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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

A POESIA DO COTIDIANO NA ESCOLA

Celita Braganholo Prediger 1

José Carlos Aissa2

RESUMO:

Este artigo é uma proposta para se refletir sobre a falta de leitura/literatura poética, em especial a poesia no cotidiano escolar. Apesar de sabermos a importância dela, muitos professores encontram dificuldades na metodologia, porque reconhecem que é um tipo de texto/gênero diferente dos outros. A leitura de poesia em nosso cotidiano e ao longo do ensino fundamental é uma proposta mediadora e a partir de uma concepção de leitura/ literatura, associada com a poesia é que sentimos a necessidade de concretizar um plano que integre os processos de ensino aprendizagem através da poesia, mostrando que a leitura literária deve ser vista como um hábito rotineiro, sendo este trabalho desenvolvido com alunos do 6º ano da Escola Estadual do Campo Antonio Francisco Lisboa – EF do município de Capanema Pr. Foi propiciada aos alunos a integração com a linguagem poética, com a poesia do cotidiano. Os poemas trabalhados são alguns de Cecília Meireles, Sidônio Muralha e José Paulo Paes. Nos poemas, o trabalho foi variado, visto que o aluno precisou ler, analisar, refletir, comparar, produzir, ilustrar, saber se expressar. No decorrer das aulas, foram ofertadas atividades individuais e coletivas propondo o Método Recepcional de BORDINI e AGUIAR garantindo assim o domínio da linguagem poética, bem como o seu entendimento frente aos textos poéticos trabalhados. Pretendemos também mostrar neste artigo o uso da poesia do cotidiano através de experiências bem sucedidas, resgatando assim, o prazer da leitura poética, a produção e declamação da mesma.

PALAVRAS CHAVE: Leitura. Literatura. Poesia. Escola.

1 Graduada em Letras-Português/Literatura. Especialista em Português e Literatura. Professora das Escolas

Estaduais do Campo Pinheiro e Antonio Francisco Lisboa – E F Capanema Pr. 2 Doutor em Letras - UNESP - São Paulo. Mestre em Literatura Comparada - The Pennsylvania State

University-USA. Professor Adjunto de Língua Inglesa e Respectivas Literaturas - UNIOESTE-Cascavel-PR. Professor do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras – UNIOESTE Cascavel-PR.

INTRODUÇÃO

Eu não forneço nenhuma regra para que uma pessoa se torne poeta e

escreva versos. E, em geral, tais regras não existem. Chama-se poeta

justamente o homem que cria estas regras poéticas. (MAIAKOVSKI,

p.114, 1947).

A literatura é arte e como tal também vem preencher a necessidade do que

é belo do ser humano, representando a realidade, ela se move e organiza

envolvendo: a cultura da linguagem, da arte, da economia, entre outros. É uma

arte prática aberta e movendo-se até onde o mundo do leitor permitir.

O mundo infantil é um momento rico na busca do conhecimento em relação

à literatura, à poesia, defendido por Sidônio Muralha (1978). Ele sempre se

interessou pelas crianças, dando tudo de melhor quando escrevia para elas.

Comentou que quando escrevia, via desfilar nelas, imagens da infância que

gostaria de ter tido e recebido. Na maioria das vezes, a criança aceita o jogo do

faz de conta e se prende ao convencionalismo do mundo adulto. A infância é

cheia de falas, imagens altamente poéticas, com aspectos fantásticos e

maravilhosos da experiência do dia a dia.

Propõe-se aqui o estudo da poesia e a leitura do texto literário,

distinguindo-se a forma como este utiliza a linguagem, além de incentivar o aluno

a ver, refletir e questionar de diversas formas o poema.

