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LIVRE ADAPTAÇÃO DO LIVRO “A CANÇÃO DE TODAS AS CRIANÇAS”, Uma história de Elifas Andreato com músicas de Toquinho
para a Declaração Universal dos Direitos da Criança
POR DALLVA RODRIGUES
"Você deve citar a autoria de Dallva Rodrigues e o site
http://recantodasletras.com.br/autores/dallvarodrigues”
CONTATOS: 88 9 9943 8916
Em busca do Tesouro Perdido
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“A Canção de Todas as Crianças” de Elifas Andreato, baseada na última pagina d’O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, que encerrava o livro com um recado aos leitores para que, se vissem um menino de cabelos de ouro, que o avisassem imediatamente. Dessa maneira, ele saberia que seu pequeno amigo voltara. Com o objetivo de valorizar a infância e chamar a atenção para os grandes problemas da criança brasileira, o autor conta uma história interligada aos 10 princípios da Declaração, que na época de sua criação, em 1979, completava 20 anos. Nossa história, enfim, começa pelo final da outra, debaixo de uma solitária estrela no deserto. Descobrimos que o menino desaparecido era a infância do velho aviador, que envelhecera procurando um tesouro de sonhos e esperanças, sem perceber que jamais poderia encontrá-lo, porque a infância passa e ficam apenas as lembranças desse tempo de inventar o mundo e fazer o próprio destino. As personagens deste espetáculo possuem traços infantis. Com exceção do aviador, são fruto da imaginação das crianças e da criança que um dia ele foi. São consideradas no contexto da peça como uma parte fundamental que completa o significado e desvenda o mistério que envolve o tesouro procurado. O espetáculo é composto por músicas de Toquinho, que segundo o autor são: “... Pequenas canções para tentar consertar o futuro. Que, espero sinceramente, seja mais feliz que meu passado de velho palhaço, que ainda ri – quem sabe de desespero – por saber que, infelizmente, a vida da grande maioria das crianças não tem graça nenhuma.” Sinta-se convidado a viajar conosco em busca desse tesouro perdido! Nosso maior tesouro: A NOSSA INFÂNCIA!
Direção Dallva Rodrigues
Texto Elifas Andreato Músicas Toquinho
Em busca do Tesouro Perdido
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PERSONAGENS BASEADOS NA HISTÓRIA DE “O PEQUENO PRÍNCIPE”, DE ANTOINE DE SAINT-
EXUPÉRY
Avoar Passos Dias (Aviador): é inseguro, sonhador e ansioso. Tem uma relação muito carinhosa
com as outras personagens. Trata-as como se fossem seus brinquedos, mostrando-se paciente em todas
as situações de conflito. É o centro absoluto das atenções do grupo, uma vez que todas as personagens
são resultado da sua imaginação. As reações e as características da personalidade do próprio Aviador.
Charlito: É uma homenagem ao Carlitos, personagem de Charles Chaplin, ídolo de Avoar, que o imagina
como um anjo. Charlito representa a incapacidade do Aviador de se comunicar com os outros durante a
infância, os tropeços e constrangimentos de seu crescimento.
Gargalhada: um palhaço que, na infância do Aviador, era um de seus brinquedos.
É um “saco de risadas”, um dos preferidos de seu dono, que se divertia muito em apenas ouvi-lo
gargalhar. No espetáculo, Gargalhada ganha vida para ser o alter-ego do Aviador, ou seja, aquela que fala
claramente tudo o que Avoar não consegue ou não quer dizer. É brincalhão, zomba de tudo, mas é
também quem provoca todos os conflitos.
Cordélia: é uma boneca de pano, outra lembrança da infância do Aviador. Era a boneca preferida da irmã
de Avoar, mas ele às vezes a carregava até seu quarto, para dormir com ela. É linda. Inspiração de seus
desenhos naquela época em que as crianças brincam apenas com o que acham bonito e não se preocupam
em fazer distinção de sexo.
Tilin: Boneca oriental, também da irmã do Aviador. Tilin é a recordação das dificuldades de Avoar com a
matemática, ainda nos primeiros anos de escola. Ele nunca conseguiu contar quantas estrelas havia no
quimono azul-celeste da boneca. Ela representa seu céu de dúvidas e confusões mentais.
OUTRAS LEMBRANÇAS DO NOSSO HERÓI
Soluço: é o alcoólatra divertido e sonhador que perdeu a luta contra a bebida e não se deu conta disso. Mais
do que patético, é emblema de um problema social grave que aflige várias famílias e constrange milhões de
crianças por todo o mundo.
Dr. Fortuna: É a ganância, a riqueza obtusa que só dá valor ao dinheiro. Construiu seu mundo
acumulando bens, sem se preocupar em cultivar qualquer virtude humana.
Eu-de-mim: é a vaidade exacerbada, a falta de diálogo com as crianças, o egocentrismo dos
adultos, preocupados apenas com seu cotidiano. É a indiferença daquelas que não ouvem as
crianças porque não as levam a sério não as consideram indivíduos.
Rei-do-Nada: é o autoritarismo cego que pensa que criança precisa apenas de disciplinas rígidas e não
consegue vê-los como seres humanos pensantes, apesar de jovens e inexperientes.
Ecoluco: é um espantalho solitário cujo objetivo na vida é espantar todos os predadores do meio
ambiente. É a consciência de que a vida na Terra corre permanente perigo.
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CENA 1: UM SONHO
Cenário: Aeroporto no deserto, com algumas caixas e outras lembranças do Aviador.
Com o palco ainda escuro, uma voz gravada ou emitida sem que se veja o locutor anuncia o espetáculo enquanto a
luz ilumina o cenário lentamente, revelando ao público nosso herói dormindo sobre sua mochila, ao lado de um velho avião
vermelho.
Durante o sono do Aviador, um elenco de bailarino, vestindo figurinos com cores e formas de bandeiras de diversos
países, dança uma “representação” da letra da música, que é o sonho do nosso herói.
Este primeiro número musical é a introdução da história que contaremos a seguir. Por isso, precisa ser atraente e
divertida, além de destacar os contrastes contidos na letra da música.
Voz em off (ou uma fadinha na abertura)
- Nosso espetáculo é dedicado a Antoine de Saint-Exupéry, um aviador que escreveu o Pequeno Príncipe, uma
linda história de amizade entre um escritor e um menino no deserto, a Charlie Chaplin, que, sem falar, fez o
mundo rir e chorar com sua arte, e a John Lennon, que imaginou um mundo sem guerras e sem fronteiras...
... nossa história começa onde acabou uma outra... quando, debaixo de uma estrela, nosso herói viu
desaparecer seu tesouro...
Deveres e Direitos
(1° Princípio – A criança tem direito á igualdade, sem distinção de raça, religião ou nacionalidade). Crianças
Iguais são seus deveres e direitos
Crianças
Viver sem preconceito é bem melhor
Crianças
A infância não demora, logo, logo vai
passar
Vamos todos juntos brincar
Meninos e meninas
Não olhem religião, nem raça
Chamem que não tem mamãe
Que o papai ta lá no céu
E os que dormem lá na praça
Meninos e meninas
Não olhem religião, nem cor
Chamem os filhos do bombeiro
Os dois gêmeos do padeiro
E a filhinha do doutor
Crianças
Iguais são seus deveres e direitos
Crianças
Viver sem preconceito é bem melhor
Crianças
A infância não demora, logo, logo vai
passar
Vamos todos juntos brincar
Meninos e meninas
O futuro ninguém adivinha
Chamem quem não têm ninguém
Pois criança é também
O menino trombadinha
Meninos e meninas
Não olhem cor nem religião
Bons amigos valem ouro
Amizade é um tesouro
Guardado no coração
Chamem quem não têm mamãe
Que o papai ta lá no céu
E os que dormem lá na praça
Bons amigos valem ouro
A amizade é um tesouro
Guardado no coração.
CENA 2: NOSSO HERÓI ENCONTRA SUA IMAGINAÇÃO
Cenário: Aeroporto no deserto, com caixas.
O sol invade o pequeno hangar, despertando nosso herói, que se prepara para partir em busca de seu tesouro
perdido. Ainda sonolento, ele veste sua antiga capa de aviador, examina mais uma vez o velho “mapa”, que não parece
mapa: é apenas uma estrela desenhada numa paisagem árida com um deserto. Junta as poucas coisas que tem, a touca de
couro, os antigos óculos de piloto, a velha mochila e, quando se dirige ao velho avião para seguir viagem, ouve uma risada
abafada. Desconfia das coisas ali abandonadas. Vai até as caixas – dessas de madeira que são usadas para transportar coisas
em aeroportos – e decide examinar seus conteúdos. De uma pintada com figuras de circo salta um palhacinho gargalhando,
rindo muito (ele é um saco risadas).
Gargalhada (depois de gargalhar muito) - Voltou, heim? Finalmente! Deu saudades? A que devo tão ilustre
visita?
Aviador (atônito, sem entender o que está acontecendo) - Ué... você fala?
Gargalhada (tapa a boca com a mão) - Não... não falo, não.
Aviador - Mas tá falando.
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Gargalhada - Não, cara, vê se te acha! É a sua imaginação que inventou a minha voz. Eu falo o que você
imagina. Entendeu?
