poluição e o transporte marítimo - agregar e · pdf...
TRANSCRIPT
Poluição e o Transporte Marítimo
Colecção Mar Fundamental Referência CMF0012013 Autor Alvaro Sardinha Lisboa, Julho 2013
- 2 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
‘O transporte marítimo é a espinha dorsal do comércio internacional e um motor
da globalização. Cerca de 80% do comércio mundial em volume e mais de 70% em
termos de valor, é transportado por mar e distribuído pelos portos e economias
de todo o mundo. Estas proporções assumem ainda maiores valores na maioria
dos países em desenvolvimento.’
United Nations Review of Maritime Transport 2012
O transporte marítimo é um tema vasto e abrangente, com informação valiosa
dispersa por várias instituições e stakeholders, tornando por vezes difícil
acompanhar a evolução do sector em termos de emprego, segurança, eficiência,
impacto ambiental e crescimento económico, assim como ter acesso a uma visão
prospectiva da sua importância num futuro cada vez mais globalizado.
Torna-se assim relevante, agregar e partilhar informação e testemunhos
relacionados com a indústria de transporte marítimo, abrangendo os campos do
ensino, certificação, legislação, emprego, segurança, ambiente, logística, gestão
portuária, exploração de navios de carga e de passageiros, entre outros, com o
propósito de amplificar a visibilidade da informação fundamental para os actuais
marítimos e para os potenciais interessados em abraçar uma carreira profissional
nesta área.
‘Sem os navios e os marítimos,
metade da população passava fome e a outra metade congelava’
Acompanha o Transporte Marítimo no grupo
https://www.facebook.com/groups/TransporteMaritimo
- 3 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
Sumário
A Situação Os Impactos A Regulamentação As Soluções A Conclusão
- 4 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
A situação
A poluição atmosférica provocada pelo transporte marítimo, manifesta-se através
da emissão pelos navios, de gases de efeito de estufa (GHG Greenhouse Gas)
incluindo o dióxido de carbono (CO2) e pela emissão de poluentes, incluindo os
óxidos de azoto (NOx), óxidos de enxofre (SOx) e material particulado (PM
Particulate Matter).
gases de efeito de estufa + poluentes
O Transporte Marítimo movimenta 90% das mercadorias de todo o mundo,
incluindo vestuário, alimentos, brinquedos, equipamentos, materiais, energia e
matérias-primas. Cerca de 70 mil navios mercantes cruzam os oceanos todos os
dias, incluindo navios porta-contentores, navios petroleiros, navios de carga
geral, carga a granel e linhas de cruzeiro.
O transporte marítimo é a forma mais eficiente de transporte sendo, de facto,
menos intensivo em carbono do que os outros meios disponíveis.
No entanto, assumindo-se como eixo central da economia global de hoje, esta
indústria produz mais de um bilhão de toneladas de emissões por ano, o que
representa mais toneladas de carbono que as emitidas apenas pela Alemanha,
num só ano.
O transporte marítimo é actualmente responsável por mais de 3% das emissões
globais de CO2, e as emissões totais deste sector continuam a aumentar devendo
chegar a 5% até 2050. De facto, as emissões de poluentes atmosféricos
provenientes de navios estão a crescer continuamente, enquanto as emissões
terrestres estão a cair gradualmente. Actualmente, e apenas na UE, o transporte
marítimo é responsável pela emissão de 4% dos gases de efeito de estufa.
Em 2000, apenas nos mares que circundam a Europa (o Mar Báltico, o Mar do
Norte, a parte nordeste do Atlântico, o Mediterrâneo e o Mar Negro), as emissões
resultantes da navegação internacional foram estimadas em 2,3 milhões de
toneladas de dióxido de enxofre (SO2), cerca de 3,3 milhões de toneladas de
óxidos de azoto (NOx) e 250 mil toneladas de material em partículas (PM).
Num cenário normal, estas emissões podem crescer 40 a 50% até 2020.
Se nada for feito, em 2020, o transporte marítimo que circula na Europa, será o
maior emissor de óxidos de azoto, superando mesmo as emissões de NOx de todas
as fontes terrestres da EU juntas.
- 5 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
Os Impactos
Poluentes do ar
A poluição atmosférica refere-se a mudanças na atmosfera, susceptíveis de
causar impacto a nível ambiental ou na saúde humana, através da contaminação
por gases, partículas sólidas, líquidos em suspensão e material biológico.
