mais hábil, o alcance das metas e
objetivos organizacionais.
Hamel e Prahalad (1990, p. 500) definem Core Competence:
Core Competence designa as competências estraté-
gicas, únicas e distintivas de uma organização que lhe
conferem uma vantagem competitiva intrínseca e, por
isso, constituem os fatores chave de diferenciação face
aos concorrentes. A “competência nuclear” é assim algo
muito próprio das organizações, uma fonte permanente
de incremento de valor para a própria organização. Como
exemplo, podemos tomar a cultura organizacional de uma
organização, pois da cultura organizacional advém a ca-
pacidade de excelência, produtividade e de inovação.
Gramigna (2007) destaca que ao optar pelo modelo de
gestão de pessoas por competências, faz-se necessário
revisar ou investir no realinhamento de quatro indicadores:
definição do negócio, da missão, da visão de futuro e na
identificação dos valores organizacionais. “O domínio de de-
terminadas competências leva profissionais e organizações a
fazerem a diferença no mercado” (GRAMIGNA, 2007, p. 23).
Gramigna (2007, p. 25) pondera sobre as competências:
Ao definir as competências de uma organização, optamos
por trabalhar com o grupo das competências de suporte
(aquelas que dão sustentação às competências técnicas
exigidas para cumprir funções específicas).
Nesse grupo estão inseridas as competências dife-
renciais, essenciais e básicas.
l Diferenciais: consideradas estratégicas, estabelecem
a vantagem competitiva da empresa. São identificadas
no estabelecimento da missão empresarial e descritas
de forma genérica. São constituídas por um conjunto de
capacitações que auxiliam a empresa a alcançar seus
resultados e fazer o diferencial no mercado.
l Essenciais: são identificadas e definidas como as
mais importantes para o sucesso do negócio e de-
vem ser percebidas pelos clientes.
l Básicas: necessárias para manter a organização
funcionando, são percebidas no ambiente interno;
além disso, estimulam e alicerçam o clima de pro-
dutividade.
O compartilhamento das estratégias com os membros
da equipe é uma maneira de envolver os profissionais com os
resultados, mas, para tanto, é preciso que a estrutura orga-
nizacional ofereça aos gestores o suporte/apoio necessário
para alcançar as metas e os objetivos pré-determinados.
Kaplan e Norton (1997) consideram que a implementa-
ção da estratégia começa pela capacitação e envolvimento
das pessoas que devem executá-la. Demonstra-se um desta-
que de que deve ser compartilhada entre todos os membros
da organização como forma de alinhar as ações desejadas.
A Core Competence pode se relacionar à expertise que
um funcionário possui. É o conhecimento e as habilidades
adquiridas in locus. São os conhecimentos tácito e explícito
aliados à prática de saber fazer com perfeição uma tarefa.
A formação do conhecimento do indivíduo é a soma de um
conjunto de fatores e ações que estão relacionados ao am-
biente em que vive e o que faz para se desenvolver.
CONCLUSÃO
Gerenciar conhecimento é uma ação totalmente intangível.
Partindo-se desse pressuposto, verifica-se que a dificuldade em
obter ações direcionadas para o alcance de uma meta ou de
um objetivo é uma realidade organizacional.
A gestão do conhecimento é uma tarefa estratégica da
Área de Recursos Humanos que visa em algum momento
uma vantagem competitiva da empresa junto ao mercado
que atua. Para tanto, as empresas precisam atualizar quase
que diariamente suas estratégias. Não somente para alcan-
çar resultados, mas para, principalmente, reter os talentos
que possuem em seus quadros de funcionários.
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Considerando-se que o indivíduo é um sistema aberto su-
jeito às variações do ambiente em que vive. As organizações
precisam conhecer as novas gerações que surgem no mercado
de trabalho. Seus hábitos, costumes, valores e comportamen-
tos fazem parte de uma nova realidade.
Neste contexto, a gestão do conhecimento como mecanis-
mo de resultados organizacionais é um diferencial competitivo e
estratégico para as empresas que buscam um posicionamento,
não somente na mente dos clientes, mas dos seus funcionários.
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o pensamento orientaL e a gestão estratÉgiCa Do ConHeCimento: eDuCação FormaL e não FormaL, inoVação e ConDutas FiLosÓFiCas
Wallisson Nunes da Silva1
RESUMO: Dar maior importância às pessoas do que aos bens tangíveis tornou-se uma tendência. Os conhecimentos mais valiosos a respeito de como
alcançar os resultados mais satisfatórios, aperfeiçoar rotinas e identificar falhas estão retidos nos colaboradores. Em uma das maiores economias mundiais, a
japonesa, o conhecimento que os funcionários possuem, assume papel de destaque na estrutura organizacional e na competitividade entre as empresas. Por
meio desse trabalho, objetiva-se analisar como as empresas orientais obtêm tamanha longevidade e como essas Organizações lidam com a gestão do conhe-
cimento. Através da observação das melhores práticas adotadas por uma grande empresa oriental, esse trabalho analisa se essa experiência internacional pode
contribuir para o desenvolvimento e melhor aproveitamento do capital intelectual das empresas brasileiras. Para tanto, utiliza-se de uma abordagem histórica,
da pesquisa bibliográfica e do estudo de caso.
PAlAVRAS ChAVE: Cultura. Japão. Gestão do Conhecimento.
BREVE INTRóITO
De acordo com dados extraídos de estudos realizados pelo
Sebrae em 2004, no Brasil, mais de 49,9% das pequenas e mé-
dias empresas fecham suas portas, como popularmente diz-se,
antes que completem dois anos de existência; 56,4% antes de
três anos e 59,9% antes de quatro anos. Comparativamente,
no que diz respeito às micro e pequenas empresas, estudos
da mesma instituição realizados na segunda metade de 2011
a partir do processamento de bases de estudos recentes da
Secretaria da Receita Federal (2005 – 2009)2 apontou que para
as empresas constituídas em 2005, a taxa de sobrevivência
com até 02 anos subiu para 73%. Ainda assim, esse cenário
configura motivo de preocupação. As causas apontadas pelos
ex-proprietários são várias e variam desde a falta de dinheiro
para manter a empresa, ausência de capital de giro, alta carga
tributária, falta de clientes, má localização da empresa e ou-
tros. Esses dados remetem à questão da morte prematura de
empresas. Essa não é uma morte desejada. Por lógico, o que
proprietários desejam é que empresas tenham vida longa. O
tempo de vida de uma empresa é, portanto, um tema importan-
te e aqui, busca-se discutir a questão da longevidade no cená-
rio das empresas japonesas.
Um ponto importante e interessante a ser considerado, diz
respeito à literatura sobre administração, que revela que tem
crescido o número de estudos acerca de “espiritualidade” nas
organizações (ex: REGO et al, 2005). Esses estudos têm apon-
tado a ética como um dos bens intangíveis da empresa e acei-
ta-se que empresas éticas têm maiores chances de contar com
pessoas comprometidas.
Não se pretende nesse trabalho realizar uma comparação
entre empresas brasileiras e empresas japonesas, por diversos
motivos. Acredita-se, porém, que um olhar crítico para a realida-
de das Corporações brasileiras, somado a um olhar que busca
as melhores práticas nas empresas japonesas, pode contribuir
para uma significativa melhora no cenário das Organizações,
independente do país em que se situam.
A partir dessa introdução, esse trabalho divide-se em se-
ções curtas que pretendem abordar de forma simples (mas
não simplista) questões relativas à gestão do conhecimento
nas empresas japonesas e alguns pressupostos do sucesso
oriental, do ponto de vista econômico e social, considerando
a cultura milenar e o sucesso que acompanhou essa gestão
estratégica do conhecimento.
A ADMINISTRAÇÃO E A GESTÃO ORIENTAL VERSUS
BASE CULTURAL MILENAR JAPONESA
A empresa mais antiga do mundo é chamada Kongo Gumi.
É uma construtora especializada em templos budistas e xinto-
ístas. Essa empresa nasceu no ano 578 como uma cooperativa
de carpinteiros que imigraram da Coréia do Norte. Em 2006,
os principais noticiários japoneses notificaram a crise financeira
que a empresa atravessa e sua possível falência. O que ocorreu,
porém, foi que outra empresa, também construtora, criou uma
nova empresa que abrigava todos os funcionários da Kongo
Gumi e conseguiu a transferência da razão social da Compa-
nhia antiga, salvando a tradição contida no nome da empresa.
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Constitui fato interessante para observação, a forma
como os orientais se posicionam frente às crises. Conforme
é da ciência de muitos, as empresas japonesas existiram em
um ambiente em que a única certeza era a incerteza. Esse
fato parece ter “treinado” o povo do Japão para olhar “para
fora”, prever mudanças e encontrar soluções rápidas.
Antes de estudar a administração e a gestão japonesas
faz-se importante compreender a base cultural do país que
foi o principal fator que contribuiu para a sustentação das
empresas orientais e sua longevidade. Pelo menos três va-
lores fundamentais formam a cultura do Japão e influenciam
diversas áreas e setores, inclusive a administração e a ges-
tão, e por isso merecem destaque. Cita-se3: Valor cultural do
trabalho, pátria e família.
O valor cultural do trabalho ganha superior importância
nesse estudo, por ligar os dois outros valores. O trabalho é
aquele que sustenta a família, dignifica o homem e garante
a economia. Basta lembrar que as estruturas econômicas do
Japão foram destruídas ao final da II Guerra Mundial, assim
como a maior parte do pátio industrial do país foi arruinado e
a produção da indústria reduzida ao extremo.
O conceito de “pátria” está ligado ao nacionalismo fervo-
roso do povo japonês. Existe um orgulho na nacionalidade e
um forte entendimento de que cada cidadão é parte de um
povo, de uma nação e que a vida só tem razão de ser quando
se está ligado aos destinos da pátria. Exemplos deste valor
cultural são os guerreiros samurais, que defendiam os se-
nhores feudais e os “kamikazes”, os jovens pilotos de aviões
de combate, na II Guerra Mundial, cuja missão era atirar o
avião contra o alvo inimigo.
Já o conceito de “família” vem do valor da pátria que
em si, só será permanente através da família. O conceito é
milenar e atravessa toda a história do povo japonês através
dos “clãs”, que eram a base da pátria. Na família japonesa,
cada pessoa tem um papel determinado e há expectativa,
por parte de outros familiares e da própria sociedade, que
cada um cumpra seu papel.
Os fatores supracitados, especialmente o primeiro (valor
cultural do trabalho), fornecem a base para entender, pelo
menos a princípio, a importância do trabalho para o povo
japonês e um dos possíveis motivos do sucesso dessas Or-
ganizações. As empresas são formadas por pessoas (capital
humano) e um quadro de funcionários formado por pessoas
engajadas, motivadas e que valorizam o trabalho, contribui
para o alcance dos objetivos de qualquer Companhia. Por
lógico, uma Companhia (seja ela qual for) que existe e que
atende às expectativas da Alta Direção, bem como a missão
e a visão da própria Companhia, tem chances exponenciais
de ser uma Corporação de “vida longa” e sucesso.
O CHAMADO “MILAGRE JAPONÊS”
Todo o mundo ouve falar sobre o chamado “milagre ja-
ponês”, porém, poucos sabem onde esse milagre surgiu e
como se desencadeou. Pela relevância histórica e pela con-
tribuição com esse estudo, passa-se a analisar brevemente
a história e os principais fatores que contribuíram para o pro-
gresso econômico do país.
Fazendo menção ao pensamento da filósofa alemã Han-
nah Arendt, é fundamental que nos voltemos para o passado
para compreendermos o presente – para o passado e não para
a tradição –, em um processo de reapropriação seletiva de fa-
tos que podem esclarecer o presente depois de recuperados
do esquecimento e re-iluminados pela nova visão retrospectiva4.
É de amplo conhecimento que o Japão viveu uma crise
econômica após a II Guerra Mundial. O seu território foi ocupado
por forças americanas (EUA) até 1950. É exatamente a partir
desse ano que os norte-americanos decidem apoiar o Japão,
devido a um receio de que as forças comunistas avançassem
no território. Entre 1960 e 1970 o crescimento anual médio do
Japão torna-se o mais elevado do mundo e nos anos 70 o país
se torna a potência econômica mundial.
Esse “milagre” se deve, sobretudo, a uma indústria bem
organizada, com operários qualificados (e que inicialmente con-
tou com o apoio dos Estados Unidos); o uso de tecnologias
avançadas; o espírito de disciplina inerente ao povo japonês e
que leva o empregado a acreditar no trabalho e entregar-se a
empresa em uma espécie de sacrifício, acreditando que ao se
entregar, contribui não só com a empresa, mas também com
sua família, sua pátria e sua dignidade como pessoa; abundân-
cia de mão de obra e um sindicato fraco que possibilita grandes
lucros, uma vez que há pouca cobrança.
AS EMPRESAS JAPONESAS E AS PRÁTICAS
GERENCIAIS INOVADORAS
Os produtos japoneses já possuíram uma fama negativa no
mundo e antes de 1950 eram associados a falta de qualidade e
confiabilidade. Após o chamado “milagre japonês”, muita coisa
mudou. As Altas Direções das empresas, convenceram-se de
que a qualidade era essencial para o sucesso.
Inicia-se no Japão a partir de 1954, um conjunto de idéias
inovadoras de gestão que revolucionaram o modo como as em-
presas administravam. Por considerar pertinente e de grande
contribuição, esse trabalho traz na integra, a seguir, um resu-
mo dessas novas práticas, abordadas com maestria no artigo
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“Gestão do Conhecimento –Serpro5”. Conforme breve resumo,
assim traz o artigo:
a) Qualidade Total (Total Quality Control): Sobre o processo
de produção (ao invés de focar a qualidade no produto), visan-
do satisfazer a expectativa do cliente;
b) Círculos de Controle de Qualidade (CQC): Grupos infor-
mais de trabalhadores que espontaneamente passam a buscar
soluções criativas para os problemas da área ou da empresa;
c) Método “Ringi” de Decisão: Trata-se da decisão con-
sensual, obtida através do comprometimento individual com o
resultado ou meta decidida pelo grupo.
d) Just-in-Time: Integração da empresa com seus fornecedo-
res, permitindo a eliminação de estoques com o suprimento aten-
dido no momento da utilização dos componentes na produção;
e) Kanban: Sistema de programação e controle de produ-
ção que visa “enxugar” atividades-meio que não agregam va-
lor ao cliente (supervisão, controles administrativos e outros).
A produção é auto-gerenciada através de cartões ou painéis,
permitindo o encadeamento de todas as atividades do proces-
so, “puxando” a produção;
f) Kaizen: Filosofia da melhoria contínua, que objetiva
sustentar e garantir a qualidade através de pequenas melho-
rias no processo;
g) Manufatura Flexível: Sistema de produção que permite
a fabricação simultânea de vários modelos e especificações
de produtos, atendendo demandas individualizadas dos ni-
chos de mercado;
h) Keiretsu: Sistema empresarial caracterizado pela atu-
ação em redes verticais e horizontais de parceria, integrando
todos os fornecedores da cadeia produtiva através da subcon-
tratação industrial.
Essas características foram responsáveis por uma grande
transformação e diferenciação das empresas japonesas em re-
alização a empresas de outros países.
ESTUDO DE CASO
Passa-se a um estudo de caso de uma das empresas ja-
ponesas de maior solidez e representatividade e que há alguns
anos vem apresentando lucros robustos, que somados, por ve-
zes, conseguem ser superiores aos lucros de suas três maiores
concorrentes. Paulatinamente, a empresa vem conquistando
cada vez mais espaço no mercado mundial e aumentando sua
produtividade. Trata-se de uma montadora, a saber: A Toyota.
A Toyota tornou-se uma das maiores fabricantes de auto-
móveis do mundo e sua história revela uma trajetória de de-
dicação ao cliente, inovação e emprego da experiência e da
cultura japonesa. Grande parcela do mérito é atribuída a Sakichi
Toyoda que em 1907 monta a “Toyoda Spinning and Weaving
Co, Ltda”, pranteando as bases da Toyota. Sakichi morre pos-
teriormente e encarrega seu filho, Kiichiro, dos investimentos
na indústria automobilística. Kiichiro começou a trabalhar no
desenvolvimento de motores movidos a gasolina e conseguiu
produzir o protótipo de um caminhão e de um automóvel, fun-
dando em 1937 a “Toyota Motor Company Ltda”. Um dos gran-
des marcos na história da Toyota diz respeito a implantação
do “Just-in-time” na produção de seus veículos. Produzia-se
apenas o que era necessário, no momento certo e na quanti-
dade adequada. Essa filosofia valorizava o produzir mais com
menos e é admirada ainda nos nossos dias, ficando conhecida
como “Sistema de Produção Toyota”. Em 1950, a empresa já
possuía 40% do mercado de vendas de automóveis no Japão.
Em 1958, a Toyota monta sua primeira fábrica no exterior, espe-
cificamente no Brasil. Caminhando um pouco mais pela história
chegamos a 2003, onde ocorreu a implementação da “Toyota
Mercosul” onde a empresa se transforma em um pólo de pro-
dução para toda a América Latina. Com metas ousadas e par-
ticipação mundial a empresa tem conseguido manter liderança
no mercado europeu e asiático.
Um dos princípios que movem a empresa (e que se enqua-
dra de forma perfeita dentro do estudo que aqui se propõe) diz
respeito ao estímulo de uma cultura empresarial que promova
a criatividade individual e o valor do trabalho em equipe, bem
como uma forma de gerenciamento inovadora6. Desde seus pri-
mórdios, verifica-se que a Toyota sempre visualizou o homem,
não simplesmente como um ente que movimenta a produção,
mas também como uma alavanca que faz com que a Organiza-
ção sobreviva. Nessa mesma perspectiva, lembra-se do pensa-
mento de Quel (2006, p.48), quando afirma que “o homem volta,
então, a ser uma alavanca na sobrevivência das instituições.
Não mais aquela mão-de-obra puramente mecânica, mas um
novo colaborador menos mecanicista e mais pensamente.”
A Toyota utiliza três processos inter-organizacionais: 1) Asso-
ciação de fornecedores; 2) Grupos de consultoria e 3) Equipes de
aprendizado. Isso facilita a gestão do conhecimento e a transfe-
rência dele. Para estimular ainda mais o aprendizado, a empresa
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lança mão de alguns recursos. Cita-se: Compartilhamento de in-
formações gerais, inclusive as políticas da Toyota e as “melhores
práticas” de ampla aplicação; assistência intensiva no local por es-
pecialistas da própria Toyota; seminários; compartilhamento know-
-how no local, usando grupos de 06 a 12 fornecedores.
Dados7 interessantes dizem respeito a empresa e podem
ser atribuídos às práticas de transmissão de conhecimento. Por
exemplo: A quantidade de peças defeituosas por milhão pro-
duzidas para a Toyota caiu 84% entre os anos de 1990 e 1996,
contra 46% de suas concorrentes.
Essa mesma visão que valora o capital intelectual tem sido
utilizada atualmente por muitas empresas em detrimento da vi-
são que as Organizações adotavam nos primórdios da adminis-
tração, quando todo o foco estava voltado para as máquinas e
para a busca de inovações. Todavia, a Toyota destaca-se pela
valorização do capital humano desde sua fundação e justifica-
-se grande parcela de seu sucesso devido a esse fato.
Entende-se que essa visão valorizadora pode ser per-
feitamente aplicada nas empresas brasileiras, contribuindo
para o desenvolvimento das Organizações e aproveitamento
do capital intelectual.
HISTóRIA, HISTORICIDADE E GESTÃO DO CONHECIMENTO
O mercado de trabalho atual é impulsionado por uma so-
ciedade contemporânea, exigente, especialmente no que diz
respeito ao consumo de produtos e serviços. Historicamente,
faz-se importante destacar pelo menos dois elementos que se
ligam com as novas formatações desse mercado. Cita-se: Au-
tomação e Globalização.
Desde a Revolução Industrial, que teve início na Inglaterra,
por volta de 1760, a substituição de ferramentas por máquinas e
da força de trabalho humana pela força das máquinas já era uma
realidade e fazia parte dos sistemas de produção. Todavia, todo
o maquinário era utilizado de forma auxiliar ao trabalho humano,
possibilitando que o empregado produzisse mais. Essa interferên-
cia auxiliar no ambiente laboral foi chamada de mecanização.
Após a II Guerra Mundial o mundo ingressou em um processo
de profundo desenvolvimento e inovação no campo tecnológico,
gerado pela compreensão nova entre conhecimento científico e
produção industrial. Esse período, conhecido como Terceira Re-
volução Industrial ou Revolução Técnico-Científica, permitiu o de-
senvolvimento de diversas atividades na indústria e uma chamada
dinamização produtiva, na medida em que implementava máqui-
nas e equipamentos capazes de produzir com rapidez e eficiência
e, em alguns casos, sem participação alguma do homem. A esse
processo, chamamos de automação.8
A partir da Teoria das Relações Humanas, inicia-se uma
corrente visionária que começa a enxergar o homem como
uma possibilidade de melhoria para o processo produtivo,
se tratado e ensinado de forma correta. Nesse sentido, Quel9
se manifesta:
“O que se segue após essa descoberta é um ciclo
de tentativa de buscar no indivíduo o máximo que ele
podia produzir, por intermédio de instrumentos de
manipulação de suas características individuais e de
sua submissão ao meio social. Mesmo assim, o indi-
víduo ainda era considerado - e isso até uns poucos
anos atrás - um bem da empresa, utilizável como uma
máquina, na qual se faz ajustes de maneira que renda
o máximo possível com mínimo de despesas, ou seja,
um “produto maximizável” (quEL, 2006, p.44).
O conhecimento aumenta e promove a capacidade de
inovação e pode contribuir em demasia para o futuro organiza-
cional. A gestão do conhecimento liga-se a produção direta e
indireta, promove desenvolvimento sustentável, vantagem com-
petitiva, inovações e pode derrubar as barreiras impostas pela
hierarquia. Nas palavras de Quel10:
“Por meio de seu conhecimento e de suas habilidades
e competências, o individuo pode representar o dife-
rencial no sucesso ou no fracasso dos negócios das
empresas. quando já há uma estabilidade em termos
tecnológicos no mercado global, investir na capacita-
ção e no aprimoramento desses indivíduos passou a
ser um trunfo das grandes corporações, como forma
de alavancar e potencializar seu mercado de atuação.”
(quEL, 2006, p. 56).
O conhecimento envolvido nas atividades laborais tem sido
abordado desde as principais teorias da administração na linha
das relações humanas. Nos primórdios dos processos de pro-
dução, nas oficinas, produzia-se artesanato sob encomenda e
o aprendizado se dava pela troca de informações e ensino das
técnicas àqueles que ainda não estavam familiarizados com o
processo, por parte daqueles que já o dominavam. A gestão do
conhecimento cria um diferencial competitivo extremamente for-
te, dificilmente imitada pelos concernentes, pois está enraizada
nas pessoas que compõe a Organização.
Hodiernamente, apenas a estrutura física de uma empresa
não é suficiente para que ela se mantenha. O olhar atual tam-
bém está voltado para o capital intelectual, sobre a forma de
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valorizar pessoas e usufruir da melhor maneira de seus conheci-
mentos. A forma de aproveitar melhor o conhecimento é praticar
a chamada gestão do conhecimento, que nada mais é do que
estimular e facilitar a troca, o uso e a criação de conhecimento
em toda a empresa.
Há dois tipos básicos de conhecimento que podem ser
aplicados pelo ser humano: O explícito e o tácito. Passemos
a uma breve diferenciação: O conhecimento explícito é o
mais fácil de ser colocado em palavras, registrado e docu-
mentado. É facilmente adquirido por meio da leitura de jor-
nais, revistas e livros, por exemplo. O segundo tipo - o tácito
- é o mais difícil de ser colocado em palavras e é adquirido
apenas com a prática.
De acordo com Pierre Fayard11:
“Socializar o conhecimento tácito é a primeira etapa da
criação de conhecimento, tal como foi codificada pelo
professor Ikujiro Nonaka. Antes disso, é inútil pensar ser
possível seguir as três etapas sucessivas de seu modelo
SECI: a Expressão, a Combinação e, finalmente, a Inte-
gração de novos conhecimentos. Como seu nome indica,
nessa fase inicial a dimensão humana, social e relacional
é fundamental. Ela desenvolve-se no contexto do conceito
bem japonês de Ba, definido por Nonaka como um «es-
paço compartilhado em movimento», e que propomos
traduzir por «comunidade de conhecimento.”
Nas empresas japonesas, o conhecimento acumulado é
compartilhado em amplitude dentro da Organização como parte
da base de conhecimento da empresa. Forma-se um ciclo de co-
nhecimento que gera inovação contínua e vantagem competitiva.
A valorização do conhecimento como sendo um aprendizado po-
deroso, faz com que haja ênfase nesse compartilhamento, forman-
do uma espécie de comunidade do conhecimento.
Ainda segundo Fayard:
“uma comunidade de conhecimento reúne, sobre a base de um interesse comum, atores de naturezas diferentes, de dentro e de fora da empresa, em uma estratégia de produção de conhecimentos opera-cionais que sirvam a todos os participantes.”
Para criar conhecimento, o aprendizado que vem dos ou-
tros e as habilidades compartilhadas precisam ser internaliza-
das (esse processo de internalizar o aprendizado pressupõe
modificação, enriquecimento e tradução de forma a se ajusta-
rem a identidade e a imagem da empresa).
CONCLUSÕES FINAIS
Esse trabalho objetivou analisar a longevidade das or-
ganizações orientais, fazendo um contraponto com a cultura,
educação formal e não formal e ainda com a tradição oriental.
Fica clara a contribuição dos valores da tradição japonesa no
que tange a sustentação das empresas, na medida em que se
têm profissionais dedicados e que consideram o trabalho como
algo que dignifica o homem e que entendem a importância da
gestão do conhecimento.
Dividir o conhecimento é uma das atividades mais natu-
rais, porém essa ainda não é uma prática comum no interior
das empresas brasileiras. Superou-se o tempo em que apenas
equipamentos e atividades operacionais geravam lucratividade.
Atualmente, o olhar empresarial também está voltado para o
capital intelectual, um grande diferencial competitivo.
No que tange a essa nova forma de gerir o conhecimento,
entende-se que ela representa um avanço e possibilita que a
empresa se posicione em situação vantajosa no mercado. A
gestão do conhecimento é um processo contínuo e de respon-
sabilidade de todos dentro da organização. É através dele que
o indivíduo se relaciona com a empresa e nesse sentido a ex-
periência oriental tem muito a nos acrescentar, porém, é neces-
sário que ocorra uma integração com os demais processos or-
ganizacionais e empresarias dentro da Companhia, bem como
com as estratégias que a posicionam no mercado.
É esse um dos maiores desafios para as empresas
braceleiras: Aplicar a gestão do conhecimento de forma
alinhada aos negócios, orientada para os objetivos estratégicos
da empresa. A experiência japonesa pode contribuir para o
alcance dos melhores resultados desse desafio.
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9 QUEL, Luiz Felipe. Gestão do Conhecimento e os desafios da com-plexidade nas organizações. São Paulo: Saraiva, 2006.
10 Idem.
11 O modelo inovador japonês de gestão de conhecimento. Book-man, Porto Alegre 2009.
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os DesaFios Da ÉtiCa empresariaL e CiDaDania na era Da inFormação e Do ConHeCimento
Inês de Carvalho Veloso1
Mauro Elias Gebran2
RESUMO: Este artigo tem por objetivo mostrar que no século XXI, era da informação e do conhecimento, a implantação de uma conduta ética, dentro das
organizações e da sociedade, pode contribuir com excelentes resultados; Que todo o conhecimento adquirido tem como finalidade principal a realização pes-
soal e a maior igualdade social possível através da aplicação dos verdadeiros valores morais, objetivo da Ética. Quanto à abordagem a Pesquisa é de natureza
exploratória e o método qualitativo. De acordo com Merriam (2002) o estudo qualitativo básico tem como objetivo descobrir e compreender um processo ou
as perspectivas e visão de mundo das pessoas nele envolvidas. Portanto, a metodologia qualitativa mostra-se relevante e adequada para responder à questão
da pesquisa proposta. O instrumento de coleta de dados é o de análise de conteúdo para a compreensão e interpretação dos fatos para o problema em foco.
Foram selecionados livros, artigos e palestras de pesquisadores que demonstram grande conhecimento sobre o assunto para obtenção dos dados necessá-
rios. O processo de condução da pesquisa é essencialmente indutivo, isto é, o pesquisador coleta e organiza os dados com o objetivo de construir conceitos,
pressuposições ou teorias, ao invés de dedutivamente derivar hipóteses a serem testadas. A pesquisa realizada demonstra que as empresas, nesta Sociedade
Capitalista global, necessitam se adequar às exigências do mercado preservando a ética, uma vez que o acesso às informações cresce cada dia mais, exigindo
mais transparência e atitudes éticas. Ignorar isso é um erro estratégico que pode comprometer a sobrevivência do negócio como também a realização pessoal
do ser humano. Neste contexto se faz necessário que as empresas conscientizem-se de que a ética gera conhecimento de qualidade, é um diferencial compe-
titivo para o crescimento e a imagem do negócio e fonte de lucros para as organizações, sem impor uma obrigatoriedade da necessidade de escolher entre o
humano e o lucro. A problematização deste artigo é: Estamos construindo hábitos e costumes saudáveis em nossa Sociedade?
PAlAVRAS-ChAVE: Ética. Informação. Conhecimento.
1. INTRODUÇÃO
As preocupações com a direção que a Sociedade Moderna
vem tomando, com a busca incansável pelo avanço da Tecno-
logia da Informação, apontam os inúmeros desafios a enfrentar
desde os de caráter econômico, cultural, social e legal, até os
de natureza psicológica e filosófica. O ser humano busca a fe-
licidade, e sua própria realização. No entanto, nunca se cons-
tatou tantas insatisfações, esgotamento e doenças psicosso-
máticas como nos dias de hoje, tanto nas empresas como na
sociedade de modo geral.
No sistema atual capitalista, com a globalização do indi-
vidualismo, a satisfação pessoal e o egocentrismo estão aci-
ma da busca pelo bem comum, ou seja, as pessoas devem se
preocupar com elas mesmas e não com os outros. A socieda-
de moderna ensina que, para vencer, as pessoas devem ser
egoístas, que podem crescer sem os outros. As exigências do
capitalismo levam a uma competitividade extrema, a um indivi-
dualismo exagerado, levando a sociedade e as organizações
a valorizarem as pessoas por aquilo que são capazes de pro-
duzirem. Com tudo isso se percebe o isolamento natural das
pessoas agravada pelo medo da violência e falta de confiança
uns nos outros, destruindo as bases do coletivismo.
No artigo publicado em 2011, a socióloga Vera Araujo
disse que:
[...] a globalização não contribuiu para a formação de
comunidades, ao contrário, fez surgir patologias sociais
como a solidão global: A globalização não uniu as pes-
soas e os povos, apenas os colocou em comunicação,
não os colocou numa possibilidade de se doar e enri-
quecer uns aos outros. (p.22)
Matos (2005) comenta que, é correto ligar o sucesso ou
fracasso de uma organização ao seu comportamento ético.
Para pessoas e organizações não é mais uma opção, é ques-
tão de sobrevivência. Com a velocidade que se processam
as transformações, há necessidade de valores internalizados
para que haja alinhamento no momento das decisões, que
exigem rapidez. Já, Arruda (2003) vai mais longe ainda: a au-
sência dos valores morais é o pior dos males que podem afligir
toda a sociedade.
Segundo Fleury e Fleury (2000), citado por Sordi, a com-
petência do individuo é o saber agir responsável e reconhecido
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que implica: mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recur-
sos, habilidades, que agreguem valor econômico à organização
e valor social ao individuo.
Dentro desse contexto surgem os desafios da ética como
ciência da ação comunitária que tem o dever de cuidar do de-
senvolvimento do ser humano no seu convívio social e levá-lo a
realização plena, pois o ser humano é um ser social em cons-
trução que se realiza com os outros.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 CONCEITOS DE éTICA
O termo ética vem do grego Ethikós, que significa “modo
de ser”. Trata o comportamento humano pelo seu valor moral,
a natureza do bem e do justo. É também chamada de filosofia
moral, por tratar dos valores em sociedade, isto é, do compor-
tamento humano pelo seu valor moral.
Nos constructos de Japiassú e Marcondes (1996) encontra-se:
“Ética do grego ethike, de ethikós que significa cos-
tumes. Parte da filosofia prática que tem por objetivo
elaborar uma reflexão sobre os problemas fundamen-
tais da moral (...), mas fundada num estudo metafísico
do conjunto das regras de conduta consideradas como
universalmente válidas. Diferentemente da moral, a éti-
ca está mais preocupada em detectar os princípios de
uma vida conforme a sabedoria filosófica, em elaborar
uma reflexão sobre as razões de se desejar a justiça e
a harmonia e sobre os meios de alcançá-las. A moral
está mais preocupada na construção de um conjunto
de prescrições destinadas a assegurar uma vida em
comum justa e harmoniosa”. (p. 93)
Em sua principal obra sobre a ética, Ética a Nicômaco, Aris-
tóteles esclarece que a etica é o estudo da conduta humana,
menos exatas na medida em que se ocupa com assuntos pas-
síveis de modificação. Ela não se ocupa com aquilo que no ho-
mem é essencial e imutável, mas daquilo que pode ser obtido
por ações repetidas, disposições adquiridas ou de hábitos que
constituem as virtudes e os vícios. Seu objetivo último é garantir
ou possibilitar a conquista da felicidade. Para o pensador não é
possivel buscar a ciência sem ser virtuoso, e para ser virtuoso é
preciso buscar a verdade e a verdade é dolorosa, exige abne-
gacao , disciplina, moral e caráter.
Partindo das disposições naturais do homem (disposições
particulares a cada um e que constituem o caráter), a moral
mostra como essas disposições devem ser modificadas para
que se ajustem ao comedimento, à moderação. Estas disposi-
ções costumam estar afastadas do justo meio, estado que Aris-
tóteles considera o ideal. Assim, algumas pessoas são muito
tímidas, outras muito audaciosas. A virtude é o meio-termo e o
vício se dá ou na falta ou no excesso. As virtudes se realizam
sempre no âmbito humano e não têm mais sentido quando as
relações humanas desaparecem.
O filósofo Aristóteles tem os seguintes pensamentos:
“A virtude é uma disposição adquirida voluntariamente,
consistindo, em relação a nós, em uma medida, de-
finida pela razão conforme a conduta de um homem
que age refletidamente. Ela consiste na medida justa
entre dois extremos, um pelo excesso, outro pela falta”.
(ARISTÓTELES, VI)
“(...) a virtude está em nosso poder, do mesmo modo
que o vício, pois quando depende de nós o agir, tam-
bém depende o não agir, e vice-versa. de modo que
quando temos o poder de agir quando isso é nobre,
também temos o de não agir quando é vil; e se está em
nosso poder o não agir quando isso é nobre, também
está o agir quando isso é vil. logo, depende de nós pra-
ticar atos nobres ou vis, e se é isso que se entende por
ser bom ou mau, então depende de nós sermos virtuo-
sos ou viciosos”. (ARISTÓTELES, III)
Outro importante conceito de etica a ser estudado para se
atingir o objetivo desta pesquisa é o de Emanuel Kant (1724-
1804). O fillósofo parte do principio que cada um deve se com-
portar a partir de principios universais; Todos tem o dever de
cumprir com um compromisso assumido; A teoria Kantiana
propoe que qualquer conduta aceita como padrao etico deve
valer para todos, sem exceção, desde que se exija do próximo
o mesmo que exigimos de nós mesmos.
Portanto, o caminho para a felicidade é através de uma
vida regida por virtudes e morais, meta do ser humano e fi-
nalidade da etica.
2.2 CONHECIMENTO E VERDADE
O conceito da verdade vem desafiando a humanidade por
milhares de anos. Filósofos da antiga Grécia debatiam a natu-
reza da verdade. Eles discutiam se ela era real e absoluta, ou
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relativa e ilusória. Suas dúvidas podem ter sido refletidas numa
questão de Pilatos, encontrada no evangelho de João, seu ca-
pítulo 18 e Vv. 38: “Que é a verdade?”
Os ensinamentos de Jesus Cristo no evangelho de Joao
8:32, onde ele diz: “E conhecereis a verdade e a verdade vos
libertará.” Deus revela a verdade como certa e absoluta. Jesus
não mostra a verdade como um objetivo ilusório e inatingível:
Deus não nos deu meramente idéias subjetivas para serem
moldadas de modo a se ajustarem às nossas situações. Está
escrito na Carta do Apóstolo Paulo em seu capitulo 2 e versos
2: Não vos conformeis com os esquemas deste mundo, mas
transformai-vos pela renovação do espírito, para que possais
conhecer a vontade de Deus, que é boa, agradável, e perfeita.
O conhecimento é a única porta de acesso à verdade.
Quando o individuo recusa esse acesso ele se torna rebelde e
indiferente as leis do Universo. Em entrevista concedida à revis-
ta Veja SP de 2006, David Livingstone Smith, diz que o culto à
mentira é uma das razões pela qual o mundo atual leva ao indi-
vidualismo, à desintegração da pessoa e sua indiferença diante
da realidade. A substituição da verdade pela mentira traz con-
sigo a perda de referências, de princípios e valores, a começar
pela perda da própria identidade.
O relativismo é outra das razões, já que nesta cultura cada
pessoa cria os seus próprios valores, decide segundo seu
próprio critério o que é verdadeiro ou falso e acha que ser li-
vre é fazer o que se tem vontade, desprezando as intenções
que movem o sujeito; O ter se sobrepõe ao ser; Predomina o
consumismo, o hedonismo, a busca da comodidade, o querer
levar vantagem, o lucro fácil, não importando os meios utiliza-
dos para atingí-lo, sem contar a degradação e devastação do
meio ambiente. Esses são os maiores desafios impostos para
se conquistar uma sociedade ética. O mais forte opositor desse
relativismo cultural é o Papa Emérito Bento XVI, que, do Castel
Gandolfo em 2009, a classificou não como cultura, mas sim,
como ditadura do Relativismo: o mundo atual vive uma espé-
cie de ditadura do relativismo, que mortifica a razão, porque afir-
ma que o ser humano não pode conhecer com segurança nada
além do campo científico: A todos peço que não tenham medo
da verdade, que nunca interrompam o caminho em direção a
ela, que nunca deixem de procurar a verdade profunda sobre
nós mesmos e sobre as coisas, com o olhar interior do coração.
Por ocasião do discurso proferido em Lyon, na França no
ano de 2006, Carlos Vogt, lingüista e poeta ensina que todo
conhecimento é útil. Como o fundamento da moral é a utilidade,
é possível afirmar que a utilidade do conhecimento é o que o
torna ético, por definição. Nesse sentido, não há conhecimento
inútil, já que a ação de conhecer está voltada para proporcionar
felicidade, prazer e satisfação à sociedade. O conhecimento é
útil porque, como outras ações éticas do ser humano, corres-
ponde à necessidade de uma prática desejável, aquela que nos
leva a buscar a verdade e a felicidade de nossos semelhantes e
nela sentir o prazer de sua realização no outro.
Para Vogt (2006), os atores principais desse momento do
processo do conhecimento já não são mais as universidades,
mas as empresas. Entretanto, para que a atuação das empre-
sas seja eficaz, é necessário que tenham no seu interior, como
parte de sua política de desenvolvimento, centros de pesquisas
próprios ou consorciados com outras empresas e com labora-
tórios de universidades. O importante é que a política de pes-
quisa e desenvolvimento seja da empresa e vise às finalidades
comercialmente competitivas da empresa. Sem isso, não há o
desafio do mercado, não há avanço tecnológico e não há, por
fim, inovação no produto. Concluindo, Vogt entende que divi-
dir a riqueza, fruto do conhecimento, e socializar o acesso aos
seus benefícios, fruto da tecnologia e da inovação é, pois, o
terceiro grande desafio que devemos enfrentar.
2.3 OS DESAFIOS DA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
Segundo Adriana Beal (2002), o principal benefício que a
tecnologia da informação traz para as organizações é a sua
capacidade de melhorar a qualidade e a disponibilidade de in-
formações e conhecimentos importantes para a empresa, seus
clientes e fornecedores. Os sistemas de informação mais mo-
dernos oferecem às empresas oportunidades sem precedentes
para a melhoria dos processos internos e dos serviços presta-
dos ao consumidor final.