Aviador - Não.
Gargalhada - É sim. Sou sua imaginação. Você pensa em mim... e eu apareço (aproxima-se do aviador,
cheira-lhe a capa e tapa o nariz com cara de nojo) Ainda é a mesma? Que nojo!
Aviador - Como, a mesma? Quem é você? Como sabe que eu não lavo a capa?
Gargalhada - Pelo cheiro! (gargalhando) Não. (pára de rir) Vou explicar mais uma vez. Sou uma lembrança
sua, mas não se preocupe, não. É normal falar com brinquedos quando se está sozinho. E, por falar em
solidão, que tal dar uma boa risada, heim? (e começa a gargalhar)
Aviador (rindo, timidamente) - Pára com isso... não tenho mais tempo para rir... acho que perdi o jeito.
Gargalhada - Vamos, vamos rir. Eu te ensino de novo.
Aviador - Não, preciso partir, tenho muito o que fazer...
Gargalhada - Fazer o quê? Por que a pressa?
Aviador - Procurar um tesouro perdido. (apressado, junta as velhas coisas)
Gargalhada - Êba! Um tesouro! (pensa) Peraí, que tesouro?
Aviador - É uma história longa, não dá pra falar agora. Vamos.
Gargalhada - Calma. Vai precisar de ajuda, não vai?
Aviador - Não sei. Que tipo de ajuda?
Gargalhada - Da sua imaginação... que sou eu! Pelo menos uma parte dela eu sou. (gritando) Meninas,
meninas, o “hôme” tá com pressa. Vamos saindo, saindo... (bate nas caixas de maneira engraçada)
De uma caixa azul, pintada com sóis, luas e estrelinhas sai uma bonequinha oriental caminhando em direção ao
aviador com passinhos curtos de gueixa.
Tilin - Lembra di mim?
Aviador - Não... e porque lembraria?
Tilin - Lembra sim. Na última vez que contamos estrelas juntos, contamos quatrocentos e cinqüenta e oito
bilhões, trezentos e vinte e quatro milhões, cento e cinqüenta mil e... quatro... é, acho que foram quatro.
Gargalhada (irritado) - Ela passa a vida contando estrelas e nunca sabe quantas contou. Dá pra entender um
negócio desse! Ou melhor, uma conta dessa? (gargalha)
De uma caixa colorida com as cores do arco-íres sai uma boneca de pano.
Cordélia (saindo da caixa com paleta de pintura na mão) - Ô palhaço! Olha o respeito com as damas. Não
vem, não! Ela tem o direito de contar e recontar quantas vezes quiser e você não tem nada a ver com isso, tá
intendendo?
Aviador - Peraí, peraí, que confusão é essa? Quem são vocês, afinal?
Gargalhada (para o público) - O cara não entende mesmo... (gestos de que o Aviador é lelê da cuca)
Cordélia (mistura as tintas na paleta) - Eu sou a boneca da sua irmã, que às vezes você admirava pelas cores
que tenho, lembrou?
Aviador - Não, e porque lembraria?
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Cordélia (exagerada) - Quem é que recolhia a sujeirada que você fazia no quarto quando pintava? Quem era a
faxineira das tintas, não lembra, não?
Aviador (encabulado) - Não! Era a mãe que limpava tudo... E brigava comigo.
Cordélia (debochada) - Que mãe, que nada! Eram essas “mães” (mostra as próprias mãos) que recolhiam
restos de tinta e limpavam o que você lambuzava. (calma) Vê essas cores (mostra a paleta) Se eu misturar
todas, que cor vai virar?
Aviador - Nem imagino...
Gargalhada - Como não imagina, cara? Se essa história é só imaginação... é pura imaginação.
Tilin - E contas...
Aviador (confuso) - Peraí, que história é essa de limpar meu quarto, recolher restos de tinta...
Cordélia - Ora, se você não quer lembrar, tudo bem. Deixa para lá. (faz cara de quem acabou de lembrar algo
importante) Peraí, tá faltando gente nessa história de imaginação...
Gargalhada - Não, pelo amor de Deus, Cordélia, deixa ele na caixa! Tá bom assim... Vai ser melhor pra todo
mundo, tô avisando.
A última caixa é preta e nela dorme um “Carlitos”.
NESSE MOMENTO CHARLITO DESPERTA, ESPREGUIÇA-SE, ABANA O PÓ DA ROUPA, AJEITA A
GRAVATA BORBOLETA, CAMINHA COMO CARLITOS CAMINHAVA E CUMPRIMENTA TODOS RETIRANDO
DA CABEÇA O CHAPÉU COCO BRANCO, CURVANDO-SE PARA FRENTE, COMO FAZEM OS ARTISTAS
AGRADECENDO OS APLAUSOS.
Aviador (surpreso) - Ele também é minha imaginação?
Gargalhada - A pior parte dela. (gargalha)
Cordélia - Olha o respeito! Deixa de ser preconceituoso. Deixa o Charlito em paz. (bate em Gargalhada)
Gargalhada (para o público) - Ele não fala, faz tudo errado e vive sonhando... no mundo da lua. É um chato,
isso sim! E tem mais: nunca vai aprender coisa alguma.
NA INTRODUÇÃO, CHARLITO, COM GESTOS, COMUNICA AO PÚBLICO QUE VAI REGER UMA
MÚSICA PARA ENSINAR O BOBALHÃO DO GARGALHADA QUE É ERRADO QUE SE APRENDE.
A coreografia mais uma vez dever realçar as situações de erros e acertos descritas na letra da música e aproveitar as
mais cômicas para explorar a personagem Charlito em cenas do tipo pastelão dos filmes antigos.
Errar é Humano
(2° Princípio – A criança tem o direito de ser compreendida, deve se desenvolver em condições de igualdade
de oportunidades, com liberdade e dignidade).
Não, não é vergonha, não
Você não o melhor da escola
O bom de skate
O bom de bola
Ou de natação
Não, não é vergonha não
Aprender a andar de bicicleta
Se escorando em outra mão
Não, não é vergonha, não
Você não saber a tabuada
Pegar uma onda
Contar piada
Rodar pião
Não, não é vergonha não
Precisar de alguém que ajude
A fazer sua lição
A vida irá, você vai ver
Aos poucos te ensinando
Que o certo é você aprender
Errando, errando, errando
Não, não é vergonha, não
Você ser da turma o mais gordinho
Ter pernas tortas
Ser baixinho
Ou grandalhão
Não, não é vergonha, não
Todos sempre têm algum defeito Não existe a perfeição.
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Aviador - Muito bem, Charlito! Valeu!
Gargalhada - Ô Charlito! Você foi demais! Você é o cara, rapaz! Merece até uma foto. Faz pose, aí! Diga
xixi (com uma máquina que sai água, Gargalhada molha Charlito e cai gargalhando). Tá vendo! Não
adianta. Esse cara não tem jeito! Bobão!
Cordélia - Larga do pé dele, Gargalhada! Pára com isso...
Tilin - É isso mesmo, seu saco. Você é só um saco! Saco só de risada, não tem nada por dentro. Só tem vento!
Gargalhada - Saco, sim, e com muito orgulho... E tem mais meninas (CHARLITO REAGE, NEGANDO
QUE SEJA MENINA): sou EU que faz todo mundo aqui rir (gargalha). É o meu RISO que faz todo mundo
mais feliz. (sério, provocando Charlito) Tá bom pra você, ô mímico?
COM UMA SÉRIE DE GESTOS, CHARLITO CHAMA A ATENÇÃO DE TODOS. À MEDIDA QUE VAI
GESTICULANDO, CORDÉLIA, DECIFRA O QUE ELE DIZ. ELE AFIRMA QUE SABE QUAL É E ONDE ESTÁ O
TESOURO.
Cordélia - Ele está dizendo que sabe qual é e onde está o tesouro que você tanto procura... (falando para o
aviador)
Aviador - Você sabe onde ele está?
CHARLITO REAFIRMA E FAZ GESTOS DE QUEM PULA AMARELINHA E SOLTA PIPA. SEMPRE
TENTANDO CHAMAR A ATENÇÃO DE TODO PARA SUAS BRINCADEIRAS.
Gargalhada (contando a linha da pipa de Charlito) - Que sabe, nada. Ele é maluco. Dá pra levar a sério?
Esse cara é coisa de gibi... de filme... sei lá! Mas daqui isso não é mesmo!
Tilin (examinando o Águia Vermelha) - E você vai procurar seu tesouro nessa lata velha? Não dá para
arranjar “algo” mais moderno, não?
Cordélia - Pelo menos mais colorido... Só vermelho cansa. (fresca)
Aviador - Olha, não é bem assim, não. O Águia Vermelha está equipado com o que há de mais moderno na
aviação... hoje.
Tilin - Se fosse um helicóptero, a gente parava lá no alto e contava mais estrelas. E lá, mais perto delas, todas
seriam mais brilhantes...
Cordélia - Que lindo, Tilin, isso é pura poesia!
Aviador - Não! Não posso trocá-lo por nada... porque se o meu tesouro, numa dessas viagens pelo deserto,
identificar o Águia Vermelha, saberá que estou chegando... voltando para ele...
Todos (espantados) - O que? Tesouro que vê? Nunca vi... (se olham) Vimos?
