poema em branco e preto

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POEMA EM BRANCO E PRETO BÁRBARA FALCÃO

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Para todas as pessoas que acreditam nas provas de amor.

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Page 1: Poema em branco e preto

POEMA EM BRANCO E PRETO

BÁRBARA FALCÃO

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Para todas as pessoas que acreditam nas provas de amor.

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36 passei o dia longe de mim porque se me aproximasse me aproximaria de ti e o combinado é mantermos distância

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ouço seu coração, uma bomba-relógio, pronto para me descartar em explosão. o barulho das horas incomoda. não quero ser escombro da sua catástrofe remediável. eu quero ser a causa, a culpa, o desastre em si.

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vencerá o verbo a batalha feroz contra a carne? ou cairá exausto diante do desejo imediato e da insuficiência do dizer? minha palavra cansada (de se deitar em tantas camas) quer dormir (e acordar com você) que me transborde poesia onde lhe falta que nos transforme, a poesia, em nuvem alta

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assumo minha identidade minha sina minha obsessão escrever sozinha tento reconhecer a realidade que me chega tão distante aqui nada acontece a chuva não cai a música não toca quase não existo existo onde você está sua boca molhada em preto e branco eu, você, os barcos da ribeira seu corpo, silhueta da lua quase me sinto real ao telefone, mamãe deseja lembranças mal sabe ela me lembro até do que não vivi

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32 há uma estrela brilhante reluzindo em seus cabelos. me aproximo, os vaga-lumes voam.

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quero que tua língua me molhe tal qual onda desvirginando a secura dos meus pés que tu entres em mim como o movimento das águas enterrando meus dedos na areia que alternes entre calma e violência mas nunca deixes de vir me pegando assim despreparada ensopando minha roupa levando meus pertences e que por fim me recomponha me enxugue, me deite em tua cama para que eu não saia na rua feito uma louca que acabou de se perder amor, sozinha eu não consigo sozinha eu só consigo ser só

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Em dias como hoje, quando Salvador é quase um deserto, posso ver tua miragem ao longe. Sombra, água fresca. Não sei se matarás minha sede quando enfim chegar a ti. Esperançosa, sigo sob o sol escaldante. A cada dia, um passo. A cada passo, um dia. Saudade respira e transpira comigo. Meu suor é a saudade chorando.

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saio de casa e é você quem se esquece de voltar?

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a distância enfim nos alcançou. não pela primeira, nem pela última vezenquando a vida há de nos afastar para além do corpo físico e para achar o caminho de volta, teremos que nos tatear no escuro e quiçá nos agarrarmos

desesperadamente como quem tem medo-pânico-pavor não de perder o outro mas de perder a si próprio só sua respiração, o barulho da sua respiração despido de silêncio e roupa anunciará o reencontro e eu vou quebrar a calma vou bater na sua cara, vou cuspir na sua cara, quando gritar em tom ensurdecedor que não, eu não vou desistir de nós

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nunca te oferecer nada menos do que o meu melhor alimentar todos os dias o ridículo do romantismo a entrega sem pudor dar de beber ao teu coração todas as palavras, todos os planos todo o amor que tu bebas direto da fonte quando beijares minha boca crua minha boca tua que transborda não como quem não cabe mas como quem vai além

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Entrelaçam-se as essências,

o corpo ainda não. Fundem-se as vontades, o abraço espera. Seria tentador desistir agora Se eu não tivesse encarnado tão bem essa coragem Se eu não tivesse me livrado de todo o temor da perda do pranto, do fim Dizem que o amor serve para perdermos o medo Que isso seja um prenúncio do que está por vir

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saudade boa é saudade sentenciada com dia, hora e local marcado pra acabar e mesmo que a cada nova despedida surja outro buraco ter a certeza de que outra sentença há de ser cumprida daqui um dia ou dois - a festa acabou e eu quero voltar pra casa mas sou carona do tempo e ele me pediu calma

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se você não está, aceito a noite como mera consequência do fim do dia esqueço o céu, finco os pés no chão mas se você está, invento um nome para cada estrela e sobrenome para as três marias transformo a escuridão em poesia faço do vazio imensidão para ver seu riso frouxo e para rir junto já nem sei quantas palavras sou capaz de escrever e o pior, o pior de tudo que me deixa sem rumo que me doi fundo o coração é saber que essa será mais uma noite sem estrelas

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cê decide me deixar sozinha e me aparece tanta companhia gente com o próprio tempo na mão dizendo "toma!" como quem oferece flores a alguém que chora então, a vontade de te escrever não aparece mas decido escrever esses versos esses versos que não são por você são pela ânsia de que seus olhos me vejam para amolecer as veias rígidas desse teu peito vil ponto esses versos são para que no fim se de nada valer esse amor reste o valor das palavras bonitas são versos que tocam o que as mãos de outras nunca irão tocar não só esses, mas todos os outros são, sobretudo, encontros secretos e mesmo que o dia inteiro tenha sido solitário e penoso e eu não queira me encontrar com você nem agora nem depois de pensar tanto em desistir, cada vez que eu escrevo "você" me esbarro sozinha com quem não quero aqui é o lugar onde não há como fugir o lugar onde eu volto e cedo e confesso novamente minha saudade mas se algum dia o silêncio predominar saiba, linhas vazias são sinônimo de abandono.