Na proposta metodológica para o trabalho com a literatura,

especificamente poesia, em sala de aula, baseia-se nos pressupostos da Estética

da Recepção, denominada por Vera Teixeira Aguiar e Maria da Glória Bordini

(1993), de Método Recepcional, onde as autoras pontuam que, para o contato

com determinadas obras é necessário que o leitor adote uma postura, permitindo

que atue sobre expectativas através das estratégias textuais intencionadas.

Uma frase nas DCES (2008) marca o início do trabalho do professor no dia

a dia da escola com a poesia: “O professor deve estimular, nos alunos, a

sensibilidade estética, fazendo uso, para isso, de um instrumento imprescindível

e, sem dúvida, eficaz: a leitura expressiva”.

Esse é o processo em que o professor passa a refletir muito sobre o seu

trabalho que ocorre no plano da linguagem. Uma vez que perceber, expressar e

recriar com seus alunos o que acontece em sala de aula, o seu dia a dia, a sua

vida no campo, e após colocar em prática, analisando cada situação, momento,

dificuldade até a transição e interpretação, aquilo que o aluno entendeu,

percebeu, analisou, produziu e quis expressar e isso vem mostrar que a literatura

amplia, enriquece a nossa visão da realidade de um modo específico.

Quanto à importância da literatura Bakhtin (1988), afirma que ela tem a

palavra como matéria e as palavras são tecidas a partir de uma multidão de fios

ideológicos que servem para expor a trama das relações sociais em diferentes

domínios. Isto nos mostra que os textos literários traduzem um tempo e um

espaço determinados, dando lugar a diferentes discursos, remetendo a contextos

sócios históricos e reproduzindo um mundo de opiniões.

José Paulo Paes (1996) afirma que “A poesia tende a chamar a atenção

para as surpresas que podem estar escondidas na língua que ela (a criança) fala

todos os dias sem dar conta delas.”

É preciso esclarecer que o texto literário, afirmado por Stopa e Boberg

(2009), deve ser sempre o objeto principal das aulas de Língua

Portuguesa/Literatura. Com a finalidade de formar leitores e não tão só

apreciadores da literatura, o que leva a influenciar também a poesia, por meio do

qual os alunos passam a utilizar a linguagem de modo adequado nas diversas

situações comunicativas, bem como fruir e refletir sobre elas.

As palavras exercem diferentes funções na relação entre texto e melodia,

nas composições de poetas e músicos. À medida que as palavras são compostas

em versos, em diferentes formas e gêneros, observamos uma variedade muito

grande de associações melódicas e rítmicas que são responsáveis pelos

diferentes movimentos estéticos da poesia.

Levando em conta o papel do leitor e a sua formação, será através do

Método Recepcional que trabalharemos com poesias de Sidônio Muralha, Cecília

Meireles e José Paulo Paes. Nele, o leitor terá a liberdade de leitura, reflexão,

compreensão e interpretação daquilo que lê. Suas experiências serão

consideradas e seus horizontes de expectativas também valorizados. Por meio

desse método, os alunos terão maior facilidade de apreensão, porque serão

auxiliados no exercício que visa à ampliação de seus conhecimentos. Dessa

forma, o horizonte de expectativas pode ser modificado e alargado, fazendo do

aluno um leitor mais rico, crítico e sensível.

Dentro da poética, podemos observar também três gêneros e seus traços

estilísticos: o épico, lírico e dramático.

De acordo com os gêneros acima citados, o trabalho a ser desenvolvido

com os alunos, com leitura literária, será o gênero lírico.

Queremos proporcionar aos alunos atividades de leitura de poemas,

pesquisas com a comunidade escolar sobre o que podem contribuir para com a

poesia do cotidiano, pesquisa de autores consagrados para enriquecer e

estimular um novo olhar sobre o gênero poético, o qual irá ajudá-lo a escrever

textos cada vez melhores, ampliando o domínio da leitura e da escrita,

interpretando de forma agradável cada verso lido ou produzido.