Aviador – Meu tesouro tinha olhos, sim. Disso me lembro bem. Via coisas, cores... pipa no céu, pião,
carrinho brincando não chão...
Gargalhada (debochando, andando em círculos) - É a vida, meu irmão. É assim mesmo. O tempo passa... e
ficam as lembranças...
Tilin - E o tempo também faz contas. Conta os dias e as noites, e quando vai passando deixa no seu rastro
estrelinhas brilhantes que são lembranças... da vida vivida, minutos, segundos, horas... (atrapalha-se com o
raciocínio) sei lá...
Gargalhada (enfezado) - Pode parar! Nós viemos aqui pra rir ou pra chorar? Parem com isso, gente! Isso aqui
é uma história pra crianças! Tem que ser divertida! Saco!
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Cordélia (choramingando) - É, mas as cores desbotam com o tempo, e isto é muito triste, sabe?
Aviador (interrompendo o choro de Cordélia) - Tudo bem. Vamos mudar de assunto, vamos pensar em outra
coisa. Já que vocês são a minha imaginação, vamos juntos procurar o tesouro.
Gargalhada - Não! Nesta lata velha eu não vou. Tô novo, cara. Tenho muito que viver... e você também,
cara... sem você eu não existo, só tô vivo na sua imaginação e, se você não imaginar mais, o que é que eu
faço? E esse público (dirige-se ao público) que vem me prestigiar, como é que fica?
Aviador - É seguro, não tenha medo. Vamos.
Tilin - Eu não!
Cordélia - Também não! Não tô maluca.
CHARLITO SINALIZA QUE TAMBÉM NÃO VAI.
Gargalhada (para o Aviador) - Vai não, ele tá dizendo, viu?
Aviador - Tudo bem. Se não querem ir... vou sozinho...
Todos - Não! É perigoso! (com medo) Nós vamos...
Dirigem-se ao avião e a luz apaga. No escuro ouve-se barulho de motor, lata batendo e gritos de medo.
CENA 3: SOZINHO NO DESERTO
Cenário: Deserto.
No palco pouco iluminado, nosso herói tira o pó da velha capa e tosse muito, envolvido por uma densa nuvem de
fumaça e poeira. O pouso no deserto foi desastroso. Quando percebe que está sozinho, se desespera. Corre de um lado para
outro chamando sua imaginação.
Aviador - Ei! Onde estão vocês? Respondam, por favor! (tenta desesperadamente expulsar a nuvem de
poeira do palco) Voltem! Preciso de vocês, não me deixem aqui! (de repente, pára e pensa) Peraí, se são
todos a minha imaginação... é só imaginar e eles aparecerão. (fecha os olhos)
Aparece Gargalhada.
Gargalhada (também tirando o pó da roupa, indignado) - Eu não falei, cara? Essa lata velha não funciona
mais. Pra que insistir... vai acabar matando todo mundo...
Aviador - Não tem nada a ver com o Águia Vermelha, foi só mau tempo, coisa comum no deserto. Foi só
uma tempestade de areia, tá tudo bem.
Gargalhada - E põe areia nisso! E os outros? Vai imaginá-los ou abandoná-los na poeira? Se vai, pensa bem,
imagina só as meninas, deixa o... aquele... deixa ele na poeira, ele gosta...
Aviador - Nada disso. Ou imagino todos ou você desaparece. Cada um não é uma parte de mim?
Gargalhada (vaidoso) - São, mas algumas partes são mais importantes... Divertidas...
Aviador (ameaçando) - Nada disso. Ou são todos...
Gargalhada - Tá legal! Chama a corja toda. Se é o que você quer. (indiferente)
Aviador - Não são todos minhas lembranças, recordações de minha vida?
Gargalhada - Tá bom, chega de choradeira, daqui a pouco tá todo mundo chorando na platéia. Vamos,
imagina logo!
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Cordélia e Tilin entram espanando o pó da roupa do Charlito com um grande espanador de penas.
CHARLITO COM GESTOS, AVISA O AVIADOR QUE NÃO ENTRA MAIS NAQUELE AVIÃO.
Cordélia - E agora, mané? Quem conserta essa geringonça?
Tilin - Eu não entendo nada de aviões.
Gargalhada - E quem entende? O cara aí (mostra o Aviador) passou a vida toda nessa porcaria. Diz que não
pode abandoná-lo, que tá equipado, e me faz um pouso desse? Tenha dó, tá de mal com a vida, só pode ser!
Aviador - Não é nada disso. A gente dá um jeito. Me lembrei de uma coisa. Quando vocês se perderam...
Gargalhada (zombando) - No desastre!
Aviador - É. Eu não sabia como chamá-los, não sei o nome de vocês.
Cordélia - Ué? Já esqueceu? Mas é cara-de-pau, admirava tanto as minhas cores, e agora vem com essa, não
lembra o meu nome. Isso é pior que traição. Não suporto indiferença (fazendo pouco caso).
CHARLITO, COM GESTOS, PEDE AO AVIADOR QUE ELE DIGA SEU NOME.
Gargalhada - Não! Ele não vai dizer, vai? Duvido que ele vai falar o próprio nome... (para o Aviador)
Aviador - Não me lembro. Todo mundo só me chama de Aviador.
Gargalhada - Não, não, não! Sabichão! Você sabe sim e não quer falar. Olha que eu falo.
Tilin - Ué, nome é nome, todo mundo tem... Ou não?
Aviador - Meu nome não interessa, quero saber o de vocês.
Gargalhada - É, não vai falar? Então falo eu (o Aviador tenta impedi-lo). O nome dele é “Avoar Passos
Dias”. (e cai gargalhando. Todos riem).
Para este balé, sugerimos que atores e bailarinos brinquem com placas ou bandeirolas com sílabas que possam,
durante a coreografia, formar nomes próprios e apelidos.
Gente Tem Sobrenome
(3° Princípio – A criança tem direito a um nome e uma nacionalidade)
Todas as coisas têm nome
Casa, janela e jardim
Coisas não têm sobrenome
Mas a gente sim
Todas as flores têm nome
Rosa, camélia e jasmim
Flores não têm sobrenome
Mas a gente sim
O Jô é Soares, Caetano é Veloso
O Ary foi Barroso também
Entre os que são Jorge
Tem um Jorge Amado
E o outro que é o Jorge Bem
Quem tem apelido
Dedé, Zacarias, Mussum e a Fafá de
Belém
Tem sempre um nome
E depois do nome
Tem sobrenome também
Todos brinquedos têm nome
Bola, boneca e patins
Brinquedos não têm sobrenome
Mas a gente sim
Coisas gostosas têm nome
Bolo, mingau e pudim
Doces não têm sobrenome
Mas a gente sim
Renato é Aragão, que faz confusão
Carlitos e o Charles Chaplin
E tem um Vinicius, que era de Moraes
E o Tom Brasileiro é o Jobim
Quem tem apelido, Zico, Maguila, Xuxa,
Pelé e He-Man
Tem sempre um nome
E depois do nome
Tem sobrenome também.
Os bailarinos saem, os atores ficam em silêncio tentando ouvir um som estranho que começa baixinho e vai
aumentando. É um som de barriga roncando.
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TODOS SE APROXIMAM DE CHARLITO, O SOM AUMENTA E ELE, DESENGONÇADO, TENTA
DISFARÇAR O BARULHO.
Tilin - Charlito, é a sua barriga que está roncando assim?
O som continua intermitente e alto. O Aviador, à distância, assiste à cena e se diverte.
Cordélia - Gente, eu também tô com fome.
Gargalhada - Tudo bem, mas vamos devagar, devagarinho. Se encher demais a barriga do mímico, o som
pode sair por outro lugar. (faz gestos de soltar pum, imita o barulho com a boca e gargalha)
Tilin - Ô cara sujo! Pára com isso...
Cordélia - É um grosso... Mau educado! É VOCÊ, seu saco de risada, quem faz essas malcriações. Cansei de
ver, em circos, essa sua raça de palhaços fazendo essa mesma brincadeira sem graça pra ganhar dinheiro!
Gargalhada - Não ofende, não! Não mexa com a minha turma. Palhaço é coisa séria. (trocam empurrões e o
Aviador intervém)
Aviador - Calma, minha gente. Minha imaginação tá nervosa... E isso é fome.
Tilin - É, barriga vazia dá nos nervos... Irrita...
Cordélia - E como irrita! (peitando o palhaço)
Gargalhada - Ô Avoar (rindo), dá pra imaginar comida?
Tilin - E tem que ser pronta. Aqui não dá pra escolher feijão. E olha que eu adoro escolher “feijões”.
CORDÉLIA CHAMA CHARLITO, QUE CHEGA COM AS MÃOS NA BARRIGA, SE CONTORCENDO DE
FOME, E O RONCO AUMENTA.
Aviador - Vamos todos comer.
Todos - Comer o quê?
Aviador - Imaginação!
Para esta coreografia, sugerimos o uso de cordões e fitas coloridas, em movimentos de balé clássico.
De Umbigo A Umbiguinho
(4° Princípio – A criança tem direito à alimentação, deve crescer com saúde e a mãe deve ter cuidados
médicos antes e depois do parto).