A adição dos contaminantes pode provocar danos directamente na saúde humana
ou no ecossistema, podendo estes danos serem causados directamente pelos
mesmos, ou por elementos de si resultantes. A poluição do ar tem acção directa
no aquecimento global, sendo responsável pela degradação de ecossistemas e
potenciadora de chuvas ácidas.
O óxido nítrico ou monóxido de azoto (NO) e o dióxido de azoto (NO2), são
representados genericamente por NOx e são produtos de processos de
combustão. O dióxido de enxofre (SO2), também conhecido como anidrido
sulfuroso, é um gás denso, incolor, não-inflamável, altamente tóxico e a sua
inalação pode ser fortemente irritante. É ainda um gás emitido na queima de
combustíveis em veículos e indústrias juntamente com óxidos de carbono (CO e
CO2), e de azoto. É, juntamente com o dióxido de azoto (NO2), um dos principais
causadores da chuva ácida, pois, associado à água presente na atmosfera, forma
o ácido sulfuroso.
De acordo com estudos científicos recentes, a poluição do ar devida ao
transporte marítimo, representa cerca de 50 mil mortes prematuras por ano na
Europa, e um um custo anual para a sociedade de mais de 58 biliões de Euros.
Através de reacções químicas no ar, os SO2 e NOx são convertidos em partículas
finas, na forma de aerossóis de sulfatos e nitratos. Além das partículas emitidas
directamente pelos navios, tais como o carbono negro (carbono produzido
durante a combustão incompleta de combustíveis fósseis, com forte impacto
climático), estas partículas secundárias aumentam o impacto sobre a saúde.
Estas minúsculas partículas suspensas no ar estão ligadas a mortes prematuras,
dado que após entrarem nos pulmões, são suficientemente pequenas para passar
através dos tecidos e entrar na corrente sanguínea, podendo assim desencadear
inflamações que eventualmente causam falhas cardíacas e pulmonares.
As emissões dos navios também podem conter partículas cancerígenas.
- 6 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
O diagrama apresentado mostra a distribuição de tamanho em microns, de
diferentes tipos de material particulado existente na atmosfera.
(fonte: wikipedia)
- 7 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
Gases de efeito de estufa
Os gases de efeito de estufa são substâncias gasosas que absorvem parte da
radiação infra-vermelha, emitida principalmente pela superfície terrestre,
dificultando o seu escape para o espaço, impedindo que ocorra uma perda
excessiva de calor e mantendo a Terra aquecida. O efeito de estufa é um
fenómeno natural e acontece desde a formação da Terra, sendo necessário para
a manutenção da vida no planeta. Sem o efeito de estufa, a temperatura média
da Terra seria 33°C mais baixa, impossibilitando a vida no planeta tal como
conhecemos hoje. Porém, o aumento dos gases de efeito de estufa na atmosfera,
tem potencializado este fenómeno natural, causando um aumento da
temperatura global.
A atmosfera é uma camada que envolve o planeta, constituída por vários gases.
Os principais são o azoto (N2) e o oxigénio (O2) que, juntos, compõem cerca de
99% da atmosfera. Alguns outros gases encontram-se presentes em pequenas
quantidades, incluindo os conhecidos como gases de efeito de estufa (GHG).
Entre estes gases, estão o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4), o óxido
nitroso (N2O), os perfluorcarbonetos (PFCs), os hidrofluorcarbonetos (HFC) e
também o vapor de água.
Entre os gases de efeito de estufa que estão a aumentar a sua concentração, o
CO2, o CH4 e o N2O são os mais importantes. Os clorofluorcarbonetos (CFCs)
também têm a capacidade de reter a radiação infravermelha emitida pela Terra.
Contudo, as acções para diminuir as suas emissões (substituição pelos
hidrofluorocarbonetos) estão num estágio mais avançado, quando comparado
com as emissões dos outros gases.
Das emissões globais de CO2, 75% resultam da queima de combustíveis fósseis por
parte dos países industrializados; 25% resultam das mudanças de uso da terra por
parte dos países em desenvolvimento.
Nos últimos 100 anos, devido a um progressivo incremento na concentração dos
gases de efeito de estufa, a temperatura global do planeta tem aumentado. Tal
incremento tem sido provocado pelas actividades humanas que emitem esses
gases.