2 METODOLOGIA

Este trabalho foi desenvolvido junto com alunos do 6º ano da Escola

Estadual do Campo Antonio Francisco Lisboa – E.F, do município de Capanema –

PR, a qual atende alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, localizada no

Distrito de Cristo Rei – Zona Rural -, pertencente ao Núcleo Regional de

Educação de Francisco Beltrão, no período de março a setembro de 2015.

A pesquisa faz parte do Projeto de Implementação Pedagógica

denominada “A poesia do cotidiano na escola”. Foi iniciado com uma verificação

sobre o conhecimento prévio com a poesia e na sequência foi aplicada a

intervenção onde foram utilizados vídeos, imagens, textos/poesias, quebra-

cabeça, ilustrações, pesquisa, debates, produção oral e escrita, criatividade,

participação e apresentações.

No GTR – (Grupo de Trabalho em Rede), da Secretaria Estadual de

Educação, o qual foi desenvolvido com um grupo de docentes na modalidade de

EAD, foram disponibilizados textos, links, vídeos, sites, imagens e produções do

professor PDE. Este “Programa de Formação Continuada” veio agregar

conhecimentos de forma positiva, por se tratar de uma capacitação dinâmica, com

interações, discussões, produções e auto avaliações. Atividades que remeteram

aos cursistas reflexões abrangentes, além de este servir de suporte às ações

pedagógicas, que podem ser desenvolvidas no contexto escolar. Os profissionais

envolvidos faziam parte de vários contextos sociais, econômicos e culturais do

Estado do Paraná, e isso enriqueceu ainda mais as trocas de ideias e

experiências vividas pelos profissionais de acordo com a sua realidade, tornando-

se assim em uma formação continuada muito expressiva e valiosa.

Para a avaliação da implementação foram utilizadas como referências os

comentários dos professores do Grupo de Trabalho em Rede, dos professores e

equipe pedagógica do estabelecimento de ensino, os quais acompanharam o

desenvolvimento da implementação a partir da apresentação que ocorreu na

semana pedagógica de fevereiro de 2015 até o final desta.

1 INÍCIO DO TRABALHO COM O GÊNERO LÍRICO

Como incentivo à formação de leitores do texto literário é necessário o uso

de uma metodologia eficaz. Uma delas é conhecida como o método recepcional

que investiga o interesse dos alunos e por meio dele integra valores de ensino e

aprendizado. Um processo que focaliza o aluno e seus interesses no aprendizado

literário, foi desenvolvido por Bordini e Aguiar (1993). É um processo voltado para

o meio de ensino e não para o seu fim. O professor funciona como mediador e

gerencia os múltiplos interesses na sala de aula e se apresenta em cinco lições

que em cada uma trabalhou-se os horizontes de expectativas.

A primeira lição foi determinar o horizonte de expectativas através de

uma sondagem sobre a poesia o que sabiam, onde foram feitas anotações no

quadro e em seguida foi passado um vídeo “Jardim de Pássaros ao som da viola”

para motivação e reflexão à próxima atividade

Procurou-se neste trabalho desenvolver a prática da leitura de forma

atraente, fazendo um levantamento sobre o que sabiam sobre poesia e em

seguida com um vídeo de motivação determinando assim o horizonte de

expectativas, aproximando o tema do mesmo com a poesia “Pássaro livre” de

Sidônio Muralha que em forma de quebra-cabeça exposto no quadro, fazendo

com que percebessem a sonoridade, as rimas, a intenção do autor e a sequência

de ideias. Foram rodadas de montagem e percebeu-se então a dificuldade com

relação à poesia e só após sugerir-lhes pistas, por exemplo, o terceiro verso é tal,

então conseguiram montá-la, mas sempre os questionando e dizendo-lhes que se

colocassem no lugar do pássaro, como se sentiriam presos à gaiola e vendo-a

aberta, qual seria a intenção e a partir desta vivência e questionamento continuar

na montagem da poesia. Outro trabalho que chamou atenção foi com a poesia

“Dia de festa” de Sidônio Muralha, pois observaram com atenção as estrofes,

versos e rimas seguindo com a ilustração e exposição do trabalho no mural da

sala.