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na embriaguez esquece meu nome e ao perdê-la de vista me perco de nós mas não tenho pressa se é essa sua liberdade sou livre a meu modo prefiro a lucidez consciência não é barreira é caminho que

leva a si para ela, eu sou o atalho é para isso que estou aqui desperta horas depois e sente: a realidade aumenta a pressão espero até que volte a si e temerosa, faço um pedido more no meu coração com o direito de ir e vir e sinta-se feliz como se fosse seu próprio lar porque um dia ah... um dia ele será!

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tolerância infinita com a falta de atenção amor percepção de alma vida vontade coragem de saudade palavras foco tudo que ninguém vê mas só homens admiráveis possuem que ninguém vê mas eu vejo o que é aquilo que se mostra além do que se quer mostrar? como são vazias as aparências tolerância eterna antes que eu afogue todos os meus (ênfase) planos na bacia onde repousam os tapetes do banheiro

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20 o extremismo é a solução dos fracos, dos descontrolados daquele cuja vida dos sentimentos representa nada menos do que a própria vida

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imagino que esse encontro seja como entrar no mar depois de fatigar e correr tanto

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jogo cinzas às flores pela janela. elas continuam vivas e coloridas. me sinto destrutiva. destrutiva como uma criança que esmaga pequenos insetos e espanta os pássaros que só querem comer suas migalhas em paz. por isso não coloque nada em minhas mãos, eu posso estragar tudo. certa vez o pastor do internato disse que sou uma pessoa de luz, que onde minhas mãos tocarem há de fluir coisas boas e ainda disse que o número da tatuagem que fiz com quinze anos possui uma cabala incrível em sintonia com todo o resto de mim duvido outro dia, enquanto observava o mar sentada sozinha nas escadas da praia um vendedor de cerveja parou para conversar era do interior, feirense com orgulho me mostrou sua identidade, da qual não me recordo mais tampouco me lembro do seu nome só sei que começava com "j" joaquim, juscelino, tanto faz. mas novamente esse papo de que eu sou uma boa pessoa. e se arrepiou quando disse que eu era uma ótima filha que amava e respeitava meus pais. comprei uma cerveja por conveniência mas joguei fora antes de chegar na metade. ainda olhando o mar, agradeci silenciosamente por aquele homem ter interrompido seu caminho e o meu dia, para dizer coisas bonitas.

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havia convicção e verdade em suas palavras e mesmo que eu não acreditasse em todas ele acreditava e continuava se arrepiando enquanto me sorria e desejava coisas boas. ainda não sei qual o poder das minhas mãos se faço as flores murcharem ou desabrocharem se as cinzas que jogo são veneno ou adubo continuo debruçada na janela jogando cinzas e esperando para ver o que acontece

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costumava me perguntar quando deitávamos na cama no que é que eu estava pensando eu aumentava a força do abraço e sorria, achando graça de tudo aquilo era bonito saber que só o corpo não bastava primeiro vinha o medo, medo de perdê-la, medo de que passasse. depois vinham os planos, quero me casar com essa mulher, pensava, para tê-la comigo assim todos os dias. em seguida, a beleza. como é lindo esse momento, essas curvas esse cheiro e nossos corpos tão juntos. a gratidão não poderia faltar, aprendi desde cedo a ser grata por tudo que provoca riso, e cada vez que ela respirava, uma dádiva, me sentia quase indigna de tal presente. pensava tudo isso, não necessariamente nessa ordem. e outras coisas também. mas havia sempre um momento em que a entrega era tão grande que os pensamentos despareciam evaporavam, esvaiam, dissipavam-se no meio de nós. e era justamente nessa hora, em que eu parecia tão distante que ela me perguntava. mas como é que eu ia dizer já pensei em tantas coisas e passou, pois quando estou com você, estou tão verdadeiramente que todos os pensamentos somem como em uma meditação involuntária.