No entanto, de acordo com frei Nilo Agostini (2010), Doutor
em Teologia pela Faculdade Católica de Ciências Humanas de
Strasbourg, França (1989), afirma que, num movimento já de
pós-modernidade, vive-se uma reação existencial que leva o
homem a questionar o grande pluralismo de valores, numa pro-
liferação do relativismo, sob a proteção do não existe nada de
absoluto, do vale tudo. Desta forma mergulha-se no campo do
banal, do viver apenas o momento, à margem de toda moral, in-
centivados pelos meios de comunicação social que estabelece
como valores o dinheiro, a juventude, o sexo, o culto ao corpo, o
hedonismo, o narcisismo, e por outro lado desvalorizam a pure-
za, virgindade, caráter, trabalho, autoridade, disciplina, moral e
ética. A vida foi incorporada ao videogame, a realidade é virtual,
importa os efeitos especiais e as experiências pura adrenalina.
Vive-se hoje uma imensa e profunda crise moral e ética,
onde o homem atual se destaca pela indiferença perante os
problemas sociais. A verdade tornou-se relativa, o que faz re-
cordar as palavras de Rousseau: O Homem nasce bom e a so-
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ciedade o corrompe. Nesta busca desenfreada pelo rentável o
ambiente empresarial está cada vez mais dependente da infra-
-estrutura tecnológica de informação, que é sua matéria prima,
numa mudança continua, tornando-se cada vez mais complexo
e menos previsível. O ritmo acelerado das invenções, as incer-
tezas geradas, a perda de referenciais, provocaram um desen-
canto frente à própria modernidade.
Segundo o especialista Paulo Ranieri (2012), Mestre em
Ciência da Comunicação, nunca antes na história houve tanta
informação acessível, porém apesar disso parecer ser benéfi-
co, o excesso de informação faz mal e pode gerar problemas
ainda mais sérios como ansiedade, estresse e esquizofrenia.
O psicólogo britânico David Lewis, que usou pela primeira vez
o termo “síndrome da fadiga por informação”, em 96, concor-
da com Ranieri e acrescenta: Quando as pessoas se deparam
com mais informação do que têm capacidade de processar,
tornam-se incapazes de tomar decisões. Informação não é mais
sinônimo de resolução de problemas. Muitas vezes, vira até a
causa deles. O excesso de notícias pode ser tão ruim quanto
à ignorância, dificultando a tomada de decisões e levando à
paralisia, analisa o psicólogo, em entrevista ao Jornal Folha de
São Paulo de 2000.
2.4 éTICA X LUCRO
O capitalismo selvagem ensinou que ética e lucro são con-
ceitos incompatíveis. O mundo, no entanto, está mudando e
a economia globalizada já começa a demonstrar que a ética
pode ser um elemento de valorização da empresa.
Conforme Arruda (2002) ética e lucro não apenas são com-
patíveis, mas essenciais; A função de toda empresa é gerar
produtos, serviços ou idéias que atendam às necessidades da
população, da comunidade, da sociedade. Se ela não fizer isso
de uma maneira lucrativa, eficaz, significa que não está usando
adequadamente os recursos disponíveis, sejam eles humanos,
de capital ou de tecnologia. E todos eles têm que ser eficazes e
de qualidade moral. A empresa não lucrativa é incompetente e a
incompetência não é ética. O lucro em si não é o problema, mas
sim como ele é conseguido e de que forma é usado: O lucro
abusivo, gerado a partir da exploração de recursos humanos
ou naturais, é um exemplo de mau uso. E isso é falta de ética.
Funcionários bem tratados não querem deixar seu emprego e,
assim, a empresa acaba tendo um ganho forte. Aquela que ba-
talha por seus lucros agindo corretamente forma uma imagem
coerente com o que faz com o que trabalha e com o que os
clientes esperam dela.
Carlos Mota de Souza, (2007), Professor de pós-graduação
da Universidade Ibirapuera (SP), compartilha da mesma opinião
de Arruda e completa: lucro e ética alem de compatíveis são
complementares; A empresa é como a moeda com duas faces:
o lucro e a ética. Embora pareçam incompatíveis, as empre-
sas buscam hoje um comprometimento recíproco de ambos os
conceitos. O lucro é a realização material da empresa, concomi-
tante a sua atuação ética, tendo por princípios o respeito à pes-
soa humana (empregados, consumidores, etc), e a promoção
do bem comum (sociedade, governos, nações).
Segundo Montana & Charnov (2003, p.40) é do melhor inte-
resse da empresa melhorar as comunidades nas quais estão in-
seridas e nas quais fazem negócios. A melhoria nos ambientes
comunitários, em última instância, reverterá em benefício da em-
presa. Ações que demonstram sensibilidade social, se efetivadas
dentro de um modelo econômico sustentável, podem, de fato, ser
lucrativas para a empresa. Novas máquinas de controle de polui-
ção, por exemplo, podem ser mais eficientes e econômicas.
2.5 A DIGNIDADE DO SER HUMANO
Para Agostini (2010), o ser humano tem um desejo ilimi-
tado de realização, felicidade, mas nem sempre se contenta
com o que pode realizar. Se moralmente fraco, resvala, não
raro, na frustração da infelicidade, e se entrega facilmente
ao desejo de consumir, à busca do poder e às promessas
mirabolantes para preencher sua vida. O mal surge e instala-
-se, atingindo o seu âmago, em um espectro que se alastra
na sociedade. Sob múltiplas formas, a corrupção translitera o
mal e aninha-o no próprio ethos humano, sugando a nature-
za, numa depredação voraz e sem limites; e parece dominar,
desequilibrando o ser humano em suas relações fundamen-
tais, consigo, com os outros, e com Deus.
Em entrevista para o Jornal Diário do Comércio de São
Paulo, edição dos dias 1, 2 e 3 de setembro de 2012, Agostini
comenta: Verifica-se no mundo político sucessivos escândalos
e uma falta de compromisso com a verdade; A missão dos po-
líticos é pesquisar e descobrir quais são as formas de governo
capazes de assegurar um desenvolvimento humano correspon-
dente ao econômico. Porém, o que se vê é a utilização de ver-
bas públicas para interesses próprios e enriquecimentos ilícitos,
e isso é falta de ética; São Basílio (329-279) denuncia os maus
políticos: Tornaste um explorador ao apropriar-te dos bens que
recebeste para administrá-lo. Se alguém se condena, não será
por ter possuído riquezas, mas por tê-las empregado mal. No
Brasil o capital humano está sendo deixado para trás de modo
bastante antiético. Nossa pobreza é econômica, intelectual e es-
piritual, completa Arruda (2002).
A corrupção desestabiliza a economia, aumentando o risco
da atividade econômica e elevando os custos de produção, o
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que reflete numa diminuição do investimento e, conseqüente-
mente, diminuição do crescimento da economia do País. Se-
gundo publicação da jornalista Vera Batista (2011), a organi-
zação Transparência Internacional e projeções da Federação
da indústria do estado de São Paulo (Fiesp) revelam que no
cenário mais otimista, o Brasil responde por 26% de todo o di-
nheiro movimentado pela corrupção no mundo. Indignada, Ma-
ria do Socorro Macedo de Carvalho, conselheira do conselho
consultivo do IBQV, conclui: O Brasil precisaria, urgentemente,
preparar-se para enfrentar e dominar essa imensa onda que é
a corrupção que assola o país e que tem potencial para cau-
sar efeitos quase tão devastadores quanto os provocados pelo
Tsunami em 2011, que abateu o Japão. Efeitos esses devas-
tadores como o mostrado pela TV Globo, em reportagem no
Fantástico, edição de 06 de Janeiro de 2013, onde bilhões de
reais são desperdiçados, por falta de um bom planejamento,
em obras em portos, ferrovias, usinas abandonadas e estradas
inacabadas que são fundamentais para o país crescer e gerar
empregos. E o que é mais assustador: quem paga essa conta,
no final, é o consumidor!
A própria legislação tem enfatizado a conduta da lei do
mais forte e não da ética na tentativa, através do novo Código
Civil, da descriminalização do aborto, da liberação da maco-
nha, do casamento gay, do consentimento sexual a partir dos
12 anos de idade, o que liberaria a pedofilia.
Segundo Arruda (2003) os meios de comunicação de
massa - principalmente a televisão - têm uma grande respon-
sabilidade, pois, em geral, reforçam essa superficialidade. A
mídia necessita mudar a forma de avaliação da sua progra-
mação, que atualmente atribuem valores baseados somente
no índice de audiência, sem se preocupar em dar a socieda-
de uma contribuição construtiva. As novelas mostram que
todo mundo é desonesto e que não adianta fazer força, pois
nada vai mudar e o povo vai continuar a ser massacrado.
A população não tem exemplos de esforço bem-sucedido e
isso se reflete nos modelos sociais.
Conforme pesquisa encomendada à Empresa de Consul-
toria Britânica Economist Intelligence Unit (EIU), e publicada em
Novembro de 2012, o Brasil ocupa o penúltimo lugar em ranking
global que mede a qualidade de sistemas educacionais. Em
plena era da informação e do conhecimento, a realidade é que
o Brasil tem sido levado por uma forte ganância do mercado,
deixando os investimentos sociais de lado, comenta Arruda
(2003). E ainda, como dito na Conferencia latino-americana de
Bispos, reunida em Puebla, México, em 1879: é preciso anun-
ciar uma proposta concreta de restabelecimento da justiça, da
igualdade dos cidadãos, da dignidade humana.
2.6 A éTICA DA DELAÇÃO
Recentemente a humanidade foi surpreendida com as
revelações do gigantesco programa de vigilância realizado
pela NSA (National Security Agency — a Agência de Segu-
rança Nacional dos EUA). Tais revelações só foram possíveis
por causa das medidas de um só indivíduo, Edward Snow-
den, o homem que delatou tudo e que atualmente está ten-
do de viver escondido para se proteger da fúria do governo
americano, cujos segredos indecorosos e apavorantes foram
tornados públicos por Snowden, como relata o professor Ben
O’Neill, no seu artigo publicado pelo Instituto Ludwig Von
Misses Brasil, em 12 de Julho de 2013. Segundo O’Neill ,
após todas essas revelações, fica evidente que a NSA co-
manda uma rede de espionagem especializada em coletar
dados sobre as comunicações privadas feitas por cidadãos
não-americanos. A NSA espiona seus alvos sem nenhum
mandado individual permitindo espionagem em massa e ar-
mazenamento de dados ao bel-prazer dos analistas da NSA.
Snowden está sendo chamado de traidor e acusado pelo
governo americano de roubo de propriedade governamental
e divulgação não-autorizada de material de defesa e de in-
teligência, enfatiza O’Neill. Para seus defensores, Snowden
é um “herói infrator”, um homem que “roubou” documentos
ilícitos do governo para expor as atividades de suas mais cor-
ruptas e secretas agências. Tais circunstâncias nos obriga
a refletir acerca desta seguinte pressuposição: é legítimo o
governo reivindicar a propriedade das informações secretas
que ele colheu? Quando a delação deveria e quando não
deveria ser considerada uma ação criminosa? Para O’Neill
(2013), contratos não podem ser considerados legítimos e
não deveriam ser considerados éticos se eles envolvem a
realização de uma ação ilícita, ou uma ação que tenha o in-
tuito de aprofundar um propósito ilícito. Esta é a base sobre
a qual é possível considerar a delação uma atividade lícita.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista a pesquisa realizada com o tema sobre
os desafios da ética na era da informação e do conhecimento,
conclui-se que são necessárias primeiramente, mudanças ime-
diatas na administração do nosso país. Sem a superação da
crise ética, a tecnologia da informação não poderá conduzir a
uma sociedade justa, digna e de hábitos saudáveis.
Vive-se uma crise civilizatória onde a informação cresce
na mesma velocidade que a insatisfação. É preciso iniciar uma
caminhada para a maturidade onde a tecnologia da informa-
ção possa ser usada em favor do desenvolvimento sócio-eco-
nômico. O Brasil precisa investir em educação. Conforme dito
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pelo Primeiro Ministro da China, Wen Jiabao, em visita ao Brasil
em 2012, um país que quer crescer precisa produzir os melhores
profissionais do mundo e isso só é possível quando o país investe
no mínimo 5 vezes mais do que o Brasil tem investido hoje em edu-
cação, caso contrário, o país fica emperrado, analisa ele.
A corrupção no Brasil é avassaladora: Compromete a dig-
nidade do cidadão, as políticas sociais, os órgãos públicos, e já
ultrapassou os níveis suportáveis de decência. É estarrecedor
saber que o Brasil tem o 2º maior índice de corrupção do mun-
do, perdendo apenas para a Nigéria. O Brasil é o único país do
mundo que não tem absolutamente nenhum político preso por
corrupção, conclui indignado, Jiabao.
O poder Executivo público não cumpre seu papel. A lei
existe, mas não pune. Existem cuidados formais, conselhos
de ética, que não estão sendo levados a efeito. É possível ser
ético num país desigual como o Brasil. A chave da mudança
estaria numa legislação mais disciplinada, mais rígida e com
maior punibilidade. A ordem social está abalada pela questão
da impunidade em todas as esferas. A grande massa do povo
brasileiro não acredita mais no governo, nem nos seus políticos,
não acredita em suas leis, nem na sua própria cultura. O Brasil
precisa investir na cultura brasileira, iniciando pela educação
patriótica, afinal, um grande povo precisa amar e honrar seu
grande país finaliza Jiabao (2012).
O ser humano é ético por excelência, as empresas que as-
sumirem a ética como política empresarial vão ter a vantagem
de assegurar clientes e fornecedores e obter lucro com ética. As
empresas que não conseguirem implantar uma postura ética em
todos os seus departamentos não sobreviverão por muito tem-
po, conclui Arruda (2003). Faz-se necessário um itinerário ético;
Apoiar a pessoa humana em seu processo educativo e no des-
pertar da fé e da consciência, num percurso marcado pela unida-
de, gradualidade e coerência. Trata-se de um processo vital para
o qual concorre a todos os seres humanos, sem descuidar de
ter claro os referenciais que dão suporte para que possam cres-
cer em espírito e vida. Focar em grandes exemplos como Jesus
Cristo, o maior líder de todos os tempos, que ensinou que liderar
não é só querer ser servido, mas também servir; nem sempre é
mandar, coagir ou forçar as pessoas a seguirem os nossos pro-
pósitos, mas saber ensinar, ouvir, motivar; Criar uma atitude de
abertura para si mesmo e para o outro; somente assim a supera-
ção das desigualdades sociais pode ser alcançada: através da
aplicação da verdade, e isto sim, é ter um itinerário ético.
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BEAL, Adriana – Gestão Estratégica da Informação. São Paulo: Atlas, 2002.
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NOTAS1 Graduada em Administração de Empresas pela Pontifícia Universi-dade Católica de Minas Gerais. Especialista em Gestão estratégica de negócios pela Universidade Pitágoras de Minas Gerais. Endereço ele-trônico: [email protected]
2 Mestre Profissional em Administração, pela FACCAMP-Faculdade Campo Limpo Paulista . Pós-Graduado em Gestão Estratégica Empre-sariais, Gestão de Pessoas e Gestão de Negócios, pela FCG-Faculda-de de Ciências Gerenciais de Jundiaí/SP.Professor celetista da FACCAMP-Faculdade Campo Limpo Paulista nos cursos de Graduação em Administração de Empresas, Engenharia de Produção, Engenharia de Materiais.
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responsaBiLiDaDe soCiaL nas engenHarias Das Forças armaDas: o DisCurso
Da Boa CiDaDania CorporatiVaCristia Rodrigues Miranda1,
Marley Rosa Luciano2, Osní Francisco Severino3
RESUMO: Neste artigo foi abordado o tema responsabilidade social empresarial nas organizações, tendo como delimitação o discurso da boa cidadania corpo-
rativa no corpo de defesa nacional. Para efeito de análise, visamos ampliar os conhecimentos sobre o corpo defensivo nacional, entendo sua estrutura organi-
zacional no que concerne à prática de responsabilidade social através do discurso da boa cidadania corporativa. Nosso escopo teórico busca fundamentação
em Dupas (1999) , Araujo (2006) dentre outros, para quem o novo modelo global de produção agrava a exclusão social no que se refere às tendências de
aumento geral do desemprego formal. Diante dessa situação, as empresas têm investido em ações de responsabilidade social, visto que, precisam investir
em um posicionamento ético para melhora sua imagem pública e gradativamente alcançar maior legitimidade social. Partiu-se da hipótese de que os orgãos
públicos, enquanto organizações, utilizariam ações de cunho social para valorizarem suas imagens no mercado. Responsabilidade social seria, por esse
âmbito, um conceito que tem se tornado presente em muitas empresas e instituições, já há algum tempo. Tal conceito também tem sido aplicado na área da
defesa e forças armadas. Como resultado, a pesquisa concluiu que as forças armadas fazem uso do discurso da boa cidadania, que favorece a disseminação
da imagem dos órgãos de defesa nacional, como promotores da ordem e do bem estar social.
PAlAVRAS-ChAVE: Responsabilidade social. Forças armadas. Empresas e instituições.
1. INTRODUÇÃO
A responsabilidade social é um tema que tem ganhado
grande importância nas organizações, uma vez que tem sido
altamente debatido, em diversos seguimentos da socieda-
de. Devido às pressões geradas no meio empresarial, ela é
resultante das exigências e normatizações, por meio dos re-
cursos humanos e valores sociais. As empresas têm usado
ações de responsabilidade social, como forma de promover
suas marcas registradas, convertendo, assim, obstáculos so-
ciais em oportunidades de negócio. Com efeito, este é um
tema presente já há algum tempo na esfera empresarial, este
artigo visa analisar, através de pesquisa, a existência de uma
vertente social de responsabilidade, por parte dos órgãos de
defesa nacional, apresentando também em sua contextuali-
zação e ações cooperativas relacionadas ao tema.
A responsabilidade social e corporativa pode ser consi-
derada uma ferramenta para o desenvolvimento humanitário,
além de, uma oportunidade de negócios na esfera empre-
sarial, incitando o uso gradual das organizaçoes em prol da
sociedade. Na esfera das organizações não empresariais, o
trabalhalo social, em uma primeira análise, não estaria rela-
cionado a oportunidade de converter as demandas sociais
em oportunidade de negócio, visto que o objetivo principal
delas não é o lucro. A responsabilidade social estaria, nes-
te caso, relacionada ao voluntarismo, direcionado a projetos
sociais, projetos construtivos, cujo compromisso ético, moral
e social coadunam para o melhoramento da imagem de uma
organização. Além disso, o voluntarismo usufrui de princípios
os quais asseguram a capacidade de assimilar o crescimen-
to e processá-lo de forma lógica e coerente, agregando valor
ético e moral.
Conhecer e aplicar as técnicas de boa cidadania, por in-
termédio de procedimentos que visam aumentar a eficácia do
ser humano, pode proporcionar uma futura boa formação e um
exemplo para os próximos. As fundamentações teóricas dos
autores Rocha (2008), Araujo (2006), Husted (2003), Ribeiro e
Vieira (2002), possibilitaram reunir conhecimentos relevantes e
eficazes que auxiliaram o desenvolvimento deste artigo.
A partir destas considerações, visa-se analizar o discurso
da boa cidadania corporativa no âmbito da responsabilidade
social empresarial nas organizações. Partiu-se da hipótese
de que os orgãos públicos, como organizações, estariam
utilizando ações de cunho social para valorizar seus nomes
no mercado, dando ênfase a projetos sociais e ambientais.
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Como delimitação, a pesquisa tem como objetivo de-
monstrar algumas estratégias em responsabilidade social,
dentro das organizações empresarias, transpondo-se tais
características para órgãos públicos, com ênfase nas organi-
zações militares de defesa nacional.
Utilizaremos o método teórico metodológico. Primeiramen-
te exporemos as definições, a importância do nosso objeto-te-
ma, a saber, responsabilidade social empresarial. Com efeito,
serão considerados abordagens que tecem considerações a
respeito de tal conceito, dentro das corporações e suas ade-
quações ao mercado global conforme indicado pelos aborda-
gens, tais como Araujo (2008), Ribeiro e Vieira (2002), Rocha
et.al. (2008). Após isso, serão abordados os fundamentos da
Responsabilidade Social, bem como suas definições. Também,
mostra-se-á a importância dada aos projetos socias, sua evolu-
ção conforme o tempo e como ele nos beneficia, no dia-a-dia.
Essa etapa foi embasada nos pressupostos teóricos de (ARAU-
JO, 2006). Em seguida, analisar-se-á como tais conceitos po-
dem ser analisados nas ações discursivizadas dos documentos
oficiais das forças armadas nacionais, mais precisamente, do
corpo de defesa nacional.
2. RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL
A Responsabilidade Social, atualmente não se prende
mais a prevenção direta nem a uma tendência passageira,
mas sim, como exigência de cidadania. Não sendo somen-
te como um tema transversal às políticas públicas e em-
presariais, mas uma ação, com instrumentos e ferramentas
experimentadas e partilhadas. Ela parte de problemas es-
pecíficos, recursos e práticas concretas das empresas, e
cria negócios sustentáveis, em diálogo com todas as áreas
interessadas e responsáveis pelo desenvolvimento social,
econômico e ambiental.
Devido às pressões de diversos seguimentos da socie-
dade tem-se abordados os conceitos em Responsabilidade
Social Empresarial (RSE) como oportunidade de inovação
e competibilidade (ROCHA et. al; 2008). As empresas têm
buscado melhorar as consequências sociais e ambientais
de suas ações. Apesar das exceções, a Responsabilidade
Social Empresarial, é em geral, uma maneira de converter
obstáculos sociais em oportunidades de negócio (ARAUJO,
2006). Com a globalização, abertura de fronteiras, união de
países em blocos econômico-comerciais e áreas de livre co-
mércio, o mercado tem se tornado mais competitivo. Diante
deste quadro, o marketing desenvolve-se como uma ciência
mercadológica para ressaltar e singularizar a marca. Diante
deste quadro, afirma Araujo (2006, p.425):
O quadro descrito acerca do surgimento da responsa-
bilidade social no Brasil leva-nos a suspeitar que tais
ações seriam a tentativa dissimulada de converter um
obstáculo (miséria) em oportunidade de negócios (a
mercantilização da miséria), em proposta de marketing
e em aumento de receita.
Ante o exposto acima, postulamos que as corporações
estariam levando em consideração as demandas sociais, no
campo ético e moral, como forma de promoção e valorização
de suas imagens. De acordo com Dupas (1999) apud Araujo
(2006, p.423) “O novo modelo global de produção agrava a
exclusão social no que se refere às tendências de aumento
geral do desemprego formal e à flexibilização do trabalho”.
O modelo econômico neoliberal diminui o controle do estado
sobre a economia o que faz com que os programas de im-
plantação do bem estar sejam colocados em segundo plano
( ARAUJO, 2006). Ainda segundo a mesma autora, o neoli-
beralismo submete o social ao econômico e o Estado passa
a ter de se preocupar mais com a estabilidade econômica, e
os cofres públicos sofrem com as limitações às taxas sobre
produtos, serviços, e movimentações de capitais impostas
pelas exigências da globalização.
Esta dificuldade orçamentária leva o Estado a transferir
sua responsabilidade com promotor do bem-estar ao assim
chamado terceiro setor (sociedade civil, através de ONGs e
entidades filantrópicas), e é neste contexto que a iniciativa
privada é pressionada a ampliar o seu conceito original in-
vestindo em áreas em que o Estado é ineficiente. Segundo
Araujo (2006, p.425) “o quadro de exclusão social e a falên-
cia do Estado de Bem-estar Social criam as condições para o
advento do fenômeno responsabilidade social empresarial”.
Contudo, pode ser benéfico adotar ações de RSE cujos
públicos não financeiros julguem importantes para que os
mesmos apoiem as demais ações da empresa. Segundo
Husted (2003) apud Rocha et. al. (2008, p.6) “ações de RSE
devem ser avaliadas em relação a sua habilidade de gerar,
não só benefícios sociais para a sociedade, mas também be-
nefícios econômicos para a empresa”.
Devem-se avaliar quais ações a empresa precisa investir
e a relação custo e retorno sobre o investimento. Para decidir
qual forma de RSE é mais adequada (in-house, terceirizada
ou híbrida) deve-se analisar proximidade com o núcleo do
negócio e a inimitabilidade e facilidade de excluir concorren-
tes dos benefícios gerados pela ação (DA ROCHA, 2008).
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2.1. O DESENVOLVIMENTO ESTRUTURAL DA GESTÃO EMPRESARIAL
A responsabilidade social não se caracteriza como uma
ação emergencial ou pontual, mas uma tomada de consciên-
cia a longo prazo, por parte das empresas de que o próprio
desenvolvimento da organização depende da sociedade a
qual pertencem, e estas devem incorporar, em sua missão,
a busca pelo bem estar da população (ARAUJO, 2006). Esse
assunto não é uma novidade, a novidade está na evolução
da concepção, relacionando a filantropia com o método de
estratégia comercial.
Uma das estratégias adotadas é investir na melhoria da
qualidade das relações empresariais, visto que, de acordo com
De Araujo (2006, p.418) “empresas dotadas de posicionamento
ético melhoram sua imagem pública e gradativamente alcan-
çam maior legitimidade social”. Com efeito, ações estratégicas
no campo ético, embora não detenham de resultados imedia-
tos, agregam valores que coadunam com os valores sociais,
que por sua vez melhoram os resultados das empresas. Vale
ressaltar que, no campo ético, muitos valores capitalistas foram
responsáveis para a criação de um comportamento social ético.
O conhecido modelo weberiano analisa como a ética protestan-
te, com determinados valores de conduta influenciam e impul-
sionam o pensamento econômica, industrial e organizacional
na transição da passagem de uma sociedade feudal para uma
sociedade burguesa.
Verifica-se agora que a organização é refratária e, ao
mesmo tempo, espelho de valores que pautaram o espírito
do capitalismo na Idade Moderna. Ribeiro e Vieira (2002, p.
2) atestam que:
A crescente atenção á ética e á responsabilidade social
corporativa, bem como a ideia de que as organizações
do terceiro milênio precisam ser socialmente respon-
sáveis quiserem sobreviver em meio á competição
cada vez mais acirrada, fazem parte desses processos
profundos de mudança: o fato de a globalização e o
reconhecimento de que instituições como o Estado, a
sociedade civil.
Responsabilidades éticas correspondem a valores morais
específicos, valores, esses que dizem respeito à crenças pes-
soais sobre comportamento eticamente correto, ou incorreto. É
dessa maneira que valores morais e éticos se complementam.
Ainda segundo Ribeiro e Vieira (2002, p.3) “a moral pode ser
vista como um conjunto de valores e de regras de comporta-
mento que as coletividades, sejam elas, nações, grupos sociais
ou organizações, adotem por julgarem corretos e desejáveis”.
Em termos organizacionais, isso significa uma filosofia, ou éti-
ca de serviço, e na medida em que o produto, ou o que estiver
relacionado a ele represente um serviço para o mercado (ou seja,
agregue valor), é que a empresa poderá obter um resultado eco-
nômico valioso. E ainda, nesta perspectiva, o valor maior é a so-
lidariedade, a profunda interdependência humana, o crescimento
do outro. Mas, transformando esses valores em ética capitalista,
este seria o objetivo: o lucro, o beneficio econômico, é um sub-
produto do qual os homens dependem (RIBEIRO; VIEIRA, 2002).
Com efeito, o conceito de ética, pode parecer distorcido se
visto sob o ângulo do interesse e o intuito principal da empresa.
Nesse contexto afirmam Ribeiro e Vieira (2002, p. 2):
Na ética do interesse próprio, você proporciona algo
ao outro, porque é de seu interesse fazê-lo. De acor-
do com algumas escolas filosóficas, a responsabilida-
de social da empresa consiste única e exclusivamente
em aumentar o seu lucro, maximizar os seus retornos.
Logo, tudo em que se faz na empresa e nos negócios
tem por objetivo o cumprimento desta responsabilida-
de. A preocupação com os empregados, com a quali-
dade, com o bem-estar da comunidade, enfim, tudo o
que se faz pelos outros, justifica-se apenas se a ação
resulta na maximização dos resultados econômicos da
empresa ou do negocio.
Assim, o compromisso principal da empresa seria assim
definido: “O objetivo da empresa é exclusivamente produzir
lucro. Mas é preciso tomar cuidado para não cair no extremo
oposto da tese do lucro como única finalidade” (RIBEIRO; VIEI-
RA, 2002, p.4). Do exposto anteriormente deduz-se que ,se-
gundo os autores, deve-se atribuir algumas responsabilidades
para com pessoas, comunidade, cientes e fornecedores, gover-
no, condições de trabalho, a capacitação dos seres humanos a
ela ligados, e a utilização de métodos participativos.
A responsabilidade social nas empresas é um processo evo-
lutivo: “A manifestação da responsabilidade social no âmbito da
empresa também pode ser entendida como relacionada a um pro-
cesso de evolução da atuação das empresas” (RIBEIRO; VIEIRA,
2002, p.6). Depois de começarem com a causa pura e atribuírem a
alguns setores como o de Recursos Humanos a responsabilidade
pelo comportamento ético e social da companhia e seus funcioná-
rios, as empresas, então, passam a repensar sua função e seus
funcionários, passam, também, a repensar sua função e seus
procedimentos, implantando mudanças conceituais e agindo de
forma socialmente responsável, seja sozinha, ou em parceria com
o governo federal (RIBEIRO; VIEIRA, 2002).
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A existência de uma variedade definições de responsabili-
dade social retrata a existência uma mistura de ideias, conceitos
e práticas em construção que tem provocado acaloradas dis-
cussões. Diz Ribeiro e Vieira (2002, p.6) ”quando as organiza-
ções revolvem praticar a responsabilidade social nos negócios,
trazem para si ganhos e benefícios capazes de dar sustentabi-
lidade a suas estratégias”. Enfim a opção em ser uma empresa
socialmente responsável traz como consequências, retorno de
imagem, vendas e participação no mercado, para os acionistas,
publicitário e de produtividade e social desenvolvimento susten-
tável da comunidade entre outras.
3. RESPONSABILIDADE SOCIAL NÃO EMPRESARIAL
Apesar da vasta literatura referente à responsabilidade
social corporativa e cidadania empresarial, observa-se que a
conceituação dos dois termos tem sido apresentada de forma
confusa e algumas vezes até contraditória. A responsabilidade
social corporativa é geralmente relacionada a uma prerrogativa
do estado e não a um objetivo econômico privado. Basearemo-
-nos neste conceito para abordar o tema em relação aos orga-
nismos de defesa nacional.
3.1. AREAS DE ATUAÇÃO E FUNCÕES DAS FORÇAS ARMADAS
O corpo defensivo nacional é composto de três áreas corpo-
rativas, vinculadas ao ministério da defesa, destinados a manter a
ordem e a defender o território nacional, sendo elas: Exército, Ma-
rinha e Aeronáutica. Considera-se o dia 19 de abril de1648 como
a data da instituição das forças armadas no Brasil. Cada uma das
organizações tem funções específicas: Ao Exército cabe o coman-
do e coordenação das operações terrestres. À Marinha a proteção
de áreas marítimas, estratégicas, de projeção de poder sobre a
terra bem como instalações navais e portuárias, arquipélagos e
ilhas oceânicas. A Aeronáutica nasceu em 1913, com o intuito de
empregar aeronaves em objetivos militares.
Com efeito, que se objetiva daqui em diante é analisar a
existência de vertentes sociais de responsabilidade por parte
destas organizações.
A responsabilidade social é um conceito, que conhecidamen-
te, tem se tornado presente em muitas empresas e instituições já
há algum tempo. O que poucos sabem, é que esse conceito tam-
bém tem sido aplicado na área da defesa e forças armadas.
No ano de 2000, a ONU publicou um código de conduta
intitulado “Pacto Global das Nações Unidas”, de adesão volun-
tária, que visa promover o engajamento de pequenas, médias e
grandes empresas, como também quaisquer outras entidades ou
instituições que tenham funcionamento de empresa em atividades
que promovam os dez princípios declarados no mesmo, e univer-
salmente aceitos nas áreas de direitos humanos, princípios e direi-
tos fundamentais no trabalho, meio ambiente e desenvolvimento, e
combate a corrupção. Áreas nas quais se baseiam sua elaboração.
Seguindo esta tendência, na Europa, foi publicado no ano
seguinte o Livro Verde, definindo três objetivos, sendo eles,
econômicos, sociais e ambientais, que contribuiriam para uma
sociedade mais justa e um ambiente mais limpo. Nesse livro, a
responsabilidade social é definida como “integração voluntária
de preocupações sociais e ambientais, por parte das empre-
sas, nas suas operações e na sua interacção com outras partes
interessadas”(UNIÃO EUROPEIA,2001, p.7).
Falando a respeito da conciência social por parte das forças
armadas portuguesas, como exemplo da adesão das mesmas as
ações de RSE cita Marcelino(2010)apud Machado (2010,p.2):
pelo segundo ano consecutivo o Ministério da Defesa
Nacional (MDN) e o Estado-Maior-General das Forças
Armadas (EMGFA) uniram esforços no sentido de pro-
mover mais uma campanha de recolha de brinquedos
e livros para serem doados a uma Instituição de Solida-
riedade Social.
Ainda segundo Machado (2010) as ações de responsabi-
lidade social por parte de orgãos de defesa nacional não têm
se restringido somente a datas especiais, como o natal, o que
demonstra uma vertente social de responsabilidade por parte
dos orgãos de defesa nacional.
4. ATUAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS NACIONAIS
NA ÁREA SOCIAL
As forças armadas brasileiras têm seguido esta mesma
tendência, em 2007 a 3o divisão encouraçada do exército em
Santa Maria (RS) arrecadou mais de 37 toneladas de alimentos
que foram doadas a Associação Leon Denis que acolhe pa-
cientes em tratamento contra o cancer (COMANDO MILITAR
DO SUL, 2007). Em 2009, no município de Ijuí (RS), membros
do exército doaram três mil quilos de alimentos arrecadados
à famílias carentes (PREFEITURA DE IJUÍ, 2009). Também em
2009, o 59⁰ Batalhão de infantaria motorizado, em Maceió (AL),
realizou, pelo terceiro ano consecutivo, a campanha de arre-
cadação de livros e brinquedos para crianças carentes Natal e
Ano novo com leitura (ALAGOAS 24 HORAS, 2009). Em 2013 o
exército tem ajudado no combate à dengue no estado de São
Paulo, entre outros (G1 SANTOS, 2013). As ações ateriormente
citadas são exemplos de uma vertente social de responsabilida-
de que tem se confirmado entre as forças armadas nacionais.
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4.1. ENSINO E DESENVOLVIMENTO COOPERATIVO:
ATUAÇÃO DAS ENGENHARIAS NA DEFESA NACIONAL
Na área da engenharia, as forças armadas nacionais tam-
bém têm contribuído para a melhoria do quadro socio-econômi-
co, a exemplo das atividades de infra-estrutura tais como, cons-
trução de estradas, ferrovias, poços artesianos, saneamento e
alfabetização, entre outras, realizadas pelos batalhões instala-
dos no Nordeste, Amazonas, Roraima e outros estados.
De acordo com o artigo 142 da constituição, constituem-se
como funções das forças armadas: “a defesa da Pátria, a ga-
rantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de quaisquer
destes, da lei e da ordem” (COMISSÃO DE CIDADâNIA, 2008,
p.1). Originalmente, o batalhão de engenharia surgiu nas forças
armadas pelo Decreto N° 1535, de 23 de janeiro de 1855, da
necessidade sentida pelo Exército da época, após a Campanha
de 1851/52, em se dotar a tropa de um elemento técnico para
facilitar o seu deslocamento, ajudando a vencer os obstáculos
naturais do terreno e os impostos pelo inimígo (BATAHÃO DE
ENGENHARIA DE COMBATE,2005, p.2).
As ações de cunho social não estão previstas entre as atri-
buições legais das forças armadas. Este é um assunto de tal
relevância que levou a tramitação no senado de uma proposta
de ementa a constituição ((PEC) 87 de 2007) para incluir a coo-
peração em ações sociais como atribuição das forças armadas,
proposta esta que foi posteriormente arquivada.
4.2 CóDIGOS DE éTICA E CONDUTA
Os orgão de defesa nacional têm sua atuação regida por
códigos de conduta que visam direcionar e conduzir suas
ações, de maneira a garantir o cumprimento de suas funções e
obrigações de maneira ética e moral.
A Marinha brasileira orienta-se pelo seguinte código:
Preparar e empregar o Poder Naval, a fim de contribuir
para a defesa da Pátria. Estar pronta para atuar na ga-
rantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de
qualquer destes, da lei e da ordem; atuar em ações
sob a égide de organismos internacionais e em apoio à
política externa do País; e cumprir as atribuições subsi-
diárias previstas em Lei, com ênfase naquelas relacio-
nadas à Autoridade Marítima, a fim de contribuir para
a salvaguarda dos interesses nacionais (MARINHA DO
BRASIL, 2010, p.1).
Por conseguinte, a Força Aérea nacional atua segundo as atri-
buições constitucionais de: “defender a Pátria; garantir os poderes
constitucionais; e garantir a lei e a ordem, por iniciativa de qual-
quer dos poderes constitucionais” (FORÇA AÉREA BRASILEIRA,
2013,p.1). Ela tem, como atribuições subsidiárias, cooperar com
o desenvolvimento nacional e a defesa civil, na forma determinada
pelo Presidente da República. Sendo sua missão principal manter
a soberania do espaço aéreo nacional com vistas à defesa da pá-
tria (FORÇA AÉREA BRASILEIRA, 2013).
E por fim, o Exército que tem como atribuição contribuir
para a garantia da soberania nacional, dos poderes constitucio-
nais, da lei e da ordem, salvaguardando os interesses nacionais
,e cooperando com o desenvolvimento nacional e o bem estar
social. Adotando o seguinte código de ética corporativo:
Patriotismo - amar à Pátria - História, Símbolos, Tradi-
ções e Nação - sublimando a determinação de defen-
der seus interesses vitais com o sacrifício da própria
vida. Dever - cumprir a legislação e a regulamentação,
a que estiver submetido, com autoridade, determina-
ção, dignidade e dedicação além do dever, assumindo
a responsabilidade pelas decisões que tomar. Lealda-
de - cultuar a verdade, sinceridade e sadia camarada-
gem, mantendo-se fiel aos compromissos assumidos.
Probidade - pautar a vida, como soldado e cidadão,
pela honradez, honestidade e pelo senso de justiça.
Coragem - ter a capacidade de decidir e a iniciativa de
implementar a decisão, mesmo com o risco de vida ou
de interesses pessoais, no intuito de cumprir o dever,
assumindo a responsabilidade por sua atitude (EXERCI-
TO BRASILEIRO, 2013, p.1 grifo nosso).
Com efeito, percebe-se que, também o exército pauta sua
conduta ética em uma responsabilidade social que, em muitos
pontos, parece-se com o que se conceitua “Responsabilidade
Social nas Organizações”. Ao selecionar termos em seu código
ético tais como “lealdade”, “sinceridade”, “honradez”, o exército
cumpre salientar o compromisso que o órgão de defesa nacio-
nal, mesmo sem nenhuma finalidade lucrativa, visa promovee
para salvaguardar a pátria e a sua imagem. Quando menciona
“capacidade de decidir e implementar decisões” evoca solida-
mente os preceitos organizacionais aliados à ética dos valores
cultuados na empresa.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Do exposto anteriormente, podemos concluir que a atua-
ção das forças armadas no âmbito social, seria um exemplo
de trabalho em que demonstra o uso de uma filosofia calcada
na ética de responsabilidade social que favorece a dissemina-
ção da imagem, dos órgãos de defesa nacional. Esses como
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promotores da defesa entre fronteiras, bem como em obriga-
ções de manter a lei e a ordem, cooperando também em ações
voluntárias à reestruturação de regiões afetadas, por quaisquer
tragédias sejam elas ambientais ou humanas. Ainda que o aten-
dimento às demandas sociais não conste das atividades prio-
ritárias dos mesmos, que são a defesa do território nacional e
a garantia da ordem pública, em que entidades estatais tem o
dever de suprir as necessidades de seu Estado, sucessivamente
nas cidades. E é nesse sentido que as forças armadas ofere-
cem, em seu discurso, a legitimidade de RSE (responsabilidade
social empresarial) uma vez que garantem que a credibilidade
do órgão esteja subsidiado pelo seu compromisso não apenas
de defesa nacional, mas de contribuição.