No atendimento ao horizonte de expectativas a atividade foi com uma

dinâmica dos envelopes poéticos.

Antes mesmo de iniciar a aula, os envelopes foram colocados em diversos

ambientes: biblioteca, sala de jogos, saguão, quadra de esportes e pátio da

escola. Nos envelopes continha a poesia “Convite” de José Paulo Paes toda

recortada em versos. O envelope estava endereçado aos alunos do 6º ano

(destinatário) e remetente, a professora. Ao encontrar o envelope, foram

conduzidos para a quadra de esportes e antes de abrir o envelope teve a seguinte

proposta: “Os poemas são pássaros que se alimentam em nós...” É por isso que

precisamos liberar esses versos! Então vamos liberá-los? Cada grupo abriu seu

envelope, liberando os versos e montando a sua poesia. Percebi no decorrer da

reconstrução da poesia pontos importantes a serem trabalhados como os versos

sem a sequência de ideias, concordância, pontuação, todas ficaram diferentes,

mas como a reconstrução era livre, a poesia ficou em desacordo em muitos

pontos e sem sentido, pois cada equipe fez da forma que achou melhor. Em

seguida, colaram os versos em uma cartolina e apresentaram aos demais grupos,

dramatizando-a. A poesia em sua forma original foi exposta na aula seguinte em

papel pardo na sala de aula. Neste momento os alunos fizeram comparações com

a poesia montada por eles. Seguiu-se com um debate sobre a poesia e uma

questão difícil para eles entender foi sobre o eu-lírico, o que através de exemplos

entenderam que na literatura é usado como um termo para demonstrar o

pensamento.

Aproveitou-se no atendimento ao horizonte de expectativas para trabalhar

correspondência, em especial carta, pois na poesia de José Paulo Paes –

“Convite” - é que foi dado o encaminhamento para esta atividade, em que

mostrando todos os passos no preenchimento de um envelope e a estrutura da

carta, bem como uma pesquisa na família sobre o uso desse meio de

comunicação, sendo este, pouco usado pelos nossos alunos, pais e comunidade.

Souberam através de esta atividade diferenciar destinatário e remetente, através

de exemplos práticos. Também com endereços trazidos de parentes, produziram

cartas e preencheram os envelopes para o envio das mesmas. Um vídeo

apresentado sobre o funcionamento dos correios trouxe grande expectativa, pois

não tinham noção de como uma carta chegava ao destinatário e ao final do

trabalho concluíram que outros meios de comunicação hoje são mais ágeis,

eficientes, rápidos do que uma carta. Nesta situação foi colocado que quando é

um documento original a ser enviado, deverá ser pelo correio em carta registrada

ou SEDEX.

Para complementar o segundo horizonte de expectativas, cada aluno

colocou seu nome e endereço completos em um papel, que recolhido pela

professora e distribuído aleatoriamente aos participantes onde como tarefa de

casa, era escrever uma carta correspondente ao destinatário recebido. A

expectativa da aula seguinte foi tão grande que não viam a hora de entregar e

receber a carta. Muito suspense. Após cada um ler sua carta, queriam ler a dos

colegas, alguns até trocaram, mas outros não. Pediram que repetisse a dinâmica.

A interação da poesia “Convite” com a carta é uma das responsáveis pelo

desenvolvimento da capacidade linguística, para isso é fundamental que na

prática pedagógica do cotidiano de sala de aula os alunos tenham oportunidades

com estratégias diversificadas e significativas, respeitando o ritmo e o interesse

dos mesmos.