- 8 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
A Regulamentação
Em 2008, a Organização Marítima Internacional (IMO) reviu as normas sobre o
teor de enxofre dos combustíveis marítimos (contido no Anexo VI da MARPOL
Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios). Em Outubro de
2012, as normas foram transpostas oficialmente na Europa.
Nos termos da legislação da UE em vigor:
- A partir de 2015, os navios que naveguem nas zonas de controlo de emissões de
SOx (SECAs Sulphur Emission Control Areas), não podem usar combustível com
mais de 0,1% de enxofre. As SECAs europeias incluem actualmente o Mar Báltico,
o Mar do Norte e o Canal da Mancha;
- Globalmente, os navios terão que reduzir o teor de enxofre do seu combustível
para um máximo de 3,5% em 2012 e para 0,5% em 2020. Enquanto para a IMO,
este limite será sujeito a revisão em 2018, a UE decidiu aderir firmemente à data
de 2020 para a respectiva implementação;
- Apenas na Europa, os navios de passageiros que viajam fora das SECAs terão de
respeitar um limite de 1,5% de enxofre dos combustíveis, limite que foi criado
em 2005.
Os armadores podem optar por diferentes métodos para atingirem a
conformidade e respeitarem a regulamentação:
- Consumir fuel com baixo teor de enxofre;
- Em alternativa ao fuel, optar por propulsão com LNG
(Liquefied Natural Gás);
- Reduzir as emissões de enxofre, equipando os motores com lavadores
(Scrubbers) ou outras tecnologias de limpeza de gases de evacuação.
Com a implementação das normas de enxofre dos combustíveis de transporte
marítimo, aprovadas pela IMO em 2008, espera-se salvar 26.000 vidas por ano na
Europa, a partir de 2020.
A IMO também reforçou as normas relativas às emissões de NOx, através do
Anexo VI da MARPOL, com uma redução de 16 a 22% a partir de 2011,
em comparação aos níveis de 2000, e uma redução de 80% em 2016.
No entanto, enquanto os valores limite de enxofre se aplicam a toda a frota,
o limite de emissões de NOx só se aplica aos novos navios e o limite mais estrito
(Tier III para ser aplicado em 2016), só se aplica aos novos navios que naveguem
nas áreas de controlo das emissões de NOx (NECAs NOx Emission Control Areas).
Não há até ao momento nenhuma NECA na Europa. Por essa razão, o impacto
imediato da regulamentação IMO respeitante a NOx será limitado. As projecções
apontam para que seja provável que as emissões de NOx continuem a crescer na
Europa, mesmo que a regulamentação internacional seja transposta.
- 9 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
A única forma de combater eficazmente as emissões de NOx na Europa, consiste
na aprovação de um regulamento que também considere a frota existente, a qual
é responsável pela maior parte das emissões.
Embora alguns Estados-Membros estejam actualmente a discutir a possibilidade
de classificar áreas NECAs na Europa, não há nenhuma indicação de que a UE
esteja a planear a transposição das normas internacionais para o direito
comunitário, nem a procurar formas de lidar com as emissões de NOx da frota
existente.
SECA do Mar do Norte e Mar Báltico
- 10 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
Evolução global e europeia, na abordagem das emissões provenientes dos transportes marítimos
Os poluentes do ar
A nível global, a IMO aborda a poluição do ar através da Convenção Internacional
para a Prevenção da Poluição por Navios (MARPOL) Anexo VI, definindo os limites
das emissões de óxidos de enxofre (SOx), óxidos de azoto (NOx) e ozono (O3).
Não esquecer que o ozono localizado na faixa de ar próxima do solo, onde
respiramos, também chamado de ‘mau ozono’, é tóxico. Entretanto, na
estratosfera (a cerca de 25 km de altitude) o ozono tem a importante função de
proteger a Terra, como um filtro, dos raios ultravioletas emitidos pelo Sol.
O comité IMO para a Protecção do Meio Marinho (MEPC Marine Environment
Protection Committee) reviu o Anexo VI da MARPOL, reduzindo o teor de enxofre
global de combustíveis navais de 4,5% para 3,5% (em 2012) e, progressivamente,
para 0,5% em 2020 (ou 2025, dependendo da disponibilidade de combustível).
Com data efectiva de 1 de Julho de 2010, os limites de enxofre nas chamadas
zonas de controlo das emissões (SECAs Sulphur Emission Control Areas) para SOx
e PM foram fixados em 1,00%, e deverá ser reduzida para 0,10% a partir de 1 de
Janeiro de 2015.