No entanto, a união entre os órgãos privados, sejam eles
corporativos empresarias ou de cunho governamental, traz di-
versos benefícios para a sociedade. O voluntarismo explora a
verdade humana como um exemplo de solidariedade, servindo
às empresas como uma forma de aceitação e identificação ética
pelas mídias e sociedade. Uma fonte de desenvolvimento em
que ambas as partes são contempladas em termos de resulta-
dos e ações.
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NOTAS DE FIM1 Professora Auxiliar do Centro Universitário Newton Paiva, doutoranda em Estudos Linguísticos no Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguís-ticos – Poslin/Fale/UFMG.
2 Graduando do 1º Período de Engenharia Elétrica – Centro Univer-sitário Newton
3Graduando do 1º Período de Engenharia Elétrica – Centro Universi-tário Newton
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a suBorDinação Dos inDiCaDores soCiais e eConÔmiCos: ComparaçÕes entre BrasiL e CHiLe
quanto ao iDH, piB, Corrupção, eDuCaçãoEduardo Bomfim Machado1,
Gabriel Chamone 2, Gabriela Salomão de Barros2,
João Felipe Chamone2,Laila Lucie Dias Guimarães2,
Leonardo Vieira Babsky2,Simone Gelmini Araújo3
RESUMO: Em face ao recente julgamento no Supremo Tribunal Federal do esquema de corrupção e tráfico de influência denominado como Mensalão, torna-
-se oportuna a verificação dos efeitos negativos desses desvios de conduta pública e privada para o desempenho do país. O presente artigo busca analisar os
principais indicadores socioeconômicos de dois países semelhantes quanto à sua posição geográfica e processo histórico de formação, em relação aos níveis
de corrupção existentes em ambos. São mencionados o Índice de Desenvolvimento humano, Produto Interno Bruto, Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica, entre outros, e tais indicadores são comparados sob a perspectiva da Corrupção, como forma de indicar possíveis relações. Os resultados apontam
que mesmo com a diversidade cultural e ambiental do Brasil, os indicadores chilenos superam, proporcionalmente, em muitos casos o desempenho brasilei-
ro, mesmo havendo níveis similares de corrupção nos dois países, porém em setores distintos, o que denota indícios dessa relação, já que o desempenho da
Educação advém de políticas públicas.
PAlAVRAS-ChAVE: Análise Comparativa. Corrupção. Indicadores socioeconômicos. Educação.
INTRODUÇÃO
A crise mundial de 2008 é hoje um assunto que está em
foco, devido à sua dimensão e resultados consequentes em
2010, principalmente quando se fala de economia. Para se res-
guardarem desses efeitos negativos, os países tendem a pro-
teger sua economia e território, ou seriam diretamente afetados
diretamente, quanto à taxa de desemprego, por exemplo, o que
desencadearia um processo em cadeia atingindo diretamente o
PIB (produto interno bruto) e indiretamente outros indicadores,
tais como a escolaridade.
Com isso, as antigas potências mundiais, como EUA,
Espanha, Itália, dentre outras, estão perdendo força e, novas
economias como a brasileira e chilena, estão emergindo e con-
quistando espaço dentro do mundo. Entretanto, para que estas
continuem seu processo de desenvolvimento, é preciso que
suas economias estejam aquecidas e fortalecidas. (BBC, 2012)
Brasil e Chile são países que se aproximam dentro de um
contexto mundial em questões como: clima, posição geográfi-
ca, cultura e época da descoberta e independência. Entretanto,
países tão parecidos se desenvolvem em proporções e veloci-
dade muito diferentes. Por exemplo, o Chile possui um sistema
educacional voltado para o estilo europeu, enquanto o Brasil
ainda está buscando meios de melhorar a forma da educação
do país já que seus índices ainda estão abaixo da média da
América do Sul. (MAGNOLI, 2011)
Uma análise comparativa do PIB, IDH (índice de desen-
volvimento humano), do índice de escolaridade, do índice de
corrupção, mortalidade, violência, dentre outros fatores, é útil
para se medir à realidade socioeconômica de um país. Este ar-
tigo estudou a forma como parte desses indicadores descreve
a economia do Brasil e do Chile e qual o impacto percebido da
corrupção nas diferenças apresentadas.
Os índices de corrupção que foram analisados, dos dois
países em questão, estabelecem um pequeno diferencial en-
tre eles na aplicação dos recursos públicos necessários em
âmbito social. Nesse sentido, foram apresentados dados do
Banco Mundial, que é uma instituição financeira internacional
fornecedora de empréstimos para países em desenvolvi-mento em programas de capital, além da Transparência In-
ternacional, organização não governamental que tem como
principal objetivo a luta contra a corrupção.
Em uma pesquisa exploratória de natureza qualitativa, que
faz um comparativo entre os principais indicadores socioeco-
nômicos dos dois países em questão. Como não existe ainda
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uma fonte segura e ampla de evidência de uma correlação entre
tais indicadores e a corrupção, sobretudo para a circunstância
dos países selecionados de forma intencional. Buscou-se atra-
vés de fontes secundárias, em uma pesquisa bibliográfica com
suporte de uma base de dados eletrônica. Foram comparados
tais indicadores encontrados com a corrupção existente nos
países Brasil e Chile, que serviu como um contraponto concei-
tual para direcionar a observação do fenômeno da disparidade
entre os dois países quanto ao seu desempenho na área da
educação especificamente, apesar da aproximação geográfica,
histórica e cultural que ambos possuem. Com isso, tem-se a
questão norteadora: estariam os indicadores socioeconômicos
e socioculturais associados aos indicadores de corrupção dos
países Brasil e Chile?
Este artigo pretendeu mostrar, através da análise de um
conjunto de informações que apontam as diferenças do desem-
penho entre os dois países em questão, como, e principalmen-
te, de que maneira seus indicadores estão relacionados com os
níveis de corrupção e, sobretudo, como o desempenho do setor
da educação se interpõe para esse desempenho socioeconô-
mico dos países avaliados.
Para responder à questão norteadora estabeleceu-se o
objetivo geral de pesquisar a relação existente entre os indica-
dores socioeconômicos do Brasil e do Chile com a corrupção
existente em ambos. Os objetivos específicos estão indicados
por: (i) efetuar um levantamento dos indicadores socioeconômi-
cos dos países selecionados; (ii) pesquisar informações sobre
corrupção existente em ambos; (iii) analisar eventuais relações
entre o desempenho socioeconômico dos países pesquisados
e a corrupção pesquisada.
Foram apresentados primeiramente dados sobre o Esta-
do e a corrupção, depois dados pesquisados sobre o Brasil,
depois Chile e em seguida um comparativo dos principais indi-
cadores de ambos. Desse comparativo, mostraram-se dados
referentes à corrupção existente em ambos, para depois ser
apresentada uma análise dessa potencial relação.
REFERENCIAL TEóRICO
O ESTADO
Para uma melhor percepção da relevância e contextualiza-
ção dos principais fatores econômicos utilizados para eviden-
ciar um desempenho de uma nação. Parte-se inicialmente da
própria conceituação de Estado enquanto entidade com per-
sonalidade jurídica, capaz de representar uma nação em suas
demandas e interesses. (AzAMBUJA, 2008)
De acordo com esse autor, tem-se inicialmente a for-
mação do Estado e demais arcabouços de delineamento e
representação. A Teoria Geral do Estado fundamenta essa
legitimidade e amplitude de poder emanado e exercido em
função de interesses sociais comuns.
Contudo, Azambuja, (2008) apresenta uma evolução desse
conceito para o que se chama de Estado Moderno, em que se
percebe certa acomodação de forças sociais e econômicas em
função do que se chama de Crise de Agência.
Com a decadência da atuação do Estado refletida nos mo-
vimentos de Liberalismo e Neoliberalismo ocorridos a partir da
segunda metade do século XX. Corrobora-se com a situação
dialógica de “Invenção Social” apresentada por Hoffmann e
Herz (2004). Nesse contexto de mudança e acomodação so-
cial, Estados passariam a concentrarem sua atenção a funções
básicas e específicas de atuação. Gerando assim uma necessi-
dade maior de controle e gerenciamento, do que propriamente
de executor de ações públicas, exceto em suas áreas básicas
de atuação. (ARAÚJO; SANCHEz, 2005)
A fragilidade do Estado-Nação em um cenário plenamente in-
tegrado tecnologicamente está retratada nas palavras de Magnoli
(2011), que direciona para uma configuração de crise a tentativa
de controle absoluto e burocrático dos movimentos econômicos
em função de uma autonomia flexionada da soberania.
O movimento de globalização certamente modifica as
relações entre os Estados e as economias nacionais.
Os arautos do desfalecimento do Estado-Nação enxer-
gam indícios de corrosão da soberania na integração
a blocos econômicos, no rebaixamento ou supressão
de taxas alfandegárias, na ampliação da liberdade de
movimentos dos capitais internacionais, na privatização
de setores econômicos controlados pelo poder públi-
co. Interpretam a mudança das funções econômicas
dos Estados como sinal da sua inevitável dissolução.
(MAGNOLI, 2011 pág. 188)
A CORRUPÇÃO
A definição superficial de corrupção é, “o abuso do poder
público para o benefício privado”4. Ela ocorre, mundialmente,
porém, deve-se analisá-la no Brasil e no Chile de acordo com
os mesmos índices e em comparação a outros países do mun-
do, já que é um conceito de difícil definição e aplicação, dadas
as nuanças de valores, costumes e contextos históricos. (UNO-
DOC, 2012); (ARAÚJO; SANCHEz, 2005)
A corrupção é pesquisada sob diferentes aspectos e abor-
dagens, tendo o Direito sua principal área de aprofundamento
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e volume de informações. Contudo, observam-se ainda outras
ciências contribuindo com novos estudos para a compreensão
desse fenômeno. Sociocultural com amplos reflexos econômi-
cos. Sobretudo em se considerar a fala de Araújo e Sanchez
(2005), que retrata o ônus da corrupção no Estado como fardo
social de difícil aceitação.
O que mais recentemente, como forma de constatação
dessa prática no Brasil, verificou-se o resultado da ação do
Supremo Tribunal Federal, instância maior da justiça no Bra-
sil, contra uma representativa frente de corrupção dos poderes
executivo e legislativo denominada de Mensalão (STF, 2013),
que ganhou grande repercussão social.
Outra questão relevante em relação à Corrupção é sua
dificuldade de ponderação e mensurabilidade absoluta, dada
à sua natureza sigilosa e informal enquanto prática criminosa.
Mesmo, com órgãos civis e sistemas estatais voltados para o
tema. Apenas após esforços de investigação e elucidação é
que eventos dessa natureza se tornam conhecidos. (ARAÚJO;
SANCHEz, 2005)
DESENVOLVIMENTO
BRASIL EM INDICADORES
A economia brasileira caracterizou-se, ao longo de sua his-
tória, pela ocorrência de vários ciclos. Destes ciclos, ocorreram
sucessivas mudanças culturais, sociais, pois, priorizaram-se
em cada ciclo, alguns setores em detrimento de outros popu-
lacionais e políticas em sua sociedade Entre 1991 e 2000 o PIB
brasileiro cresceu, em média, 2,60% ao ano, enquanto no pe-
ríodo compreendido entre 2001 e 2010 o crescimento foi em
média 3,6%5. Pontualmente, essa diferença parece pequena,
mas, percentualmente temos um crescimento da economia de
42,4%, contrapondo-se os 29,3%6 do período anterior.
Na década de 1990, houve um crescimento do PIB por
habitante de apenas 1,1% a.a., enquanto na década de 2000
houve um crescimento de 2,4%7. Este dado é interessante, pois
reflete que, no primeiro período citado, necessitaria-se de 63
anos para que a média da renda do país fosse multiplicada por
02. De acordo com as taxas do segundo periodo citado, esse
prazo ficaria reduzido em 29 anos.
Observa-se que, a partir de 2004 o crescimento se re-
velou de forma muito mais expressiva, excetuando-se 2009,
como resultado da crise internacional, mas retomando seu
crescimento em 2010.
No Brasil, tem-se visto uma grande mudança no ritmo de
estrutura e crescimento da população. A queda nas taxas de
mortalidade e de natalidade tem elevado o número de pessoas
adultas e tem diminído o número da população jovem, o que,
em longo prazo, ocorrerá um aumento significativo de idosos.
(FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO, 2010)
Já o Índice do Ensino Básico do Brasil (IDEB), com esca-
la de 0 a 10, do Ministério da Educação e Cultura (MEC) fixou
para o país alcançar até 2021 a nota 06. Este índice é resultado
dos cálculos de dados tirados dos censos escolares relacio-
nados com as médias de desempenho avaliadas pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira,
o INEP, e o SAEB e a Prova Brasil, respectivamente para o DF e
para os municípios. (BLOG EDUCAÇÃO, 2012)
Em contrapartida ao crescimento verificado e aos melhores
índices de escolaridade e emprego, o Brasil tem um alto índice
de corrupção se comparado com outros países de acordo com
a Transparência Internacional (TRANSPARENCY INTERNATIO-
NAL, 2013 a), conforme será mostrado no comparativo dos dois
países. Dentre os fatores que influem para aumentar os níveis
de corrupção estão à burocracia elevada do Estado e um siste-
ma judiciário lento e pouco eficiente.
CHILE EM INDICADORES
A economia chilena sofreu um crescimento econômico
em média de 7% a.a. no período compreendido entre 1990 e
2000 (WORLD BANK, 2013; ONE WORLD NATIONS ONLINE,
2012)
O Chile tem, também, o melhor IDH da América Latina.
O IDH é representado por índices como saúde, educação,
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 61
investimento em P & D, natalidade, mortalidade, expectativa
de vida, dentre outros.
Atualmente o Chile tem um governo democrático e uma eco-
nomia tida como uma das melhores do continente americano. O
Chile se destaca em três setores da economia: agropecuária, ser-
viços e indústria. As indústrias chilenas são responsáveis por cerca
de 50% do PIB, e estão localizadas próximo à Santiago. Dentre
seus principais setores de destaque estão: a produção de vinho, o
setor siderúrgico e o cimento. Dentro desse potencial econômico,
Chile tem baixo índice de corrupção de acordo com o International
Defence And Security Programme (2013).
O Chile foi o país Latino Americano que teve a economia que
mais cresceu no perídodo de 1983 a 2004, apresentando cresci-
mento de 209%10. Alguns fatores que contribuiram para isso foram
os sucessos das políticas macroeconômicas, com sua abertura fi-
nanceira, a diminuição das barreiras comerciais e os investimentos
estrangeiros diretos (IEDs). Devido a isso, ocorreu, também, um
aumento no PIB de exportações, passando de um aparticipação
de 17% nos primeiros anos da década de 1980 para 42% em 2004.
(DESARROLLO HUMANO EN CHILE, 2013)
Em relação à educação, após a ampla reforma no ensino
básico e médio, o Chile concentrou seus esforços na reestrutu-
ração dos conteúdos, na avaliação e na formação dos professo-
res. Melhorar a qualidade do ensino e garantir bons resultados
na aprendizagem dos alunos foi a meta dos últimos 15 anos.
Essas ações alavancaram a reforma do sistema, iniciada no
governo do presidente Eduardo Frei e está em curso até hoje.
COMPARATIVO BRASIL VS CHILE
Toma-se como comparativo inicial entre esses dois pa-
íses os aspectos educacionais como indicares que podem
representar outros tipos de consequências sócio econômi-
cas, influenciadas pela prática da corrupção, sobretudo em
se considerando que a educação é uma das finalidades do
Estado e um importante indicador de desenvolvimento (OB-
JETIVOS DO MILÊNIO, 2013).
É uma preocupação dos países da América Latina bus-
car maneiras para obter uma econômica de sucesso e não
mais, serem considerados países em desenvolvimento. Com
o passar dos anos, o Chile foi um dos poucos que conseguiu
eliminar essa diferença que o distingue dos mais desenvolvi-
dos. As respostas para o sucesso chileno estão ligadas, prin-
cipalmente, aos componentes dos princípios básicos que
norteiam o desenvolvimento do Chile com sua democracia,
tais como a boa governança, a economia de livre mercado, o
investimento em educação e a busca de acordos comerciais
com o maior número de parceiros possíveis, citados em De-
sarrollo Humano en Chile, (2012)
A despeito da classificação do Brasil e Chile em relação
ao seu risco à corrupção estarem na mesma faixa, cerca de
20%, observa-se no Quadro 02 que no Brasil, os riscos advin-
dos das ações governamentais políticas e de licitação pública.
Que representam um importante grupo de decisões acerca da
educação. Já o Chile, apresenta seu pior desempenho em rela-
ção aos indicadores privados, sejam dentro das estruturas or-
ganizacionais e financeiras. (INTERNATIONAL DEFENCE AND
SECURITY PROGRAMME, 2013)
Apesar de semelhantes em vários aspectos, observar-se
discrepâncias entre esses dois países. Em relação à educa-
ção, de acordo com a UNB em 2006 apud no Blog Educação
(2012), também abordado por Gouveia (2009) o Chile contava
com 27% da população entre 28 e 24 anos no ensino superior,
contra 12% de brasileiros. A UNB prevê que somente em 2022
o Brasil terá os mesmos índices do Chile. De acordo aos dados
apresentados no Blog Educação, 2012:
Apenas em 2022 o Brasil alcançará um índice de jovens
inseridos no ensino superior próximo ao, apresentado
pelo Chile hoje, mesmo com as atuais políticas de in-
clusão. O diagnóstico é de uma pesquisa da univer-
sidade de Brasília (unB), que comparou o acesso à
universidade nos dois países. Instrumento de avaliação
sem finalidades classificatórias, instituído pelo MEC em
2008. Tem por objetivo oferecer aos professores, direto-
res, coordenadores e gestores das redes de ensino um
instrumento para diagnosticar o nível de alfabetização
dos alunos. (...) Os motivos para isto estão relacionados
centralmente à maior desigualdade de renda encontra-
da na sociedade brasileira, sendo a desigualdade de
acesso ao ensino superior um espelho da desigual-
dade de renda da sociedade.(BLOG DA EDuCAçÂO,
2012 Disponível em: http://www.blogeducacao.org.br/
pesquisa-compara-acesso-ao-ensino-superior-no-bra-
sil-e-no-chile)
SIMULAÇÃO DE CPI E PIB PER CAPTA
Os dados referentes à percepção da corrupção mostram
que o FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo) e o IED (Investi-
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mento Estrangeiro Direto) do Chile são superiores aos do Brasil
nos mesmos períodos, o que reflete diretamente no PIB.
O quadro abaixo mostra o resultado de uma simulação dos
níveis do CPI (Índice de Percepção da Corrupção) do Brasil em
relação ao Chile e outros países. São dados da ONG Trans-
parência Internacional, tomando-se por base as médias entre
1996 e 2005.
Observa-se que, se o Brasil apresentasse nos últimos 30
anos o mesmo nível de CPI que o Chile, o PIB do Brasil poderia
ser maior em até 22,5%. Em relação ao mesmo período, obser-
va-se, também, que de acordo com a média de CPI apresenta-
da pelos países na tabela acima de 7,43, estima-se que o custo
médio anual do Brasil com a corrupção seria a diferença entre
o PIB alcançado e um PIB relacionado com essa percepção
de corrupção por parte da população, aproximadamente 30%.
Tais análises contribuem para uma verificação da relação exis-
tente entre os indicadores de percepção da população sobre a
corrupção e o PIB per capta dos países pesquisados, segundo
dados da Controladoria Geral da União (2013).
EDUCAÇÃO E IDH
O Brasil apresenta uma ruptura de estudantes na transição
do ensino fundamental para o ensino médio, sendo esta, a prin-
cipal responsável pelos atuais índices de escolaridade, que no
Brasil só será obrigatório o ensino médio a partir de 2016, além
de outra ruptura na transição do ensino médio para o superior.
Essas rupturas são verificadas com a constatação entre o nú-
mero de egressos de cada nível com o nível de ingressos do
nível subsequente. (BLOG DA EDUCAÇâO, 2012)
Ainda para esse Blog, o Chile apresenta apenas uma rup-
tura do ensino médio para o superior. Para ocupar a mesma
posição ocupada pelo Chile, o Brasil teria que dobrar o seu in-
vestimento em educação, ou seja, gastar o equivalente a mais
5,6% de seu PIB. Possivelmente, há uma clara relação entre o
desempenho educacional entre esses dois países e o seu re-
sultado geral de IDH, muito também relacionado com o próprio
fator Educação, como um componente aferido dentro desse
índice. (ARAÚJO, 2006)
Em relação ao IDH, apesar do Brasil ter ganhado uma posi-
ção do ano de 2010 para 2011, ainda assim o país ocupa um lu-
gar não muito favorável, ficando atrás de países como Panamá,
México, Bahamas, entre outros, e sendo o 20º país da América
Latina com melhor IDH, enquanto o Chile tem o melhor IDH da
região e situando-se na 44ª posição do ranking mundial, como
pode ser visto abaixo:
O PESO REAL DA CORRUPÇÃO
Outro fator contribuinte para essas várias diferenças vistas
acima entre Brasil e Chile, seria a corrupção como prática pú-
blica e privada. De acordo com a tabela abaixo, observa-se os
valores de indicadores de corrupção entre os países em ques-
tão em comparação com os dados do conjunto dos países da
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
– OCDE (2013; 2013a)
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 63
A nota recebida pelo Brasil foi de 3.7, enquanto a do Chile
foi de 7.3 e a dos outros países tendo em média 7.9.
A corrupção desestimula o investimento privado, os IED’S,
devido ao seu “custo Informal”, pois aumenta o custo so inves-
timento produtivo. Reduz, principalmente, a eficiência da admi-
nistracão pública, levando à realização de serviços e aquisição
de bens de qualidade inferior ou superfaturados. Acarreta uma
perda de arrecadação do Estado, pois a corrupção estimula
a sonegação fiscal. Dessa forma, o que acaba acarretando é
uma diminuição do gasto social, com sua redução de eficiência,
como na saúde e na educação. (FIESP, 2012)
Na Figura 02 abaixo pode-se observar os efeitos econô-
micos da corrupção entre Brasil e Chile entre 1997-2005 como
forma de apresentação de correlação de indicadores.
Dos dados avaliados no quadro acima, pode-se comparar
Brasil e Chile, em que se observa consumo do governo, carga
tributária, gastos em saúde e educação em relação ao PIB de
cada país. Apesar de o Brasil gastar mais em saúde e educa-
ção que o Chile, observa-se que os índices de escolaridade são
mais altos no Chile, mostrando a ineficiência dos gastos nessa
área de interesse governamental no balanço final.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Frente aos dados e aspectos analisados, pode-se concluir
inicialmente que o Brasil está defasado em relação ao Chile nos
quesitos PIB, IDH, níveis de escolaridade, carga tributária, den-
tre outros, mas sem o devido viés da corrupção como variável
independente, que provocaria tais distorções e desvios.
Pelos estudos citados conclui-se que a corrupção, comum
aos dois países, não seria um grande entrave para o desenvol-
vimento dos indicadores citados no Brasil, em se considerando
que o Chile também possui componentes críticos de corrupção.
Contudo, em se tratando do desempenho Estatal, pode-se per-
ceber que o aproveitamento orçamentário no Brasil para a área
da educação, entre outros indicadores, sofre mais interferência
do que no Chile. De forma qualitativa, percebe-se uma interve-
niência negativa da corrupção para assuntos de âmbito Estatal
em suas grandes áreas de atuação, cujos indicadores relacio-
nados, tal como a Educação.
Tal interveniência é sustentada pelos comparativos de
percepção de corrupção e de projeções de desempenho
esperadas, caso não houvesse corrupção na esfera estatal.
Com isso a pergunta problema e seu respectivo objetivo de
pesquisa puderam ser solucionados parcialmente, com a ve-
rificação da situação de interveniência da Corrupção e nos
resultados dos principais indicadores socioeconômicos e so-
cioculturais dos dois países.
Ao que se percebe, não se tem uma clara percepção sobre
os componentes quantitativos de relação entre a corrupção e o
desempenho dos países. Novas pesquisas nessa área podem
guardar um interesse em revelar a exata correlação que poderia
existir entre os indicadores de corrupção e os indicadores de
desempenho socioeconômico.
Ainda assim, guarda-se uma preocupação com a construção
de um sistema de variáveis hipotético (constructo) que possa con-
siderar que a corrupção seria uma variável independente para os
indicadores socioeconômicos e socioculturais, representados pela
educação, ou apenas uma variável interveniente na relação entre
potencialidade estrutural, ou pré-condições de desenvolvimento e
os indicadores de desempenho socioeconômicos.
Outro limite que poderia ser explorado reside na verifica-
ção das esferas de poder executivo, legislativo e judiciário e
nas três instâncias existentes aqui no Brasil, representadas
pela União, Estados e Municípios. Após esse detalhamento
pode-se direcionar melhores formas de entendimento dessa
relação entre corrupção e desempenho socioeconômico e da
educação propriamente.
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org/southerncone/pt/corrupcao/index.html. Acessado em 05 de Outu-bro de 2012.
NOTAS1 Mestre em Administração; Professor do Centro Universitário Newton Paiva – Organizações Internacionais e Planejamento Estratégico para o curso de Relações Internacionais.
2 Alunos do 7º período do curso de Relações Internacionais, do Centro Universitário Newton Paiva.
3 Mestre em Administração - Professora da disciplina de Marketing Mul-ticultural Internacional.
4 Segundo Relatório Corrupção: custos econômicos e propostas de combate. (FIESP, 2012)
5 Dados disponíveis em: http://cenariosdesenvolvimento.blogspot.com.br/2011/03/o-pib-de-2010-e-desaceleracao-da.html
6 Idem item acima.
7 Idem item acima.
66 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785
BrasiL e áFriCa Do suL: paraDigmas De Cooperação
Felipe Xavier Faria Alvarenga1Messias Borges dos Santos Júnior1
Renata Aparecida Pinto1Rodney de Souza Pereira2
Leandro Cesar Diniz da Silva3
RESUMO: Este trabalho apresenta uma abordagem preliminar da relação de cooperação horizontal que se fortaleceu entre Brasil e África do Sul, por meio de políticas
priorizadas no governo do ex-presidente luís Inácio lula da Silva (2003 - 2010), rompendo com o modelo Norte-Sul, então vigente. Como opção metodológica, optou-
-se pela estrutura de uma revisão bibliográfica. Para justificar tal ação, apresenta-se o desenvolvimento histórico e similaridades entre os países, o que corrobora com a
adoção da prioridade pela política de cooperação, defendida pela Teoria liberal. Como exemplo desse ideal, introduziu-se o trabalho da organização não-governamental
(ONG) Blood:Water Mission (BWM), cuja atividade consiste na mobilização individual iniciada nos Estados Unidos e refletida em grupos voluntários no Brasil, a favor
de comunidades carentes na África do Sul. Essa tríade ilustra uma nova concepção teórica acerca da cooperação prática e a discussão concernente ao modelo horizon-
tal em oposição ao vertical permite identificar as possibilidades de se realizar a integração entre os Estados.
PAlAVRAS-ChAVE: Cooperação. Brasil. África do Sul.
1 INTRODUÇÃO
Há uma hierarquia na classificação do sistema internacio-
nal no que tange ao conceito de super, média, ou potência em
desenvolvimento. Considerando como critérios para caracteri-
zar uma média potência as capacidades materiais, medidas de
autopercepção e reconhecimento de outros Estados, o Brasil, a
África do Sul e a Índia são exemplos de países que se enqua-
dram em tal definição. Sobre esses três países, ainda pode-se
dizer que são potências regionais e juntos formam o bloco de
cooperação Sul-Sul entre Índia, Brasil e África do Sul (IBAS). No
entanto, este trabalho limita-se a estudar a relação de coope-
ração entre Brasil e África do Sul, aproximação justificada nas
afinidades apontadas pelos referenciais antropológicos, geopo-
líticos e históricos difundidas no texto, por meio de livros e do-
cumentos publicados contendo conceitos teóricos liberalistas
de Relações Internacionais e, ademais, busca-se caracterizar
esses Estados e suas mobilizações de política externa.
Como sistematizado pelo ideal liberalista de Relações In-
ternacionais que prevê cooperações entre Estados, seguindo o
conceito de interdependência complexa que, segundo Keohane
e Nye (2001, p. 272), foca nas relações transnacionais, transgo-
vernamentais e interestatais, examinando como certos padrões de
processos políticos afetam o comportamento dos atores, em vez
de empregar uma explicação estrutural que justifique suas ações.
De acordo com Keohane (apud Richardson, 2001, p.76), é im-
portante notar que no Liberalismo, a importância das instituições
está muito presente, uma vez que, explica Richardson (2001, p.
76), para os liberalistas, as instituições ampliam o potencial para a
cooperação, visto que elas não apenas facilitam a realização dos
interesses compartilhados percebidos, mas podem mudar as for-
mas pelas quais os interesses são percebidos.
O Brasil e a África do Sul possuem similaridades históri-
cas, culturais, econômicas e climáticas, além de terem supe-
rado desafios semelhantes nos últimos 50 anos, o que justifica
ainda mais o apoio técnico brasileiro em áreas como redução
da pobreza, agricultura, saúde, energia renovável, ensino pro-
fissionalizante, infraestrutura e mineração, corroborando com a
demanda de apoio brasileiro por toda a África do Sul. Portan-
to, intensificar a colaboração do Brasil com a África do Sul nos
campos geopolítico, econômico e social reflete ambições brasi-
leiras e amplia sua influência como ator internacional.
Este trabalho propõe-se a investigar, criticamente, a relação
entre Brasil e África do Sul e observar o caso Norte-Sul, visando
estabelecer a real validade dessa relação. Para exemplificar o ideal
de cooperação liberalista, que preconiza organizações não-gover-
namentais (ONGs) como relevantes atores sociais no cenário de
desenvolvimento econômico-social e cultural, citou-se o evento
realizado em Belo Horizonte por voluntários da ONG norte-ame-
ricana Blood:Water Mission (BWM), em que um dos coautores
do artigo colaborou para a realização das atividades, servindo-se
dessa pesquisa de campo como parte da metodologia. Para tal,
optou-se pela realização de uma revisão literária ou revisão biblio-
gráfica que, segundo Trentini e Paim (1999), é um modo crítico,
meticuloso e analítico sobre um assunto ou área de conhecimento.
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Além disso, pretende-se analisar com este estudo o rela-
cionamento crescente entre o Brasil e a África do Sul, como
grandes oportunidades para ambos os Estados que, com
suas respectivas vantagens e desafios, oferecem excelentes
perspectivas de cooperação horizontal, sendo elas objeto de
interesse das Relações Internacionais.
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 BRASIL E ÁFRICA DO SUL
As semelhanças entre Brasil e África do Sul têm início no his-
tórico de exploração de suas riquezas e dominação da política do
território, o que culmina na diminuição do crescimento autônomo
dos Estados, que os condicionou a um atraso no desenvolvimen-
to econômico e menor articulação no cenário internacional.
Acerca da posição geopolítica da África do Sul, Visentini
(2010, p.12) afirma que
[...] o país tem enormes potencialidades que podem se
transformar [...] gradativamente, num novo ciclo de desen-
volvimento. A infraestrutura e a base econômica herdada
do regime racista, bem como a posição geopolítica e os
imensos recursos minerais, propiciam à África do Sul as
condições necessárias a uma nova arrancada. [...] Para o
Brasil, a África do Sul representa uma parceria fundamen-
tal, tanto para a política africana como para a global.
Sobre o Brasil, Lima (2005) afirma que,
O Brasil tem se deparado com um contexto geopolítico
regional estável, uma vez que já no final do século XIX e
início do XX, havia resolvido a seu favor praticamente to-
dos os conflitos territoriais com seus vizinhos, a ponto de
se autodenominar um “país geopoliticamente satisfeito.
Outro elemento que aproxima as duas nações é a forma-
ção étnico-cultural do povo. De um lado a África do Sul foi colo-
nizada por holandeses, franceses e ingleses, do outro, o Brasil
recebeu portugueses, africanos, italianos e espanhóis. Como
afirma Alencastro (2007, p.106),
um novo contingente estrangeiro, os africanos, substitui
progressivamente os índios nos enclaves coloniais para
construir a nova sociedade que se formava no ultramar.
De fato, embora submetidos à imigração forçada e à
escravidão, os africanos são co-participantes, ao lado
dos portugueses, da colonização do Brasil.
Já na África do Sul, de acordo com Ribeiro e Visentini
(2010, p.26),
O crescimento populacional, as reivindicações anti-
-mercantilistas dos colonos e dos boers (camponeses
trabalhadores) e a expansão territorial pelas migrações
autônomas foram a base para a proibição da imigração
branca em 1717. [...] Durante o século XVIII, com a che-
gada dos huguenotes (calvinistas franceses) refugiados
das perseguições religiosas, a população colonial cres-
ceu e se tornou mais complexa.
A aproximação sistemática e gradativa entre os Estados
acontece no momento em que saem de um cenário interno de
conflitos e mudanças, o fim do Apartheid na África do Sul e a re-
democratização do Brasil, assim como expõe Pimentel (2012),
“as necessidades comuns de superação de nossos modelos
excludentes de desenvolvimento levou-nos a estabelecer um
padrão diferenciado, soberano, de parcerias comerciais”.
Pimentel (2012) disserta também sobre a geopolítica dos
Estados, que propicia uma atitude de cooperação entre eles,
[...] somos as nações com maior PIB industrial de nos-
sos continentes [...] Essa posição de liderança regional
nos permite a ampliação do diálogo Sul-Sul em novas
frentes, seja articulando e integrando as cadeias produ-
tivas de ambos os continentes, seja reforçando a defe-
sa de nossos interesses comuns de desenvolvimento
social e econômico num mundo em transformação.
2.2 COOPERAÇÕES, PERSPECTIVAS E DEFINIÇÃO
A relação existente entre o Brasil e a África do Sul é de coo-
peração e para explicar adiante essa relação, faz-se importante
buscar respaldo teórico no Liberalismo Institucional. Para Keoha-
ne (apud Richardson, 2001, p.75), o liberalismo nasceu do pen-
samento kantiano4 de organização de Estados comprometidos
com a manutenção da paz. Richardson (2001, p.75) explica que,
de acordo com essa teoria, uma rede de instituições criadas para
promover a cooperação internacional em campos técnicos espe-
cializados transformaria gradualmente o ambiente internacional,
no sentido da cooperação e da paz.
Uma vez que, para Keohane (apud Richardson, 2001, p.75), o
comportamento internacional não pode ser explicado simplesmen-
te em termos estruturais, seja por poder geopolítico, capitalismo,
ou independência comercial, deve-se levar em conta as escolhas
que determinam quais regras, convenções, regimes e organiza-
ções formais regularão as relações internacionais em um dado
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momento. Nesse sentido, discorre Moravcsik (2010), o pensa-
mento liberalista é distinto na natureza das variáveis que privilegia,
com foco em preferências estatais determinadas socialmente. Tal
pensamento, explica Moravcsik (2010), preconiza que o Estado
não necessita recorrer à força, como defendido pela teoria realista
de relações internacionais, cujo foco é a variação de recursos de
poder coercitivo, para atingir seus objetivos. Para tanto, bastaria
apenas, como regra, convenção ou regime, por exemplo, intervir
na economia de um país, por meio de cooperação com foco na
importância da ausência do estado de guerra entre duas nações
democráticas em cooperação.
Moravcsik (2010) esclarece que a teoria liberal defende as
ações do Estado para além da política, condicionadas também ao
crescimento do poder econômico, ou seja, da estrutura e dinâmica
do sistema capitalista. Isto é, em prol de tal crescimento, o Libera-
lismo sustenta que os Estados devem fazer alianças e coopera-
ções, um dos pilares da interdependência complexa de Keohane.
Os liberais defendem que a condição universal da
política mundial é a globalização. Os Estados estão
e sempre estiveram arraigados em uma sociedade
doméstica e transnacional, que cria incentivos para
interações econômicas, sociais e culturais para além
de suas fronteiras5. (MORAVCSIK, 2010)
A Organização das Nações Unidas (ONU), em Assembleia
Geral de 1959, considera profícua a cooperação liberal, como
salientado, a seguir, por Maciel (2012)
“Dessa forma, pretendeu-se conferir um caráter mais
congruente a essa ferramenta, ao reconhecer a possibi-
lidade de aprendizado e ganhos mútuos a partir de uma
relação de trocas entre partes iguais e/ou desiguais”.
Ou seja, os Estados envolvidos atingem seus interesses
de maneira pacífica, por auxílio mútuo, naquilo que precisam
e não deixam de ganhar. Moravcsik (2010) acrescenta que
a abordagem liberalista é distinta por não estressar a dis-
tribuição do poder coercitivo, mas a informação e crenças
culturais, entre outras características inerentes dos Estados.
Entretanto, não se desconsiderou com este trabalho que
a crítica sobre a cooperação do ponto de vista liberal tange
ainda aos níveis de desigualdade atuais que têm aumenta-
do significativamente nas últimas décadas, demonstrando
um arranjo tão pouco condutivo dos valores liberais quanto
àquele da Europa nos séculos XVII e XVIII, quando os ideais
liberais foram originalmente formulados.
2.2.1 INICIATIVA DE COOPERAÇÃO NORTE-SUL: PESqUISA DE CAMPO
Uma das assertivas deste estudo é a validade de ONGs ame-
ricanas como a BWM, no papel de agentes de cooperação em
níveis diretos de indivíduo para indivíduo, de comunidade para co-
munidade, de organização para organização, reconhecidos sob
os parâmetros Norte-Sul e dos quais se espera que estimulem
pelo menos indivíduos e comunidades, ou com mais dificuldade,
organizações e o próprio Estado, a tomarem iniciativas semelhan-
tes, porém igualmente representativas e efetivas, o que, pretende-
-se, venha a somar, ainda que indiretamente, ao impacto positivo
causado em comunidades alvo na África - nisso observa-se, ainda
que indireta e minimamente, um exemplo de cooperação Sul-Sul
entre autonomias internas das nações.
A BWM é uma organização não-governamental sem fins
lucrativos que busca conscientizar e levantar verbas contra a
pobreza e a epidemia do vírus Human Immunodeficiency Vi-
rus (HIV) em comunidades africanas. Suas iniciativas simples
contam com o envolvimento de comunidades em todo o terri-
tório americano e, há dez anos, impactam núcleos carentes em
diversas regiões do continente africano. O projeto foi fundado
pelo ativista Daniel Paul Haseltine, após sua visita ao continente
em 2002 e tem intuito de levar àquela região, como explicou o
próprio fundador no site do projeto, “as duas coisas que a África
mais precisa - sangue limpo e água limpa”.
Desde os primeiros anos de atividade, a BWM focou-se em
seu principal desafio, o projeto 1000 Wells, em prol da construção
de mil novas cisternas de água pela África, meta que foi recente-
mente atingida e celebrada, porém as construções continuam. Os
meios para que se cumprisse tal desafio foram desde apelos di-
retos ao Governo dos Estados Unidos, divulgação em veículos de
comunicação importantes, como o jornal americano “Washington
Post”, até o envolvimento voluntário de comunidades americanas
que se propusessem a abrir mão de um mínimo de seu tempo e
recursos, para somar forças com a garantia de que os resultados
a serem atingidos pela BWM eram certos.
Além de cisternas de água, a BWM também constrói centros
para tratamento de pessoas portadoras do vírus HIV, reduzindo
significativamente o número de mortes por ação deste, sobretu-
do garantindo prolongamento e incremento de qualidade de vida.
Para arrecadar verbas para a construção das cisternas e centros
de tratamento de HIV, a BWM mantém várias iniciativas em conjun-
to com voluntários do mundo todo, a saber:
l 40 Days of Water: a campanha consiste em abdi-
car-se de toda variedade de bebida de que se usufrui
diariamente, com exceção da água, por um período de
40 dias que, geralmente, coincide com o período da
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quaresma católica. Não há um rigor com relação àquilo
de que se abdica. Os adeptos são livres para participa-
rem como desejarem. Ao término deste período, todo o
dinheiro que seria gasto com o consumo de bebidas é
doado à BWM.
l Ride:Well: nesta campanha, ciclistas de todo o ter-
ritório americano se reúnem para pedalar algumas mi-
lhas em favor da BWM, levando informações e realizan-
do palestras por onde passam.
l Lemon:AID: voluntários produzem e vendem limo-
nada caseira, comprometendo-se a doar o lucro para
a BWM. Como suporte desta campanha, os indivíduos
e grupos adeptos recebem kits com cartazes, balões e
panfletos para montar seu estande.
l Water:Walks: esta campanha consiste na realização de
caminhadas de aproximadamente um quilômetro e meio,
com o intuito de promover coesão entre os participantes
e levar informações sobre o projeto às pessoas que ex-
perimentam a caminhada, ou somente observam a mo-
bilização. As modalidades podem ser diversas, variando
desde caminhadas sem nenhum retorno direto monetário,
a caminhadas em que é feita a doação de um dólar ao
projeto, em nome de cada pessoa que comparecer, por
parte da ONG americana TakeTheWalk, cujos focos hu-
manitários são a construção de centros educacionais e de
saúde, doação de calçados, construção de cisternas de
água limpa, entre outros.