O trabalho do professor é essencial para desenvolver os horizontes e

também as habilidades dos alunos ao estímulo à leitura poética, contemplando o

próximo horizonte que é a ruptura no horizonte de expectativas, este foi feito

através de uma pesquisa sobre Cecília Meireles e José Paulo Paes. Dois

momentos importantes no trabalho foram relatados, uma que Paes foi aluno em

Curitiba e que na época ele colaborou com a revista “Joaquim” de Dalton Trevisan

e a outra foi quando no decorrer da pesquisa encontraram a poesia que

trabalhamos no envelope poético, “Convite”.

Cecília Meireles, considerada uma das vozes líricas mais importantes das

literaturas também foi pesquisada onde se relatou sua biografia e obras e o que

chamou atenção dos alunos foi que ela, aos 19 anos de idade escreveu o primeiro

livro de poesias “Espectros” um conjunto de Sonetos simbolistas.

Uma de suas poesias “O vestido de Laura”, proposta na sequência

encantou-os, porque nela observaram, após debate e análise, o que o vestido

significava na vida de cada pessoa. Através de comparações das flores, das

cores, dos bordados de cada babado, descobriram que cada babado

representava uma das fases da nossa vida, ou seja, “o primeiro todinho, todinho

de flores de muitas cores” representando a infância; “o segundo apenas,

borboletas voando num fino bando”, este representando a adolescência e “o

terceiro babado todo de renda, talvez de lenda”, representando a fase adulta. O

trabalho com a poesia “O vestido de Laura” tem como objetivo apresentar e

conhecer algo novo, mas não rejeitar o que já sabe, aprendeu. Faz-se necessário

manter certo vínculo com a fase anterior sem usar procedimentos repetitivos.

Foi proposto um desafio em versos, em que substituíram o vestido de

Laura por outro objeto que achavam interessante colocar em sua poesia. Uma

atividade produtiva na qual observei que optaram em fazer com rima a maioria

das estrofes, por exemplo, a produção de uma aluna ficou assim:

O LIVRO DE LAURA

O livro de Laura é assim

Muito importante

Para mim

Ele ajuda na escola

Com histórias interessantes

Ler e ir bem nas provas

É uma coisa constante!

A sua forma de produção e apresentação ocorre na disposição das

palavras, dos versos, das rimas e das estrofes, como algo bem natural,

espontâneo, visto que não foi uma atividade restrita, e objetivou-se no estímulo e

criatividade de todos.

É necessário que o professor compreenda que o ato de interpretar uma

poesia não pode ficar restrito a sua forma de apresentação sobre uma

página, ou seja, como ocorre a disposição das palavras, dos versos, das

rimas e das estrofes, e nem somente pelos questionamentos

apresentados nas atividades de interpretação propostas pelos livros

didáticos, pois as perguntas são impressionistas. Assim afirma Micheletti:

(MICHELETTI, 2001, p. 22).

Na atividade seguinte foi sugerido que produzissem uma poesia

descrevendo a sua família, mas antes foi realizado comentários, debates. No

início a timidez de alguns fez com que precisassem de ajuda, porque as poesias

estavam ficando um texto sem estrutura, uma descrição, versos bem

desproporcionais, mas em seguida liberaram suas ideias e conseguiram produzir

lindas poesias, como exemplo segue uma delas:

A família de Camila

A minha família é bem grandinha

É como uma escadinha

Do mais novo ao mais velhinho.

Minha mãe se chama Eliane

Minha avó se chama Vitória

Meu pai que é o Anderson

Para mim isso é uma glória.

Meu avô que é o Antônio

Gabriel é o meu irmão

Todos são da minha família

Tenho-os sempre no coração.

Os demais não vou citar

São muitos e com valor

E cada um deles

Eu trato com muito amor.

Com a produção de todas as poesias prontas na hora do recreio,

aconteceu a apresentação delas no saguão da escola a todos os alunos,

professores e funcionários da escola e em seguida postas na “Vitrine da poesia”.