Um dos métodos para controlar os limites definidos é aplicado no Controlo pelo
Estado do Porto (PSC Port State Control), através da verificação da chamada
nota de entrega de combustível (BDN Bunker Delivery Note). A regulamentação
IMO exige o registo de informações específicas sobre as vendas e consumo de
combustível pelos navios e pelas empresas proprietárias.
De acordo com a regra 18 do Anexo VI da MARPOL, a elaboração e
disponibilização de notas de entrega de combustível de bancas (BDNs) é
obrigatória para navios com mais de 400 GT. O teor de enxofre do combustível
comprado é especificado na BDN pelo fornecedor e uma amostra do combustível
fornecido é mantido no navio.
As reduções das emissões de NOx provenientes dos motores diesel marinhos
também são reguladas, com foco nos novos navios, sendo os limites de emissões
de NOx para motores, definidos em função da velocidade e ano de instalação:
- Os navios construídos entre 2000 e 2011 devem cumprir as emissões de NOx, na
velocidade máxima do motor, de cerca de 9,8-17 grama por quilowatt-hora
(g/kWh) (Tier I);
- Os navios construídos depois de 2011 devem cumprir 7,7-14,4 g/kWh (Tier II);
- Os navios que operem após 2016, nas chamadas zonas de controlo das emissões
de NOx (NECAs) devem cumprir com as emissões de 2,0-3,4 g/kWh (Tier III).
- 11 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
Limites de Enxofre nas revisões MARPOL Anexo VI
De momento não existem NECAs na Europa, embora tenham sido realizados
estudos avaliando o impacto potencial de estabelecer, por exemplo, a NECA do
Mar do Norte. Devido à falta de NECAs e o facto de os limites de emissões de NOX
se aplicarem apenas a novos navios, o impacto dos regulamentos NOx por parte
da IMO parecem ser limitados no presente.
A Estratégia Temática sobre Poluição do Ar, concluída em 2005 na Europa,
concluiu a importância da redução das emissões de dióxido de enxofre (SO2),
NOx e PM a partir de navios, com o objectivo de melhorar a saúde e o meio
ambiente. A Directiva 1999/32/CE, relativa à redução do teor de enxofre de
determinados combustíveis líquidos, limita o teor máximo de enxofre dos
combustíveis navais. A Directiva inclui também alguns requisitos específicos de
combustível para navios que escalem os portos da UE, as obrigações relacionadas
com o uso de combustíveis abrangidos pela directiva, bem como a colocação no
mercado de determinados combustíveis.
A directiva não contém disposições para regular as emissões de navios de NOx ou
PM. Esta directiva foi alterada pela Directiva 2005/33/CE, que designou o Mar
Báltico, o Canal da Mancha e o Mar do Norte como zonas de controlo das
emissões de enxofre (SECAs), limitando o teor máximo de enxofre nos
combustíveis utilizados pelos navios que operem nestas áreas marítimas a 1,5%.
Este padrão de combustível aplica-se também aos navios de passageiros que
operam no serviço regular fora das SECAs. Além disso, introduziu também uma
exigência de teor máximo de enxofre de 0,1% para os combustíveis utilizados
pelos navios atracados nos portos da EU, a partir de 1 Janeiro de 2010.
Recentemente, foi adoptada a Directiva 2012/33/EU que altera a Directiva
- 12 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
1999/32/EC. Esta alteração entrou em vigor em 17 de Dezembro de 2012 e alinha
com as disposições de enxofre estabelecidas pela IMO, na alteração do Anexo VI
da MARPOL, em 2008. Além disso, a directiva fixa a introdução do teor máximo
de enxofre no combustível em 0,5% até 2020, independentemente de um possível
adiamento da IMO, e estabelece um teor máximo de enxofre de 3,5% para os
combustíveis utilizados em navios equipados com um lavador de gases de
evacuação, excepto para lavadores operando em modo fechado.
Até o momento, existem diferentes exigências sobre o teor de enxofre dos
combustíveis navais, dependendo da localização, tipo de navio e, no caso de
NOx, também, a idade do navio. A figura abaixo apresenta uma visão geral dos
diferentes limites de enxofre implementadas e planeadas para combustíveis
navais sob a legislação da IMO e da UE. Comparado com outros tipos de
transporte, o teor de enxofre permanece relativamente alto. Para o transporte
fluvial, os requisitos de qualidade dos combustíveis a partir de 2012 estão ao
mesmo nível dos exigidos para o transporte rodoviário.
