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PLANO DE ENSINO
DISCIPLINA: Estética I
CÓDIGO: HF751 PRÉ-REQUISITO: NÃO HÁ SEMESTRE: 1º/SEM/2019
CRÉDITOS: 05 C. H. SEMANAL: 12 C. H. TOTAL: 75
PROFESSOR: Alexandre e Nodari
TITULAÇÃO: Doutor
Mestrado e Doutorado
Obrigatória ( X ) Optativa ( )
PROGRAMA
A subsistência da arte: sobre a consistência ontológica das ficções literárias
Objetivo: O pensamento contemporâneo, em diversas áreas (filosofia, antropologia,
estudos literários, etc.) tem se detido em diferentes modos de (in)existência, suas variadas
intensidades e as distintas técnicas (artes) e poéticas (fazeres) que permitem transitar entre
eles, agenciá-los, experimentá-los. Aparentemente exteriores, outsiders ao mundo
humano, demasiado humano (ou a certa configuração dele, que chamamos de Ocidente
ou Modernidade), os animais, as plantas, os espíritos, os espectros, os personagens
ficcionais – para listar apenas alguns –, para que sejam pensados em sua diferença
demandam um esforço especulativo que ameaça converter a filosofia em filozoofia
(expressão de Antonio Fraga), ou seja, transformar o espaço da cogitação numa selva (a
“selva de Meinong”?), habitada por uma fauna toda outra. Partindo desse quadro geral, o
objetivo desse curso é pensar mais especificamente a consistência ontológica das ficções
literárias: como e onde existem?, quais suas relações com o “nosso” mundo?; são
possíveis, impossíveis, inexistentes, subsistentes?, quais as diferenças entre “pós-
verdade” e verdade artística, fake news e ficção, ficção jurídica e ficção artística?, em seu
modo outro de existência – o “inreal” de Clarice Lispector –, a arte não comporia a “vera
dentridade do real”, de que fala James Joyce na belíssima tradução de Caetano Galindo?
Conteúdo: A princípio (pois trata-se de um curso exploratório, sujeito a modificações no
percurso), a disciplina passará pelos seguintes eixos principais:
1. A Musa e o Direito: os dois nascimentos da reflexão ocidental sobre a ficção
Debate, a partir de J. Brandão e Yan Thomas, de duas figuras distintas pelas
quais o pensamento ocidental antigo pensou a ficção: a musa e a ficção jurídica,
buscando extrair as consequências dessa duplicidade de origem, e seus efeitos
nas formas atuais de compreender e lidar com a ficção.
2. Ensonhação, fantasma, objeto subsistente, modo de existência, mundo
possível: qual a declinação ontológica da ficção?
Discussão sobre diversas formas de conceber o estatuto ontológico das ficções
na filosofia contemporânea, em especial, a visada de Meinong, a de Souriau, e a
compreensão das ficções literárias como mundos possíveis.
3. A verdade está lá fora: transitando para mundos outros
Debate sobre o que acontece (não apenas de um ponto de vista cognitivo,
epistemológico ou psicológico) na experiência literária, ou seja, que tipo de
relação se estabelece entre seres/mundos de consistência ontológica distinta (o
leitor e o personagem, por ex.).
O programa detalhado com o cronograma de leituras será apresentado no primeiro dia
de aula e estará disponível no site:
https://sites.google.com/site/alexandrenodari/subsistencia
PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS
Aulas expositivas, com leitura, interpretação e discussão sobre textos selecionados
AVALIAÇÃO
Trabalho monográfico sobre o tema do curso a ser entregue no final do semestre.
BIBLIOGRAFIA
As leituras elencadas serão selecionadas e divididas entre obrigatórias e complementares
Eixo 1
Brandão, Jacyntho Lins. Antiga musa (arqueologia da ficção). 2. ed. rev. ampl. Belo
Horizonte: Relicário, 2015.
Thomas, Yan. “Los artificios de la verdade. La ficción en el derecho medieval”. Em:
Los artificios de las instituciones. Estudios de derecho romano. Buenos Aires:
EUDEBA, 1999.
Stierle, Karlheinz. A ficção. Trad. Luiz Costa Lima. Rio de Janeiro: Caetés, 2006.
Dupont, Florence. The invention of literature. From Greek Intoxication to the Latin
Book. Baltimore: The John Hopkins Press, 1999.
Eixo 2
Meinong, Alexius. Teoría del objeto y Presentación personal. Estudo introdutório de
Emanuele Coccia. Buenos Aires: Miño y Dávila, 2008.
Nodari, Alexandre. “Limitar o limite”. No prelo.
Routley, Richard. Exploring Meinong's Jungle and Beyond. Ridgeview Pub Co., 1982.
Jacquette, Dale. Alexius Meinong, The Shepherd of Non-Being. Springer, 2015.
Souriau, Étienne. Os diferentes modos de existência. Trad. Walter Romero Menon Jr.
No prelo.
Lapoujade, David. As existências mínimas. Trad. Hortência Santos Lencastre. São
Paulo: n-1 edições, 2017.
Aristóteles. Poética. Trad. Paulo Pinheiro. São Paulo: Ed. 34, 2015.
Pavel, Thomas G. Fictional worlds. Cambridge: Harvard University Press, 1986.
Doležel, Lubomír. Heterocosmica: Fiction and Possible Worlds. Baltimore: The John
Hopkins Press, 2000.
Ronen, Ruth. Possible Worlds in Literary Theory. Cambridge University Press, 1994.
Ludueña, Fabián. Princípios de espectrologia. A comunidade dos espectros II. Trad.
Leonardo D’Ávila e Marco Antonio Valentim. Desterro: Cultura e Barbárie, 2018.
Valentim, Marco Antonio. Extramundanidade e sobrenatureza: ensaios de ontologia
infundamental. Desterro: Cultura e Barbárie, 2018.
Becker, Oskar. Da caducidade do belo e da natureza aventurosa do artista: uma
investigação ontológica no âmbito do fenômeno estético. Trad. Hugo Simões e Yuri
Kulisky. No prelo.
Ingarden, Roman. A obra de arte literária. 2 ed. Trad. Albin Beau et al. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1979.
Eixo 3
Platão. Íon. Trad. Cláudio Oliveira. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.
Goodman, Nelson. Ways of worldmaking. Indianapolis: Hackett, 1978.
Catren, Gabriel. Pleromática o las mareaciones de Elsinor. (Incandescencias). Buenos
Aires: Hekht Libros, 2017.
Costa Lima, Luiz. "A mímesis-zero". Em: A ficção e o poema. São Paulo: Cia. das
Letras, 2012.
Saer, Juan José. “O conceito de ficção”. Tradução de Joca Wolff. Sopro, 15, 2009.
Nodari, Alexandre. “A literatura como antropologia especulativa”. Revista da ANPOLL,
v. 38, p. 75-85, 2015.
Wisnik, José Miguel. “Ficção ou não”. revera, n. 3, 2018.
Plessner, H. “A antropologia do ator”. Trad. Yuri Kulisky. No prelo