O que percebi e me chamou atenção é que após a produção e apresentação,

acabei conhecendo melhor cada aluno, suas angústias, dificuldades, problemas

familiares e que muitas vezes não descobrimos e nem entendemos o porquê do

aluno ter deficiências de aprendizagem.

No questionamento do horizonte de expectativas que é decorrente das

fases anteriores foi feito uma análise comparando atividades que exigiram maior

atuação e proporcionaram satisfação à turma. Houve a retomada da poesia “O

vestido de Laura” que no início entenderam que a poesia simplesmente falava de

um vestido, como ele se apresentava, a sua descrição, mas quando comecei a

fazer comparações com cada um dos babados, conseguiram entender o que a

autora propôs em cada babado, os mesmos representavam as fases da nossa

vida. Após as produções apresentadas o passo seguinte foi o levantamento de

autores consagrados na poesia que conheciam ou após várias aulas de leitura

perceberam que também tinham poesias interessantes como de Mário Quintana,

Carlos Drummond de Andrade e Roseana Murray e uma das poesias que chamou

atenção de vários alunos foi “Classificados Poéticos” da Roseana. Houve vários

questionamentos sobre a autora, bem como das suas poesias e a partir da última

estrofe do poema, a atividade foi produzir uma com a sugestão deles, ficando

assim:

Classificados poéticos

Procura-se um livro de poesias

que eu possa ler dia e noite, noite e dia

que tenha muitas poesias de alegria

para que eu não desanime

com as coisas que acontecem

no decorrer do dia a dia

é com muita alegria e sabedoria

que vivemos todos os dias

lendo um bom livro de poesias!

Outras sugestões como: “Colecionador de palavras troca”, “Quero gotas de

sabedoria”, entre outras. Muito interessante, o querer deles, pois verificou-se

quais conhecimentos facilitaram o entendimento, despertando uma reflexão nas

relações entre leitura, produção e vida.

Na ampliação do horizonte de expectativas que decorreu das ações

realizadas anteriormente, os alunos, nessa fase tomam consciência de que as

leituras e produções ora realizadas não apenas se referem à atividade autônoma

ao âmbito escolar, mas já entendem alguns pontos importantes, que suas

capacidades tornaram-se ampliadas. Percebeu-se que houve uma tomada de

consciência em relação à literatura, estão buscando textos mais complexos

capazes de atender suas expectativas e ampliá-las.

Como proposta de trabalho neste horizonte foi com entrevista na

comunidade, onde várias famílias foram entrevistadas em que as perguntas

baseavam-se em locais, pessoas e os sentimentos das mesmas no momento.

Vários depoimentos envolvendo idosos, comerciário, pais de alunos, ex-

professora entre outros. Após coletar informações e lançadas no quadro, em

especial os sentimentos dos entrevistados, em dupla, produziram uma poesia que

em seguida apresentaram no saguão da escola e exposta na vitrine da poesia.

Segue uma como exemplo.

Entrevista na comunidade

Fomos à casa do senhor Vilmar

Para fazer uma entrevista

Recebeu-nos com carinho

Como se fôssemos uma visita.

Perguntamos muitas coisas

Pois ele nos respondeu

Foi uma grande alegria

Que até se comoveu.

Ele tem cinquenta anos.

Adora cozinhar

Cuida de sua família

E não deixa nada faltar.

Ficou muito feliz e contente

A alegria foi tanta, que o fez chorar

De lembrar os tempos de criança

Que ele não pode estudar.

Agradecemos ao senhor Vilmar

Que bons conselhos nos deu

Não esqueceremos o que disse:

“Foi um presente de Deus”.

A realização do trabalho com a entrevista levou o aluno ao aprimoramento

da oralidade, leitura, análise sobre o seu comportamento e de seu grupo,

despertou uma visão crítica, desencadeando uma familiaridade com o texto

literário nos depoimentos ouvidos, em especial a produção e leitura poética, por

isso cabe aos professores oportunizar atividades lúdicas aos seus alunos, porque

acredita-se que este é um dos caminhos importantes, levando-os ao gosto

espontâneo com a leitura literária, estimulando a sensibilidade e a criatividade de

todos.