Limites de Enxofre nos Combustíveis Marítimos
Dada a dimensão mundial do transporte marítimo e o facto de que os navios
podem utilizar combustível de diferentes qualidades, será difícil monitorizar as
reduções de emissões actuais e futuras.
- 13 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
Gases de efeito de estufa
A nível global e até à data, não foi estabelecida nenhuma meta de redução de
emissões de gases com efeito de estufa, no sector do transporte marítimo.
Devido à dimensão global de operação dos navios, a Convenção das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC United Nations Framework
Convention on Climate Change) reconheceu que a IMO é a melhor organização
para abordar as emissões de gases de efeito de estufa (GHG Greenhouse Gas)
provenientes dos navios. A IMO adoptou em 2003 uma resolução instando a
comissão MEPC (Marine Environment Protection Committee) a avaliar e a
desenvolver mecanismos para reduzir as emissões de gases de efeito de estufa
provenientes dos navios.
Em 2009, o MEPC apresentou um pacote de medidas técnicas/ operacionais para
lidar com as emissões de gases com efeito de estufa, a partir dos navios. Os
principais instrumentos neste pacote foram o Índice de Projecto e Eficiência
Energética (EEDI Energy Efficiency Design Index), o Indicador Operacional de
Eficiência Energética (EEOI Energy Efficiency Operational Indicator) e o Plano de
Gestão de Eficiência Energética do Navio (SEEMP Ship Energy Efficiency
Management Plan). O EEOI e o SEEMP foram finalizados como medidas
voluntárias, enquanto o EEDI poderia ser adoptado como uma medida obrigatória
para navios construídos no futuro.
Recentemente, em 2011, as Partes do Anexo VI da Convenção MARPOL adoptaram
medidas obrigatórias para reduzir as emissões dos novos navios, sob um novo
capítulo 4 intitulado ‘Regulamento de eficiência energética dos navios’.
Este regulamento torna obrigatório o uso do EEDI em novos navios e embarcações
que sofreram grande revisão após 1 Janeiro de 2013. O regulamento aplica-se aos
navios com mais de 400 GT, portanto, não cobre todas as embarcações.
Adicionalmente, foi introduzida uma alteração ao Anexo VI da MARPOL, que
obriga cada navio a ter um SEEMP a bordo. No entanto, não torna obrigatório
a implementação das medidas descritas no mesmo.
A UE comprometeu-se a reduzir as emissões de gases de efeito de estufa em pelo
menos 20% até 2020, até que um acordo global e abrangente pós-2012 seja
concluído. O transporte marítimo internacional é o único sector da EU não
coberto por uma meta de redução de emissões. Em 2011, um grupo de trabalho
foi criado no âmbito do Programa Europeu sobre Alterações Climáticas
(ECCP European Climate Change Programme) e as medidas de redução
e instrumentos foram avaliados e discutidos.
Em Junho de 2013 a UE apresentou uma estratégia para a criação de um sistema
de monitorização, comunicação e verificação (MRV Monitoring, Reporting and
Verification) das emissões de dióxido de carbono (CO2) dos transportes
marítimos, a partir de 2018, que aguarda aprovação do Parlamento Europeu e do
Conselho.
- 14 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
EEOI: O Indicador Operacional de Eficiência Energética é um instrumento de
informação que permite aos operadores de navios, comparar a eficiência de
consumo de combustível dos navios em relação a valores de referência.
SEEMP: O Plano de Gestão de Eficiência Energética do navio, permite registar as
medidas operacionais que podem ser, ou são aplicadas, para melhorar a
eficiência energética do navio comparativamente a valores de referência (EEOI).
EEDI: O Índice de Design de Eficiência Energética, aprovado em Julho de 2011
pela Organização Marítima Internacional (IMO), é o primeiro padrão global
vinculativo relacionado com mudanças climatéricas. É aplicável a 180 estados e
entrou em vigor em 1 de Janeiro de 2013. O índice exige que os navios
encomendados a partir desta data, se tornem mais eficientes em termos
energéticos, com normas que se tornarão mais rigorosas ao longo do tempo.
Diferentes classes de navios terão diferentes limites a atingir. No entanto:
- Será aplicada uma meta de melhoria global de 10% na eficiência energética,
aos novos navios construídos entre 2015 e 2019;
- Os navios construídos entre 2020 e 2024 terão de melhorar a sua eficiência
energética de 15 a 20%, dependendo do tipo de navio;
- Os navios entregues após 2024 terão de ser 30% mais eficientes.