Muito antes de nascer
Na barriga da mamãe já pulsava sem
querer
O meu pequenino coração
Que é sempre o primeiro a ser formado
Nesta linda confusão
Muito antes de nascer
Na barriga da mamãe
Já comia pra viver
Cheese salada, bala ou bacalhau
Vinha tudo pronto e mastigado
No cordão umbilical
Tanto carinho, quanta atenção
Colo quentinho
Ah! Que tempo bom
De umbigo a umbiguinho
Um elo sem fim
Num cordãozinho da mamãe pra mim
Num cordãozinho da mamãe pra mim
Muito antes de nascer
Na barriga da mamãe me virava pra
escolher
A mais confortável posição
São nove meses sem se fazer nada
Entre água e escuridão
Muito antes de nascer
Na barriga da mamãe começava a
conviver
Com as mais estranhas sensações
Vontade de comer de madrugada
Marmelada ou camarões
Tanto carinho, quanta atenção
Colo quentinho
Ah! Quem tempo bom
De umbigo a umbiguinho
Um elo sem fim
Num cordãozinho da mamãe pra mim
Num cordãozinho da mamãe pra mim
No final, os bailarinos e o Aviador deixam o palco. Gargalhada bate na barriga estufada.
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Gargalhada - Não é que esse negócio de imaginar funciona mesmo. Que maravilha... eu, por exemplo...
(faz suspense) tô com uma baita fome! (cai gargalhando) Olha só! (apontando) O Charlito comeu tanto que
não consegue nem falar. Entendeu? Nem falar! (gargalha)
Tilin - Pára, Gargalhada! Você não pode zombar da deficiência das pessoas assim. Deixa o Charlito em paz!
Gargalhada - Ah é? E quem falou isso pra você? Peraí! Deixa eu adivinhar. Foi o Charlito? (cai novamente
gargalhando. Cordélia e Tilin o expulsam do palco e saem com ele)
CHARLITO FICA SOZINHO NO PALCO, ILUMINADO POR UM ÚNICO REFLETOR.
Inicia-se mais um número musical, Natureza Distraída. Este é o mais delicado tema da Declaração dos Direitos da
Criança, por isso, dever ser encenado com muito ensaio para que o público compreenda sua mensagem.
Natureza Distraída
(5° Princípio – A criança deficiente tem direito à educação e cuidados especiais).
Como as plantas somos seres vivos
Como as plantas temos que crescer
Com elas precisamos de muito carinho
De sol, de amor, de ar, pra sobreviver
Quando a natureza distraída
Fere a flor ou um embrião
O ser humano, mais que as flores,
Precisa na vida
Muito afeto e toda compreensão.
A luz se apaga.
CENA 4: NASCE UM NOVO DIA
Cenário: Deserto
A luz desta cena deve parecer o sol nascendo de mansinho, até estalar de quente. Deve provocar aflição nos
espectadores, afinal, as personagens estão ainda no deserto, longe de tudo e sem o velho avião, avariado no último pouso. E
todos têm uma missão a cumprir: encontrar o tesouro do Aviador.
Gargalhada (pensativo, andando em círculos e estalando no assoalho as pontas das suas grandes botinas) -
Preciso descobrir que tesouro é esse. Passei a noite toda pensando nele... e cá entre nós... (para o público) não
dá pra entender um tesouro que vê, se a gente passar por ele... (Aviador aparece e Gargalhada disfarça)
Aviador (efusivo) - Bom dia, Gargalhada!!!
Gargalhada - Ta rindo de que? Como bom dia? Estamos aqui neste fim de mundo e com essa lata velha
enguiçada... Me diga como é que vamos encontrar esse seu tesouro que tem olhos?
Aviador - A pé!
Gargalhada - O quê? Nesse calor... você ta maluco!
Aviador - Não tem outro jeito... com o Águia quebrado...
Gargalhada (irritado) - Que Águia, nada, isso aí é sucata. Isso não voa nunca mais.
Aviador - Calma, vamos consertá-lo. Mas só depois de acharmos o tesouro.
Gargalhada - E como é que você vai carregar esse tal tesouro? Se é que existe tal tesouro...
Aviador - Boa pergunta (pensativo). Afinal, eu nem sei como é esse tesouro e talvez não possa mesmo
carregá-lo...
Gargalhada - E, por falar em carregar, onde estão os outros “malas” da sua imaginação?
Aviador - E como vou saber?
Gargalhada - Vê se te liga, cara! Estão aí na sua cabeça. Vamos, imagina, que o tempo ta passando.
Em busca do Tesouro Perdido
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ENTRAM CHARLITO, TILIN E CORDÉLIA, CHATEADOS.
Aviador - O que foi?
Cordélia - Não entendemos a demora.
Aviador - Demora de quê?
Cordélia - Da tua imaginação, tá ficando esquecido.
Tilin - Mas do Gargalhada ele não esquece.
Gargalhada - Lá vem cena de ciúme. Mas, afinal, alguém aí sabe que tesouro é esse que esse aviador tanto
procura?
CHARLITO, MAIS UMA VEZ, INSISTE QUE SABE QUAL É E ONDE ESTÁ O TESOURO. COM GESTOS,
FAZ CARETAS, BRINCA DE PIÃO E CARRINHO DE CORRIDA.
Gargalhada (furando o pneu do carro do Charlito) - Ô, Charlito, pára com esse negócio. Ninguém entende
isso...
Tilin - Eu entendo, sim! Ele tá brincando de criança... Ou de ser criança.
CHARLITO, ANIMADO, MOSTRA QUE ELA TEM RAZÃO, MAS É INTERROMPIDO PELO AVIADOR E
FICA TRISTE.
Aviador - Pra saber como é o tesouro, temos que achar e, para achar, temos que procurar... Vamos!
Cordélia - Vem cá (puxa o Aviador). Você não sabe mesmo como é o seu tesouro? (todos prestam atenção,
curiosos)
Aviador - Bem, saber mesmo, eu não sei. Tenho algumas lembranças, mas são vagas, antigas... Mas, mesmo
assim, essas lembranças são lindas... (todos se comovem).
Gargalhada (num susto) - Olha aí, eu já avisei. Se bobear, a melancolia pega vocês... Cuidado!
Aviador - Tem razão, Gargalhada. Vamos fazer o que tem que ser feito. Vamos descobrir que tesouro é esse.
Tilin - Tudo bem, mas temos que começar por algum lugar.
Cordélia - Eu acho que está no pé do arco-íris!
CHARLITO DIZ QUE PODE SER.
Gargalhada - Não! Acho que está num circo!
CHARLITO SINALIZA QUE TAMBÉM ESTÁ.
Tilin - Já sei! Está numa estrela!
CHARLITO PULA, COMEMORA, DÁ CAMBALHOTAS, MAS É INTERROMPIDO MAIS UMA VEZ PELO
AVIADOR.
Aviador - Mas, como vamos encontrá-lo se ele está em todos esses lugares?
CHARLITO AVISA QUE SERÁ PRECISO BUSCAR O TESOURO EM TODOS ESSES LUGARES E EM
OUTROS TAMBÉM. AFIRMA, COM GESTOS, QUE NÃO SERÁ UMA TAREFA FÁCIL.
Em busca do Tesouro Perdido
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Gargalhada (chateado) - É uma estraga prazeres... Tava tudo bem, a gente já ia pro circo... (de repente,
divaga) Ah... o circo! Que saudades daqueles palhaços lindos que faziam rir as crianças em picadeiros
humildes...
Cordélia - Vejam só o saco de risada. Teve uma recaída, tá voltando a ser gente.
Tilin - Quem bom, assim vai contar estrelas de novo...
CHARLITO ABRAÇA E AFAGA GARGALHADA.
Aviador - É, parece que a minha imaginação está voltando ao normal de novo...
Gargalhada (empurrando Charlito) - Não vem, não. Não fica alegrinho não, porque a gente tem uma parada
dura pra resolver... Como é que a gente vai sair desse deserto, com esse avião encrencado?
Aviador - Encontrando o tesouro. Vamos procurá-lo. E cada um faz sua proposta.
Cria-se uma grande confusão, porque cada um quer seguir seu próprio plano.
Cordélia - O meu é mais bonito, colorido!
Tilin - O meu é preciso, exato!
Gargalhada - O meu é mais engraçado e cheio de risadas!
O AVIADOR TENTA ORGANIZAR A BAGUNÇA, QUANDO PERCEBE QUE O CHARLITO ESTÁ TRISTE,
QUASE CHORANDO.
Aviador - O que foi, Charlito?
CHARLITO GESTICULA. CORDÉLIA NOVAMENTE TRADUZ. ELE AINDA TRISTE, INSISTE QUE SABE
QUAL É E ONDE ESTÁ O TESOURO E DIZ, GESTICULANDO, QUE AQUELA CONFUSÃO NÃO AJUDA EM NADA.
Cordélia - Ele está dizendo que sabe qual é e onde está o tesouro...
Apressado, Avoar não dá muita atenção a Charlito.
Aviador - Vamos encontrar um jeito de procurar o meu tesouro respeitando todas as opiniões e pessoas aqui
presentes... Pessoas que sou eu, feito de cada um de vocês. Certo?
Todos – Certo! Vamos em frente!