2 Explorando os recursos poéticos

Uma das mais marcantes características da linguagem poética é a

utilização da linguagem figurada que na língua portuguesa, a variação da posição

de um adjetivo antes ou depois do substantivo interfere no significado: o adjetivo

quando se apresenta posposto, em geral, é sempre empregado em seu sentido

literal, objetivo: quando anteposto é empregado em sentido figurado, subjetivo.

Assim, uma mesma palavra pode apresentar diferentes significados, ocorrendo

basicamente duas significações que um é a denotação, onde a palavra apresenta-

se com seu significado básico, de dicionário; o outro é a conotação, em que a

palavra apresenta-se com seu significado alterado, permitindo, pois, várias

interpretações, mas sempre dependendo do contexto em que aparece, portanto

para a compreensão de uma frase é necessário que se conheça, primeiro, o

sentido denotativo, porque a conotação é a extração da denotação.

2.1 Figuras de linguagem na poesia

Luís Cadore faz um comentário importante quanto ao uso das figuras de

linguagem afirmando que:

“as figuras de linguagem ou de estilo são modos de falar e escrever que

dão mais beleza, graça e força à expressão”. E acrescenta que ao estudá-

las, não devemos nos limitar a decorar seus nomes apenas. É necessário

“antes entendê-las, laborar-lhes o sentido conotativo e, o que é muito

importante, recolhê-las das nossas leituras literárias para depois empregá-

las em nossa comunicação escrita e oral”. (CADORE, 2003, p.36).

A poesia precisa comover, despertar emoções, enlevar. Fazendo assim,

valer tais intenções, o poeta dispõe de recursos diversos, haja vista que na

linguagem não há limites nem contestações e relacionadas a este assunto, estão

as figuras de linguagem, envolvidas no estilo de quem realiza um trabalho

especial com a linguagem, dado perfil conotativo que assumem os textos

pertencentes ao gênero lírico.

Por isso, as figuras de linguagem são os elementos frasais que exploram o

sentido conotativo de uma palavra ou expressão, realçam a sonoridade ou até

desviam-se da norma culta. O objetivo desses procedimentos foi buscar uma

forma mais expressiva nas frases, versos, poesias, enfim, em toda a linguagem e

que no trabalho desenvolvido com as figuras a comparação, metáfora e

personificação são as três mais importantes figuras de linguagem selecionada

que complementaram o trabalho de poesia no cotidiano da escola.

O trabalho com as figuras foi realizado com trechos de música de Vinicius

de Moraes, “O leão” e versos da poesia de Casimiro de Abreu, “Meus oito anos”

mostrando como ocorre a comparação, a metáfora e a personificação, pois

através destes exemplos, a atividade seguinte foi encontrar nas poesias

produzidas as figuras de linguagem estudadas. Trabalho realizado em dupla e o

que conseguiram observar nas suas poesias produzidas foram algumas

comparações. Foi através de uma retomada e um questionamento sobre as

figuras de linguagem que eles em alguns versos das poesias descobriram

também algumas metáforas, mas muito pouco. Percebi a dificuldade de cada um,

então valorizei a todos os que conseguiram introduzir uma figura de linguagem na

poesia sem saber o que era e também descobriu em outras poesias essa mesma

figura. O trabalho do professor aqui foi essencial para fazer que entendessem o

sentido das figuras de linguagem nos versos, porque é um trabalho significativo e

necessário, tão presente no cotidiano em sala de aula e que muitas vezes

preocupados em trabalhar outros conteúdos são deixadas de lado. Foi frisado

muito aos alunos também como as figuras de linguagem deixam os versos mais

significativos, ampliam o sentido do texto e as possibilidades de interpretação.