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e sua energia que entra em mim pelos pés quando chega até a cabeça já se misturou à minha e eu fico assim silêncio fico assim sorriso bobo mas por favor não pense que é só corpo não pense que não estou pensando em você ? então eu só dizia nada, não estou pensando em nada e ela nem desconfiava do caminho percorrido para chegar até ali

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16 que me resta senão me atentar a esses detalhes que me cercam e aceitá-los como sinais do tempo, da horas que passam? o sol se põe às 18h08. e você tinha razão, o mar fica melhor à noite. as águas tem mais calor e se aproveitam da escuridão para iludir os inocentes aparentemente tranquilas, as ondas dançam conosco e nós puxam para o fundo, para o meio do salão. depois da valsa, ainda molhada e inebriada volto a te ver nos detalhes. o farol nunca esteve tão lindo, ilumina não só barra mas o mundo inteiro. e enquanto aprecio como quem aprecia uma arte só desejo que ele te alcance, que a luz que sai daqui, entre janela da sua casa para que você saiba: mais um dia se passou e nós ainda estamos vivas.

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tempo não se arraste tanto só quando eu lhe disser voa feito passarinho deixa viva a minha fé mande forças para ela que já nem sei onde está faça das minhas palavras abraços a lhe afagar beija suas mãos por mim finge que não foi você deixa meu cheiro no ar e diga que eu fui lhe ver tempo quando isso passar ah, eu vou lhe agradecer ah, eu vou lhe perdoar por que fosse a pressa em teu lugar íamos desfalecer íamos nos afogar nos ver passar sem respirar tampouco amar nem mesmo ser sem ver.

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como são penosos os jogos de amor para quem não sabe jogar

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na escuridão da noite céu e mar se confundem sinto vontade de me misturar nadar, nadar e nadar até o limite do firmamento pois cada vez que desapareço sozinha é quando me torno realmente forte. como é fácil fugir dos outros. quanto a mim, não sei o que é pior, fugir ou enfrentar-me.

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não consigo mais te escrever inteira porque metade de mim tu perdeste e a cada noite que eu dormir chorando hás de perder mais um pedaço e outro e mais outro até que percas a outra metade que guardo com tanto cuidado e quando me perderes completamente e nada nos restar além do silêncio quero que me devolvas, num abraço todos os fragmentos teus, meus, nossos. que tu, enfim, me ganhes de todas as maneiras e tudo que em mim for inteiro pertença a ti. pernas boca cabelo olhos bunda peitos mãos e pés palavras flores cheiros músicas olhares coração meu amor. eu não quero que tu me percas

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o que entrego de mão beijada não passa de cartão de visita chegará o ponto em que terás de desvendar sozinha com o esforço de tuas mãos os segredos mantidos em sigilo ora, um homem há de ter em si um lugar além da entrega voluntária onde só um corpo estranho alcança quando o desbrava com exatidão por isso, como forma de ajuda não moverei um sopro a teu favor somente teu toque e tua vontade serão capazes de revelar o oculto caso contrário será como receber um presente da própria vida e se contentar em apreciar a beleza do lacre da embalagem

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10 nada nem ninguém nem mesmo você vai ser capaz de me tirar desse lugar onde cheguei subi ao topo da montanha e daqui de cima tudo, até mesmo as desgraças parecem pequenas demais o vento forte faz cócegas no coração e nada que você fizer vai regredir meus passos

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encoraja minha fraqueza, diz que me quer assim demente, vulnerável débil de amor. a muralha que cai à noite e se ergue de manhã não sou eu, mesmo que essa seja a sua vontade. eu só quero fechar os olhos na nossa dança e me entregar inebriada, alucinada no seu cheiro, escondida em seus cabelos. se você me quiser assim, esse meu eu entregue, coração doente, mas cheio de amor muito amor, temos a vida inteira. caso contrário, nossos desejos tem dias contados. não tenho forças para resistir a você. mas se necessário for resistirei. resistirei inteira e sem volta aos seus encantos.

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de tudo, o que de mais precioso a distancia me tirou foi a possibilidade de amar calada. de longe, os toques só são ditos os beijos são falados e o afago só existe na e pela palavra. se me falta inspiração, um encontro a menos. somos dois corpos ainda mais afastados.

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era só me aproximar que a lua aparecia claramente uma forte aliada invadindo janelas surgindo por trás de qualquer obstáculo criado pela escuridão se minhas mãos tocavam as suas a noite se iluminava satélite natural única face visível uma força branca e brilhosa nos perseguindo por madrugadas e madrugadas ingenuidade pensar que os astros a meu favor fariam você ficar. bastaria um único aliado, o único que não quis me acompanhar. seu coração como o que restou desse seu ser devastado, machucado, frágil. seu coração como meu aliado, meu amigo, meu protegido, e eu dispensaria todas as luas. inclusive a de hoje, minha única companhia.