Como plataforma auxiliar do estudo, a pesquisa lançou
mão dos eventos TaketheWalk realizados em capitais como
São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e, mais especifica-
mente, Belo Horizonte, em que as expectativas de envolvimento
da comunidade local e retorno direto monetário foram excedi-
das. Cento e onze pessoas de diferentes lugares do Brasil e
estrangeiros então presentes se registraram no evento que pro-
pôs a marcha dentro do Parque dos Mangabeiras, em prol dos
projetos de construção de cisternas de água limpa na África.
A caminhada em Belo Horizonte foi a segunda de uma
série iniciada pelo grupo voluntário brasileiro, do qual um
dos coautores deste artigo faz parte. Os esforços filantrópi-
cos por parte do grupo receberam reconhecimento da ONG
americana. Além de apoio direto com materiais de suporte
para os eventos, a ONG publicou em seu site uma matéria
sobre a mobilização e destaca:
Many people took off their shoes and walked barefoot
up and down the hills of the Mangabeiras Park, where
the mile walk was held, as it’s common to walk bare-
foot at the TTW walks, as an illustration of the reality in
Africa and a way to connect with the millions of Africans
who cannot enjoy the comfort offered by a pair of shoes
as they walk miles each day for water. Attendees were
made aware of the need for clean water and of the im-
portance of each $1 donated at the walk, according to
the equation that $1 = Clean Water for 1 African for 1
Year. (BLOOD:WATER MISSION, 2012)
Um dos aspectos interessantes do projeto é a simplici-
dade com que se pode cooperar e como os resultados po-
dem ser surpreendentes, visto que, na prática, cada dólar
arrecadado poderá significar, entre outras formas de auxílio,
um ano de água limpa, para um indivíduo na África. Para a
ONG, a dedicação dos voluntários no Brasil é um exemplo de
envolvimento pessoal com a ação social, por parte de pes-
soas que sequer conhecem os membros das comunidades
ajudadas, mas optaram por estabelecer com elas, uma rela-
ção de cooperação sustentável.
Vale ressaltar que a perpetuidade dos benefícios promovi-
dos por iniciativas como as caminhadas realizadas no Brasil é
monitorada por agentes da ONG atuando in loco, com mem-
bros das comunidades ajudadas, de forma que eles mesmos
sejam responsáveis por manterem a disponibilidade dos recur-
sos inicialmente fomentados.
Dessa forma, o trabalho de um ator transnacional de inicia-
tiva vertical transbordaria à ação do Estado e inspiraria o con-
texto horizontal de cooperação.
2.2.2 POLíTICA DE COOPERAÇÃO SUL-SUL
Priorizar o foco de cooperação entre Estados do sul não
significa preterir a cooperação Norte-Sul, mas a primeira torna-
-se mais viável dada as similaridades entre as necessidades
dos países, como já foi exposto neste trabalho.
Não obstante, o rompimento, ainda que paliativo, com a
cooperação Norte-Sul, em que os países do norte, por serem
sumariamente desenvolvidos, ao passo que os dos sul estão
em desenvolvimento, configura uma relação de doador e ne-
cessitado, respectivamente. Contudo, se devido ao crescimen-
to entre Brasil e África do Sul, ambos podem deter o controle
de suas políticas internacionais, suas ações voltadas para o sul
propiciam a criação de cooperação bilateral. Ideologicamente,
estes países tornam-se independentes da supremacia do norte
e têm seu valor de poder de influência salientado.
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A primeira ação brasileira que pode ser apontada como inte-
gração com o país africano foi a construção de um consulado na
Cidade do Cabo em 1918. Como observou Penna Filho (2008),
O gesto do governo brasileiro demonstrou o seu inte-
resse em estreitar as relações comerciais com a união
Sul-Africana, ampliando o horizonte do intercâmbio
comercial do Brasil com uma região economicamente
próspera e estrategicamente significante.
No entanto, essa aproximação horizontal só passou a
ocorrer através dos esforços do governo do ex-presidente
Luís Inácio Lula da Silva (2003 - 2010), que priorizou a in-
clusão do continente africano na agenda de política externa
brasileira, a qual tem se expandido para além da América do
Sul, abrangendo outros países em desenvolvimento nos con-
tinentes africano e asiático. Isso contrastou com o governo
anterior, como explica Bueno (2008),
O atual governo brasileiro não apenas tornou prioridade
a reabertura de postos diplomáticos no continente afri-
cano, que haviam sido fechados durante a administra-
ção de Fernando Henrique Cardoso (de 1995 a 2002),
como os ampliou, elevando de 18 para 30 embaixadas
e dois consulados gerais.
Tal aproximação acentuou a presença de políticas externas
brasileiras na África, como defende Ribeiro (apud Bueno, 2008),
Esse movimento proporcionou maior intensidade nas
relações Brasil-África, uma vez que também se pôde
observar o interesse de vários Estados africanos (a
exemplo do Benin, Guiné-Conacri, Guiné Equatorial,
Namíbia, quênia, Sudão, Tanzânia, Zâmbia e Zimbá-
bue) na abertura de postos diplomáticos no Brasil. En-
tre 2003 e 2006, o número de embaixadores africanos
acreditados em Brasília saltou de 16 para 25.
Ainda sobre a importância do governo Lula, é relevante
ressaltar suas viagens realizadas à África com o intuito de
mostrar o compromisso do governo com o aprofundamen-
to da cooperação, tanto na área comercial, quanto na área
técnico-científica. O presidente visitou países diversos, tais
como Angola, Burkina Faso e África do Sul, com o objeti-
vo de melhorar o diálogo político. Para Lula, era necessário
encontrar soluções duradouras para os desafios e ameaças
globais, refletindo, assim, o interesse da maioria.
A respeito das Relações Brasil-África no Século XXI, Aqui-
no (2012) explica como o governo Lula buscou espaços não
ocupados, “privilegiando as relações Sul-Sul e devolvendo ao
Itamaraty parte de suas prerrogativas que haviam sido repassa-
das à área econômica”.
Naturalmente a nova agenda privilegiou as desigualda-
des sociais, a fome e a necessidade de se construir um mun-
do mais justo, o que, segundo Aquino (2012), “aproximou o
Brasil da África, com a construção de alianças de geometria
variável, como o G-3 (Brasil, Índia e África do Sul) e o G-20,
constituído por países que defendiam interesses agrícolas
nas negociações na OMC”.
Concomitantemente com os preceitos de cooperação em
aplicação no presente artigo, a política externa brasileira procurou
associar desenvolvimento social e econômico, mas também se
dedicou à segurança internacional e atribuiu prioridade especial
aos países da África Austral e aos de língua portuguesa, buscando
aprofundar seus laços eles. São três as áreas significativas daque-
le governo apresentadas como destaque nos acordos de coope-
ração firmados entre o Brasil e a África, a saber:
A primeira, que já havia sido iniciada pelo governo de
Fernando Henrique Cardoso, foi no combate à AIDS,
um dos mais graves problemas de saúde pública vi-
venciado pelo continente africano. A segunda área é
a da pesquisa agropecuária, com a instalação de um
escritório da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pes-
quisas Agropecuárias) em Gana. Também receberam
recursos os programas de treinamento na área agrí-
cola, com a capacitação profissional das instituições
de pesquisa agropecuárias de Angola, Cabo Verde e
Moçambique. Essa iniciativa ilustra um dos principais
slogans do presidente Lula, tanto no nível domésti-
co como no exterior, o “combate à fome”. Por fim, a
cooperação na área educacional inclui o programa
de intercâmbio acadêmico nas áreas de graduação,
pós-graduação e técnicos, em que jovens africanos
estudam gratuitamente no Brasil. (AquINO, 2012)
Observa-se que o Brasil, uma potência pacífica, asso-
ciava afinidades culturais com países africanos, buscando
reforçar seus interesses comuns no plano do Atlântico Sul,
além de apoio em fóruns multilaterais, como na Organização
Mundial do Comércio (OMC) e na ONU.
Neste contexto, a pobreza, o meio-ambiente e os direitos
humanos são questões que não apenas ampliam a noção de
segurança, mas também conferem sentido de comunidade e
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de universalidade aos interesses brasileiros no Atlântico Sul.
Portanto, existe o apoio ao coletivo e não ao individual, ao
consenso e não à força, que nitidamente são traços liberalis-
tas, conforme defendidos anteriormente.
Além do mais, ampliar as relações do Brasil com países e
regiões fora do eixo tradicional da diplomacia reforça a carac-
terística universalista da política externa brasileira. Tal estraté-
gia chama à realidade o fortalecimento de valores e interesses
comuns “solidários”, notadamente no eixo Sul-Sul, tanto em
aspectos culturais e históricos, como econômicos e políticos,
abrindo caminho para a projeção crescente dos interesses na-
cionais no Atlântico Sul, área relevante para o Brasil na etapa de
consolidação de sua hegemonia regional.
Finalmente, os benefícios obtidos na cooperação horizon-
tal, assim como na vertical, são vantagens em prol da interação
entre Estados, logo a soma e não a substituição propõe uma
nova relação triangular: Sul-Norte-Sul. Fordelone (2012) cita a
tendência internacional a esse formato,
O caso da cooperação triangular é mais complexo, e
a motivação que é mencionada mais frequentemente
é a possibilidade de capitalizar as vantagens da coo-
peração Norte-Sul e da cooperação Sul-Sul através da
cooperação triangular.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Brasil e a África do Sul trabalham para encontrar o cami-
nho do desenvolvimento sustentável e a cooperação é crucial para
transformar afinidades e interesses comuns em benefícios concre-
tos para ambos. Com base no referencial teórico disposto neste
estudo, percebeu-se que as relações de cooperação entre Brasil
e África do Sul se deram pela urgência histórica em se afirmarem
como potências regionais, gerando ganhos mútuos.
Pode-se inferir que a cooperação entre Brasil e África do Sul se
apresenta como uma amplíssima saraiva de questões positivadas
e outras ainda a se trabalhar, isto é, um vasto campo de investiga-
ção, cujos pontos principais foram passíveis de se conferir, ainda
que brevemente neste artigo, entre os quais estão as percebidas
oportunidades promissoras de desenvolvimento econômico-políti-
co dos “sócios” desse acordo, no cenário global.
Foi possível concluir com olhar crítico que as iniciativas de
cooperação Sul-Sul somente foram consideradas efetivas, sob
o escrutínio dos efeitos práticos encontrados na cooperação
Norte-Sul. No entanto, priorizar o foco de cooperação horizontal
não significou preterir completamente a vertical, mas a primeira
também se mostrou viável, dadas as semelhanças entre as ne-
cessidades dos dois países. Inerentemente, esse contraponto
foi a mola do estudo de reconhecimento da investida do gover-
no brasileiro no campo da cooperação internacional, com certo
êxito, lado a lado com o Estado sul-africano.
Demonstrou-se com o evento assistido pela ONG americana
Blood:Water Mission que, na cooperação Norte-Sul, não somente
o Estado exerce fundamental participação na cooperação entre
nações, com resultados transformadores que convidam e inspi-
ram à ação tanto indivíduos inseridos em comunidades locais, ou
internacionais, como o próprio Estado, em esforços contra uma
das maiores crises humanitárias da atualidade. Visto que esta pes-
quisa se limita a exemplificar ações de atores não-governamentais
do sul, inspiradas pelas ações do Norte em favor de um terceiro
Estado, sem contudo analisá-las com profundidade, sugere-se,
primeiramente, que seja conduzida uma extensão dessa análise,
todavia apoiada em ações de um Estado do sul.
Atenção especial foi dada à independência do sul da supre-
macia do norte, salientando seu poder de influência, uma vez que
dessa maneira promove seu crescimento e detenção do controle
de suas políticas internacionais. Concluiu-se que a consequência
direta desse processo é a cooperação bilateral, uma vez que as
iniciativas que entremeiam as relações entre Brasil e África do Sul
foram de teor coletivo e têm reforçado a característica universalis-
ta da política externa brasileira, abrindo caminho para a projeção
crescente dos interesses nacionais brasileiros, em uma área estra-
tégica na etapa de consolidação da hegemonia regional do Brasil.
Conclusivamente, as possibilidades cruzadas oferecidas
por ambos os modelos são favoráveis à interação entre os
Estados em novo formato triangular, como meio de se capi-
talizar vantagens. Portanto, um exercício de pragmatismo é
efetivo ao combinar a interação Sul-Sul à Norte-Sul, resultan-
do no pensamento Sul-Norte-Sul.
A partir deste trabalho, pode-se inferir que é vital a manu-
tenção dos estudos realizados pelos governos no que tange as
oportunidades de desenvolvimento que se lhes apresentarem,
com o intuito de se identificar a natureza das ações futuras a
serem tomadas cooperativamente, em favor do fortalecimento
de seus laços.
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NOTAS DE FIM1 Alunos do Curso de Relações Internacionais - Centro Universitário Newton Paiva Email: [email protected]; [email protected]; [email protected]
2 Professor do Curso de Relações Internacionais - Centro Universitário Newton Paiva Email: [email protected]
3 Coordenador do Curso de Relações Internacionais - Centro Universi-tário Newton Paiva Email: [email protected]
4 Pensamento de Immanuel Kant (1724 - 1804), figura central da filo-sofia moderna. Disponível em <http://plato.stanford.edu/entries/kant/> Acesso em 30 nov. 2013.
5 Tradução nossa.
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 73
aspeCtos Da reLação FamÍLia X esCoLaClarice Tolentino Barbosa de Oliveira1
Joelma Lourdes Silva Rafacho2
Sérgio Rafacho3
RESUMO: O presente artigo aborda questão relacionada ao cotidiano escolar da educação infantil envolvendo a interação entre Escola-Família no âmbito da
educação. A sociedade contemporânea se reveste de novas estruturas e de novos valores que têm influenciado o comportamento das crianças e, consequente-
mente, gerado novas necessidades tanto para os educadores quanto para a gestão escolar. Concepções modernas de família têm emergido como fruto da di-
versidade cultural e do novo contexto global em que estamos inseridos. Buscou-se discutir essa questão sob a perspectiva da escola, da família, em seguida,
apresentando aspectos da estrutura escolar que devem ser considerados a fim de que haja eficácia no processo educacional.
PAlAVRAS-ChAVE: Educação; Educação Infantil; Relação Família-Escola.
1 – INTRODUÇÂO
A eficácia educacional está diretamente relacionada à efeti-
vidade dos processos de ensino e de aprendizagem que envolve
todas as ações pedagógicas que buscam a construção do co-
nhecimento por parte dos discentes e a formação destes para o
convívio social. Sabe-se que na educação infantil é fundamental
que haja uma interação positiva entre família e escola, de modo
que a cooperação entre ambas propicie condições que favoreçam
o desenvolvimento da criança. (MONKEN, 2011).
A parceria Família-Escola tem sido bastante discutida
no atual âmbito educacional e tem sido evidenciada pelos
profissionais da educação como um dos principais reflexos
das mudanças sociais no desenvolvimento educacional das
crianças. No dia a dia, a escola se depara com vários proble-
mas familiares existentes no atual contexto social. A mudan-
ça significativa de valores tem alterado a estrutura familiar da
sociedade e isto tem refletido diretamente na relação família
x escola x criança. A relação família-escola tem sido objeto
de estudo de diversos pesquisadores pertencentes ao âmbito
escolar devido a sua importância para o sucesso educacional.
A atual sociedade tem apresentado modificações em sua estru-
tura e a modificação em seus valores culturais tem influenciado
o comportamento das crianças e, consequentemente, gerado
novas necessidades tanto para os educadores quanto para a
gestão escolar. Novas concepções de família têm emergido na
sociedade como fruto da diversidade cultural e do novo contex-
to global em que estamos inseridos (GOKHALE, 1980).
Sob outra perspectiva, a consideração da relação famí-
lia x escola na formação dos alunos deve demandar atenção
especial por parte dos agentes educacionais, uma vez que a
parceria a ser estabelecida entre a família e os educadores é
fundamental para o desenvolvimento não somente do apren-
dizado da criança, mas também para o alcance dos objetivos
educacionais que buscam contribuir para a formação do ho-
mem como ser único, dotado de aspirações, desejos e de so-
nhos de realização pessoal e profissional.
A separação de pais, a guarda da criança, processos judi-
ciais relacionados às crianças, problemas com drogas relacio-
nados aos pais, crianças que são enteadas, crianças criadas
pelos avós, pais com personalidades desestruturadas, filhos
adotivos, dentre outros, são exemplos das diversas ocorrências
que envolvem a relação família x escola.
Baseado no exposto, este artigo se propõe a discutir a
questão sob a perspectiva da escola, da família e, em segui-
da, apresentar aspectos da estrutura escolar que devem ser
considerados para que haja eficácia no processo educacional.
Através desta proposta de estudo, espera-se identificar como a
escola tem desenvolvido seus aspectos estruturais e pessoais
para se relacionar com esta nova realidade familiar.
Para desenvolvimento deste trabalho, foram levantadas
diversas argumentações relacionadas ao tema em questão
que, em seguida, foram agrupadas e correlacionadas ao pro-
pósito da pesquisa.
Inicialmente, a pesquisa abordou a evolução da sociedade
em relação aos valores culturais, à estrutura familiar e também
em relação à influência dos avanços tecnológicos no compor-
tamento dos cidadãos e das famílias. Em seguida, passou-se
a abordar a evolução da escola no que se refere à preparação
para receber e se adaptar a estas mudanças na sociedade,
considerando as modificações em sua estrutura e a importân-
cia da capacitação dos educadores para se relacionarem com
os diversos tipos de famílias encontradas na sociedade e com o
novo perfil de alunos oriundos deste novo contexto social.
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2 – A PERSPECTIVA DA ESCOLA
As faculdades humanas de pensar, falar, criar, imaginar,
planejar e trabalhar nos tornam “seres humanos” e se desen-
volvem pelo processo de socialização. Como seres sociais,
as crianças dependem do relacionamento com outros seres
humanos e este convívio contribui para seu desenvolvimento.
Através da linguagem e do convívio social, são desenvolvidas
habilidades e, assim, a criança passa a transmitir pensamen-
tos e emoções. Quando o educador percebe distorções em
relação à forma com que estas habilidades se manifestam
nas crianças, passa a investigar, mesmo que instintivamente,
as causas deste comportamento junto à família da criança
(MONKEN e CASTRO, 2010).
Para um melhor entendimento do contexto que envolve a
relação família-escola, é importante que se tenha como ponto
para análise a compreensão de que os processos de ensino
e de aprendizagem ocorrem sob a perspectiva de três dimen-
sões que envolvem o contexto educacional: dimensões técnica,
político-social e humana (CANDAU, 1983).
CANDAU (1983) tem como ponto de partida a compreen-
são da multidimensionalidade do processo de ensino-aprendi-
zagem, que é o objeto de estudo da didática, devendo este
processo ser analisado de tal modo que articule (e não indivi-
dualize) de forma consistente as dimensões humana, técnica e
político-social. A fi gura 1 apresenta uma ilustração desta multi-
dimensionalidade.
Fonte: elaborado pelos autores.
CANDAU (1983) defende a ideia de que nenhuma destas
dimensões, se consideradas individualmente no processo de
ensino-aprendizagem, conseguirá resultados efi cientes no âm-
bito educacional. Neste ponto, cabe salientar as considerações
que a autora faz sobre efi ciência do ensino, quando argumen-
ta que a efi ciência pedagógica deve ser repensada quando se
parte do compromisso com a transformação social:
É necessário afi rmar o compromisso com a efi ciência
do ensino. Isto não signifi ca interpretar a efi ciência tal
como o fazem as abordagens tecnológica ou escola-
novista que, de fato, jamais realizaram esta efi ciência.
Trata-se de rever o que entendemos por efi ciência,
perguntarmo-nos pela razão de ser e pelo a serviço
de que e de quem esta efi ciência se situa.
Mas a busca da possibilidade de que a maioria da
população tenha de fato acesso ao saber escolar é
indispensável. A isto chamamos de ensino efi ciente.
A preocupação com a efi ciência não deve ser enten-
dida como a utilização de meios e técnicas sofi stica-
das. Pelo contrário: trata-se de partir das condições
reais em que se desenvolve o ensino em nossas es-
colas e buscar formas de intervenção simples e viá-
veis. (CANDAu, 1988, p.17).
Em relação à dimensão Técnica, como há intencionalida-
de na realização dos processos de ensino e de aprendizagem,
podem-se identifi car aspectos técnicos presentes nesta inten-
cionalidade. Sobre esta dimensão, CANDAU (1983) apresenta
os seguintes argumentos:
como ação intencional, sistemática, que procura orga-
nizar as condições que melhor propiciem a aprendiza-
gem. Aspectos como objetivos instrucionais, seleção
do conteúdo, estratégias de ensino, avaliação, etc.,
constituem o seu núcleo de preocupações. Trata-se do
aspecto considerado objetivo e racional do processo
ensino-aprendizagem (CANDAu 1983, p. 15).
Já em relação à dimensão Político-Social, por se tratar de
prática social, o processo de ensino-aprendizagem se encontra
contextualizado e permeado por variáveis sociais. Sobre esta
dimensão, CANDAU (1983) argumenta que:
se todo processo de ensino-aprendizagem é “situado”,
a dimensão político social lhe é inerente. Ele aconte-
ce sempre numa cultura específi ca, trata com pessoas
concretas que têm uma posição de classe defi nida na
organização social em que vivem. Os condicionamen-
tos que advêm desse fato incidem sobre o processo
de ensino-aprendizagem. [...] a afi rmação da dimensão
política da educação em geral, e de prática pedagó-
gica em especial, tem sido acompanhada entre nós,
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não somente da crítica ao reducionismo humanista ou
tecnicista, frutos em última análise de uma visão libe-
ral e modernizadora da educação, mas tem chegado
mesmo à negação dessas dimensões do processo de
ensino-aprendizagem (CANDAu 1983, p. 15).
Finalmente, em relação à dimensão humana, como os pro-
cessos de ensino e de aprendizagem estão constantemente
presentes no relacionamento humano, a abordagem humanista
deve ser considerada pelos educadores nas ações escolares.
Sobre esta abordagem, CANDAU (1983) afirma que:
para a abordagem humanista, é a relação interpesso-
al o centro do processo. Esta abordagem leva a uma
perspectiva eminentemente subjetiva, individualista e
afetiva do processo de ensino-aprendizagem. Para esta
perspectiva, mais do que um problema de técnica, a
didática deve se centrar no processo de aquisição de
atitudes tais como: calor, empatia, consideração posi-
tiva incondicional. A didática então é “privatizada”. O
crescimento pessoal, interpessoal e intragrupal é des-
vinculado das condições socioeconômicas e políticas
em que se dá; sua dimensão estrutural é, pelo menos,
colocada entre parênteses (CANDAu 1983, p. 14).
Não há como dissociar a dimensão Técnica, relacionada à
intencionalidade e objetivos das ações escolares, das demais
dimensões, uma vez que o contexto político-social (como clas-
se social, estrutura familiar, renda familiar, dentre outros) e os
aspectos subjetivos que envolvem as crianças influenciam dire-
tamente em seu desenvolvimento como aluno e como cidadão
(CANDAU, 1983).
Em relação a esta mesma perspectiva, vejamos como o
MEC aborda as dimensões relacionadas à prática educacional:
Afetiva, ou seja, nas relações com o meio, com as ou-
tras crianças e adultos com quem convive; cognitiva,
construindo conhecimentos por meio de trocas com
parceiros mais e menos experientes e do contato com
o conhecimento historicamente construído pela huma-
nidade; social, frequentando não só a escola como
também outros espaços de interação como praças,
clubes, festas populares, espaços religiosos, cinemas
e outras instituições culturais; e finalmente na dimensão
psicológica, atendendo suas necessidades básicas
como higiene, alimentação, moradia, sono, além de es-
paço para fala e escuta, carinho, atenção, respeito aos
seus direitos (MEC, 2006).
Obviamente são perspectivas diferentes que têm o mes-
mo objetivo, ou seja, o desenvolvimento pleno da criança como
cidadã. Porém, quando os educadores se deparam com situa-
ções em que a estrutura familiar contribui para o desajuste in-
fantil, são demandadas dos mesmos ações que envolvem tanto
a escola, como a criança e a própria família (GOKHALE, 1980).
2.1 - DIREITO à EDUCAÇÃO E DO DEVER DE EDUCAR, NO ESTATUTO
DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA)
Como estamos falando do papel da escola na formação do
cidadão, é importante considerarmos que todos os seus esfor-
ços devem atender ao direcionamento dado pelas autoridades
brasileiras através de normatizações explicitadas através de do-
cumentos oficiais que devem ser conhecidos e estudados pelos
educadores (PEREIRA, 2009).
O Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) regulamen-
ta os direitos das crianças, sendo um conjunto de normas que
visa a proteção integral da criança e do adolescente. Influencia-
do pela Convenção Internacional dos Direitos da Criança das
Organizações das Nações Unidas, realizada em 1989, o ECA foi
criado em 13 de julho de 1990; sendo instituído como Lei Fede-
ral nº. 8.069, tendo como objetivo básico afirmar que crianças
e adolescentes devem ser vistos como pessoas em desenvolvi-
mento, tendo direitos e proteção integral (BRASIL, 1990).
A Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente traz
em seu artigo 4º:
É dever da família, da comunidade, da sociedade em
geral e do poder público assegurar, com absoluta prio-
ridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saú-
de, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à dignidade, ao respeito, à liberdade
e à convivência familiar e comunitária (BRASIL, 1990).
Já em seu artigo 22, enfatiza ainda que:
Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e edu-
cação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no in-
teresse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir
determinações judiciais (BRASIL, 1990).
Já o artigo 53 do Estatuto da Criança e do Adolescente
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procura assegurar o direito da criança à educação. Vejamos o
que diz este artigo:
A criança e o adolescente têm direito à educação, vi-
sando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, ao
preparo para a cidadania e à qualificação para o traba-
lho, assegurando-lhes os princípios:
I – igualdade de condições para o acesso e permanên-
cia na escola;
II – direito de ser respeitado por seus educadores;
III – direito de contestar critérios avaliativos, podendo
recorrer às instâncias escolares superiores;
IV – direito de organização e participação em entida-
des estudantis;
V – acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
residência.
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ci-
ência do processo pedagógico, bem como participar da
definição das propostas educacionais (BRASIL, 1990).
Percebe-se então, a importância de que os profissionais
da educação não somente conheçam esta legislação, mas
também contribuam para que o Estatuto da Criança e do Ado-
lescente (1990) seja cumprido tanto no exercício da profissão,
quanto na percepção do contexto que envolve crianças e ado-
lescentes. A atuação do educador é fundamental para que as
metas estabelecidas para o desenvolvimento de crianças e
adolescentes sejam alcançadas (MONKEN, 2011).
Analisando estas considerações do ECA, podemos iden-
tificar a seriedade com que a educação deve ser tratada por
seus profissionais, independentemente destes concordarem
com aspectos familiares que envolvem a criança. É comum o
educador se deparar com situações familiares com as quais
não concorda, mas cabe ao mesmo assumir seu papel perante
a sociedade e contribuir da maneira mais efetiva possível para
que a criança seja considerada de forma adequada no proces-
so e seus direitos educacionais garantidos (MONKEN, 2011).
3 – A PERSPECTIVA DA FAMíLIA
A evolução da sociedade tem apresentado mudanças em
relação a valores antes superestimados pelas famílias e que
agora estão sendo desconsiderados pelas gerações atuais. O
aumento do índice de divórcios e traumas familiares na socie-
dade tem se apresentado cada vez mais recorrente e, silencio-
samente, tem afetado o comportamento de muitas crianças no
âmbito escolar (GOKHALE, 1980).
É comum encontrar crianças que apresentam aspectos
comportamentais diferenciados, sendo muitos destes decor-
rentes de desajustes familiares. Também é comum ao cotidiano
escolar, a convocação, por parte da escola, dos pais destes
alunos para reuniões sobre o comportamento de seus filhos a
fim de se obter ações conjuntas que venham a contribuir para o
desenvolvimento da criança. Porém, em muitos destes casos,
como as atitudes das crianças refletem a baixa (ou inexistente)
definição de regras de conduta por parte da família, os profis-
sionais da educação envolvidos se deparam com situações em
que os próprios pais não sabem como agir diante das necessi-
dades disciplinares de seus filhos (GOKHALE, 1980).
A família não é somente o berço da cultura e a base da
sociedade futura, mas é também o centro da vida social. A
educação bem-sucedida da criança na família é que vai servir
de apoio à sua criatividade e ao seu comportamento produti-
vo quando for adulto. A família tem sido, é e será a influência
mais poderosa para o desenvolvimento da personalidade e do
caráter das pessoas. Assim, pode-se dizer que as crianças pre-
cisam sentir que fazem parte de uma família (GOKHALE, 1980).
Quando a criança é carente deste sentimento ou, quando
percebe que existem desajustes de sua família em relação à
de seus colegas, a parceria Família-Escola torna-se ainda mais
importante para o desenvolvimento desta e tem sido cada vez
mais discutida por pesquisadores relacionados ao campo edu-
cacional (GOKHALE, 1980).
As mudanças na estrutura e no comportamento familiar têm
sido fortemente influenciadas por um novo contexto social que
permeia a sociedade moderna. Segundo GRINSPUN (2001),
estamos vivendo num mundo sem fronteiras em que há inver-
são de valores, desafios institucionais, crises nas instituições
sociais, com crises no próprio desenvolvimento do indivíduo. A
autora apresenta um contexto que ilustra estas mudanças:
a) explosões do desenvolvimento (a população, o conheci-
mento e as aspirações);
b) a globalização, a modernidade/pós-modernidade, e a
política liberal;
c) as guerras, a cultura, a tecnologia e a formação do ho-
mem (problemas críticos);
d) a luta pelo poder, as questões econômicas, as ideologias, o
poderio tecnológico, o desemprego (problemas básicos);
e) os conflitos profundos: o eu e o mundo exterior, a ciência
e o lado espiritual, a liberdade individual e a organização social;
f) os contrates: os países em desenvolvimento e os países
desenvolvidos, o conhecimento e sua utilização, o poder e sua
dominação, a riqueza de poucos e a miséria de muitos;
g) as faltas sentidas: moradia, alimentação, saúde, educa-
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ção e segurança;
h) as novas necessidades do complexo tecnológico: infor-
mática e comunicação;
i) as questões religiosas e as questões éticas (grandes in-
quietações do mundo moderno).
A autora ainda afirma que não se pode mais pensar em
uma educação voltada apenas para a questão da escolaridade
em termos de conhecimento e saberes específicos e sim numa
educação com objetivos (além destes) na formação de um ci-
dadão mais crítico e consciente para viver e participar do con-
texto apresentado, numa perspectiva de ação visando a busca
de valores comprometidos com uma sociedade mais humana
e com mais justiça social, numa visão local, nacional e mundial
(GRINSPUN, 2001).
Segundo Minuchin (1990) e Monken e Castro (2010),
como cidadãos, é importante que os educadores conheçam
as diversas composições familiares de nossa sociedade,
procurando conhecer também os contextos que as envolvem
e que exercem influência na educação de seus integrantes.
Família pode ser considerada como um grupo social com-
posto por dois ou mais integrantes, no qual cada membro
tem um desempenho a cumprir a fim de que haja o bom fun-
cionamento desse grupo.
O quadro a seguir apresenta resultado de estudo sobre os
tipos de família existentes em nossa sociedade:
TIPOS DE FAMÍLIA CARACTERÍSTICAS
Família nuclear simples e tradicional
Pai e a mãe estão presentes; todas as crianças são filhos desse mesmo pai e dessa mesma mãe. Não há mais qualquer adulto ou criança (que não sejam os filhos) morando na mesma casa.
Família monoparental
Grupo onde apenas a mãe (ou o pai) está presente, vivendo com seus filhos e também, eventualmente, com outros filhos menores de idade sob sua responsabilidade. Não mais nenhuma pessoa maior de 18 anos, que não seja filho, morando na mesma casa.
Família recasada Grupo em que o pai e/ou a mãe estão vivendo em nova união, legal ou consensualmente e podem ter seus filhos vivendo ou não juntos na mesma casa.
Família não convencional Grupo mais amplo que consiste na família nuclear (pai, mãe, filhos) mais os parentes diretos de ambos os lados, existindo uma extensão das relações entre pais e filhos para pais, avós e netos.
Família de casal homossexual
Adotam os filhos ou um deles faz inseminação artificial e arruma uma barriga de aluguel.
Família de pais separados Família dissolvida, porém os ex- cônjuges ficam com a guarda compartilhada dos filhos.
Família de filhos adotivos Por algum problema de infertilidade o casal adota filhos ou, além de terem seus filhos biológicos, optam por adoção também.
Família uniparental Essa família é definida assim quando o ônus da criação do filho é de apenas do marido ou da mulher, seja por viuvez, maus tratos, etc.
Fonte: Monken e Castro (2010)4
Pode-se perceber como a estrutura familiar vem se modifican-
do ao longo do tempo, cabendo às escolas ou, mais especifica-
mente, aos educadores envolvidos no planejamento, na execução
e no acompanhamento das ações pedagógicas a consideração
de todos os aspectos presentes nesta nova composição social
que influenciam na educação infantil (GOKHALE, 1980).
Sobre este assunto, MONKEN e CASTRO (2010) argu-
mentam que ainda existem muitas escolas e famílias que se
apoiam em modelos tradicionais de educação e tentam edu-
car o sujeito de uma forma que não cabe mais nos dias de
hoje, ou seja, uma educação voltada para a obediência e não
para a construção de pontos de vistas na busca da conscien-
tização e da cidadania.
É conhecido que atualmente temos diversos tipos de es-
truturas familiares presentes na sociedade e que enviam seus
filhos para a escola esperando que suas diferenças sejam con-
sideradas e assimiladas pelos educadores. Como todas as
manifestações familiares influenciam no comportamento das
crianças, é importante que os educadores busquem formas de
compreender cada família, criando estratégias de ensino volta-
das para que o desenvolvimento das crianças seja o mais as-
sertivo possível, dentro das condições estabelecidas pela pró-
pria escola e pelas famílias (MONKEN e CASTRO, 2010)
3 – A PARCERIA FAMíLIA X ESCOLA
A relação família x escola é de fundamental importância na
construção da identidade e autonomia da criança, uma vez que
o processo educacional contribui para que a mesma adquira
segurança, sentindo-se amada tanto pelos pais quanto por
seus professores. Porém, com as modificações percebidas na
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estrutura e nos valores familiares, uma nova identidade familiar
tem sido percebida nas relações sociais e influenciado com-
portamentos e evidenciado novas necessidades de preparação
das escolas para acolhimento das crianças oriundas destas fa-
mílias (GOKHALE, 1980).
Esta nova identidade familiar tem demandado das esco-
las uma preparação diferenciada em relação ao antigo mode-
lo familiar no qual os valores culturais eram diferentes do atual
contexto familiar. A identificação e o estudo dos atuais valores
culturais presentes na sociedade moderna, bem como da nova
estrutura familiar é fundamental para o planejamento da vida es-
colar no que se refere à estrutura física e pedagógica, à capaci-
tação de professores, à abordagem educacional, dentre outros
(GOKHALE, 1980).
Outro aspecto importante que deve ser conhecido está re-
lacionado à influência dos avanços tecnológicos no comporta-
mento das famílias e principalmente das crianças. A presença
significativa de jovens e crianças nas redes sociais (e outros ins-
trumentos de integração social) desenvolvidas na internet tem
sido objeto de estudo de muitos pesquisados devido à influ-
ência que estes instrumentos têm exercido no convívio familiar
(GOKHALE, 1980).
Essa nova realidade demanda da escola um planejamen-
to adequado e flexível que deve ser desenvolvido em conjunto
pelos profissionais envolvidos diretamente na educação infantil,
visto que o impacto dessa nova realidade social na formação da
criança é significativo e envolverá sua formação como cidadão
(GOKHALE, 1980).
De acordo com CASTRO (2002), a família e a escola, como
instituições sociais nas quais o indivíduo permanece sob suas
ações durante um bom tempo de sua existência, exercem um
poder de inculcação de princípios sociais na formação desse
indivíduo. A família é considerada não só instância de reprodu-
ção de valores, de condutas e normas sociais que regem a con-
vivência entre as pessoas, como também instância de repro-
dução de representações e de formas de ver e de viver a vida.
Segundo Bourdieu (2001) e Castro (2002), a família, en-
quanto instituição social tem um papel determinante na manu-
tenção da ordem social, na reprodução, não apenas biológica,
mas social, isto é, na reprodução da estrutura do espaço social
e das relações sociais.
Percebemos, então, que a escola deve agir de forma inclu-
siva buscando considerar o indivíduo como sujeito de direitos
que está associado a seus valores culturais, familiares, às suas
crenças, interesses e pessoas de seu convívio social.
De acordo com MONKEN (2010), a família é uma instituição
essencial no processo educativo do sujeito, pois é na família
que a criança inicia sua educação, a construção de sua identi-
dade e recebe as primeiras influências de sua cultura. Também
argumenta que toda proposta pedagógica de qualquer institui-
ção educacional deve ser construída em parceria com a comu-
nidade e com a família, favorecendo a inclusão dessas famílias
na escola, desde a construção da proposta até a avaliação de
sua aplicação no decorrer do processo.
Ainda segundo MONKEN (2010), para que a participação
das famílias ocorra e para que haja o binômio família/escola é
imprescindível pensar em aspectos relacionados a esta parce-
ria, dentre os quais destaca:
l Considerar as diversas estruturas e formas de or-
ganização familiar;
l Organizar momentos de trocas de experiências e
discussões para que as famílias compartilhem seus
pontos de vistas, expectativas, desejos, dificuldades e
críticas relacionadas à escola;
l promover a participação da família na rotina esco-
lar, não apenas em festas e reuniões pontuais, fazendo
com que ela seja ouvida e que participe também da
tomada de decisões;
l respeitar a diversidade cultural, étnico-racial, religio-
sa e sexual das famílias;
l considerar todo o processo de formação da criança
e de sua família desde a sua entrada na escola até sua
saída;
l incentivar o entendimento dos direitos da criança
e do adolescente assegurando-lhes estratégias para o
alcance desses direitos;
l fazer com que a família participe do planejamento,
da execução, do acompanhamento e da avaliação de
todo processo educativo na instituição.
Em todas as abordagens educacionais relacionadas aos
processos educativo e formativo, percebe-se uma unanimida-
de no que se refere à necessidade de participação ativa dos
pais nas atividades pedagógicas promovidas pela escola. Po-
rém, existem relatos de professores que apontam para o pouco
comprometimento de uma parcela significativa dos pais nestas
atividades, gerando obstáculos na construção da parceria.
OLIVEIRA e ARAÚJO (2010) apresentam o modelo de
Joyce Epstein, que defende a existência de cinco tipos de en-
volvimento da família com a escola:
a) os pais ajudarem os filhos em casa, que diz respeito
à função dos pais em atender as necessidades bási-
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cas dos filhos e em organizar a rotina familiar diária;
b) os professores comunicarem-se com os pais, que
se refere à função da escola de informar os pais acer-
ca do regulamento interno da escola, dos programas
escolares e dos progressos e dificuldades dos filhos;
c) envolvimento dos pais na escola, apoiando volunta-
riamente a organização de festas e alunos com dificul-
dades de aprendizagem;
d) envolvimento dos pais em atividades de aprendi-
zagem, em casa, participando da realização de traba-
lhos, projetos e deveres de casa;
e) envolvimento dos pais na direção das escolas, in-
fluenciando e participando da tomada de decisões,
se possível.
De acordo com Hernandes (1995) e Oliveira e Araújo (2010)
é importante que a escola desenvolva ações que favoreçam a
aproximação dos pais, ao mesmo tempo em que deve haver
abertura por parte destes para buscar o convívio com a escola
que favoreça a educação de seus filhos. Tais atitudes decorrem
da noção da escola de que o envolvimento dos pais aparece
relacionado à participação e colaboração nas atividades pro-
postas pela escola e no interesse pelo desempenho de seus
filhos. As expectativas quanto à participação dos pais envolvem
o acompanhamento da tarefa de casa ou a formação do aluno
em termos de disciplina, respeito e comportamento adequado.