Ao ritmo de renovação da frota, vai demorar uma ou duas décadas antes do EEDI
ser totalmente eficaz para todos os navios, o que significa que não vai realmente
fazer uma diferença significativa para as emissões globais de navegação, antes
de 2035. O Índice EEDI será aplicado a todos os navios e a todos os países. No
entanto, alguns países podem decidir renunciar às exigências do EEDI. A cláusula
de renúncia é limitada no tempo e só pode ser aplicada durante quatro anos após
a entrada em vigor do regulamento. Ainda não há nenhuma indicação sobre o
potencial de utilização da cláusula de dispensa por alguns estados bandeira, mas
em todo o caso, o impacto da dispensa pode ser limitado no longo prazo.
Um navio não compatível com o EEDI terá um valor inferior no mercado de
segunda mão e a sua capacidade de obter um contrato pode ser reduzida, dado
que os fretadores preferem navios mais eficientes.
O Brasil, China, Índia, África do Sul, Arábia Saudita e outros países em
desenvolvimento, opuseram-se fortemente à aprovação do EEDI, não tanto
porque são contra as normas, mas porque o EEDI é uma medida que foi
projectada para aplicação universal. Para esses países, o EEDI estabelece um
precedente contra o princípio de política climática ‘responsabilidades comuns,
mas diferenciadas’ (CBDR common but differentiated responsibilities) ou seja,
que o mundo em desenvolvimento deve ter que fazer menos para reduzir as
emissões do que os países desenvolvidos.
- 15 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
Como pode a aplicação do EEDI resultar em emissões mais baixas?
Se os navios forem mais eficientes, irão queimar menos combustível e, como
consequência, emitem menos dióxido de carbono. As estimativas indicam que,
se o EEDI for implementado de acordo com o cronograma original, com navios
compatíveis a navegar a partir de 2015, poderão ser evitadas 15 a 45 milhões de
toneladas (Mt) de CO2 por ano até 2020 e entre 141 e 263 milhões de toneladas
de CO2 por ano em 2030.
Se a implementação for adiada por quatro anos para todos os navios (aplicação
das disposições de isenção EEDI), o potencial de redução de CO2 cairá para 2 a 6
milhões de toneladas de CO2 em 2020 e 80 a 143 milhões de toneladas em 2030.
Acções voluntárias e outras práticas
Outra abordagem que visa reduzir as emissões do transporte marítimo, consiste
na sensibilização dos operadores do sector. Organizações como o Danish Eco
Council (2012) defendem a introdução da chamada rotulagem individual dos
navios, identificando a sua eficiência energética, facilitando a selecção de navios
energeticamente eficientes quando os mesmos são fretados por empresas.
É importante ter em mente que, actualmente e na maioria dos casos, as
actividades de rotulagem consideram informação de projecto de navios como a
incluída nos registos internacionais e, portanto, devem ser considerados como
rótulos teóricos. O consumo de energia real de um navio e sua eficiência durante
uma viagem em particular, é também determinada por procedimentos
operacionais do navio e factores externos, como as condições climatéricas.
Um exemplo de um sistema de rotulagem energética, é a aplicação desenvolvida
pela ShippingEfficiency.org e pela RightShip, hospedada pelo Carbon War Room,
designada por Índice de Design de Navios Existente (EVDI Existing Vessel Design
Index) e Gases de Efeito de Estufa (GHG Greenhouse Gas Emissions Rating).
Esta iniciativa tem o objectivo de aumentar de fluxos de informação, em torno
da eficiência energética do transporte marítimo internacional e ajudar a reduzir
os impactos ambientais da frota de navios do mundo.
Semelhante ao Índice de Projecto de Eficiência Energética da IMO (EEDI), o EVDI
mede as emissões de CO2 de um navio. No entanto, ao contrário do EEDI que é
aplicado a novos navios a partir de 2013, o EVDI foi projectado para ser aplicado
à frota existente.
O EVDI é calculado usando as características do navio, com incorporação de
parâmetros que incluem:
- Capacidade do navio;
- Potência do motor;
- Velocidade de projecto;
- Consumo de combustível.
- 16 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
Para determinar o EVDI de um navio, são utilizados dados de várias e reputadas
fontes independentes, incluindo:
- IHS Fairplay;
- RightShip’s Ship Vetting Information System (SVIS);
- Sociedades de classificação;
- Os dados do proprietário;
- Dados de origem do navio.