A última etapa do trabalho com poesias foi a digitação no laboratório de

informática, que também me surpreendeu, alunos que não tinham a mínima

noção de digitar uma frase, uma poesia e aos poucos fui explicando. Alguns

alunos que tinham acesso ao computador em casa ajudaram, foi um trabalho

gratificante, pois até hoje agradecem por aprenderem a digitar um texto, pesquisa

até que souberam entrar e fazer em aulas anteriores. Na semana de digitação das

poesias, fizeram breves apresentações da poesia digitada, que era gravada em

vídeo e no período contrário de aula marcou-se um dia para assistirem e se

prepararem melhor para apresentação à comunidade escolar. No decorrer das

atividades, após a decisão de qual poesia seria apresentada, num determinado

dia da semana, após o lanche no saguão da escola, apresentavam a todos. Com

as poesias produzidas no desenvolvimento do projeto, foi montado um caderno

com todas e entregue um a cada aluno do 6º ano e deixados alguns exemplares

na biblioteca da escola.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho com poesia teve como finalidade não formar poetas, mas

despertar o espírito poético, pois nem todos os alunos têm essa habilidade. Os

professores devem trabalhar textos poéticos e poesias com seus alunos, porque

eles vêm sendo indicados como um dos meios eficazes para o desenvolvimento

das habilidades e competências leitoras e para isso os alunos precisam ser

orientados para que possam perceber a poesia, exprimir o sentido estético, fazer

com que eles sintam-se inspirados, motivados e ver com outros olhos aquilo que

sempre viram e que talvez não percebessem o quanto é encantador e belo. O

registro de todas as atividades no caderno dos alunos foi muito importante para o

aperfeiçoamento do aprendizado, bem como a “Vitrine e o Mural da Poesia” no

saguão da escola, as declamações. A pesquisa, a comparação das poesias

pesquisadas, produzidas e apresentadas, em trabalho individual e em grupo,

observando constantemente a leitura, expressão oral, confecção do caderno, a

apropriação frente às figuras de linguagem.

Observou-se também que a leitura não pode ser uma atividade secundária

na sala de aula ou na vida, uma atividade para a qual a professora e a escola não

dedicam mais que uns míseros minutos, na ânsia de retornar aos problemas da

escrita, julgados mais importantes.

A atividade de leitura se faz presente em todos os níveis educacionais das

sociedades letradas. Tal presença sem dúvida marcante e abrangente começa no

período de alfabetização, quando a criança passa a compreender o significado

potencial de mensagens registradas através das escritas.

A interação com a poesia do cotidiano da escola foi uma das responsáveis

pelo desenvolvimento da capacidade linguística, através do acesso e da

familiaridade com a linguagem denotativa e conotativa, o que fez deste tipo de

linguagem um elo entre o conhecimento e a vida e o cultivo da leitura poética em

nossa sociedade aos poucos vem ganhando espaço, pois a nós aponta que o

cidadão deve estar apto para articular um ponto de vista sobre o mundo nas

experiências de leitura e produções discursivas concretizadas nos textos onde a

linguagem poética se revela na sua totalidade.

4 Referências

AGUIAR, Vera Teixeira de; BORDINI, Maria da Glória. Literatura: a formação do

leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1993.

BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1988.

CADORE, Luís Agostinho. Curso prático de português. 8a ed. São Paulo: Ática,

2003.

MEIRELES, Cecília. Poesia completa. Vol. 1. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,

1997.

MICHELETTI, Guaraciaba. Leitura e Construção do real: o lugar da poesia e da

ficção. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2001. (coleção aprender e ensinar com textos,

v. 4).

MURALHA, Sidônio. Voa, pássaro, voa. Col. Pássaro Livre. Lisboa: Livros

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PAES, José Paulo. Quem, eu? Um poeta como outro qualquer. 4. ed. São

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ZILBERMANN, Regina. A., A Estética da Recepção e História da Literatura.

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