Um aspecto importante em relação ao papel da escola na
construção desta parceria com a família está associado à forma-
ção e preparação do professor. Monken (2010) argumenta que:
Há um papel social, quando existe uma realização
de práticas pedagógicas competentes e socialmente
comprometidas para uma melhor formação e realiza-
ção desse indivíduo.
Nesse caso, quando pensarmos nessas premissas em
relação à função da escola, é necessário investir na for-
mação do professor, para que este saiba sua função na
instituição, pois somente fará diferença aquele docen-
te que entender o papel da escola inclusiva e cidadã;
aquele Ser crítico, conhecedor, ativo, pesquisador e
reflexivo em relação ao papel social da escola. Nesse
contexto, o professor estará aberto para conhecer as
políticas públicas para a educação; participará, jun-
tamente com os alunos, com a comunidade e a com
família, da construção da proposta pedagógica da es-
cola, bem como executá-la, acompanhar as mudanças
e os desafios, avaliá-la continuamente. Ao partir dessa
premissa, entendemos que a escola atingirá sua fun-
ção social: ensinar em todos os aspectos e contextos
(MONKEN, 2010 p. 84-85)
O professor tem papel protagonista nesta relação, pois na
educação infantil é o elo principal em se tratando da aproximação
escola/família, devendo participar tanto do planejamento quanto
(obviamente) da execução e acompanhamento, relatando junto
à coordenação de sua série, a evolução de todo o processo de
aproximação, dos avanços, das necessidades de superação de
resistências e outros obstáculos que venham a surgir. Por outro
lado, os coordenadores educacionais inseridos no processo de-
vem acompanhar efetivamente as ações propostas, dando supor-
te aos professores e, principalmente, considerando que o relacio-
namento com pais de alunos inevitavelmente envolve sentimentos
e emoções fortes que influenciam no comportamento de todos os
agentes envolvidos (MONKEN, 2010).
4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
As mudanças sociais, no âmbito das relações interpesso-
ais e familiares não têm afetado apenas o grupo em que os
membros, com suas peculiaridades, estão inseridos. Estudos
comprovam que as várias estruturas familiares hoje existentes
afetam as crianças em seu processo de desenvolvimento, inclu-
sive no que se refere ao processo educacional. Essas mudan-
ças levam à criação de novos paradigmas que vêm a influenciar
o desempenho escolar e urge uma reavaliação dos objetivos
da escola e de como inserir estes novos modelos familiares na
construção de um aprendizado efetivo, não só cognitivo, mas
também afetivo e social.
Certamente não se trata apenas de um, mas sim de muitos
desafios que envolvem a prática de profissionais a serem dire-
cionados por ações que busquem a realização e o alcance dos
objetivos educacionais relacionados ao papel da escola.
O Educador, independente de seu posicionamento ideo-
lógico, a cada nova turma de alunos que assumir, sempre terá
novos desafios, devendo superá-los com habilidades e compe-
tências que favoreçam o alcance dos objetivos de seu trabalho,
ciente que o comprometimento aliado à dedicação será funda-
mental para que seu trabalho se desenvolva com sucesso.
Tanto a família quanto a escola têm papéis estruturais na
formação dos alunos, devendo, portanto, desenvolver ações
que favoreçam o progresso educacional da criança. Para tanto,
é necessária a aproximação entre ambas, sendo o professor o
principal elo para que esta aproximação aconteça de forma efe-
tiva e eficiente. A busca pela eficiência educacional passa por
aspectos técnicos que devem ser aplicados em sala de aula,
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porém a eficácia da técnica está diretamente associada a con-
sideração dos aspectos subjetivos e sociais da criança.
Para que as metas educacionais sejam alcançadas, há a
necessidade de esforço mútuo e organizado, de modo que os
pais se envolvam com as atividades propostas pela escola, pro-
piciando aos filhos condições para que o desempenho deles
atenda às expectativas no que diz respeito ao desenvolvimen-
to da criança rumo à formação de um cidadão crítico e sujeito
educando autônomo comprometido com a construção da de-
mocracia e com a justiça social.
REFERÊNCIASBOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2001. BRASIL. MEC – Coordenação de educação Infantil – DPEIEF/SEB – Revista CRIANçA – do professor de educação infantil. Brasília, DF, nº. 42, dez/2006.
CANDAU, V. M., A didática e a formação de educadores – Da exaltação à negação: a busca da relevância. In: A didática em questão. Petrópolis, Vozes, 1983, p. 13-24.
CASTRO, Cláudio de Moura. Escola para a cidadania. S.n.t.: 23 dez. 2002. Disponível em: <http://www.namodemello.com.br/pdf/tenden-cias/cidadaniaclaudio .pdf>. Acesso em: 14 out. 2012.
GOKHALE, S. D. A família desaparecerá? In: Revista Debates Sociais. Nº. 30, Ano XVI. Rio de Janeiro, CBSSIS, 1980.
GRINSPUN, Mirian Paura Sabrosa zippin. (Org.) Educação tecnológica: desafios e perspectivas, 2° edição, São Paulo: Cortez, 2001.
HERNÁNDEz, A. M. S. A relação escola e família na opinião de seus agentes. Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica de Campinas-SP. 1995.
MONKEN, Eliane M. F. Educação Infantil. Modalidade a Distância. Cen-tro Universitário Newton Paiva. Minas Gerais: 2011.
MONKEN, Eliane M. F.; CASTRO, Necy M. C. Sujeitos, Saberes e Co-nhecimento. Modalidade a Distância. Centro Universitário Newton Pai-va. Minas Gerais: 2010.
MINUCHIN, Salvador. Famílias: Funcionamento & Tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
OLIVEIRA, Cynthia B. Evangelista de; ARAÚJO, Claisy Maria Marinho. A relação Família-escola: interseções e desafios. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid =S0103166X2010000100012&script=sci_arttext#link01. Acesso em: 14 out. 2012.
PEREIRA, Kely Cristina. Estrutura e Funcionamento do Ensino Funda-mental e Médio: Modalidade a Distância. Revisora: Necy Maria de Cam-pos Castro. Centro Universitário Newton Paiva. Minas Gerais: 2009.
NOTAS DE FIM1 Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas (1987) e pós-graduada na área de Super-visão Pedagógica e Educação a Distância., professora do Centro Universitário Newton Paiva. Email: [email protected]
2 Graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário Newton Paiva, profissional da educação do Colégio Batista Mineiro. Email: [email protected] 3 Mestre em Educação Tecnológica pelo CEFET-MG; especialista em Finanças pelo IEC-PUC-MG e Administrador pela PUC-MG, professor do Centro Universitário Newton Paiva, pesquisador do grupo AMTEC/lattes.cnpq. Email: [email protected]
4 Quadro extraído do material didático da disciplina Sujeitos, Saberes e Conhecimento, cursado no terceiro período do curso de Pedagogia do Centro Universitário Newton Paiva, 2010.
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sÍnDromes DemenCiais, HomoCisteÍna e Vitaminas Do CompLeXo B
Gisele Santos Gonçalves 1,2 Flávia Batista Pinto Coelho1 Josianne Nicácio Silveira1
Maria das Graças Carvalho1 Luci Maria Sant’Ana Dusse1
RESUMO: O diagnóstico precoce de demência permite identificar as formas tratáveis, bem como prevenir e minimizar os efeitos da doença. Uma associação
entre demência e deficiência de vitamina B12, que resulta em hiperhomocisteinemia, tem sido sugerida na literatura. Vários pesquisadores relataram uma
melhor recuperação da função cognitiva nos casos em que a suplementação de vitamina B12 foi feita em pacientes com o diagnóstico inicial de demência.
Entretanto, algumas questões sobre os efeitos neurotóxicos da homocisteína ainda precisam ser comprovados. Não há dados suficientes para comprovar a
correlação entre suplementação de vitamina B12 e a melhora da função cognitiva em pacientes com demência e níveis plasmáticos reduzidos dessa vitamina.
Estudos clínicos aleatórios bem definidos com relação à faixa etária dos pacientes, grau de demência, tempo de manifestação dos sintomas, história de doen-
ça vascular, bem como o ponto de corte da homocisteína são necessários para elucidar a relação causa/efeito entre hiperhomocisteinemia e demência.
PAlAVRAS-ChAVE: Síndromes demenciais. Doença de Alzheimer. homocisteína. Vitaminas do complexo B.
INTRODUÇÃO
O envelhecimento da população mundial é um fenômeno
crescente com implicações diretas nos sistemas de saúde pú-
blica. As primeiras mudanças observadas no envelhecimento
normal manifestam-se como déficits leves na memória imediata.
As síndromes demenciais são morbidades geralmente degene-
rativas e progressivas que implicam grandes transtornos men-
tal, físico e psicológico. São adquiridas e cursam com declínio
de memória juntamente com outro déficit em domínio cognitivo
como linguagem, visuoespacial ou executivo, suficiente para in-
terferir socialmente com o indivíduo (NITRINI et al., 2005).
As síndromes demenciais atingiram proporções epidêmi-
cas, com um valor estimado de 4,6 milhões de novos casos
no mundo em cada ano. Dentre essas, a doença de Alzheimer
(DA) e a isquemia cerebrovascular são as mais importantes. Es-
sas síndromes estão associadas à aterosclerose, anormalidade
microvascular cerebral e hipertensão arterial, sendo frequente
encontrar pacientes que apresentam DA e doença vascular
(CARAMELLI & BARBOSA, 2002).
Embora fortemente relacionadas à idade, as síndromes de-
menciais não são uma parte inevitável do envelhecimento, mas
constituem uma doença provocada pela exposição a vários fato-
res de risco não genéticos, dentre esse, a idade e a elevação das
concentrações plasmáticas de homocisteína (SMITH, 2008).
O diagnóstico precoce da demência é importante, pois
ele permite a identificação das formas tratáveis, bem como
prevenir e minimizar os efeitos da doença nos pacientes e
em seus familiares (FRIDMAN et al., 2004). Os exames labo-
ratoriais obrigatórios na investigação etiológica de uma sín-
drome demencial incluem o hemograma, as provas de fun-
ção tireoidiana, hepática, renal, as reações sorológicas para
sífilis, para HIV e a dosagem de vitamina B12 (CARAMELLI &
BARBOSA, 2002; APRAHAMIAN et al., 2009).
HOMOCISTEíNA
A homocisteína é sintetizada a partir do metabolismo da
metionina, aminoácido essencial encontrado na carne e deriva-
dos de produtos animais. A metionina é convertida a S-adenosil-
-metionina que é demetilada para formar S-adenosil-homociste-
ína e posteriormente hidrolisada a adenosina e homocisteína
(SCOTT & WEIR, 1988).
O excesso de homocisteína no sangue, que caracteriza a
hiperhomocisteinemia, predispõe a formação de coágulos san-
guíneos e de depósitos de gordura nas paredes dos vasos san-
guíneos, aumentando sua rigidez e dando origem à chamada
aterosclerose (GEBARA & MATIOLI, 2006).
A hiperhomocisteinemia está associada à ativação e
agregação plaquetária, ativação da elastase, aumento do
depósito de cálcio arterial, formação de hidroxicolesterol
altamente aterogênico, degradação de ácidos graxos poli-
-insaturados, formação de lisolectina, modificação aldeídica
dos restos de lisina, alterações nos receptores de lipoprote-
ínas de baixa densidade, aumento na proporção de forma-
ção de placa ateromatosa em grandes artérias, estímulo da
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proliferação de músculo liso vascular, indução da prolifera-
ção de células musculares lisas, aumento da oxidação da
LDL e comprometimento da bioaviabilidade do óxido nítrico
(SESHADRI & WOLF, 2003). Dessa forma, a hiperhomocis-
teinemia aumenta o risco de acidente vascular cerebral, po-
dendo ter um efeito neurotóxico direto que pode causar lesão
cerebral e transtornos neuropsiquiátricos. A homocisteína
apresenta, ainda, um efeito potencializador do risco cardio-
vascular quando associado à hipertensão, ao tabagismo e
ao diabetes mellitus (GEBARA & MATIOLI, 2006).
METABOLISMO DA HOMOCISTEíNA
As vitaminas do complexo B, vitamina B12, B6 e B9 (áci-
do fólico), são essenciais para o metabolismo da homocisteí-
na. Essa pode ser metabolizada pelo ciclo da remetilação ou
pela via da transulfuração.
No ciclo da remetilação, a homocisteína é convertida a
metionina por meio de duas reações distintas. A primeira ocor-
re no fígado, onde parte da homocisteína é remetilada pela
betaína homocisteína metiltransferase, que atua como um do-
ador do grupo metil. A segunda reação de remetilação ocorre
na maioria dos outros tecidos e envolve a transferência do ra-
dical metil do N5 -N10- metiltetraidrofolato (5,10 MTHF) para
a vitamina B12 resultando em metilcobalamina. A enzima me-
tionina sintetase (MS) catalisa a transferência do radical metil
para a homocisteína, formando metionina ou metil-homocis-
teína. Após a transferência do grupo metil, o metiltetraidro-
folato (MTHF) é denominado tetraidrofolato (THF), o qual é
um substrato importante para síntese da base nitrogenada
timina, essencial para a duplicação do DNA que precede a
divisão celular (GUERRA-SHINOHARA et al., 2008).
A metionina é precursora de S-adenosilmetionina (SAM),
doador universal do grupo metil e importante na síntese de
creatina, fosfolipídeos, neurotransmissores, bem como nas rea-
ções de metilação de DNA e RNA (GUERRA-SHINOHARA et al.,
2008; SELHUB & D’ANGELO, 1997).
Quando há deficiência de vitamina B12, a transferência do
radical metil do MTHF não ocorre e, desta forma, não há for-
mação de tetraidrofolato, o que compromete a síntese de DNA
(GUERRA-SHINOHARA et al., 2008).
A vitamina B12 atua também na isomerização do L-me-
tilmalonil-coA em succinil-coA. A L-metilmalonil Coenzima A
mutase converte metilmalonil-coA em succinil-coA. Esta rea-
ção bioquímica possui um papel importante para produção
de energia proveniente de gorduras e proteínas e um dos
produtos, a succinil-coA, é importante também para a síntese
de hemoglobina (GUERRA-SHINOHARA et al., 2008).
Quando a via da remetilação está saturada ou quando há
necessidade de síntese de cisteína, a homocisteína é meta-
bolizada pela via da trans-sulfuração, onde ocorre a conden-
sação irreversível com uma serina, pela cistationina ⁰ sintase
(CβS), formando cistationina. A vitamina B6 é um co-fator
essencial para esta reação. A cistationina é, posteriormente,
convertida em cisteína que é metabolizada para sulfato e ex-
cretada na urina (SELHUB & D’ANGELO, 1997).
O metabolismo da metionina é regulado pela disponibi-
lidade de SAM. Ocorre ativação da enzima CBS na presença
de SAM, que também inibe a metilenotetraidrofolato reduta-
se (MTHFR), que converte 5,10 MTHF em 5-MTHF. O SAM é
dependente da metilação de glicina que remove o excesso
de grupos metil e é inibida por metiltetraidrofolato (GUERRA-
-SHINOHARA et al., 2008).
O SAM é o mais importante doador de grupos metil no
cérebro e a metilação da homocisteína está relacionada à
integridade e manutenção de mielina, síntese e inativação de
neurotransmissores, síntese e metilação de DNA e RNA. A
etiologia de diversas doenças psiquiátricas e neurológicas
está relacionada a distúrbios na sua metilação e o aumento
da concentração de homocisteína no plasma é fator de risco
para tais doenças (OBEID et al., 2007). A carência de vitami-
na B12 é frequentemente acompanhada por desordens neu-
rológicas ou psíquicas que podem preceder o aparecimento
da anemia megaloblástica (LOIKAS et al., 2007).
A vitamina B6, na forma de fosfato de piridoxal, atua
como co-fator no processo de regeneração do ácido N5-me-
tiltetrahidrofolato (GUERRA-SHINOHARA et al., 2008).
A vitamina B9 (ácido fólico ou folato) na forma de N5-
-metil-tetrahidrofolato doa um grupo metil para a formação
de metilcobalamina (GUERRA-SHINOHARA et al., 2008). O
ácido fólico é uma vitamina importante para o crescimento e
divisão celular, bem como para a síntese de DNA e RNA, sen-
do de particular importância durante a infância e gravidez.
A deficiência de ácido fólico está associada ao compro-
metimento do crescimento, anemia, perda de peso, distúrbios
digestivos e comportamentais. Na gestação, esta deficiência é
apontada como uma causa grave de retardo na mielinização do
sistema nervoso do feto (LOVBLAD et al., 1997).
FONTES DE VITAMINAS DO COMPLEXO B
Vitamina B12: as fontes usuais de vitamina B12 são os
produtos de origem animal, carne, leite, ovos, peixe e mariscos,
além de cereais prontos fortificados. A biodisponibilidade de vi-
tamina B12 em seres humanos a partir de ingestão de peixe,
carne de carneiro e frango, é, respectivamente, 42%, 56-89% e
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61 a 66%. A absorção desta vitamina após ingestão de ovos é
reduzida comparando-se com a absorção de outros produtos
de origem animal (WATABE, 2007).
Ácido fólico: vegetais de folhas verdes, frutas, legumes,
frutas cítricas, fígado e grãos integrais, castanhas, feijão e ervi-
lhas e cereais prontos fortificados (WATABE, 2007).
Vitamina B6: frutas não cítricas, carnes de aves de gado,
feijão, aspargo, repolho e alcachofra, banana, castanha, couve,
espinafre, batata-doce, abóbora, fígado, grãos integrais, bróco-
lis, além de outros vegetais cereais prontos fortificados (MC-
CULLY & MCCULLY, 2000).
VITAMINA B12 EM IDOSOS
Pessoas com idade acima de 50 anos frequentemen-
te apresentam comprometimento da absorção de vitamina
B12, sendo necessário que elas consumam principalmente
alimentos fortificados com essa vitamina. A ingestão de ribo-
flavina (vitamina B2), que pode funcionar como um co-fator
da enzima 5,10- metilenotetrahidrofolato redutase (MTHFR),
resulta em redução discreta dos níveis plasmáticos de homo-
cisteína (MCCULLY & MCCULLY, 2000).
A deficiência de vitamina B12 é particularmente comum
nessas pessoas, mas muitas vezes não diagnosticada devi-
do a sua manifestação clínica sutil, embora possa ter con-
sequências graves, especialmente hematológica e neuropsi-
quiátrica (LOIKAS et al., 2007).
Boushey e colaboradores (1995) sugeriram uma dieta
com aumento de 350mg/dia na ingestão de ácido fólico, para
homens, e 280 mg/dia, para mulheres e calcularam que isso
poderia prevenir 30.500 e 19.000 mortes por doença vascular
anualmente em homens e mulheres, respectivamente.
Um complicador na investigação laboratorial dos níveis
de vitamina B12 é que sua concentração plasmática não re-
flete a concentração intracelular. Dessa forma, a determina-
ção do ácido metilmalônico surge como um marcador mais
sensível para detectar a deficiência dessa vitamina. O ácido
metilmalônico é um ácido dicarboxílico proveniente do ácido
propiônico resultante do catabolismo de diversos aminoáci-
dos e ácidos graxos. A vitamina B12 participa da metaboliza-
ção do ácido metilmalônico em ácido succínico. Na deficiên-
cia de vitamina B12, mesmo nas situações em que os níveis
plasmáticos dessa ainda estão dentro da faixa de referência,
há comprometimento da metabolização do ácido metilmalô-
nico, resultando na elevação plasmática desse, o que o tor-
na um marcador mais sensível para determinar deficiência
de vitamina B12. Outras vantagens incluem sua estabilidade
(mais estável que a vitamina B12) e concentração plasmática
(cerca de mil vezes maior que a de vitamina B12) (ERDOGAN
et al., 2010). Assim, a inclusão da determinação do ácido
metilmalônico nos exames de acompanhamento de pessoas
idosas é bem vinda.
HERP (homocisteína-inducible endoplasmic
reticulum stress protein)
Estudo envolvendo uma proteína conhecida como HERP
revelou que essa proteína leva ao aumento da produção de
peptídio beta-amiloide (A²) em cultura de células. A HERP está
presente na região hipocampal e em neurônios corticais, onde
sua expressão é induzida por um estresse do retículo endoplas-
mático. Admite-se que a HERP possui uma função neuropro-
tetora, pois encontra-se elevada em pacientes com DA. Além
disso, a superexpressão dessa protege culturas neuronais de
células contra a morte induzida pelo estresse do retículo endo-
plasmático e A². Acredita-se que a HERP promova a homeosta-
sia da liberação de cálcio pelo retículo endoplasmático, o que
garante a ação neuroprotetora (HO PI et al., 2001).
HIPERHOMOCISTEINEMIA E SíNDROMES DEMENCIAIS
A hiperhomocisteinemia está associada a um maior risco de
ocorrência de trombose venosa e arterial, o que pode ser explica-
do pelo efeito tóxico direto da homocisteína ao endotélio vascular.
A homocisteína também pode levar a lesão arterial por promover
a oxidação do LDL colesterol. O LDL oxidado é reconhecido por
receptores na membrana de macrófagos e, quando isto ocorre na
parede das artérias, há desenvolvimento de células vacuolizadas
repletas de inclusões lipídicas, que corresponde ao primeiro passo
para formação de lesões ateromatosas (PANCHARUNITI,1994).
A hiperhomocisteína está também associada ao maior ris-
co de complicações na gravidez, como pré-eclampsia, abortos
de repetição e placenta prévia, além de malformação fetal (de-
feitos de fechamento do tubo neural, defeitos cardíacos, fendas
palatinas, lábio leporino, etc), baixo peso ao nascer (LOVBLAD
et al., 1997; ALPERIN et al., 1969; BOWER & STANLEY, 1989;
CHANARIN, 1987; KIRKE et al., 1998; LAURENCE, 1992; LIN-
DENBAUM et al., 1988; RAY & LASKIN, 1999).
Diversos estudos vêm sendo realizados visando avaliar a re-
lação da hiperhomocisteinemia e o déficit cognitivo característico
das síndromes demenciais. No entanto, os resultados obtidos são
conflitantes. Cunha et al (1995) investigaram os possíveis efeitos
da reposição de vitamina B12 sobre a função cognitiva de pacien-
tes com demência leve manifestada a menos de dois anos. Foi
avaliado um total de 181 pacientes, sendo que apenas 46 apre-
sentavam deficiência de B12. O tratamento com B12 resultou na
melhora da função cognitiva de apenas três pacientes.
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Clarke et al (1998) examinaram 164 pacientes com doença
de Alzheimer (DA), com confirmação histológica em 76 deles, e
encontraram que os níveis plasmáticos de homocisteína foram
significativamente mais elevados, enquanto os de ácido fólico
e de vitamina B12 foram menores nos pacientes com confir-
mação histológica DA em relação aos indivíduos controles.
Foi observado que níveis plasmáticos de homocisteína acima
11.1mmol/L foram associados com a progressão mais rápida
da DA, avaliada pela diminuição do tamanho do lobo temporal.
Um estudo conduzido no Reino Unido, considerando o
ponto de corte de homocisteína 14.5mmol/L, também reve-
lou associação entre o aumento de homocisteína, bem como
redução de vitamina B12 e aumento do risco de declínio cog-
nitivo (CLARKE et al., 2007).
Smith (2008) avaliou setenta e sete estudos transversais
com mais de 34.000 indivíduos e 33 estudos prospectivos com
mais de 12.000 indivíduos e todos demonstraram uma associa-
ção entre o déficit cognitivo e concentrações elevadas de ho-
mocisteína, ou deficiências de vitaminas do complexo B.
No entanto, outros estudos não têm encontrado esta associa-
ção. Locascio et al., (2008) em um estudo coorte envolvendo 122
pacientes com diagnóstico de DA não encontraram relação entre
níveis elevados de homocisteína e declínio cognitivo. Resultados
similares foram obtidos por Regan e colaboradores (2006).
Um estudo, realizado nos Estados Unidos, considerando o
ponto de corte de homocisteína plasmática de 11.5mmol/L, não
obteve associação do declínio cognitivo e elevação de homo-
cisteína (Tangney et al., 2009).
Recentemente, Oulhaj et al. (2010) concluíram um estudo
no qual foi analisado o declínio cognitivo global de 97 pacientes
com DA, a cada seis meses, num período de 1,5 a 9,5 anos.
Concluíram que quanto mais alto os níveis de homocisteína,
mais rápido foi o declínio cognitivo, especialmente para os pa-
cientes com idade menor que 75 anos e que não apresentavam
história de doença vascular.
Vários fatores devem ser levados em conta ao comparar os
estudos encontrados na literatura que buscam a associação de
déficit cognitivo e hiperhomcisteinemia, como a faixa etária dos
pacientes avaliados e o ponto de corte da homocisteína, bem
como o grau de demência dos pacientes, o tempo de manifes-
tação dos sintomas e a história de doença vascular.
A constatação que na DA há uma redução significativa de
sulfeto de hidrogênio (H2S), um neuromodulador que produz uma
resposta para excitação neuronal, reforçou a relação da homocis-
teína e essa doença. A síntese de H2S no cérebro depende da
enzima cistationina b sintase (CBS), envolvida também em um dos
caminhos metabólicos da homocisteína (DWYER et al., 2004).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diversos autores sugerem a lesão vascular provocada
pela hiperhomocisteinemia. Entretanto algumas questões
sobre os efeitos neurotóxicos da homocisteína ainda preci-
sam ser comprovados. Vários autores relataram uma melhor
recuperação da função cognitiva nos casos em que a suple-
mentação de vitamina B12 foi feita em pacientes com o diag-
nóstico inicial da DA. No entanto, não há ainda dados su-
ficientes para comprovar a correlação entre suplementação
de vitamina B12 e a melhora da função cognitiva em pessoas
com demência e níveis plasmáticos reduzidos dessa vitami-
na. Estudos clínicos aleatórios bem definidos com relação à
faixa etária dos pacientes, o grau de demência, o tempo de
manifestação dos sintomas, a história de doença vascular,
bem como o ponto de corte da homocisteína são necessá-
rios para elucidar a relação causa/efeito entre hiperhomocis-
teinemia e síndromes demenciais.
AGRADECIMENTOS
CNPq e FAPEMIG.
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NOTAS DE FIM1 Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas – Faculdade de Farmácia/ UFMG
2 Faculdade de Farmácia – Centro Universitário Newton Paiva
Gisele Santos Gonçalves – PhD: Professora Adjunta do curso de Far-mácia do Centro Universitário Newton Paiva. E-mail: [email protected]
Flávia Batista Pinto Coelho – Farmacêutica: Graduada em Farmácia pela Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: email: [email protected]
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Josianne Nicácio Silveira – PhD: Professora Adjunta do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Universidade da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected]
Maria das Graças Carvalho – PhD: Professora Titular do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Universidade da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected]
Luci Maria Sant’Ana Dusse – PhD: Professora Associada do Departa-mento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Universidade da Facul-dade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected], [email protected]
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 87
atiViDaDe eDuCatiVa soBre a gripe em um Centro De saÚDe em BeLo Horizonte
Adelson Mizerani Siqueira1
Juliana Cioletti1
Marina Botelho Silqueira1
Wendel Amaral1
Paula Chiesa Guimarães1
Wesley Peixoto Freitas1
Renata Freitas Maletta2
RESUMO: A promoção da saúde possui como finalidade a melhoria da qualidade de vida e da saúde da comunidade, por meio de ações voltadas ao seu
bem-estar e o farmacêutico possui um importante papel dentro deste tema. O trabalho desenvolvido teve como objetivo conscientizar um grupo de idosos,
usuários do Centro de Saúde Santa Amélia, sobre a campanha de vacinação contra a gripe e sanar as principais dúvidas sobre a doença. Para isso, foi realiza-
da uma oficina educativa por meio de um jogo de perguntas e respostas sobre a gripe. Pode-se perceber que, apesar das dificuldades encontradas ao realizar
o trabalho educativo, muitos idosos participaram ativamente da atividade por meio da troca de saberes com os estudantes.
PAlAVRAS-ChAVE: Promoção à saúde. Jogos educativos. Gripe.
INTRODUÇÃO
Por definição, promoção da saúde é o nome dado ao pro-
cesso de capacitação da comunidade para atuar na melhoria
de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior partici-
pação no controle deste processo. Esse termo refere-se ao em-
prego de ações voltadas ao bem-estar, a melhoria da qualidade
de vida e das condições a ela associadas e, não especifica-
mente, à prevenção de doenças, tendo assim uma abrangência
holística (BRASIL, 2002).
Considerando a tendência atual de caracterização da prá-
tica farmacêutica voltada fundamentalmente ao bem-estar do
paciente, Vieira (2007) considera que o farmacêutico assume
papel fundamental quando soma seus esforços aos dos outros
profissionais e aos da comunidade para a promoção da saú-
de. Nesse sentido, segundo a mesma autora, esse profissional
pode trabalhar incentivando ações com o desenvolvimento das
habilidades da comunidade. Dessa forma, o farmacêutico pode
trabalhar para que a comunidade seja orientada sobre como
proceder em relação ao uso de medicamentos e conheça as
doenças mais prevalentes em seu meio, bem como as manei-
ras para preveni-las ou minimizar suas complicações.
Uma das doenças mais prevalentes durante as estações
do outono e inverno, é a gripe, uma infecção viral aguda do trato
respiratório cujas principais complicações são as pneumonias.
A doença inicia-se com febre alta, mialgia, dor de garganta, ce-
faléia e tosse improdutiva. Em regra, no plano clínico, tem uma
evolução favorável para a cura em poucos dias, habitualmente
em menos de uma semana. A patogênese da gripe envolve um
conjunto de fatores: uns relacionados com a infectividade do
próprio vírus, outros com o estado imunitário dos doentes, ou
com eventuais co-infecções ou, ainda, com as respostas do
hospedeiro (BRASIL, 2012).
A gripe segue sendo um importante problema de saúde
pública, como consequência das altas taxas de mor-
bidade que produz durante as epidemias anuais e a
presença de complicações e mortalidades em grupos
específicos da população. O aumento das taxas de
consulta e hospitalização, junto com o elevado núme-
ro de dias de trabalho perdidos por causa da doença,
gera custos elevados diretamente ou indiretamente a
população. Mas o que causa preocupação, dada a ele-
vada capacidade de propagação do agente etiológico
da doença, é a possibilidade sempre grande da gera-
ção de uma pandemia (MATEO, 2003).
Com o aumento na quantidade de idosos na população
brasileira, cresce o número de indivíduos que atingem faixas
etárias de risco para doenças crônicas, pois, cerca de oiten-
ta por cento dos idosos apresentam alguma dessas doenças.
Nesse grupo, medidas preventivas e de proteção específicas
devem ser priorizadas, devido à significativa e crescente de-
manda por serviços ambulatoriais, hospitalares e de reabilita-
ção (BARROS et. al, 2006).
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Entre as várias alterações fisiológicas associadas ao pro-
cesso de envelhecimento, destacam-se aquelas referentes ao
sistema imunitário dos idosos, à sua suscetibilidade e vulnerabi-
lidade às infecções comparados a outras faixas etárias. Sendo
assim, os idosos são menos capazes de responder fisiológica e
imunologicamente aos microorganismos invasores. Nos últimos
vinte anos, o número e a taxa de internação por infecções respi-
ratórias agudas aumentaram de forma constante entre idosos.
A influenza e a pneumonia estão entre as principais causas de
morbi-mortalidade nesse grupo etário (BARROS et al, 2006).
Considerando a crescente demanda por medidas para re-
duzir as complicações decorrentes dessas infecções, a vaci-
nação contra a gripe surgiu como uma estratégia nacional de
impacto na redução da morbi-mortalidade por doenças respira-
tórias entre os idosos (BARROS et. al, 2006).
Com o intuito de contribuir para o desenvolvimento de ha-
bilidades da comunidade no que se refere ao tratamento e pre-
venção da gripe e incentivar a prática da vacinação comunitária
contra a doença, os alunos do curso de Farmácia do Centro
Universitário Newton Paiva realizaram um projeto de promoção
da saúde voltado às pessoas da terceira idade em um Centro
de Saúde em Belo Horizonte.
DESENVOLVIMENTO
A atividade educativa foi realizada com um grupo de ido-
sos que frequentam o Centro de Saúde Santa Amélia, em
Belo Horizonte.
A oficina realizada teve a participação de 18 pessoas e a
duração de 25 minutos. Foi utilizado o salão de uma igreja pró-
xima ao centro de saúde, local onde o grupo costuma realizar
os seus encontros mensalmente. Os integrantes tiveram uma
boa participação, já que responderam às perguntas e expres-
saram suas opiniões e conhecimentos.
O tema trabalhado com os participantes foi sugerido pela
enfermeira coordenadora. Lembrando que nessas palestras já
foram abordados diversos temas, como: alergia, dor na coluna,
dengue, diabetes e hipertensão. Assim, a coordenadora propôs
o tema diante da proximidade com o período da campanha de
vacinação contra a gripe.
Ela, também informou o perfil do grupo, que existe há 8
anos, visando facilitar a dinâmica de atividades. Assim, desco-
briu-se que o grupo era composto por 30 participantes, a maio-
ria acima dos 55 anos, que possuem doenças como a hiperten-
são ou a diabetes e muitos são analfabetos.
Outro ponto levantado pela coordenadora foi o acompa-
nhamento médico que o grupo possui. São realizados sempre
medidas de glicemia e pressão, nos encontros mensais, que
acontecem na Igreja Batista da Pampulha (Av. Portugal, 637). O
grupo não possui paciente somente da UBS Santa Amélia e são
apresentados a cada mês uma palestra diferente.
Torres, Hortale e Schall (2003) consideram que o trabalho
em grupos pode ser enriquecido com o uso de jogos educa-
tivos, uma vez que favorecem o conhecimento e intensificam
as diversas trocas de saberes. Diante disso, foi elaborado um
jogo com perguntas e respostas, com linguagem compreen-
sível e simples, adequada a realidade dos participantes. Esse
trabalho teve como objetivo entender sobre a gripe, sua causa,
sintomas, tratamento, esclarecer os mitos sobre a doença e es-
timular a participação na campanha de vacinação, que iniciou
em cinco de maio de 2012. Foram utilizadas figuras ilustrativas
que estavam dentro de um saco plástico para que fossem reti-
radas pelos presentes de forma aleatória. Toda vez que um par-
ticipante retirava uma figura era feita uma pergunta relacionada
à imagem para que o grupo pudesse responder. Em seguida,
eram feitas as intervenções e explicações necessárias. Para a
elaboração do jogo foram realizadas as seguintes perguntas:
“Os idosos podem “pegar” gripe mais facilmente?”, “Existem
remédios que servem para curar a gripe?”, “Comer bem ajuda
a evitar a gripe ?”, “O estresse pode causar gripe ?”, “Quais são
os sintomas da gripe ?”, ”Por que é importante vacinar contra a
gripe?”,“Sair na chuva, no frio ou andar descalço podem ajudar
a “pegar gripe”?”, “Quem deve ser vacinado contra a gripe?”, “A
vacina contra a gripe pode causar a doença?”, “Como eu pos-
so “pegar” gripe?”, “Em que situações a vacina não deve ser
aplicada?”, “Qual a melhor época do ano para vacinar contra a
gripe?”, “Por quanto tempo dura a proteção da vacina contra a
gripe?”, “A vacina contra gripe também protege contra a gripe
suína?”e” Existem diferenças entre gripe e resfriado?”. Assim,
buscou-se resgatar os conhecimentos prévios dos participan-
tes e o diálogo com os coordenadores.
Para auxiliar na visualização das figuras foi utilizado recurso
áudio-visual. Ao final da atividade exibiu-se o vídeo promocional
do Ministério da Saúde sobre a campanha de vacinação do ano
de 2012 e oferecido um lanche para o grupo.
A atividade permitiu aos idosos um contato com um tema
diferente dos que são tratados nas reuniões. Além disso, a
atividade possibilitou falar sobre a doença, ensinar, escla-
recer e solucionar dúvidas, o que demonstra a importância
da abertura ao diálogo nas ações educativas. A educação
em saúde pode promover tanto um aprendizado prático que
contribui para tornar as pessoas mais preparadas para lidar
com certos acontecimentos e situações que fazem parte da
vida, quanto na pré-disposição como elas se relacionam com
a melhoria de sua saúde.
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 89
A troca de saberes enriqueceu o trabalho e permitiu mo-
mentos de interação, demonstrando que, por várias vezes, o
profissional de saúde se esquece de levar em consideração o
conhecimento que as pessoas adquirem ao longo do tempo.
Conhecimento esse que, em alguns casos, não tem embasa-
mento científico, mas na prática se mostram efetivos para as
pessoas, o que pode ser ilustrado pelos relatos: “(...) Tomar
mingau de fubá com bastante alho é tiro e queda para acabar
com a gripe” ou “(...) tomo Tylenol com café e minha dor de
cabeça vai embora na hora!”.
A promoção da saúde leva o indivíduo à construção de um
conhecimento mais verdadeiro em relação aos conhecimentos
científicos, possibilitando que se façam escolhas conscientes
a respeito do tema abordado acabando, por exemplo, com a
resistência em se vacinar contra a gripe.
LIMITAÇÕES DO TRABALHO
A atividade, inicialmente programada para ser realizada em
40 minutos, foi apresentada utilizando a metade do tempo pro-
posto, devido à solicitação da enfermeira coordenadora durante a
apresentação. Sendo assim, não foram abordadas todas as per-
guntas elaboradas. Logo, o tema não foi abordado de forma com-
pleta, mas as questões discutidas tiveram uma boa participação e
entendimento do grupo.
Além dessa limitação, houve ainda um problema com o equi-
pamento de audiovisual que, por algumas vezes, não mostrou de-
vidamente as figuras. Entretanto, esse problema foi contornado já
que os estudantes conseguiram explicar as perguntas. Diante dis-
so, foi necessário mudar a forma de apresentação, de maneira a
não prejudicar o entendimento dos usuários da unidade de saúde
em relação ao tema proposto.
Esses ocorridos realmente prejudicaram o andamento da
apresentação, causando inicialmente uma tensão nos apre-
sentadores, porém, eles souberam contornar as dificuldades
apresentadas acima. Assim, essas limitações contribuíram
para o desenvolvimento da capacidade de improviso dian-
te de imprevistos, o que é extremamente importante para o
amadurecimento e a formação de um bom profissional. Além
disso, tal situação acabou por estimular os estudantes a re-
alizarem a atividade novamente, porém com outro público
alvo, a fim de aprimorar a proposta de trabalho original.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após essas reflexões, compreendeu-se que o trabalho
educativo não é uma tarefa simples, sobretudo na saúde,
pois, não se limita à transmissão de informações aos usuá-
rios em relação ao cuidado de si, ao contrário, é uma prática
compartilhada, de troca de saberes, a ser desenvolvida no
trabalho relacionado com a saúde.
Torna-se necessário promover uma prática educativa que
visa à participação ativa dos pacientes das unidades básicas de
saúde, auxiliando-os de acordo com suas necessidades, seus sa-
beres e crenças. Essa troca torna o trabalho dinâmico e bastante
produtivo, alcançando o objetivo esperado.
Ainda com relação a essa troca de saberes, pode-se perceber
que quando o profissional de saúde envolve o paciente no proces-
so educativo, este se torna mais eficaz, pois, faz com que o esse
mesmo paciente deixe de ser um simples expectador e o trans-
forma em um construtor de conhecimento. Assim, esse indivíduo,
sentindo-se mais incluído no processo de aprendizagem, passa a
ter mais atenção ao conteúdo abordado, consequentemente as
informações são mais facilmente fixadas na mente dele.
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NOTAS DE FIM1 Alunos do 6º período do Curso de Farmácia do Centro Universitário Newton Paiva
2 Orientadora. Professora do Curso de Farmácia do Centro Universitário Newton Paiva
90 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785
sÍnDrome De DoWn: CaraCterÍstiCas BuCaisPaola Alves Farneze1Lucas Costa Lopes1
Maria Luiza da Mata Felisberto Fernandes2
RESUMO: Tendo em vista a alta prevalência da Síndrome de Down e a predisposição genética destes pacientes a apresentarem alterações bucais relevantes
para a sua qualidade de vida, este estudo tem como objetivo fazer uma revisão da literatura sobre as características bucais presentes na síndrome de Down.