Sugerimos para este número musical a utilização de móveis e objetos domésticos como adereços e a exploração de
situações cômicas da vida familiar de cada participante do grupo. Será divertido remeter ao público intimidades leves e
engraçadas descritas na letra da música.
Em busca do Tesouro Perdido
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Cada Um é Como É
(6° Princípio – A criança tem direito ao amor e compreensão, deve crescer sob a proteção dos pais, com afeto
e segurança para desenvolver sua personalidade).
Papai é como é
Entendo ele até
Sua vida não é mole, não
Sai pra trabalhar
Só volta pro jantar
Cochila em frente da televisão
Mamãe foi sempre assim
Cuidou sempre de mim
Uma adorável chateação
É um tal de toma banho
Escova os dentes
Troca de roupa
E vai fazer sua lição
Homem e mulher, que confusão
Cada um é como é
Por fora tudo bem
Por dentro, não
Ninguém parece com ninguém
Vovó é genial
Da casa é a mais normal
Com suas manobras radicais
Escondido ela me dá
Dinheiro pra gastar
E nunca conta nada
Pros meu pais
Vovô é o que há
Tem sempre pra falar
Uma novidade genial
Se esquece e conta
Sempre a mesma história
E adormece entre as notícias
Do jornal
Homem e mulher, que confusão
Cada um é como é
Por fora tudo bem
Por dentro, não
Ninguém parece com ninguém
Terminada a música, o balé sai.
CHARLITO, AINDA MAIS ANSIOSO, PEDE PARA PROCURAR O TESOURO. NOVAMENTE BRINCA.
DESSA VEZ DE BILA.
Gargalhada o interrompe.
Cordélia - Gargalhada! Outra vez?
Gargalhada (irritado) - Eu não agüento mais não entender o que esse cara quer dizer. Temos que dar um jeito
nisso, senão eu vou ficar maluco.
Cordélia (pensando um pouco) - Já sei! Vamos ensiná-lo a ler.
Tilin - Fazer conta, contar estrelas...
Aviador - Não temos tempo... e o tesouro? (preocupado)
Todos (gritando) - Vai esperar!
O balé para esta música ficará divertido se os bailarinos e atores vestirem jalecos com letras do alfabeto e
segurarem em cada mão outras letras, recortadas, de modo que possam formar palavras enquanto dançam.
CHARLITO DEVE ESTAR COM AS MÃOS SOLTAS, TENTANDO DESCOBRIR AS PALAVRAS
FORMADAS. COMO SEMPRE, PARECE TRAPALHÃO, CONFUSO E ENGRAÇADO.
Bê-a-bá
(7° Princípio – A criança tem direito à educação, para desenvolver as suas aptidões, as suas opiniões e o seu
sentimento de responsabilidade moral e social).
Quando a gente cresce um pouco
É coisa de louco o que fazem com a gente
Tem hora pra levantar
Hora pra se deitar
Pra visitar parente
Quando se aprende a falar
Se começa a estudar
Isso não acaba nunca
E só vai saber ler
Só vai saber escrever quem aprender o bê-
a-bá
E além do abecedário
Um grande dicionário vamos todos
precisar
Com A escrevo amor
Com B bola de cor
Com C eu tenho corpo, cara e coração
Com D ao meu dispor, escrevo dado e dor
Com E eu sinto emoção
Com F falo flor
Com G eu grito gol
Com H de haver eu posso harmonizar
Com I desejo ir
Com J volta já
Com L eu tenho luar
Com M escrevo mão, mamãe, manjericão
Com N digo não e o verbo nascer
Com O eu posso olhar
Com P papai e pá
Com Q eu quero querer
Com R eu posso rir
Com S sapoti
Com T tamanduá
Com U Urubupungá
Com V juro que vi
Com X faço xixi
No fim o Z da zebra.
Em busca do Tesouro Perdido
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Os bailarinos deixam o palco e um foco de luz no proscênio ilumina o primeiro dos cinco planos que levará nosso
herói e seus companheiros ao tesouro perdido.
Aviador - Bom, vamos tentar organizar e respeitar as opiniões de cada um. Para sermos justos, sugiro que
cada um escreva o lugar que acha que poderemos encontrar o tesouro. Depois, juntamos tudo em um saquinho
e sorteamos o nosso destino.
Todos aceitam a sugestão de Avoar e começam a escrever em seus papéis. À medida que vão terminando, depositam
os papéis em um saquinho azul com estrelinhas brancas que Tilin segura. Em seguida, Avoar retira um dos papéis e lê em
voz alta.
Aviador - “Procurar o Rei-do-Nada na rua da Solidão, sem número”.
Todos (surpresos) - Rei-do-Nada???
Tilin - E sem número! Que tristeza...
Gargalhada (para o público) - Viva a imaginação
A luz se apaga.
CENA 5: EM BUSCA, FINALMENTE, DO TESOURO
Um foco de luz azul suave ilumina um rei como aqueles de antigas fábulas, dormindo sentado num velho trono
dourado ficando no deserto.
Tilin (na penumbra) - É aqui. (falando baixinho, chama os companheiros)
Gargalhada (andando na ponta dos pés, aproxima-se do rei) - Seu rei, sou eu, o Gargalhada. Sou a
imaginação dele (aponta o Aviador), e esses aqui também. Sou só imaginação, acorda, seu rei! (sacode o rei,
que acorda parecendo confuso).
Rei-do-Nada (acordando, irado) - Guardas! Cadê a polícia? Guardas! (grita)
Tilin - Majestade, desculpe.
Rei-do-Nada - Guardas, onde estão os guardas?
O Aviador, aflito, tenta acalmar o velho rei.
Rei-do-Nada - Quem são vocês? O que querem de mim?
Gargalhada - Calma, seu rei. Nós somos a imaginação dele (aponta novamente o Aviador). Eu faço rir, seu
rei. Sou um palhaço...
Cordélia (provocando) - Um saco... De risadas.
Gargalhada - E fazer rir é minha profissão...
Rei-do-Nada - Um rei não ri nunca! Rei é autoridade, e autoridade não ri, não gargalha! Não brinca!
Tilin - Calma, senhor. Deixa eu explicar o que a gente está fazendo aqui. Viemos procurar o tesouro que
Avoar perdeu em algum lugar da infância. Eu mesma acho que esse tal tesouro deve estar escondido numa
estrela...
Rei-do-Nada - Estrela, bobagem! Preciso de guardas, não de estrelas!
Cordélia - Majestade, o tesouro dele não é desses que o senhor conhece, com moedas de ouro... Aquelas taças
grandes de prata...
Em busca do Tesouro Perdido
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Gargalhada - É, seu rei, ele não lembra bem do tesouro. Sabe apenas que jogava bola, andava de patins, de
skate... Era muito divertido.
CHARLITO TENTA CHAMAR A ATENÇÃO DE SEUS AMIGOS E DO REI, BRINCANDO DE PULAR
CORDA.
Gargalhada - Ô, Charlito, olha o respeito com o seu rei...
Tilin - Sabe, majestade, esse tesouro dele são lembranças...
Rei-do-Nada - Fora daqui! Não quero saber de lembranças. Guardas! Chamem os guardas! (e volta a dormir)
Tilin - Tadinho... É tão velhinho.
Gargalhada - Tadinho sou eu, que nasci pelado. Esse cara aí (aponta o rei) já nasceu com tudo, por isso é que
precisa de GUARDAS! GUARDAS! (imita os gritos do rei) Ele gosta mesmo é de ser autoridade, mas vejam
só: o infeliz acabou sozinho, sem poder e sem guardas!
Cordélia (delirando) - De que valem as cores... E todas as belezas.. Se ninguém tem olhos para vê-las?
Tilin - Cordélia, que beleza! Adorei!
Aviador - Não entendi o que você quis dizer, Cordélia.
Cordélia - Deixa pra lá.Vamos ao que interessa.
CHARLITO PEDE PARA ELE SORTEAR O PRÓXIMO ENIGMA.
Gargalhada - Será que ele consegue, sem rasgar o saco ? (rola de rir)
CHARLITO AMEAÇA GARGALHADA COM A SUA BENGALA, MAS É CONTIDO POR CORDÉLIA, TILIN
E PELO AVIADOR.
Aviador - Vamos ao próximo sorteio, Charlito, é a sua vez.
CHARLITO, IMITANDO AINDA MAIS O “CARLITOS”, FAZ POUCO CASO DE GARGALHADA E RETIRA
GARBOSAMENTE DO SAQUINHO O PRÓXIMO ENIGMA.
Aviador (CHARLITO AO LADO FAZ QUE LÊ TAMBÉM) - “O tesouro tem soluço e se vai até lá pela
rua do mé”.
Todos - Méééééé!!!!!!
Gargalhada - É mé de bode ou de beber?
Cordélia - Se tem soluço, é bêbado.
Aviador - Peraí, gente, estou me lembrando dele...
Todos - Dele, quem???
Aviador - Dele! (aponta o soluço, que entra cambaleando, pára no centro e adormece)
Gargalhada - Era só o que faltava! Você também imagina isso! Isso também tá na sua cabeça?
Aviador (confuso) - Acho que sim... Como vou saber?... Pode ser.
Cordélia - Essa não! A gente andando feito tonto por esse maldito deserto, atrás do “seu” tesouro, e você, em
vez de imaginar logo ele, fica imaginando gente como essa... Ah, tenha dó!