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6 estou pronta, eu disse, pronta para suportar qualquer abandono. e cá estou para mostrar que amor, de solidão não morro, dela não corro, nunca corri. quantas flores já passaram por aqui e acabaram murchas como chegaram. eu nunca soube o que dar a elas para que sobrevivessem bonitas, ou talvez sejam elas que nunca, nunca compreenderam tudo que eu queria lhes dar. me consumiam por inteira e continuavam com fome. quando caíam, secas no chão, eu pensava, fracassei. aí vem você e me ensina que o único modo de não fracassar é rejeitando as flores. e ainda assim eu digo sim. braços e pernas abertas, agora que você as abriu. porque não me importo em ser um fracassado. se é isso que tenho que ser para viver de amor, é isso que serei, seja a flor quem for.

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o amor é para mim o que a guerra é para o soldado como saber se sobreviverei ao próximo? se na próxima batalha levarei um tiro no peito, ou pior, não suportarei a derrota e atirarei em meu próprio olho como o pobre Werther? como estou suja e devastada! volto para casa com menos compaixão não me importando em matar, sarcasticamente, cada um que me cruzar o caminho. o que será a morte para o amor? ora, até o pior dos homens sabe que a maior dor de um amante é puro fruto da indiferença. por isso agora, para você sou mero corpo caído ao chão e nada que você fizer me devolverá a vida minha vitalidade foi perdida quando a espada da sua traição entrou cortando meu peito. tirará a espada de dentro de mim mas não preencherá o vácuo que suas mãos deixaram.

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quantas hipóteses tenho formulado para eliminar a culpa. que te mostrei toda a sujeira para não correr o risco de você me aceitar de volta quando eu desabar de novo. que a natureza se apossou de mim mais uma vez, me forçando a assumir papel de karma ensinando e devolvendo na mesma medida o sofrimento. por que é que ela não pode se encarregar sozinha de mostrar a indivíduos como você como é que a vida funciona, que eventos primeiros geram eventos segundos? nenhum dos amores que tive teve plena consciência da minha verdade, do quanto amei. sempre fui eu a responsável por receber as ações e gerar as consequências e por mais que eu não queira ser dura e não devolver o sofrimento, pelo contrário, me sacrificar em prol do amor, a dureza se forma em mim como um órgão invisível e mortal. mas se alguém quiser ainda acreditar no que sou e no que sinto, que se atente aos detalhes do durante aos primeiros atos, às primeiras intenções pois toda carne que não foi ferida permanece puramente fértil para atos sinceros.

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eu voava intacta entre as nuvens um pássaro morto em movimento. no meio da plantação de cactos, seus olhos verdes derretiam sob a luz do sol escaldante mas quando desci para olhá-los de perto você os fechou e correu. os espinhos te feriam e eu pedia calma, suas pernas continuavam sem parar, uma atrás da outra, cada vez mais rápido e eu agarrava seus cabelos negros que me escapuliam pelos dedos para acompanharem seu movimento. corri até não ter mais forças, gritei até não ter mais voz, até enfim cair no chão, exausta, sem nunca te perder de vista. você parou tempos depois longe o suficiente para embaçar a fisionomia. desde então te observo como a uma miragem e espero que você regresse me pedindo para tirar os espinhos. estou ferida ao ponto de não conseguir me levantar, mas bastaria um sinal para retomar o voo. mesmo fraca e quase sem vida, eu subiria novamente até as nuvens e desceria de novo ao perigo que é viver em busca dos seus olhos.

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queria eu estar no desassossego das tuas coxas a caminho da nossa paz mas é de novo a solidão a mesma solidão que me acompanha nesse vaivém desconcertado e cortante estar e não estar no firmamento onde está o meu cacife? que foi feito do sentir? serão eles minha própria vida? hipocrisia pensar que força é permanecer em pé serei forte quando fizer jus ao que carrego do lado esquerdo porque "o meu único fracasso está na tatuagem do meu braço" (nelson cavaquinho)

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surpresa o último poema é um beijo vou te dizer com a língua sobre a saudade que senti agora sai de casa que eu tô na porta te esperando morta de amor, com o coração na mão quantos planos se transformaram em poeira quantas surpresas estragamos com a primeira ilusão como eu quis chegar ao fim anunciando um novo início mas não há mais mistério restará o branco do papel e nada a ser desvendado até as pétalas secas da flor que você me deu o vento levou e quase me levou junto quantas tragédias ainda ainda terei que presenciar nessa busca incessante? me afogar não posso mais pois o mar daqui é calmo e nem para isso serve. que fim estúpido levou o meu amor sozinho como eu mais lembranças mais saudade mais vontade de voltar

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que a força que me puxa para o passado nunca me impeça de seguir em frente e que cada parte de você que ainda vive em mim termine com o fim dessa contagem mas se você resolver me querer por perto que seja a tempo de ainda sermos felizes ou pelo menos verdade porque é assim que sou toda esperança, toda amor e nada, absolutamente nada morre de verdade dentro do meu coração sinto saudade ponto.