Foram observadas na literatura as seguintes alterações: macroglossia, língua protusa, língua fissurada, hipertrofia papilar, palato ogival, alterações morfológi-
cas crânio-faciais, achatamento do osso occipital e do osso nasal, má-oclusão dental, manchas dentárias, lesões cariosas e candidíase bucal.
Comumente, encontra-se casos de doença periodontal e baixa prevalência de cárie nesses pacientes. A expectativa de vida deles tem aumentado graças à
melhora do atendimento à saúde. Reconhecer as características bucais comuns nesta Síndrome pode ajudar o cirurgião dentista a manter a saúde bucal destes
pacientes, implementando ações específicas às características encontradas.
PAlAVRAS-ChAVE: Manifestações bucais. Síndrome de Down. Má-oclusão.
INTRODUÇÃO
A Síndrome de Down, também conhecida como trissomia
do cromossomo 21, é uma alteração genética na qual os indi-
víduos afetados carregam um cromossomo 21 extra (MORAES
et al. 2007). Sua incidência é de aproximadamente um caso em
cada 600 a 700 nascidos vivos, sendo maior o índice em mães
com idade superior a 30 anos (CAMERA et al. 2011).
Apesar da expectativa de vida desses pacientes variar de 35 a
40 anos de vida, Carvalho et al. (2010), observaram que 80% dos
adultos vivem 55 anos de idade ou mais. Pacientes com Síndrome
de Down são considerados na odontologia pacientes especiais e
necessitam de um atendimento diferenciado (CAMERA et al. 2011).
A deficiência mental é uma das características mais pre-
sentes no desenvolvimento de uma criança com Síndrome de
Down, o que pode provavelmente ser justificado por um atraso
global no desenvolvimento, variando de criança para criança,
em virtude da deficiência mental pode haver um atraso no de-
senvolvimento da fala (HENN et al., 2008).
Segundo Ribeiro et al. (2011), crianças com Síndrome de
Down possuem alterações anátomo-fisiológicas da cavidade
bucal, macroglossia, estagnação da saliva devido à incompe-
tência muscular da boca, dificuldade motora, doenças respira-
tórias constantes, imunodeficiência e , também como fatores
adicionais, susceptibilidade a doenças fúngicas.
A literatura que trata das condições bucais de pacientes
com Síndrome de Down é ampla e por vezes contraditória. Este
estudo contribui na importante função de rever as pesquisas
constantemente, para se ter um diagnóstico crítico, favorecen-
do a tomada de decisões na clínica odontológica quando do
atendimento e acompanhamento desses pacientes.
Em função da variabilidade das estruturas afetadas, o por-
tador da Síndrome de Down requer tratamento especializado
e multidisciplinar. O reconhecimento clínico das alterações bu-
cais provenientes da Síndrome e a intervenção precoce pelo
cirurgião dentista, permite um melhor prognóstico na evolução
e na consequência das más-formações, assim como uma me-
lhora nas condições de vida (CARVALHO et al., 2010).
O objetivo deste estudo foi identificar, através da literatura atu-
al, as características bucais de pacientes com Síndrome de Down.
MéTODO
Realizou-se uma revisão da literatura dos últimos dez
anos baseada em artigos científicos indexados nos bancos
de dados Lilacs, BBO, Pubmed, Medline, Bireme, Scielo e
Biblioteca Cochrane.
A busca da literatura foi realizada nos idiomas inglês,
português e espanhol com os seguintes descritores: Síndro-
me de Down, Down syndrome, manifestações bucais, mani-
festaciones bucales, oral manifestacions, má-oclusão, malo-
clusión, malocclusion.
Como critério de inclusão utilizou-se artigos que descre-
viam manifestações bucais clínicas da Síndrome de Down
e em populações humanas de qualquer idade. Os critérios
de exclusão foram: estudos de aspectos genéticos, ultra-
-estruturais e estudos em animais, ou estudos que não se
relacionavam à Sindrome de Down.
RESULTADOS/DISCUSSÃO
Dezesseis publicações foram selecionadas para este estu-
do seguindo-se os critérios de inclusão e exclusão.
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 91
A Síndrome de Down é uma das alterações genéticas mais
frequentemente encontrada. Sua incidência é de aproximada-
mente um caso em cada 600 a 700 nascimentos com vida.
A literatura que trata das condições bucais de pacientes com
Síndrome de Down (SD) é ampla e aborda duas vertentes: os as-
pectos morfológicos e a prevalência de doenças bucais (HENN et
al., 2008; CARVALHO et al., 2010; CAMERA et al. 2011).
As anomalias craniofaciais apresentadas são macroglos-
sia, língua protusa, língua fissurada, hipertrofia papilar, palato
ogival, achatamento do osso occipital e do perfil facial e nasal,
má-oclusão dental, manchas dentárias, lesões cariosas e can-
didíase bucal (BERTHOLD et al., 2004).
Os dentes destes pacientes apresentam mineralização
completa e, apesar de manter certa similaridade na sequência
e simetria, apresentam variação no padrão de erupção. É alta
a prevalência de doença periodontal, principalmente em adul-
tos, e baixa incidência de cárie em pacientes com Síndrome de
Down (MORAES et al., 2007, DEMICHERI et al., 2011).
A macroglossia, que tem origem congênita, se dá por um
crescimento excessivo da musculatura. Está diretamente re-
lacionado com a condição do paciente ser respirador bucal,
podendo causar o deslocamento dos dentes e má-oclusão,
conduzindo à protrusão e abertura bucal como mecanismos
compensatórios (CARVALHO et al., 2010).
Santangelo et al. (2008) afirmaram que esta macroglos-
sia é relativa ao pequeno espaço encontrado para o posicio-
namento da língua.
A macroglossia e hipotonicidade da língua têm como conse-
quência irritação e fissuras no canto da boca (queilite angular) já
que os lábios apresentam-se frequentemente banhados por saliva
facilitando a instalação de microrganismos como Cândida albi-
cans (SANTANGELO et al., 2008; CARVALHO et al., 2010).
Outra má-formação comum é a língua fissurada. Caracteriza-
-se como ranhuras na superfície dorsal que se irradiam do sulco
central da língua. Estas são geralmente indolores, contudo, apre-
sentam sintomatologia dolorosa quando restos alimentares se
acumulam produzindo irritação (SANTANGELO et al., 2008).
Crianças portadoras da Síndrome de Down apresentam um
atraso na erupção dentária, tanto na dentição decídua quan-
to na dentição permanente, se comparadas com crianças não
portadoras dessa síndrome (BERTHOLD et al. 2004).
Fraga (2011) afirmou que a dentição decídua em indivíduos
com SD se completa entre os três e quatro anos de idade e os
incisivos laterais permanentes superiores e inferiores apresen-
taram erupção atrasada. A sequência de erupção também se
encontra alterada, além da presença de agenesia, microdontia
e anormalidades nas formas dos dentes.
Moraes et al. (2007) estudaram a incidência de anomalias
dentárias em indivíduos brasileiros portadores de SD. O estudo
analisou 49 radiografias panorâmicas de indivíduos portadores
da Síndrome com idade entre três e 33 anos. As características
radiográficas das anomalias dentárias foram observadas tan-
to nos dentes decíduos quanto permanentes de acordo com a
Classificação Internacional de Doenças (CID).
Os autores encontraram alta incidência de anomalias den-
tárias nos portadores dessa Síndrome (95,92%), assim como
a presença de mais de um tipo de anomalia em um mesmo
indivíduo (40,81% apenas um tipo de anomalia; 42,85% dois
tipos; 8,16% três tipos e 4,08% quatro tipos de anomalias
associadas). Dentre elas: taurodontismo (85,71%), anodon-
tia comprovada (34,69%), suspeita de anodontia (18,36%) e
dentes cônicos (14,28%). Estes achados concordam com os
achados de Moraes et al.(2004) e Leonelli et al. (2007).
No que diz respeito à má-oclusão, Berthold et al. (2004),
observaram, em pacientes portadores da Síndrome de Down,
uma maior prevalência de mordida aberta anterior, mordida
cruzada posterior e mordida cruzada anterior (que é uma re-
lação lábiolingual anormal entre um ou mais dentes incisivos
superiores e inferiores). Ocorrendo assim um trespasse hori-
zontal negativo e a classe III de Angle (22%). Também obser-
varam uma maior frequência de giroversões e apinhamentos
nesses pacientes.
Considerando-se as doenças bucais, a literatura é rica
nos aspectos relacionados à doença periodontal, susceptibi-
lidade e prevalência da doença cárie, fluxo salivar, pH e ca-
pacidade tampão da saliva e propensão ao desenvolvimento
de candidíase bucal.
Tratando-se da doença periodontal na Síndrome de
Down, a prevalência é de 30% a 40%, sendo que em indiví-
duos próximos aos trinta anos esta porcentagem sobe para
cerca de 100% (CAVALCANTE et al., 2009).
Segundo Berthold et al. (2010), os incisivos inferiores são
os primeiros a serem afetados, e em pacientes jovens a primeira
indicação da presença da doença periodontal é uma gengivite
severa, podendo ser observadas ulcerações e necrose da pa-
pila interdental e margem gengival. Nos pacientes mais velhos
ocorre uma perda grave de osso alveolar, mobilidade dentária,
e cálculo supra e subgengival (BERTHOLD et al., 2010).
Está comprovada que a doença periodontal é causada
por fatores etiológicos locais, especialmente a placa bac-
teriana, mas alguns tipos de doenças e de distúrbios sistê-
micos podem reduzir ou alterar a resistência ou a resposta
do hospedeiro e, então, predispor a alterações periodontais
(CAVALCANTE et al., 2009).
92 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785
As alterações presentes em pacientes com Síndrome de
Down que aumentam as chances de desenvolvimento da doença
periodontal são: pouca higiene bucal, que determina a gravidade
da lesão, gengiva com pobre potencial de cicatrização, fatores die-
téticos, anomalias bucofaciais, interferência na erupção dentária,
morfologia dentária alterada e má-oclusão. Existem ainda alguns
autores que concluíram que o aumento da susceptibilidade à do-
ença periodontal nestes pacientes está associada à diminuição da
resistência a infecções bacterianas e maior incidência de infecção
nos tecidos periodontais (BERTHOLD et al., 2004).
Sabe-se que os indivíduos com Síndrome de Down apre-
sentam alterações no sistema imune, gerando diminuição da
quimiotaxia e fagocitose realizada pelos neutrófilos e monóci-
tos. Essa quimiotaxia deficiente dos neutrófilos foi correlaciona-
da à maior perda de osso alveolar, juntamente com o número
reduzido de linfócitos T maduros que esses indivíduos apresen-
tam. Tais características podem contribuir para a progressão
da doença periodontal nos portadores de Síndrome de Down
quando comparados com indivíduos normais (OLIVEIRA, 2007).
Quanto à susceptibilidade e prevalência da doença cárie, al-
guns estudos relatam indicadores de cárie semelhantes ou menores
nesse grupo de indivíduos em comparação com grupos não aco-
metidos pela SD e grupos com outras deficiências. Esse fato acon-
tece provavelmente pelo aumento da capacidade tampão da saliva
e também pela tendência desses indivíduos apresentarem o hábito
de bruxismo. Nesse caso as superfícies oclusas suscetíveis à cárie
são frequentemente lisas e desgastadas pelo ranger dos dentes.
Alguns autores relatam ainda que a baixa prevalência de
cárie nesses indivíduos pode estar relacionada com o atraso
na erupção dos dentes e ao alto número de diastemas exis-
tentes, o que reduziria de modo considerável a prevalência
de lesões de cáries proximais (OLIVEIRA, 2007).
Carvalho et al. (2010), discutiram que apesar de algumas
características químicas e estruturais favorecerem a incidên-
cia de cárie em pacientes com síndrome de Down, a doença
não ocorre, uma vez que o fluxo salivar e a macroglossia fa-
voreceriam a autolimpeza bucal.
Em contrapartida, observa-se estudos que discorrem a
respeito da associação da doença cárie e Síndrome de Down.
Alguns fatores locais determinantes da doença cárie, como hi-
giene bucal precária e dieta cariogênica, muitas vezes se sobre-
põem aos “fatores de proteção”; o que levaria a maior prevalên-
cia de cárie em indivíduos portadores de Síndrome de Down.
Esses fatores podem se somar à alta frequência com que
estes pacientes fazem uso de medicamentos adoçados indica-
dos para sinusites, otites, amigdalites e outras infecções respi-
ratórias comuns a essa população (CARVALHO et al., 2010).
Estudando-se as características salivares de pacientes com
SD com relação ao fluxo e pH, Ensslin et al. (2009) não encon-
traram qualquer variação da normalidade, contudo a capacidade
tampão da saliva foi comprometida. Os autores realizaram estudo
transversal comparativo com uma amostra de 15 indivíduos de
ambos os gêneros e idades variadas (entre 18 e 41 anos). Sete
eram pacientes institucionalizados na Associação de Pais e Ami-
gos Excepcionais (APAE) e Associação de Familiares Amigos do
Down (AFAD), portadores de Síndrome de Down. Oito eram pa-
cientes não portadores de SD, escolhidos aleatoriamente.
Os autores coletaram amostras de saliva não estimuladas,
pelo método de drenagem. Concluíram que os parâmetros sali-
vares, fluxo e pH dos portadores de SD não apresentaram alte-
rações dos seus valores quando comparados ao grupo contro-
le. Porém, a capacidade tampão da saliva desses indivíduos foi
menos eficiente quando comparada à saliva dos indivíduos não
portadores da Síndrome.
Areias et al. (2011) estudou o efeito da composição da saliva
na prevalência da cárie dentária em crianças com Síndrome de
Down. Considerou como população alvo um grupo de crianças
com Síndrome de Down com idade entre seis e dezoito anos e
seus irmãos. A amostra foi feita com 45 crianças com trissomia
do 21 e 45 irmãos não portadores da trissomia do 21. Encontrou
32 % de prevalência total da cárie. As crianças com a trissomia do
21 tiveram menor prevalência de carie (22%) do que seus irmãos
(42%). Não houve diferença significativa no que dizia respeito à
concentração iônica da saliva dos dois grupos.
A candidíase bucal é uma infecção fúngica que afeta os hu-
manos durante toda a sua vida (RIBEIRO et al. 2011). O funcio-
namento adequado do sistema imunológico humano propicia
comumente uma relação de equilíbrio entre microbiota autócne
e hospedeiro, porém alterações físicas, químicas, iatrogênicas
e mecânicas, que se processam na cavidade bucal, podem fa-
vorecer a ruptura do equilíbrio estabelecido entre o fungo e o
hospedeiro, fazendo com que as infecções por cândida sejam
de origem geralmente endógena (VIEIRA et al., 2005).
Alterações físico-químicas da saliva, variação de pH e da
concentração de sódio, cálcio e íons de bicarbonato, entre outras
substâncias, parecem afetar a sobrevivência da cândida na cavi-
dade bucal, favorecendo a alta concentração de cândida na boca
das crianças com síndrome de Down (RIBEIRO et al. 2011).
Além disso, crianças com Síndrome de Down apresentam com-
prometimento da resposta imunológica inata e adquirida além das
alterações anátomo-fisiológicas bucais, macroglossia, estagnação
salivar decorrente de incompetência muscular da boca, dificulda-
de motora fazendo com que estes fatores adicionais, as tornem
mais susceptíveis a processos infecciosos (VIEIRA et al., 2005).
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 93
Ribeiro et al (2011), verificaram que a cavidade bucal
de crianças com trissomia do cromossomo 21 mostrou alta
taxa de levedos de cândida com prevalência de 87%, o que
correspondeu a 35 das 40 amostras de secreção de saliva
recolhidas de crianças que apresentavam a Síndrome (grupo
teste) contra 12.5% (n=10), de 80 amostras recolhidas de
crianças sem Síndrome de Down do grupo-controle.
CONCLUSÃO
As alterações bucais encontradas em pacientes afetados
pela Síndrome de Down são bem características e facilmente
detectadas.
As anomalias craniofaciais apresentadas foram macro-
glossia, língua protusa, língua fissurada, hipertrofia papilar,
palato ogival, achatamento do osso occipital e do perfil facial
e nasal, má-oclusão dental, manchas dentárias, lesões cario-
sas e candidíase bucal.
A literatura foi unânime no que diz respeito às altas taxa
de levedos de cândida e a alta prevalência de doença pe-
riodontal encontrada em pacientes com síndrome de Down.
No que diz respeito à má-oclusão em pacientes portadores
da Síndrome de Down, uma maior prevalência de mordida
aberta anterior, mordida cruzada posterior e mordida cruza-
da anterior também é de consenso na literatura.
Contudo, a origem da característica de macroglossia foi
divergente na literatura. Alguns autores afirmam que a ma-
croglossia é característica da síndrome, conduzindo à pro-
trusão e abertura bucal como mecanismos compensatórios.
Outros acreditam que esta macroglossia é relativa ao peque-
no espaço encontrado para o posicionamento da língua.
A prevalência da cárie também encontra estudos con-
flitantes. Alguns acreditam que o fluxo salivar aumentado e
presença de diastemas dentais são fatores que reduzem a
prevalência da cárie nos pacientes com Síndrome de Down.
Outros estudos contestam esta afirmação salientando os fa-
tores locais, determinantes da doença cárie, como higiene
bucal precária e dieta cariogênica.
Alguns trabalhos consideram que existe certa similarida-
de na sequência e simetria dentária em pacientes com sín-
drome de Down comparados a indivíduos saudáveis, com
mineralização completa, existindo apenas uma variação no
padrão de erupção. Outros autores afirmam que a agene-
sia, microdontia e anormalidades nas formas dos dentes são
achados frequentes nestes pacientes.
A divergência de conclusões encontradas em diferen-
tes estudos e populações demonstra a necessidade de se
continuar investigando as propriedades da doença. Também
é necessário considerar as características individuais e a na-
tureza multifatorial das alterações bucais para a educação e
manutenção da saúde bucal destes pacientes.
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94 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785
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NOTAS DE FIM1- Alunos do curso de graduação em odontologia do Centro Universi-tário Newton Paiva.
2- Professora do curso de odontologia do Centro Universitário Newton Paiva, mestre em odontopediatria, doutoranda em odontopediatria UFMG.
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 95
CatáLago De ÍnDiCes e inDiCaDores soCioDemográFiCos utiLizaDos em saÚDe
Camila da Penha Marques Braga1
Gabrielle Rios de Oliveira1 Maria Luiza da Matta Felisberto Fernandes2
Veridiana Salles de Oliveira Furtado de Oliveira3
RESUMO: Tendo em vista a importância e a magnitude do problema das desigualdades sociais, suas relações com a saúde, no Brasil e demais países, o
objetivo deste estudo foi rever a literatura médica para a análise e compreensão dos principais índices e indicadores sociodemográficos utilizados em saúde.
A análise da literatura pesquisada permitiu constatar os diferentes tipos de indicadores que podem ser usados de acordo com os objetivos e realidades de
cada pesquisa. Cada indicador socioeconômico em saúde parece revelar algo diferente. Os indicadores são fundamentais para uma melhor compreensão da
situação e subsidiar o processo de tomada de decisões estratégicas dos agentes públicos e privados.
PAlAVRAS-ChAVE: Indicadores sociais. Equidade. Saúde.
1. INTRODUÇÃO
A desigualdade socioeconômica é uma característica mar-
cante do contexto brasileiro, influenciando a situação da saúde e
ocasionando extensas consequências (PELEGRINI et al; 2005).
O Brasil, em relação ao contexto mundial, revela uma situa-
ção peculiar por contrastar a sua posição relativa no ranking do
Produto Interno Bruto (PIB) (13º lugar) com a posição ocupada
no ranking do PIB per capita (64º lugar) e do Índice do Desen-
volvimento Humano (IDH) (63º lugar).
Na classificação sociodemográfica, o Brasil ocupa uma
posição pior que países bem menos desenvolvidos industrial
e economicamente.
No ranking de distribuição de renda das Nações Unidas,
dentre 124 países, o Brasil está na posição 117, com índice
Gini de 59,3.
Não obstante, há muita variação no nível de desigualdade
dentro do Brasil (BRASIL, 2005).
O aumento da desigualdade, em consequência da concentra-
ção de renda, tem sido evidenciado por indicadores econômicos.
Além de estar associada à saúde das pessoas, a desigual-
dade de renda também é a principal explicação para as iniqui-
dades em saúde, quando medida pelo índice de concentração
(WAGSTAFF, 2002).
É importante no desenho das políticas públicas, o conheci-
mento dessas injustiças sociais.
Deve-se ter noção das necessidades dos diferentes gru-
pos populacionais para a formulação dessas políticas, no intui-
to de reduzir as desigualdades existentes no serviço de saúde
(ARAÚJO et al., 2009).
Os estudos que visam mensurar a equidade nas políticas
sociais são imprescindíveis para a construção de um sistema
de saúde resolutivo, adequado às reais necessidades de seu
entorno e capaz de produzir qualidade de vida, de forma cres-
cente, para a população (PELEGRINI et al., 2005).
Assim, o objetivo deste estudo foi rever a literatura médica
para a análise e compreensão dos principais índices e indica-
dores sociodemográficos utilizados em saúde.
2. MéTODO
Estudo descritivo através de revisão da literatura biomédica
entre os anos de 1990 a 2013, utilizando-se as palavras-chave:
Indicadores sociais, saúde, equidade, equity, equidad, social
indicators, indicadores sociales, health, salud. Utilizou-se as
fontes de informação: lilacs, med line, Scielo, biblioteca cochra-
ne e BBO. Utilizou-se a literatura publicada nos idiomas portu-
guês, inglês e espanhol.
3. RESULTADOS/ DISCUSSÃO
Bem-estar social é um fenômeno complexo por se tratar de
um estado subjetivo, podendo variar de pessoa para pessoa.
Ela pode afetar a saúde física e mental dos pacientes interfe-
rindo também no processo de cura e sobrevida das doenças.
A partir da busca da biblioteca virtual em saúde observou-
-se que não há uma revisão sistemática sobre a utilização dos
indicadores sociodemográficos em saúde.
Para se conhecer e compreender os principais índices e
indicadores sociodemográficos utilizados em saúde, foram in-
cluídas 16 referencias. Todas mencionaram a renda per capita
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como o principal indicador social. Esta pode ser definida como
indicador do grau de desenvolvimento econômico de um país
ou região (soma dos salários de toda a população divididos
pelo número de habitantes).
As abordagens predominantes encontradas foram acerca
da renda familiar do chefe de família que pode ser classificada
pelo número de salários mínimos recebidos ou pela renda men-
sal média do indivíduo.
A literatura indica que se trata do indicador que melhor re-
presenta a possibilidade de acesso aos produtos e serviços bá-
sicos para o bem-estar e qualidade de vida.
Vale ressaltar que no Brasil, a renda foi a dimensão que
mais evoluiu nos últimos dez anos. Cinquenta por cento da po-
pulação mais pobre do país experimentou um crescimento pró-
ximo de 52% (NERI et al., 2011).
Observou-se uma sinergia entre os indicadores de educa-
ção e renda. O aumento da escolaridade traduz uma melhor
colocação no mercado de trabalho e por consequência melhor
qualidade de vida (CLELAND et al., 1988).
O indicador de educação é comumente expresso pelas ta-
xas de alfabetização e analfabetismo, reveladas por avaliações
dos estados ou órgãos mundiais, como a Organização da Na-
ções Unidas (ONU) (DOMNICH et al., 2013)
A taxa de alfabetização é considerada a porcentagem
de pessoas com capacidade de ler e escrever na população de
um país. A taxa de analfabetismo é o percentual de pessoas na
população total residente, da mesma faixa etária, em determi-
nado espaço geográfico, no ano considerado, com quinze anos
ou mais, que não podem ler e escrever um simples bilhete, no
idioma próprio.
Observa-se também um grande percentual de publicações
que abordam a escolaridade do chefe de família, através do
tempo de escolaridade formal em anos.
De acordo com o Critério ABA-Abipeme de classificação
econômica, em sua versão mais recente, divulgada em feverei-
ro de 2012, a Associação Brasileira de Estudos Popula-
cionais (Abep) continua atribuindo 8 pontos para o curso supe-
rior completo dentro da dimensão “grau de instrução do chefe
da família”. Desse modo, considerando as diferentes pontua-
ções na composição do cálculo do critério, possuir diploma de
curso superior completo equivale a dispor de duas empregadas
mensalistas (4 pontos) mais duas máquinas de lavar (2 pontos)
e dois aparelhos de freezer (2 pontos). Provavelmente, este cál-
culo tem suas limitações para traduzir a verdadeira categoriza-
ção econômica (BRASIL, 2008).
O ensino superior experimentou larga expansão no Brasil
a partir da segunda metade dos anos 1990, com a oferta de
cursos com formação presencial, e continua a se expandir até
os dias de hoje, com a oferta de cursos de educação à distân-
cia. O que era de acesso difícil e restrito em décadas anteriores,
já não é mais. Em outras palavras, há muito mais pessoas com
diploma de curso superior atualmente. A formação em curso
superior não é remunerada da mesma forma em que foi no
passado. Esse fato, a posse de diploma de curso superior não
é sinônimo de maior poder aquisitivo, também não representa
maior capacidade de consumo e, consequentemente, condi-
ção de formação de uma classe econômica mais elevada como
propõe o Critério Brasil. Ao atribuir oito pontos para o chefe de
família portador de diploma de curso superior no seu cálculo
de classificação econômica, o Critério Brasil comete o equívoco
de supervalorizar a formação em curso de nível superior como
determinante de poder aquisitivo (VIEIRA et al., 2013).
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi menciona-
do em 80% dos artigos estudados. Os valores do IDH variam
de 0 a 1, sendo o valor maior, uma leitura indicativa de melhor
índice e o valor menor, uma indicação de pior.
Este índice tem o objetivo de avaliar o bem-estar de uma
população, não apenas sob o ponto de vista econômico, mas
também sob outras dimensões fundamentais de vida humana,
tais como longevidade, educação e renda. O Brasil, com um
IDH de 0.718, ocupa a posição 84 dentre os 187 países avalia-
dos (LAKATOS et al., 2009).
Considera-se renda a soma (em valores monetários) de
todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada
região, (países, estados ou cidades) durante um período deter-
minado (mês, trimestre, ano).
O Produto Interno Bruto (PIB) foi mencionado em 15% da
literatura avaliada. Existe uma associação entre renda e PIB; a
renda é baseada no Produto Interno Bruto.
Os maiores PIBs do Brasil se encontram no Distrito Fe-
deral e em São Paulo, representando assim um maior núme-
ro de mão de obra local gerando maior riqueza para o estado
(BANDEIRA, 2004).
Tratando-se de concentração de renda, o Índice de Gini é
internacionalmente usado. Pode ser definido como um indica-
dor de desigualdade elaborado a partir das informações refe-
rendes ao rendimento médio, em salários mínimos, dos chefes
de família. Ele compara a proporção do rendimento total auferi-
do por uma parcela da população em relação ao peso relativo
dessa parcela no conjunto da população geral. Consiste em um
número entre 0 e 1, onde 0 corresponde à completa igualdade
de renda (onde todos têm a mesma renda) e 1 corresponde à
completa desigualdade (onde uma pessoa tem toda a renda, e
as demais nada têm).
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 97
Este índice compara os 20% mais pobres com os 20% mais
ricos em locais determinados. É relativamente citado, sendo
abordado por 25% da literatura referida. O coeficiente de Gini
baseia-se na renda domiciliar líquida, que resulta em ser pouco
influenciado pela transferência de renda e ajuste por tamanho
de domicilio (KAWACHI, 2000).
O Índice de Kaplan foi elaborado a partir de observações
da relação de bem-estar psicológico, condições econômicas
como renda e posição social, recebimento de rendas a par-
tir de lucros, aluguéis, investimentos ou o grau de carência
financeiras medidas longitudinalmente, em três diferentes
períodos de tempo.
Baseou-se nas características de distribuição da renda ob-
servadas durante um estudo de coorte de 29 anos, no municí-
pio de Alameda (Califórnia), com 1127 participantes, correspon-
dente a 90% da amostra viva do primeiro estudo. Este índice foi
determinado a partir da correlação do bem-estar com as variá-
veis renda, desemprego e doenças incapacitantes. O bem-
-estar psicológico foi definido em seis sub-categorias: auto
aceitação, objetivo de vida, autonomia, crescimento pessoal,
bom relacionamento interpessoal, capacidade de administrar a
própria vida e os episódios ao seu entorno. Os resultados apon-
taram uma relação de bem-estar psicológico com crescimento
de renda ou renda suficiente para as despesas sem a necessi-
dade de auxílio saúde (MATY et al., 2005).
Mencionado por 10% da revisão da literatura, o índice de
Theil pode ser definido por uma medida estatística da distri-
buição de renda utilizada em grande escala, para mensurar a
desigualdade de renda. Quanto maior o índice de Theil, maior
a concentração de renda na amostra. As principais vantagens
desse índice em relação a outros, que medem a desigualdade
de renda, é sua sensibilidade aos diferenciais de observações,
verificados nas proximidades da cauda inferior da distribuição e
sua possibilidade de decomposição aditiva por subgrupos po-
pulacionais (JELINSKI et al., 1996).
O Índice de Pobreza, abordado em 10% dos artigos, possui
relação com o Índice de Jarman. Este foi criado por fatores so-
ciais percebidos por médicos clínicos gerais através do censo
demográfico em 1991 realizado no Reino Unido.
O Índice de Pobreza foi adotado pelo Departamento de
Saúde Inglês, como base para aprimorar a realização de pa-
gamentos para os clínicos gerais daquele país. Possui compo-
nentes como: desemprego, superlotação, pensionistas, famílias
monoparenterais, local de nascimento das pessoas (nascidos
em New Commonwealth - região mais pobre, ou não), presença
de crianças menores de 5 anos de idade nas famílias, classifi-
cação social (baixa ou alta) e se eram imigrantes ou não. É um
índice específico utilizado apenas no Reino Unido, já que se
refere à condições particulares daquela comunidade (BEATO-
-FILHO, 1998).
Existem ainda Índices usados nos demais países do mun-
do como o Índice de Townsend que mede carências múltiplas
por área. A pontuação é calculada pela combinação de quatro
variáveis do censo Inglês de 1991. Quanto maior o score neste
índice, maior a medida de privação da comunidade. É muito
usado em pesquisas de saúde no Reino Unido, constituído pe-
las variáveis desemprego, superlotação, ausência de automó-
vel, casa própria e classe social baixa (BREILH, 2008).
Em alternativa ao Índice de Townsend, para se evitar o uso
das famílias como determinantes, criou-se o Índice de Carstairs.
Trata-se de um índice de privação, usado para identificação so-
cioeconômica de fatores de confusão. O Índice está baseado
em quatro indicadores do mesmo censo inglês de 1991: clas-
se social baixa, falta de posse de veículo, superpopulação e
desemprego masculino. As áreas de residência são também
avaliadas pelos códigos postais. Incorpora-se índices constan-
tes a estas variáveis para a determinação dos riscos sociais da
população (WILKINSON., 1999).
O Breadline Grã-Bretanha Score é outro índice utilizado
pela literatura médica, construído como resultado de uma pes-
quisa realizada para London Weekend Television em 1990.
Tem a intenção de definir a pobreza normativa (percepções
das pessoas sobre a pobreza) em termos do limiar de pobreza,
através das variáveis: desemprego, falta de propriedade da casa
que moram, acomodações ocupadas, falta de propriedade de au-
tomóveis, doença limitante a longo prazo, famílias monoparentais
e classe social baixa são suas variáveis (ANSELIN, 1992).
Pouco prevalente na literatura, porém encontrado, é o In-
dex of Multiple Deprivation (Índice de Privação Múltipla). Foi
idealizado por pesquisadores da Universidade de Oxford para
revisar e atualizar o índice de pobreza de 1988. É determinado
pelas variáveis: renda, emprego, saúde, deficiência, educação,
habilidades e treinamento, barreiras à habitação, serviços, meio
ambiente em que vive e prevalência de crimes contra as pesso-
as (MELAMED et al., 2003).
Conhecer os principais indicadores sociodemográficos pu-
blicados nas pesquisas em saúde é importante.
Este artigo serve como fonte para pesquisadores em saúde
que vão utilizá-los para categorizar a população de estudo ou
analisar associações com as condições socioeconômicas ou
perfil social de uma população.
Fornecer um catálogo dos principais indicadores em saúde
no intuito de contribuir na avaliação e escolha dos critérios de
classificação sociodemográficas a serem utilizadas nas pesqui-
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sas apropriadas a seus objetivos específicos.
Este estudo focou-se em indicadores direcionados a gru-
pos populacionais. Portanto, não cobre pesquisas com grupos
menores ou categorias socioeconômicas individuais.
Os diferentes tipos de indicadores podem ser usados de
acordo com os objetivos e realidades de cada pesquisa.
Não está no escopo do trabalho discutir as características e
avaliar a melhor indicação de cada instrumento.
Nota-se que muitos índices foram criados dentro de carac-
terísticas específicas de uma população ou grupo. O uso ou
interpretação errada destes indicadores pode resultar em er-
ros de interpretação dos resultados. Contudo, o conhecimento
do referencial teórico aqui descrito é considerado fundamen-
tal para propiciar uma melhor compressão da situação e para
subsidiar o processo de tomada de decisões estratégicas dos
agentes públicos e privados.
4. CONCLUSÃO
É notório que não existe um consenso na literatura biomé-
dica sobre o melhor indicador de desigualdade social. Cada
indicador socioeconômico em saúde parece revelar algo dife-
rente e não pode ser ajustado às diferentes realidades sociais.
A utilização de mesmos indicadores sociodemográficos, na
literatura científica, independente da cultura ou nacionalidade,
seria um facilitador para estudos comparativos.
Torna-se necessário maiores esforços nas investigações
sobre os métodos de estudos das características sociodemo-
gráficas para que possam representar de maneira homogênea
e reprodutível tais condições que, sabe-se, são fatores de influ-
ência no processo da saúde e doença da população.
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PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 99
NOTAS DE FIM1-Alunas do curso de graduação em odontologia do CUNP
2- Professora do curso de odontologia do CUNP, mestre em odontope-diatria, doutoranda em odontopediatria UFMG, 3- Professora de odon-topediatria, doutora em odontopediatria USP- Bauru.
100 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785
aDição De reJeitos De eXtração De arDÓsia em ConCreto
Claudio Gouvêa dos Santos1
Luciana Boaventura Palhares2
Emerson Diego Carvalho Rosa3
Ewerton Ferreira Cruz4
Michele Mamedes da Costa4
RESUMO: A mineração é um dos pilares da economia nacional, proporciona o desenvolvimento interno e serve como subsídio para o progresso internacional.
Porém, o ônus desta atividade tem sido pago pelo meio ambiente, que sofre sérios impactos, sendo muitas vezes irreversíveis. Junto a isso, a construção
civil tem crescido exponencialmente no Brasil, gerando empregos, lucros, etc. e também problemas ambientais, já que é a maior poluidora desde a extração
da matéria prima até o seu produto final. Esse trabalho teve o intuito de reutilizar os rejeitos gerados na extração da ardósia na produção de concreto para uso
em funções não estruturais. Foi avaliado o desempenho de corpos de prova produzidos (10X20 cm) através de testes de resistência mecânica à compressão,
substituindo-se parte dos agregados por ardósia moída em diferentes porcentagens, 5%, 10%, 15% e 50%. Observou-se que as amostras com 15% apresenta-
ram os melhores resultados aumentando a resistência do concreto.
PAlAVRAS-ChAVE: Rejeitos. Ardósia. Concreto. Resistência mecânica.
INTRODUÇÃO
O Brasil está entre os maiores produtores de ardósia do
mundo. É o 2º maior produtor e exportador mundial, com Minas
Gerais respondendo por cerca de 90% desta produção e qua-
se totalidade da exportação brasileira. A produção de ardósias
de Minas Gerais totaliza aproximadamente 500 mil toneladas/
ano. Em valores, essas exportações mostraram crescimento de
45,1% em relação a 2003 e já representam 47,6% das exporta-
ções totais de rochas de Minas Gerais (FEINAR, 2006)
O sistema de extração de blocos de rochas para produção de
chapas gera uma quantidade significativa de resíduos na forma de
lama composto basicamente de água, lubrificantes e rocha moída.
Esse rejeito sem aproveitamento acumula-se nos pátios, reserva-
tórios e córregos, comprometendo o meio ambiente.
Em 2009, a produção brasileiras de rochas ornamentais
e de revestimento totalizou cerca de 9 milhões de toneladas.
Estima-se que 7% desta produção sejam de ardósia e que a
geração de resíduos seja de 25% da produção, totalizando 1,5
× 105 toneladas de rejeitos (ABIROCHAS, 2012).
Vários autores (Catarino, et.al. 2003; Cunha, 2007; Oli-
veira, et.al., 2000; Dos Santos, et.al, 2013) vem tentando uti-
lizar a ardósia na produção de cerâmica vermelha e concreto
visando a diminuição dos impactos ambientais provocados
por esses resíduos.
O concreto é composto por misturas de agregados de va-
riadas granulometrias, aglomerantes e aditivos. Segundo Silva
(1991) “agregado é um conjunto de grãos naturais, processa-
dos ou manufaturados, que se apresentam numa sequência
de diferentes tamanhos, os quais, interligados por um material
aglomerante, formam argamassas e concretos”.
Considerando que os agregados apresentam-se em dife-
rentes granulometrias a utilização do resíduo de ardósia pode
ser uma tentativa para minimizar os impactos gerados por esse
rejeito e ainda poderá diminuir os gastos com extração da areia
e uso de brita de acordo com a granulometria utilizada.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
CARACTERíSTICAS E FORMAÇÃO DA ARDóSIA
Rochas são materiais constituintes da crosta terrestre,
provenientes da solidificação do magma ou da consolidação
de depósitos sedimentares, tendo ou não sofrido transforma-
ções metamórficas.
Segundo Souza (2000), ardósia é uma rocha metamórfica,
que apresenta baixo grau de metamorfismo, constituída de mate-
rial extremamente fino, semelhante aos de argilas. É formada por
longas placas ao longo de sua superfície planar, fenômeno conhe-
cido como clivagem ardosiana e resulta da recristalização sobre
pressão. Em sua constituição pode-se encontrar a presença de
minerais como mica, quartzo, óxido de titânio, clorita e outros. É
encontrada onde houve aquecimento e pressão de folhelhos du-
rante a formação de montanhas.
Macroscopicamente classifica-se como uma rocha dura,
com tonalidade variada: preto, cinza escuro, ferrugem, verde
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e vermelha. É uma das matérias-primas mais utilizadas no se-
tor de construção civil por ter excelentes propriedades físicas
como: dureza média, baixa porosidade, alta resistência mecâ-
nica aliada ao baixo custo. Sua exploração é baseada na lavra
de folhelhos nas fases de corte e acabamento.
Conforme Souza (2000), devido a sua composição ser for-
mada de silicatos de alumínio que constituem parte de utensí-
lios cerâmicos, a ardósia pode vir a ser um material alternativo
para indústrias cerâmicas em substituição aos convencionais.
ARDóSIA NO BRASIL
Na década de 70 iniciou-se a extração de ardósia no Brasil, lo-
calizado na zona do Alto São Francisco no estado de Minas Gerais
dentre os municípios de Caetanópolis, Curvelo, Felixlândia, Lean-
dro Ferreira, Martinho Campos, Papagaios, Paraopeba e Pompéu
que possui uma das maiores reservas mundiais de ardósia. Con-
forme Freitas (2012), as atividades ligadas à exploração, benefi-
ciamento e comercialização, envolvem uma população superior a
8.000 habitantes. A falta de pesquisa geológica, planejamento de
lavra e pesquisa tecnológica aplicada na produção e exportação
de ardósia, são fatores que contribuem para geração de proble-
mas ambientais, como as grandes cavas abertas para extração,
grandes pilhas de estéril e rejeitos, efluentes líquidos que contêm
pó de serragem, cujo descarte é realizado de forma inadequada,
próximo às lavras ou unidades de beneficiamento (figura 1).
Essa quantidade de rejeito decorre da baixa recuperação
de placas com aproveitamento industrial inferior a 15% do vo-
lume extraído. Apesar da importância econômica da ardósia,
pouco se tem feito na melhoria, como implementação de ações
que visam minimizar os impactos negativos ao meio ambiente
(figura 2).