Aviador - Eu não sabia, desculpem...
Em busca do Tesouro Perdido
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Tilin - Ah, coitado... coitadinho.
Aviador - Já que ele apareceu...
Cordélia (irritada) - Porque VOCÊ imaginou.
Aviador - Vamos ver se ele sabe do tesouro.
Aproximam-se todos do Soluço, que está dormindo.
Cordélia - Ô, seu mé, estamos procurando o tesouro dele. (aponta o Aviador) Acorda!
Soluço (despertando, surpreso) - Oi, boneca, hic, toma um trago, hic, comigo? Hic!
Cordélia - Não, obrigada. Não bebo.
Soluço – Que pena! Hic! Tudo bem. Hic. (chama o Gargalhada) Ô, palhaço, hic, faça um número, hic, pra
mim, hic. Tô precisando rir, hic.
Gargalhada (constrangido, com vergonha) - Mas... Agora?
Soluço - É hic, você não é, hic, palhaço?
Gargalhada - Sou... Mas agora não dá .. Desculpe. Eu sou imaginação dele e, se ele não ri, eu não consigo ser
engraçado. Ele agora está preocupado com um tesouro que perdeu.
Soluço - É. Se você na faz seu número, eu faço o meu (solta um pum).
Gargalhada - Ah! Agora fiquei inspirado. Adivinha essa: você sabe qual a diferença entre o homem e o
porco?
Soluço - Não, hic.
Gargalhada - É que o porco quando bebe, não vira homem (gargalha). Entendeu? Não vira homem (continua
gargalhando).
Soluço - E o homem, hic?
Gargalhada - Quando bebe, vira um porco! (aponta para o soluço e cai gargalhando).Entendeu? Um porco!
(imita um porco)
Soluço - Boa, palhaço, hic. Ei? Quem, hic, são esses aí, hic? (aponta todos) Tô vendo gente demais, hic.
Gargalhada - São um só. É verdade! É só ele (aponta o Aviador). O resto é figuração, é só imaginação.
Soluço - Tô mal, hic. Antes, quando bebia, hic, via tudo dobrado, hic, agora, hic, to vendo mais de quatro, hic,
em um só, hic. Tô piorando, hic.
Cordélia (com pena) - Mas, e o tesouro dele? Você sabe onde está?
Soluço - Tesouro? Hic, ah, hic, já tive muitos, hic... Mas, perdi todos...
Aviador (constrangido) - Vamos, ele não pode ajudar... Desse jeito, não...
Soluço (chamando o Aviador) - Olha, hic, não posso ajudá-lo a encontrar o seu tesouro. A bebida destruiu
todos os meus... Mas, por favor, se você encontrar os seus, não diga que me viu assim. (volta a dormir, com a
garrafa vazia no colo)
Cordélia (indignada) - Eu, heim!!!!
Gargalhada (para o Aviador) - Tu tá imaginando mal, heim, cara! E aquelas boas recordações onde estão?
Tilin - A vida é assim, tem coisas boas e ruins.
Cordélia - Mas aturar bêbado é demais! Não há tesouro que valha isso...
Em busca do Tesouro Perdido
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CHARLITO, NO PROSCÊNIO, NA LUZ, PEDE AO AVIADOR QUE “IMAGINE” O PRÓXIMO PLANO.
Aviador – Mas, como assim, Charlito? Não vamos sortear? Eu devo imaginar?
Cordélia - Ah, não, eu também quero pôr a mão no saquinho!
Aviador - Tá bom, Cordélia, pode tirar o próximo plano.
Cordélia (lendo) - “Rapaz solteiro procura espelhos, rua da Vaidade, n° 1.”
Todos (espantados) - Rapaz solteiro?
Aviador (encabulado) - Isso eu não imaginei, não!
Gargalhada - Imaginou, sim! Vamos, faça uma forcinha (tapa os olhos do Aviador) que ele aparecerá.
Vamos, pensa! Seja homem!
Eu-de-Mim entra em cena, segurando um espelho em uma das mãos e fica imóvel.
Cordélia, vaidosa, fazendo pose para o espelho, chama os outros.
Gargalhada - Eu não.
Aviador - Por que não?
Gargalhada - Porque não posso me ver!
Cordélia - Porque, não?
Gargalhada - Porque, quando eu me vejo morro de rir! (cai, gargalhando)
Todos riem e se esquecem da presença do Eu-de-Mim.
Eu-de-Mim - Olhem-me, contemplem-me. Ninguém será jamais tão deslumbrante quanto eu! Ninguém
jamais terá tanto brilho, nem será tão deslumbrante...
Cordélia (para o Eu-de-Mim) - Menos, menos... ô, seu ego, estamos procurando (apontando o Aviador) o
tesouro dele.
Eu-de-Mim - Tesouro sou eu! Sou corpo dos meus próprios carinhos, tudo o que sou pertence a mim! Eu sou
o meu tesouro! Não há ninguém que mereça compartilhar o tesouro da minha existência. Eu sou de mim! Sou
lindo! (começa a dançar)
Gargalhada (abraçando o Aviador, fala ironicamente) – Ei, pega leve aí! Isso aqui é teatro pra criança. Isso
não é um bom exemplo. Um pouco de vaidade é bom, mas assim, exagerada, não...
Aviador - Mas eu não sou vaidoso assim!
Cordélia - Isso é o que você queria que fosse...
Aviador - Então, eu não sei?
Cordélia - Tá no inconsciente... Toma cuidado, você tá ficando “vulnerável”.
Tilin - O que é “vulnerável”?
CHARLITO MOSTRA QUE VULNERÁVEL É ELE, QUE É FRÁGIL, INDEFESO, E FICA TRISTE. VAI ATÉ
O EU-DE-MIM E O TIRA PARA DANÇAR. DANÇANDO, OS DOIS SAEM DE CENA.
Em busca do Tesouro Perdido
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Tilin (aplaudindo) - Que coisa linda! O Charlito é o máximo!
Gargalhada - Não sei, não. Tesouro que é bom, ninguém procura mais. E o palhaço aqui tá pagando o maior
mico, vendo coisas que esses olhos aqui, ó (mostra os próprios olhos arregalados e pisca exageradamente),
nunca imaginaram que iriam ver.
Aviador (disfarçando) - Calma, não há motivo para tanta preocupação. Vamos achar o tesouro e tudo isso
desaparecerá.
Cordélia (abraçando o Aviador) - Vem cá, o tal Eu-de-Mim é você, não é?
Aviador - É... Eu acho que é uma parte, como vocês...
Gargalhada - Esses “elementos” que surgem de repente das áreas escuras do “seu eu” são de lascar. Toma
cuidado, já disse que isso aqui é teatro pra criança. Tem que ser instrutivo, leve...
Tilin - Educativo.
Cordélia - Já rolou de tudo, cara! Rei autoritário, bêbado fracassado e, agora, esse poço de vaidade.
Gargalhada - E algo me diz que vem mais por aí...
Aviador - Mas, afinal, que mal eu fiz?
Todos (gritando) - Deixou de ser criança!!!
Começa mais um número musical. Esta música é a essência e a inspiração da história que estamos contando.
Portando, divirtam-se: brinquem à vontade, façam do palco uma grande festa.
É Bom Ser Criança
(8° Princípio – A criança, em qualquer circunstância, deve ser a primeira a receber proteção e socorro.)
É bom ser criança
Ter de todos atenção
Da mamãe, carinho
Do papai, a proteção
É tão bom se divertir
E não ter que trabalhar
Só comer, crescer, dormir, brincar
É bom ser criança
Isso às vezes nos convém
Nós temos direitos
Que gente grande não tem
Só brincar, brincar, brincar
Sem pensar no boletim
Bem que isso podia nunca mais ter fim
É bom ser criança
Não ter que se preocupar
Com a conta no banco
Nem com os filhos pra criar
É tão bom não ter que ter
Prestações pra se pagar
Só comer, crescer, dormir, brincar
É bom ser criança
Ter amigos de montão
Fazer cross saltanto
Tirando as rodas do chão
Soltar pipas lá no céu
Deslizar sobre patins
Bem que isso podia nunca mais ter fim.
NO FINAL DA MÚSICA, CHARLITO FICA OUTRA VEZ SOZINHO NO PALCO E BRINCA DINOVO DE
AMARELINHA.
Aviador (entrando, vê Charlito e fica curioso) - O que é isso, Charlito? Tá triste?
CHARLITO DIZ QUE AQUILO QUE FAZIA, AS BRINCADEIRAS, ERA O SEU TESOURO.
Aviador – Você está querendo dizer que todas aquelas brincadeiras que você estava fazendo são o meu
tesouro?
CHARLITO FAZ QUE SIM, COM A CABEÇA.
Em busca do Tesouro Perdido
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Gargalhada (interrompendo, malcriado) - Olha aqui, ô mímico! Ou você explica isso de uma vez por todas
ou eu vou ter um troço! Vamos acabar com esse baixo astral! Isso, pra um palhaço, é IN-SU-POR-TÁ-VEL!
Cordélia - Sai pra lá, seu saco! (empurra Gargalhada) Vamos, Charlito, explica isso! Mostra como é o tal
tesouro.