O desempenho relativo de um navio é então apresentado, utilizando uma escala
europeia normalizada de A a G, com base no número de desvios padrão de um
navio, a partir da média para os navios de tamanho similar e de um mesmo tipo
(sendo A o mais eficiente e, G o menos eficiente).
Comparação EEDI, EEOI, EVDI
- 17 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
As Soluções
Os preços dos combustíveis continuam a sua ascensão inexorável e a nova
legislação ambiental aumenta exigências progressivamente, conduzindo ao
aumento da procura por tecnologias, que permitam economia de custos e
conformidade regulamentar em termos de emissões totais.
Os incentivos para a mudança, apontam para o aumento da eficiência e
desempenho da frota de transporte marítimo e a diminuição do consumo de
combustível, reduzindo custos e ao mesmo tempo poluição e riscos.
O cenário que apresenta maiores vantagens, na relação custo benefício para
aumentar a eficiência dos navios, não está nas novas construções, mas sim na
remodelação e modernização de equipamento de navios existentes, com uma
variedade de tecnologias diferentes, muitas das quais tem um período de retorno
de menos de três anos. Há mais de 60 tecnologias e mais de 130 fornecedores de
tecnologia.
Empresas fornecedoras de tecnologia, incluindo a Wartsila, Mitsubishi e
Caterpillar, oferecem cada vez mais produtos de eco-eficiência.
Surgiram também várias empresas novas fundadas nos últimos cinco anos.
As categorias de tecnologia de eficiência relevantes para os navios existentes
incluem os seguintes vectores de acção:
• Casco dos Navios - Revestimentos, optimização e manutenção
• Propulsão - Sistemas de propulsão alternativos
• Hélices - Novas hélices, manutenção e optimização
• Motor - Sistema de recuperação, motores a gás e actualizações de motor
• Software - Rotas considerando condições meteorológicas
- 18 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
Exemplos destas tecnologias e do seu potencial de eficiência estimado, são
apresentados na figura. Os intervalos nas estimativas de eficiência reflectem, em
parte, a dificuldade de se obter boas estimativas, devido a variações
operacionais, bem como a remanescente incerteza tecnológica.
Tecnologias para maior eficiência e menos consumo de combustível
Fonte: Carbon War Room – Shipping Report 2011
- 19 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
Operacões com impacto na eficiência energética
Fonte: Carbon War Room – Shipping Report 2011
Calculadora de poupança por implementação de eco-tecnologias
Fonte: http://shippingefficiency.org/savings-calculator
- 20 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
Medidas para reduzir os poluentes do ar e as emissões de gases de efeito de estufa provenientes dos transportes marítimos Qualidade dos combustíveis / troca de combustível
As emissões de SO2 são proporcionais ao teor de enxofre no combustível.
A maioria dos estudos de cenários, assume que o sector do transporte marítimo
vai seguir os limites de teor de enxofre ao longo do tempo. Assume ainda que os
navios vão mudar para combustível com baixo teor de enxofre, quando entrarem,
por exemplo, em SECAs.
O LNG é um combustível alternativo que está a ser considerado e utilizado,
especialmente no transporte marítimo de curta distância e ferries. Embora a sua
utilização exija modificações técnicas nos motores, a vantagem é que o LNG não
emite SO2 e emite cerca de 90% menos de NOx, em comparação com o fuel de
bancas. As emissões de CO2 também são reduzidas; o LNG emite cerca de 20%
menos CO2.
Tecnologias de redução de emissões
Com a lavagem dos gases de evacuação por água do mar (scrubbing), as emissões
de SO2 podem ser reduzidas até 75% e as partículas de matéria até 25%.
O método mais eficiente para reduzir as emissões de NOx, consiste na instalação
de tecnologia de redução catalítica selectiva (SCR Selective Catalytic Reduction)
com capacidade para reduzir as emissões de NOx em 80%.
Medidas alternativas são, por exemplo, o uso de injectores de combustível com
válvula deslizante (slide fuel valve) em vez de válvulas convencionais, reduzindo
as emissões de NOx e PM e, adicionalmente, a utilização de filtros de partículas
(DPF Diesel Particulate Filter). Em relação às emissões de partículas, as válvulas
deslizantes podem reduzir as respectivas emissões em 25 a 50% e os filtros DPFs
podem atingir cerca de 70 a 95% de redução de PM e 95 a 99% de redução de
emissões de carbono negro BC (Black Carbon).