FIGURA 1: MINERAÇÃO DE ARDóSIA PRETA EM PAPAGAIOS - MG
Disponível em <http://www.catchingphotons.co.uk/blog/?p=164>
FIGURA 2: MINERAÇÃO DE ARDóSIA CINZA EM PAPAGAIOS - MG
Disponível em <http://www.altivopedras.com/mineracao.html>
ADIÇÃO DE MINERAIS NO CONCRETO
Mineral segundo Schumann (1989) é um componente ho-
mogêneo, de forma cristalina, da crosta terrestre que se origi-
nou de forma natural. São constituídos de átomos que formam
os arranjos atômicos que são denominadas estruturas do cris-
tal. Os minerais conhecidos como quartzo, feldspato e mica se
originam de gases e líquidos em estado de fusão. O mineral,
conforme Furquim (2006), com suas diferenças físicos e quími-
cas com diversidade de tipos é empregado no concreto com
o intuito de melhorar algumas de suas propriedades, tornando
necessário um conhecimento de suas características, como a
compreensão das reações e alterações promovidas pelas adi-
ções minerais no material. Os minerais mais utilizados possuem
em sua composição cinza volante, sílica amorfa e ativa e escória
de alto forno. Por se tratar de material fino, as pozolanas possuem
efeitos físicos e químicos pela diminuição do volume de vazios e
pela produção de silicato de cálcio hidratado, respectivamente.
Ainda, segundo Furquim (2006), os minerais, contribuem para me-
nor porosidade, permitindo maior resistência mecânica, proporcio-
nando um concreto de baixa permeabilidade, garantindo proteção
a estrutura a agentes agressivos deterioradores de concreto.
MATERIAIS E MéTODOS
O resíduo de ardósia utilizado foi proveniente da empresa
Micapel Slate e gerado nas etapas de extração e beneficiamen-
to da rocha. Este foi previamente tratado antes da utilização
visando à retirada de impurezas, como rejeitos e contamina-
ções. As etapas deste tratamento foram: preparação de uma
suspensão do pó em água; peneiramento a úmido na peneira
de #400; decantação 24 horas; sifonamento (retirada da água);
e secagem em estufa (temperatura 120 oC durante 24 horas).
O cimento utilizado foi o CP II E-32 Portland. Os agregados
utilizados foram: a areia normal fornecida em embalagens de 25
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Kg, separadas em diferentes frações granulométricas (grossa #16,
média-grossa #30, média-fina #50 e fina #100) e brita número zero.
A dosagem do concreto foi feita a partir dos dados obtidos
através da caracterização dos materiais empregados, cimento,
agregados e resíduos, enfocando aspectos como a qualidade e a
composição granulométrica destes. A dosagem foi feita para que
a resistência da referência (sem adição de ardósia) para compara-
ção fosse 30 MPa após 28 dias de cura.
Com o objetivo de avaliar a influência da substituição de parte
dos agregados por resíduos reciclados, foram dosados concretos
com e sem resíduos. O concreto sem resíduos foi tratado como
concreto de referência, enquanto os demais foram especificados
conforme as diferentes porcentagens de resíduos, sendo adota-
das de 5%, 10%, 15% e 50% em relação a quantidade de agrega-
dos adotada no concreto de referência.
Foram moldados corpos-de-prova de forma cilíndrica de (10
x 20) cm visando sua homogeneidade através da mistura de seus
constituintes, utilizando-se de uma betoneira durante o período
que variou de acordo com a mistura.
A cura foi feita tomando-se medidas de precaução para evitar
a evaporação da água utilizada na mistura do concreto e que devia
reagir com o cimento, hidratando-o. Os corpos de prova ficaram
na câmara úmida desde a moldagem e após 24 foram desmolda-
dos e permaneceram na câmara até os ensaios de resistência à
compressão aos 3, 14, 28 dias.
No estudo da utilização de resíduos reciclados como subs-
tituinte de parte dos agregados foi determinada a propriedade
mecânica de resistência à compressão de acordo com NBR 5739
(ABNT, 1994) aos 3, 14 e 28 dias de idade em uma máquina de
ensaios de compressão uniaxial. A absorção do concreto pode foi
avaliada através do método de ensaio normalizado por imersão,
segundo a NBR9778 (ABNT, 1990).
RESULTADOS E ANÁLISES
A tabela 1 mostra os valores de compressão obtidos para
os corpos de prova produzidos.
A figura 3 mostra que com o passar do tempo a influên-
cia do rejeito torna-se mais pronunciada. Aos 28 dias de cura
observa-se variações muito grandes em relação aos outros.
Observa-se um valor elevado de resistência para 15% de rejeito
e isso sugere um efeito pozolanico. Pimenta, (2010) comprovou
o efeito pozolânico da ardósia em seus trabalhos.
FIGURA 3: VARIAÇÃO DA RESISTÊNCIA MECÂNICA X TEMPO DE CURA
A utilização do rejeito de ardósia não prejudicou as pro-
priedades finais das peças a ponto de inviabilizar seu uso, pelo
contrário, em adições de 15% observou-se um aumento dessa
resistência. A figura 4 mostra o gráfico da resistência mecânica
em função da porcentagem de resíduo adicionado. Sugere-se
que o resíduo fino atuou como filler preenchendo os poros va-
zios e aumentando assim a resistência.
FIGURA 4: PORCENTAGEM DE REJEITO DE ARDóSIA EM FUNÇÃO
DA RESISTÊNCIA MECÂNICA (MPA)
A absorção de água variou em função da porcentagem de
resíduo adicionada. Obtendo-se valores dentro da norma para
os corpos de prova com até 15% de resíduo.
Observa-se que a quantidade de água requerida para se
manter a consistência dos concretos cresce proporcionalmente
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com o aumento do teor de material reciclado adicionado, fato
explicado em função do elevado percentual de finos presentes
na composição.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização do rejeito de ardósia em porcentagens de até
15% foi favorável, aumentando a resistência dos corpos de pro-
va produzidos. É importante ressaltar que devido à heteroge-
neidade do resíduo nas áreas de extração os concretos obtidos
devem ser utilizados para funções não estruturais.
O trabalho desenvolvido apresenta várias vantagens para
a sociedade como a eliminação dos resíduos de ardósia pro-
duzidos nas minas e serrarias que são lançados e acumulados
continuamente no meio ambiente, reduz a quantidade de agre-
gados utilizados quando substitui areia, além de gerar de uma
nova atividade econômica.
REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Argamassa e con-creto endurecidos - Determinação da absorção de água, índice de va-zios e massa específica. NBR 9778. Rio de Janeiro, 1990.
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NOTAS DE FIM1 PhD. Professor Universidade Federal de Ouro Preto2 MsC. Professora do Centro Universitário Newton Paiva3 Graduando do Curso de Engenharia Mecânica do Centro Universitário Newton Paiva4 Graduandos do Curso de Engenharia Ambiental do Centro Universi-tário Newton Paiva
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utiLização Dos eXtratos De mate e romã Como iniBiDor Da Corrosão Do aço-CarBono 1020
Claudio Gouvêa dos Santos1
Luciana Boaventura Palhares2
Cely de Fátima Santos3
Carlos Martins Viana3
Cintia Priscile Andrade Jesus3
Lucas Alves Nascimento3
Tatiane Gomes Santos3
RESUMO: No presente trabalho foi avaliada a eficiência dos extratos da erva mate e da romã como potenciais inibidores da corrosão do aço AISI 1020 em
água, solução de NaCl 3% p/v e solução de hCl 1mol/l. Amostras deste material foram expostas a esses meios e a taxa de corrosão foi determinada por
perda de massa, com base na norma ASTM G1-72. A identificação dos produtos de corrosão formados foi realizada por difração de raios X. Os resultados para
inibição mostraram-se mais eficientes para as soluções salinas e ácidas, sendo estes extratos, no entanto, potencializadores da corrosão em água pura e nos
produtos da corrosão foi identificada a presença de lepidocrocita, akaganeita e goetita.
PAlAVRAS-ChAVE: Inibidores de corrosão. Aço AISI 1020. Norma ASTM G1-72.
INTRODUÇÃO
A corrosão é um processo químico no qual o meio age
sobre o material. No cotidiano, associa-se corrosão sempre a
ferrugem, camada marrom-avermelhada que cobre a superfí-
cie dos metais ferrosos, porém, esta se apresenta sob diversas
formas e está sempre associada à deterioração dos materiais,
comprometendo a integridade, reduzindo a vida útil e impactan-
do na confiabilidade e segurança operacional (NUNES, 2007)
Do ponto de vista econômico, a corrosão representa prejuí-
zos muito elevados que resultam em desperdício de investimen-
tos. Estima-se que aproximadamente 30% da produção mun-
dial de aço destinam-se a reposição de peças e equipamentos
(MERÇON et al., 2004; NUNES E LOBO, 1990). Para minimizar
o problema, são utilizados inibidores de corrosão não naturais,
que além de custo elevado, apresentam características tóxicas,
nocivas ao meio ambiente e a saúde dos trabalhadores.
O aço AISI 1020 é uma liga ferro-carbono contendo entre
0,008% e 2% de carbono. Apresenta boa resistência mecâni-
ca e deformação, tornando-o muito atrativo para a constru-
ção de estruturas e equipamentos, sendo muito utilizado na
engenharia e na indústria.
No entanto, o aço carbono sem adição de elementos de
liga possui baixa resistência à corrosão, levando à formação de
filmes de óxidos/hidróxidos ou sais pouco aderentes e com mí-
nima capacidade de proteger a superfície contra o ataque dos
meios corrosivos. Desta forma, existe a necessidade de aplica-
ções de recursos protetores, tais como: revestimento ou pintura
capaz de garantir uma proteção contra a corrosão, emprego de
inibidores de corrosão, dentre outros recursos (BUENO, 2008).
Mainier (2004) define inibidores de corrosão como substân-
cias que adicionadas ao meio corrosivo tem por objetivo evitar,
prevenir ou impedir o desenvolvimento das reações de corro-
são. Atuam com uma barreira ou filme na superfície do material,
que impedem ou retardam as reações de corrosão, tornando o
meio menos agressivo. A eficiência de proteção oferecida pelos
inibidores depende de cada material, bem como da severidade
do meio. A taxa de corrosão pode ser determinada em milési-
mos de polegadas ao ano, conforme norma ASTM G1-72 (Re-
comendada para preparação, limpeza e avaliação de testes de
corrosão em amostras gerais).
Vários estudos de inibidores de corrosão naturais, prepa-
rados a partir de extratos vegetais, mostram eficiência devido a
suas composições apresentarem polifenóis que possuem ação
antioxidante. A viabilidade da utilização destes inibidores repre-
sentaria ganhos econômicos e sua inserção no desenvolvimen-
to sustentável, haja vista que os extratos vegetais apresentam
características pouco tóxicas, biodegradabilidade e menores
custos de obtenção (SILVA, et al. 2007 a, b).
Os extratos vegetais como os da erva mate e da romã atu-
am como antioxidantes, reduzindo a incidência de corrosão e
aumentando a vida útil de equipamentos metálicos. Silva et al.
(2007) constataram que o extrato de mate apresenta eficiência
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 105
inibidora de até 49% e o extrato de romã apresenta eficiência
inibidora de 45%, ambas dependentes da concentração. Isto se
deve à presença de substâncias polifenólicas, como flavonói-
des, saponinas e taninos, entre outros, às quais são atribuídas
propriedades antioxidantes.
Como os polifenóis apresentam reações de ionização, o pH é
um fator determinante para a ação dos compostos fenólicos. Mo-
ran et al. (1997) sugerem que polifenóis apresentam maior capa-
cidade antioxidante em valores de pH abaixo de 7. Por seu caráter
ácido, os polifenóis são mais ativos em pH ácido, alguns antioxi-
dantes fenólicos inativam em pH básico (PICCINI et al. 2002).
Diversos autores têm estudado os produtos de corrosão
formados sobre o aço carbono comum em diferentes situações
utilizando difração de raios X e espectoscopia Raman. Antunes
e Costa (2002) identificaram a presença de lepidocrocita, goe-
tita e também de magnetita em amostras expostas à corrosão
em atmosferas distintas (umidade elevada, industrial e urbana).
No presente trabalho foi avaliada a eficiência dos extratos
da erva mate e da romã como inibidores de corrosão do aço
AISI 1020. Amostras do aço foram expostas a diferentes meios
corrosivos, na ausência e na presença dos extratos permitindo
comprovar a eficiência dos mesmos como inibidores.
PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
O estudo da eficiência da inibição à corrosão foi realizado
a temperatura ambiente. Para a realização dos testes, foram
utilizadas amostras cilíndricas de aço-carbono AISI 1020, com
dimensões: 34 mm de diâmetro X 9 mm de altura. As amostras
foram lixadas e lavadas em água destilada para livrar a superfí-
cie de qualquer oxidação aparente.
O extrato de mate foi preparado pela infusão de 50g gra-
mas de erva mate seca em 500 ml de água destilada até a re-
dução do volume a aproximadamente 50 ml. O extrato ficou em
repouso por 24 horas antes da sua utilização. Quanto à romã,
utilizou-se extrato alcoólico comercial.
Para determinação da perda de massa, nove amostras do
aço foram imersas em soluções aquosas de HCl 1mol/L, NaCl
3%p/v e água destilada em béqueres de 500 mL. Para cada meio
foram criadas três situações: a exposição da amostra à solução
ou a água destilada, a exposição da amostra às soluções ou água
com adição de extrato de romã e a exposição da amostra às so-
luções ou água com adição de extrato de erva mate. O tempo de
exposição foi de 24 horas para os três testes de imersão.
Decorrido o tempo de exposição, as amostras foram reti-
radas dos béqueres, lavadas e as soluções que continham as
amostras foram filtradas para retirar qualquer sólido que pudes-
se ter sido depositado nos béqueres. Em seguida, os filtros fo-
ram secos em estufa à 100oC e todo o pó depositado juntamen-
te com as amostras foram novamente pesadas e a diferença de
massa constatada foi registrada.
As amostras que tiveram sua superfície coberta com óxi-
dos/hidróxidos foram raspadas para que o pó aderido fosse
utilizado nas etapas de caracterização por difração de raios – X.
Foi utilizado um difratômetro a Laser Philips modelo PW1710.
A taxa de corrosão foi determinada por perda de massa
em mpy (milésimos de polegadas ao ano), empregando-se a
Equação 1, conforme a norma ASTM G1-72.
ρ...tAWKcorrosãodeTaxa =
(1)
onde K é uma constante (5,45x106 para unidades em mpy),
W a perda de massa em g, A é a área exposta em cm2, t o
tempo de exposição em h, e ρ a massa específica do material
em g/cm3.
RESULTADOS E ANÁLISES
No estudo de processos corrosivos é necessário considerar
as variáveis dos componentes envolvidos no processo, como
as propriedades do material, o meio corrosivo e a experimenta-
ção operacional. Neste contexto, o tipo de morfologia e a sua
causa são fatores básicos no esclarecimento do mecanismo de
corrosão (ALMEIDA, 1012). Desta forma, realizaram-se ensaios
de corrosão por imersão com medida da perda de massa, em
que a taxa de corrosão uniforme, usualmente expressa em mm/
ano, pode ser calculada e comparada a norma NACE RP 0775,
para avaliação da classificação da taxa de corrosão. A tabela 1
mostra a classificação segundo a norma.
Os resultados obtidos nos três diferentes meios são apre-
sentados na tabela 2.
Tabela 1: Classificação da Taxa de Corrosão Uniforme (NACE RP 0775)
Classificação Taxa de corrosão
(mm/ano)
Baixa < 0,025
Moderada 0,025 – 0,12
Severa 0,12 – 0,25
Muito severa > 0,25
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A amostra exposta à solução de HCl 1mol/L, em presença
do extrato da erva mate, apresentou corrosão seis vezes menor
em relação a amostra exposta à solução pura. Comparando-se
as amostras expostas à solução de NaCl 3%p/v pura e com
adição deste extrato, também foi observada redução na taxa de
corrosão, no entanto a eficiência inibidora foi menor, a amostra
exposta a solução pura corroeu três vezes mais.
Com relação ao extrato de romã, a redução na taxa de cor-
rosão foi de apenas 20% em meio ácido e 15% em meio salino.
O extrato de romã mostrou-se menos eficiente quanto à inibição
da corrosão quando comparado ao extrato da erva mate prepa-
rado em laboratório, no entanto, não é possível afirmar que o
extrato de romã é menos eficiente que a erva mate, pois não se
conhece a concentração de polifenóis de cada extrato.
Conforme Fornazari et al. (2009) e Comminellis (1995),
quando em solução de NaCl, é possível que ocorra a oxida-
ção dos polifenóis e a formação de NaClO, evitando assim que
ocorra a reação do Fe com o O ou mesmo com o Cl-.
Quanto ao meio ácido, acredita-se que o pH baixo favoreça
a ação antioxidante destes compostos, conforme Moran et al.
(1997) e Piccini et al. (2002).
Os resultados obtidos para as amostras expostas à água
pura, água com adição do extrato de romã e água com adição
do extrato da erva mate, foram contrários àqueles apresentados
em meio salino e meio ácido. O extrato de mate, que quando
adicionado a estes dois meios, apresentou as menores taxas
de corrosão do aço, propiciou a maior taxa de corrosão quando
adicionado à água pura. O extrato de romã apresentou nova-
mente resultado intermediário entre o meio puro e o meio com
adição do extrato da erva mate.
Segundo Coentrão, 2005 e Shahidi e Wanasudara, 1992,
possivelmente, por sua característica ácida, os polifenóis em
água pura dissociam-se, porém em menor intensidade que o
ácido clorídrico, e juntos oxidam o aço. A propriedade antioxi-
dante deste grupo de substâncias pode ser afetada pelo pH do
meio, altas concentrações de antioxidantes fenólicos e presen-
ça de ferro. Os polifenóis podem sofrer um processo de auto-
-oxidação ou podem agir como agentes oxidantes.
Comparando-se os valores das tabelas 1 e 2 quando em
mm/ano, observa-se que para todos os casos avaliados, exceto
para a amostra 1, segundo a norma NACE RP 0775, foram cor-
rosões muito severas sendo, para trabalhos futuros, necessário
uma maior avaliação dos teores dos extratos utilizados.
As figuras 1, 2 e 3 apresentam os resultados obtidos após
a retirada das amostras da imersão em solução. A amostra
imersa em água pura apresenta coloração alaranjada menos
intensa em sua superfície em relação àquela exposta ao extrato
de mate. O produto da corrosão ocorrida na amostra exposta
à água com extrato de romã é quase preto, que pode indicar
diferente estado de oxidação do ferro, e ocorre de forma hetero-
gênea na superfície da amostra (figura 1).
Tabela 2: Resultados da taxa de corrosão em meio aquoso, salino e ácido
Amostra Meio Taxa de
corrosão (mpy)
1 Água 31,14
2 Água e extrato romã 87,63
3 Água e extrato de mate 207,32
4 NaCl 3%p/v 109,32
5 NaCl 3%p/v e extrato de romã 92,71
6 NaCl 3%p/v e extrato de mate 87,66
7 HCl 1mol/L 619,51
8 HCl 1mol/L e extrato romã 190,80
9 HCl 1mol/L e extrato mate 98,83
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 107
A coloração dos produtos da corrosão das amostras ex-
postas à solução de NaCl 3%p/v, foram similares às amostras
expostas à água, porém a amostra exposta a solução pura,
apresentou corrosão mais acentuada em relação às demais,
enquanto que a superfície da amostra exposta à solução com
adição de extrato de mate, ainda apresentava pontos mais iso-
lados de corrosão (figura 2).
O produto da corrosão nas amostras analisadas em HCl
1mol/L, tanto em solução pura, quanto na presença dos ex-
tratos, foi de coloração preta, porém mais intensa, para a
amostra exposta ao extrato de romã (figura 3). Observou-
-se que na ocorrência deste tipo de produto, a coloração
escura é mais homogênea, melhor distribuída na superfície
da amostra.
Tabela 3: Produtos formados na corrosão das amostras
Amostra Meio Fases Presentes
1 Água Lepidocrocita e Goetita
2 Água e extrato romã Lepidocrocita e Goetita
3 Água e extrato de mate Lepidocrocita e Goetita
4 NaCl 3%p/v Lepidocrocita , Goetita, e Akaganeíta
5
NaCl 3%p/v e extrato de
romã Akaganeíta, Goetita, Lepidocrocita
6
NaCl 3%p/v e extrato de
mate Lepidocrocita , Goetita e Akaganeíta
7 HCl 1mol/L Akaganeíta
8 HCl 1mol/L e extrato romã Akaganeíta
9 HCl 1mol/L e extrato mate Akaganeíta
A IDENTIFICAÇÃO DOS PRODUTOS FEITA ATRAVéS DE DIFRAÇÃO DE RAIOS X ESTÁ MOSTRADA NA TABELA 3, ABAIXO.
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A lepidocrocita aparece como majoritária nas soluções con-
tendo água e água com NaCl. Já na presença de cloreto em maio-
res concentrações a presença de akaganeíta é mais marcante.
Os óxidos de coloração avermelhada podem ser associa-
dos a presença de lepidocrocita, já nas regiões mais amare-
ladas ocorre a presença de goetita. A akaganeíta mostrou-se
presente nas soluções contendo altas concentrações de íons
cloreto, resultado semelhante a Antunes e Costa (2002).
CONCLUSÕES
A partir dos resultados obtidos de perda de massa das
amostras pode-se concluir que os extratos naturais de romã
e de erva mate são eficientes inibidores de corrosão para os
meios ácido e salino estudados, porém em água pura promo-
vem a oxidação do aço.
Os principais componentes identificados nas camadas
de óxidos das amostras oxidadas foram a lepidocrocita, go-
etita e akaganeita.
Para futuros trabalhos sugere-se a determinação da con-
centração dos polifenóis nos extratos visando avaliar de forma
quantitativa o efeito inibidor dos mesmos.
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NOTAS DE FIM1 PhD. Professor Universidade Federal de Ouro Preto
2 MsC. Professora do Centro Universitário Newton Paiva
3 Graduandos do Curso de Engenharia Química do Centro Universitário Newton Paiva
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o poLi (CLoreto De ViniLa) na Construção CiViL
Claudio Gouvêa dos Santos1
Luciana Boaventura Palhares2
Fellipe Braga Pacheco3
Fernando queiroz Carvalho3 Glenda Marra Vidigal3
Karen Christine Souza Sima3 Magna Gomes da Cruz3
Pâmela Nascimento Dos Reis Rabelo3
RESUMO: Os polímeros apresentam propriedades físicas interessantes, como a resistência a ação de agentes externos do meio ambiente que muitas vezes os
fazem ser mais interessantes em determinadas aplicações em engenharia do que os metais, como por exemplo, tubos e canos para passagem de fios elétricos
e água. O PVC, poli(cloreto de vinila), tem ainda algumas vantagens, como a resistência ao fogo por apresentar em sua estrutura o cloro, além de uma enorme
durabilidade, em geral, mais de 10 anos. A sua aplicação na Engenharia Civil acontece em vários segmentos como instalações hidráulicas, fechamento de
fachadas, tintas e verniz, instalações elétricas, forros e revestimentos, instalações hidráulicas prediais e outros. O presente trabalho apresenta uma revisão
sobre o que é o PVC, suas vantagens e aplicações.
PAlAVRAS-ChAVE: Polímeros. PVC. Construção civil.
INTRODUÇÃO
Os polímeros são macromoléculas formadas a partir de
unidades estruturais menores (os monômeros) que se repe-
tem. A reação pela qual os monômeros se unem para formar
o polímero recebe o nome de polimerização. O nome vem do
grego: poli (muitos) + meros (partes), ou seja, muitas partes.
Os polímeros possuem propriedades físicas e químicas
muito distintas comparadas aos de corpos formados por
moléculas simples. Por esta característica, são resistentes
à ruptura e ao desgaste, possuem alta elasticidade à ação
dos agentes atmosféricos. Estas propriedades, juntamente
com a sua fácil obtenção a baixas temperaturas, têm feito
com que cada vez mais os polímeros sejam produzidos em
larga escala e sejam amplamente utilizados com variadas
aplicações. Podemos entender a importância dos polímeros,
quando constatamos a variedade de objetos a que temos
acesso hoje, onde muitos deles se devem à existência de
polímeros sintéticos, como, por exemplo: sacolas plásticas,
para-choques de automóveis, canos para água, panelas an-
tiaderentes, mantas, colas, tintas, chicletes, etc.
Os polímeros podem ser divididos em termoplásticos,
termorrígidos (termofixos) e elastômeros. Como exemplo das
classificações, temos: as sacolas, tubos de PVC e borrachas,
respectivamente.
O PVC é um polímero termorrígido com características
bastante interessantes e vem sendo aplicado em vários seg-
mentos.
O PVC E SUAS CARACTERíSTICAS
O PVC foi descoberto em 1872 e a partir do século XX co-
meçou a ser produzido para o comércio nos Estados Unidos e
na Europa. Este material é o único que não tem a sua composi-
ção baseada em 100% no petróleo, sendo composto também
por cloro e etileno. Segundo Wang:
O PVC é composto de duas matérias-primas básicas:
etileno e cloro. O cloro aparece com 57% do peso,
sendo obtido do sal comum ou de cozinha (NaCl)
pelo processo de eletrólise, e o etileno com 43%, vin-
do do craqueamento do petróleo. Da reação dos dois
produtos resulta o dicloroetano, da onde se obtém o
gás cloreto de vinil, monômero do PVC. Através da
reação de polimerização, as moléculas do cloreto de
vinil vão se ligando formando o PVC, um pó quimica-
mente estável e inerte. Após o processo de polime-
rização, o PVC pode passar por diversos acabamen-
tos, tais como extrusão, injeção.
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FIGURA 1 – FLUXOGRAMA DE FABRICAÇÃO DO PVC.
EDC: dicloro etano, MVC: mono cloreto de vinila
Fonte: http://www.institutodopvc.org/publico/?
aconteudo&canalid39&subcanal_id=40
A fórmula molecular do poli (cloreto de vinila) é (C2H3Cl)n e
o cloro é o responsável pela grande versatilidade do PVC e pela
sua alta resistência ao fogo, sendo que ele tem uma baixa taxa
de propagação de fogo, sendo assim, bastante empregado em
fios e cabos. O cloro contribui também para as várias formas e
propriedades do material.
O PVC é bastante utilizado, pois apresenta inúmeras carac-
terísticas que são mais vantajosas que as de outras matérias-
-primas. Segundo Fernandes (2011 apud SILVEIRA, 2011), esse
plástico é imune à ação de fungos, bactérias, insetos, roedores
e à maioria dos reagentes químicos (...). Sem falar que é um
bom isolante térmico, elétrico e acústico; impermeável a gases
e líquidos; não propaga chamas e é totalmente reciclável.
Essas são algumas das inúmeras propriedades deste ma-
terial, que permitem um amplo campo de utilização, desde a
produção de uma garrafa até a produção de um painel de auto-
móvel. Nos dias atuais, o investimento no poli (cloreto de vinila)
tem sido cada vez maior. Ele está sendo empregado como um
substituto da alvenaria comum (feita com tijolos), usa-se no lu-
gar, encaixes de PVC e estes são preenchidos com concreto, é
uma aplicação confiável, barata e mais rápida que a alvenaria
comum. Esse processo vem sendo desenvolvido pela Braskem,
Dupont e Global Housing e devido a simplicidade, não exige
revestimento ou pintura, ficando os mesmos a critério do cliente
(SILVEIRA, 2011).
Algumas outras características podem ser notadas no ma-
terial, por exemplo, segundo o Instituto do PVC:
O PVC é: leve (1,4 g/cm3), o que facilita seu manuseio e
aplicação; resistente à ação de fungos, bactérias, inse-
tos e roedores; resistente à maioria dos reagentes quí-
micos; bom isolante térmico, elétrico e acústico; sólido
e resistente a choques; impermeável a gases e líquidos;
resistente às intempéries (sol, chuva, vento e maresia);
durável: sua vida útil em construções é superior a 50
anos; não propaga chamas: é auto-extinguível; versátil
e ambientalmente correto; reciclável e reciclado; fabri-
cado com baixo consumo de energia.
Portanto, o PVC é um material muito diversificado, com
uma vida útil bem longa. Oferece grandes vantagens e é empre-
gado em diversos campos, tais como Engenharias, Arquitetura,
Medicina e outros.
TIPOS DE PVC
PVC RíGIDO
As propriedades básicas deste PVC são a dureza e a re-
sistência à ruptura. Por ser um composto rígido, é resistente à
penetração e riscos. Segundo a Vick Comércio de Plásticos e
Metais LTDA (2012), é comercializado em forma de bastões,
chapas e tubos e suas principais características são:
Alta rigidez e força em comparação com outros termo-
plásticos; força de impacto normal; alta resistência quí-
mica; boas propriedades adesivas; pode ser formado
por vacuum; pode ser soldado e termoformado; boa
estabilidade dimensional; resistente a chamas; baixa
absorção de umidade; fácil processamento; alta resis-
tência a choques e quedas; baixíssima permeabilidade
a gases; impermeável a odores e aromas.
Para a construção civil, os produtos de PVC rígido são fabri-
cados por meio de extrusão. Entre as aplicações encontram-se:
tubos para água e esgoto, eletrodutos, divisórias residenciais, es-
quadrias de janelas, corrugados, telhas, etc. Além de serem leves,
resistentes e de fácil instalação, outro fator que torna vantajoso o
uso do PVC rígido é a sua resistência a condições climáticas.
PVC FLEXíVEL
O que torna o PVC flexível e maleável é o uso de plastifi-
cantes no composto. O tipo e a quantidade desse aditivo in-
corporado à formulação irá definir a flexibilidade e resistência
química do mesmo.
As características deste PVC destacadas pelo Instituto
do PVC e pela Vick Comércio de Plásticos e Metais LTDA
(2013) são “durabilidade; atóxico; possui eficiência energé-
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 111
tica; isolante térmico e acústico; baixa inflamabilidade; auto-
-extinção à chama; custo reduzido; flexibilidade em larga fai-
xa de temperatura de trabalho”.
De acordo com o Instituto do PVC, o composto flexível é
empregado em “estofamentos, coberturas de parede, cortinas
e semelhantes. Peças flexíveis moldadas incluem componen-
tes de operação em dutos, tampas de caixas de saída em ele-
tricidade, punhos e botas de proteção”. Porém, sua principal
aplicação é encontrada em fios e cabos, onde é utilizado para
isolamento dos mesmos.
O PVC E O MEIO AMBIENTE
O PVC na construção civil tem duração de longos anos, po-
dendo passar de 10 anos, por isso não é muito presente no lixo
urbano, mas por ser um material de grande volume é um dos
grandes responsáveis no chamado poluição visual.
O PVC, quando termoplástico, pode ser reciclado diversas
vezes mantendo suas propriedades originais. Porém, quando
ocorre a queima deste material, uma fumaça tóxica é exalada e
há formação de ácido clorídrico. O PVC não apresenta proble-
mas ao meio ambiente, por ser uma “resina inerte”.
De acordo com Rodolfo Jr., Nunes e Ormanji (2002), há três
maneiras de reciclar o PVC:
l Reciclagem mecânica: quando é utilizado um ou mais
processos para o reaproveitamento do material descartado.
Neste tipo de reciclagem pode dividir ainda em reciclagem pri-
mária e secundária. Na primária as aparas são bastante limpas,
isentas de contaminantes de difícil remoção, bastando proce-
der à sua moagem e eventualmente extrusão para filtragem dos
contaminantes para se obter um material pronto para novo pro-
cessamento. A secundária por sua vez é mais complexa e en-
volve etapas de triagem das aparas, lavagem e secagem para
eliminação de contaminantes provenientes do resíduo sólido
urbano, moagem, extrusão/filtração para retenção de contami-
nantes sólidos diversos e granulação.
l Reciclagem química: consiste em processos tecnológi-
cos de conversão do resíduo de PVC em matérias-primas petro-
químicas básicas. Alguns processos encontram-se disponíveis
para reciclagem química do PVC, consistindo basicamente nas
seguintes rotas: hidrogenação do resíduo, pirólise, gaseifica-
ção, incineração.
l Reciclagem energética: consiste na compactação dos
resíduos e subsequente incineração, convertendo a energia quí-
mica contida nos mesmos em energia calorífica ou eletricidade.
Os gases gerados nesse processo são tratados para reduzir o
impacto sobre a atmosfera, enquanto as cinzas resultantes do
processo de incineração são dispostas em aterros.
De acordo com a NBR 13230 o símbolo utilizado para iden-
tificar o PVC está mostrado na figura 2:
Legenda: V ou PVC – Poli (Cloreto de vinila)
APLICAÇÕES DO PVC NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Nas construções residenciais o PVC é muito utilizado de-
vido a sua flexibilidade e fácil modelagem, atendendo as ne-
cessidades em estruturas irregulares como instalações subter-
râneas, em rebaixamento de tetos, instalações hidráulicas e de
energia. Os materiais usados com mais frequência na constru-
ção residencial são: os tubos e conexões para água e esgoto,
as esquadrias de janelas e portas, pisos, fios e cabos elétricos,
eletrodutos, forros, acabamentos e muitos outros.
Nas construções industriais o PVC também é muito
utilizado em estruturas de escritórios, divisórias, janelas e
portas, trazendo facilidade no transporte e instalação dos
mesmos e facilitando a manutenção posterior da empresa.
Além dos itens citados que são utilizados na parte interior e
acabamento, atende também usos em alvenaria como: tan-
ques, isolamento acústico, contra piso, bancadas, calço de
máquinas e equipamentos, esteiras e etc.
A facilidade de transporte, aplicação e o baixo custo e a
manutenção mínima dos PVC’s comparado a outros tipos de
materiais vem fazendo com que esse material cresça muito na
construção civil sendo utilizado em vários países da Europa e
EUA se tornando assim o polímero mais consumido no mundo
e de fundamental importância nas construções de engenharia.
FECHAMENTO DE FACHADAS - ESqUADRIAS
Podem substituir a madeira, o alumínio e o aço. Possuem
características que atendem as normas de segurança, de de-
sempenho e estéticas e podendo ser construídos para pe-
quenos e grandes vãos, em linhas ou em curvas. Não propa-
ga fogo, é inerte e reciclável favorecendo ao meio ambiente.
Podendo ser aplicado em fechamentos especiais de atritos,
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terraços e jardins de inverno.
Na maioria, a esquadria do PVC recebe no seu interior
barras de aço galvanizado, reforçando sua estabilidade, di-
ferentes das esquadrias de portas e janelas que são peças
únicas. O PVC para extrusão recebe estabilizantes térmicos
especiais, aditivo modificador de impacto e alta concentra-
ção de pigmentos brancos para aumentar a resistência a ra-
diações UV (raios ultravioletas).
Resistente à chuva, a fogo e outros agentes agressores.
Podem ser reformulados para aguentar uma temperatura de
-10°C, também apresentam resistência a agentes biológicos
(fungos, bactérias, cupins), resistentes também em regiões
litorâneas e cidades com índice de poluição alto, e resistente
quando aplicadas com grande exposição a luz solar.
FECHAMENTO DE COBERTURAS – TELHAS
Uma opção de telha encontrada no setor da construção ci-
vil são as telhas plásticas, feitas de PVC rígido. São telhas mais
leves que as comuns e apresentam diversos benefícios que
as classificam como melhor opção no mercado. As vantagens
destacadas pela Telha de PVC (2012) são a alta resistência me-
cânica e a variações de temperatura; durabilidade; economia
de tempo por serem de fácil manuseio permitindo maior produ-
tividade e rapidez na instalação; redução do custo final da obra,
já que não necessitam de caibros e ripas para a sua susten-
tação; não propagam chamas; oferecem isolamento térmico e
acústico; além de serem ecologicamente corretas, já que o PVC
é um material reciclável. É um material que pode ser aplicado
em edificações residenciais, industriais e comerciais.
Um modelo especial de telha de PVC é o transparente, prin-
cipalmente indicado para estabelecimento onde se deseja obter
iluminação natural durante o dia, diminuindo assim o uso de lâm-
padas. Segundo Haddad e Sampaio (2006), essa aplicação só e
possível pelo fato do PVC ser um material translúcido ou opaco.
INSTALAÇÕES ELéTRICAS
O PVC também é utilizado nas instalações elétricas resi-
denciais e prediais, devido a sua capacidade de isolamento
térmico e elétrico, além disso, sua taxa de propagação do fogo
é muito pequena, o que o torna muito adequado a esse tipo de
uso. Caso ocorra um incêndio ele não se propagará por toda
fiação elétrica, prevenindo assim curto-circuito. Segundo Ha-
ddad e Sampaio (2006), o “PVC é o único polímero aplicado
na produção de todos os componentes elétricos. (...) Os dutos
e subdutos de PVC são utilizados em instalações subterrâne-
as de redes elétricas e de telefonia, ou seja, têm a função de
proteger cabos e fibras óticas”. Segundo Acetoze (1996 apud
HADDAD; SAMPAIO, 2006) em alguns casos o PVC pode ser
tratado com aditivos resistentes a ação da luz solar para insta-
lações de fiação externa, não sofrem corrosão e são imunes às
composições das argamassas e concretos no caso dos eletro-
dutos, possuem baixa densidade, são bons isolantes elétricos,
acompanham as acomodações do solo no caso dos dutos e
subdutos.
FORROS E REVESTIMENTOS
O forro de PVC é bastante utilizado em construções, em
divisórias, rebaixamento de tetos, pisos, revestimento em pare-
des, por ser um bom isolante térmico e possuir características
benéficas como: isolamento acústico, não propaga chamas,
impermeabilidade, resistência a choques, isolante térmico. Este
material é uma opção para substituição do gesso, devido sua
resistência, preço e versatilidade.
O PVC ganhou espaço na área residencial por ser utilizado
também em pisos e revestimento de paredes, proporcionan-
do maior beleza as residências e agilidade no acabamento da
construção. Os pisos de PVC, ainda não muito utilizados em
residências, vêm crescendo no mercado pela praticidade, ele-
gância e versatilidade, e substituindo as ardósias e cerâmicas.
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS PREDIAIS
O PVC é bastante utilizado em encanamentos de água e
esgoto, sendo fácil sua utilização, pois podem ser feitos qua-
drados, arredondados e por ser um produto que pode ser feito
pela extrusão ele é bem comprido, tornando as emendas des-
necessárias. Ele poder ser utilizado perto de outros tubos que
passem outros materiais pela sua resistência química. É um
material leve e de baixo custo. Porém alguns cuidados devem
ser tomados para não danificar o material: os tubos devem ser
carregados e nunca arrastados sobre o solo, a estocagem ex-
terna por período maior que seis meses deve ser evitada, no
transporte de tubos deve ser evitado o manuseio violento e o
contato dos tubos com peças metálicas e salientes.
Alguns tipos de PVC são listados e sua utilidade explicada:
l Conexões soldáveis e roscáveis de água fria (a): utiliza-
dos para condução de água fria.
l Registros (b): utilizados para controle de água. Ele pode
ser soldável rosca externa ou interna.
l Conexões de bucha latão (c): conexões de água fria
com terminais de água e reforçadas com bucha latão para a
instalação direta de torneiras de metal.
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l Conexões de esgoto predial (d): utilizados para condu-
ção de esgoto. Sifão sanfonado universal (e): ideal para saídas de
água de pias de cozinhas e banheiros, por ser flexível e resistente.
l Caixa sifonada (f): recebe e distribui a água do banho
escoada pelo ralo até a tubulação de esgoto, sem permitir
mau cheiro
Fonte:http://www.aecweb.com.br/solucoes-em-pvc-para-sistemas-prediais/
tematicos
CONCLUSÃO
O PVC é composto de etileno e cloro e pode ser usado em
diversas situações, pois podem ser rígidos ou flexíveis. Ele é um
material que não propaga fogo, é um bom isolante térmico e
tem alta resistência química.
Este é um material que está sendo bastante utilizado na
construção civil por ser um material barato, de fácil manutenção
e por ser fácil de transportar. Ele atende com mais precisão as
necessidades da construção civil, tendo sua aplicação encon-
trada em maior escala em esquadrias, telhas, tintas e verniz,
instalações elétricas, forros e revestimentos, instalações hidráu-
licas. O PVC está começando a ser utilizado também no lugar
da alvenaria comum por ser mais barato, rápido e tão confiável
quanto às alvenarias de tijolos.
Quando rígido, o PVC é bastante utilizado por apresentar
resistência à impactos além de ser resistente a chamas, quase
não acumula umidade, fazendo assim com que ele seja bastan-
te usado em eletrodutos. O PVC flexível, por sua vez, é bastante
utilizado em instalações elétricas como isolantes por serem ma-
leáveis, facilitando o manuseio do material.