CHARLITO COMEÇA, MAIS LOGO DESANIMA. IMITA QUE BATE UMA BOLA JOGANDO-A DE LADO.
Aviador - Por que parou, Charlito?
CHARLITO, IRRITADO, FAZ GESTO OBSCENO COM AS MÃOS PARA DIZER QUE ESTÁ COM O “SACO
CHEIO” DE EXPLICAR E NINGUÉM ENTENDER.
Gargalhada (irônico) - É. Eu entendo você, companheiro de imaginação. Eu sei como é, não ser
compreendido e ser tratado como um idiota, que faz tudo errado. Então, aperta aqui minha mão, amigão!
(finge levar um choque e cai gargalhando) Eu não acredito que você caiu nessa, bobão. (gargalha)
CHARLITO SE IRRITA E AMEAÇA GARGALHADA.
Gargalhada (ainda irônico) - Ui! A boneca zangou!...
Tilin - Pára, Gargalhada! Que chato você é!!!
Cordélia (para o Aviador) - Como é que alguém pode viver com uma tranqueira dessa (aponta Gargalhada )
dentro da cabeça e não ficar maluco?
Gargalhada - Não sou eu o problema, é ele (aponta o Aviador). Ele é que não é normal. (começa a
gargalhar) Eu, ou melhor, nós somos ele, e você também já foi melhor, viu, Cordélia?
Aviador - Eu é que sou toda essa confusão?
Todos - É!!!!
Aviador - Só tem um jeito de resolver tudo isso e deixá-los em paz. E a solução é encontrar o tesouro. (tira do
bolso o saquinho e chama o Gargalhada) Vem, Gargalhada, é a sua vez.
Gargalhada enfia a mão no saquinho e grita como se algo o tivesse mordido. Mexe a mão dentro do saco como se
quisesse pegar um bicho que emite som de miado de gato que ele próprio faz com os lábios semicerrados. Quando percebe
que todos estão atentos a seus movimentos, gargalha.
Gargalhada (ainda com a mão dentro do saquinho) - Tilin, vem cá, pega o bicho (gargalha). Vem, Cordélia,
põe a mão no saquinho, vem. Ô, você aí (pro Charlito), tá com medo?
CHARLITO VAI ATÉ ELE E DIZ QUE NÃO TEM MEDO, QUE SABE QUE É UMA BRINCADEIRA. RETIRA,
NERVOSO, O SAQUINHO DA MÃO DE GARGALHADA E ENTREGA O OUTRO ENIGMA PRO AVIADOR.
Aviador (lendo) - “Tem tanto dinheiro dentro que quase não pára em pé. Rua da Ganância, com milhões de
números.”
Tilin - Êba! Esse, sim, deve saber onde o tesouro está! Vamos!
A luz apaga.
É bom lembrar que todo sorteio acontece no proscênio, iluminado por um foco de luz, enquanto o restante do palco
está na penumbra, quase na escuridão. Esse é um recurso teatral para facilitar as mudanças de adereços para a cena
seguinte.
Em busca do Tesouro Perdido
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CENA 6: NO COFRE DO DR. FORTUNA
Dr. Fortuna é um grande saco de dinheiro amarrado no pescoço do ator, que tem a cabeça e os braços para fora. Ele
se balança o tempo todo, como se fosse João Bobo, e conta dinheiro distraído ao lado da mesa.
Atenção: a iluminação deve começar sempre muito leve e depois ir aumentando, para criar suspense. Ou seja: o
público perceberá aos poucos as características da personagem.
Tilin (a primeira a entrar em cena, vê o Dr. Fortuna contando dinheiro) - Dr. Fortuna, estamos procurando um
tesouro. O tesouro dele (chama o Aviador)
Dr Fortuna (sem prestar atenção nos visitantes, sempre se balançando) - Cento e trinta e cinco mil,
quatrocentos e vinte e seis...
Tilin - Eu também faço contas... sou uma grande calculadora... eu conto estrelas...
Cordélia (puxando Tilin pelo braço) - Não adianta, Tilin, ele não vai ouvir nada.
Tilin - Eu conto os sóis e as luas...
Gargalhada (desanimado, tenta retirar as amigas dali) - É bom tomar cuidado. Se a gente der alguma pista,
esse cara vai achar o tesouro e ficar com ele...
Dr. Fortuna (parado de fazer contas) - Tesouro? Alguém aí falou em tesouro? É meu!!!
Gargalhada - Não falei?
Tilin - Não sabemos como é...
CHARLITO VOLTA A IMITAR BRINCADEIRAS DE CRIANÇA: SOLTA PIPA.
Tilin (apontando para as brincadeiras do Charlito) - É assim, preste atenção. Vamos, Charlito, continue...
Dr. Fortuna - Tragam aqui. Eu compro, posso comprar o que quiser... Posso comprar a sua risada, palhaço.
Quando custa?
Gargalhada (sem graça) - Não é minha... O riso é de quem ri. Não posso vender alegria.
Dr. Fortuna - Bobagem, dinheiro compra qualquer coisa. Posso comprar suas estrelas, boneca. (aponta Tilin)
Tilin - Não são minhas. São de quem olha o céu... E algumas nem existem mais. São apenas luz viajando no
espaço. Não posso vender o que não existe.
Dr. Fortuna – Bobagem! Posso comprar o que não existe e mandar fazer o que não existe como eu bem
entender. Você aí... (chama Charlito) você me parece o mais sensato, não diz besteiras. Venha cá, tome uma
moeda...
CHARLITO RECUSA A OFERTA.
Dr. Fortuna - É um cretino, recusar dinheiro... onde se viu! Dinheiro é tudo. Posso comprar suas cores,
boneca (para Cordélia), quanto quer por elas?
Cordélia - Não são minhas, eu só misturo... É a luz que faz as cores... E ninguém pode comprar a luz.
Dr. Fortuna - Tolice! Eu posso mandar construir uma usina hidrelétrica e ter a minha própria luz.
Cordélia - Mas a luz que você fabricar, quando acender, será de todos.
Dr. Fortuna (nervoso, gesticulando, balançando) - Não! A minha luz, não, é só minha. Saiam da minha luz!
Vou mandar castigá-los por estarem na minha luz!
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Cordélia - Não é sua, bobão! É de todos! E tem mais, sabichão, dinheiro não é tudo, não. A vida é o bem mais
precioso que a gente tem...
Tilin E sem essa de castigo!
Gargalhada - E, se bater, leva o troco!
Iniciamos aqui mais um número musical. Para esta coreografia é recomendável que se representem situações
descritas na letra, dando especial atenção ao público. Esse número deve ser uma advertência aos pais e educadores, para
que, nas situações de conflito com os filhos, procurem sempre o diálogo.
Castigo Não
(9° Princípio – A criança não deve ser abandonada, espancada ou explorada, não deve trabalhar quando isto
atrapalhar sua educação, saúde e seu desenvolvimento físico, mental ou moral).
Um dia você crescerá
Será gente grande também
Depois você vai namorar
Gostar muito, muito de alguém
E quando você se casar
Virá com certeza um neném
Não deixe nunca
Seu filho sozinho, sem proteção
Castigos não fazem ninguém mais
bonzinho
Não fazem não
Não levante a voz
Não levante a mão
Não bata, não xingue
Nem dê beliscão
Não trate as crianças como bem entender
Gritos não vão resolver
Criança que apanha não aprende a lição
Com jeito ela vai aprender
Não deixe nunca
Seu filho sozinho, sem proteção
Castigos não fazem ninguém mais
bonzinho
Não fazem não.
No final do número musical, o balé sai e os atores voltam ao proscênio.
Aviador (retirando o saquinho do bolso da capa) - Bem... Só falta um. Vamos ver. (tira o enigma e lê) “A
terra é um tesouro azul”.
Saem.
A luz apaga no proscênio e lentamente ilumina o cenário.
CENA 7: EM ALGUM LUGAR DA TERRA
Um espantalho colorido e com roupas remendadas guarda um pequeno jardim circular, com placas fincadas ao
redor que mostram, em mapas, a devastação das florestas e das espécies animais na Terra. Gargalhada entra sozinho e
muito cuidadoso.
Gargalhada (comparando sua roupa com a do espantalho) - Só pra saber... o senhor trabalha em algum circo?
Ecoluco (ajeitando-se, arrumando a roupa e o chapéu) - Não, meu caro palhaço, não tenho tempo.
Gargalhada - Que alívio! Pensei que fosse um concorrente meu. (chama os outros, gritando) Podem vir, não
é palhaço, não.
Cordélia (entrando, com os outros) - Ufa! Que alívio. Mais um palhaço eu não agüentaria...
Ecoluco - O que desejam? (preocupado com as flores do jardim) Cuidado com as flores.
Aviador - Procuramos um tesouro que perdi há muito tempo...
Cordélia - Ele não sabe mais como era...
Tilin - O tesouro dele está numa estrela...
Ecoluco (agora imóvel, de braços abertos) - Como, numa estrela? Não! É aqui na Terra que está o nosso
tesouro. Ele é o chão que você está pisando.
Todos olham para o chão.