Procedimentos operacionais do navio
Devido aos preços relativamente elevados dos combustíveis marítimos, da crise
económica e do grande excesso de capacidade de navios disponíveis, algumas
empresas iniciaram a prática de 'slow steaming'. Basicamente, a velocidade do
navio é reduzida o que significa que o motor não é usado na potência máxima,
economizando combustível e reduzindo as emissões de CO2 e de poluentes
atmosféricos. A redução de 10% da velocidade do navio, permite uma redução de
27% das emissões do navio.
Em geral, se todos os navios aplicassem esta prática, a capacidade disponível no
mercado seria reduzida (mais navios seriam necessários para realizar o mesmo
trabalho de transporte). Se as emissões adicionais de construir e operar esses
novos navios forem considerados na equação, então reduzir a velocidade da frota
em 10% levaria a uma poupança global de CO2 de 19%.
- 21 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
Reduzir a velocidade dos navios, multiplica os efeitos positivos do índice de
eficiência energética, dado que queimam menos combustível e, portanto,
emitem menos gases de efeito de estufa CO2 e outros. Contribui também para
reduzir significativamente as emissões de poluentes atmosféricos, tais como
NOx e PM.
A prática de slow steaming, é muitas vezes considerada como a forma com a
melhor relação custo-benefício para reduzir as emissões de CO2, uma vez que
pode ser feito sem quase nenhum custo, traduzindo-se em economia para as
operadoras.
Um representante da Maersk, a maior empresa de transporte de contentores do
mundo, afirmou que a empresa opera em slow steaming com sucesso desde 2007,
com diminuição da carga dos motores até 35%, sem quaisquer problemas
técnicos. Pelo contrário, esta prática trouxe economia de combustível, redução
de custos de manutenção e problemas operacionais. O representante da Maersk
afirmou também, que a sua empresa não vê problemas técnicos na
implementação do chamado super-slow steaming, o que significa diminuir a
potência do motor até 90%.
Outro procedimento operacional que pode reduzir as emissões é o chamado shore
power. Consiste em desligar os motores principais e auxiliares de um navio
quando atracado e realizar a conexão à rede eléctrica do porto.
Os petroleiros e navios de passageiros, nem sempre usam a electricidade do
porto. Os petroleiros usam os motores principais para descarga de energia
e bombas de carga e os navios de passageiros usam a potência extra para ventilar
e manter os serviços eléctricos gerais em funcionamento, enquanto os
passageiros e a carga realizam o embarque ou desembarque.
- 22 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
Iniciativas com impacto na redução de consumo de combustível (fonte: shippingefficiency.org)
- 23 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
- 24 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
- 25 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
- 26 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
- 27 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
- 28 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
- 29 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
- 30 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
- 31 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
- 32 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
- 33 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
A Conclusão Segundo o Carbon War Room, a indústria marítima tem a oportunidade de
economizar US$ 70 bilhões por ano em combustível e reduzir o carbono e outros
poluentes em 30%.
Através de medidas de eficiência, estima-se que o transporte marítimo pode
reduzir o consumo de combustível entre 30 e 60 por cento, com a grande
variância devida às diferenças entre modelos, idade de navios e incerteza
tecnológica.
As más notícias:
A poluição é um caso muito sério e o seu incremento irá persistir no tempo,
exigindo medidas eficazes e enérgicas e claro, o alinhamento, compromisso e
disciplina, por parte de governos, instituições, operadores e marítimos.
As boas notícias:
A poluição pode, deve e irá ser combatida, através do incremento da eficiência
energética e da sensibilização dos operadores, aspectos que irão estimular
o mercado de investigação, desenvolvimento, produção, implementação
e manutenção de novas tecnologias, gerando dinâmica na economia e no
mercado de trabalho.
Disse Einstein:
‘Insanidade é continuar a fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados
diferentes’
Seja bem-vinda a mudança.
Para melhor, claro!
- 34 - ALVARO SARDINHA 2013 Poluição e o Transporte Marítimo
Webgrafia
http://www.imo.org
http://www.carbonwarroom.com
http://shippingefficiency.org
http://www.eea.europa.eu
http://www.transportenvironment.org
http://ec.europa.eu
http://www.emsa.europa.eu
http://fathom-ctech.com/news
http://www.iiasa.ac.at
www.wikipedia.org