Este polímero é de baixo custo e leve, não se encontra difi-
culdade em utilizá-lo. É um material que pode ser reciclado pela
forma mecânica, química ou energética.
REFERÊNCIASE-CONSTRUMARKET. Soluções em PVC Para Sistemas Prediais. Dis-ponível em: <http://www.aecweb.com.br/solucoes-em-pvc-para-siste-mas-prediais/tematicos/artigos/2683/6> Acesso em: 15 abr. 2013.
INSTITUTO DO PVC. Disponível em <http://www.institutodopvc.org/pu-blico/> Acesso em: 3 abr. 2013.
HADDAD, Michel; SAMPAIO, Reinaldo de A., Polímeros - proprieda-des, aplicações e sustentabilidade na construção civil. Disponível em: <http://pcc5726.pcc.usp.br/Trabalhos%20dos%20alunos/Polimeros.pdf> Acesso em: 14 abr. 2013.
NBR 13230 - Simbologia Indicativa de Reciclabilidade e Identificacao de Materiais Plásticos, 1994. Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT, 1994.
RODOLFO JR., Antonio; NUNES, Luciano Rodrigues; ORMANJI, Wag-ner. Tecnologia do PVC. 18ª ed. São Paulo: ProEditores, 2002.
SILVEIRA, Evanildo da. Casa de Plástico - Polímeros substituem tijolos de argila e dormentes de ferrovias. Disponível em: <http://revistapesqui-sa.fapesp.br/wp-content/uploads/2011/12/076-079_190.pdf> Acesso em: 2 abr. 2013
TECPLÁSTICOS. Reciclagem do PVC. Disponível em: <http://tecplasti-co.no.comunidades.net/index.php?pagina=1382756354> Acesso em: 13 abr. 2013.
TELHA DE PVC. Ecológica, barata e com muitas vantagens. Disponível
em: < http://www.telhadepvc.com.br/site/conteudo/telha> Acesso
em: 16 abr. 2013.
VICK COMÉRCIO DE PLÁSTICOS E METAIS LTDA. PVC Rígido. Dis-ponível em: <http://www.vick.com.br/vick/novo/datasheets/datasheet--pvc-rigido.pdf> Acesso em: 3 abr. 2013.
VICK COMÉRCIO DE PLÁSTICOS E METAIS LTDA. PVC Flexível. Dis-ponível em: <http://www.vick.com.br/vick/novo/datasheets/datasheet--pvc-rigido.pdf> Acesso em: 3 abr. 2013.
WANG, Renato R.. Cloreto de Polivinil – PVC. Disponível em: <http://www.eletrica.ufpr.br/piazza/materiais/RenatoWang.pdf> Acesso em: 3 abr. 2013.
NOTAS DE FIM1 PhD. Professor Universidade Federal de Ouro Preto
2 MsC. Professora do Centro Universitário Newton Paiva
3 Graduandos do Curso de Engenharia Civil do Centro Universitário Newton Paiva
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poLiestireno eXpanDiDo na Construção CiViLClaudio Gouvêa dos Santos1
Luciana Boaventura Palhares2
Raphael de Oliveira Duarte3
Thiago Henrique Cardoso Gonçalves3 Mariana de Melo Almeida Horta3
Wagner Agostinho dos Reis3
Rafael Vinicius Silva Straelh3
RESUMO: EPS é a sigla internacional do Poliestireno Expandido definida pela norma DIN ISO-1043/78, mais conhecido como Isopor®,apresenta característi-
cas e propriedades bastante peculiares, tornando-o útil no ramo da construção civil. Suas maiores aplicações nesta área são em juntas de dilatação, isolantes
acústicos e térmicos,outra aplicação é o concreto leve que faz com que a mistura do concreto mude a sua densidade para melhor atender a demanda da obra,
lembrando que o maior foco atualmente é aplicação do EPS nas lajes pré-moldadas, visando à redução de peso e custo, além de ser uma solução que visa o
meio ambiente por utilizar um material 100% reciclável.
PAlAVRAS ChAVE: EPS. Isopor®. Aplicação na Construção-civil. Poliestireno.
INTRODUÇÃO
A construção civil é um ramo onde existem altos investi-
mentos econômicos e tecnológicos. Ao longo dos anos, pes-
quisas e testes aplicados a esse ramo permitiram a descoberta
de novas técnicas e novos materiais que se aplicados correta-
mente podem trazer uma série de benefícios em uma obra.
Diferentes materiais podem beneficiar uma obra de diferen-
ciadas formas, o EPS vem sendo aplicado no canteiro de obras
e tem oferecido bons resultados na sua aplicação.Dentre suas
aplicações ele oferece vantagens como isolamento térmico e
acústico se usado em paredes e lajes, na promoção da leve-
za se agregado ao concreto usado para a construção de lajes.
(BERLOFA, 2009, P. 13)
Composto de espuma rígida de poliestireno proveniente
da expansão, o isopor é um comprovado material isolante,
sendo aplicado na construção civil visando economia ener-
gética. É também aplicado em edifícios por ser leve, resisten-
te, fácil de operar e possuir baixo custo.
COMPOSIÇÃO DO EPS
O EPS é um plástico celular derivado do petróleo, que no
estado compacto, é um material rígido, incolor e transparente.
Polímeros termoplásticos, termorrígidos e elastômeros
podem ser transformados em materiais expandidos
quando são submetidos ao processo de espumação
onde ocorre a inclusão em sua batelada de um agente
de insuflação que perante aquecimento se decompõe
e libera um gás, que proporcionará formação de bolhas
por toda a resina termoplástica fundida. (CALLISTER,
2002 apud BERLOFA, 2009, P. 19).
Por meio do processo de polimerização do estireno em
água, juntamente com a adição de um elemento expansivo,
usualmente o pentano, ele sofre mudanças que o transfor-
mam em poliestireno expandido. Após a expansão, ele se de-
nomina uma espuma termoplástica, que é classificada como
material rígido e tenaz. É essencialmente de cor branca, ino-
doro, reciclável, não poluente e certamente é um material de
excelente qualidade nas temperaturas de -70ºC a 80ºC (HI-
GGINS, 1982).
O EPS microscopicamente é composto de células fecha-
das, compostas por 2% de poliestireno, sendo o restante de
seu volume preenchido com ar (98%). A regra que normatiza
o EPS é a NBR 11752, sendo ela responsável pelo padrão do
composto e da produção do isopor.
O Isopor esta dividido em duas classes distintas, a clas-
se P não retardante a chama e a classe F retardante a cha-
ma. E também dividido em três grupos de massas específi-
cas: I - de 13 a 16 kg/m3, II - de 16 a 20 kg/m3, III - de 20 a
25 kg/m3 (ABRAPEX, 2008).
Abaixo, na tabela 1 seguem as características regula-
mentadas pela NBR 11752 ao EPS:
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APLICAÇÕES DO EPS NA ENGENHARIA CIVIL
EPS EM LAJES
O EPS pode ser utilizado como forma de lajes e também
como enchimento nas lajes industrializadas unidirecional e bidire-
cional, onde a laje unidirecional é sustentada por vigas de concreto
posicionadas em um único sentido e a laje bidirecional é susten-
tada por vigas de concreto que se cruzam perpendicularmente.
Segundo Soares (2011) o EPS é bastante favorável na
construção civil, principalmente na fabricação de lajes, por ser
leve ocasionando menor força sobre a estrutura da construção,
e também por não servir de alimentos a alguns seres vivos
como a relação de cupim e madeira.
A figura 1 mostra como o EPS é utilizado no enchimento
de lajes. O isopor é apoiado sobre a estrutura guardando uma
distância que logo após será preenchida de concreto. O aca-
bamento será dado sobre o isopor que será revestido de arga-
massa ou gesso.
Somente as nervuras de concreto tem o peso bastante
considerável, dessa forma o EPS também é favorável, alivian-
do o peso sobre a estrutura da edificação além de reduzir o
esforço na montagem da laje e permitir que sejam utilizadas
as sobras de isopor já cortado, uma vez que as peças são
geralmente comercializadas em um metro de comprimento e
são de fácil corte. (SOARES, 2011)
Na concretagem das lajes onde é utilizado o EPS não há
o risco das peças quebrarem como nas lajes convencionas de
cerâmicas, evitando assim o vazamento do concreto e garantin-
do assim um serviço bem feito e mais viável economicamente.
CONCRETO LEVE
O concreto é preparado de acordo com sua utilização, a
principal diferenciação a ser considerada na engenharia civil é a
densidade do mesmo.
Segundo Brasipor apud Soares (2011) O concreto leve é
formado a partir da inserção de flocos de EPS na massa do
concreto convencional, desse modo o concreto fica conside-
ravelmente mais leve mantendo a sua resistência, podendo ser
utilizado de várias formas desde que não haja grandes esforços
sobre o mesmo e que não seja utilizado estruturalmente.
A tabela 2 quantifica os materiais para que se possa
obter o concreto com dada densidade contendo um saco
de cimento de 50 Quilos.
Tabela 1: Características regulamentadas para EPS
Fonte: http://www.abrapex.com.br/02Caracter.html
Figura 1: EPS utilizado em enchimento de lajes
Fonte: http://www.abrapex.com.br/31z03LajesInd.html
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ISOLAMENTO TéRMICO
O poliestireno expandido é utilizado como sistemas iso-
lantes de coberturas, paredes e pavimentos, tal como em
todo o tipo de obras, desde grandes edifícios até à pequena
moradia. Nos últimos anos esse material ganhou uma posi-
ção estável na construção civil, não apenas por suas carac-
terísticas isolantes, mas também por sua leveza, resistência,
facilidade de manuseio e baixo custo.
A baixa condutibilidade térmica, propiciada pela estrutu-
ra de células fechadas e cheias de ar que dificultam a pas-
sagem do calor, é o que confere ao EPS um grande poder
isolante. A condutividade térmica do Isopor® segundo Fenilli
(2008) é de 0, 028 W.m-1.ºC-1.Com a substituição de elemen-
tos construtivos tradicionais por outros em EPS, visando o
isolamento térmico, obtém-se um menor gasto de energia,
para se aquecer ou resfriar um ambiente.
Entre as principais vantagens em se utilizar sistemas
de isolamento térmico estão, a economia de energia
devido à redução das necessidades de aquecimento e
de arrefecimento do ambiente interior, redução do peso
das paredes e das cargas permanentes sobre a estrutu-
ra, diminuição do gradiente de temperaturas a que são
sujeitas as camadas interiores das paredes e diminui-
ção dos riscos de condensações (FREITAS, 2002).
Para que o EPS utilizado, realmente possa ser um bom iso-
lante térmico é necessário observar as características técnicas
e densidade mais adequadas, para este fim.
Alguns produtos como as telhas térmicas mostradas na fi-
gura 2, confeccionadas em poliestireno expandido e moldado
em diversas formas, dispõem de características físicas e mecâ-
nicas elevadas e de excelente resistência térmica à temperatu-
ras que variam entre -70ºC a 80ºC, proporcionando um encaixe
preciso no telhado ao qual irá ser aplicado.
Paredes de casas e edifícios voltadas para o sol poente po-
dem superaquecer, acumulando calor. À noite este calor se pro-
paga pela casa, fazendo com que temperatura aumente, sendo
necessário o uso de equipamentos elétricos para controle desta
temperatura, aumentando o gasto de energia.
Uma forma de minimizar este acúmulo de calor pelas paredes
é fazendo o seu isolamento térmico como mostra na figura 3.
Tabela 2: Dosagem do concreto de acordo com a densidade
Fonte:www.tecnocell.com.br/.../tecnocell_catalogo_novo.pdf
Figura 2: Telhas Térmicas de EPS
Fonte: http://www.construlev.com.br/html/produtos.html
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 117
O poliestireno em placas pode ser utilizado como isolamento
térmico e acústico em paredes, divisórias, lajes, telhados e dutos
de ar condicionado. Sob esse aspecto o EPS está bem situado,
pois pode ser obtido em vários tamanhos e diversas espessuras
tornando-se um dos mais consumidos para essas finalidades.
A figura 4 mostra o uso do EPS na parte externa da parede
onde é mais eficiente, pois a proteção é aumentada com o restante
das camadas que compõem a mesma. O sistema mais comum de
isolamento é com revestimento de argamassa sobre as placas de
isolante e o melhor material para esse sistema é o EPS.
As placas do EPS são coladas diretamente nos tijolos com
adesivos a base de água, logo após recebe o emboço e a ar-
gamassa de acabamento. Essa argamassa deverá ser pintada
com tinta impermeável e de cor preferencialmente branca, para
que não absorva calor e prejudique o isolamento.
JUNTAS DE DILATAÇÃO
As juntas de dilatação são executadas em estruturas de
concreto com mais de 35m de extensão, o EPS é usado nasjun-
tas seladas com material elástico.
Segundo Lima e Brito (2009) estas juntas consistem na apli-
cação de um cordão de um material ligado aos bordos da junta
e que, pelas suas características elásticas, permite acomodar
pequenos deslocamentos onde os materiais utilizados devem
ter estabilidade volumétrica.
EPS NO ISOLAMENTO ACUSTICO
Hoje em dia há uma tendência muito forte no processo de
verticalização de moradias, salas comerciais, escritórios etc. Oca-
sionados pelos altos preços dos terrenos e em algumas cidades a
falta de espaço físico. Mas este processo gera alguns transtornos
para os usuários destes espaços, como o barulho vindo dos pi-
sos superiores, ocasionados pelo deslocamento das pessoas que
transitam por estes espaços, pode ser solucionado com o isola-
mento acústico do piso, chamado piso flutuante.
Neste tipo de piso, o EPS é fixado sobre a laje e recoberto
com um filme de polietileno e posteriormente aplica-se o contra
piso, que em seguida receberá o piso acabado.
Na figura 05 está representado o esquema do piso flutuante
e isolamento de casas duplas. (ABRAPEX, 2008)
DESTINAÇÃO E RECICLAGEM
O EPS é um material 100% reciclável, porém não há muito
interesse por parte das empresas em recicla-lo devido o po-
límero ocupar grandes proporções volumétricas. O ideal para
que seja transportado é que ele seja triturado, mas para isso é
compensatório possuir uma maquina de alto custo-benefício.
Existem alguns processos para a reciclagem dos mate-
riais à base de EPS, estes são aplicados conforme a uti-
lização final do produto. Os rejeitos podem ser proces-
sados para serem novamente moldados em forma de
Figura 3: Isolamento Térmico usando EPS
Fonte: http://www.braisoisolamentos.com.br/
Figura 4: Uso do EPS em paredes externas
Fonte: http://www.abrapex.com.br/31z05ITTelha.html
Figura 5: Piso flutuante e isolamento de casas duplas
Fonte:http://www.abrapex.com.br/31z12IsoAcuPF.html
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blocos, injetados para formar peças para embalagens,
entre outros; podem ser reutilizados na construção civil;
ou até gerar energia elétrica ou calorífica por combus-
tão direta e também podem ser aplicados como com-
plemento em moldes de peças injetadas ou fundição
no ramo industrial. (GROTE e SILVEIRA s.d. p. 13).
Uma das melhores formas reciclagem do EPS é a utilização
do mesmo na construção civil, além de não agredir o meio am-
biente e ser economicamente viável o concreto formado pode
ser utilizado na própria obra que descartou o produto anterior-
mente, desde muros à elementos decorativos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que o EPS é utilizado das mais variadas formas
na construção civil, desde a utilização nas lajes unidirecionais e
bidirecional até mesmo incorporado nas paredes resultando no
isolamento térmico e acústico do ambiente.
A utilização do Poliestireno Expandido esta ficando cada
dia mais usual nas obras, além de ser economicamente viável,
o material não é alvo de insetos, fungos e bactérias, é extrema-
mente leve e pode ser inteiramente reciclado. A maior desvan-
tagem do material é o grande volume que ocupa, dificultando o
armazenamento. A reciclagem pode acontecer no próprio can-
teiro de obras quando os flocos são utilizados para a fabricação
do concreto leve
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NOTAS DE FIM1 PhD. Professor Universidade Federal de Ouro Preto
2 MsC. Professora do Centro Universitário Newton Paiva
3 Graduandos do Curso de Engenharia Civil do Centro Universitário Newton Paiva
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estuDo ComparatiVo entre as Ferramentas CaCti e mrtg no gerenCiamento De uma reDe ComputaCionaL Com tráFego HeterogÊneo
Marcos Prado Amaral1
Thiago de Freitas Faria2
RESUMO. A crescente globalização gera a demanda por quantidades cada vez maiores de informação, provinda de diversos locais do mundo. Tal situação tem
levado empresas a dependências de sistemas computacionais interligados em redes. Essa situação faz com que as redes de computadores se mantenham
em contínuo crescimento de escala, complexidade, heterogeneidade e importância. E isso torna imprescindível um bom sistema de gerência de redes. Várias
são as ferramentas disponíveis para esse fim, o que pode levar duvidas na hora de escolher uma delas. Tentando definir parâmetros para servir de base nessa
escolha, esse trabalho faz um estudo de caso comparativo, em uma computacional heterogênea, entre duas ferramentas: o MRTG, escolhido por ser a uma das
primeiras ferramentas aplicadas na gerencia de redes e o Cacti que é hoje uma das ferramentas mais usadas para esse fim. Como conclusão verificou-se que
o Cacti mostrou-se superior ao MRTG, apresentando diversas funcionalidades adicionais implementadas em sua instalação padrão. Essa diferença pode ser
creditada ao fato do Cacti ser mais novo. E que o MRTG, mesmo tendo sua utilização reduzida, continua ativo e operante.
PAlAVRAS-ChAVE: Redes de computadores. Ferramentas de gerência. Comparação.
1. INTRODUÇÃO
As redes de computadores existentes atualmente estão em
contínuo crescimento de escala, complexidade e importância, ha-
vendo uma expansão rápida e ampla no serviço, com a integra-
ção de diversos novos tipos de equipamentos. Esse crescimento
está acontecendo tanto em redes internas, como intranets, quanto,
principalmente, em redes externas, como a internet.
A necessidade por obter uma grande quantidade de infor-
mação, de vários locais do mundo, em alta velocidade, faz com
que, cada vez mais, as empresas se tornem dependentes deste
meio de comunicação para sobreviverem no mercado globa-
lizado em constante mudança. Isto, por sua vez, proporciona
uma demanda ainda maior pela rede, uma vez que essa é o
principal meio de transporte para essa informação.
Neste cenário, o gerenciamento de redes de computa-
dores torna-se cada vez mais importante. Pois este é res-
ponsável por organizar, controlar e gerenciar o acesso a
elas, mantendo a qualidade, a velocidade e, principalmente,
a disponibilidade delas para os usuários que as utilizam. O
gerenciamento abrange a configuração, busca e correção de
falhas, contabilização do uso, performance e segurança.
Stallings (1998, apud Black, 2008) reforça essa ideia, ao
afirmar que, a cada ano, novas aplicações e novos usuários
impulsionam o crescimento da redes de computadores internas
(intranets) e externas (extranets/internet) tanto em escala como
em complexibilidade. O autor afirmar, também, que a necessi-
dade de monitorar essas redes diante desse crescimento im-
pulsiona também o desenvolvimento de software cada vez mais
aprimorado tecnicamente e abrangendo uma gama maior de
características, adaptando-se ao boom de novas tecnologias
jogadas no mercado anualmente, e que neste ínterim, o geren-
ciamento de tais redes tornou-se uma tarefa indispensável para
manter o seu funcionamento correto.
Assim, devido à complexidade, escala e a heterogeneidade
é cada vez mais impraticável a sua realização, pelo administra-
dor da rede, sem o uso de ferramentas que possam auxiliá-lo no
recolhimento de dados, inspeção dos dispositivos e controle da
rede, dentre outras tarefas, que o mesmo deve realizar.
Atendendo a essa demanda, muitas ferramentas de ge-
renciamento foram desenvolvidas. E segundo Black (2002), “a
maioria das ferramentas disponíveis para monitoramento de
rede são baseadas e/ou descendentes do Multi Router Traffic
Grapher (MRTG)” (p.30). E dentre as ferramentas existentes po-
dem ser citadas, além do MRTG, o Cacti, zabbix, Nagios, Big-
Brother4, ManageEngine OpManager, zenOSS, dentre outras.
Black (2008) afirma que, a maioria dessas ferramentas tem suas
raízes baseadas nos conceitos do MRTG, mas evoluíram em
muitos aspectos, acompanhando as novas tendências voltadas
para a web e as novas e poderosas ferramentas de desenvolvi-
mento com foco na usabilidade e visibilidade do produto.
Baseado nesse panorama, esse trabalho tem a finalidade de
fazer um estudo de caso comparativo entre duas ferramentas de
gerência, com o intuito de definir parâmetros para ajudar na es-
colha de uma delas. As ferramentas escolhidas foram o MRTG,
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escolhido por ser a uma das primeiras ferramentas aplicadas na
gerencia de redes e o Cacti que é hoje uma das ferramentas mais
usadas para esse fim para um estudo de caso comparativo.
O Estudo de caso comparativo foi escolhido, pois, de acor-
do com Vasconcelos (2005), esse tipo de estudo permite au-
mentar as possibilidades de realizar generalizações analíticas,
na medida em que obriga o pesquisador a procurar saber mais
sobre suas descobertas e as possíveis aplicações em outros
contextos. Ainda, de acordo com o autor, o objetivo do estudo
de caso comparativo, ou estudo de casos múltiplos, não é o de
prover generalizações estatísticas a respeito das conclusões,
até por serem os estudos qualitativos, em sua maioria, inapro-
priados para tal fim, além de facilitar as buscas por similarida-
des e diferenças entre os casos estudados.
O Cacti e MRTG foram instalados e configurados em uma
rede de tráfego heterogêneo. Para o estudo serão coletados dado
sobre essa rede, tais como: tráfego da rede, possíveis pontos de
gargalo, quantidade de usuários e estado da rede. Após a cole-
tagem, os dados, obtidos pelas duas ferramentas, serão compa-
rados para verificar qual delas apresenta desempenho superior.
Será verificado também, em quais aspectos uma sobressai sobre
a outra, de modo a verificar para que tipo de utilização uma ou
outra ferramenta deve ser utilizada para apresentar resultados sa-
tisfatórios para o serviço ao qual será designada.
2. SISTEMA DE GERENCIAMENTO DE REDES
O gerenciamento da rede é composto por um conjunto de ferra-
mentas integradas, que fornece informações sobre estado da rede
em uma interface única, e que possibilita a execução de comandos
no gerenciamento de todas as atividades de gerenciamento.
O gerenciamento de rede, segundo Oliveira (2010), está as-
sociado ao controle de atividades e ao monitoramento do uso
de recursos da rede. Ainda, de acordo com o autor, as tarefas
básicas da gerência em redes são: obter informações da rede,
tratar estas informações possibilitando um diagnóstico e enca-
minhar as soluções dos problemas.
Para Pinheiro (2006), a arquitetura geral dos sistemas de
gerenciamento de redes é composta, basicamente, por ele-
mentos gerenciados, servidores de gerência, protocolos de
gerenciamento e informações de gerência.
Oliveira (2010), descreve que o dispositivo, ou elemento,
gerenciado é um ativo de rede que integra um conjunto de
objetos gerenciáveis constituídos por componentes de har-
dware e software. Toda informação disponibilizada por esse
dispositivo, é organizada em uma base de dados denomina-
da MIB (Management Information Base), que pode ser aces-
sada e modificada pela entidade gerenciadora.
Ainda, de acordo com Oliveira (2010), os servidores de
gerencia são estações centrais de gerência, que possuem
aplicações que executadas fornecem informações que per-
mitem a análise e identificação de desvios de comporta-
mentos que podem prejudicar o funcionamento do sistema.
Essas aplicações fazem a comunicação dos servidores ge-
rentes com os agentes dos dispositivos gerenciados. Nessa
comunicação, é necessário a utilização de um protocolo de
gerência, como por exemplo, o SNMP, que controlará e res-
ponderá pelas operações de monitoramento e de controle.
As informações trocadas entre o gerente e os agentes são
denominadas informações de gerência. E elas que serão uti-
lizadas nas tomadas de decisões.
Um sistema de gerenciamento, geralmente, não é com-
posto apenas por uma única ferramenta, mas sim de conjunto
de diversos softwares. Pode também ser composto por uma
ferramenta principal que permite a integração de vários plu-
gins para atender as configurações e necessidades que, por
sua vez, são bastante heterogêneas. Além disso, a maioria
dos elementos da rede (Switchs, roteadores, etc) já possuem,
incorporados a eles, algum software agente que suporte ge-
renciamento.
FIGURA 1: PRINCIPAIS COMPONENTES DE UMA
ARqUITETURA DE GERENCIAMENTO DE REDE
Fonte: Kurose e Ross (2006, apud Oliveira, 2010)
2.1. SNMP
O SNMP (Simple Network Management Protocol) é um pro-
tocolo de gerência de redes, a nível de aplicação, que permite
obter dados de servidores de SNMP em tempo real. Ele utiliza-
-se do protocolo UDP para enviar as mensagens. Isso permite
um intercambio mais fácil dos dados gerados pelos elementos
gerenciamento, desde que esses elementos da rede possuam
suporte para ele. O SNMP consiste em requisições, feitas por
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um gerente, e respostas, fornecidas por agentes.
Segundo Correia (2004), “O SNMP (Simple Network Mana-
gement Protocol) permite que uma ou mais de uma máquina na
rede sejam designadas como gerentes de rede. Esta máquina
recebe informações de todas as outras máquinas da rede, cha-
madas de agentes, e através do processamento destas infor-
mações, ela pode gerenciar toda a rede e detectar facilmente
problemas ocorridos. As informações coletadas pela máquina
gerente estão armazenadas nas próprias máquinas da rede, em
uma base de dados conhecida como MIB (Management Infor-
mation Base). Nesta base de dados estão gravadas todas as in-
formações necessárias para o gerenciamento deste dispositivo,
através de variáveis que são requeridas pela estação gerente”.
MIBs são informações organizadas hierarquicamente que
são acessadas através de protocolos de gerência de redes, tais
como o SNMP. As MIBs compreendem objetos gerenciados e
são identificadas por identificadores de objetos.
No gerenciamento com o SNMP, um host é configurado como
gerente e diversos outros que são os agentes, que possuem uma
MIB com as variáveis relativas aos objetos gerenciados. O geren-
ciamento é baseado na requisição de informações aos objetos ge-
renciados. De posse desses dados, o gerente processa os dados
obtidos para mostrar o estado da rede. Ele pode, também, usar
esses dados para mostrar à detecção de possíveis falhas.
FIGURA 2: EXEMPLO DE REDE GERENCIADA POR
UM SERVIDOR SNMP
2.2. AS FERRAMENTAS
As duas ferramentas utilizadas para gerência e o monito-
ramento no ambiente de rede gerenciado, têm como caracte-
rísticas em comuns, estarem sob licença GPL (Geral Licence
Public) e poderem ser instalados em sistemas baseados em
Linux, ou seja, em plataforma livre.
2.2.1. MRTG
O MRTG (Multi Router Traffic Grapher), disponível tanto
para Linux quanto para Windows, é uma ferramenta para coleta
de dados, que segundo Correia (2004), gera gráficos referentes
ao tráfego de rede, possibilitando o monitoramento do desem-
penho dos elementos conectados por meio do fluxo de dados
de entrada e saída nas portas dos comutadores da rede. Ainda,
de acordo com Correia (2004), o MRTG pode ser utilizado na
gerência de desempenho, verificando o tráfego dos hosts mo-
nitorados e na gerência de contabilização onde é verificado o
tempo de paralisação dos hosts na rede.
Com isso, o MRTG coleta dados da rede utilizando SMNP,
ou scripts, e gera as páginas HTML com gráficos das informa-
ções coletadas. Essas coletas podem ser diárias, semanais,
mensais e anuais. Como exemplo das informações coletadas
temos tráfego de links da rede, utilização do disco e da CPU,
etc. O MRTG armazena os dados coletados em logs localizados
no diretório de instalação do sistema.
Segundo Bondan (2008), para o funcionamento do MRTG
tendo como fornecedor de informações o SNMP, este deve es-
tar instalado e configurado na máquina a ser monitorada, en-
quanto os scripts Bash são executados pelo programa e obtém
os dados por meio de comandos de sistemas.
O MRTG pode ser configurado para gerar alertas quando
limites mínimos de funcionamento são checados. Ele, obtém,
por padrão, dados de cinco em cinco minutos, porém esse in-
tervalo pode ser modificado.
2.2.2. CACTI
O Cacti encontra-se disponível, também, para Linux e
Windows. Ele possibilita o monitoramento de informações
sobre a situação de uma rede local através de gráficos. É um
front-end para o RRDTool, desenvolvido em PHP, contendo
suporte para o protocolo SNMP, com uma interface web, que
utiliza um banco de dados MySQL para armazenar os dados
coletados. Para Dias (2009), o Cacti não exige muitos recur-
sos do seu host e é altamente escalável.
Em dispositivos com suporte a SNMP instalado e ativo, o
Cacti utiliza-se dos dados fornecidos por esses elementos para
gerar os gráficos, mas ele, também, pode utilizar dados obti-
dos por meio de scripts, escritos, normalmente, em Bash, Perl e
XML. Os gráficos são construídos por rotinas em PHP. Segundo
Neto (2006), partir desses dados é que são gerados os arquivos
RRDs e depois os convertidos em gráficos.
O Cacti possibilita, de maneira bastante simples e intui-
tiva, a adição de novos equipamentos para serem monito-
rados. E através do SNMP ele permite acessar informações
Fonte: Adaptado de Pinheiro (2010)
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de hosts e de dispositivos de rede que suportem esse proto-
colo, para posterior geração de gráficos pela ferramenta. O
software suporta todas as três versões do SNMP, segundo
Black (2008). Para tanto basta que oadministrador da rede
informe ao software, os dispositivos que deseja monitorar,
adicionando-os ou retirando-os quando for necessário. Ele
deve repassar ao software, também, quais são as opções e
parâmetros de cada dispositivo que deseja monitorar, confi-
gurando a ferramenta para que esta gere os devidos gráficos
para os esses recursos adicionados.
O Cacti permite ainda a organização de gráficos e hosts em
árvores e sub-árvores, de modo a possibilitar ao administrador
da rede organizá-los da maneira que lhe for mais conveniente.
Há, também, alguns modelos padrões de consultas, gráficos e
hosts, sendo que outros podem ser criados e incorporados. De
acordo com Black (2008), existem também diversos plugins já
implementados e largamente utilizados.
As duas ferramentas que serão utilizadas no trabalho,
Cacti e MRTG possuem suporte para todas as versões do
protocolo SNMP.
2.3. RRDTOOL
De acordo com Black (2008), o RRDTool é um sistema de
base de dados round-robin, com licença GNU General Public
License. Ele é composto por um conjunto de ferramentas que
possibilitam a criação de base de dados, com a possibilidade
de definição de parâmetros desejados; obtenção de informa-
ções dos objetos gerenciados, para atualização da base, ou
seja, a manipulação e controle da base de dados; e a geração
de dados a partir de informações coletadas e armazenadas,
possibilitando a inclusão de dados provindos de bancos de da-
dos diversos em um mesmo gráfico. Ele possui interface para
C, C++, Perl e Tcl, também permite o acesso às funções por
meio de linha de comando Shell, expandindo assim o acesso e
utilização do sistema, de acordo com. Balbinot (2000).
O RRDTOOL é um sistema para armazenar e mostrar da-
dos em série obtidos em um determinado período de tempo
(banda de rede, temperatura da máquina, etc). Os dados são
armazenados de maneira bastante compacta e não aumen-
tam com o tempo (por isso que o banco é dito “circular”). O
RRDTOOL também é capaz de gerar gráficos a partir desses
dados. Segundo Dias (2009), como o RRDTOOL não é capaz
de fazer o “polling” dos dados, nem apresentá-los de manei-
ra automática, é bastante comum a sua utilização associada
a um frontend. Sendo assim, o RRDTOOL foi associado há
um frontend sendo este o Cacti para a geração de gráficos
de desempenho de equipamento da rede.
O sistema estipula um limite máximo para o tamanho da
base de dados. Quando esse limite é atingido, a base não cres-
ce mais. A resolução dos dados armazenados é reduzida de
acordo com o tempo em que são armazenados, resultando em
um média dos dados salvos mais antigos, com dados mais
novos com resoluções mais precisas. Dados antigos são re-
movidos para o armazenamento de dados novos, funcionando
semelhantemente a uma fila circular.
O RRDTOOL inicialmente faz a criação da base de dados
com os parâmetros desejados, depois obtém os dados do dis-
positivo monitorado e os insere na base, atualizando-a e por
último é feito a geração dos gráficos a partir das informações
armazenadas na base.
3. COLETA DOS DADOS
O primeiro passo foi a definição da rede local a ser geren-
ciada: uma rede heterogênea, com tráfego heterogêneo, ou
seja, uma rede contendo diversos tipos de equipamentos com
tráfegos de diversos tipos, como acesso a páginas HTTP, HT-
TPS, downloads de arquivos por P2P, FTP, etc. Essa rede foi a
rede local da unidade II do CEFET-MG.
O segundo passo foi um estudo aprofundado a respeito
das ferramentas a serem utilizadas para o trabalho, no caso
Cacti e MRTG. De modo a entender como é o seu funciona-
mento, o modo de instalação e as configurações necessá-
rias. Paralelamente a isso, foi estudado o funcionamento do
protocolo SNMP e como duas ferramentas podem operar e
como configurar as máquinas e dispositivos a serem monito-
rados. Foi estudada, também, as MIBs, que formam a base
de dados que coletam e armazenam informações para se-
rem consultadas posteriormente pelo SNMP. Fez necessário,
também, um estudo sobre o RRDTool, que é um sistema para
o qual o Cacti funciona como front-end.
O terceiro passo foi a instalação dos softwares Cacti e MRTG
em duas máquinas distintas, porém com mesma configuração. A
configuração igual reduz possíveis divergências de capacidade de
processamento para a realização das tarefas. E permite uma com-
paração da necessidade computacional exigida pelos dois siste-
mas e seus impactos sobre o gerente da rede. Foram utilizados
dois computadores: CPU1 (Cacti) e CPU2 (MRTG) configurados
com Processador: Dual 2.4 Xeon (IBM 335), Memória RAM: 2 Gb e
Sistema Operacional Debian. Com os computadores inseridos na
rede local da unidade II do CEFET-MG foi iniciado o monitoramen-
to dessa rede de tráfego heterogêneo, buscando obter alguns da-
dos, como tráfego da rede, pontos de falha na rede, quais serviços
estão ativos, utilização da rede pelos usuários. Com a coleta de
dados dos dois sistemas foi feita uma análise das duas ferramen-
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tas, buscando obter o desempenho de cada uma delas.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tanto o Cacti como o MRTG permitem adicionar disposi-
tivos com o agente SNMP ativo. Sendo que o Cacti, em sua
instalação padrão, permite a monitoração de outras informa-
ções, além do tráfego da rede, como o uso de CPU, disco
e memória, números de processos em execução. Por outro
lado, o arquivo de configuração padrão gerado pelo MRTG
restringe-se apenas ao tráfego da rede.
Os dois softwares podem ter seus serviços de coleta
de dados expandidos pelo uso de scripts diversos. O Cacti
permite a incorporação de scripts e consultas SNMP mais
facilmente, através da importação de templates. Já o MRTG
requer que o script seja repassado como alvo para a con-
sulta através do arquivo de configuração para a geração do
gráfico. Com o plugin Discovery, o Cacti permite uma busca
pela rede por dispositivos com o SNMP ativo, porém ainda
não monitorados, o que facilita bastante o trabalho do admi-
nistrador da rede.
Ambas as ferramentas possuem sistema de alerta caso
algum dado monitorado atinja algum limite pré-estabelecido
pelo administrador. O MRTG possui alguns comandos no ar-
quivo de configuração para a realização de tal tarefa, bastan-
do, apenas, configurá-lo para informar quando esse limite for
ultrapassado ou atingido. Já o Cacti necessita da instalação
de alguns plugins, no caso, Thold e Settings para permitir
alertar via e-mail ou outra forma o acontecimento.
O Cacti possui uma interface mais simples, possibilitando um
uso mais fácil. Ele apresenta um menu lateral com as opções dis-
poníveis para modificação de seus serviços. Para realizar a mesma
tarefa no sistema MRTG é necessário saber o comando específico
dentro do arquivo de configuração, de modo a poder editá-lo para
realizar a tarefa desejada, sendo necessário um conhecimento
maior do que para a utilização do Cacti.
O Cacti apresenta um sistema de alocação dos dispositi-
vos em árvores, o que possibilita ao administrador separá-los
por grupos, facilitando assim o controle dessas informações.
Enquanto o MRTG não apresenta essa possibilidade, poden-
do no máximo colocar em um mesmo arquivo de configura-
ção dados de diversos hosts para serem gerados em uma
única página.
Através do plugin Monitor, o Cacti pode monitorar a situação
da rede em tempo real, recebendo informações sobre os hosts e
emitindo alertas caso algum deles não esteja operante.
Tanto o Cacti como o MRTG possibilitam a edição dos
gráficos alterando valores de legendas, criação de fórmulas
para conversão de unidades, edição das escalas, cores e
outras informações, dessa forma, são semelhantes nesse
aspecto. Mas por trabalhar com o RRDTool, como um front-
-end para ele, o Cacti possibilita a geração de gráficos mais
detalhados, com suporte a coleta de dados a cada minuto;
arquivos de logs com tamanho fixo. E o MRTG, por sua vez,
não apresenta tais características em sua instalação padrão,
porém pode incorporá-las instalando o RRDTool à parte.
FIGURA 3: COMPARAÇÃO GRÁFICOS MRTG
(CPU2) VS CACTI (CPU1)
Fonte: Os autores
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FIGURA 4: GRÁFICO COM TRÁFEGO ETHERNET
NO MRTG 9(CPU2)
Fonte: Os autores
FIGURA 5: GRÁFICO COM TRÁFEGO ETHERNET NO CACTI (CPU1)
Fonte: (Os autores)
Verificando os dados apresentados, percebe-se uma maior definição nos gráficos gerados pelo Cacti, que apresenta uma divisão
maior da escala, proporcionando um melhor detalhamento sobre o tráfego. Apresentando assim dados mais realísticos e possibilitando
visualizar melhor quaisquer alterações nas medições. O Cacti também mostrou ser mais amplo na variedade de informações que pode
requisitar em sua instalação padrão.
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5. CONCLUSÃO
Nesse trabalho foi realizado um gerenciamento efetivo de
uma rede heterogênea com tráfego também heterogêneo, atra-
vés das ferramentas de gerência de rede Cacti e MRTG.
O Cacti mostrou-se superior ao MRTG, apresentando diversas
funcionalidades adicionais implementadas em sua instalação pa-
drão, bem como uma possibilidade de expansão, por meio de plu-
gins, superior a esse. Essa diferença se deve, em grande parte, ao
fato do Cacti ser mais novo, possuir diversas comunidades para in-
teração de usuários e desenvolvedores, fóruns direcionados à fer-
ramenta, o que promoveu um grande avanço no desenvolvimento
da ferramenta e de complementos para ela. Já o MRTG perdeu
espaço com o passar do tempo, tendo sua utilização reduzida,
apesar de ainda se manter ativo e operante, além de manter um
grupo de desenvolvimento para ele.
Diante dessa superioridade apresentada pela ferramen-
ta Cacti, ela mostrou-se mais adequada para a gerência da
rede em questão. Porém ela apresenta falhas no quesito de
armazenamento de dados a longo prazo. Armazenando infor-
mações de um período máximo de um ano. Sendo que, para
manter o tamanho do arquivo constante, ele deve reduzir a
quantidade de dados antigos, fazendo uma média de alguns
valores para armazenar dados novos. Essa restrição limita o
tempo máximo de comparação da situação da rede a um ano.
TABELA 1: DIFERENÇAS ENTRE AS FERRAMENTAS CACTI E MRTG
126 | PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785
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NOTAS DE FIM1 Professor 1o. e 2o. graus do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais na modalidade presencial e a distância nas disciplinas de sistemas operacionais e redes de computadores. Doutorando na Universidade Cruzeiro do Sul na área de ensino de ciências e matemá-tica, possui Mestrado Em Tecnologia pelo Centro Federal de Educa-ção Tecnológica de Minas Gerais (2002) e graduação em Engenharia Elétrica pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1984). [email protected]
2 Analista de sistemas da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerias. Possui graduação em Ciências da Computação pela Universidade Federal de Minas Gerais. [email protected].
PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 2013/2 - NÚMERO 8 - ISSN 2176 7785 l 127