Em busca do Tesouro Perdido
http://recantodasletras.com.br/autores/dallvarodrigues 23
Gargalhada - Bingo! É claro, só agora que a ficha caiu. Se é tesouro, tem que estar enterrado! (se joga no
chão, fingindo cavar a terra, rindo muito)
Cordélia (para o espantalho) - Não liga, não. Isso aí é assim mesmo, não liga pra nada, não leva nada a sério.
Gargalhada (sério) - E rir não é sério? Você só ri quando está feliz. Ou não? E o mundo está precisando
disso... De felicidade. O mundo precisa rir, ora bolas!
Pede aplausos ao público, para o que acabou de dizer.
Ecoluco - Você tem razão, meu caro palhaço. Mas para o mundo todo rir, precisamos repartir a felicidade com
os mais tristes... E lutar muito para que os homens deixem de matar florestas, rios, mares e animais... E que
parem de maltratar outros seres humanos que julgam inferiores e mais fracos. Queiram, por favor, ouvir uma
canção de que gosto muito.
Neste próximo número musical, como os bailarinos já vestem figurinos com cores das bandeiras e de outros países,
podem usar máscaras étnicas e trajes típicos de outros países, para reforçar a idéia de confraternização universal.
Imaginem
(10° Princípio – A criança deve ser protegida do preconceito, deve ser educada com o espírito de amizade
entre os povos, de paz e fraternidade, deve desenvolver suas capacidades para o bem de seus semelhantes)
Imaginem todos vocês
Se o mundo inteiro vivesse em paz
A natureza talvez
Não fosse destruída jamais
Russo, cowboy e chinês
Num só país sem fronteiras
Armas de fogo seria tão bom
Se fossem feitas de isopor
E aqueles mísseis de mil megatons
Fossem bombons de licor
Flores colorindo a terra
Toda verdejante, sem guerra
Nenhum seria tão rico
Nem outro tão pobrinho
Todos num caminho só
Os rios e mares limpinhos
Com peixes, baleias, golfinhos
Faríamos as usinas e as bombas nucleares
Virarem pão-de-ló
Imaginem todos vocês
Um mundo bom
Que um Beatle sonhou
Peçam a quem fala inglês
Versão da canção
Que John Lennon cantou
Russo, cowboy e chinês
Num só país sem fronteiras
Armas de fogo seria tão bom
Se fossem feitas de isopor
E aqueles mísseis de mil megatons
Fossem bombons de licor
No final da grande confraternização (balé), todos saem.
Gargalhada (para o espantalho) - Não dá pra ser mais simples, vamos dizer didático?
Ecoluco - É simples! Não respeitamos a natureza porque nos julgamos superiores a ela. Os homens matam os
rios porque os rios permanecem depois deles... Derrubam as florestas porque precisam destruir o que lhes
parece frágil e indefeso... Poluem o ar porque lhes faz bem acreditar que não precisam dele... E as flores, eles
colhem por vaidade, para admirarem a sua efêmera beleza desaparecer antes deles.
Cordélia - Quer dizer que não tem jeito, o mundo vai mesmo acabar?
Ecoluco - Os homens, minha cara, não nascem para destruir nada. Nascem como flores e precisam de sol e da
terra para florir com todas as cores... Nascem para serem felizes. Esse é o destino de todos os homens. Será
preciso ocultar dos homens, quando são crianças, o egoísmo e a violência, para que o futuro não seja apenas
uma possibilidade. É preciso ceifar o medo e a insegurança, avisar todas as crianças que a infância é o tempo
de acreditar no impossível... Avisem a todos que o futuro quer uma chance!
CHARLITO TENTA CHAMAR A ATENÇÃO DO ESPANTALHO PARA SUAS BRINCADEIRAS DE
CRIANÇA: PUXA CARRINHO.
Em busca do Tesouro Perdido
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Ecoluco (bate palmas só mexendo os braços. O corpo fica imóvel) - É isso mesmo! (contente) Esse é o maior
tesouro do ser humano! O maior tesouro do mundo! (é interrompido pelas botinas do Gargalhada, estalando
no palco).
Gargalhada (para o espantalho) - Até você foi envolvido por essa panacéia... no caso, acho que é uma
“pantomima”.
Cordélia - Todo mundo sabe o que ele tá mostrando, seu bobo.
Tilin - Você é um cabeça dura. (bate na cabeça do palhaço)
Ecoluco - O tesouro dele (aponta o Aviador), que vocês procuram... passou, mas há milhares pelo mundo todo
que precisam de cuidado... (e dorme)
CHARLITO FICA TRISTE.
Aviador - Não desanima, não, Charlito. O tesouro não está aqui, mas vamos encontrá-lo em outro lugar.
Tilin - Está numa estrela...
Gargalhada (irritado) - Deixa de sonhar. O espantalho já falou que está no chão. E vamos supor que estivesse
numa estrela... Naquela ali! (aponta) Como é que a gente vai buscá-lo?
Todos compreendem que não poderiam e ficam mais tristes ainda.
Aviador - Acho melhor a gente descansar agora. Vamos dormir. Amanhã a gente continua.
Todos deitam-se no mesmo lugar que dormiam na primeira cena do espetáculo. A fada ressurge e se aproxima do
Charlito e com sua mágica, lhe dá voz. Sai em seguida.
CHARLITO CERTIFICA-SE QUE TODOS ADORMECERAM E VAI SOZINHO ATÉ O PROSCÊNIO E FALA
PELA PRIMEIRA VEZ. APENAS UM FOCO DE LUZ O ILUMINA NO PALCO ESCURO.
Charlito (falando) - O tesouro que procuramos nessa história não pode ser encontrado. ELE (aponta o
Aviador) o perdeu quando cresceu. O tesouro é aquele pequeno espaço de tempo na vida de todos nós que
chamamos de infância. Se somos felizes enquanto ela dura, seremos felizes para sempre. A infância é um
lindo tesouro, como se fosse um baú cheio de lembranças...
Gargalhada acorda e chama Cordélia e Tilin.
CHARLITO FICA MUDO NOVAMENTE, MAS SEGUE GESTICULANDO, COMO SE FALASSE SEM SOM.
Gargalhada - Pode parar, Charlito. Não adianta, não tem tesouro nenhum, escafedeu-se.
Tilin - Fale baixo, ele (aponta o Aviador) está dormindo.
Cordélia - Está sonhando.
Gargalhada - Sonhando. É só isso que ele faz. Sonha. E a gente é que rala. Na próxima peça, quero ser
imaginador. Ser imaginação dos outros, nunca mais!
Tilin - E o avião? Tá quebrado, como é que a gente vai voltar?
Cordélia - Voltar pra onde, Tilin? Nós somos a imaginação dele e ela não vai desistir de continuar procurando
seu tesouro.
Em busca do Tesouro Perdido
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CHARLITO CONCORDA COM CORDÉLIA E MOSTRA QUE ESTÁ FELIZ POR CONTINUAR
PROCURANDO O TESOURO.
Gargalhada - Eu não vou.
Cordélia - Vai, sim, palhaço. Só assim você vai continuar existindo.
Tilin - E, enquanto ele precisar de ajuda, vai pensar na gente...
CHARLITO, COM GESTOS DE CARINHO, DIZ QUE SERÁ PARA SEMPRE, QUE ELES SÃO A LUZ NA
VIDA DO AVIADOR. NISSO, UMA LUZINHA COMEÇA A BRINCAR NO PALCO E CHARLITO TENTA PEGÁ-LA,
COM UMA GRANDE REDE DE CAÇAR BORBOLETAS.
Gargalhada - Ô “Avoar Passos Dias” (rindo), tá de novo o amolecado do Charlito dizendo que nós somos o
seu tesouro (olha para si e para os outros). Que lixo, que pobreza. Tu tá mal de tesouro, heim?
Aviador (levantando) - Mal do quê?
Cordélia (rindo) - É um palhaço, mesmo... Ô, Gargalhada, você também é parte disso...
Gargalhada - A mais divertida.
Aviador - Parte de quê?
Tilin (correndo a trás do Charlito) - Vem Charlito, vem! O Charlito já explicou... mas você estava dormindo e
não ouviu.
Aviador (confuso) - Ouviu o quê?
Todos (correndo atrás do Charlito e da luzinha) - Que nós somos o seu tesouro! Somos as suas lembranças.
Gargalhada (eufórico) - As melhores da sua infância!
Aviador (feliz) - Quer dizer que vou precisar de vocês pelo resto da minha vida?
Todos (parando de cansados) - VAI!!!!!
Neste último musical, os bailarinos trazem uma grande bandeira do Brasil.
Todo o elenco e equipe técnica surge e cantam com a platéia.
Herdeiros do Futuro
A vida é uma grande
Amiga da gente
Nos dá tudo de graça
Pra viver
Sol e céu
Luz e ar
Rios e fontes
Terra e mar
Somos os herdeiros do futuro
E pra esse futuro ser feliz
Vamos ter que cuidar
Bem desse país
Será que no futuro
Haverá flores?
Será que os peixes
Vão estar no mar?
Será que os arco-íris
Terão cores
E os passarinhos
Vão poder voar?
Será que a terra
Vai seguir nos dando
O fruto, a folha
O caule e a raiz?
Será que a vida
Acaba encontrando
Um jeito bom
De a gente ser feliz?
Vamos ter que cuidar
Bem desse país.
FIM